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mostra que objetividade é essencial, que o negécio ¢ ir direto a0 ponte. “Terceira coisa, decorréncia da segunda: aprendi a ser sintético. Se 0 espago que me dio é de trinta centimetros, escrevo trinta centimetros. Também aprendi a ser pontual. Afinal, nenhum ser humano tem todo 0 tempo ¢ todo 0 espaco do mundo, ‘Agora: acho, sim, que a literatura pode ensinar algo ao jornalismo, Em primeiro lugar, a cuidar da forma, a escre- yer ¢ a reescrever. Também ensina a privilegiar a imaginasio = mas nao demais: realidade € realidade, ficgao ¢ ficgao. O novo jornalismo foi uma experiéncia interessante, mas exa gerou muito. Hi sim, uma fronteira entre jornalismo e ficgio. Mas é uma fronteira permedvel, que permite uma ditil ¢ amavel convivéncia, No pasado, grandes escritores foram grandes jornalistas: 0 caso de Machado de Assis, de Lima Barreto. Nada impede que esta tradigio tenha continuidade, 4 Discurso literdrio e discurso jornalistico: convergéncias e divergéncias Manuel Angel Vazquez Medel* As relagdes entre jornalismo ¢ literatura so miiltiplas ¢ extraordinariamente variadas. Nao se trata apenas de que, em um ¢ outro caso, o instrumento fundamental ~ a palavra e suas estratégias discursivas verbais ~ seja comum. No processo de desenvolvimento histérico e de institu nalizagio de ambas séries discursivas encontram-se coinci- déncias muito interessantes e interagées miituas. Resulta inegivel a influéncia de pautas de escritura e modelos lite- rarios para a construcio de determinados discursos jorna- listicos, nao é de menor importancia a presenca do jorna- lismo (com seus temas, recursos, procedimentos e técnicas) na criagao literdria (especialmente no século XX), sem esquecer o fato de que as figuras do escritor ¢ do jornalista (sobretudo de opiniso) &s vezes coincidem com a mesma pessoa. O chamado “articulismo criativo” (ela boragio de artigos criativos), assim como outras formas io * Catedritico de Literatura e Comunicagio - Universidade de Sevilla Trudusto par o portuués: Susana Beara Mois Exheversy desenvolvidas na segunda metade do século XX, no marco dos “novos jornalismos” estabelecem um interessante ter- ritdrio intermedirio. Em ajustada sintese, Francisco Gutiérrez Carbajo (1999:23) indica: “A relagao entre literatura e jornalismo conhece um primeiro momento de esplendor com a apati gio das revistas culturais do século XVIII, estreita-se ao longo do século XIX e constitui um dos capitulos funda- mentais da cultura do século XX”. Com efeito, desde o romanticismo, jornalismo e literatura tém andado sempre de mios dadas, Comega a set comum afirmar que em alguns artigos, reportagens ou crénicas publicadas na imprensa, encontra-se a melhor prosa atual. ‘Tampouco pode negar-se que em poucos momentos da histéria os esctitores tém tido uma presenga tio importante na imprensa como nestes tiltimos anos. Quigi isso seja devido a0 papel desempenhado pelos suplementos culturais, 20 auge do “articulismo” literdrio, 4 recuperada presenga do conto e & publicagio na imprensa, por entrega, de obras de ficgio, Por tudo isso, nao parece arriscado demais pensar na influéncia que o jornalismo ¢ a aplicagio das novas tecnolo- gias tém hoje nos géneros narrativos. Jornalismo e literatura sio priticas discursivas verbais que mantém um filo contencioso baseado no prestigio de uma ou outta atividade que, apesar dos elementos comuns, mantém técnicas diferenciadas. Assim, desde a perspectiva de um jornalismo restritivo, os “literatos” que irtompem com sua atividade no Ambito jornalistico sio “intrusos”, em todo caso tolerados na sua dimensio interpretativa, porém, que pouco ou nada tém a ver ~a juizo dos jornalistas tecnocratas ~ com 0 jornalismo informativo. Desde a ética dos criadores literétios “elitistas”, o jornalismo nao chegaré nunca a ser uma praxe criativa literaria, ou o ser s6 de maneita secund4- ria ou subsididria, Héctor Anaya recordava, inclusive, tradi ‘Ges comprometidas ideolégica ou politicamente, mas que se 16 nega aos jornalistas esta dignidade que se reserva paraa litera- ttira: “Nio sto poucos os literatos ¢ ensafstas — afortunada- mente cada ver, menos — que nfo querem conceder ao jorn: lismo a categoria de literatura. Uma velha discussio, néo resolvida toralmente, considera que o jornalismo nao cumpre 0s requisitos que poderiam colocé-lo ao lado da literatura. Leon Trotsky, certamente sem muitos méritos de autor literd- rio, tentou desacreditar 0 jornalismo chamando-o de manei- ra classista “musa plebéia” a essa linha trotsquista, talvez sem sabé-lo, filiou-se o poeta e jornalista Renato Leduc, que também denegriu 0 oficio jornalistico: “Eu no saberia quali ficar ou classificar 0 jornalismo escrito como pseudo-literatu- ra ou como subliteratura, porém, em todo caso, nio me atre- vo a qualificé-lo de literatura’. Segundo cle, outro poeta ¢ ensaista, Salvador Novo, haveria dito que “néo se pode alter- nar o santo ministério da maternidade que é a literatura com 0 exercicio da prostituigio que ¢ o jornalismo”. Os processos de transformagio da atividade jornalist cae da criagéo literdria tém seguido cursos paralelos, nao sem importantes pontos de encontro e territérios comparti- dos. A imprensa, nascida com uma importante fungio social de testemunho do fato social ¢ controle das trés gran- des esferas do poder do Estado modemo (Executivo, Legis- lativo e Judicidrio), chegou a converter-se, nfo no quarto poder do Estado, senio no primeiro, em um novo marco que contempla, com preocupagio, a transgressio do princi- pio democrético do controle, que deve exercer-se sobre toda forma de poder e, especialmente, sobre o poder comu- nicacional, sem que isso possa nem deva confundit-se com nenhuma forma de censura. Com efeito, a criagéo literria, fixada exemplarmente no marco da modernidade como a conquista de um novo espaco onde se estende essa linha na qual a linguagem conyerte-se em obra, enfrenta uma crise sem precedentes, a0 questionar-se 0 proprio fundamento sobre 0 que tem se construfdo durante quase trés séculos. 7 As relagdes entre criagao literdria ¢ exercicio jorna- Ustico tém sido problemticas desde scus inicios. Parece que aquela, sem abandonar a dimensio liidica ¢ fruitiva, deve eneaminhar-se para 0 excencial bumano, bem que encarnado nas inevitiveis coordenadas espaco-temporais que nos constituem. A atividade informativa, a0 contririo, aponta mais para o efémero, passageiro, circunstancial (e sabemos até que ponto a vertigem informativa devora a estabilidade € petmanéncia dos acontecimentos). Simplificando muito, parece quea literatura se orienta para o importante e a infor. magio jornalistica para 0 urgente. Ao menos assim jé 0 entendia Marcel Proust, quem na primeira parte de No caminho de Swan, “Combray”, coloca na boca do protago- nista Swan: “O que me parece mal nos jornais é que solici- tem todos os dias nossa atengio para coisas insignificantes, enquanto nao lemos mais que trés ou quatro vezes em toda nossa vida os livros que contém coisas essenciais. Naquele ‘momento em que rasgamos febrilmente todas as manhis a faixa do jornal, as coisas deviam mudar ¢ aparecer no jor- nal, cu no sei o qué, os pensamentos de Pascal, por exem- plo ~e destacou esta palavra com um tom de énfase irénico para nio parecer pedante, E, pelo contritio, nesses tomos de cantos dourados que nfo abrimos mais do que a cada dez.anos é onde deverfamos ler que a rainha da Grécia via- jou para Cannes, ou que a duquesa de Leén organizou um baile & fantasia’. Deixando de lado tudo 0 que nos separa destas palavras de Proust (jf nao hd rainha na Grécia e, por desgraga, em escassas ocasides podemos ler em trés ou qua tro oportunidades os livros que contém coisas essenciais) & verdade que nossa época se caracteriza pelo sacrificio das coisas verdadeiramente importantes, em beneficio das que reclamam nossa atengo com 0 engodo da urgéncia Claro est que nem a maior parte da criagao literéria em nossos dias é merecedora da permanéncia que reclama Proust para as grandes obras, nem a atividade jornalistica 18 (apesar da degradago de muitos de seus agentes ¢ a prolife- ragio de um jornalismo rosa ou matrom) refere-se to somente a essas triviais questées mundanas, Nao creio que no futuro seja possivel conhecer a fundo as alegrias ¢ as espetangas, os temores as tristezas do homem do século XX (¢, obviamente, deste inicio do século XX1) sem acudir as hemerotecas Um testemunho especialmente interessante ~ por sua qualidade como criador literstio e como jornalista— é 0 do galego Manuel Rivas: “Para mim [jornalismo e literatu ra] sempre foram 0 mesmo oficio, O jornalista é um escri- tor. Trabalha com palavras. Busca comunicar uma historia ¢ © faz com vontade de estilo”. E mais adiante acrescenta: “Quando tém valor, o jornalismo ea literatura servem para © descobrimento da outra verdade, do lado oculto, a partir da investiga¢ao ¢ acompanhamento de um acontecimento. Para o escritor jornalista ou o jornalista esctitor a imagina. go € a vontade de estilo sio as asas que dio v6o a esse valor: Seja uma manchete que é um poema, uma reportagem que € um conto, ou uma coluna que é um fulgurante ensaio filoséfico. Esse é 0 futuro” (M. Rivas, 1998: 2: }). Com efei- to, também nés pensamos que esse é 0 futuro, diante de um jornalismo de uma falsa retérica da objetividade, que em nada gatante, em seu aparente estilo declarativo e constata- tivo sua prépria verdade, Diante de um jornalismo que ainda nao percebeu que a verdade transparente nao existe ¢ que resuilea inevitével (¢, por isso, € ético assumi-lo), a par- cialidade e a subjetividade do informadot. No fundo é tam- bém o mesmo ctitério oferecido por escritores do naipe de Alejo Carpentier, Octavio Paz ou Garcfa Marquez, segundo tém recordado Héctor Anaya: “Alejo Carpentier, 0 escritor cubano, homem musical, se é que algum existiu, de grande erudigao e cultura monumental, nao achou razao para sepa- rar o jornalismo da literatura, sendo por questées de estilo: Para mim, © jornalista e 0 escritor integram uma sé 19 personalidade... Poderfamos definir o jornalista como um eseritor que trabalha no calor da hora, que segue, rastreia acontecimento dia-a-dia, a0 vivo. O novelista, para simpli- ficar a dicotomia, é um homem que trabalha retrospectiva- ‘mente, contemplando, analisando 0 acontecimento, quan- do sua trajetsria tem chegado ao final, O jornalista que trabalha no calor da hora, o faz sobre a matéria ativa e coti- diana, O romancista a contempla na distancia com a neces- siria perspectiva como um fato cumprido e terminado”, Por sua parte, Octavio Paz, o Prémio Nobel de Literatura, destacou em sensato texto que “O jornalismo, 0 romance ¢ a poesia so géneros literdrios distintos, cada um regido por sua prdpria légica e estética”, E, depois de afirmar ¢ de- monstrar que “A boa poesia moderna esta impregnada de jornalismo” concluiu uma conferéncia manifestando que: “Eu gostaria de deixar uns poucos poemas com a leveza, 0 magnetismo ¢ o poder de convieso de um bom artigo de jornal... e um punhado de artigos com a espontaneidade, a concisio ¢ a transparéncia de um poema’. Coincidéncia a que chegaram com anos de diferenga e com ideologias to distantes, 0 poeta Paz. € 0 romancista Gabriel Garcia Mér- quiet, que, ao ser interrogado anos atris sobre esta relagio entre literatura e jornalismo, respondeu que “o ideal seria que a poesia fosse cada ver. mais informativa ¢ 0 jornalismo cada yez mais poético. Um ideal que, como pode observar- se nos bons criadores do jornalismo moderno, parece haver-se cumprido”. No debate sobre jornalismo ¢ literatura podem-se elencar muitas das grandes questées nesta dupla crise da realidade dos acontecimentos ¢ veracidade dos discursos jornalisticos, e 0 esgotamento do fictfcio ¢ dos modelos criativos nos discursos literdrios. As diversas crises dos anos 60, que deram lugar a formas do novo jornalismo nao s6 nos Estados Unidos, como também em toda a América Latina e na Europa, sio 20 um excelente exemplo de como a ruptura de fronteiras (também neste Ambito) fecundou a criatividade informati- va no &mbito do jornalismo (sobretudo em géneros como 0 artigo de opinigo, a crdnica, a reportagem e a entrevista) de modo que permitiu um importante impulso as formas de eserita literdria que adotam a retérica do jornalismo. Albert Chillén (1999:429), um dos grandes especia listas no estabelecimento das bases para um método com- paratista das relag6es entre jornalismo e literatura, tem indicado tigorosamente algumas das razées do atraso dos estudos jornalisticos, e as vantagens de um enfoque inter- disciplinar: “Desde seus infcios, os estudos sobre jornalis mo tém softido um notério atraso com respeito a outras reas da investigagao comunicativa, em geral muito atentas as conttibuigoes diversas de disciplinas consolidadas como a sociologia, a historiografia, a ciéncia politica, a semiolo- gia c, em menor grau, até a antropologia ¢ a filosofia Enquanto a incorporagio de enfoques prdprios de tais dis- ciplinas tem permitido a outras dreas da investigagio em comunicagiio avangar com passo brioso, 0 campo concreto dos estudlos jornalisticos exibe hi décadas um andar clau- dicante e reumatico, atribuivel em boa medida ao reiterado descuido das colaboraces mais significativas provenientes de disciplinas sociais e humanisticas tais como a lingiifstica em seus diferentes ramos, a citada semiologia, a filosofia da Jinguagem, a chamada nova retérica ¢, em geral, o amplo e fecundo campo dos estudos literrios, ademais das ciéncias sociais antes aludidas.” Desde tais premissas, sio objetivos fundamentais de um programa comparatista e multicultural de investigagio sobre as relagbes entre jornalismo e literatura, entre outros: 1. A reflexéo aberta e critica, sem preconceitos, sobre as numerosas relag6es e interinfluéncias existentes entre lite- ratura e jornalismo, Para isso, a investigagio hemerogrifica, 98 programas sistemticos de catalogagao de revistas literrias lis ay e culturais, 0 estudo da presenga da literatura no meio jorna- Iistico ¢ a transformagio literria de criagées jornalisticas sio fundamentais. Os resultados parciais devem encontrar o necessitio cotejo com os obtidos em outras Areas idiomaticas e culturais, para apreciar aspectos comuns e diferentes. 2. Irconstruindo um conhecimento panorimico dos escritores mais importantes da histéria do jornalismo de criagio, dimensionando seus aspectos comuns e diferen- ciais, segundo suas dreas culturais e idiomsticas. Esta tare~ fa resulta imprescindivel, ja que relegados a0 cinone pere~ civel da histéria da comunicagao (que com seus avangos sabe esquecer 0 pasado), fica Sbvio um aspecto essencial de muitos escritores-jornaliscas: sua contribuigdo nao sé ircunstancial e fungivel a seu proprio contexto histérico e informativo, sendo alguns logros inegéveis na histéria da evolugio do idioma, da criagio do estilo ¢ a expressividade comunicativa, incluindo-se a indagasio de aspectos essen- ciais da existéncia humana, além das conjunturas nas quais a informagio se gesta. 3. Construir os instrumentos metodolégicos (analiti- cos, interpretativos e valorativos) ¢ eriticos para entender ¢ apreciar o jornalismo como criagéo de uma natureza distin- ta Aquela do discurso literdrio, porém com aspectos comuns, assim como o discurso literario como fonte criati- va (tematica € estilistica) da escrita jornalistica. A nova Teo- ria Geral do Discurso ¢ algumas orientagées atuais como a Semiética Transdiscursiva sio instrumentos muito adequa- dos para apreciar aspectos comuns e diferenciais. 4, Anélises da construgio, a partir de técnicas ¢ pro- cedimentos literarios, de uma praxe jornalistica criativa e de forte intensidade, sendo igualmente preciso indagar como se constréi literariamente a partir de técnicas e procedimen- tos jornalisticos, 5. Como corolitio, refletir sobre as diferencas entre 0 essencial e 0 acidental, o ético e 0 estético, o formativo ¢ 0 22. informativo, o permanente ¢ o transitério e fungtvel. Final- mnfente — e enquanto estas distingdes sejam pertinentes — a comunicagio jornalistica direciona-se para o Ambito da interagio socials a comunicagao literdria busca, desde scus condicionamentos de época, apontar a certos fatores da condigio humana: jornalismo e literatura constituem Ambitos privilegiados para refletir sobre a implicagio entre ciéncias sociais e humanas, Nio ¢ fécil falar de literatura e de jomalismo abstrata- mente, Um e outro campo de ago discursiva comportam priticas muito distintas, tém tido uma importante evolugio segundo os lugares e culturas (especialmente, por sua maior projesio temporal, a literatura) e se fragmentam em géne- tos € subgeneros (disponibilidades expressivas muico dife- rentes), Poderfamos contemplar o “territério” de ambas as préticas como um conjunto em intersego com outro con- junto: hé dimensGes da literatura que pouco ou nada tém a ver com 0 jornalismo, dimensées do jornalismo alheias &s praticas literétias e, finalmente, um espaco compartido no qual nao ¢ tao ficil distinguir um e outro tipo de discursos € que, inclusive, tém tido um proceso de transferéncia: desde os artigos de Larra, que passaram do Ambito jornalis- tico'ao literdrio, até os textos de Garcia Marquez, do Relato de un Naufrago metamorfoscados em ficgio a0 passarem do jornal ao livro. Para nio falar do conhecido caso do Prémio Pulitzer que resultou ser uma criagto ficticia, So varios os critérios que podemos levar em conta para uma reflexio fecunda sobre as relagées entre jornalis mo e literatura ao menos ~ ¢ em um primeito momento — de caréter geal 1. As reflexdes de Roman Jacobson sobre as fungdes ernas da linguagem nos permitem apreciar que, no caso do discurso jornalistico, deve ser dominante a fiuncito referen- Gial, por set a que articula sua funcionalidade informativa ¢ sua vontade de construir discursos baseados em fatos reais, 2B que correspondam a acontecimentos extradiscursivos. No caso dos discursesliterdrios, esteja ou nao presente a fungio referencial, deve dominar a fungdo poética ou estética, que reclama atengio sobre o préprio texto e por isso tem, por um lado, maior liberdade referencial e, pelo outto, maiores restrigGes expressivas (jf que 0 plano da expressao se articu Ja fortemente com aquele do contetido). 2. Aprofundando as implicagées do que foi mencio- nado antes, poderiamos acudir as colocagées de G. Genette, sobre discursos de fico ante discursos factuais. Se nestes, 0 designatu (criagao do significado) deve relacionar-se com o denotatum (esse apontar para a realidade que esté fora do discurso), nos discursos literdrios o designatum cria seu prd- prio denotatum de modo que se os discursos factuais, prd- prios do jornalismo podem set, mais ou menos, submetidos A prova de veracidade ou falsidade, nos discutsos literérios esta conexio nfo € pertinente, j& que 0 que o autor disse, estabelece sua prdpria referencia, 3. Agora, a ret6rica do discurso jornalistico (posto que todo dizer requer sua retérica, implicita ou expli formal ou informal) é em muitos casos, essencialmente coincidente com a do discurso literdrio. Com efeito, se a fiegao prépria da literatura a exime das provas comprobaté tias e se baseia mais em um pacto estético do que em um pacto ético de credibilidade (como acontece com o discurso jornalistico), podemos estar diante de ficgdes fantésticas (nas que 0 contetido funciona de modo muito distinto ao mundo em que habitualmente nos encontramos inseridos) ou diante de ficgSes realistas (nas que a retérica do discurso funciona, seguindo os velhos postulados da verossimilhanga aristotélica como se se tracasse de um discurso factual. ‘Temos que concluir esta reflexio preliminar do que hd de ser, no futuro, ima mirada aberta e critica a duas das atividades humanas mais essenciais: 0 jornalismo, como mediagio com um mundo que sentimos cada ver 4 mais préximo e mais nosso, deve atender ética ¢ estetica- rifente aos requerimentos de uma nova bumanidade em flor; a criagao literdria, enquanto indagadora dos desejos e temores, das ilusdes e esperangas dos seres humanos, ha de nos seguir recordando que formamos parte de uma tinica e mesma humanidade, na qual sobrepondo-se a circunstan- cias de tempo e lugar, todos compartimos essa raiz do essencial humano. 25

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