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Educação

Um guia para o conhecimento e o desenvolvimento integral de nosso ser


De Mira Alfassa (“A Mãe”)
Revista “Ananda”, Caderno Especial VII, Novembro-Dezembro 1977

II
Educação
A educação de um ser humano deve começar em seu nascimento e prolongar-se durante
todo o tempo de sua vida.
Em verdade, se se quer que esta educação tenha seu efeito máximo, é preciso começá-la
antes do nascimento; e neste caso é a própria mãe que procede a esta educação, por
meio de uma ação dupla: uma sobre ela mesma, para seu próprio aperfeiçoamento,
outra sobre a criança que ela está formando fisicamente. Pois é certo que a natureza da
criança que vai nascer depende consideravelmente da mãe que a forma, de sua
aspiração e de sua vontade, assim como do ambiente material no qual ela vive. Cuidar
para que os pensamentos sejam sempre belos e puros, os sentimentos nobres e belos, e
o ambiente material tão harmonioso quanto possível, em uma grande simplicidade, é a
parte da educação que a mãe deve aplicar a si própria, e se ela acrescentar a isto uma
vontade, consciente e precisa, de formar a criança de acordo com o ideal mais alto que
ela pode conceber, então serão realizadas as melhores condições para que a criança
apareça no mundo com o máximo de suas possibilidades. Quantos esforços difíceis e
complicações inúteis serão assim evitados!
Para ser completa, uma educação deve ter cinco aspectos principais, referindo-se às
atividades principais do ser humano: o físico, o vital, o mental, o psíquico e o espiritual.
Geralmente estas fases da educação sucedem-se numa ordem cronológica
acompanhando o crescimento do indivíduo, mas nenhuma é feita para substituir a outra,
e todas devem continuar, completando-se mutuamente, até o fim da vida.
Nós nos propomos a estudar estes cinco aspectos da educação, um por um e também em
suas relações recíprocas. Mas antes de entrar nos detalhes do assunto eu quero fazer
uma recomendação aos pais. A maioria deles, por várias razões, preocupa-se muito
pouco com a educação verdadeira a ser dada às crianças. Quando puseram uma criança
no mundo e quando lhe dão seu alimento e satisfazem suas diversas necessidades
materiais, cuidando, mais ou menos bem, da conservação de sua saúde, eles acham que
cumpriram todo o seu dever. Mais tarde, eles a colocarão na escola e se desencarregarão
da preocupação com sua instrução, passando-a para os professores.
Outros pais sabem que seu filho deve receber educação e tentam dá-la. Mas bem poucos
entre eles, mesmo entre os mais sérios e mais sinceros, sabem que a primeira coisa a
fazer para ser capaz de educar uma criança é educar a si mesmo, tornar-se consciente e
mestre de si, a fim de nunca dar um mau exemplo a seu filho. Pois é sobretudo através
do exemplo que a educação é eficaz. Dizer boas palavras e dar sábios conselhos a uma
criança tem muito pouco efeito, se a própria pessoa não lhe dá o exemplo do que lhe
ensina. A sinceridade, a honestidade, a retidão, a coragem, o desinteresse e o
esquecimento de si, a paciência, a resistência e a perseverança, a paz, a calma e o
domínio de si, todas estas coisas são ensinadas infinitamente melhor pelo exemplo do
que por belos discursos. Pais, tenham um ideal elevado e ajam sempre de acordo com
este ideal. Vocês verão pouco a pouco seu filho refletir este ideal nele mesmo e
manifestar espontaneamente as qualidades que vocês querem ver expressadas em sua
natureza. Bastante naturalmente uma criança tem respeito e admiração por seus pais; a
menos que sejam seres inteiramente indignos, eles aparecerão sempre a seu filho como
semideuses que ele se esforçará para imitar o melhor que possa.
Com raras exceções, os pais não se dão conta da influência desastrosa que seus defeitos,
seus impulsos, suas fraquezas e sua falta de autocontrole exercem sobre seus filhos. Se
vocês querem ser respeitados por uma criança, tenham respeito por vocês mesmos e
sejam a cada momento dignos de respeito; nunca sejam nem autoritários, nem
despóticos, nem impacientes, nem encolerizados; quando seu filho lhe faz uma pergunta,
não responda a ele com uma estupidez ou uma tolice, sob o pretexto de que ele não
pode compreender você; há sempre um meio de se fazer entender se você se esforça o
suficiente, e, apesar do ditado popular que afirma que nem sempre é bom dizer a
verdade, eu asseguro que é sempre bom dizer a verdade, mas a arte consiste em saber
dizê-la de uma maneira acessível à mente de quem ouve. No começo da vida, até doze
ou quatorze anos, a mentalidade da criança não tem acesso às noções abstratas e às
idéias gerais; no entanto pode-se habituá-la a compreendê-las usando imagens
concretas, símbolos e parábolas. Até uma idade consideravelmente avançada, e para
alguns que mentalmente permanecem sempre crianças, uma narrativa, um conto, uma
história, bem contados, ensinam muito mais do que uma porção de explicações teóricas.
Um outro empecilho a ser evitado: só repreenda seu filho estando ciente do que você faz
e quando completamente indispensável. Uma criança repreendida com demasiada
freqüência torna-se insensível às censuras e passa a dar pouca importância às palavras e
ao tom severo. Sobretudo, tenha muito cuidado em não repreendê-la por uma falta que
você mesmo comete; as crianças são observadores atentos e perspicazes; elas vão logo
descobrir suas fraquezas e as registrarão sem piedade.
Se uma criança cometeu um erro, proceda de tal modo que ela o conte a você
espontânea e francamente, e quando ela tiver contado, faça-a compreender com
delicadeza e afeição o que havia de errado em seu movimento, para que ela não o
repita; mas nunca a repreenda; um erro confessado deve sempre ser perdoado. Você
não deve permitir que nenhum medo se insinue entre você e seu filho; o medo é um
meio nefasto de educação: invariavelmente dá origem à dissimulação e à mentira. Só
uma ternura perspicaz, firme mas doce, e um conhecimento prático suficiente, criarão os
laços de confiança indispensáveis para que você possa eficazmente educar seu filho. E
não se esqueçam de que vocês devem constantemente superar-se para estar à altura da
tarefa e verdadeiramente cumprir o dever que vocês assumiram em relação a uma
criança, pelo simples fato de tê-la trazido à existência.

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