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Celestino, cometi o mesmo erro que você a minha vida toda, inclusive tenho um caderno

igual a esse, com estudos do Hampton dentre outros. Copiava muito bem, e sim, entendia
os conceitos, mas não aplicava. Além disso, o mercado no qual atuava não tinha espaço
pra aplicar esses conhecimentos.

Sabia que precisava melhorar, tinha consciência crítica sobre os meus desenhos, o que
por um lado era bom, mas por outro a auto-crítica era tão feroz que me impedia de fazer
mais. Deve ser a mesma vida de um papagaio de tenor, repete tudo, "perfeito", daquele
jeito papagaio.

Quem canta mesmo é o tenor. Hoje, depois de velho e que desisti desse sonho da arte, os
meus erros se apresentam claramente. Então, você jovem artista, que está lendo este post
e quer seguir nessa área e sobrevier de arte, aceite um conselho de quem se perdeu no
caminho: pra você não entrar na floresta sombria, faça o seguinte: estude muito! Mas não
gaste sua energia só nos estudos. Sim, nível está cada vez maior, porém aplique o que
está aprendendo em trabalhos reais! Quais são os trabalhos Reais? São aqueles que você
coloca sua alma.

Coloque energia suficiente no trabalho pra que ele seja digno de competir pelo interesse
dos espectadores na maior galeria do mundo. Nela qualquer um vai poder ver, admirar e
criticar seu trabalho. Mas quem importa, no caso da arte comercial, são os mecenas, a
indústria. Não se critique, delegue essa tarefa aos outros, avalie e só absorva as
construtivas. Só tenha humildade pra melhorar, saiba que nível máximo é só um horizonte,
você nunca alcança, o importante é continuar a jornada.

Mais importante ainda: comece e TERMINE as peça. Não gaste seu combustível todo no
estudo. Pra fazer uma analogia com carros, o tanque de combustível é o que deve ser
gasto na viagem, nas imagens, aquele pequeno reservatório pra partida a frio é o
combustível do estudo. Bruce Lee já disse, "a madeira não revida", ou o jogador Didi,"jogo
é jogo, treino é treino".

Os estudos são o mapa, quanto mais claro estiver, mais fácil será o caminho. Porém, a
estrada real são suas ideias sendo materializadas com o que você aprendeu nele. Se está
achando ruim uma imagem que você terminou, pense que pode ter as seguintes causas:

1) Conceitual: ou a ideia não está clara ou é ruim mesmo ou você não está entendendo a
ideia;

2) Técnica: talvez você não tenha a técnica necessária pra realizá-la do jeito que pretende,
ou não está sabendo como transmití-la da forma como sua técnica atual permita. Se eu
estivesse começando hoje, também aplicaria conceitos de outras áreas nos meus
desenhos, por exemplo, fotografia e redação. Na fotografia estudaria pra entender sobre
iluminação, não pra virar fotógrafo, mas pra aplicar nas ilustrações/desenhos. E Sim,
redação. Desenho é linguagem. Todas as linguagens pra serem cognoscíveis precisam de
coesão e coerência, introdução, desenvolvimento e conclusão. Assim, se imagem também
é texto, em sentido lato, o argumento é o ponto focal da imagem, então no corpo do seu
texto/imagem, não devem existir argumentos/elementos que o enfraqueçam ou o
contradigam. Tudo que está na imagem deve ser construído para reforçar sua ideia
principal. Corte tudo que não esteja ajudando o ponto focal. Como disse Carlos Drummond
de Andrade, “Escrever é a arte de cortar palavras”.

Ps. Luiz Celestino, parabéns pela iniciativa séria em ajudar a jornada dessa galera!

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