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O avistei ao longe quando caminhava distraído no parque, sentamos cada um a sua

margem. Ficamos a ver como se fazia uma tarde naquele lugar, acompanhando o passar
do tempo espelhando sua metamorfose de cores no rio. Quis acenar, mas depois de horas
ali, seria como iniciar algo que já há muito começara. Aquele momento era permeado por
um constante déjà vu, era algo como sonhar com uma memória presente, mas ansiada por
toda uma vida. Havia algo nele que me era particular e me impulsionava, era como se
tivesse me encontrado com alguém que eu buscava sem conseguir reconhecer,
identificava apenas a borda da mesma forma vazia. Sabia que a resposta se escondia na
hesitação, mas retroceder não era caminho, concedi. Nos levantamos simultaneamente,
estendemos as mãos, desabriguei toda minha vulnerabilidade, a distância entre os olhares
já não mais existia, sorri, mesmo não sabendo sorrir, e foi quando reconheci nos seus
lábios o meu não-sorriso. Havia mergulhado no rio.
Nos despedimos num abraço, porém a moldura daquele abraço nunca mais de desfez.

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