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PORTUGUÊS – 12º ANO

Ficha de Gramática

Leia o texto seguinte.

5A NOVA POESIA PORTUGUESA SOCIOLOGICAMENTE CONSIDERADA


Ao movimento literário representativo e peculiar da nascente geração portuguesa tem sido feito
pela opinião pública o favor de o não compreender. […]
Ainda que tenha sido rápida, já há nesta análise 1 elementos para a apreciação ponderada da
moderna poesia portuguesa.
10 O primeiro facto que se nota é que a atual corrente literária portuguesa é absolutamente nacional,
e não só nacional com a inevitabilidade bruta de um canto popular, mas nacional
com ideias especiais, sentimentos especiais, modos de expressão especiais e distintos de um movimento
literário completamente português: e, de resto, se fosse menos, não seria um movimento literário, mas
uma espécie de traje psíquico nacional, relegável da categoria de movimento de arte para a, para este
15caso sociológico nula, de um mero costume característico.
O segundo facto a notar é que o movimento poético português contém individualidades de vincado
valor: não são Miltons nem Shakespeares, mas são gente que se extrema, além de pelo tom, que é da
corrente, pelo valor mesmo, dentre os contemporâneos europeus, com exceção de um ou dois italianos,
e esses não integrados em movimento ou corrente alguma que, distintiva ou nacional, tenha sombra de
20direito a ser comparada com a hodierna corrente poética lusitana.
O terceiro e último facto que se impõe é que este movimento poético dá-se coincidentemente com
um período de pobre e deprimida vida social, de mesquinha política, de dificuldades e obstáculos de
toda a espécie à mais quotidiana paz individual e social, e à mais rudimentar confiança ou segurança
num, ou de um, futuro.
25 Vistos estes elementos sociológicos do problema, salta aos olhos a inevitável conclusão. É ela a
mais extraordinária, a mais consoladora, a mais estonteante que se pode ousar esperar. É ela de ordem a
coincidir absolutamente com aquelas intuições proféticas do poeta Teixeira de Pascoaes sobre a  futura
civilização lusitana, sobre o futuro glorioso que espera a Pátria Portuguesa. Tudo isso, que a fé e a
intuição dos místicos deu a Teixeira de Pascoaes, vai o nosso raciocínio matematicamente confirmar.
30 É que os característicos que acabamos de descobrir no nosso atual movimento poético indicam,
absolutamente, a sua analogia com as literaturas inglesa do primeiro, e francesa do segundo período, e,
portanto, impõem que se conclua daí a fatal analogia com as épocas de que aquelas literaturas são
representativas.
A analogia é absoluta. Temos, primeiro, a nota principal da completa nacionalidade e novidade do
35movimento. Temos, depois, o caso de se tratar de uma corrente literária contendo poetas de indiscutível
valor. E note-se — para o caso de se argumentar que nenhum Shakespeare nem Vítor Hugo apareceu
ainda na corrente literária portuguesa — que esta corrente vai ainda no princípio do seu princípio,
gradualmente, porém, tornando-se mais firme, mais nítida, mais complexa. E isto leva a crer que deve
estar para muito breve o inevitável aparecimento do poeta ou poetas supremos, desta corrente, e da
40nossa terra, porque fatalmente o Grande Poeta, que este movimento gerará, deslocará para segundo
1
Análise das literaturas inglesa e francesa, cujos elementos são utilizados no presente estudo sobre a literatura
portuguesa.
1
plano a figura, até agora primacial, de Camões. Quem sabe se não estará para um futuro muito próximo
a ruidosa confirmação deste deduzidíssimo asserto?
Pode objetar-se, além de muita coisa desdenhável num artigo que tem de não ser longo, que o
atual momento político não parece de ordem a gerar génios poéticos supremos, de reles e mesquinho
45que é. Mas é precisamente por isso que mais concluível se nos afigura o próximo aparecer de um supra-
Camões na nossa terra. É precisamente este detalhe que marca a completa analogia da atual corrente
literária portuguesa com aquelas, francesa e inglesa, onde o nosso raciocínio descobriu o
acompanhamento literário das grandes épocas criadoras. Porque a corrente literária, como
vimos, precede sempre a corrente social nas épocas sublimes de uma nação. Que admira que não
50vejamos sinal de renascença na vida política, se a analogia nos manda que o vejamos apenas uma, duas
ou três gerações depois do auge da corrente literária?
Ousemos concluir isto, onde o raciocínio excede o sonho: que a atual corrente literária portuguesa
é completa e absolutamente o princípio de uma grande corrente literária, das que precedem as grandes
épocas criadoras das grandes nações de quem a civilização é filha.
55 Que o mal e o pouco do presente nos não deprimam nem iludam: são eles que confirmam o nosso
raciocínio. Tenhamos a coragem de ir para aquela louca alegria que vem das bandas para onde o
raciocínio nos leva! Prepara-se em Portugal uma renascença extraordinária, um ressurgimento
assombroso. O ponto de luz até onde essa renascença nos deve levar, não se pode dizer neste breve
estudo; desacompanhada de um raciocínio confirmativo, essa previsão pareceria um lúcido sonho de
60louco.
Tenhamos fé. Tornemos essa crença, afinal, lógica, num futuro mais glorioso do que a imaginação
o ousa conceber, a nossa alma e o nosso corpo, o quotidiano e o eterno de nós. Dia e noite, em
pensamento e ação, em sonho e vida, esteja connosco, para que nenhuma das nossas almas falte à sua
missão de hoje, de criar o supra-Portugal de amanhã.
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Fernando Pessoa, Textos de Crítica e de Intervenção (adaptado). Lisboa: Ática, 1980.
1ª publ. in “A Águia”, 2ª série, nº 4. Porto: Abr. 1912.

701. A expressão “elementos” (l. 3) desempenha a função sintática de


(A) complemento direto.
(B) complemento oblíquo.
(C) sujeito.
(D) predicativo do sujeito.
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2. A oração subordinada presente em “Ainda que tenha sido rápida, já há nesta análise elementos para a
apreciação ponderada da moderna poesia portuguesa” (ll. 3-4) é uma
(A) adverbial temporal.
(B) substantiva relativa.
80 (C) adverbial consecutiva.
(D) adverbial concessiva.

3. As expressões textuais “movimento literário (…) da nascente geração portuguesa” (l. 1), “moderna
poesia portuguesa” (l. 4), “atual corrente literária portuguesa” (l. 5) e “hodierna corrente poética lusitana”
85 (l. 15) contribuem para a coesão
(A) referencial.
(B) lexical.
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(C) interfrásica.
(D) temporal.
904. O constituinte “coincidentemente” (l. 16) desempenha a função sintática de
(A) modificador.
(B) complemento agente da passiva.
(C) complemento oblíquo.
(D) complemento do adjetivo.
95
5. A oração subordinada presente em “Vistos estes elementos sociológicos do problema, salta aos olhos a
inevitável conclusão.” (l. 20) é uma
(A) finita adverbial temporal.
(B) finita adverbial final.
100 (C) não finita adverbial temporal.
(D) não finita adverbial final.

6. A expressão “a inevitável conclusão” (l. 20) exerce a função sintática de


(A) complemento direto.
105 (B) modificador do nome restritivo.
(C) predicativo do sujeito.
(D) sujeito.

7. A expressão “Tudo isso” (l. 23) desempenha a função sintática de


110 (A) complemento direto.
(B) modificador.
(C) sujeito.
(D) complemento oblíquo.

1158. A expressão “com aquelas intuições proféticas do poeta Teixeira de Pascoaes” (l. 22) desempenha a
função sintática de
(A) modificador.
(B) complemento do nome.
(C) complemento oblíquo.
120 (D) complemento do adjetivo.

9. No segmento textual “Tudo isso, que a fé e a intuição dos místicos deu a Teixeira de Pascoaes, […] ” (ll.
23-24), o pronome relativo desempenha a função sintática de
(A) sujeito.
125 (B) complemento direto.
(C) complemento indireto.
(D) modificador do nome apositivo.

10. A oração subordinada presente em “Quem sabe se não estará para um futuro muito próximo a ruidosa
130 confirmação deste deduzidíssimo asserto?” (ll. 36-37) é uma
(A) adverbial condicional.
(B) substantiva completiva.

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(C) substantiva relativa.
(D) adjetiva relativa.
13511. Os pronomes pessoais sublinhados em “Que o mal e o pouco do presente nos não deprimam” (l. 50) e
“para onde o raciocínio nos leva” (ll. 51-52), desempenham a função sintática de
(A) complemento direto, em ambos os casos.
(B) complemento indireto, em ambos os casos.
(C) complemento direto e complemento indireto, respetivamente.
140 (D) complemento indireto e complemento direto, respetivamente.

12. O constituinte “um lúcido sonho de louco” (ll. 54-55) desempenha a função sintática de
(A) complemento direto.
(B) modificador do nome restritivo.
145 (C) modificador do nome apositivo.
(D) predicativo do sujeito.

13. A expressão “a nossa alma e o nosso corpo, o quotidiano e o eterno de nós” (l.57) desempenha a função
sintática de
150 (A) complemento direto.
(B) predicativo do complemento direto.
(C) complemento oblíquo.
(D) complemento do nome.

15514.A oração “para que nenhuma das nossas almas falte à sua missão de hoje” (ll. 58-59) é uma
(A) subordinada adverbial condicional.
(B) subordinada substantiva completiva.
(C) subordinada adverbial final.
(D) subordinada adverbial causal.
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15. Transcreva e classifique o sujeito da oração que constitui o primeiro parágrafo do texto. (ll. 1-2).

16. Identifique a função sintática da expressão “da moderna poesia portuguesa” (ll. 3-4) e transcreva os dois
modificadores do nome restritivos nela presentes.

16517. Classifique a oração “que a atual corrente literária portuguesa é absolutamente nacional” (l.5) e indique
a sua função sintática.

18. Classifique a oração iniciada por “se” em “se fosse menos, não seria um movimento literário” (l.8).

19. Classifique a oração “onde o nosso raciocínio descobriu o acompanhamento literário das grandes épocas
criadoras” (ll. 42-43).

17020. Transcreva a palavra que constitui uma catáfora da expressão “que a atual corrente literária portuguesa é
completa e absolutamente o princípio de uma grande corrente literária” (ll. 47-48).

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