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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL - BA


JUÍZO ELEITORAL DA 49ª ZONA
COMARCA DE RIO REAL - BA

Processo n.º 1-34.2013.6.05.0049, Ação de Investigação Judicial Eleitoral – AIJE.


Representante: COLIGAÇÃO “JANDAÍRA NÃO PODE PARAR” e PARTIDO DO
MOVIMENTO DEMOCRÁTICO BRASILEIRO (PMDB).
Adv(s).: Ademir Ismerim OAB/BA 7829
Representados: NELSON DOS REIS VIEIRA e ANTÔNIO SANTOS BATISTA.
Adv.(s) Cláudio Ché de Medeiros OAB/BA n.º 17.804
Município: Jandaíra/Ba

Sentença

EMENTA: AÇÃO DE
INVESTIGAÇÃO JUDICIAL
ELEITORAL. PRELIMINARES
AFASTADAS. ABUSO DE PODER
ECONÔMICO. UTILIZAÇÃO
EXCESSIVA DE RECURSOS
MATERIAIS E HUMANOS QUE
REPRESENTAM VALOR
ECONÔMICO. COMPROMETIMENTO
DA LEGITIMIDADE E
NORMALIDADE DAS ELEIÇÕES.
PROCEDENTE.

Vistos etc..

A parte representante, devidamente qualificada e representada nos autos, ofereceu a presente AÇÃO
DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL contra os representados apontando a existência de
gastos não contabilizados (caixa dois) e ilegalidades, particularmente gastos não declarados perante
a justiça eleitoral (uso de bandeiras padronizadas, sem inclusão de CNPJ e tiragem, propagandas em
muros, uso de minitrios como palanque, etc), configurando abuso de poder econômico: “na medida
em que foi apto a afetar a normalidade e legitimidade das eleições” (Inicial, fl. 09)

Foram acostados: documentos, fotos, e mídia sobre as acusações levantadas.

Os requeridos foram notificados e apresentaram defesa (fl. 125 e ss.) sustentando preliminares –
perda de objeto e inépcia da inicial - e alegando no mérito inexistência de irregularidades quanto ao
uso de bandeiras, painéis e minitrio, apontando falta de degravação das mídias e que em caso
extremo seja aberto prazo para correção de irregularidade.

O Ministério Público se manifestou (fl. 179) pela procedência da ação.

Foi proferida decisão pela dispensa da instrução(fl. 184), sem oposição das partes.

É o relatório.

Entendo em afastar as preliminares da parte requerida. A parte autora se baseou na ocorrência de


abuso de poder econômico, isto é, que as lacunas apontadas, no grau descrito, superaram a mera
questão de falha decorrente de prestação de contas. Cai por terra, por conseguinte, a premissa que
sustenta as preliminares.

Aponto que diante da condição de candidatos não eleitos, não vislumbro correlação entre o
ajuizamento e a diplomação, admitindo a tempestividade da ação.

Indefiro o pedido de concessão de prazo para sanar as eventuais irregularidades, já que incabível no
rito judicial em questão.

No tocante às pinturas de muros, observo que, nos termos do art. 11 da Res. 23370, aplicável às
eleições de 2012, que o fato acontece de forma gratuita, não ensejando a alegada omissão.

Com relação ao minitrio, acolho o parecer ministerial e verifico que foi acostada prova de sua
cessão ao candidato representado.

Em relação às bandeiras, sigo a linha do parecer ministerial. A inicial apresenta inúmeras bandeira,
em locais diversos, com a mesma padronagem, nos eventos dos requeridos, dando visibilidade
destacada a estes eventos, sem justificativa para que todos os eleitores, por coincidência,
elaborassem bandeiras com a mesma padronagem. Saliento que nem a prova testemunhal bastaria
para suprir esta tese diante do número de bandeiras. A falta de declaração destes gastos, em cotejo
com o impacto que a propaganda visual causa no equilíbrio entre os contendores, viola os princípios
inseridos na legislação:
3. Conforme já decidido por este Tribunal, para a configuração de abuso do poder econômico nessas
hipóteses, é necessário que sejam explicitados aspectos relacionados ‘à utilização excessiva, antes
ou durante a campanha eleitoral, de recursos materiais ou humanos que representem valor
econômico, buscando beneficiar candidato, partido ou coligação, afetando assim a normalidade e a
legitimidade das eleições’ [...]”(TSE. Ac. de 1º.12.2011 no AgR-RCED nº 580, rel. Min. Arnaldo
Versiani.)

A contratação maciça de cabos eleitorais implica a quebra de igualdade entre os candidatos que
estão na disputa, além do que gera induvidoso reflexo no âmbito do eleitorado a afetar, portanto, o
equilíbrio e a normalidade do pleito(...)(TSe, Respe 8139 , Ministro Arnaldo Versiani)

"O nexo de causalidade quanto à influência das condutas no pleito eleitoral é tão somente indiciário,
sendo desnecessário demonstrar, de plano, que os atos praticados foram determinantes do resultado
da competição; basta ressair, dos autos, a probabilidade de que os fatos se revestiram de
desproporcionalidade de meios" (TSE. Ac. nº 1.362/PR, rel. designado Min. Carlos Ayres Brito,
DJe de 6.4.2009).

Diante do impacto visual que percebo nas imagens (fotografias) quanto ao uso das bandeiras em
diversos lugares, gerando um consequente benefício dos requeridos, sem a devida contrapartida de
declaração quanto aos recursos correlacionados, temos um desequilíbrio irregular, caracterizando,
conforme decisões mencionadas, abuso de poder econômico até pela gravidade de tal conduta no
cenário político.

Do exposto e do que dos autos consta, JULGO PROCEDENTE o pedido e declaro a inelegibilidade
dos representados para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes à eleição em
questão, além da cassação do registro, ciente o MP desta sentença para os fins do art.22,XIV da LC
64/1990.

P.R.I.
Rio Real, 02 de Abril de 2013.

Bel. Josemar Dias Cerqueira


Juiz de Direito

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