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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO TECNOLÓGICO
SECRETARIA DO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
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Arq 5614 – TEORIA URBANA I.

A PROBLEMATICA DOS GRANDES


CONJUNTOS HABITACIONAIS

10ª aula expositiva

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Em 1972, a demolição do conjunto habitacional Pruitt-Igoe foi considerada por muitos como o momento exato
da morte da arquitetura moderna.

O conjunto estadunidense, que se tornou um dos lugares mais marginalizados e violentos da cidade em que foi
implantado, ficou fortemente estigmatizado, e sua demolição coincidiu com um momento em que se
contestavam fortemente os valores do modernismo, sendo essa a principal razão para a eleição do momento
de sua demolição como o último suspiro do movimento.

A cidade de St. Louis, no Estado do Missouri, Estados Unidos, sofria uma crise causada pelo crescimento
descontrolado por que havia passado nos últimos anos.

A migração de outras cidades e Estados e a falta de políticas públicas fizeram com que em St. Louis
crescessem periferias imensamente pobres e marginalizadas nos arredores do município, e seu crescimento
ameaçava atingir o centro da cidade, fazendo despencar o valor do solo.

Como solução a construção de grandes conjuntos Habitacionais periféricos. O isolamento do local com relação ao centro da cidade, a falta
de manutenção e cuidado, a falta de assistência e até mesmo alguns erros de projeto levaram o Pruitt-Igoe, então aparentemente um
conjunto promissor, a um processo de acelerado declínio.

Os equipamentos de lazer não foram instalados conforme o prometido, os estacionamentos eram insuficientes, as áreas de lazer não
possuíam atrativos, além da falta de preocupação com o conforto ambiental – preocupação pouco observada na arquitetura de então –
que fez com que muitos dos apartamentos fossem mal ventilados, e portanto insalubres.
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Em 1968, a prefeitura de St. Louis começou a encorajar o processo de evacuação para posterior demolição do Pruitt-Igoe.

Os prédios foram implodidos em dias diferentes, até que em 1972 o primeiro edifício foi posto abaixo.

Nesse momento, segundo o crítico Charles Jencks, célebre entusiasta e teórico do Pós-modernismo, “a arquitetura moderna morreu”.

A ideia de Jencks ganhou força numa década de 70 em que se contestavam fortemente os valores do modernismo e do International Style, e
criou-se um forte mito em torno do fracasso do Pruitt-Igoe.

Passou-se a associar seu fracasso unicamente a sua arquitetura, a despeito de eventuais fatores externos como a ausência de outras
políticas públicas para garantir empregos aos moradores do conjunto e as mudanças com relação à concepção original.

Assume-se, erroneamente, que o Pruitt-Igoe fosse um símbolo, um ícone do modernismo, e usa-se esse argumento para culpar o
modernismo por seu fracasso, quando na verdade o conjunto nunca ganhou nenhum prêmio de arquitetura.

Deve-se levar também em consideração que muitos dos aspectos do projeto foram decididos não pelos projetistas, e sim pelas necessidades
impostas pela crise da cidade (daí a alta densidade populacional) e pelo baixo orçamento de que o Fundo de Habitação Social dispunha.

Ainda assim, a falácia da “insensibilidade e racionalismo extremo dos modernistas” levou à criação de um mito em torno do Pruitt-Igoe.
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Henry Horner Homes.

Conjunto Habitacional construído na cidade de CHICAGO


em 1965.

Demolido em 19 de outubro de 2000.


Cabrini–Green Homes. Chicago Il

Construídas 3.607 unidades habitacionais em diver sos edifícios formando o complexo Cabrini–Green Homes.

Cabrini–Green Homes ; Construído de 1942 a 1962. Demolição da torre William Green Homes em 2006.
O último prédio de Cabrini-Green demolido em 2011
O déficit imobiliário Frances, como vimos em aula anterior, atinge de 1 milhão de famílias.

Com a indústria da construção civil caminhando a passos lentos e isenções fiscais que beneficiam apenas os grandes os proprietários, o
governo segue considerando essa questão como secundária.

A evolução do ideário urbanístico e arquitetônico relacionado ao atendimento das demandas por moradia da classe trabalhadora, dos
primórdios da Revolução Industrial até o esforço de reconstrução europeu do segundo pós-guerra, ocasionou a produção massiva sob a
forma de conjuntos habitacionais.

A sobreposição de problemas físicos e sociais nesses espaços associada à interesses pelas rendas do solo urbano levou a duas soluções ou a
demolição ou a reabilitação, a partir da década de1970.

Desde os anos 1970, a habitação deixou de ser um tema relevante do debate político Frances , ainda que o setor represente 23% da
economia nacional.

Essa constatação não foi desmentida pela mais recente campanha presidencial, durante a qual os dois principais partidos – a União por um
Movimento Popular (UMP) e o Partido Socialista (PS) – se limitaram a prometer a construção de 120 mil moradias populares por ano, ao
longo de cinco anos.

Ou seja, a metade da demanda apontada pela Comissão para a Habitação da Attac (Associação pela Tributação das Transações Financeiras
para ajuda aos Cidadãos), pela Liga dos Direitos Humanos e pela CNL.

Mais grave ainda, em nome da “pluralidade social”, os dois partidos se mostraram afinados em relação à necessidade de incentivar a
demolição dos conjuntos habitacionais populares, que muitos consideram hoje obsoletos.

Geralmente, tal medida implica no afastamento de seus habitantes dos centros das cidades.
Nem todas as megaestruturas puderam continuar a viver como a Cité Radieuse (nunca executado)
cujo tombamento ocorreu justamente em um momento em que o valor da arquitetura moderna e, em particular,
dos grandes conjuntos habitacionais eram – como ainda são – bastante questionados.
Em 11 de outubro de 1994, duas torres residenciais modernistas foram dinamitadas na França.

Elas faziam parte das 10 “Tours Démocratie” que haviam acolhido os primeiros moradores da ZUP – Zona de
Urbanização Prioritária – das Minguettes Vénissieux, na periferia da cidade de Lyon, em 1966.

Este evento poderia ser interpretado como uma versão francesa - 22 anos depois – da implosão de Pruitt-Igoe.
A evolução do ideário urbanístico e arquitetônico relacionado ao atendimento das demandas por moradia da
classe trabalhadora, dos primórdios da Revolução Industrial até o esforço de reconstrução europeu do segundo
pós-guerra, ocasionou a produção massiva sob a forma de conjuntos habitacionais.

A sobreposição de problemas físicos e sociais nesses espaços associada à interesses pelas rendas do solo
urbano levou a duas soluções ou a demolição ou a reabilitação, a partir da década de1970.

Como em muitas cidades europeias , os bairros pobres nos arredores de Paris e os subúrbios da cidade são
dominados por projetos dos anos 60 e 70 hoje muito criticados.

Sevran, um dos subúrbios mais pobres de Paris, está cheia de torres residenciais.

A política francesa favorece a demolição desses projetos e a transferência dos moradores.

Várias torres foram derrubadas em Sevran, substituídas por hortas comunitárias, campos esportivos, novos
conjuntos habitacionais e uma escola.

Mais torres estão vazias, à espera da destruição.


Tour 2 Palach demolidas
para obras do metro.

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La Tour Bois-le-Pretre, após décadas de descaso e decadência, num distrito misto com bolsões persistentes de
pobreza, seria demolida para uma extensão do metrô, porem, teve um destino diferente por iniciativa popular.

Foi organizada uma competição pela Paris Habitat, órgão parisiense de habitação pública, em 2005, para
reformar o edifício.
O desafio: consertar a infraestrutura desgastada da torre, atualizar as áreas comuns e o exterior e — na parte
mais radical — levar mais luz e espaço a apartamentos escuros e apertados, sem mudar a área ocupada pelo
prédio, que não poderia ser aumentada.

Os arquitetos Lacaton, Vassal e Druot


venceram a competição.

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Quanto ao destino dos Grandes Conjuntos Habitacionais, o caso do Robin Hood Gardens Housing Project (1966-72), no
Reino Unido, elaborado por Alison e Peter Smithson é emblemático.

Destaca-se a atuação do casal Smithson frente ao tema da habitação e aos debates sobre a arquitetura brutalista, para
viabilizar a luta pela preservação da Obra.

A recente decisão pela demolição do conjunto escancara os conflitos entre planejamento urbano, políticas de habitação,
especulação imobiliária e conservação do patrimônio histórico.
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Neste contexto de valorização imobiliária do East End londrino, a área do Robin Hood Gardens passou a ser cobiçada como
parte de um grande projeto de remodelação urbana, conhecido como “Blackwall Reach Regeneration Project”.

Iniciado por volta de 2007, gerou uma grande movimentação em torno da possibilidade de preservar o conjunto, ao redor
da qual se organizaram arquitetos, o periódico BDOnline e organizações ligadas à conservação do patrimônio moderno.

Ao longo de seis anos foram realizadas diversas tentativas de manutenção completa do conjunto, concursos de ideias com
propostas para sua recuperação sem precisar demolir os prédios, e mesmo a empresa consultora responsável chegou a
elaborar uma proposta inicial onde o prédio menor era mantido, mas todos esses esforços foram em vão.

Sobre a demolição do conjunto conhecido como “Kleiburg de Bijlmermeer”, em Amsterdã – mais um dos tantos conjuntos
habitacionais modernos demolidos recentemente – o pesquisador Frank Wassenberg (2011) chama atenção para o fato de
que sua demolição foi justificada para a criação de uma vizinhança mais comum (ordinary). Foi salvo a ultima hora pela
operação DeFlat.

DeFlat é uma proposta de renovação de um dos maiores edifícios de apartamentos dos Países Baixos - o edifício Kleiburg,
um enorme bloco curvo com 500 unidades localizado no bairro de Bijlmermeer, que esteve em riscos de ser demolido
não fora a qualidade do projeto de renovação apresentado.

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O atelier holandês NL architects, com o projecto Deflat Kleiburg, em Amsterdã, ganhou o Prémio de
Arquitetura Contemporânea da União Europeia – Prêmio Mies van der Rohe 2017.

Trata-se do prémio de arquitectura mais reputado no espaço europeu, lançado em 1987 pelo Município de
Barcelona e a Comissão Europeia.

O prémio é atribuído anualmente.


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Um conjunto residencial na Escócia, que já foi o mais alto da Europa, foi demolido na cidade de Glasgow em 18
de agosto de 2015.

O complexo Red Road foi inaugurado nos anos 1960 e chegou a abrigar cerca de 4,7 mil moradores.

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Em Nápoles está Le Vele di Scampia, um decadente conjunto habitacional popular da década de 1960 que se tornou um
símbolo da luta contra a pobreza, as drogas e o crime organizado. Restauração 27 milhões de Euros.
O excesso de produção e a crise de 2008.

Países sem controles constroem mais do que necessitam aproveitando financiamentos, bolha imobiliária em todos eles por
excesso de produção.

Após o estouro da bolha e recessão em 2008, os preços dos imóveis caíram cerca de 50%.

Atualmente os preços praticados na Irlanda são os mesmos do final da década de 1990.

Propriedades que chegaram a valer 700 mil euros (cerca de 2 milhões de reais) nos anos do boom econômico da Irlanda,
agora são vendidas por apenas 400 mil euros.

Ainda assim, não há interessados. Ou melhor, há quem se interesse, mas são poucos os que têm dinheiro para comprar.

Os bancos irlandeses, que no pico do crescimento da economia chegaram a conceder empréstimos de até 100% dos valores
dos imóveis, bateram às portas da falência no ano passado e só não entraram de vez no buraco graças a um resgate bilionário
que receberam do governo, com recursos do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional.

Sem os financiamentos bancários, o antes próspero mercado imobiliário da Irlanda estagnou e começou a entrar em colapso.
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O crescimento do país na primeira década de 2000 baseou-se no mercado imobiliário, quando os irlandeses construíram, compraram e
exibiram com orgulho as novas propriedades.

Hoje o assunto é praticamente um tabu social.

Não se fala abertamente sobre financiamentos, dívidas e despejo.

A crise financeira não tem rosto.

As imobiliárias acumulam propriedades para vender.

Com a oferta excedendo em muito a demanda do mercado, a opção foi diminuir a comissão pelas negociações.

Isso fez cair consideravelmente o lucro das empresas que negociam imóveis, já que os preços das casas também estão bem abaixo do nível
que sustentavam há pouco mais de um ano.

Irlandeses tentam erradicar os fantasmas da bolha imobiliária destruindo casas.

Não havia nenhum sinal mais claro da bonança econômica pela qual a Irlanda passou há uma década do que seu mercado imobiliário, que
viu um crescimento impressionante nos preços e no número de construções.

E nada ilustra melhor os custos e as dificuldades da recuperação pós-crise que o destino das milhares de casas que nunca ficaram prontas ou
que foram feitas com material de baixo padrão.

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TRABALHO DE CAMPO: Em grupo. Escolher na cidade de Florianópolis uma
construção que tenha uso habitacional (pode ser uma casa simples ou um
condomínio de luxo):
1. Desenhar a mão livre croquis da mesma.
2. Avaliar sua localização dentro do contexto urbano e sua acessibilidade ao
trabalho e serviços.
3. Analisar criticamente a sua tipologia.
4. O trabalho de campo deverá objetivar a qualidade das habitações
identificando as tipologias construtivas e espaciais, e avaliar a satisfação
dos moradores em suas casas.

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