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UMA TEORIA FUNCIONAL DOS REGIMES INTERNACIONAIS - cap.

6 – Keohane

O autor vai buscar compreender porquê a falha do mercado político ocorre e como os regimes
internacionais podem ajudar a superá-lo. Segundo Keohane isso ajudará a entender por que os
estados geralmente atendem às regras do regime e por que os regimes internacionais podem
ser mantidos mesmo depois que as condições que facilitaram sua criação tenham
desaparecido.

A teoria funcional do capítulo irá sugerir que mesmo que os USA, como hegemonia, tenha sido
crucial p/ o desenvolvimento de regimes econômicos internacionais, a continuação da
hegemonia não é crucial p/ a continuação desses regimes.

FALHA NO MERCADO POLÍTICO E A TEOREMA DA COASE

O autor fala que como os ​mercados imperfeitos, a política mundial é caracterizada por
deficiências institucionais que inibem a cooperação mutuamente vantajosa. Além do que
prevalece no sistema (que é de auto-ajuda) ​conflito de interesse entre os atores. Em relação a
termos econômicos esses conflitos podem ser decorrentes de externalidades, pois os atores
não arcam com todos os custos nem recebem todos os benefícios de duas ações.

Mas Ronald Coase argumenta que “a presença de externalidades por si só não impede
necessariamente a coordenação efetiva entre os atores independentes... Sob certas condições,
a negociação entre esses atores poderia levar a soluções que são ótimas para Pareto,
independentemente das regras de responsabilidade legal.”

Ex. da autoajuda: Fábrica que com a poluição sujas as roupas no varal de uma lavanderia. ->
Lavanderia ajuda pagar (até 20 mil – um valor menor do que sairia no prejuízo) p/ instlar
equipamentos de proteção. “Mas se as regras de responsabilidade legal fossem baseadas no
"princípio do poluidor-pagador", a lavanderia não pagaria nada e a fábrica teria que investir US
$ 10 mil sem obter um retorno financeiro. Coase não contestou que as regras de
responsabilidade poderiam ser avaliadas com base na justiça, mas insistiu que, dadas suas
suposições, arranjos eficientes poderiam ser consumados mesmo quando as regras de
responsabilidade favorecessem os produtores de externalidades em vez de suas vítimas.”

teorema de Coase -> previsão de que os problemas da ação coletiva poderiam ser facilmente
superados na política internacional por meio da barganha e do ajuste mútuo - isto é, através
da cooperação como a definimos. -> usado para mostrar a eficácia da barganha sem
autoridade central.

“O teorema de Coase poderia ser interpretado, portanto, como uma previsão de que os
problemas da ação coletiva poderiam ser facilmente superados na política internacional por
meio da barganha e do ajuste mútuo - isto é, através da cooperação como a definimos. A
inferência adicional poderia ser extraída de que a discórdia observada deve ser o resultado de
conflitos de interesses fundamentais, em vez de problemas de coordenação. O teorema de
Coase, em outras palavras, poderia ser tomado como minimizando a importância da lógica
perversa da ação coletiva de Olson ou dos problemas de coordenação enfatizados pela teoria
dos jogos. No entanto, tal conclusão seria incorreta por dois motivos convincentes.”
Primeiro, Coasen coloca 3 condições cruciais para sua conclusão: um marco legal que
estabelece a responsabilidade por ações, supostamente apoiadas por autoridade
governamental; informação perfeita; e custos de transação nula (incluindo custos de
organização e custos de pagamentos paralelos).

“Em segundo lugar, as recentes críticas ao argumento de Coase reforçam a conclusão de que
ele não pode simplesmente ser aplicado à política mundial e sugere outras implicações
interessantes sobre as funções dos regimes internacionais. Foi demonstrado, com base na
teoria dos jogos, que, com mais de dois participantes, o teorema de Coase não pode ser
necessariamente demonstrado. Sob certas condições, não haverá solução estável: qualquer
coalizão que forme será inferior, para pelo menos um de seus membros, a outra possível
coalizão. O resultado é uma regressão infinita. Na terminologia da teoria dos jogos, o "núcleo"
do jogo está vazio. Quando o núcleo está vazio, a suposição de custos de transação zero
significa que o acordo é dificultado em vez de facilitado: "em um mundo de custos de
transação zero, a instabilidade inerente de todas as coalizões poderia resultar em interminável
recontratação entre as empresas"

Sugestão de Coase e seus críticos sobre as condições da cooperação internacional por meio da
barganha:

Primeiro, parece que a aproximação das duas primeiras condições de Coase - isto é, ter uma
estrutura legal clara estabelecendo direitos de propriedade e informações de baixo custo
disponíveis de maneira aproximadamente igual a todas as partes - tenderá a facilitar soluções
cooperativas. -> porém o autor fala que as implicações de reduzir os custos de transação são
mais complexas -> Se os custos de transação forem muito altos, não haverá barganhas; mas se
eles são muito baixos, sob certas condições, uma série infinita de coalizões instáveis pode se
formar.

“Inverter o teorema de Coase nos permite analisar amplamente as instituições internacionais


como respostas a problemas de direitos de propriedade, incerteza e custos de transação. Sem
instituições projetadas conscientemente, esses problemas frustrarão as tentativas de
cooperação na política mundial, mesmo quando os interesses dos atores são
complementares.” -> necessidade da existência dos regimes; “desempenham as funções de
estabelecer padrões de responsabilidade legal, fornecendo informações relativamente
simétricas e organizando os custos de barganha para que acordos específicos possam ser mais
facilmente realizados.”

Motivação: “Os regimes são desenvolvidos em parte porque os atores da política mundial
acreditam que, com tais acordos, poderão fazer acordos mutuamente benéficos que, de outra
forma, seriam difíceis ou impossíveis de alcançar.”

Isso quer dizer que os arquitetos dos regimes antecipam que os regimes facilitarão a
cooperação. Dentro do argumento funcional que está sendo construído aqui, essas
expectativas explicam a formação dos regimes: os efeitos dos regimes respondem as ações
que o estabelece; e governos acreditam que tentativas ad hoc de construir acordos
particulares sem estrutura de regime produzem resultados fracos em comparação com os
resultados no âmbito dos regimes.
O autor classifica as razões para essa crença sob as categorias de responsabilidade legal
(direitos de propriedade), custos de transação e problemas de incerteza.”

Responsabilidade legal

Não como exercer autoridade sobre os Estados, nem mesmo com a criação de instituições.

“Seria, portanto, um erro considerar os regimes internacionais, ou as organizações que


constituem elementos deles, como tentativas caracteristicamente malsucedidas de
institucionalizar a autoridade centralizada na política mundial.Eles não podem estabelecer
padrões de responsabilidade legal que sejam tão sólidos quanto aqueles desenvolvidos em
sociedades bem ordenadas...”

Os regimes podem ter pedaços de leis, mas seu significado não está em seu status legal,
formal... “uma vez que quaisquer padrões de responsabilidade legal e direitos de propriedade
estabelecidos na política mundial estão sujeitos a serem revertidos pelas ações dos Estados
soberanos.”

“Regimes também se assemelham a convenções: práticas, consideradas como conhecimento


comum em uma comunidade, que os atores se conformam não apenas porque são as
melhores, mas porque outros também se conformam a elas (Hardin, 1982; Lewis, 1969; Young,
1983). O que esses arranjos têm em comum é que eles são projetados para não implementar a
aplicação centralizada de acordos, mas estabelecer expectativas mútuas estáveis ​sobre os
padrões de comportamento dos outros e desenvolver relações de trabalho que permitirão às
partes adaptar suas práticas a novas situações”

Os regimes são muitas vezes frágeis, com suas regras alteradas, distorcidas “ou quebradas para
atender às exigências do momento.”

Custos de Transação

O autor fala também que os regimes internacionais alteram os custos relativos das transações.
Na OMC não é permitido fazer acordos comerciais discriminatórios, exceto sob condições
específicas. Porém, como não há governo centralizados tais acordos podem acontecer mas sua
falta de legitimidade significa que tais medidas provavelmente serão dispendiosas.

“Os regimes internacionais também afetam os custos de transação no sentido mais mundano
de tornar mais barato para os governos se reunirem para negociar acordos.”

Auxílio das OI participando de Regimes internacionais -> “Regimes econômicos internacionais


geralmente incorporam organizações internacionais que fornecem fóruns para reuniões e
secretarias que podem atuar como catalisadores de acordos... Na medida em que seus
princípios e regras podem ser aplicados a uma ampla variedade de questões particulares, elas
são eficientes: estabelecer as regras e princípios no início torna desnecessário renegociá-los
cada vez que uma questão específica surge.”

Em um regime, diferente do se estar sozinho, os gastos se reduzem... “se uma área de política
é suficientemente densa, a criação de um regime valerá a pena...”
Fazendo acordo sobre uma determinada questão muitas vezes enquanto e regimes de
comércio é aninhado dentro de um conjunto de outros arranjos, que em conjunto constituem
um padrão interligando as relações entre os países.

“Sem os regimes internacionais ligando grupos de questões uns aos outros, pagamentos
paralelos e ligações seriam difíceis de organizar na política mundial; na ausência de um sistema
de preços para a troca de favores, as barreiras institucionais impediriam a construção de
acordos mutuamente benéficos.”

Os departamentos governamentais que perdessem pagamentos paralelos propostos, em


questões que são importantes para eles, provavelmente não arcariam com os custos dessas
ligações voluntariamente. -> Vantagem do Regime.

“Na medida em que as questões são tratadas separadamente umas das outras em nível
internacional, muitas vezes é difícil, em termos simplesmente burocráticos, fazer com que elas
sejam consideradas em conjunto. Haverá dificuldades em coordenar as políticas de diferentes
organizações internacionais - o GATT, o FMI e o IEA têm diferentes membros e diferentes
estilos operacionais - além da resistência que surgirá a tal movimento nos governos membros.
Dentro dos regimes, em contrapartida, os pagamentos paralelos são facilitados pelo fato de
que os regimes reúnem negociadores para considerar conjuntos de questões que podem estar
nos bailiocípedes burocráticos dos negociadores em casa.” ​NÃO ENTENDI SOBRE
side-payments

“Concluímos que os regimes internacionais afetam os custos das transações. O valor de um


acordo potencial para seus participantes em perspectiva dependerá, em parte, de quão
consistente é com os princípios de legitimidade incorporados nos regimes internacionais.
Transações que violam esses princípios serão dispendiosas. Os regimes também afetam os
custos burocráticos das transações: regimes bem-sucedidos organizam áreas problemáticas
para que vínculos produtivos (aqueles que facilitam acordos compatíveis com os princípios do
regime) sejam facilitados, enquanto ligações destrutivas e barganhas inconsistentes com os
princípios do regime são desencorajadas.”

Incerteza e Informação

O autor aborda aqui a importância das informações nos regimes, além de falar que na ausência
de instituições algumas barganhas mutuamente vantajosas não serão feitas por causa da
incerteza. Ele então apronta três fontes de dificuldade particularmente importantes​:
informação assimétrica; perigo moral; e irresponsabilidade.

INFORMAÇÃO ASSIMÉTRICA

O autor fala da incerteza de qualidade

-> Alguns atores podem saber mais sobre uma situação do que outros. -> Esperando que as
barganhas resultantes sejam injustas, os "outsiders" relutam em fazer acordos com "insiders"
-> esse é o problema da quality uncertainty.

A consciência de que os outros têm maior conhecimento do que a própria pessoa e, portanto,
são capazes de manipular um relacionamento ou até mesmo de engajar com êxito o engano e
a traição dupla, é uma barreira para a realização de acordos. Quando essa suspeita é
infundada - ou seja, o acordo seria mutuamente benéfico - é um obstáculo à melhoria do
bem-estar por meio da cooperação.

Em nosso mundo imperfeito, no entanto, as assimetrias de informação não são retificadas


simplesmente pela comunicação. Nem toda comunicação reduz a incerteza, já que a
comunicação pode levar a resultados de barganha assimétricos ou injustos como resultado do
engano.

A informação necessária para entrar em um regime internacional não é meramente


informação sobre os recursos de outros governos e posições formais de negociação, mas
também um conhecimento preciso de suas futuras posições. Em parte, isso é uma questão de
estimar se eles manterão seus compromissos. -> a reputação de um governo se torna um ativo
importante para persuadir os outros a entrar em acordos com ele.

Os regimes internacionais ajudam os governos a avaliar a reputação dos outros, fornecendo


padrões de comportamento contra os quais o desempenho pode ser medido, ligando esses
padrões a questões específicas e fornecendo fóruns, muitas vezes através de organizações
internacionais, em que essas avaliações podem ser feitas.

Reduzindo as assimetrias de informação por meio de um processo de atualização do nível


geral de informação, os regimes internacionais reduzem a incerteza. Acordos baseados em
mal-entendidos e enganos podem ser evitados; acordos mutuamente benéficos são mais
prováveis de serem feitos.

Os regimes fornecem informações aos membros, reduzindo assim os riscos de acordos. Mas as
informações fornecidas por um regime podem ser insuficientemente detalhadas. Um governo
pode exigir informações precisas sobre as avaliações internas de uma determinada situação,
suas intenções, a intensidade de suas preferências e sua disposição em aderir a um acordo,
mesmo em circunstâncias futuras adversas. Os governos também precisam saber se os outros
participantes seguirão o espírito, bem como a carta de acordos, se compartilharão o ônus do
ajuste a mudanças adversas inesperadas, e se eles provavelmente buscarão fortalecer o
regime no futuro.

A incerteza de qualidade pode acabar por não gerar acordos.

RISCO MORAL

Os acordos podem alterar os incentivos de forma a incentivar menos comportamento


cooperativo. -> ex. companhias de seguro c/ risco moral.

IRRESPONSABILIDADE

Alguns atores podem ser irresponsáveis, assumindo compromissos que podem não ser capazes
de realizar. Os governos ou empresas podem celebrar acordos que pretendem manter,
assumindo que o ambiente continuará a ser benigno; se a adversidade se instala, eles podem
ser incapazes de manter seus compromissos. Grandes governos que tentam conquistar
adeptos de acordos internacionais podem enfrentar dificuldades semelhantes: os países que
estão entusiasmados com a cooperação provavelmente serão aqueles que esperam ganhar
mais, proporcionalmente, do que contribuem. Na política internacional, a auto-seleção
significa que, para certos tipos de atividades - como compartilhar informações sobre pesquisa
e desenvolvimento - estados fracos (com muito a ganhar, mas pouco a oferecer) podem ter
mais incentivo para participar do que fortes, mas menos incentivo p/ gastar fundos em
pesquisa e desenvolvimento.6 Sem os estados fortes, a empresa como um todo falhará.

A irresponsabilidade é um aspecto do problema dos bens públicos e do free-riding; mas do


ponto de vista do ator tentando determinar se deve confiar em um parceiro potencialmente
irresponsável, é um problema de incerteza. De qualquer forma, os custos informacionais e as
assimetrias podem impedir acordos mutuamente benéficos.

À medida que os princípios e regras de um regime reduzem o alcance do comportamento


esperado, a incerteza declina e à medida que a informação se torna mais amplamente
disponível, a assimetria de sua distribuição provavelmente diminuirá.

Laços estreitos entre autoridades envolvidas na gestão de regimes internacionais aumentam a


capacidade dos governos de fazer acordos mutuamente benéficos, porque relacionamentos
intergovernamentais caracterizados pela comunicação contínua entre funcionários de nível de
trabalho, tanto informais quanto formais, são inerentemente mais propícios à troca de
informações do que os tradicionais relações entre burocracias fechadas.

Em geral, os regimes tornam mais sensato cooperar diminuindo a probabilidade de serem


traídos. -> os regimes internacionais podem facilitar a cooperação reduzindo a incerteza.

-> Eles então permitem que os governos atinjam objetivos que, de outra forma, seriam
inatingíveis. Eles o fazem em parte facilitando acordos intergovernamentais. Os regimes
facilitam os acordos, elevando os custos previstos de violar os direitos de propriedade de
terceiros, alterando os custos de transação por meio do agrupamento de questões e
fornecendo informações confiáveis ​aos membros.

Regimes são instituições relativamente eficientes, comparadas com a alternativa de ter uma
miríade de acordos não relacionados, uma vez que seus princípios, regras e instituições criam
vínculos entre questões que dão aos atores incentivos para alcançar acordos mutuamente
benéficos… Eles prosperam em situações em que os estados têm interesses comuns e
conflitantes em questões múltiplas e sobrepostas, e onde as externalidades são difíceis, mas
não impossíveis de serem resolvidas por meio da barganha. Onde essas condições existem, os
regimes internacionais podem ser valiosos para os estados.

CONFORMIDADE COM OS REGIMES INTERNACIONAIS

Regimes internacionais são instituições descentralizadas. A descentralização não implica a


ausência de mecanismos para o cumprimento, mas significa que quaisquer sanções por
violação dos princípios ou regras do regime devem ser decretadas pelos membros individuais.
O regime fornece procedimentos e regras através dos quais tais sanções podem ser
coordenadas.

O enigma da conformidade é por que os governos, buscando promover seus próprios


interesses, sempre cumprem as regras dos regimes internacionais quando vêem essas regras
como conflitantes com o que chamarei de seu "interesse próprio míope". O interesse próprio
míope refere-se à percepção dos governos sobre os custos e benefícios relativos aos cursos de
ação alternativos com relação a uma questão específica, quando essa questão é considerada
isoladamente de outras. Uma ação está no interesse próprio míope do governo se tiver o valor
esperado mais alto de qualquer alternativa, além dos efeitos indiretos que as ações sobre a
questão específica em questão teriam sobre outros assuntos. O fato de os governos
obedecerem frequentemente a regras que entram em conflito com seu interesse próprio
míope apresenta uma potencial anomalia para teorias, como o realismo ou a teoria funcional,
que pressupõem uma ação racional e egoísta na política mundial.

Uma compreensão do enigma do cumprimento requer um exame de como os regimes


internacionais afetam os cálculos do interesse próprio, no qual os governos racionais e
egoístas se engajam.

O valor dos regimes existentes

É difícil até mesmo para indivíduos perfeitamente racionais fazerem acordos uns com os
outros na ausência de provisões para a execução central de contratos. Na política mundial, os
regimes internacionais ajudam a facilitar a realização de acordos, reduzindo as barreiras
criadas pelos altos custos de transação e pela incerteza. Mas essas mesmas dificuldades
tornam difícil criar os próprios regimes em primeiro lugar.

A importância dos custos de transação e incerteza significa que os regimes são mais fáceis de
manter do que criar. A construção de regimes internacionais pode exigir esforços ativos de um
estado hegemônico, como o FMI e o GATT fizeram após a Segunda Guerra Mundial; ou a
criação de regime na ausência de hegemonia pode ser estimulada pelas pressões de uma crise
súbita e severa, tal como a que levou à IEA​ (​International Energy Agency).

O autor diz que mesmo com interesses complementares, é difícil superar problemas
de custos de transação e incerteza.

O autor diz que “Apreciando o significado desses padrões de ação produtores de


informação que se inserem nos regimes internacionais nos ajuda a entender melhor
por que a erosão da hegemonia americana durante os anos 1970 não foi
acompanhada por um colapso imediato da cooperação, como a teoria bruta da
estabilidade hegemônica teria previsto. Como o nível de institucionalização dos
regimes do pós-guerra era extremamente alto pelos padrões históricos, com intricadas
e extensas redes de comunicação entre os funcionários em nível de trabalho,
deveríamos esperar que a defasagem entre o declínio da hegemonia americana e a
ruptura dos regimes internacionais fosse bastante longa e a "inércia" dos regimes
existentes relativamente grande.”

Como os oligopólios de Williamson, os regimes internacionais são mais fáceis de


manter do que de construir. Os princípios, regras, instituições e procedimentos dos
regimes internacionais e os padrões informais de interação que se desenvolvem em
conjunto com eles tornam-se úteis aos governos como acordos que permitem a
comunicação e, portanto, reduzem os custos de transação e facilitam a troca de
informações. À medida que eles se provam dessa maneira, o valor das funções que
eles desempenham aumenta. Assim, mesmo que o poder se torne mais difundido
entre os membros, tornando os problemas de ação coletiva mais severos, essa
desvantagem pode ser superada pelos efeitos facilitadores de acordo das informações
fornecidas pelo regime.
Os regimes têm custos p/ constuir

Ironicamente, se os regimes fossem sem custo para construir, não haveria muito
sentido em construí-los. Nesse caso, os acordos também seriam sem custo. Sob
essas circunstâncias, os governos poderiam esperar até que surgissem problemas
específicos e, então, fazer acordos para lidar com eles; eles não teriam necessidade
de construir regimes internacionais para facilitar acordos. É precisamente o custo dos
acordos e dos próprios regimes que os tornam importantes. Os altos custos da
reconstrução de regimes ajudam os regimes existentes a persistir.

Redes de Questões e Regimes

regimes facilitam a celebração de acordos.

Até certo ponto, é a antecipação dos governos de que os regimes internacionais aumentarão a
conformidade, o que explica sua disposição de entrar nesses acordos em primeiro lugar. Na
medida em que os regimes criam incentivos para o cumprimento, eles também tornam mais
atraente para membros potenciais conscientes se juntarem a eles. ligando as questões entre
si, os regimes criam situações que são mais parecidas com o dilema dos prisioneiros, em que a
cooperação pode ser racional, do que como uma jogada individual dos prisioneiros, no qual
não é.

Como o exemplo do Dilema dos Prisioneiros sugere, a pressão social, exercida através de
ligações entre as questões, fornece o conjunto mais convincente de razões para os governos
cumprirem seus compromissos. Ou seja, os governos egoístas podem cumprir as regras
porque, se não o fizerem, outros governos observarão seu comportamento, o avaliarão
negativamente e, talvez, tomarão medidas retaliatórias. Às vezes, a retaliação será específica e
autorizada sob as regras de um regime; às vezes será mais geral e difuso.

O autor exemplifica a opção de tirar vantagem e não o fazer: Suponha, por exemplo, que um
membro do GATT esteja sob pressão de fabricantes nacionais de porcas e parafusos para
promulgar quotas de importação sobre esses produtos. Mesmo que o governo perceba que
tem um interesse próprio míope em fazê-lo, sabe que tal ato, violando as regras, teria
implicações negativas para ele em outras questões comerciais - digamos, na abertura de
mercados para seus semicondutores no exterior. . Os princípios e regras do regime, uma vez
que facilitam a ligação entre as questões, tornarão, em tais circunstâncias, menos atraente o
interesse próprio míope. De fato, a perspectiva de discórdia como resultado de sua violação de
regras pode levar o governo a continuar a cooperar, ao passo que, se pudesse se safar com a
violação sem arriscar a discórdia, teria ido em frente.

Esse exemplo hipotético ajuda a entender por que os governos, tendo entrado em regimes que
consideram benéficos, cumprem as regras mesmo em casos particulares em que os custos de
fazê-lo superam os benefícios. No entanto, às vezes os governos podem achar que os regimes
aos quais pertencem não são mais benéficos para eles. O que acontece com os incentivos para
o cumprimento quando o regime como um todo parece maligno?
O autor diz que como há vários regimes no sistema, e não apenas um, não vale a pena
descumprir as regras se os benefícios não forem muito maior que os custos, pois além de
haver outros regimes p/ participar há o fator retaliação, que uns Estados fazem com os outros.

No entanto, a retaliação por violações específicas não é uma maneira confiável de manter
regimes internacionais; na verdade, as provisões do GATT para retaliação foram invocadas
apenas uma vez e, depois, de forma ineficaz (Jackson, 1983). Governos individuais consideram
caro retaliar. Surgem problemas familiares de ação coletiva: se a violação de determinada
regra por um determinado estado não tiver um grande efeito em qualquer país, a retaliação
provavelmente não será grave, mesmo que o efeito agregado da violação seja grande. Se os
regimes internacionais dependessem inteiramente do cumprimento de retaliações específicas
contra transgressores, eles seriam realmente fracos.

Na ausência de retaliação específica, os governos ainda podem ter incentivos para cumprir as
regras e princípios do regime se estiverem preocupados com o precedente ou acreditarem que
suas reputações estão em jogo. Os governos se preocupam em estabelecer precedentes ruins
porque temem que suas próprias violações de regras promovam violações de regras por
outros, mesmo que nenhuma penalidade específica seja imposta a eles mesmos. Ou seja,
quebrar regras pode criar um benefício individual, mas produz um "mal coletivo". O efeito do
mal coletivo sobre a utilidade do governo individual pode, sob certas circunstâncias, superar o
benefício.

Enquanto se espera que uma série contínua de questões surja no futuro, e enquanto os atores
monitorarem o comportamento uns dos outros e descontarem o valor dos acordos com base
na conformidade passada, ter uma boa reputação é valioso até para o egoísta cujo papel na
atividade coletiva é tão pequena que ele suportaria poucos dos custos de seus próprios
malefícios.

Nossa análise da incerteza no início deste capítulo sugere como a reputação pode ser
importante mesmo para os governos que não se preocupam com a honra pessoal e o respeito
próprio. Sob condições de incerteza e descentralização, os governos decidirão com quem fazer
acordos e em que termos, em grande parte com base em suas expectativas sobre a disposição
e a capacidade de seus parceiros de manter seus compromissos. Uma boa reputação torna
mais fácil para um governo entrar em acordos internacionais vantajosos; manchar a reputação
impõe custos tornando os acordos mais difíceis de alcançar.

Por razões de reputação, assim como por medo de retaliação e preocupação com os efeitos
dos precedentes, os governos egoístas podem seguir as regras e princípios dos regimes
internacionais mesmo quando o interesse próprio os aconselha a não fazê-lo.

Conclusões

-> assumiu que os governos calculam seus interesses minuciosamente em cada questão que
enfrentam.

-> mesmo nas suposições restritivas do Realismo e da teoria dos jogos, as conclusões sombrias
sobre a inevitabilidade da discórdia e a impossibilidade de cooperação não se seguem
logicamente.
-> Os governos egoístas podem racionalmente procurar formar regimes internacionais com
base em interesses compartilhados.

-> Os governos podem cumprir as regras do regime, mesmo que não seja do seu próprio
interesse míope fazê-lo.

-> Em um mundo de muitas questões, essa aparente auto-sacrifício de si mesmo pode, na


verdade, refletir o egoísmo racional.

-> Tendo em vista as dificuldades de se construir regimes internacionais, também ​é racional


procurar modificar os existentes, quando possível, em vez de abandonar os insatisfatórios e
tentar recomeçar. ​Assim, os regimes tendem a evoluir em vez de morrer. Os governos que, em
geral, têm simpatia pelos princípios e regras dos regimes têm incentivos para tentar mantê-los,
mesmo quando isso requer sacrifícios de interesse próprio.

-> Os regimes internacionais desempenham as funções de reduzir os custos das transações


legítimas, ao mesmo tempo que aumentam os custos dos ilegítimos e reduzem a incerteza.

-> Os regimes internacionais não substituem, de modo algum, a barganha; pelo contrário, eles
autorizam certos tipos de negociação para certos fins. Sua função mais importante é facilitar as
negociações que levam a acordos mutuamente benéficos entre os governos.

-> Regimes podem ser afetados no futuro por muitos fatores, incluindo alterações nas
relações de poder mundiais, mudanças nos interesses, talvez como resultado de novos
padrões de interdependência, e mudanças na participação, à medida que novos países
independentes se juntam aos regimes. Os governos que adotam as regras e princípios dos
regimes internacionais assumem obrigações futuras cujos custos eles não podem calcular com
precisão.

-> Esses compromissos reduzem a flexibilidade dos governos e, em particular, limitam sua
capacidade de agir com base em interesses próprios. Fazê-lo provavelmente custará não
apenas ao próprio regime, mas também à reputação do Estado.

-> Os governos reconhecem que será difícil renunciar aos seus compromissos sem sofrer danos
dispendiosos às suas reputações. Os regimes dependem não apenas da aplicação
descentralizada através de retaliações, mas também dos desejos dos governos de manter sua
reputação.

-> Tendo demonstrado que a cooperação é explicável mesmo em suposições egoístas


estritamente egoístas sobre os atores na política mundial, segundo o autor, pode-se ter a
noção de que valores mais generosos podem fazer a diferença na economia política mundial.

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