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Deste modo, Simmel, parte do princípio da compreensão, isto é, da interação entre duas
mentes como forma de apreender o indivíduo e sua relação com o psíquico, de modo a
entender como as conexões compreensíveis constituem uma maneira de acessar fatos
observáveis. Simmel, assim, se coloca na tarefa de apontar como se pode compreender a
compreensão em geral, ou seja, “como nossa produção intelectual é parcialmente
antecipada pelas formas e os processos que o espírito desenvolveu para responder as
exigências e às solicitações práticas da vida” (2011, p. 27). A história, para Simmel,
pode ser compreendida como ciência quando se liberta de determinadas funções
utilitárias e passa a ser uma forma de construir imagens da vida passada. Diz Simmel
“que somos sempre historiadores embrionários de nós mesmos” (p. 28). Como
historiadores científicos, as atitudes pré-científicas se completam para dar valor. Assim,
Simmel cria um elemento intersubjetivo, ou psíquico para delimitar a comnpreensão
histórica, ou seja, que a compreensão histórica dependa uma da outra, que um homem
passa a depender um do outro, em uma interação psíquica. Como afirma Seneda,
Simmel foca nas experiências vividas para estabelecer as ligações que formam a
compreensão histórica, pois estas ligações psíquicas fornecem os elementos que
permitem dar sentido ao relato histórico. Simmel transpõe, assim, significação do objeto
histórico para uma interiorização do ato psíquico na sua relação com o objeto histórico.
Nesse aspecto, Simmel sublinha os a priori que nos referimos acima, para formular tal
problema. A estrutura formal da compreensão histórica esta associada a estes a priori,
isto é, há o fenômeno real dado, que ainda não é compreendido e o fenômeno que é
apreendido pelo sujeito, que emana dele e consequentemente trabalhado pelo mesmo.
- “Onde eu iria buscar, a não ser na minha alma, a matéria que me possibilita conhecer
e compreender outra , já que esta não se apresenta de forma legível para mim? É este
também o problema fundamental da compreensão especificamente histórica”. Ou seja,
só consigo compreender o outro atribuindo conteúdos da minha alma.
- À primeira vista, parece tratar-se de uma mera questão retórica. Se toda ação
recíproca entre os homens é uma sociação, o conflito, uma das ações recíprocas mais
características, a ponto de ser logicamente impossível limitá-la a um indivíduo só,
constitui necessariamente uma sociação. De fato, os elementos propriamente
dissociadores são as causas do conflito: o ódio e a inveja, a miséria e a cobiça.
- Uma vez que essas motivações deflagram o conflito, ele é um remédio contra o
dualismo dissociador, uma via para chegar de alguma maneira à unidade, nem que
seja pelo aniquilamento de uma das partes – um pouco como os sintomas mais
violentos de uma doença representam os esforços do organismo para livrar-se das
perturbações e dores que lhe afligem.
- Assim como o cosmos necessita “de amor e de ódio” para ter uma forma, de
forças de atração e de repulsão, a sociedade precisa de uma relação quantitativa de
harmonia e discordância, de associação e competição, de simpatia e antipatia para
chegar a uma determinada forma. Tais fatores de desunião, entretanto, não são
simples passivos sociológicos, espécie de soma de saldos credores ou instâncias
negativas do social. Não se pode dizer que a sociedade definitiva e real se produza
apenas graças às outras forças sociais positivas, e dependa de que as forças
dissociadoras o permitam. Essa corriqueira maneira de ver as coisas é completamente
superficial: na realidade, a sociedade é o resultado de ambas as categorias e,
consequentemente, as duas têm valor.
- Existem aqui, entre os casos mais complexos, dois tipos opostos. Em primeiro
lugar, temos os pequenos grupos que envolvem, porém, como o casal, um número
ilimitado de relações vitais entre seus membros. Em segundo lugar, a função
absolutamente positiva e integradora do antagonismo se manifesta em casos de
estrutura social caracterizada pela precisão e clareza cuidadosamente conservadas
das divisões e hierarquias sociais. A aversão e má-vontade não só impedem que as
diferenças dentro do grupo se apaguem aos poucos – podem ser provocadas
deliberadamente para manter as disposições discriminatórias –, mas por acréscimo
elas são sociologicamente frutíferas, pois amiúde é graças a elas que se atribuem às
classes e às pessoas sua posição recíproca, que talvez não tivesse sido conferida a
umas e outras (ou que elas teriam ganhado de outro modo) se, por exemplo, as
causas objetivas dessa hostilidade, ainda estando presentes e ativas, houvessem
agido sem o sentimento e as manifestações de inimizade.
- Se o antagonismo não constitui uma sociação por si só, isso não significa que
esteja ausente – salvo nesses casos limite – como elemento dos processos de
sociação.