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- 1ª parte
Ao contrário de todos os filmes de ficção científica, 2001 inicia-se com o alvorecer na África
pré-histórica, a 4 milhões de anos atrás.
O primeiro momento do filme é de total estranhamento. São quase 3 minutos de pura banda
sonora sem nenhuma imagem.
Há elipses temporais
criadas através de "fades" para significar a passagem de tempo.
O tempo passa, os
macacos começam a brigar entre si por comida e por espaço nas cavernas, onde se protegiam
à noite. Sempre os que não conseguiam espaço ficavam grunhindo fora das cavernas,
enquanto os de dentro respondiam com grunhidos mais altos.
Vemos um macaco
acordando e se assustando com o que vê: um monolito.
É inserido um plano,
mostrando a Lua e o Sol alinhados do ponto de vista da Terra, mais precisamente do monolito,
reforçando a idéia da temporalidade dos acontecimentos. O monolito surge no momento de Lua
crescente, aquele descrito através das imagens no início do filme, significando período de
evolução. Passam-se alguns
dias e um grupo de macacos acha uma ossada de anta, a maioria não se interessa, mas um
dos macacos permanece olhando para os ossos. Ele senta-se, olha como se tentasse decifrar
um enigma e faz um movimento com a cabeça como se estivesse pensando, racionalizando
quisesse.
A face do macaco mostra
seu momento de euforia, como num grito de "eureka", ele lança o osso para cima.
Algo aconteceu: o
conhecimento. E foi inserido no cotidiano desses seres com momento demarcado: após a
aparição do monolito, com a Lua crescente.
Uma imagem mostra mais um pôr do sol, que se olhado com atenção demonstra que a Lua,
antes vista sempre crescente, agora está cheia, nova, denotando os momentos de mudança
Numa fatídica noite a 4 milhões de anos atrás, uma poderosa força penetra no nosso sistema
solar próxima a Júpiter. Destino: Planeta Terra. Durante uma noite, um monolito foi
deliberadamente colocado na Terra por seres extraterrestres. Mas por quê? E por que,
justamente aqui, próximo a uma tribo de macacos adormecidos? Kubrick não nos explica o que
isso significa. Essencialmente representa um desafio... Espécie: Australopitecus afarensis;
habitat: África Oriental; época: 4 milhões - 2,9 milhões de anos atrás; características: medo,
curiosidade, coragem. Tais qualidades, e não propriamente o monolito, levaram os macacos a
uma revolucionária invenção: a ferramenta.
- 2ª parte
Vemos aqui os países integrados na exploração espacial, com naves de várias nacionalidades
(vê-se as bandeiras alemã e chinesa em duas delas).
A caneta flutuando na
gravidade zero nos remete inconscientemente ao osso flutuando no ar, e nos lembra que agora
"a caneta é mais forte que a espada".
Verifica-se também o
mesmo alinhamento da pré-história, agora com a meia-lua (desta vez representada pela Terra)
imagens surpreendentes. As
experimentações visuais, como a viagem através do "portal estelar" ou as imagens de Júpiter,
com cores vibrantes, são marcas indeléveis nesse filme.
Considerando que na
época não existiam computadores para criar elementos virtuais, o filme demonstra profundo
engajamento em técnicas de superposição e de trabalho com miniaturas e maquetes.
Explicação da 2ª parte
O ser humano está atingindo o auge de sua evolução. Espécie: Homo Sapiens; características:
civilizado, racional, científico.
Mas, Kubrick sutilmente sugere que algo está errado. No espaço o homem perde o controle de
suas ferramentas. Sem gravidade ele precisa aprender a andar novamente. Ele se alimenta de
papinha e precisa reaprender a ir ao banheiro. O mestre do planeta Terra não passa de uma
criança no espaço.
Na sequência, Kubrick nos
apresenta uma nova e sinistra personagem. As ferramentas estão tomando uma forma
humana. Ao se deparar com o monolito na Lua, o Homem não demonstra medo ou surpresa.
Em vez disso, ele faz vídeos e tira fotografias. A raça humana ainda tem muito que aprender...
O monolito é deixado como um sentinela, vigiando até que ponto o homem progrediu.
- 3ª parte
Estamos agora na nave Discovery 1, rumo a Júpiter, em busca do destino do sinal de rádio.
Vemos o astronauta Frank Poole correndo em círculos, no que parece uma versão gigante e
futurista de uma roda para ratos. De fato, os humanos na nave são meros
passageiros/prisioneiros, pois quem controla tudo na verdade é o computador HAL 9000. A
sigla HAL é uma "homenagem" (na verdade uma crítica) à empresa de computadores IBM
(mova cada letra uma posição no alfabeto pra trás e você terá HAL). Na época em que o filme
foi feito, a IBM era mais poderosa e influente do que a Microsoft e a Google somadas.
Uma das características peculiares do filme, é que seus protagonistas somente aparecem
depois dos primeiros 50 minutos de filme, logo após a segunda aparição do monolito na Lua,
quando esse envia um sinal para Júpiter. Há sempre uma questão de aparição x evolução: o
monolito está na Lua sinalizando um acontecimento do conhecimento, intelectual, é como se
acompanhasse nossa evolução, que cada vez mais deseja ir mais longe.
David Bowman (Keir
Dulela) e o computador HAL 9000 (representado pela voz de Douglas Rain) são os
personagens principais. As suas características são quase invertidas propositadamente.
Bowman é tranqüilo, seguro e prático, já HAL, que é a máquina, é curioso, orgulhoso,
mentiroso e ambicioso.
Muitos interpretam o
comportamento de HAL como uma falha, mas há pistas que indicam que HAL poderia estar
jogando com os astronautas da mesma forma que ele aparece jogando xadrez, e esta é uma
cena reveladora. Kubrick era amante de xadrez, e colocou HAL jogando com o astronauta
Poole uma partida que realmente aconteceu em 1910, entre Roesch e Willi Schlage. Acontece
que HAL faz o movimento correto, mas diz de forma errada: "raínha para bispo 3", quando o
correto seria: "raínha para bispo 6". Um erro bobo de um computador pirado, um deslize de
Kubrick ou um teste sutil de HAL para ver se Poole perceberia?
A idéia do teste é
importante porque é verbalizada e confirmada por HAL na próxima cena, onde ele pergunta
(como quem não quer nada) a David sobre os rumores cincundando a missão, e o que ele
achava disso. Só que David desconfia e responde com outra pergunta: "isso faz parte do nosso
teste psicológico, não é?". Ao que HAL confirma, tira por menos ("é uma coisa boba"), dá uma
"travadinha" e depois acusa o tal erro na unidade de comunicação. Erro, ou apenas outro
Poole.
Nunca saberemos, mas o
modo como Poole se conforma com a derrota no xadrez sem perceber o erro de HAL pode ter
feito do astronauta, na avaliação do computador, o elo fraco da missão. Nota-se o orgulho cego
de HAL pela infabilidade quando, confrontado com o relatório do seu "irmão gêmeo" na Terra
de que não havia defeito na unidade, HAL responde: "Falha humana. Isso já ocorreu antes, e
sempre foi devido a falha humana". A superconfiança e o desdém de HAL para com os
humanos fez da tripulação algo descartável, em face da ameaça de desativação.
Os tripulantes cogitam desativar HAL.
Explicação da 3ª parte
Missão Júpiter. 18 meses depois do encontro com o monolito na Lua, uma nova criatura habita
o buraco negro no espaço. Espécie: Computador HAL 9000; funções: o cérebro e o sistema
central de Discovery. Então, para quê serviriam os humanos? Examinemos os mesmos
humanos com os mesmos olhos de HAL: entediado, entediante, com seus jantares pré-
aquecidos e sol artificial. Eles precisam estar praticamente mortos para conseguirem viajar
longas distâncias pelo espaço. Os humanos são apenas técnicos de manutenção no final de
seus processos evolutivos. A ferramenta de última geração não necessita mais desses
"macacos". Então HAL comete um erro: ele prevê a falha total da antena da espaçonave. O
drama espacial de Kubrick está começando... Em 2001, a cena do astronauta morto por HAL
no espaço dura 3 minutos. A Respiração... No espaço, o homem é como um peixe fora d´água
e computadores não necessitam respirar. Porém, computadores cometem erros. Quando a
tripulação descobre o erro de HAL,
eles decidem desligá-lo. Entretanto, o homem perdeu o controle de suas ferramentas e HAL
pensa que está vivo. A batalha entre o homem e suas ferramentas começa: "abra por favor as
comportas, HAL". O computador vence. Mas HAL calculou mal a engenhosidade e a coragem
daqueles "velhos macacos". O Homem mata o computador com a mais simples das
ferramentas: a chave-de-fenda. Então HAL entendeu perfeitamente para que servem as
ferramentas. Com a destruição de HAL, o Homem termina sua aliança evolutiva com a
ferramenta, mas se encontra sozinho no espaço, com a morte se aproximando.
- 4ª parte
Após o desligamento de Hal, a nave Discovery vaga, aparentemente, com destino à Júpiter.
Vemos David Bowman
deixando a Discovery numa cápsula e embarcando numa viagem rumo ao desconhecido.
Começa aqui, a parte mais enigmática do filme.
para onde.
Começa a jornada
enigmática de Bowman e as imagens levam a entender que trata-se de uma viagem para outra
dimensão.
A imagem do olho de
Bowman piscando, vista em cores distorcidas, evidencia que ele ainda está vivo e consciente,
mas completamente estarrecido.
Ao fim da sucessão de
imagens aquosas e orgânicas, aparecem 7 objetos lapidados em forma de octaedros ou
bipirâmides quadradas. Tudo indica serem naves extraterrestres recebendo e escoltando David
através de um portal, encerrando a parte da viagem através das luzes.
De dentro da cápsula
vemos, por entre a porta de saída, a imagem de uma sala e em seguida o rosto de David
dentro do capacete demonstrando que está numa espécie de transe.
Da cama, David vê o
monolito, e faz um gesto de tocá-lo, lembrando muito a pintura "A Criação de Adão", que o
mestre renascentista Michelângelo fez no teto da Capela Sistina.
David transforma-se então
num feto.
A câmera se aproxima do
monolito, como se fôssemos transportados do local para a escuridão do espaço, de onde o
feto, chamado no livro de "Starchild" ("criança estelar"), contempla o planeta Terra do alto, para
depois mirar bem dentro de nossos olhos com um olhar perturbador que mescla
sabedoria/velhice e inocência/infância.
Bowman é "premiado" com
o máximo da evolução transformando-se em estrela. É uma clara referência ao conto
"Sentinela", também escrito por Arhur C. Clarke. No conto, Clarke diz que a quantidade de
estrelas no céu é equivalente à quantidade de seres humanos que nasceram e morreram,
então é possível que exista uma estrela para cada ser que existiu. Assim, várias pessoas
podem ter se tornado estrelas em seu processo evolutivo, e isso será demonstrado em algum
momento em sua vida, no filme foi o momento de Bowman.
Explicação da 4ª parte
O Homem venceu a batalha contra suas ferramentas e sozinho no espaço, ele se prepara para
enfrentar o desconhecido. E as forças sobrenaturais que o conduziram até este momento estão
esperando por ele. Não julguemos o quarto pela sua aparência. Imaginemos que ele está na
quarta dimensão, representando o palco de kubrick
para o último ato de 2001. Aqui o Homem precisa enfrentar um desafio final: sua própria morte.
O astronauta que chega no quarto e o idoso, são a mesma pessoa. Sentado à mesa, o Homem
faz sua última ceia. O copo se quebra e o vinho ainda está lá: recipiente, conteúdo... Corpo,
espírito. A evolução do Homem dependeu tanto de sua tecnologia que ela quase acabou
substituindo-o, e no final tentou destruí-lo. Sem suas ferramentas e com seu corpo quase
perecendo, o que sobrou do Homem? A luz não morre, e o Homem está pronto para dar seu
próximo passo na evolução: seu corpo é deixado de lado e a criança estrela nasce.