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Quem fomos nós no século XX:

as grandes interpretações do Brasil

Alberto da Costa e Silva


a m a n h ã do primeiro dia de 1901, u m brasileiro, sentado ao lado
da estante, abria as p á g i n a s do ú l t i m o l i v r o recebido de Paris, sem ter gran-
des e s p e r a n ç a s , ao meditar sobre o Brasil. A l i estava, nos t r ó p i c o s m a l s ã o s ,
cercado de gente que a c i ê n c i a j á situara nos patamares inferiores da huma-
nidade - negros, í n d i o s , mulatos, caboclos, cafuzos - e ele p r ó p r i o sem
muita coragem de olhar-se ao espelho.
Se fosse mulato escuro ou negro, como aquele catarinense que alguns
consideravam u m grande poeta, é p r o v á v e l que o dilacerasse o conflito en-
tre o que sabia pela vida, pela i n t e l i g ê n c i a e pelo c o r a ç ã o e o que lhe afian-
ç a v a m os sábi os da Europa, e talvez se sentisse a reescrever mentalmente
" O emparedado", de Cruz e Sousa, juntando à palavra " Á f r i c a " as duas
s íla ba s de "Brasil". A i n d a que os vizinhos lhe sorrissem e os alunos se le-
vantassem, quando entrava na classe, sabia que o olhavam como a l g u é m
diferente. A cor da pele, a carapinha, as formas do nariz e dos l á b i o s , tudo
nele afirmava que descendia de escravos. E o escravo está sempre fora da
sociedade para a qual f o i arrastado. A ela s ó se incorpora, e muito lentamen-
te, depois de liberto ou, na maior parte das vezes, nas pessoas de seus netos
ou bisnetos. E m a l se tinham passado 12 anos da a b o l i ç ã o da escravatura no
Brasil.
Branco ou tido por branco, ele olharia para o vizinho escuro como u m
problema. Este era u m ex-escravo ou o filho de u m ex-escravo e, portanto,
u m ex-estrangeiro, e u m ex-estrangeiro dele fisicamente distinto, que tinha
de ser absorvido e, e m a l g u m caso, europeizado. Pois o Brasil era u m país
europeu na A m é r i c a . Europeu e branco, ainda que quem pensasse assim
fosse u m m e s t i ç o .
A este brasileiro que l i a livros n ã o o tranqiiilizariam as n o t í c i a s de que
continuavam a chegar imigrantes europeus ao p a í s . Se esse sangue novo
podia contribuir para apurar a qualidade das p o p u l a ç õ e s , nem sempiv
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' I ' ' I " MK Ihor, pois predominavam nos r e c é m - v i n d o s os portugueses, i t a - U m outro m e s t i ç o , Euclides da Cunha, n ã o escaparia disto em Os ser-
liim.i', i (. .,|)aiilióis, muitos deles da parte meridional de seus respectivos tões (1902). N ã o deixou ele de compreender, como, meio s é c u l o antes, J o ã o
piilNi-N c, por isso, por atarracados, morenos e com j e i t o de mouros, distan- Francisco Lisboa, no Jornal de Timon, que eram os negros, os caboclos, os
ICN tlt>'. Iipos que a eugenia desejava. Pelos p a r â m e t r o s do que se tinha por mulatos, os cafuzos, os pardos indefinidos e os brancos pobres os constru-
ciôiicia. a geografia e a mistura de r a ç a s condenavam o B r a s i l , mais do que tores do p a í s e as grandes v í t i m a s de sua história. Para Lisboa, nossos males
no atraso, à b a r b á r i e . n ã o p r o v i n h a m deles, mas dos desmandos, da usura, da i g n o r â n c i a e da
ií p o s s í v e l , p o r é m , que o nosso brasileiro tivesse sobre a mesa u m desordem do poder. Como Euclides da Cunha testemunhou em Canudos.
oxcinplar de Por que me ufano de meu país (1900), publicado havia poucos Este, p o r é m , ainda que reconhecesse no sertanejo " u m forte" e nessa "rocha
iiicscs. E que, ao reagir, como o conde Afonso Celso, ao que lhe i m p u n h a m v i v a " visse o bisneto abandonado dos que h a v i a m feito o mapa do B r a s i l ,
como cientificamente i n e x o r á v e l , passasse a repetir aqueles versos de Olavo n ã o deixou de contagiar de racismo a sua a n á l i s e . Cedeu ao que se tinha por
Bilac: " A m a com fé e orgulho a terra em que nasceste, / c r i a n ç a , n ã o v e r á s c i ê n c i a e anatematizou, nas duas primeiras partes de seu l i v r o , a terra e a
p a í s nenhum como este". Se mulato, ele se d i r i a mameluco. E , mesmo se gente brasileiras. M a i s do que n i n g u é m , pela r e c e p ç ã o estrondosa que teve
branco, com a v ó s chegados do M i n h o , da B e i r a ou de T r á s - o s - M o n t e s , pro- sua obra, difundiu ele a teoria de que, na mistura de r a ç a s , "ainda quando
curaria uma antepassada tupi que se tivesse e n l a ç a d o ao seu J o ã o Ramalho, haja sobre o produto o i n f l u x o de uma r a ç a superior, despontam v i v í s s i m o s
ao seu Caramuru ou ao seu J e r ô n i m o de Albuquerque. Pois a antigiiidade na estigmas da i n f e r i o r " e, por isso, "o m e s t i ç o [...] é , quase sempre, u m dese-
terra e a l i g a ç ã o de sangue com os que dela tinham sido os primeiros senho- quilibrado". Se faz o elogio do sertanejo, n ã o deixa de t ê - l o como u m " r e -
res vestiam de nobreza quem podia a l e g á - l a . t a r d a t á r i o " , antes de o confrontar com " o raquitismo exaustivo dos m e s t i ç o s
Esse nacionalismo em busca n ã o apenas de origens que o justificassem n e u r a s t ê n i e o s do l i t o r a l " . O u seja, do mulato.
e aristocratizassem, mas t a m b é m do autenticamente brasileiro, sofreria, em F o r ç a é n ã o esquecer que esse l i v r o . Os sertões, causou sobre a i n t e l i -
Triste fim de Policarpo Quaresma (1915), de L i m a Barreto, u m ataque g ê n c i a brasileira u m impacto sem precedentes e que talvez s ó se tenha repe-
impiedoso, amargo e sofrido de u m escritor com profundo senso de realidade tido, trinta anos mais tarde, com Casa-grande & senzala. N a d e s g r a ç a de
ou, na v i s ã o ufanista, de u m mulato magoado, invejoso e ressentido. Canudos reproduzia-se, localizada, a desdita do p a í s : com esse i n v e n t á r i o
N ã o é de excluir-se tampouco que o nosso brasileiro, sentado ao lado de gente inferior instalada nos t r ó p i c o s n ã o era p o s s í v e l colocar o B r a s i l a
da estante, procurasse, entre o ufanismo e o desalento, u m e s p a ç o mental de par c o m a Europa. N ã o p o d í a m o s ter u m futuro melhor do que o presente,
o b s e r v a ç ã o , de i n v e s t i g a ç ã o e de r e f l e x ã o com u m m í n i m o de peias. Este e pois a c i ê n c i a marcava os nossos tristes limites. A menos - e esta f o i a s a í d a
aquele l o g r a v a m observar o p a í s sem os ó c u l o s europeus do f i m do O i t o - de S í l v i o Romero, inconformado com o destino que nos estava previsto -
centos e investigar com a i n t e l i g ê n c i a aberta. N o entanto, ao organizar o que a m i s c i g e n a ç ã o se fosse processando com u m c o n t í n u o aumento do
material reimido e ao a n a l i s á - l o , era-lhes quase i m p o s s í v e l p ô r - s e de fora sangue branco. H a v i a que clarear o brasileiro. E difundiu-se popularmente
das estruturas intelectuais prevalecentes ou chocar-se com a verdade dos a a s p i r a ç ã o de "melhorar a r a ç a " .
livros de p r e s t í g i o . A s s i m se passou com N i n a Rodrigues. S ã o exemplares a A apologia do branqueamento impregnaria, mais tarde, a importante
empatia, a objetividade e o rigor com que retmiu, nas ruas e nas casas de obra de a n á l i s e social de O l i v e i r a Viana. T i v e r a m leitores apaixonados os
Salvador, o material que seria publicado, depois de sua morte, em Os afri- seus livros Populações meridionais do Brasil (1920) e Evolução do povo
canos no Brasil (1932). Quando descreve o que v i u , o u v i u e pressentiu, brasileiro (1923). Neles, destacava-se que o Brasil se fizera apesar dos ín-
molda u m negro r i c o de sua h i s t ó r i a e de sua cultura, criativo, p l á s t i c o , dios, dos negros e dos m e s t i ç o s , tudo devendo aos brancos. E se prognosti-
inteiro. M a s , e n t ã o , se recorda de que era u m homem de c i ê n c i a e repete os cava uma n a ç ã o embranquecida. Contava ele, peu^a isso, com o aumento da
e s t e r e ó t i p o s racistas de seu tempo, reduz o negro e castiga de degenerado o i m i g r a ç ã o europeia, c o m a fecimdidade dos brancos, maior do que a das
m e s t i ç o que ele p r ó p r i o era. r a ç a s inferiores - a p o p u l a ç ã o negra, escrevia, estacionara - , e com a pi c-
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poiulcrâiicia de cruzamentos felizes, nos quais os filhos de casais mistos Salgado e os integralistas, de cuja agenda constavam a v a l o r i z a ç ã o do mes-
acompanhassem as c a r a c t e r í s t i c a s superiores do p a i ou da m ã e branca, t i ç o e a d i g n i f i c a ç ã o do negro.
l i m b o r a posteriormente O l i v e i r a Viana viesse a corrigir sua p o s i ç ã o , persis- N a sua prosa exaltada, M a n u e l B o n f i m rasgava fimdo: o racismo e as
tiu na mente da m a i o r i a essa leitura de seus livros. teorias c i e n t í f i c a s que o amparavam compunham o processo de d o m i n a ç ã o
A v i s ã o de que as r a ç a s formadoras do p a í s e a sua mistura con- do resto do mundo pela Europa e seu prolongamento norte-americano. Ser-
dicionavam negativamente o nosso destino permeia boa parte do que se v i a m para justificar o imperialismo: os europeus, por superiores, estavam
escreveu na p r i m e i r a metade do s é c u l o . E s t á , por exemplo, nas t r ê s r a ç a s fadados a conduzir os inferiores ou a substituí-los nas terras que ocupavam.
tristes do Retrato do Brasil (1920), de Paulo Prado, M a s nunca f o i sequer Os povos, p o r é m , n ã o se d i f e r e n ç a v a m pelas r a ç a s ; d i f e r e n ç a v a m - s e pelas
considerada por Capistrano de A b r e u , que n ã o acreditava em r a ç a s superio- culturas. Entre eles, o que havia eram d e s s e m e l h a n ç a s de t r a d i ç õ e s , dire-
res nem inferiores. Para Capistrano, o Brasil a u t ê n t i c o tinha sido formado ç ã o , perspectivas e, em ú l t i m a a n á l i s e , momentos h i s t ó r i c o s . O branco n ã o
pelos mamelucos, ao conquistar o s e r t ã o . H a v i a m sido eles os primeiros era, assim, em nada superior ao a m e r í n d i o ou ao negro. Os defeitos que no
brasileiros, numa h i s t ó r i a que teve os negros por atores s e c u n d á r i o s e n ã o ú l t i m o se apontavam, se os tinha, n ã o eram dele, mas do regime de escravi-
menos estrangeiros do que os portugueses. E r a ao caboclo que d e v í a m o s a d ã o a que f o r a submetido. Quanto aos m e s t i ç o s , n ã o os considerava
unidade nacional, c o n s t r u í d a do interior para a costa, uma costa dominada desfibrados, mas e n é r g i c o s , e o provava a gesta h e r ó i c a da o c u p a ç ã o do
pelos r e i n ó i s e os seus mulatos. Todo o emedo violento e h e r ó i c o de ocupa- t e r r i t ó r i o brasileiro. O autor de O Brasil na América (1929) mais do que
ç ã o da terra devia-se ao sertanejo, ao bandeirante, ao vaqueiro, ao desbra- acompanhava Capistrano de A b r e u : escrevia com entusiasmo sobre o s é c u -
vador. E estes se h a v i a m oposto de forma consistente á s cidades l i t o r â n e a s lo X V I I , quando se formou o brasileiro. Os problemas com que, depois, se
e mineiras, que n ã o se autogovernavam como as fazendas do interior e n ã o defrontaria o p a í s seriam devidos n ã o ao seu povo, mas à g a n â n c i a da me-
tinham outra vontade que n ã o a da m e t r ó p o l e . Quem lesse os Capítulos de t r ó p o l e e aos desacertos das elites que a s u b s t i t u í r a m no mando.
história colonial ( 1 9 0 7 ) , antes ou depois de Os sertões, talvez n ã o escapas- T a m b é m para A l b e r t o Torres os problemas do B r a s i l eram de natureza
se da i m p r e s s ã o de que a campanha de Canudos fora o e p i s ó d i o f i n a l , e p o l í t i c a e e c o n ó m i c a . D e r i v a v a m da o r g a n i z a ç ã o desastrada do Estado e da
t r á g i c o , de u m processo de r e v e r s ã o que se r e f o r ç a r a com a t r a n s f e r ê n c i a da p r o d u ç ã o . U m p a í s s ó é rico quando gera riqueza. N ó s n ã o s ó n ã o a produ-
f a m í l i a real para o R i o de Janeiro, quando a m e t r ó p o l e , sem deixar de ser z í a m o s na quantidade n e c e s s á r i a , como, dadas as nossas estruturas sociais
m e t r ó p o l e , se instalou entre n ó s , conforme historiara O l i v e i r a L i m a em D. defeituosas, t o m á v a m o s a terra "pobre para a sua gente".
João VIno Brasil (190?,). Fora das cidades, essa gente que tinha a pobreza dentro de si e ao
Seria nesse corte da e v o l u ç ã o natural para a i n d e p e n d ê n c i a , causado derredor confluiu para u m personagem de u m artigo, i n c l u í d o n u m l i v r o de
pela vinda da casa de B r a g a n ç a , que A l b e r t o Torres e M a n u e l B o n f i m ve- contos, Urupês ( 1 9 1 8 ) , e que, de uma hora para outra, se voltaria em s í m b o -
r i a m o i n í c i o dos desacertos brasileiros. Para o primeiro, cujos livros ^4 or- l o e tornaria famoso o seu autor. Refiro-me a Jeca Tatu. M o n t e i r o Lobato
ganização nacional (1914) e O prob lema nacional brasileiro (1914) tiveram n ã o permite d ú v i d a de que pretendia satirizar a u f a n i z a ç ã o do caboclo c
grande a u d i ê n c i a entre as elites, n ã o p r e c i s á v a m o s mudar de antepassados d e v o l v ê - l o à realidade, de c ó c o r a s , a deixar passar, a p á t i c o , a vida. N ã o
nem nos t o m a r n u m povo distinto do que é r a m o s , para ocupar e s p a ç o entre falta no texto o seu toque de preconceito racial, como dele n ã o e s t a r á isento
as grandes n a ç õ e s . U m e s p a ç o , por sinal, que j á t í n h a m o s por nosso, apesar o c o n v í v i o de t i a N a s t á c i a com E m í l i a e d. Benta. O resto da obra dc Lobato
do c u r t í s s i m o p e r í o d o de a ç ã o l i v r e , das p é s s i m a s c o n d i ç õ e s de c o m p e t ê n - nos explica, no entanto, que Jeca Tatu n ã o chega a c a m p o n ê s , ficando cm
cia c o m outros p a í s e s e dos defeitos de nossas estrutiu-as sociais e de nosso caipira, porque sem terra, sem s a ú d e , sem socorro e sem ter o que I a/.er com
sistema p o l í t i c o . A l b e r t o Torres n ã o acreditava numa hierarquia de r a ç a s , o que colhe, quando toma coragem e planta. N ã o era assim, no entanto, por
tendo no cume o d o l i c o c é f a l o louro, nem na d e g e n e r e s c ê n c i a do m e s t i ç o . determinismo de sangue ou clima. Tanto que Lobato passou a vida a cnsi-
Do mesmo modo que algims de seus mais atentos leitores, como P l í n i o nar-nos que Jeca Tatu podia ser resgatado e que era n ã o só p o s s í v e l , mas
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A l b e f f o d a Costa e Silva

era u m mestre das poucas palavras carregadas de certeza - , p o r é m f o i dc


p i í u á \ f l (|iic o Brasil sc pudesse t o m a r uma grande n a ç ã o - r i c a , justa,
liainioiílosa c criadora. Essa imagem de u m B r a s i l que seria conforme o uma fecundidade enorme. A j u d o u , por algum tempo, a varrer para longe os

c s f o i ç o t|uc nele p u s é s s e m o s , i n d i v i d u a l e coletivamente, Lobato passou determinismos pessimistas.


p i i a a maior a u d i ê n c i a que u m escritor jamais teve no p a í s - imia a u d i ê n c i a O B r a s i l , contudo, n ã o era s ó futuro. T i n h a u m passado de i n v e n ç ã o e
i|iic SC acrescentava a cada ano. beleza, que necessitava ser revelado ou revalorizado - como o B a r r o c o

N i ngucm exerceu i n f l u ê n c i a mais profimda e mais duradoura sobre as M i n e i r o . E tinha u m presente r i q u í s s i m o , o seu povo. O caipira n ã o era

c r i a n ç a s e os jovens e, portanto, sobre os adultos, no B r a s i l do s é c u l o X X . incapaz de arte. O m e s t i ç o do l i t o r a l n ã o era u m desfibrado. N e m o sertane-

A i n d a quando nos apartamos de muitas de suas c o n c e p ç õ e s , f í c a - n o s a v a - j o , u m seco fanático. A l i estavam as cavalhadas, os fandangos, os maracatus,

l o r i z a ç ã o de todo tipo de trabalho, o respeito pelo fazer bem, o a g u ç a m e n t o as m á s c a r a s dos ticunas, os santos de n ó de pau, os exus de ferro, os ex-

do olhar c r í t i c o , a d ú v i d a diante das ideias feitas, a recusa do conformismo, votos, o romance de d. B a r ã o e o da N a u Catarineta, os desafios de violeiros.

a c o n f i a n ç a na fecundidade da a ç ã o , o desgosto com o cerceamento das A l i estava todo u m e x t r a o r d i n á r i o material ao aguardo dos artistas urbanos

o p i n i õ e s e da liberdade, o sentimento de que a i m a g i n a ç ã o encharca c o t i - e dos estudiosos. E M á r i o de Andrade, sem perder u m s ó momento a sua

dianamente a vida. O mundo é f e é r i c o , i m p r e v i s í v e l e a d m i r á v e l - ele insis- i n t u i ç ã o de poeta e sem abandonar, enquanto artista, o rigor do e m d i t o , n ã o

tia em seus livros infantis, ao trazer o Sítio do Picapau A m a r e l o para dentro s ó saiu a t r á s de tudo isso, mas, g r a ç a s a uma l i d e r a n ç a epistolar sem igual,

da rotina das casas brasileiras. E n ã o cansava de dizer-nos que o p a í s pode- p ô s toda a sua g e r a ç ã o , e a g e r a ç ã o seguinte, a redescobrir o B r a s i l pelas

r i a ser mudado, se cada c r i a n ç a , ao crescer, desse a sua c o n t r i b u i ç ã o para c r i a ç õ e s de seu povo.

lhe m o d e m i z a r a agricultura, racionalizar a e x p l o r a ç ã o dos recursos mine- N o seu entusiasmo, os modernistas pareciam n ã o aceitar que n ã o se

rais e c r i v á - l o de i n d ú s t r i a s . tivesse esperado por eles para proceder ao mapeamento do B r a s i l , u m


mapeamento que j á c o m e ç a r a a ser feito desde havia muito - e com dedica-
Essa ideia do B r a s i l como u m constante projeto, como uma tarefa a ser
ç ã o e c o m p e t ê n c i a . N ã o punham o menor esforço em lembrar-nos, por exem-
cumprida, estava no ceme da vontade de alguns jovens seus c o e t â n e o s , que
plo, de que Barbosa Rodrigues publicara naPoranduba amazonense (1890)
c o m ele, contudo, j a m a i s se entenderam. Foram esses jovens r e s p o n s á v e i s
os contos i n d í g e n a s que recolhera nas suas viagens pelo interior do B r a s i l ,
pelo que quiseram que fosse u m e s c a r c é u p u b l i c i t á r i o e que, tendo sido, no
escrevera a i m p o r t c m t í s s i m a Sertum Palmarum Brasiliensium e deixara de
momento em que se deu, u m e s c â n d a l o de p r o v í n c i a , se t o m o u u m p r o l o n -
h e r a n ç a uma monumental Iconographie des Orchídées du Brésil. E r a como
gado e s c â n d a l o nacional, pela l e m b r a n ç a ampliada que dele os seus p a r t i c i -
se Celso de M a g a l h ã e s nunca tivesse escrito A poesia popular brasileira,
pantes n ã o cessaram de reproduzir: a Semana de A r t e M o d e m a . F o i ela u m
nem S í l v i o Romero, os seus Cantos populares do Brasil (1883), Contos
golpe de mestre de rapazes persuadidos de que estavam descobrindo o B r a -
populares do Brasil (1885) e Estudos sobre a poesia popular do ^ra.sz7 (1888).
sil o u , quando menos, o procurando. E que convenceram todo o mundo de
D e r e l a ç õ e s praticamente cortadas com os mais velhos ou "passadistas",
que com eles se fizera a grande ruptura entre o B r a s i l que se ignorava e o
n ã o queriam dar-se conta de que u m amigo desses, Rodolfo v o n I h c r i n g , já
B r a s i l que c o m e ç a v a a ser
havia ^uhMcado o Atlas da fauna do Brasil (1916), assim como a primcii a
O p a í s estava à nossa espera, cheio de juventude. O que se concebera
v e r s ã o do que v i r i a a ser o seu Dicionário dos animais do Brasil (19 M ) , c
como uma diretriz e s t é t i c a , a Antropofagia, na realidade definia o B r a s i l .
s i m u l a v a m ignorar o Folclore pernambucano (1908), de Pereira da ('o.s(a,
Como provava o abrasileiramento, logo na p r i m e i r a g e r a ç ã o , dos filhos dos
O tupi na geografia nacional (1901), de Teodoro Sampaio, ou ('<;///</</<>/<-.v
quase quatro m i l h õ e s de imigrantes desembarcados em nossos portos entre
( 1 9 2 1 ) , de Leonardo M o t a . M a i s : deixavam-nos na i g n o r â n c i a dc c|uc das
1860 e 1922. É r a m o s imia n a ç ã o a n t r o p ó f a g a , devoradora de tudo que v i -
p á g i n a s de Rã-txa-hu-ni-ku-i ou a língua dos caxinauás (1914), dc ('apisd ano
nha de fora, capaz de assimilar e reproduzir, modificados e enriquecidos, os
de A b r e u , e das Lendas em nheengatu e português (1926), tic A n l ó n i o
valores que nos interessavam, eliminando o resto. A teoria do B r a s i l canibal
B r a n d ã o de A m o r i m , v á r i o s h e r ó i s sem nenhum c a r á t c r acenavam para o
f i c o u em linguagem de manifesto - quem a formulou, O s w a l d de Andrade,
Quem fornos nós no século XX: as grandes interpretações do Brasil
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Alberto da Costa e Silvo

M m iiii.iiiii.i i|iic M á i i o dc Andrade encontrou como u m a r e c u n á , e m K o c h - N ã o havia escapado à i n t u i ç ã o de algims que o negro n ã o fora apenas
< .1 i i i i l . i c Iransfbrmou em a r q u é t i p o e m e t á f o r a . os b r a ç o s e as pernas do branco, mas mudara neste a maneira de comportar-
() i|iic era novo nos modernistas era a maneira de olhar. E o meditar se, de pensar e de sentir R u i Barbosa j á reconhecera no escravo o nosso
. i | M i \ ( i n a i l o sobre o que se olhava. E o escrever sem colete. A i m a g e m que p r i m e i r o o p e r á r i o , o criador primeiro da riqueza nacional. M a s é c o m G i l -
111)1 asilciro fa/.ia de si p r ó p r i o e de seu p a í s c o m e ç a v a a m u d a r E mudaria berto Freire que ele perde as f e i ç õ e s de selvagem que lhe colaram ao rosto,
dr MKHIO ainda mais radical e num r i t m o ainda mais r á p i d o , a p a r t i r d e 1933, pois nos mostra que os africanos, ao chegar ao B r a s i l , sabiam manejar o
)',! a ç a s a ('asa-grande & senzala. Neste l i v r o , Gilberto Freire declarava em gado, trabalhar o ferro, abrir galerias para minas, batear o ouro, irrigar o
\. alia que o B r a s i l n ã o era uma n a ç ã o branca que tinha negros. O negro solo, a d u b á - l o e c u i d á - l o como mandava o t r ó p i c o , fazer f o r t i f i c a ç õ e s e
c.sla\ cm todos n ó s e sem o negro n ã o teria havido nem havia o B r a s i l . organizar as tropas para o combate. Todos v i n h a m de povos com h i s t ó r i a e
I bernardo Pereira de Vasconcelos j á dissera, em 1843, que a Á f r i c a c i v i l i z a - traziam consigo formas p r ó p r i a s de estar no mundo. N ã o faltava sequer
\ o pais. G i l b e r t o Freire apresentava as provas disso e pimha o negro no quem lesse o Alcorão o u escrevesse em a r á b i c o , ao passo que o seu dono
centro do c e n á r i o , retirando-o da p o s i ç ã o ancilar em que o tinham Capistrano m a l conseguia desenhar o nome. Quanto ao senhor, ainda que u m proscrito,
de A b r e u e M a n u e l Bonfim. É r a m o s todos m e s t i ç o s , na cultura. E era a n ã o era necessariamente u m criminoso nem a e s c ó r i a da m e t r ó p o l e . O de-
cultura o que importava, a cultura que movimenta a nossa mente e o nosso gredo aplicava-se aos c r i s t ã o s - n o v o s , aos ciganos, aos dissidentes p o l í t i c o s ,
corpo e, n ã o , a cor da pele o u a textura dos cabelos. T ã o intensa fora a nossa aos homossexuais, aos a d ú l t e r o s , aos b í g a m o s e aos que cometiam delitos
m e s t i ç a g e m cultural, que era quase i m p o s s í v e l medir-se, sobretudo no c o t i - que n ã o conseguimos, hoje, colocar entre os malfeitos.
diano d o m é s t i c o , o que se devia ao a m e r í n d i o , ao africano e ao europeu. O B r a s i l e os brasileiros n ã o é r a m o s a simples j u n ç ã o das t r ê s r a ç a s
Algumas d é c a d a s mais tarde, talvez fosse d i f i c i l perceber a r e v o l u ç ã o tristes do soneto de O l a v o B i l a c e do l i v r o de Paulo Prado. R e s u l t á v a m o s de
que representou Casa-grande & senzala. Isto porque muitas de suas ideias u m encontro m u i t o mais complexo - ou mais rico - de culturas. A q u i ,
e do v o c a b u l á r i o em que eram expressas se incorporaram ao dia-a-dia bra- minhotos vindos de diferentes vilarejos somavam s e m e l h a n ç a s e trocavam
sileiro. Repetiam o que vinha no l i v r o a t é os que nunca o tinham lido. Cita- d i f e r e n ç a s , e o mesmo se passava entre eles e transmontanos de encostas e
va-se Gilberto Freire como se ia "embora p ' r a P a s á r g a d a " , ou se reclamava: vales distintos, e com b e i r õ e s , alentejanos, algarvios, estremenhos, r i b a -
" u m urubu pousou na minha sorte". Isto é, sem c o n s c i ê n c i a de que se decla- tejanos, a ç o r i a n o s e madeirenses. O que era difícil de dar-se no p r ó p r i o
m a v a m versos de M a n u e l Bandeira e Augusto dos Anjos. E t a m b é m por- Portugal, aqui se passava corriqueira e facilmente. E o mesmo se repetia
que, na esteira de Casa-grande & senzala, veio toda uma s e q i i ê n c i a dc com as mulheres e os homens trazidos da Á f r i c a , que n ã o se v i a m como
c r i a ç õ e s tendo por sujeito o negro - o que j á habia sido antecipado pelo africanos, mas como gente de sua aldeia, a quem os outros chamavam jalofos,
poema e m b l e m á t i c o de Jorge de L i m a , "Essa negra F u l ô " . bamuns, mandingas, p a p é i s , bijagós, fantes, achantis, g ã s , fons, guns, baribas,
O p r ó p r i o impacto do l i v r o de G i l b e r t o Freire e as d i s c u s s õ e s que pro- g u r ú n s i s , quetos, ondos, i j e x á s , ijebus, o i ó s , i b a d ã s , benins, h a u ç á s , n u p ê s ,
vocou mostravam que o B r a s i l n ã o era uma democracia racial, como ele ibos, ijós, ealabaris, teques, iaeas, anzicos, congos, andongos, songos, pen-
propugnava. N ã o era, mas, a partir de e n t ã o , passou a querer ser Ser uma des, lenjes, ovimbundos, ovambos, macuas, mangajas, cheuas - cada qual
democracia racial tornou-se tima das grandes a s p i r a ç õ e s nacionais. P a s s á - com seus valores e costumes p r ó p r i o s , muitas vezes t ã o distantes uns dos
ramos a n ã o ter medo de nossa m e s t i ç a g e m e a esgrimi-la como uma vanta- outros quanto u m russo de u m siciliano ou i m i e s c o c ê s de u m andaluz. N ã o
gem. O mulato p a t o l ó g i c o de A l u í s i o Azevedo, A d o l f o Caminha e Euclides era diferente a s i t u a ç ã o dos a m e r í n d i o s nem dos demais europeus e dos
da Cunha tomava-se u m dos erros mais grotescos de todos os que i m p o r t á - a s i á t i c o s que emigraram para o B r a s i l - e de toda essa p r o f u s ã o de gentes e
ramos. E m Casa-grande & senzala r e a p r e n d í a m o s que o grande ú t e r o da culturas A r t u r Ramos faria o i n v e n t á r i o na sua Introdução à antropologia
n a ç ã o tinha sido a cunha, a mulher a m e r í n d i a . E que tinlia sido c o m o í n d i o brasileira (1942-1947). Parafraseando M á r i o de Andrade, cada \xm de n ó s
que o p o r t u g u ê s aprendera a v i v e r n o que v i r i a a ser o B r a s i l . era trezentos, era trezentos e cinquenta.
7)
Alberto ija Costa e Silva Quem fomos n ó s no século XX: as grandes interpretações do Brasil

D e i x á v a m o s dc nos ver como m n povo cabisbaixo, votado i n e x o - g r a ç a s à sua intimidade com a grande c i v i l i z a ç ã o do I s l ã — n ã o havia nada
I .i\c à tristeza. Pessoalmente, p o d í a m o s , de v e z em quando, ser t o - no resto do continente que pudesse sequer ombrear com C ó r d o b a e Grana-
iiiiidos peia saudade e o banzo. Este seria ensimesmado, mas aquele tinha da, em riqueza, requinte de vida, avanços técnicos, filosofia, ciência e arte - ,
iK) rosto o desenho do riso. O que n ã o se poderia mais dizer é que n ã o Buarque de H o l a n d a considerava que os i b é r i c o s se desenvolviam à mar-
a m á v a m o s o z é - p e r e i r a , a festa, os animais com arreios floridos, as casas gem da Europa e das m u d a n ç a s que se processavam em suas formas de vida
liiiitadas de cores vivas, as p r o c i s s õ e s barulhentas, os tetos forrados de ban- social. N ã o negava que os portugueses tivessem, no f i m do s é c u l o X V , se
dcirinhas, as mesas cheias de doces, os estampados vistosos, o frevo, as adiantado aos europeus, ao criar Estados de e x p r e s s ã o p o l í t i c a e e c o n ó m i c a
lapinhas m e c â n i c a s , as rendas e as e s t ó r i a s maravilhosas. T í n h a m o s de so- modema. M a s , em c o m p e n s a ç ã o , n ã o se haviam organizado de forma coesa
bra tudo isso e mais isto, como passaria a mostrar, incansavelmente, Luis da e s o l i d á r i a . A a s p i r a ç ã o de cada pessoa era a de bastar-se a si p r ó p r i a . A esse
C â m a r a Cascudo. i n d i v i d u a l i s m o exacerbado, aliava-se, numa p e n í n s u l a onde todos queriam
N o seu ciclorama, projetou-se a vida brasileira em toda a sua copiosa ser b a r õ e s , o desprezo pelo e s f o r ç o manual, pelo trabalho. D a í que a expan-
variedade, de Roraima ao R i o Grande do Sul e do A c r e a N a t a l , onde mora- s ã o portuguesa tenha sido s ó aventura, sem c o n s t â n c i a no e s f o r ç o , sem
va. D o pelo-sinal na testa do r e c é m - n a s c i d o à s " e x c e l ê n c i a s " dos v e l ó r i o s . m é t o d o e sem r u m o . Todo o c o n t r á r i o pensava M a n u e l B o n f i m . Para ele, a
D a p r a ç a ao claustro. D o botequim à sacristia. D a sala de visitas à cozinha. conquista do A t l â n t i c o e do Í n d i c o n ã o se explicava apenas pelos grandes
E do alpendre ao fundo do quintal. Sem a p r e o c u p a ç ã o de teorizar sobre o a v a n ç o s t é c n i c o s conseguidos pelos portugueses, mas pela o b s t i n a ç ã o em
B r a s i l , f i l m o u - o com palavras no e s p a ç o e no tempo. Contou-nos o que v i u , c u m p r i r u m projeto, o do p r i m e i r o i m p é r i o moderno, que teria de ser ultra-
o u v i u e tocou. Repetiu-nos em m i ú d o s o que l e u - e l e u praticamente tudo m a r i n o e assentado no c o m é r c i o . Se B o n f i m j u l g a v a que o emiquecimento
sobre o p o v o brasileiro - , depois de confrontar os textos entre si e c o m sua das n a v e g a ç õ e s , ao degenerar em c o b i ç a e parasitismo, esgotara o impulso
e x p e r i ê n c i a pessoal. Comparou nossas festas com as dos outros povos, e criador p o r t u g u ê s , n ã o tinha d ú v i d a s de que este se encarnara em quem se ia
nossas comidas, e nossas c r e n ç a s , e nossas c a n ç õ e s , e nossas d a n ç a s , e nos- tomando o brasileiro.
sos brinquedos infantis, e nossas casas, e nossos objetos, e nossos ritmos de Para S é r g i o Buarque de Holanda, o p o r t u g u ê s era aventureiro e c r i a t i -
viagem, e nossos h á b i t o s de trabalho, e nossos jeitos de conviver, e nossos vo. A c e i t a v a riscos e ignorava o b s t á c u l o s . P l á s t i c o , adaptava-se sem d i f i -
medos. A o sistematizar o que se sabia sobre nossa gente e ao ampliar c o m culdade à geografia e aos modos de vida locais e se entendia e misttirava
sua p r ó p r i a pesquisa esse conhecimento. C â m a r a Cascudo alargou, apro- com os nativos, p o r é m era incapaz do trabalho s i s t e m á t i c o , lento e seguro.
fimdou e modificou a ideia que se tinha do B r a s i l . A sua a m b i ç ã o era a de Queria emicar depressa e voltar o mais r á p i d o p o s s í v e l para a sua terra. A
que os brasileiros gostassem de verdade de sua p á t r i a , e a t é de seus defeitos, sua m o r a l era a da aventura e n ã o a do trabalho. Por isso e porque acostuma-
e a quisessem como era e n ã o como uma r e p e t i ç ã o ou, pior, u m simulacro do a estmturas sociais frouxas, com a p r e v a l ê n c i a das r e l a ç õ e s pessoais c
dos Estados Unidos ou da Alemanha. familiares sobre os interesses da grei, o p o r t u g u ê s n ã o f o i capaz de formar
Outros desciam o olhar dos c h a p é u s deslumbrantes e dos rostos flori- no B r a s i l uma sociedade marcada pela o r g a n i z a ç ã o , pela a s s o c i a ç ã o e pelo
dos dos guerreiros das Alagoas para os seus p é s d e s c a l ç o s . O Brasil estava planejamento. Cada colono, se tinha f o r ç a para isso, instalava-se na sua
errado e havia que descobrir as r a z õ e s de seu atraso e de suas injustiças. casa-grande, sem cuidar dos vizinhos e sem saber da coroa. Foi-sc montan-
Que p r o v i n h a m de suas p r ó p r i a s r a í z e s . E assim se chamou. Raízes do Bra- do assim u m p a í s à s avessas, no qual as cidades dependiam do campo A o
sil (1936), o l i v r o em que S é r g i o Buarque de Holanda nos p r o p ô s uma nova refazer o emedo, Buarque de Holanda discordava fundamentalmente dc
i n t e r p r e t a ç ã o do p a í s . Capistrano de A b r e u : tinha sido u m m a l que o p a í s tivesse sido c o n s t r u í d o
Como M a n u e l B o n f i m e Gilberto Freire, S é r g i o Buarque de Holanda do interior para a costa, contra as cidades que representavam a m c t i ó p o i c .
ressaltava a i n d e c i s ã o da I b é r i a entre a Europa e a Á f r i c a m u ç u l m a n a . M a s , Entre outras r a z õ e s , porque a f a m í l i a patriarcal dos s e r t õ e s toi nara-sc mais
enquanto o p r i m e i r o v i a o Portugal dos descobrimentos à frente da Europa, forte do que o Estado. Por isso mesmo, acentuou-se no Brasil a p r o p e n s ã o
.i I
Q u o m i o m o s nós no século XX: as grandes inlerprelações do Brasil
Alberto da Costa e Silvo

lusitana para confundir os d o m í n i o s do p r i v a d o e do p ú b l i c o , este constan- A pergunta era n ã o s ó irrelevante, mas t a m b é m a n a c r ó n i c a . N ã o havia
temente invadido por aquele. Os valores afetivos impuseram-se sobre os da \a a t r á s . Quando muito, poder-se-ia procurar, como preconizava o T r i s t ã o
I a/,ão coletiva. E o compadrismo tomou-se norma. B e m como a total au- d e A t a í d e dos Estudos, preservar os valores da grande família e as aspira-
s ê n c i a de solidariedade e responsabilidade fora dos l a ç o s de família. ç õ e s à pequena empresa contra a é t i c a protestante norte-americana, que fa-
A í estavam as r a í z e s do atraso brasileiro. T í n h a m o s de c o n h e c ê - l a s , Noreeia a grande empresa, a pequena família e a impessoalidade nas r e l a ç õ e s
para r e c u s á - l a s e c o r t á - l a s , ou, ao menos, e s q u e c ê - l a s , a fim de impedir que sociais. Exatamente o c o n t r á r i o do que muitos desejavam - pensaria o nos-
o passado continuasse a atuar sobre o inconsciente brasileiro. A moderniza- so brasileiro, o u o seu filho, sentado ao lado da estante, no c o m e ç o da se-
ç ã o passava, assim, pelo abandono das nossas c a r a c t e r í s t i c a s i b é r i c a s e pela gunda metade do s é c u l o , a abrir o ú l t i m o l i v r o publicado no B r a s i l , antes
a d o ç ã o de l u n novo estilo de vida coletiva, o americano, no qual o p ú b l i c o dos recebidos de N o v a York ou de Paris.
se impusesse sobre o privado e o racional sobre o afetivo. T í n h a m o s , em E s t á v a m o s , havia d é c a d a s , a tocar o fundo de n ó s mesmos - e disso
ú l t i m a a n á l i s e , de deixar de ser portugueses transplantados nos t r ó p i c o s . clava sinal u m l i v r o c o m o ^ cultura brasileira (1943), de Fernando de A z e -
Porque isto é r a m o s , e n ã o m e s t i ç o s culturais, uma vez que os a m e r í n d i o s e \cdo. Nossa c r i a ç ã o a r t í s t i c a tomara-se ainda mais o desenho de nossa rea-
os africanos n ã o chegaram a constituir vun contrapeso em nossa f o r m a ç ã o e lidade, e estavam no auge de suas f o r ç a s , entre tantos outros, V i l l a - L o b o s ,
se ajustaram ao molde lusitano. I 1 ancisco M i g n o n e , Brecheret, Portinari, Goeldi, J. Carlos, N á s s a r a , C e c í -
N a realidade, e s t á v a m o s , havia muito, a processar essas m u d a n ç a s . lia Meireles, N e l s o n Rodrigues, Jorge A m a d o e Graciliano Ramos. Poucos
Desde 1850, o u talvez antes, desde a chegada de d. J o ã o V I ao R i o de Janei- tinham d ú v i d a s do que é r a m o s , mas mediam de modo diferente as nossas
r o , as cidades haviam c o m e ç a d o a se impor sobre o isolamento e a auto- t o r ç a s e fraquezas. E de modo diferente lhes identificavam e interpretavam
s u f í c i ê n c i a dos c a s a r õ e s rurais. E desde e n t ã o , continuara, ainda que sem as origens. Pois de suas c o n v i c ç õ e s p o l í t i c a s , ou seja, do projeto adotado
grandes abalos aparentes, a r e v o l u ç ã o brasileira, que consistia nesse cortar para o futuro do pais e do mundo, dependia a maneira de explicar o B r a s i l .
de r a í z e s i m p r ó p r i a s , que explicavam o nosso atraso e as injustiças a que Se fosse marxista, é p r o v á v e l que visse o nosso passado como feudal e
c o n d e n á v a m o s a maior parte de nossa p o p u l a ç ã o , todos aqueles que, nas adotasse como primeiro r e m é d i o para os nossos males a e l i m i n a ç ã o dos res-
senzalas, nos mocambos, nas p a l h o ç a s e casas de sopapo, n ã o receberam a tos do feudalismo, simbolizados no latifúndio. O u que definisse como siste-
menor parcela da h e r a n ç a e dos cuidados da casa-grande. ma escravista de p r o d u ç ã o o prevalecente na c o l ó n i a e no i m p é r i o . M a s é
A guerra de 1939 a 1945 acentuou a p e r c e p ç ã o de nossas c a r ê n c i a s . possível t a m b é m que tivesse do p a í s a imagem que lhe ficara de Evolução
Mas tornou claro t a m b é m que a maneira de viver dos brasileiros se alterara politica do Brasil (1933) e Formação do Brasil contemporâneo (1942), de
substancialmente e continuava a modificar-se com grande rapidez. Outros Caio Prado J ú n i o r Nesses livros, n ã o s ó se fazia uma leitura materialista
eram os p a r â m e t r o s de conduta de u m p a í s que se industrializava e que d i a l é t i c a da h i s t ó r i a brasileira, wma história que nos era contada a partir da
estava deixando de ser vixn a r q u i p é l a g o . A vontade de progresso e à euforia p r o d u ç ã o , da d i s t r i b u i ç ã o e do consumo da riqueza, como se ampliavam as
das m u d a n ç a s aliava-se, entretanto, o sentimento de que algo se fora para suas d i m e n s õ e s . O Brasil surgira como parte da e x p a n s ã o mercantil do nas-
sempre - u m tipo de v i d a sem pressa, sem regras, sem desprezo pelo ó c i o , cente capitalismo europeu. O país fundara-se, dc fora para dentro, para forne-
e no qual os contatos humanos eram cordiais, quando n ã o afetuosos. A nos- cer a ç ú c a r e bens tropicais. E a sua h i s t ó r i a n ã o era mais do que um c a p í t u l o
talgia desse passado a l i m e n t a r á os poemas itabiranos de Carlos D r u m m o n d da h i s t ó r i a maior do c o m é r c i o europeu e fora dela n ã o sc explicaria.
de Andrade, os romances sobre engenhos, b a n g ú ê s e usinas de a ç ú c a r de O seu emedo, no entanto, n ã o f o i tecido apenas por esses interesses,
J o s é L i n s do Rego, os contos de Marques Rebelo sobre os s u b ú r b i o s cario- mas pelas classes sociais em luta. Nele entram, sofridas, machucadas, re-
cas e tantas p á g i n a s de outros poetas, fíccionistas, memorialistas e e n s a í s t a s , signadas ou insubmissas, as massas de escravos e semi-escravos, dc po-
nas quais se perguntava se valia a pena trocar pela e f i c i ê n c i a do modelo bres, explorados e empobrecidos. E passam a ocupar o e s p a ç o que dantes
norte-americano o compasso lento e dengoso de nossa v i d a de esquina. s ó cabia à s elites dirigentes. N o r e t á b u l o de nossa h i s t ó r i a , abrem-se p a i n é i s
32 Alberto rJo Costa e Silva Uucrnlorrios nós no século XX: us grandes inlerpretações do Brasil 38

|)ai a as r e b e l i õ e s da gentalha, dos cabanos e dos balaios, e tomam-se mais O leitor abria Bandeirantes e pioneiros e deparava dois grandes m u -
nilidos os t r a ç o s e as cores dos praieiros e dos farroupilhas. N ã o é r a m o s I ais, u m defronte ao outro. N o primeiro, viam-se os r e c é m - c h e g a d o s diante
portugueses desterrados, mas u m povo que fora adquirindo, ao longo da cic amplas p l a n í c i e s , que, a p ó s a breve i n t e r r u p ç ã o de tima cadeia de monta-
iiistória, fisionomia p r ó p r i a . Desde a c o l ó n i a , h a v í a m o - n o s organizado de nhas, v o l t a v a m a estender-se para o interior Entravam eles por rios que
Ibrma original, diferente da i n d í g e n a e da portuguesa e, consequentemente, conduziam, quase sem cortes de corredeiras, ao c o r a ç ã o do continente. Por
c o m e ç á r a m o s a desenvolver uma mentalidade coletiva singular Ioda a parte encontravam solos profundos, semelhantes aos mais férteis da
É r a m o s u m s ó povo, ou cada vez mais u m s ó povo - pensava o nosso liuropa, e nos quais o clima permitia que cultivassem o trigo, o centeio e a
brasileiro que l i a livros mas nos v e s t í a m o s conforme o lugar. T e n d í a m o s cevada a que estavam acostumados. E deparavam jazidas de c a r v ã o de alta
a olhar o p a í s da janela de nossa p r o v í n c i a ou r e g i ã o . O nortista que reco- qualidade logo ao lado das minas de ferro. Tinham eles s a í d o de suas terras,
nhecia o B r a s i l no Raimundo M o r a i s áeNaplanície amazônica (1925) e O |:)orque n ã o suportavam as suas a b o m i n a ç õ e s , e traziam como objetivo e
país das pedras verdes ( 1 9 3 0 ) , acercava-se da paisagem e da humanidade sonho construir uma nova p á t r i a . N e n h u m pensava em regressar à Europa e
de Vida e morte do bandeirante (1929), de A l c â n t a r a Machado, com a sen- todos se f a z i a m prontamente senhores da terra, com uma d e t e r m i n a ç ã o que
s a ç ã o de d i s t â n c i a . E a u m g a ú c h o poderia escapar o que u m pernambucano se coadunava com a é t i c a do trabalho que neles estava entranhada, assim
ou u m alagoano encontravam exnNordeste (1937), de G i l b e r t o Freire. Pois como a c o n v i c ç ã o calvinista de que a riqueza era u m sinal da g r a ç a divina.
lemos c o m os olhos que o menino e o m o ç o que fomos derramaram ao T i v e r a m a A m é r i c a como tarefa. E se empenharam em cumpri-la, e m i q u e -
derredor, c o m as e x p e r i ê n c i a s que tivemos nos lugares onde nos f o i dado ccndo pela agricultura, o pastoreio, a n a v e g a ç ã o e o c o m é r c i o . Foram, as-
v i v e r e c o m as m e m ó r i a s de nossos pais e a v ó s . sim, ocupando o continente, como colonos, cultivadores, pioneiros e, desde
Os brasileiros é r a m o s n ó s , os daqui, e os outros. Os v á r i o s outros. Talvez o i n í c i o , americanos.
t i v é s s e m o s , por isso, de renunciar a uma interpretação que abrangesse o Brasil N o outro m u r a l , os r e c é m - v i n d o s t i n h a m de escalar, logo a p ó s uma
inteiro. Talvez fosse mais realista analisar o país a partir de seus vários n ú c l e o s faixa l i t o r â n e a em geral estreita, as escarpas que conduziam ao planalto. Se
culturais, como p r o p ô s Viana M o o g , em Uma interpretação da literatura bra- subiam os rios, logo adiante assustavam-se com a f o r ç a dos c a c h õ e s , que-
sileira (1943). Para M o o g , seriam sete esses núcleos - A m a z ó n i a , Nordeste, d a s - d ' á g u a e corredeiras que lhes cortavam caminho. Rasos eram, em sua
Bahia, Minas Gerais, S ã o Paulo, R i o Grande do Sul e R i o de Janeiro - , embo- maioria, os solos e n ã o se prestavam em geral ao arado. E o clima era t ã o
ra ele reconhecesse as peculiaridades do M a r a n h ã o e o fato de muito da terra distinto do europeu, que naquelas terras se v i a m obrigados a mudcu" de c u l -
fluminense pertencer culturalmente à á r e a a ç u c a r e i r a do Nordeste. tivos. Quase tudo nelas exigia novas t é c n i c a s , que tinham de ser aprendidas
U m a d ú z i a de anos depois, V i a n a M o o g , sem abandonar a sua tese do dos nativos - como o plantio da mandioca e o fabrico do beiju ou da farinha
B r a s i l como a r q u i p é l a g o cultural, se renderia à sereia das e x p l i c a ç õ e s g l o - - ou transplantadas das ilhas a t l â n t i c a s - como o engenho de a ç ú c a r . Quan-
bais, c o m Bandeirantes epioneiros ( 1 9 5 5 ) , u m l i v r o em que procurou mos- do necessitaram de c a r v ã o e ferro, as jazidas de u m e outro estavam a longa
trar por que o B r a s i l , embora saindo u m s é c u l o na frente, n ã o logrou o d i s t â n c i a , e as daquele eram de m á qualidade. Trabalhavam o solo, ou, me-
ê x i t o , o bem-estar e a p o s i ç ã o central no mundo conseguidos pelos Estados lhor, pvmham os seus escravos a trabalhar o solo, porque necessitavam de
Unidos da A m é r i c a . J á e n t ã o , os Estados Unidos se apresentavam como alimentos ou, no caso da cana, porque esta s u b s t i t u í r a , nas r e g i õ e s dc solos
modelo e meta das classes m é d i a s brasileiras, que i a m adquirindo intimida- mais gordos, a a m b i ç ã o da prata e do ouro. Pois n ã o tinham atravessado o
de c o m os modos de v i d a norte-amerieanos e a eles se a f e i ç o a n d o , n ã o s ó oceano, para continuar labregos, mas, sim, para enriquecer o mais depressa
por causa do cinema, mas t a m b é m g r a ç a s a outros fatores, entre os quais p o s s í v e l . Para eles, o trabalho era u m castigo, o c o m é r c i o , uma alividade
n ã o seriam de desprezar-se u m programa de r á d i o de enorme a u d i ê n c i a , " A i g n ó b i l , e o lucro e o j u r o , m a t é r i a do pecado. Adentraram o continente em
f a m í l i a Borges", e os testemunhos de É r i c o V e r í s s i m o em Gato preto em busca dos metais preciosos e, enquanto n ã o o encontravam, do índio paia
campo de neve (1941) qA volta do gato preto (1946). escravo. Como soldados, conquistadores, bandeirantes. N ã o pretendiam
M Alberto ia Costa c Silva Duorii loiíios nós no século XX; as grandes interpretações do Brasil 35

iiiNialai-sc produtivamente nas terras que desbravavam, mas delas recolher A p ó s a i n d e p e n d ê n c i a , a demanda extema continuou a condicionar a
o i)uliin c voltar ao ponto de partida. Se tivessem ê x i t o , tudo a que aspira- estrutura e o desempenho de nossa economia. Quem n ã o produzia para ex-
\m era retomar, p r ó s p e r o s , a Portugal, a que continuaram - e, por m u i t o portar, produzia para o seu p r ó p r i o sustento e para algims poucos vizinhos.
tempo, t a m b é m os seus filhos mazombos - ligados. O quadro modificar-se-ia, p o r é m , com o c a f é , cuja c o m e r c i a l i z a ç ã o estava,
O contraste entre os dois murais explicaria o descompasso h i s t ó r i c o em geral, nas m ã o s dos que o cultivavam, e com a s u b s t i t u i ç ã o da escrava-
entre os Estados Unidos e o Brasil. A o c o n t r á r i o deste, que n ã o se sentia tura pelo trabalho assalariado. Criou-se e n t ã o , no leste e sul do B r a s i l , uma
convocado a inventar nada, aqueles, com seu amor pelas m ã o s , ideavam massa de consumidores e uma verdadeira economia de mercado interno. E
constantemente novos u t e n s í l i o s , novas m á q u i n a s e novas t é c n i c a s . pela p r i m e i r a vez, as d e c i s õ e s e c o n ó m i c a s passaram a ser tomadas dentro
A geografia, o modo de ocupar a terra e a cultura explicavam m u i t o , do p a í s , c o m o governo a controlar a oferta internacional do café e a ampa-
mas n ã o tudo - talvez pensasse o nosso brasileiro, sentado j u n t o à estante. rar a i n d u s t r i a l i z a ç ã o .
Pois o B r a s i l n ã o era mna ilha; e fora ligado, desde o i n í c i o , por nume- N i n g u é m mais pensava com seriedade que o B r a s i l devesse os seus
r o s í s s i m o s istmos n ã o s ó à Europa e à A f r i c a , mas t a m b é m à í n d i a e ao resto problemas a defeitos de origem em sua terra ou na c o n f o r m a ç ã o de seu
do Oriente, qual se mostrava em Sobrados e mucambos (1936), de Gilberto povo. Nosso atraso e nossas disparidades de desenvolvimento regional -
Freire. A sua f u n d a ç ã o podia a t é ser vista - conforme reclamara Caio Prado deixava claro Celso Furtado - encontravam e x p l i c a ç ã o na h i s t ó r i a de nossa
J ú n i o r - como u m e p i s ó d i o do expansionismo comercial europeu do Qua- economia. Os r e m é d i o s , muitos dos quais j á v i n h a m sendo aplicados, t i -
trocentos e do Quinhentos. nham de ser, por isso mesmo, de natureza e c o n ó m i c a . Entre eles, o do
N ã o s ó o era, confirmava Celso Fintado em Formação económica do fortalecimento e a m p l i a ç ã o do mercado interno, o que dependia de se c o r r i -
Brasil ( 1 9 5 9 ) , como as prosperidades, as e s t a g n a ç õ e s e os d e c l í n i o s do p a í s girem as grandes desigualdades entre as r e g i õ e s mais atrasadas, como o
dependeram, durante mais de trezentos anos, de d e c i s õ e s sobre os seus p r o - Nordeste, e as mais adiantadas como o Sul.
dutos de e x p o r t a ç ã o , tomadas nos mercados europeus. Desde o i n í c i o , por A l i g á - l a s pelo interior, os s e r t õ e s . Que adquiriam uma outra imagem,
exemplo, a p r o d u ç ã o de a ç ú c a r no B r a s i l f o i financiada, refinada e comer- distinta e a t é inversa à de Euclides da Cunha. Pois M i g u i l i m , ao p ó r os
cializada pelos flamengos. O n e g ó c i o do a ç ú c a r era mais deles do que dos ó c u l o s pela p r i m e i r a vez, descobrira que a paisagem ao derredor era bela,
portugueses, por isso que o quanto de mascavo embcireado para a Europa se era mais que bela, era b e l í s s i m a . A g o r a , n ã o apenas ele, mas todos n ó s
definia em A n t u é r p i a e, depois, em A m s t e r d ã , e n ã o em L i s b o a ou, m u i t o s a b í a m o s . Como a p r e n d ê r a m o s , com Soropita e Doralda, que a pobreza
menos, em Salvador ou Olinda. n ã o impede os dias e as noites de mel e alegria. O s e r t ã o era terrível, mas era
A unidade produtora (engenho, casa-grande e senzala) era altamente o nosso s e r t ã o , o de nossas n a v e g a ç õ e s , o de nossa aventura, nossa, pois
especializada e quase auto-suficiente. N ã o criava mercado para os produtos é r a m o s D i a d o r i m e Riobaldo. G u i m a r ã e s Rosa, em Corpo de baile (1956) c
do p a í s , pois nela praticamente n ã o se adquiriam mais do que lenha para as Grande sertão: veredas ( 1 9 5 6 ) , nos convencia de que nada t í n h a m o s a i n -
caldeiras e animais de carga e corte. S ó a p ó s a descoberta do ouro, com a vejar dos antigos gregos, porque os h e r ó i s estavam aqui, de olhos abertos
u r b a n i z a ç ã o propiciada pelas atividades mineiras, é que o B r a s i l conheceria para os m i s t é r i o s e o esplendor do mundo. E n ã o s ó nos s e r t õ e s , mas tam-
o surgimento de u m incipiente mercado interno. Para as vilas e cidades b é m nos pampas e nas coxilhas, pois recebiam a mesma g r a ç a de c o n v í v i o
p r ó x i m a s aos garimpos passaram a afluir produtos de outras r e g i õ e s , erian- com o deslumbramento e o t r á g i c o os habitantes do p r i m e i r o volume dc O
do-se a base do que v i r i a a ser uma economia nacional. M a s as minas eram tempo e o vento ( I 9 4 9 - I 9 6 2 ) , de É r i c o V e r í s s i m o .
t a m b é m regidas de fora, o que impediu que delas s a í s s e m impulsos para as N ã o mereciam o d e s â n i m o o p a í s que nos fora dado nem o povo de
atividades manufatureiras, pois o seu controle e de toda a economia da co- que é r a m o s parte. E disso nos t o r n á v a m o s mais conscientes à medida que
l ó n i a l i c a v a em Lisboa, e Portugal havia renunciado, no i n í c i o do s é c u l o a v a n ç á v a m o s no levantamento e na a n á l i s e de tudo o que t í n h a m o s feilo no
X V I I I , à industrialização. correr da h i s t ó r i a . A partir do s é c u l o X V I I I , h a v í a m o s desenvolvido uma
iJiKiiii loiíios nós no sétulo XX: us (]rundcs interpretações do Brasil 87
Alberto do Costa e Silva

lili I alui .11DIU feição c c â n o n e s p r ó p r i o s , uma literatura visceralmente na- fundido. E s t á v a m o s condenados a essa s u b o r d i n a ç ã o , e ao atraso e à injus-
11011,11 r o l 110 acentuava A n t o n i o Candido em Formação da literatura bra- tiça social que trazia j u n g i d o s , a menos que c o n s e g u í s s e m o s o feito de -
.\ii,n,i ( \'>S')) ~ , c p a s s á r a m o s a j u l g a r o que l í a m o s pelo metro de nossa para usar a imagem de Carlos D r u m m o n d de Andrade - "dinamitar a ilha de
l i a d i ç ã o e de seus valores. E o mesmo se passava em outros campos da Manhattan". Pois, sem a quebra do sistema capitalista internacional, a situ-
Cl laçilu) a r t í s t i c a e da i n v e s t i g a ç ã o intelectual. a ç ã o de d e p e n d ê n c i a ver-se-ia sempre renovada e revigorada.
O Aleijadinho, contudo, n ã o j u s t i f í c a v a a e s c r a v i d ã o . E do alto de seus Enquanto empilhava os novos volumes que i a m sendo publicados so-
ca\, M c d e i r o Vaz e Joca R a m i r o punham o olhar sobre c r i a n ç a s nuas e bre o B r a s i l , à l e m b r a n ç a de nosso leitor v o l t a r a m os determinismos e os
imillicrcs maltrapilhas. Para o leitor urbano de classe m é d i a , imia grande \s do i n í c i o do s é c u l o . T a m b é m eles v i n h a m investidos de p r e s t í g i o
parte dc nossa gente v i v i a como as personagens de Morte e vida severina intelectual. N ã o seria de afastar-se, por isso, que muitas das a n á l i s e s e con-
(1965), de J o ã o Cabral de M e l o N e t o , e mais parecia servir de exemplo para c l u s õ e s fundadas nas c i ê n c i a s sociais de nosso tempo acabassem por reve-
as teses de Geografia da fome (1942). J o s u é de Castro pimha a maior parte lar-se igualmente a b s t r a í a s , eurocêntricas e redutoras da realidade a esquemas
do país n u m c í r c u l o vicioso: a pobreza extrema e a s u b a l i m e n t a ç ã o dela mentais preconcebidos. Pelas p á g i n a s cheias de categorias a n a l í t i c a s de n u -
decorrente, por c a r ê n c i a de comida ou h á b i t o s de n u t r i ç ã o desenvolvidos na merosos desses l i v r o s , s ó de raro em raro passavam seres humanos. Parecia
p e n ú r i a , impediam o crescimento e c o n ó m i c o , e a a u s ê n c i a deste perpetuava estranho, por exemplo, o n ã o se topar u m ú n i c o escravo ou senhor de escra-
a fome. \, a n ã o ser como ideia ou como n ú m e r o , numa obra sobre a e s c r a v i d ã o .
H a v i a que romper em algum ponto o c í r c u l o , mas essa n ã o era a p r i o - Em outras, p o r é m , estavam a espiar, meio escondidos no canto de imia cons-
ridade dos que, como estamento dominante e, depois, como classe, se t i - t r u ç ã o t e ó r i c a , ou a nos olhar de frente, bem no meio da p á g i n a , os caxias,
nham, ao longo da h i s t ó r i a , apoderado p o l í t i c a e patrimonialmente do p a í s . os malandros e os renunciadores que Roberto D a M a t t a encontrou a servir
"Donos da v i d a " , chamava-lhes M á r i o de Andrade; Donos do poder (1958) de p a r â m e t r o s para o brasileiro. E m Carnavais, malandros e heróis (1979),
seria o título do l i v r o em que Raymundo Faoro lhes estudou a h i s t ó r i a , as ele convocava a nossa a t e n ç ã o para as paradas militares, os desfiles de es-
t é c n i c a s de mandonismo e as a s t ú c i a s de p e r p e t u a ç ã o h e g e m ó n i c a . Essa cola de samba e as p r o c i s s õ e s , a f i m de melhor ressaltar u m dia-a-dia d i v i -
m i n o r i a comportava-se como se a n a ç ã o c o m e ç a s s e e terminasse nela, i g - dido entre a casa e a rua, u m cotidiano no qual permanentemente conflitam
norando ou menoscabando o resto do p a í s . e se c o m b i n a m uma ideologia i g u a l i t á r i a e as estruturas hierarquizantes de

N ã o podia ser de outra forma - argumentava Florestan Fernandes - , nossa sociedade, onde cada u m tem e sabe o seu l u g a r M a s onde, em c o m -

pois o passado escravista, c o m toda a sua v i o l ê n c i a , n ã o nos dissera adeus. p e n s a ç ã o , o f i l h o de uma liberta com u m marujo pode transformar-se, para

O negro continuava à margem do corpo social e a ter de render-se aos valo- os seus descendentes, em u m sir i n g l ê s , como aquele personagem de J o ã o

res do branco para em seu universo, a duras penas, ingressar {O negro no Ubaldo R i b e i r o , em Viva o povo brasileiro (1984).

mundo dos brancos, 1972). E r a m t a m b é m c i d a d ã o s de segunda, o í n d i o , os Q u e m nos olhava no meio da p á g i n a podia ser u m brancoso louro. Ou
m e s t i ç o s e o branco encardido, porque pobre. A iniquidade permeava a v i d a u m preto. O u u m nisei. O u u m bugre de gravata. O u u m mulato, u m cafuzo,
brasileira. u m ciuriboca, u m pardo, u m melado. O u uma dessas mesclas dc b i s a v ó s
O Brasil - argumentava no ensaio i n t r o d u t ó r i o da segunda e d i ç ã o de libaneses, b á v a r o s , normandos, canelas, galegos, transmontanos, b e i r õ e s ,
Mudanças sociais no Brasil (1974) e em yl revolução burguesa no Brasil fons e sefardins, que fazem u m brasileiro. Qualquer f u n c i o n á r i o dc imigra-
(1974) - transitara do regime colonial ao capitalismo sem romper a situa- ç ã o sabe, a l i á s , disto: n ã o h á tipo humano que n ã o caiba n u m passaporte do
ç ã o de d e p e n d ê n c i a . E r a m os interesses externos, das p o t ê n c i a s dominan- Brasil. Pois o brasileiro é, antes de mais nada, u m m e s t i ç o - e Darci Ribei-
tes, que determinavam as d e c i s õ e s nacionais. Instalados no p r ó p r i o p a í s , ro, sobretudo em O povo brasileiro ( 1 9 9 5 ) , retomou, com dcsboidante en-
esses interesses cooptaram a antiga oligarquia a g r á r i a e a nova burguesia tusiasmo, essa tese por alguns esquecida. Nascemos do que cie chamou de
urbana, que, por sua vez, j á se h a v i a m sucessivamente entendido, aliado e "ninguendade": o mameluco n ã o era p o r t u g u ê s , como o p a i , nem í n d i o .
Alberlo da Costa e Silva Quem fomos nós no século XX: as giandes inteipretações do Biasil
,i7

como a m ã e , e o m u l a t o n ã o era europeu nem africano, e, por n ã o serem


Bibliografia selecionada
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c o n s t r u í m o s , que vamos, a p a r t i r da m a t r i z latina, i b é r i c a e lusitana, fr)r-
Leuzinger, 1 9 1 4 .
mando com as d i f e r e n ç a s dos povos uma n a ç ã o . Nossa aventura h i s t ó r i c a é ,
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por isso, singular. Por isso e por realizar-se nos t r ó p i c o s , ela é inteiramente tuto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo 1 0 0 , vol. 1 5 4 . Rio de Janeiro: 1 9 2 6 .
nova. E "melhor, porque tem mais humanidade incorporada". Se nossas .^NDRADE, Mário de.Macunaíma. São Paulo: Eugénio Cupolo, 1 9 2 8 .
classes dominantes se r e v e l a m infecundas, o mesmo n ã o se passa com o . O Aleijadinho e Alvares de Azevedo. São Paulo: R. A. Editora, 1 9 3 5 .
povo, no seu processo de a u t o c r i a ç ã o . E é c o m essa vantagem de sermos . O movimento modernista. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Bra-
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espelho contra espelho. A cada s í s t o l e e d i á s t o l e desses cem anos cor- lo: Martins, 1 9 6 3 .
responderam v i s õ e s otimistas e pessimistas, barrocas e contidas, esperan- A N D R A D E , Oswald de. Manifesto antropofágico. Em Do Pau-Brasil à Antropofagia e às
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nossos evangelistas soam dissonantes, mas, j u n t o s , se c o r r i g e m ou p o l i f o - bunais, 1 9 1 5 .
nicamente se completam. A s s i m talvez venha a pensar um certo b r a s i l e i r o , BoMFiM, Manuel. O Brasil na América. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1 9 2 9 .
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