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Características Básicas dos Transformadores

(Roteiro No. 2)

Universidade Federal de Juiz de Fora


Departamento de Energia Elétrica
Juiz de Fora, MG
36036-900 Brasil

2018

(UFJF) Lab. Maq. I 2018 1 / 35


Introdução

O funcionamento dos transformadores é baseado no princípio da


indução eletromagnética.

O princípio de funcionamento dos transformadores é baseado na


força eletromotriz variacional e = N(d /dt) induzida pelo fluxo
mútuo que se concatena com as espiras dos enrolamentos
primário e secundário.

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Objetivos

Os objetivos desse módulo são:


i. Revisar o comportamento do circuito magnético do fluxo mútuo e
de dispersão dos transformadores;
ii. Apresentar e discutir as características da corrente de
magnetização do transformador;
iii. Examinar a característica da polaridade das bobinas dos
enrolamentos primário e secundário.

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Transformador em vazio

I . Aplicada a tensão V̇p estabelece-se no núcleo o fluxo m que,


variando no tempo, induz a tensão Ė1 e nas espiras do
secundário Ė2 = V̇2 ;
II . No enrolamento primário circula a corrente à vazio İ0 que possui
duas componentes:
i . A corrente de magnetização İm é responsável por garantir a força
magnetomotriz necessária para o estabelecimento do fluxo no
núcleo;
ii . A corrente İperdas é responsável por suprir as perdas do núcleo
dissipada pelas perdas por histerese e as perdas por correntes
parasítas (foucault).
III . Praticamente todo o fluxo produzido no enrolamento primário
concatena o enrolamento secundário ps . Contudo um pequeno
fluxo de dispersão `1 enlaça somente as espiras primárias.

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Φ ps
I 0 = Im + Iperdas

+ + + +
Np
Vp E1 Ns E2
Φlp Vs
− − − −

Figura 1: Diagrama esquemático de um transformador monofásico a vazio.

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Transformador com carga

I . Aplicada a tensão V̇2 nos terminais da carga passa a circular a


corrente İ2 que produz o fluxo sp no sentido contrário ao fluxo
ps , ou seja, que tende a anular o fuxo produzido no enrolamento
primário;
II . Parte desse fluxo magnético de reação sp concatena a bobina
primária. Contudo uma pequena parcela desse fluxo, chamado
de dispersão `2 , enlaça somente as espiras sencudárias;
III . Assim o fluxo magnético que enlaça a bobina primária tende a
diminuir mas como a tensão V̇p é mantida constante ele não
varia;
IV . Para que o fluxo magnético mútuo não varie surge um reforço na
força magnetomotriz no enrolamento primário na forma da
corrente da carga do primário;

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ΦM = Φps −Φsp
Ip Φps Is
Φsp
+ + + +
Vp Φlp E1 Np Ns E2 Φls Vs
− − − −

Figura 2: Diagrama esquemático de um transformador monofásico com carga.

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Representação da reação da carga
Os fluxos de dispersão nas dua bobinas aumentam, sendo que as
linhas do fluxo magnético mútuo na bobinada secundária sofrem
um desvio conforme mostrado na Figura 3.

ΦM
Ip Is

+ + + +
Vp Φlp E1 Np Ns E2 Vs
− − − −

Figura 3: Diagrama esquemático de um transformador monofásico com reação da carga.

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Reatância de magnetização

O fluxo magnético mútuo que enlaça a bobina primária está


associado com a corrente de excitação (magnetização)
necessária para produzi-lo.

A relutância do núcleo é dada por:

1 `m
R= , (1)
µ A

onde R é a relutância do núcleo, µ é a relutância do núcleo


ferromagnético, `m é o comprimento médio do fluxo pelo núcleo e
A é a área do núcleo.

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Figura 4: Comportamento da corrente de magnetização.
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O núcleo do transformador é feito de chapas de material
ferromagnético de alta permeabilidade e portanto, baixa relutância
magnética, para garantir uma baixa corrente de magnetização.

Figura 5: Exemplo de núcleo laminado.

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Comportamento não linear da reatância de
magnetização

(UFJF)
Figura 6: Comportamento Lab. Maq. I
da corrente de magnetização do transformador em função 2018 12 / 35
amplitude
Reatância de dispersão

A reatância de dispersão é um parâmetro que está associado ao


fluxo de dispersão que atravessa as espiras das bobinas primária
e secundária, respectivamente, pelo ar.

Para reduzir o fluxo de dispersão ao mínimo, e portanto as


reatâncias de dispersão, implica em enrolar as bobinas primária e
secundárias sobrepostas de forma a permitir o máximo fluxo
concatenado entre as duas.

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Circuito equivalente
. . .
Ip −Im
.
Is
Ip Rp jX p jX s Rs
.
Im
. . NP NS
. .
Vs
Vp Rc jX m Ep Es

Transformador
ideal

Figura 7: Circuito equivalente do transformador monofásico.

. j X´s R´s
.
I´s
Ip Rp jX p

. . . .
V´s
Vp Rc jX m Ep = E´s

Figura 8: Circuito equivalente com parâmetros refletidos.


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Os parâmetros dos transformadores são geralmente
determinados através de dois ensaios (à vazio e em curto
circuito).
A tensão, corrente e impedância do secundário no circuito da
Figura 8 são refletidas para o primário usando a relação de
transformação a = (Np /Ns ) conforme mostrado a seguir:
8 0
>
> Vs = aVs
>
>
< I 0 = Is
>
s
a (2)
>
>
> R = a2 Rs
0
> s
>
:
Xs0 = a2 Xs

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Polaridade

A polaridade é usualmente marcada por um ponto e define o


sentido do enrolamento das bobinas.
φ
i
+
N
v

Figura 9: Convenção ponto, sentido da corrente, sentido do fluxo magnético.

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.
. VP
VS
. .
VP NP NS VS

(a)

.
VP

. .
VP NP NS VS
.
VS

(b)

Figura 10: (a) Polaridade subtrativa, (b) polaridade aditiva.

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Tipos de núcleos

(a) (b)

Figura 11: (a) Núcleo envolvido (core type), (b) núcleo envolvente (shell core).

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Transformadores trifásicos
Transformadores trifásicos podem ser construídos a partir da
montagem das bobinas dos circuitos primário e secundário de
cada fase em um único núcleo ferromagnético;

Figura 12: Transformador trifásico de núcleo único.


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Transformadores trifásicos podem também ser construídos a
partir da conexão de três transformadores monofásicos;
Importante:
Deve-se observar a polaridade dos transformadores monofásicos
para evitar defasagens indesejadas das tensões nos enrolamentos
secundários.

Figura 13: Transformador trifásico formado por três transformadores monofásicos.

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Tipos de conexão dos enrolamentos:

Os enrolamentos primário e secundário podem ser conectados


em estrêla (Y) ou triângulo ( ) de maneira totalmente
independente:

1 Estrêla-Estrêla (Y-Y);
2 Estrêla-Triângulo (Y- );
3 Triângulo-Estrêla ( -Y);
4 Triângulo-Triângulo ( - ).

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Conexão Y-Y

A a
. .
B VφS2 b
VφP2

. .
VφP1 VφS1

. .
VφP3 VφS3

C c

Figura 14: Transformador trifásico Y-Y.

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Conexão Y-Y
A a

. .
VφP VφS

B b

C c

Figura 15: Banco trifásico Y-Y.

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Comentários

p
VLP 3V P
r= = p =a (3)
VLS 3V S

onde r é a relação de transformação e a é a relação de espiras.

A conexão Y-Y apresenta dois problemas:


As correntes do secundário podem ficar criticamente
desbalanceadas caso a carga seja desequilibrada;
Pode-se observar componentes de tensão de terceiro harmônico;
Solução:
Aterrar os neutros do transformador (especialmente o do primário);
Inclusão de um terceiro enrolamento conectado em para permitir
que o fluxo de corrente de terceiro harmônico tenha um caminho
para circular.

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Conexão Y-

A . a
VφS1
.
B b
VφP2

.
VφP1
. .
. VφS3 VφS2
VφP3

C c

Figura 16: Transformador trifásico Y- .

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Conexão Y-
A a

. .
VφP VφS

B b

C c

Figura 17: Banco trifásico Y- .

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Comentários

p
VLP 3V P p
r= = = 3a (4)
VLS V S

onde r é a relação de transformação e a é a relação de espiras.

^ Não apresenta problemas com correntes desequilibradas ou de


terceiro harmônico devido a presença de um caminho fechado
para circulação dessas correntes pelo ;
<> A tensão do secundário é atrasada de 30 em relação a tensão do
primário;
_ A característica anterior pode representar um problema para
conexão paralelo desses transformadores.

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Demonstração
A relação entre as tensões de fase do primário e secundário é:

V̇ P V̇A
= =a (5)
V̇ S V̇ab

Ou simplesmente, V̇A = aV̇ab


⇣p ⌘
Para a sequência de fase abc tem-se que V̇ab = V̇a 3\+30 e,
pode-se escrever:

V̇A V̇A
V̇a = p \ 30 = \ 30 (6)
a 3 r

Para sequência de fases acb, a tensão do enrolamento


secundário fica adiantada de 30 em relação a tensão do
enrolamento primário.
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Conexão -Y

A . a
VφP1
.
B VφS2 b

.
VφS1
. .
VφP2 VφP3 .
VφS3

C c

Figura 18: Transformador trifásico -Y.

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Conexão -Y
A a

. .
VφP VφS

B b

C c

Figura 19: Banco trifásico -Y.

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Comentários

VLP V P a
r= =p =p (7)
VLS 3V S 3

onde r é a relação de transformação e a é a relação de espiras.

^ Não apresenta problemas com correntes desequilibradas ou de


terceiro harmônico devido a presença de um caminho fechado
para circulação dessas correntes pelo ;
<> A tensão do secundário é adiantada de 30 em relação a tensão
do primário;
_ O defasamento das tensões do secundário irá requerer cuidado
na conexão em paralelo desses transformadores.

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Demonstração
A relação entre as tensões de fase do primário e secundário é:

V̇ P V̇AB
= =a (8)
V̇ S V̇a

Ou simplesmente, V̇AB = aV̇a


⇣p ⌘
Para a sequência de fases abc tem-se que V̇AB = V̇A 3\+30
e, pode-se escrever:
p
3V̇A V̇A
V̇a = \+30 = \+30 (9)
a r

Para sequência de fases acb, a tensão do enrolamento


secundário fica atrasada de 30 em relação a tensão do
enrolamento primário.
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Conexão -

A . . a
VφP1 VφS1
B b

. . . .
VφP2 VφP3 VφS3 VφS2

C c

Figura 20: Transformador trifásico - .

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Conexão -
A a

. .
VφP VφS

B b

C c

Figura 21: Banco trifásico - .

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Comentários

VLP V P
r= = =a (10)
VLS V S

onde r é a relação de transformação e a é a relação de espiras.

Este tipo de conexão não apresenta problemas com correntes


desequilibradas ou de terceiro harmônico devido a presença de
um caminho fechado para circulação dessas correntes pelo ;
A tensão do secundário não tem defasagem em relação a tensão
do primário.

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