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Natal
2008
Regina Ferreira de Araújo
Natal
2008
Regina Ferreira de Araújo
________________________________________________________________________
Dinah dos Santos Tinoco, Dra.
Orientadora – UFRN
________________________________________________________________________
Jomária Mata de Lima Alloufa, Dra.
Co-Orientadora - UFRN
________________________________________________________________________
Tereza de Souza, Dra.
Examinadora Externa – UnP
________________________________________________________________________
Maria Arlete Duarte de Araújo, Dra.
Examinadora - UFRN
Natal
2008
Dedico este trabalho àquela a quem dei à luz,
mas que na verdade acabou me iluminando
muito mais durante todo este percurso.
AGRADECIMENTOS
Agradeço...
A Deus, por derramar a sua luz sobre mim e ter permitido que eu chegasse até
aqui.
Aos meus familiares, que tanto me incentivaram e me ajudaram a dar mais este
passo em minha vida.
Aos meus amigos, que compreenderam a minha ausência durante o período de
elaboração da dissertação e torceram pelo meu sucesso.
À professora Dinah dos Santos Tinôco, que assumiu o compromisso de orientar
este trabalho e prezou a todo instante pela qualidade do mesmo.
À professora Jomária Mata de Lima Alloufa, pessoa de fundamental importância
na elaboração da dissertação, visto que me co-orientou enquanto a minha orientadora
estava viajando em seu pós-doutorado.
Ao professor Carlos Eduardo Marinho Diniz, orientador da graduação, que não
mediu esforços para me ajudar também na pós-graduação.
A toda a equipe de professores, funcionários e alunos do Programa de Pós-
Graduação em Administração da UFRN, que sempre estiverem dispostos a me ajudar e
que acreditaram em mim.
À minha amiga Leilianne, que desde a graduação foi exemplo e incentivo para o
meu ingresso na carreira acadêmica.
Ao meu novo amigo Marcelo, que nunca mediu esforços para ajudar a quem quer
que fosse. A ele, a minha admiração.
A todos os conselheiros do CONETUR que contribuíram demasiadamente com
suas entrevistas, e a Vera Barreto e Darlyne Fontes da SETUR que nunca me negaram
informações sobre o Conselho e me forneceram todos os documentos necessários para a
análise documental.
"Mestre não é quem sempre ensina,
mas quem de repente aprende”.
(Guimarães Rosa)
RESUMO
To implement policies and plans at the tourist sector involve disposition to the
establishment of parceries among government and private initiative, space to the action of
studious, researchers and professionals of several areas of knowledge and formation, able
of to give new courses no only at the tourism, but to the economy how a every, seen
which the tourism had a effect multiplicator, reaching 52 sectors of the economy. At this
sense, the Brazil came pruning for a new phase of politic actuation at the touristy activity.
Until the year 2002, the tourism politic in the Brazil no had detail, because herself treated
of isolated actions and many without continuity. However, at to start 2003, several actions
were developed in order to contribute for the national touristy planning. The principal was
the creation of Ministério do Turismo, accompanied of the formulation and
implementation of the Plano Nacional do Turismo (2003/2007). This work pretend to
understand the implementation at the Rio Grande do Norte of the model of participative
administration extolled by Plano Nacional do Turismo. The your centre detail the action
of the Conselho Estadual de Turismo do Rio Grande do Norte (CONETUR), to promote
the participation at the tourism public policies. The bibliographical research contemplated
diverse sources in order to compile knowledge of credential authors in the quarrel of
inherent subjects to the participation and to the tourism public policies, especially at the
Brazil. A qualitative perspective the case study was adapted as research method and for
attainment of the data interviews with the members of the Conselho had been carried
through beyond consultation the referring documents the dynamics of functioning of the
Conselho. The principal actuations of the CONETUR, the directives tourism public
policies already made and directed to implementation, the type of participation at made
decision, the principal difficulties of the implementation of the participative
administration model of the Plano Nacional do Turismo and the degree of participation of
the members of the Conselho at the reunions had been identified. The results had shown
that exist some difficulties at the implementation of the participation at the Conselho
Estadual de Turismo do Rio Grande do Norte, knowledge of the Conselheiros of
CONETUR function, the presence of bodies which doesn’t directly connected at the
touristy activity; the absence of time of the Conselheiros to be presents at reunions; the
discontinuity of the presidency of the Conselho; among others. So, the CONETUR show
himself how a Conselho with participative characteristics, but with some adapted needs.
Figura 1 - Diagrama das Relações entre os diversos atores que compõem o Sistema 23
de Gestão do Ministério do Turismo
Figura 2 - Macro Programas do Plano Nacional do Turismo (2003/2007) 31
Figura 3 – Macro Programa 1: Gestão e Relações Internacionais 31
Figura 4 – Estrutura de Funcionamento do CONETUR 67
LISTA DE GRÁFICOS
A partir dessas datas, decretos e/ou leis e ações estabelecidas, Cruz (2002) dividiu
a política nacional do turismo brasileiro em duas fases. A primeira ela chamou de “pré-
história” jurídico-institucional das políticas nacionais de turismo, pois nessa fase, que vai até
1966, essas políticas eram resultantes de diplomas legais desconexos e restritos a aspectos
parciais da atividade, fundamentalmente à regulamentação de agências de viagens e de
turismo.
A segunda fase teve seu início a partir da promulgação do Decreto-lei 55 de 18 de
novembro de 1966, que define e institui, pela primeira vez, uma política nacional de turismo e
cria ainda os organismos oficiais para levar a cabo sua efetivação. Esse período vai até 1991,
com a revogação daquele Decreto-lei, pela Lei 8.181 de 28 de março, que reestrutura a
Embratur e dá início ao que a autora considera o terceiro período da história das políticas
nacionais de turismo do país, que se estende até o momento atual.
Em relação a esse momento atual, é importante destacar que em 2003 foi criado o
Ministério do Turismo, e em seqüência a este, o Plano Nacional do Turismo (2003/2007). Em
2007 já foi lançada uma segunda fase desse Plano, o PNT (2007/2010). Outra importante
reestruturação realizada a partir de 2003 foi o redirecionamento do Instituto Brasileiro do
Turismo - EMBRATUR para atuar exclusivamente no mercado externo, sendo responsável
pela promoção, o marketing e o apoio à comercialização do destino Brasil no exterior.
Além da evolução das políticas públicas de turismo no Brasil, se faz relevante
mostrar uma relação entre os órgãos oficiais de turismo no decorrer da história do Brasil, bem
como o período de tempo em que estiveram vigentes, conforme pode ser verificado no
Quadro 3.
ELABORA: DISPONIBILIZA:
Ações:
Otimiza e ordena as demandas, propõe soluções dos problemas e “obstáculos”, prioriza as ações
emanadas da política e apoio a atuação dos extensionistas.
MONITORA
FIGURA 1 – Diagrama das Relações entre os diversos atores que compõem o Sistema de Gestão do Ministério do Turismo
FONTE: Plano Nacional do Turismo (2003/2007, p. 14).
b) Objetivos e Metas
A meta b é considerada pelo Plano como um “enorme desafio”, visto que nos dois
últimos anos que antecederam a formulação do Plano (2001 e 2002), o número de turistas
estrangeiros no Brasil caiu consideravelmente (9,43% e 20,83% respectivamente, como
também podem ser observados na tabela 2). Esses resultados são justificados pelo Plano como
sendo conseqüência da crise econômica mundial, em especial a crise Argentina, o baixo
crescimento do Brasil e os atentados de 11 de setembro.
A proposta do Plano (PNT – 2003/2007, p. 25) na meta b então é fazer uma:
Para realizar tal promoção, o Plano pretende integrar a esta “imagem de país
moderno”, a essência brasileira, sua cultura, sua diversidade étnica, social e as diferentes
regiões do país, através de articulações entre agentes públicos e privados para realizar ações
consistentes de promoção. Dessa forma, pretendia-se alcançar taxas de crescimento acima de
15% ao ano, atingindo os 9 milhões de turistas almejados para o ano de 2007.
Considerando que essa meta parte de condições ótimas de mercado e que, em uma
conjuntura que o Plano chama de “boa”, atingir-se-ia a possibilidade de chegada de 7,5
milhões de turistas estrangeiros em 2007, tem-se a conclusão de que o mercado esteve no
período de 2003 a 2007, em condições ruins, visto que só atingiu a marca de 6,4 milhões de
chegadas.
Levando à análise a meta c que consiste em gerar 8 bilhões de dólares de divisas,
em dezembro de 2007 o Banco Central divulgou dados de que os gastos de turistas
estrangeiros em visita ao Brasil, em janeiro-novembro de 2007, totalizaram US$ 4,48 bilhões,
com uma projeção de se atingir os US$ 4,9 bilhões em dezembro de 2007, o que corresponde
a 61,2 % da meta proposta.
Essa meta partiu de uma receita de 3,12 bilhões de dólares no final de 2002 e
contou com a perspectiva de que se aumentasse o fluxo de turistas, estimado em 9 milhões até
2007 (de acordo com a meta b), bem como o tempo de permanência e o aumento do gasto
médio per capita do turista. Em 2001, por exemplo, foram registrados 12,2 dias de
permanência média e US$ 81,21 de gasto médio per capita. O Plano não define em quanto se
pretendia aumentar esses valores específicos, contribuindo talvez para o insucesso do
planejamento. Fala-se apenas na maneira pela qual se conseguiria atingir tal aumento, qual
seja através da contemplação da diversidade cultural e regional brasileira, o incremento à
comercialização de novos produtos de lazer, negócios, eventos e incentivos, os quais, segundo
o Plano, proporcionariam ao visitante estrangeiro um leque ampliado de opções, criando
condições para o aumento do tempo de permanência do turista no Brasil.
Assim como a meta b, a meta c também está relacionada com as condições ótimas
de mercado, as quais consideram a entrada de 9 milhões de turistas estrangeiros. Para uma
conjuntura considerada pelo Plano como “boa”, foi projetada a geração de US$ 7,1 bilhões
em divisas até o ano de 2007, o que confirma que o mercado esteve realmente em condições
ruins ou que a política não foi eficiente.
A partir da análise da tabela 3 seguinte, se pode perceber que a meta d, que propõe
aumentar para 65 milhões a chegada de passageiros nos vôos domésticos, foi bastante
audaciosa, visto que pretendia dobrar a quantidade de vôos em cinco anos (em 2002 tinha-se
um total de 32,9 milhões de vôos domésticos). O valor a que se chegou em 2007 foi a marca
de quase 50 milhões de vôos, o que corresponde ao alcance de 77,7 % da meta proposta.
O Plano Nacional do Turismo (2007/2010) tem como foco a inclusão social. Uma
inclusão que pode ser alcançada por duas vias: a da produção, por meio da criação de novos
postos de trabalho, ocupação e renda, e a do consumo, com a absorção de novos turistas no
mercado interno. De acordo com a Ministra de Estado do Turismo, Marta Suplicy, essa
inclusão deve ser vista na mais ampla acepção da palavra (Mtur, 2007, p. 8):
(...) inclusão de novos clientes para o turismo interno, inclusão de novos destinos,
inclusão de novos segmentos de turistas, inclusão de mais turistas estrangeiros,
inclusão de mais divisas para o Brasil, inclusão de novos investimentos, inclusão
de novas oportunidades de qualificação profissional, inclusão de novos postos de
trabalho para o brasileiro. Inclusão para reduzir as desigualdades sociais e para
fazer do Brasil um país de todos.
Por essas e outras razões, a redução das desigualdades só pode ser fruto de um
processo árduo de participação, que é conquista, em seu legítimo sentido de defesa de
interesses contra interesses adversos. Não há por que enfeitar ou banalizar este processo,
ainda que não deva em si ser necessariamente violento. Todavia, nos casos de desigualdade
extrema, dificilmente se escapará da violência, mesmo porque já está instalada no cerne do
processo.
Interessa aqui delinear o conceito de participação, a fim de retirar dele o tom vago
que muitas vezes o envolve. Demo (2001) diz que “participação é conquista” para significar
que é um “processo”, no sentido legítimo do termo: infindável, em constante vir-a-ser, sempre
se fazendo. Assim, participação é em essência autopromoção e existe enquanto conquista
processual. Não existe participação suficiente, nem acabada. Participação que se imagina
completa, nisto mesmo começa a regredir.
A partir dessa noção, coloca-se a outra, de que participação não pode ser
entendida como dádiva, como concessão, como algo já preexistente. Segundo Demo (2001)
“não pode ser entendida como dádiva”, porque não seria produto de conquista, nem realizaria
o fenômeno fundamental da autopromoção; seria de todos os modos uma participação tutelada
e vigente na medida das boas graças do doador, que delimita o espaço permitido. “Não pode
ser entendida como concessão”, porque não é fenômeno residual ou secundário da política
social, mas um dos seus eixos fundamentais; seria apenas um expediente para obnubilar o
caráter de conquista, ou de esconder, no lado dos dominantes, a necessidade de ceder. “Não
pode ser entendida como algo preexistente”, porque o espaço de participação não cai do céu
por descuido, nem é o passo primeiro.
É sempre mais fácil fazer a teoria dos obstáculos à participação, encarnados nas
questões do poder e da desigualdade. Tanto é assim, que em geral se assume como ponto de
partida a não-participação, ou a tendência histórica de coibir a conquista por parte dos
interessados de seu espaço próprio de definição.
Ao descrever-se a participação como processo de conquista da autopromoção, não
se diz que seja necessariamente uma luta sangrenta, uma guerra sem fim, uma comoção total.
A conquista da participação admite inúmeras concretizações históricas, inclusive as violentas,
se os opressores forem também violentos. Mas há igualmente formas lentas e soturnas de
conquista, como é o processo educacional, a ativação comunitária baseada na identificação
cultural, etc. Em todo caso, não existe por descuido ou por comodidade. Precisa ser
conscientemente construída. É luta neste sentido. Não há solidificação razoável de processos
democráticos sem luta, porque esta faz parte da noção dialética de conquista.
“Para uma comunidade ter voz e vez precisa organizar-se” (Demo, 2001 - P. 72).
Este processo deveria ser preocupação diária das comunidades, que com elas aprenderiam as
formas possíveis de realização participativa ou criariam suas próprias. De modo geral,
apresentam-se representantes que dificilmente o são de modo legítimo. Alguns o são pelo
carisma da liderança; outros se insinuam ou se impõem. É mais difícil encontrar o líder eleito,
aquele que representa a comunidade por delegação expressa e ordenada. Mais difícil ainda é
encontrar a comunidade que já elaborou a necessidade de instituir rodízio no poder, com
vistas a evitar a perpetuação e o conseqüente desligamento do líder face às bases, de exigir
periódicas prestações de contas, de repartir por grupos diversos de interesse cotas de
representação, de promover níveis diferenciados de participação, de inserir na formação
educativa tal preocupação como parte integrante do currículo comunitário, de assumir os
serviços públicos como interesse seu e com a conseqüente exigência de qualidade, e assim por
diante.
A participação política, por exemplo, não é apenas participação eleitoral, e muitas
vezes é mais eficiente por outros meios. Não é apenas votar e ser votado. Para Dallari (1983),
uma forma de participação em conjunto é através de reuniões. Assim, pois, a participação
política mais eficiente é a organizada, aquela que se desenvolve a partir de uma clara
definição de objetivos e que procura tirar o máximo proveito dos recursos disponíveis em
cada momento, assegurando a continuidade das ações.
Como se vê, a participação política pode ser eventual ou organizada, sendo
igualmente válidas essas duas formas, desde que exercidas com a consciência e a
responsabilidade exigidas pelo bem comum. O que não se pode admitir é que alguém se limite
à participação eventual, ocasional. É indispensável que cada um tenha alguma forma
permanente de participação, na escola, na fábrica, no escritório, nas associações, trocando
idéias e informações, sugerindo e apoiando iniciativas, fazendo um trabalho constante de
esclarecimento, de conscientização e organização, o que não exclui a hipótese de que participe
eventualmente de modo diverso.
A participação desenvolve atitudes de cooperação, integração e comprometimento
com as decisões, bem como aumenta o senso de eficácia política. Justamente porque todos os
seres humanos vivem em sociedade e porque as decisões políticas sempre se refletem sobre a
vida e os interesses de todos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos considera a
participação política um direito fundamental de todos os indivíduos. Diz, entre outras coisas,
o artigo 21 da Declaração que todo ser humano tem o direito de tomar parte no governo de
seu país e que a vontade do povo será a base da autoridade do governo.
Já a participação como prática educativa, é destacada por Silva (2003), como
sendo um meio pelo qual se formam “cidadãos” voltados para os interesses coletivos e para os
assuntos da política nacional. Para essa autora, os “cidadãos comuns” não estão preocupados
com as decisões das instâncias da política nacional, acredita que, sem experiências
participativas em outras esferas da sociedade, não é possível gerar um governo democrático.
Não restam dúvidas sobre a importância da adoção do formato participativo, dos
programas urbanos e das gestões municipais para o projeto político de liberalização do
regime, assim como para o fortalecimento da legitimidade dos governantes. No entanto, não
se pode esquecer a importância das experiências participativas para a população nelas
inserida, ressaltando-se, aí, a dimensão educativa da participação. Através dela, de acordo
com Andrade (1996), os indivíduos adquirem práticas e habilidades democráticas, assim
como é na participação que se cria o comprometimento dos cidadãos em relação às decisões
tomadas.
Educação comunitária e participativa significa, segundo Demo (2001), que, de um
lado, o Estado se compromete a sustentar a necessária rede de atendimento e, de outro, que a
sociedade a assume como conquista sua. Ela mesma será a primeira interessada em que
nenhuma criança falte à escola, que o prédio seja digno, que a professora seja capaz e bem
paga, que o material didático seja adequado e montado, tanto quanto possível, pela própria
comunidade, e assim por diante.
Acredita-se que a maior virtude da educação, ao contrário do que muitos pensam,
está em ser instrumento de participação política. Nisto é condição necessária, ainda que não
suficiente, para o desenvolvimento. Todavia, crê-se que a função insubstituível da educação é
de “ordem política”, como “condição à participação”, como “incubadora da cidadania”, como
“processo formativo”. Se um país cresce sem educação, não se desenvolve sem educação.
Este efeito qualitativo, que é da ordem dos fins da sociedade, perfaz o cerne do fenômeno
educativo.
Por fim, pode-se afirmar que o primeiro contato com uma comunidade no sentido
da mobilização participativa se dá através de algum traço de identificação cultural, pelo qual
se sente tocada e atraída, e, ao mesmo tempo, percebe que o agente externo a entende,
respeita, porque procura falar a “mesma língua”. Por isso mesmo, é essencial evitar que os
processos participativos degenerem em sessões repetitivas, cansativas, decepcionantes, pouco
produtivas, de tal sorte que se instale o desânimo e a desmotivação, causados por inabilidade
na condução do processo, ou por incompetência técnica ou política. Nisto se percebe,
ademais, que não se pode satisfazer com a face política, deixando de lado a questão sócio-
econômica. Melhorar de vida concretamente é tão importante quanto saber discutir o
problema politicamente.
2.2.2 Evolução Histórica do Processo de Participação e a Participação no Brasil
Para que haja uma política pública descentralizada, se faz necessária uma
integração entre os diferentes níveis de atuação governamental (nacional, estadual e local),
bem como entre os diversos órgãos e secretarias que compõem a estrutura governamental em
cada uma das três esferas. Fonseca (2005) traz as competências que cada esfera do governo
relacionada ao turismo deve dispor. Segundo a autora, o governo central deve preocupar-se
com a política macroeconômica e com a promoção do país no exterior. Ao governo estadual,
por sua vez, cabe adaptar a política central a uma realidade mais concreta, como também
promover o destino turístico no âmbito nacional e internacional. Já o governo local deve
assumir uma das funções mais importantes que é a de gerir o território onde se efetiva a
atividade turística e que está sob sua jurisdição.
A “igualdade política”, na teoria, refere-se ao sufrágio universal e à existência de
igualdade de oportunidades de acesso aos canais de influência sobre os líderes. Finalmente,
“participação”, no que diz respeito à maioria, constitui a participação na escolha daqueles que
tomam as decisões. Por conseguinte, a função da participação nessa teoria é apenas de
proteção; a proteção do indivíduo contra decisões arbitrárias dos líderes eleitos e a proteção
de seus interesses privados. É na realização desse objetivo, segundo Pateman (1992), que
reside a justificação do método democrático.
De acordo com Andrade (1996), o recurso à participação da sociedade organizada
e o reconhecimento do conflito, que caracterizam a lógica do consenso, constituem a forma
mais democrática de ação estatal, e têm um papel estratégico nos períodos de
redemocratização ou de afrouxamento dos regimes autoritários. Isso torna o estado e a
burocracia estatal acessíveis ao cidadão, o que constitui um recurso importante no sentido da
legitimação do bloco no poder e dos projetos ideológicos em curso.
Apesar de o governo divulgar que ampliou os espaços de participação da
sociedade civil, foi o Estado quem avançou no controle sobre as classes populares. Conforme
Silva (2003), no interior das práticas políticas dos “novos movimentos sociais”, a proposta de
participação popular foi fecundada como sinônimo de autonomia, de realização da
democracia, de reconhecimento de que os membros das classes populares podem ser “sujeitos
de sua própria história” devendo, portanto, participar das decisões que lhes afetam.
De acordo com Dias Bordenave (1994), um governo democrático aberto à
participação é aquele que informa corretamente, ouve cuidadosamente e consulta ativamente a
população. Assim, segundo este mesmo autor (1994, p. 23),
A democracia participativa seria então aquela em que os cidadãos sentem que, por
fazerem parte da nação, têm parte real na sua condução e por isso tomam parte –
cada qual em seu ambiente – na construção de uma nova sociedade da qual se
sentem parte.
Neste aspecto reside uma lacuna importante neste campo de estudos no Brasil.
Bonfim e Fernandes (2005), colocam que o questionamento sobre a compreensão de como a
elite política local dirige tais políticas de participação (orçamentos participativos e conselhos
municipais, por exemplo), Procurando mostrar seu posicionamento (estímulo ou desestímulo)
frente a representação popular é algo que deve ser mais aprofundado, pois a simples
existência de conselhos ou de orçamentos participativos não implica poder de decisão destas
instâncias. A influência no poder decisório de uma política local por parte de conselhos
municipais, por exemplo, efetivamente será franqueada pelo executivo, ou seja, pela elite
dirigente.
Fóruns participativos favoreceriam a ampliação do direito de expressar
verbalmente preferências em contraposição à mera escolha entre candidatos a cargos
legislativos ou executivos. Os fóruns têm papéis diferenciados nos contextos institucionais e
políticos em que se inserem e potencialidades muito diversas em termos do impacto sobre a
formulação ou implementação de políticas, tendo em vista seus desenhos institucionais e os
desenhos institucionais do setor ou do programa ou política em que se inserem. Havia, em
2001, segundo Côrtes (2005), 22.828 conselhos municipais organizados nas áreas de saúde,
assistência social, educação, direitos da criança e do adolescente, trabalho e emprego, turismo
e cultura.
Côrtes (2005) realizou um estudo sobre os clássicos da literatura acerca dos fóruns
participativos. Os estudos analisados foram divididos em dois grandes blocos: (Fiorina, 1999;
Pinto, 2004; Skocpol, 1999) é cético em relação às possibilidades de fóruns participativos
favorecerem a democratização da gestão pública ou aprimorarem a implementação de
políticas no sentido de torná-las mais eficientes. As raízes do ceticismo podem ser
encontradas em dois tipos de argumentos: desconfiança em relação à legitimidade de
participantes e constatação de que os processos políticos nos fóruns seriam pouco
democráticos. A legitimidade dos participantes é questionada porque, na visão desses autores,
somente teriam acesso à participação os grupos societais que dispõem de maiores recursos
econômicos e de poder, os “excluídos” continuariam à margem desses processos
participativos. As relações de poder existentes na sociedade civil – relacionadas a recursos
desiguais, por exemplo – afetariam as possibilidades de processos deliberativos equânimes.
Para eles, o desenho institucional dos fóruns, por um lado, não garantiria acesso universal à
participação, ficando restrito a alguns cidadãos participando diretamente ou através de
representantes. Por outro, permite que o processo político dos fóruns seja dominado por
gestores ou por grupos políticos com mais recursos de poder.
O segundo bloco de trabalhos: (Azevedo e Abranches, 2002; Boschi, 1999; Costa,
1997; Costa, 1999; Evans, 2003; Fung e Wright, 2001; Jacobi, 2002; Santos, 2001. Santos e
Avritzer, 2002; Schneider e Goldfrank, 2002), mais numeroso, ressalta a democratização da
gestão pública provocada por tais mecanismos de participação. No entender desses autores,
interesses tradicionalmente excluídos do processo de decisão passariam a ser considerados e
gestores de políticas públicas e burocracias governamentais seriam induzidas a tomar decisões
levando em conta tais interesses. Em países em desenvolvimento, como o Brasil, os contextos
democráticos seriam caracterizados pela convivência entre as instituições típicas das
democracias representativas e a manutenção de padrões autoritários de decisão e de formas
clientelistas de relação entre governos e interesses societais.
São relativamente poucos os trabalhos (Fiorina, 1999; Pinto, 2004; Skocpol,
1999) que analisam fóruns participativos sob uma perspectiva cética. Para eles, por um lado,
há o problema da legitimidade dos participantes nesses fóruns, visto que estes não
representariam os mais pobres ou a maioria. Além disso, mesmo entre indivíduos ou
representantes da sociedade civil que aí participam haveria diferenças marcantes de poder
para influenciar a tomada de decisões. Na sua visão, os fóruns não permitiriam realizar o ideal
de participação de indivíduos ou de representantes de associações da sociedade civil, com
poder similar a gestores, burocracias governamentais e da sociedade civil e os desenhos
institucionais dos fóruns, que propiciam ou não evitam tais diferenças, seriam explicados
principalmente pelo ambiente social e político que produz e reproduz desigualdades.
As trajetórias históricas da vida cívica e das instituições políticas americanas são
muito diferentes daquelas encontradas em democracias recentes e, particularmente no Brasil.
Como a origem do ceticismo dos autores americanos está na dinâmica recente da vida cívica
americana, que é diferente da brasileira, poder-se-ia supor que as razões para a desconfiança
dos autores em relação aos fóruns participativos não se aplicariam às democracias recentes ou
ao Brasil. Entretanto, Conforme Côrtes (2005), questões que eles formulam são relevantes
também para a análise de fóruns constituídos no Brasil. Eles indagam sobre os interesses que
são representados, sobre o modo de escolha dos participantes e sobre a natureza das relações
entre participantes e grupos sociais supostamente representados.
Já o subgrupo de trabalhos otimistas mais influentes no estudo desses fóruns,
destaca a importância dos mesmos para a criação de democracias participativas e para a
melhoria do funcionamento da gestão pública. O conceito de participação, portanto, está
relacionado ao envolvimento de participantes – usuários e beneficiários de políticas públicas,
trabalhadores, consumidores, profissionais, movimentos sociais, entre outros – em fóruns
participativos.
3 METODOLOGIA
Para a análise dos dados foi utilizado o critério proposto por Miles e Huberman
(1994), que consideram três fluxos de atividades no processo de análise: (1) redução de dados;
(2) apresentação dos dados; e (3) extração de conclusões e verificação. Os três processos
ocorreram durante e após a coleta de dados.
O processo de redução dos dados aconteceu antes da fase de coleta, no sentido da
focalização da pesquisa: (a) dentro de um quadro conceitual específico; (b) na seleção dos
sujeitos; (c) na seleção das questões de pesquisa; e (d) nos enfoques para a coleta de dados. À
medida que a coleta de dados prosseguiu, o processo de redução de dados continuou na
elaboração de resumos, codificando os dados, estabelecendo categorias e agrupamentos, entre
outros.
Os dados foram organizados, comprimidos e agrupados de forma a permitir
extrair resultados e conclusões. Na extração de significados foi feito o agrupamento das
informações em classes, o qual permitiu a construção de uma cadeia lógica de evidências.
Foram utilizados quadros e gráficos para compactar e apresentar os dados e informações
obtidos na pesquisa documental e nas entrevistas, bem como um texto descritivo e analítico.
4 Conselho Estadual de Turismo do Rio Grande do Norte
(CONETUR)
4.2Constituição
4.3Estrutura e Funcionamento
C2 Plenário C3
C1 Secretaria C4
Executiva
C5 C6
4.4Atuação
A atuação do CONETUR será analisada a seguir através das atas das reuniões dos
anos 2003-2007 (período de estudo deste trabalho), bem como por meio dos resultados das
entrevistas realizadas com os Conselheiros deste Conselho no ano de 2008.
QUADRO 5 - Principais Temas Discutidos nas Reuniões Plenárias do CONETUR no ano de 2003
FONTE: Pesquisa Documental realizada em maio de 2008
Em 2003, primeiro ano dos cinco que estão sendo analisados neste trabalho (2003-
2007), houve apenas uma reunião do Conselho já em dezembro do referido ano, pois, de
acordo com o então secretário de turismo Haroldo Azevedo, o Rio Grande do Norte foi o
primeiro Estado a receber o Ministro do Turismo e seus secretários, tendo sido acordado nessa
ocasião (Fórum Nacional dos Secretários de Turismo), que ficaria para ser um dos últimos
Estados a dar início às reuniões de seu Fórum Estadual de Turismo para que não obtivesse
vantagem frente aos demais (SETUR, 2003).
Essa reunião do Conselho teve como foco fundamental a apresentação do Projeto
de Promoção, Divulgação e Marketing para o turismo do Rio Grande do Norte para o ano de
2004. No entanto, outras políticas foram anunciadas, tais como: a Política de Segurança, a
Operação Verão, as providências e ações para a assinatura do PRODETUR II, o Projeto de
Reforma do Centro de Convenções, a participação nas feiras e workshops nacionais e
internacionais, a diminuição do tempo de desembarque dos vôos charter no Aeroporto
Internacional Augusto Severo e a ocupação das Dunas de Genipabu e o lixo nas praias.
Diferentemente de 2003, em 2004 o Conselho se reuniu quase que mensalmente,
não tendo havido reuniões apenas nos meses de março e outubro. O quadro 6 a seguir vem
apresentar os assuntos que foram pautados no ano de 2004.
Sobre o Aeroporto
Comissões Temáticas
Nenhuma
Outras
GRÁFICO 2 - Principais Diretrizes de Política Pública de Turismo tomadas no CONETUR já implementadas e/ou
encaminhadas para implementação
FONTE: Entrevista realizada junto aos Conselheiros do CONETUR em julho de 2008
4.4.3 Tipo de participação identificada na tomada de decisão no CONETUR
Concentrada em Conselheiros
Líderes
Democrática
Outras
100%
90%
Boa
Procura ir a todas
Em um ano só foi três vezes
Quase todas
N° de 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª
Conselheiros Reunião Reunião Reunião Reunião Reunião Reunião Reunião
/ Reuniões
Plenárias
em 2007
Número de 21 24 26 28 22 29 27
Conselheiros
presentes na
Reunião
QUADRO 11 – Número de Conselheiros em Reuniões Plenárias no ano de 2007
FONTE: Pesquisa Documental realizada em maio de 2008
ANDRADE, Ilza Araújo Leão de. Políticas e poder: o discurso da participação. São Paulo:
AD HOMINEM; Natal: Cooperativa Cultural da UFRN, 1996.
BENI, Mário Carlos. Análise estrutural do turismo. São Paulo: Senac São Paulo, 2006.
CRUZ, Rita de Cássia. Política de turismo e território. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2002.
DALLARI, Dalmo de Abreu. O que é participação política. São Paulo, Brasiliense, 1983.
DEMO, Pedro. Participação é conquista: noções de política social participativa. São Paulo:
Cortez, 2001.
DENCKER, Ada de Freitas Maneti. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. São Paulo:
Futura, 1998.
DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. N° 11.498 do dia
15/06/2007.
DIAS BORDENAVE, Juan E. O que é participação? 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991.
GONÇALVES, Joyce de Souza, SERAFIM, Lia Sales. A política pública de turismo no Rio
Grande do Norte: um estudo dos impactos econômicos e socioculturais na Grande Natal.
Disponível em: <www.anpad.org.br>. Acesso em: 04 jun. 2007.
SANTOS, Roselys Izabel Corrêa dos, SILVEIRA, Janete Jane Cardozo da. Em busca da
identidade perdida: subsídios para uma política integrada de comunicação em turismo
cultural nos municípios de Piçarras e Penha (SC), in RUSCHMANN, Doris van de Meene,
SOLHA, Karina Toledo (orgs.) Planejamento Turístico. Barueri, SP: Manole, 2006, pp. 253-
269.
SANTO, Viriato Manuel et VERRIER, Pierre Eric, Le Management Public, Paris, 1997.
__________________________________________________________SETUR/RN –
Secretaria de Estado do Turismo do Rio Grande do Norte. Atas das Reuniões do
CONETUR, 2006.
ROTEIRO DE ENTREVISTA
FUNCIONAMENTO DO CONETUR-RN
3. Como são definidas as pautas das reuniões (Todos os conselheiros podem sugerir
temas a serem incluídos na pauta?).
PARTICIPAÇÃO
13. Que sugestões você daria para aperfeiçoar a participação na gestão do CONETUR?
PERFIL DO ENTREVISTADO:
1. Sexo 2. Idade
Masculino De 18 a 23 de 24 a 29 de 30 a 35
De 36 a 41
Feminino De 42 a 47 de 48 a 53 acima de 54
3. Estado Civil 4. Escolaridade
Solteiro (a) Casado (a) 1º grau incompleto 1º grau completo
Divorciado (a) Viúvo (a) 2º grau incompleto 2º grau completo
Outros 3º grau incompleto 3º grau completo
Pós-Graduação
5. Profissão 6. Tempo de Participação no Conselho
Estudante Empresário Até 1 Ano
Autônomo Bancário De 1 ano a 2 anos
Profissional Liberal De 2 Anos a 3 anos
Trabalhador Privado – De 3 Anos a 4 anos
Comércio
Trabalhador Privado – Indústria Desde o início (implantação)
Funcionário Público
Outros: ______________________________________________________
7. Formação 8. Tempo de serviço no órgão
Administrador Economista Até 1 Ano
Contador Pedagogo De 1 ano a 2 anos
Advogado Psicólogo De 2 Anos a 3 anos
Engenheiro De 3 Anos a 4 anos
Turismólogo Desde o início (implantação)
Outros:
____________________________
9. Tempo de Atuação no Turismo
Até 1 ano De 8 anos a 15 anos
De 2 anos a 4 anos De 15 anos a 20 anos
De 4 anos a 8 anos Acima de 20 anos
APÊNDICE 2