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Serviços de vídeo sob demanda gratuitos no Brasil

Luís Enrique Cazani Júnior

Em março de 2018, a Agência Nacional de Cinema (Ancine) tornou público um documento


contendo 52 serviços de vídeo sob demanda inscritos no órgão, por meio do Observatório Brasileiro
de Cinema e do Audiovisual, primeira vez que um relatório dessa atividade é divulgado após a
intensificação dos debates sobre a regulação. Além do título e do endereço eletrônico, a listagem
aponta, também, os modelos de negócio: transacional (TVoD), assinatura (SVoD), gratuito, gratuito
com publicidade (AdVoD) e oferecido para clientes de canal de TV por assinatura (Catch up TV).
Partindo desse pressuposto, este trabalho discute as plataformas de streaming gratuitas citadas. O
vocábulo “demanda” revela clamor ou necessidade quando ele é empregado. Remete, também, a
disponibilidade. Segundo Nícolas Negroponte (1995,p24), “vídeo sob demanda é possibilidade de
receber vídeo e áudio (filmes, notícias, desenhos) sob encomenda, no momento em que desejar,
bastando um comando do controle remoto”.
Afroflix emerge em 20 de janeiro de 2016. Este repositório, que procura dar visibilidade às
produções que tenham profissionais negros no seu corpo de execução e tratar de representatividade,
é extremamente dependente da cessão de direitos por terceiros, responsáveis pela sua liberação. A
página é aberta e colaborativa, contemplando os seguintes gêneros: documentário, experimental,
ficção, FIC/DOC, programa, série, videoclipe e vlog. Não possui armazenagem e exibidor próprios,
sendo que os conteúdos são alocados no YouTube e no Vimeo, totalizando 91 peças audiovisuais
Videocamp foi lançado em 15 de março de 2015, buscando instigar discussões e promover o
engajamento sobre temáticas sociais sob um viés educacional. É fruto do Instituto Alana e da Maria
Marinha Filmes. Já fomentou elaboração de produtos com temática “Filmes Transformadores” e
“Educação Inclusiva”, por meio de editais em parcerias com empresas e organizações. Títulos estão
disponíveis para assistência via Vimeo e YouTube. A plataforma oferece alguns deles para exibição
pública e gratuita, sendo necessário comprovar a realização do evento, que deve ter entre 5 e 200
pessoas. Com essa atitude, Videocamp atua na distribuição audiovisual, enviando 48 horas a senha
para acesso e exibição. No geral, cabe ao produtor oferecer sua realização, alocando-a.
ScapCine surgiu em 19 de junho de 2017, contemplando apenas produções nacionais em player
próprio. Na sua descrição, existem informações sobre locação de lançamentos, mas não foi
encontrada essa seção. É aberto para inclusão de artefatos por produtores, que são remunerados com
parcela da publicidade contida na página.
Libreflix estabelece-se em agosto de 2017 e contempla conteúdos com exibição livre na Internet
a partir de uma intensa pesquisa de averiguação de direitos, criada pelo ativista de “cultura livre”
Guilmour Rossi. Possui direcionamento por gêneros ou por temáticas (ocupação, social, tecnologia,
música, ficção científica, ativismo, veganismo, feminismo e educação).
My French Film Festival oferta filmes franceses inéditos para apreciação do público. No Brasil,
é gratuito, mas há cobrança por obra (€ 1,99) ou catálogo (€ 7,99) em outros países. É limitado a 30
metragens em 2018, sua oitava edição. O serviço é resultado de uma extensão da comissão julgadora
do evento, que abriu para o público manifestar-se a partir da fruição das peças selecionadas.
Afroflix, Videocamp, ScapCine, Libreflix e My French Film Festival são gratuitos, não sendo
prolongamentos de meios de comunicação tradicionais. A Ancine acrescenta, ainda, Vevo, Crackle,
Vimeo e YouTube como gratuitos com publicidade, embora os dois últimos possuam outros modos de
geração de receita. Recentemente, Crackle alterou sua forma para assinatura. É necessário ressaltar
que o Globo Play possui reclames no seu acesso fragmentado e gratuito, não tendo essa natureza
discriminada nesse relatório. Dos players enquadrados apenas como gratuitos, três não têm fins
lucrativos: Afroflix, Videocamp e Libreflix são repositórios sociais, cujo valor simbólico avulta sobre
o financeiro, classificando-os, neste trabalho, em uma nova modalidade: vídeo sob demanda ativista,
educacional e colaborativo. Existe uma latência (ou demanda) por esse tipo de possibilidade na
atualidade. (Desenvolvido com apoio da FAPESP: 2017/25124-5)

Referências
Afroflix, disponível em:< www.afroflix.com.br>, Acesso 16.08.2018.
Ancine. Serviços sob demanda (VOD) disponíveis no Brasil, disponível em:
<https://oca.ancine.gov.br/sites/default/files/repositorio/pdf/3001.pdf>, Acesso 16.08.2018
Libreflix, disponível em: <https://libreflix.org/> , Acesso 16.08.2018.
My French Film Festival, disponível em:<https://www.myfrenchfilmfestival.com/pt/>,Acesso
16.08.2018.
Negroponte, Nícolas. A vida digital. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
ScapCine, disponível em:< http://www.scapcine.com/scapcine/>, Acesso 16.08.2018.
Videocamp, disponível em:< https://www.videocamp.com/pt>, Acesso 16.08.2018.

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