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Capítulo 5º Parte

Especial

Aspetos específicos do procedimento (análise de 3 realidades):


1. Regulamentos
2. Atos administrativos
3. Contratos da administração

Procedimento dos regulamentos

Regulamentos:

- Quatro grandes questões:


1. Titularidade da competência regulamentar (quem tem competência?
Quem pode emanar regulamentos)
2. Formas e formalidades dos regulamentos
3. Validade e eficácia dos regulamentos
4. Cessação de vigência dos regulamentos (como é que pode terminar a vida dos
regulamentos?

1. Titularidade do poder regulamentar:


- Para responder à questão de “quem pode emanar regulamentos” podemos
encontrar dois tipos de estruturas decisórias com poderes regulamentares:
1. Competência regulamentar alicerçada na CRP: não está na disponibilidade
do legislador
2. Competência regulamentar estruturada na lei: competência que tem a
configuração que o legislador lhe pretenda dar
Particularidades:
1) Todas as entidades publicas têm sempre competência regulamentar, não escrita,
mas de natureza materialmente constitucional. O fenómeno da personalidade
jurídica em Direito Público envolve sempre autonomia regulamentar: não há
entidades públicas sem poder regulamentar
2) No interior de cada entidade publica há sempre uma competência regulamentar
interna, que é aquela que fundamenta, por exemplo, o poder que o superior
hierárquico tem de criar instruções. Afinal, as instruções são tal como as diretivas
regulamentos internos - estes têm uma base consuetudinária, isto é, não é
necessário que a lei expressamente diga “tu tens competência para emanar
instruções”, o que é importante é que a lei não adie este poder. No silencio da lei,
um órgão superior tem sempre o poder de emanar instruções, tal como os órgãos
colegiais têm sempre, no silencio da lei, o poder de elaborar os respetivos
regimentos (que são regulamentos).

Competência regulamentar alicerçada na CRP:

Estruturas que têm a sua competência regulamentar alicerçada na Constituição:

1. Governo: como órgão superior de toda a AP, é o principal órgão com


competência regulamentar.
O Governo tem 2 tipos de competência regulamentar:
1. De execução das leis: complementar ou especificamente de
execução; visa pormenorizar ou completar aquilo que a lei definiu;
199º/b
2. Regulamentos independentes: são aqueles que não estão diretamente
relacionados com uma única lei, porque podem estar relacionados com
várias leis ou alicerçarem-se na alínea g) do 199º CRP - os
regulamentos diretamente fundados na CRP.
 Podem dizer respeito à lei. 136º/3 do CPA
 Ou que implementam diretamente a constituição
- Porque é que os regulamentos do Governo são os mais importantes?
1. Devido ao posicionamento que tem dentro da estrutura da AP;
2. Pelo conjunto de competências administrativas essenciais que a
CRP atribui ao Governo. Repare-se no 199º g) CRP, que diz que
“compete ao Governo, no âmbito das competências
administrativas, praticar todos os atos e tomar todas as
providencias necessárias ao desenvolvimento económico-social
e à satisfação das necessidades coletivas” - uma competência
residual muito abrangente.
3. Também porque o Governo no âmbito dos regulamentos
independentes, pratica aquilo que se designa como decretos
regulamentares - a forma mais solene de regulamento, porque
estão sujeitos a promulgação do PR. Ou seja, os decretos-
regulamentares têm, no fundo, a mesma solenidade formal que
um decreto-lei, com a pequena vantagem de não passarem pelo
conselho de ministros, o que é uma conveniência porque se
basta com a intervenção do primeiro-ministro e dos ministros
sectorialmente competentes, não estão sujeitos a fiscalização
da constitucionalidade nem de promulgação
• Fora de reserva de lei
• Ato administrativo
• Não ter sido objeto de ato legislativo.
• Se já foi, o regulamento não pode alterar a
disciplina

2. Regiões Autónomas: têm dois tipos de competência regulamentar

Regulamentam a legislação regional, em dois parâmetros 227º/1/d CRP:

Os decretos legislativos regionais, podem ser regulamentados. O governo não pode


regulamentar decretos legislativos regionais, sendo isto competência das RA.
Regulamentam, em termos independentes alicerçados diretamente no estatuto político-
administrativo, regulamentos independentes regionais, com uma diferença em relação
aos regulamentos independentes do Governo, é que os do Governo da República
alicerçam-se no 199º g) da CRP, e os das RA’s alicerçam-se no estatuto político-
administrativo, isto é, são independentes fundados no próprio estatuto político-
administrativo da RA. O governo regional, nos termos do 231º/6 tem competência
regulamentar exclusiva para a sua organização e funcionamento do Governo Regional.
O diploma do governo regional tem de ser assinado pelo representante da república,
sendo o veto absoluto, porque o governo regional nunca poderá convertê-lo e
apresentá-lo à assembleia, sendo uma competência exclusiva do governo regional, não
podendo a assembleia ser instrumentalizada.

Por outro lado, as RA’s têm um segundo tipo de competência regulamentar - a


competência regulamentar das leis da República: podem regulamentar as leis da
república sempre que os órgãos da República não reservem para o Governo da
República esse poder regulamentar. Pode regulamentar com 2 particularidades:
1. Competência exclusiva da assembleia legislativa da RA
2. Reveste a forma de decreto legislativo regional (para permitir que o
representante possa pedir a fiscalização preventiva da constitucionalidade)

Nota: a competência regulamentar das regiões da República não é apenas das leis
da república da área concorrência. Mesmo as leis da reserva parlamentar estão
sujeitas a regulamentação por parte das RA’s. O que é da reserva da República é a
competência legislativa, não é a competência regulamentar.
Autarquias Locais: competência regulamentar com fundamento na CRP, 241º da CRP mas
com a particularidade de apensar de se alicerçar na CRP, não há regulamentos autárquicos
diretamente fundamentados na CRP. Isto significa que carecem sempre de precedência de lei,
isto é - as autarquias locais só têm competência regulamentar proveniente da lei (a lei é a
ponte entre a CRP e a competência regulamentar de cada autarquia local). Têm competência
regulamentar os municípios (a camara e a assembleia) tal como as freguesias (a junta e
assembleia), com, naturalmente, dois limites:
1. Limites da lei que lhe confere o poder regulamentar
2. Os regulamentos das autarquias têm de respeitar os regulamentos das entidades de
tutela (pode não ser o Governo da República, pode também ser o governo regional se
a autarquia for uma autarquia de uma RA, porque quem exerce tutela sobre as
autarquias locais nas Regiões Autónomas é o respetivo poder regional. Mais: o poder
regulamentar das freguesias tem de obedecer e se pautar aos regulamentos dos
respetivos municípios.
3. Exemplo: a freguesia de Alvalade tem de respeitar, no exercício da sua competência
regulamentar, os regulamentos emanados pelo município de Lisboa, mas não pelo
Município de Almada ou Setúbal, porque estão fora da respetiva área.
Há competência regulamentar do órgão deliberativo, mas também há
competência regulamentar do órgão executivo.

3. Universidades Públicas: têm competência regulamentar também diretamente alicerçada


na CRP (76º/2 CRP), com 2 particularidades:
1. A autonomia regulamentar das Universidades Públicas é um direito fundamental.
Não é apenas uma competência, e acarreta todas as consequências de ser um direito
fundamental.
2. A competência regulamentar das Universidades limita a reserva de lei, porque a lei
não pode esvaziar ou invadir a área de competência das Universidades,
designadamente a mais importante da autonomia normativa das universidades, que é
a autonomia estatutária (que significa que cada Universidade Pública tem o poder de
autodefinição das regras sobre a sua auto-organização e funcionamento, poder esse
que está, obviamente, subordinado à lei, o que não é nenhuma novidade porque toda
a atividade administrativa está subordinada à lei.
3. A especificidade aqui é que a estrutura orgânica e funcional de cada universidade é
definida pela própria universidade, e mais - dentro de cada Universidade cada
faculdade tem a sua própria sub-autonomia estatutária. E isto é que, no limite, resulta
da Constituição a título de direito fundamental e limita o legislador - a autonomia
científica, pedagógica, financeira, administrativa, etc tem como autonomia superior,
em matéria normativa, a autonomia estatutária. Mas atenção: não obstante a
autonomia estatutária ser um limite ao poder do legislador, este pode sempre emanar
normas que tenham aplicação a título supletivo; trata-se do tema do princípio da
supletividade do direito do Estado - quando as entidades que têm competência
regulamentar não a exercem ou exercem em termos inválidos ou incompletos, na
falta de norma infraestadual aplicável o Estado pode sempre emanar direito
supletivamente aplicável.

4. Associações Públicas: têm poder regulamentar, que resulte diretamente da CRP, 267º/4 da
CRP, sublinhe-se que as associações públicas profissionais (ordem dos médicos) têm
competência regulamentar exclusiva em matéria deontológica. As regras éticas são matéria
de reserva regulamentar da respetiva associação pública, não podendo o estado intervir, se o
fizer o ato está ferido de usurpação de poderes. Isto permite limitar o espaço do poder
legislativo, não podendo este usurpar o espaço da competência regulamentar.

- Competência regulamentar alicerçada na lei ordinária:

Levantam-se aqui alguns problemas:


-Será admissível a transferência legal ou a delegação de poderes regulamentares atribuídos
pela Constituição a um órgão que não identificado por esta, por via legislativa?
Exemplo: a CRP atribui competência ao Governo para emanar regulamentos de execução das
leis. Poderá o Governo elaborar uma norma que diga “em matéria de telecomunicações passa
a ser competente para executar a lei a ANACOM (i.e., a autoridade para as comunicações -
uma autoridade administrativa independente)? No fundo, poderá o Governo transferir pela lei
a competência regulamentar direta da lei para uma outra entidade que não ele, o Governo?
PO: não, não o pode fazer, salvo nos casos em que a CRP expressamente o permita - a
competência conferida pela CRP 199º/b não pode ser objeto de delegação ou transferência
salvo se a própria CRP o permitir. O governo pode definir o quadro no qual a autoridade
administrativa independente desenvolve o seu poder regulamentar

Primeiro limite importante aos poderes regulamentares conferidos pela CRP: o Governo
não pode “renunciar” /abdicar dessa competência que lhe é atribuída pela CRP. 111º/2 da
CRP

Têm competência regulamentar alicerçada na lei:


1. Os órgãos da administração indireta
2. Os órgãos da administração periférica
3. Os órgãos das entidades/autoridades administrativas independentes
4. Todas as que não se alicerçam na CRP. Não há entidades públicas sem competência
regulamentar.

Competência regulamentar alicerçada no costume


1. Competência regulamentar interna dos superiores hierárquicos. O poder de
definir instruções, sendo isto parte integrante do poder de instrução, sendo
isto um comando hierárquico geral e abstrato, sendo isto um regulamento
interno. As ordens não são regulamentos.
2. Poder de auto-organização dos órgãos colegiais, de estes elaborarem o
próprio regimento. O funcionamento do próprio órgão.

Ainda a propósito da competência regulamentar:


- Princípio do paralelismo da competência (142º/1 CPA): diz-nos no fundo que “quem tem
competência para emanar um regulamento tem competência para interpretar, competência
para modificar e competência para suspender”, ou seja, quem tem competência dispositiva
tem competência interpretativa, modificativa e revogatória, por via de outro regulamento.

2. Forma e formalidades dos regulamentos:


1. Iniciativa dos regulamentos (quem compete desencadear o processo regulamentar?):
- Compete à AP, mas também pode ser desencadeada por iniciativa dos
interessados (97º/1 CPA);
- A iniciativa dos interessados pode resultar designadamente de petições, que
podem tanto ser para elaborar um novo regulamento (sobre matéria que não
existia), ou para regar ou modificar um regulamento
2. Publicidade: necessidade, nos termos do 78º/1 CPA, de publicitação do início do
procedimento, obrigatoriamente por via da internet, no sítio institucional da
respetiva entidade pública (PO: manifesta sérias dúvidas de que este preceito
esteja a ser cumprido pela administração, em particular até pela FDUL)
3. Participação dos interessados: importância da participação dos
administrados/cidadãos na feitura dos regulamentos (98º a 101º CPA). Esta
participação faz-se através da audiência e da consulta pública. Por aqueles que têm
interesse e por aqueles que não têm interesse.
- Audiência, 100º CPA
- Consulta pública, 101º CPA
4. Fundamentação (99º CPA): A aprovação do regulamento exige uma nota
justificativa fundamentada. Por outras palavras, um regulamento para ser aprovado
tem de ser objeto de uma fundamentação, onde está integrada uma ponderação dos
custos e benefícios das medidas projetadas. A ponderação refletida na
fundamentação, mas também o equilíbrio entre custos e vantagens (aqui também a
vertente do princípio da proporcionalidade). O que é que justifica esta
fundamentação?
5. Eficácia: (139º CPA) o regulamento só ganha eficácia a partir do momento em que e
publicitado.

Forma dos regulamentos:


A forma mais solene dos regulamentos é o decreto-regulamentar (do governo), mas
pode também existir, porque trata as matérias mais importantes, sendo estes objetos de
promulgação pelo presidente, sendo semelhantes aos decretos leis:
- Decreto simples
- Resolução do Conselho de Ministros (Nota: nem todas as resoluções do Conselho de
Ministros são regulamentos - há resoluções do Conselho de Ministros que são atos
políticos, atos administrativos e até resoluções que podem aprovar contratos - há que
ver o conteúdo). Isto, porque o governo, nos termos do 182º tanto é um órgão
político como o órgão superior da administração pública.
- Portaria
- Despacho normativo e despacho simples
- Posturas municipais
- Estatutos Universitários; Circulares; Regimentos dos órgãos colegiais (todos
eles também expressões de atos de natureza regulamentar)

Regulamentos das Regiões Autónomas:


- Os regulamentos das leis da república revestem a forma de decreto legislativo
regional, e mais, são uma competência exclusiva da assembleia legislativa.

Última nota em matéria de forma e formalidades:


- Casos de ilegalidade (em matéria de forma ou de procedimento):
- Artigo 144º/2: diz-nos no fundo que “os regulamentos que enfermem de ilegalidade
formal ou procedimental (Por exemplo: “não foi publicado o projeto na internet”; “não
está acompanhado de uma nota justificativa”; “não houve audiência prévia”; “não
houve consulta pública”) da qual não resulte a sua inconstitucionalidade (se forem
inconstitucionais a situação é outra) só podem ser impugnados ou declarados
oficiosamente inválidos pela administração no prazo de 6 meses a contar da data da
respetiva publicação.
Exceções, inconstitucionalidade e “salvo nos casos de carência absoluta da forma legal
ou de preterição de consulta publica exigida/imposta por lei”.
Esquecendo estes dois casos excecionais, a preterição de formas ou formalidades
impostas por lei sana-se no final de 6 meses após a publicação no respetivo
regulamento. Mais um caso em que a ilegalidade se torna inoperativa, aqui em função
do fator tempo (e aliás até com uma curiosidade: é que para os atos administrativos a
regra é de um ano, e para os regulamentos ainda há um bónus, que é metade do tempo -
6 meses. Isto é: o legislador foi tão generoso que em matéria normativa normalmente
mais importante que os casos concretos, ainda se sanam mais rapidamente do que as
situações de relação das normas no âmbito da atuação individual imperativa)

3. Validade e eficácia dos regulamentos:

Validade dos regulamentos:


- O CPA veio generosamente dizer, no artigo 143º/1 CPA, que os regulamentos são
inválidos se forem desconformes com a CRP, com a lei, com os princípios gerais ou
que infrinjam um direito internacional ou da União Europeia. O professor Paulo
Otero ironiza a necessidade patente no artigo de referir estes elementos, que são
desde logo e à partida óbvios - no fundo o que o artigo nos diz é a constatação óbvia
de que “se o regulamento violar a ordem jurídica é inválido”.
- Por outro lado, o 143º/2 diz-nos ainda que são inválidos os regulamentos que
desrespeitam regulamentos de órgãos hierarquicamente superiores ou dotados de
superintendência. O delegado não pode violar regulamentos emitidos pelo delegante,
e não podem violar normas que lhe sirvam de parâmetro/referência. O regulamento
feito pela Faculdade de Direito tem de obedecer aos estatutos da universidade de
Lisboa.
- Resultante do 138º CPA há, todavia, relações de prevalência entre regulamentos
Relações de prevalência entre regulamentos:
- Entre regulamentos do governo face a regulamentos de outras entidades -regionais
e autárquicos, entre matérias concorrenciais (138º/1). Em caso de conflito.
- Prevalência de regulamentos entre autarquias locais (138º/2 CPA). No fundo, o
regulamento do município prevalece sobre o de uma freguesia.
- Prevalência entre regulamentos dentro do Governo, isto é, regulamentos
intragovernamentais (138º/3). O governo tem a possibilidade de emanar diversos
tipos de regulamentos, sendo os decretos regulamentares os mais importantes
(por ser promulgado pelo presidente e ser expressão do poder regulamentar
importante) e em segundo lugar as resoluções do CM, 168º/3, em terceiro as
portarias e, por fim, os despachos. Não obstante, normas especiais, podem
derrogar a regrada prevalência.

Ainda por outro lado, o 142º/2 CPA consagra aquilo a que se chama de Princípio da
inderrogabilidade singular dos regulamentos:

Significa que um regulamento não pode ser afastado num caso concreto. As normas
têm vigência geral e por isso, em nome dos princípios da igualdade e da
imparcialidade, não podem ser afastados num caso concreto - não pode assim ser
afastado ou derrogado numa situação concreta. Um ato desconforme um
regulamento, mesmo que posterior, em vez de derrogar o regulamento, o ato
administrativo é inválido, por contrariar o regulamento. Os regulamentos não
podem ser afastados nos casos concretos.

Duas regras em matéria de validade dos regulamentos:


1. 146º/2 CPA (claramente de inspiração constitucional): os regulamentos de
execução de uma lei não podem ser objeto de revogação simples. Isto é, uma lei
que está a ser executada não pode deixar de ser executada porque lhe falta um
regulamento, que já existia (não pode haver retrocesso). Isto significa que os
regulamentos de execução de uma lei só podem ser objeto de revogação
substitutiva - nunca de revogação simples. Haveria assim um retrocesso na
execução da lei.
2. 137º/2 CPA: quando, para dar execução a uma lei, seja necessário um regulamento
de execução, esse regulamento, em falta de outro prazo, deve ser emanado nos 90
dias subsequentes à lei. Há aqui um prazo supletivo para o regulamento ser
emanado, sob pena de ilegalidade por omissão regulamentar. Qual é a ilegalidade
por omissão? Falta de norma regulamentar para dar execução à lei. No fundo, esta
omissão regulamentar é irmã da inconstitucionalidade por omissão, só que aqui não
é uma inconstitucionalidade mas uma ilegalidade por omissão, de norma
regulamentar. Esta é uma forma de invalidade, podendo os particulares ir a tribunal
pedir a condenação da administração, ou dirigir-se à administração pedir o
regulamento.

Outras formas de invalidade:


- Invalidade por ação. Sublinham-se aqui 2 regras:
1. Há invalidade por ação sempre que normas de natureza imperativa sejam
afastadas. A violação das proibições gera invalidade.
2. A invalidade por ação é invocável a todo o tempo (144º/1 CPA)
• (Exceção à regra anterior) Se for uma ilegalidade formal ou
procedimental, esta só e invocável nos 6 meses subsequentes à
publicação do regulamento, salvo 3 exceções: 144º/2 CPA
• (1) Situação de inconstitucionalidade;
• (2) Situação de carência absoluta de forma legal;
• (3) Situação de preterição da consulta publica obrigatória.

Efeitos da declaração de invalidade de um regulamento: O juiz ou a administração


aperceberam-se de que uma norma era inválida. Em qualquer um dos casos há uma
obrigação de declaração de invalidade do regulamento. Que efeitos provoca esta
declaração de invalidade? Matéria regulada nos artigos 144º/3 e 4.

144º/3: “A declaração administrativa de invalidade produz efeitos desde a data de


emissão do regulamento e determina a repristinação das normas que ele haja
revogado, salvo quando estas sejam ilegais ou tenham deixado por outro motivo de
vigorar, devendo o órgão competente reconhecer o afastamento do efeito
repristinatório, quando este se verifique”.

Regra geral: a declaração de invalidade tem eficácia retroativa (apaga os efeitos que
a norma produziu), só não tendo retroatividade nas exceções previstas, e envolve
também efeitos repristinatórios, se for caso disso.
Exceção: pode não se dar o efeito repristinatório quando a norma a repristinar também
ela era ilegal (confirmar) - é a afirmação do provérbio popular “era pior a emenda do
que o soneto”.

144º/4: “A retroatividade da declaração de invalidade não afeta os casos


julgados nem os atos administrativos que se tenham tornado inimpugnáveis,
salvo, neste último caso, quando se trate de atos desfavoráveis para os
destinatários.”
Ou seja: os atos administrativos que aplicaram a norma regulamentar e que se
consolidaram na ordem jurídica, ainda que a norma desapareça, permanecem na
ordem jurídica. Salvo se forem atos desfavoráveis para os destinatários.
Conclusão: a declaração de invalidade no regulamento não obsta a que
certos efeitos do regulamento ilegal se mantenham na ordem jurídica.

Eficácia dos regulamentos:


- Artigo 139º CPA: impõe a publicação
- Artigo 141º CPA: princípio geral da proibição da eficácia retroativa dos regulamentos
Nota: uma nota penas para alertar para aquilo que se faz - por vezes, a administração
utiliza o expediente de emanar normas que qualifica de “interpretativas”, e porque diz
que são interpretativas a norma interpretativa vai, como sabemos, integrar-se na
norma interpretada, ganhando assim natureza retroativa. O problema é saber se há
liberdade de qualificação das normas. O Professor Paulo Otero considera que
obviamente, num estado de direito, não pode haver essa liberdade de qualificação: a
norma não é interpretativa porque o seu autor disse “esta norma é interpretativa”, mas
sim se o for materialmente.
Pode estar o regulamento sujeito a uma cláusula acessória.
4. Formas de cessação da vigência dos regulamentos:
1. Revogação: artigo 146º/2 CPA; o limite, que já sabemos, é que a revogação não
pode tornar inexequível a lei.
- Quem tem competência?
• Em princípio o autor do ato. Competência dispositiva, quem tem
competência para o emanar, tem competência para o revogar.
• Pode haver revogação por um terceiro órgão, desde que o órgão exerça
poderes revogatórios sobre o autor do regulamento. O superior hierárquico,
os delegantes podem revogar os regulamentos emanados pelo inferior, pelo
delegado.
2. Caducidade:
- Verifica-se a condição resolutiva (termo final), 145º/1 CPA
- Desaparece a condição material (pensão de sangue a viúvas)
- Quando o regulamento de execução de uma lei se depara com a revogação da
lei que estava a executar. 145º/3
3. Intervenção do legislador: revogação simples da lei que fundamenta o
regulamento de execução. Pergunta: e se o legislador em vez de revogar em
termos simples revogar substitutivamente a lei, mantêm-se o regulamento? A
regra é que sim (economia processual), mantém-se - artigo 145º/2 CPA - salvo se
o regulamento velho for incompatível supervenientemente com a lei nova. Pode
um ato legislativo revogar um regulamento diretamente? Há que diferenciar se o
órgão que emanou a lei é a AR, a AR não pode emanar uma lei que tenha uma
única norma que revogue um regulamento. Isto à luz do princípio da separação
de poderes, porque não tem competência administrativa. E o governo? Sim, mas
só relativamente às matérias em que tem competência regulamentar. Este não
pode através de um decreto lei revogar um regulamento de uma autarquia ou
região autónoma. Há uma reserva de administração a favor dessas entidades.
Haverá incompetência absoluta, por invasão das atribuições das entidades.
4. Declaração administrativa de invalidade: a declaração de invalidade pode ser
a declaração de invalidade, por ser ilegal, feita pela administração. 144º/1 a 4 do
CPA
5. Intervenção Judicial: Podem fazê-lo em 2 cenários:
- Declaração de ilegalidade pelos tribunais administrativos. Vem regulado no
CPTA, aqui preveem-se 2 situações:
• Os regulamentos que não dependem de ato administrativo
podem ser impugnados diretamente, 73º/1 e 2 CPTA
• Casos do artigo 73º/4, se o ato administrativo praticado ao
abrigo de um regulamento de operatividade mediata (que
depende de um ato administrativo), sendo este declarado ilegal
por assentar num regulamento ilegal, a partir da 3º vez, é
possível que esse regulamento seja objeto da declaração de
ilegalidade com força obrigatória geral. Efeitos: Artigo 76º
CPTA (parecido com o 282º CRP)
• Retroativa
• Determina a repristinação
• Salvaguarda casos julgados, atos inatacáveis e
situações em que se permite por outras razões que
os próprios tribunais restrinjam a retroatividade
desta declaração.
Intervenção do Tribunal Constitucional, fiscalização sucessiva abstrata, que permite que o
TC em situações de inconstitucionalidade 281º ou ilegalidade equiparada, permitem ao TC
declarar a inconstitucionalidade ou ilegalidade com força obrigatória geral, sendo os
efeitos os previstos no 282º.
I – Atos Constitutivos
1. Atos primários
1.1. Atos impositivos1: (a) atos ablativos2; (b) atos obrigacionais3; (c) Atos sancionatórios4
1.2. Atos permissivos5: (a) autorização6; (b) licença7; (c) concessão8; (d) admissão9; (e) delegação
(CPA, arts. 44º a 50º)10; (f) dispensa11; (g) renúncia12
1.3. Atos propulsores13: (a) pedido14; (b) proposta15; (c) diretiva16; (e) recomendação17; (f) advertência18
2. Atos secundários
2.1. Atos integrativos19: (a) aprovação20; (b) homologação21; (c) confirmação22; (d)
23
ratificação-confirmativa
2.2. Atos desintegrativos (CPA, arts. 165º a 172º): (a) revogação; (b) anulação administrativa
2.3. Atos modificativos24:
a) Atos modificativos sem caráter saneador (CPA, art. 173º, nº 1) 25: (i) alteração stricto sensu26;
(ii) suspensão27 e (iii) retificação (CPA, art. 174º)28
b) Atos modificativos com caráter saneador (CPA, arts. 164º e 173º, nºs 2 e 3) 29: (i) ratificação-
sanação30; (ii) reforma31 e (iii) conversão32
1
Atos cujo conteúdo determina imperativamente uma conduta ou a sujeição a certos efeitos jurídicos.
2
Atos mediante os quais se impõe o sacrifício de um direito a alguém em benefício da coletividade.
3
Atos através dos quais a Administração impõe a alguém uma conduta traduzida no cumprimento de uma prestação em
benefício da coletividade.
4
Atos pelos quais se aplica uma sanção (pecuniária ou não pecuniária) a alguém por ter adotado uma conduta contrária
à legalidade.
5
Atos que permitem ou habilitam o respetivo destinatário adotar uma conduta ou omitir um comportamento que, em
princípio, lhe estaria vedado.
6
Ato que permite o seu destinatário exercer um direito ou poderes legais que já anteriormente era
titular. 7 Ato que faculta o seu destinatário praticar um ato ou exercer uma atividade que é
relativamente proibida. 8 Ato pelo qual a Administração confere a um sujeito novas posições
jurídicas ativas.
9
Ato através do qual alguém ingressa numa determinada categoria, ficando sujeita a um regime administrativo
específico.
10
Ato pelo qual o delegante permite que o delegado exerça certos poderes cujo exercício estava, inicialmente, apenas a
cargo do primeiro destes órgãos.
11
Ato mediante o qual se permite a alguém que não cumpra um dever legal.
12
Ato pelo qual, desde que a lei o permita na margem de discricionariedade, alguém da Administração declara que não
exerce uma faculdade ou não exigirá uma posição jurídica ativa face a terceiro.
13
Atos que visam promover, incitar e estimular a ação de outros órgãos da Administração ou a atividade dos particulares.
14
Ato pelo qual uma autoridade solicita a outra ou ao particular determinado comportamento.
15
Ato pelo qual se solicita um comportamento decisório de um outro órgão e, simultaneamente, exprime um juízo
sobre o conteúdo possível a dar à decisão.
16
Ato mediante o qual uma autoridade de superintendência instiga um órgão do ente superintendido a realizar
determinado comportamento, tendo em vista alcançar os fins propostos.
17
Ato pelo qual um órgão apela a que outra estrutura decisória adote no âmbito da sua competência determinada
providência ou certo sentido decisório, sem criar para este último, todavia, qualquer obrigação de o fazer.
18
Ato pelo qual a Administração convida um particular ou outro órgão administrativo a adotar uma certa conduta ou a
abster-se de um determinado comportamento tendo em vista a implementação de uma obrigação.
19
Atos que, tendo por objeto outros atos, visam completar estes últimos, atribuindo-lhes algo de novo.
20
Ato que exprime um juízo de conformidade em relação à legalidade ou ao mérito do um ato da Administração ou de
um particular.
21
Ato pelo qual um órgão decisório aceita a sugestão ou a proposta de outro órgão.
22
Ato que expressa um juízo de concordância com o conteúdo de anterior ato.
23
Ato que manifesta um juízo de mérito sobre um (ou vários) ato(s) praticado(s) ao abrigo de uma competência
extraordinária.
24
Atos mediante os quais a Administração altera um ato anterior.
25
Atos cujas alterações efetuadas num outro ato não têm por fim sanar qualquer ilegalidade deste último.
26
Ato que introduz uma modificação não saneadora num anterior ato, sem que envolva a paralisa de efeitos ou a
correção de erros materiais.
27
Ato pelo qual se paralisam, temporariamente, os efeitos de um ato anterior.
28
Ato através do qual se visam corrigir erros de cálculo e materiais de um ato anterior, sem que os mesmos afetem a sua
validade.
29
Atos cujas alterações introduzidas num outro ato visam sanar a sua ilegalidade.
30
Ato praticado pelo qual o órgão competente resolve sanar a incompetência relativa de um ato praticado por um órgão
incompetente sobre a competência do primeiro destes órgãos.
3. Atos consensuais
3.1. Atos consensuais procedimentais: CPA, art. 57º, nºs 1 e 2; 98º, nº 2
3.2. Atos consensuais substantivos: CPA, art. 57º, nº 3; 77º, nº 4
4. Atos tácitos: CPA, arts. 129º e 130º
II – Atos Declarativos
1. Atos de verificação33
1.1. Atos de comprovação34: registo35, inscrição36, atas (CPA, art. 34º), reconhecimentos
notariais
1.2. Atos de certificação37: certidões (CPA, arts. 83º, nº 3; 84º)38,
1.3. Atos de aclaração 42

1.4. Atos de verificação constitutiva43


2. Atos de valoração44
2.1. Juízos qualificativos45
2.2. Pareceres (CPA, arts. 91º e 92º)46
2.3. Informações (CPA, arts. 11º, nº 2; 61º, nº 3; 62º, nº 1, a); 82º a 85º)
2.4. Relatórios47
3. Atos de transmissão48
3.1. Publicação (CPA, arts. 139º e 158º a 159º)49;
3.2. Notificação (CPA, arts. 110º a 114º e 160º)50
3.3. Intimação51
3.4. Comunicação52
31
Ato pelo qual se conserva a parte de um ato anterior não ferida de invalidade.
32
Ato mediante o qual se aproveitam os elementos válidos de um ato inválido, deles emergindo um ato legal.
33
Atos que envolvem uma prévia apreensão de factos, constituindo uma declaração de conhecimento ou de
ciência relativa aos factos observados.
34
Atos mediante os quais a Administração no seu interior verifica a conformidade de certos factos.
35
Inserção em documentos especificamente elaborados e conservados para o efeito de notícias relativas a
factos comprovados pela autoridade ou resultantes de declarações ou documentos fornecidos pelos
interessados.
36
Traduz a inserção de um sujeito ou de uma coisa num elenco respetivo, daí decorrendo, por efeito direto,
um determinado estatuto jurídico.
37
Atos mediante os quais a Administração produz uma atividade para o exterior, declarando o sentido da
comprovação efetuada. 38 São atestados dotados de uma autoridade erga omnes que envolvem uma declaração
de conhecimento ou de ciência relativa a factos face aos quais o declarante tem direto e imediato
conhecimento.
42
Atos que visam esclarecer dúvidas ou tornar mais percetível o sentido de um anterior ato.
43
Atos devidos que traduzem uma declaração enunciativa exigida ad substantiam para a produção de um
efeito jurídico e que têm por finalidade a comprovação de condições de facto taxativamente fixadas na lei para
a modificação de situações jurídicas existentes.
44
Atos que, envolvendo uma prévia apreensão de factos suscetíveis de uma avaliação ou de um juízo
valorativo, traduzem a enunciação de um juízo estimativo de natureza técnica ou de conveniência
administrativa sobre o objeto da valoração.
45
Atos mediante os quais a Administração procede a uma estimativa avaliativa, segundo critérios técnicos de
justiça material, de pessoas, coisas ou factos.
46
Atos que contêm uma opinião expressa por peritos especialistas em determinados ramos do conhecimento
técnico-científico ou proveniente de órgãos colegiais consultivos.
47
Atos pelos quais se expõe o resultado de uma apreciação sobre determinada situação concreta relacionada
com uma atividade desenvolvida pelo seu autor.
48
Atos mediante os quais a Administração comunica a outro órgão ou aos cidadãos o conhecimento de
determinado ato, facto ou situação.
49
Ato pelo qual se permite o conhecimento geral por parte de toda a coletividade de um ato, facto ou situação.
50
Ato pelo se transmite individualmente ao destinatário específico de um ato o conteúdo do mesmo ou se lhe
faz saber um facto ou uma situação do seu interesse próprio.
51
Ato mediante o qual a Administração convoca formalmente um particular, um titular de órgão ou o próprio
órgão para o cumprimento ou a observância de uma obrigação.
52
Ato pelo qual se noticiam factos ou situações entre dois ou mais órgãos da Administração.
Procedimento do ato administrativo

Estrutura dos atos administrativos em especial

Principais espécies de atos administrativos


- A estrutura base obedece a esta dicotomia já muito conhecida:
1. Atos administrativos de natureza constitutiva: introduzem modificações
à ordem jurídica (que têm, no fundo, um conteúdo inovador)
2. Atos administrativos de natureza declarativa: não complementam, não
aditam, não complementam nem atribuem nenhuma característica nova à ordem
jurídica

Apresentação panorâmica dos diversos tipos de atos administrativos:


1. Atos
constitutivos
1. Atos
primários
1. Atos impositivos
2. Atos permissivos
3. Atos propulsores
2. Atos secundários
1. Atos integrativos
2. Atos desintegrativos: revogação e anulação administrativa
3. Atos modificativos
3. Atos consensuais
4. Atos tácitos
2. Atos declarativos
1. Atos de verificação
2. Atos de valoração
3. Atos de transmissão

Nota prévia: observando o esquema (entregue em aula pelo Professor) dos atos
administrativos, podemos observar o quanto o CPA deixa sem regulamentação
expressiva - poucos são os artigos que estão identificados à frente dos tipos de atos
administrativos. A regra é que o código é omisso, claro que tem um regime geral, que
se aplica aos diversos atos administrativos, mas a regra é a ausência de um regime
específico. Tá no mail.
Atos constitutivos:

- Quanto aos atos constitutivos, são os que introduzem alterações na ordem


jurídica, essas alterações podem ser introduzidas em dois cenários radicalmente
distintos:
1) Atos primários: são introduzidas alterações pela primeira vez sobre uma
determinada matéria. Isto é, são atos que vêm no fundo disciplinar uma
situação jurídica sem que essa situação tivesse alguma vez sido objeto de
qualquer regulação jurídica. São os chamados atos primários porque regulam a
1ª disciplina jurídica sobre a situação.
2) Atos secundários: incidem sobre anteriores atos - têm no fundo como objeto
anteriores regulações jurídicas (atos de natureza secundária). Vêm alterar,
modificar, revogar etc.
3) Atos consensuais: atos que têm por base um acordo/consenso entre o autor
(AP) e os destinatários. Assentam sobre um acordo prévio, que pode incidir
sobre:
a) regras procedimentais (i.é, regras que vão conduzir a uma decisão) -
os atos consensuais procedimentais 57º/1 e 2 e 98º/2
b) regras que podem incidir sobre o próprio conteúdo da decisão
administrativa - atos consensuais de natureza substantiva 57º/3 e
77º/4
c) Verifica-se a participação dos particulares, uma autovinculação
dos particulares e uma contratualização da decisão
administrativa.
• Há matérias que não são suscetíveis de contrato
• A boa vontade do particular não pode permitir atos
consensuais contra lei. A administração a ela está
vinculada e é essa a função do MP

Problemas que se podem levantar quanto a estes atos (3 linhas de regime):


1. Vícios que ocorram no acordo projetam-se no respetivo ato. Isto é:
irregularidades a montante têm efeitos a jusante; se o acordo celebrado
desrespeitou regras jurídicas, o resultado desse acordo traduzido num ato
unilateral estará ferido de invalidade consequente ou derivada.
2. Alterações de circunstância: podem ocorrer sobre a base em que se
alicerçou o acordo, e essa alteração projeta-se sobre o próprio ato
administrativo consensual. E projeta-se em que termos? Pode determinar a
cessação de efeitos ou justificar a sua modificação. Ou seja, uma vez mais
a relevância da alteração de circunstâncias na base do acordo com
fundamento que se projeta depois sobre a vida ou sobre as vicissitudes da
vida do ato.
3. (Aspeto de natureza muito controvertida) o acordo que está na base do ato
consensual pode pressupor uma natureza bilateral de obrigações. Isto é,
nem só obrigações por parte da AP mas também obrigações por parte do
destinatário ou dos destinatários desse ato. Isto é relevante porque pode
ocorrer que exista incumprimento por parte de uma das partes, e a questão
é saber se isso é relevante que a outra parte justifique o incumprimento.
Isto é, saber se é relevante aqui suscitar a temática da exceção do não
cumprimento, no âmbito do acordo prévio mas que se projeta depois na
decisão administrativa. De algum modo, os atos consensuais têm a sua
vida pautada pelo acordo que está na base da sua emanação.
4. A interpretação e a integração destes atos administrativos deve fazer-se
em harmonia com o respetivo acordo que está na base da sua
emanação. O acordo serve de pauta/critério/luz interpretativa e
integrativa das omissões e obscuridades do respetivo ato administrativo
consensual.
Nota: estes acordos de base dos atos consensuais são de natureza informal,
e decorrem da audiência prévia dos interessados. Ora, se é possível ouvir
sobre o sentido da decisão, também é possível consensualizar sobre o
conteúdo da decisão. Hoje a matéria está ultrapassada, desde a reforma do
CPA de 2015, havendo disposições expressas sobre esta matéria.
4)Atos tácitos: atos que resultam do silêncio administrativo (129º e 130º CPA). (ver
inatividade)
Recuemos ainda em matéria dos atos constitutivos, ao tema dos atos primários:

Atos primários:
- 3 tipos de atos primários, que podem ter 3 naturezas diferentes

1. Atos de natureza impositiva: impõe uma conduta injuntivamente, que tanto


pode ser por ação como por omissão:
1. Atos ablativos (envolvem um sacrifício, que beneficia a
comunidade. Envolvem a privação de direitos ou liberdades.
• Sobre direitos reais
• Podemos ter 2 tipos de atos ablativos
• Extinguem o direito real ex. Expropriação (envolve
pagamento de indemnização ao particular), confisco (não
há pagamento). Pode ocorrer também pela destruição do
bem, uma situação de necessidade.
• Modificam o direito real. Ex. Requisição civil. Barco que
é requisitado para salvar pessoas numa inundação. Ex. 2
ocupação temporária ou imposição de servidões.
• Sobre direitos de crédito
2. Atos obrigacionais (impõe o cumprimento do dever; impõe no fundo
uma determinada prestação, uma conduta por ação ou omissão.
Exemplos: ato tributário, que impõe o pagamento de uma quantia
(obrigação de dare); ato que impõe a obrigação de prestação de serviço
militar obrigatório;
• Internos: Poder de direção do superior hierárquico
• Externos: Quando a polícia diz para dispersar numa
manifestação ilegal.
3. Atos de conteúdo sancionatório (aplicam uma sanção, que pode ser de
caráter pecuniário ou não pecuniário. Exemplos: multa por mau
estacionamento de uma viatura. Pode ser não pecuniário. O advogado
que viola o código deontológico pode ser suspenso de exercer a profissão
durante um mês (as sanções disciplinares aos alunos ou aos inferiores
hierárquicos também estão aqui).
• Estes atos têm um procedimento administrativo importante. Este
é dominado pela ideia de devido procedimento igual,
designadamente o direito ao contraditório. Ninguém pode ser
sancionado sem ouvir.
• A eficácia erga omnes da declaração de inconstitucionalidade
com força obrigatória geral nos termos do artigo 282º/3 da CRP
em regra é retroativa, tudo é destruído. Exceto o caso julgado,
ou os atos administrativos consolidados na ordem jurídica. Se o
ato for sancionatório e a solução for mais favorável ao
particular, neste caso pode-se destruir o caso julgado
administrativo.
Os atos impositivos têm uma grande importância, designadamente pela natureza
desfavorável para os destinatários. Aqui, nestes atos impositivos, tem especial
importância o princípio da proporcionalidade (em termos substantivos), e o princípio
do devido procedimento legal, o procedimento equitativo (em termos
procedimentais). Sobre este último princípio caem um conjunto diverso de garantias -
repare-se que estas categorias de atos são muito importantes porque nos ajudam a
perceber a importância dos princípios falados no início do semestre.
2. Atos permissivos: limitam-se a permitir uma determinada conduta. Não
impõe, não criam uma vinculação para o destinatário, apenas o habilitam
para uma determinada conduta, sem a qual o ato não seria admissível.
Tipos de atos permissivos:
1. Autorização: permite-se o exercício de uma atividade que é normalmente
lícita.
2. Licença: permite se o exercício de uma atividade que é normalmente
proibida
São atos favoráveis ao destinatário principal. Mas em termos colaterais pode
produzir efeitos negativos. Ex. Licença de construção, positivo que quem a
recebe, negativa para quem perde a vista para o mar. Estes são atos
poligonais, com múltiplos efeitos.
Exemplo: a utilização de armas não é uma atividade de natureza lícita,
por isso há aqui uma situação de licença de porte de arma e não de
autorização.
Levanta-se aqui um problema interessante na área do urbanismo, que se
prende com a "licença de construção”: esta designa-se licença, mas há uma
dúvida jurídica - o direito de propriedade privada envolve ou não a faculdade
de construir? Se considerarmos que a faculdade de construir resulta do
direito de propriedade privada, o ato administrativo que permite a construção
não é uma licença, mas é uma autorização, apesar de designada licença. Pelo
contrário, se entendermos que a faculdade de construir não é inerente ao
direito de propriedade privada, mas é um direito concedido
administrativamente, então o ato pelo qual se permite a construção do imóvel
não tem a natureza de autorização, mas sim a natureza de licença (conferindo
um direito que dá ao particular um direito.
A questão que colocamos é: em que é que isto ajuda? Em que é que estas
duas conceções ajudam?
Qual das duas conceções é a mais favorável ao particular? É a que entende
que a construção é objeto de uma autorização administrativa, ou a que
entende que a construção é objeto de uma licença administrativa?
Resposta: é a autorização, porque é uma faculdade que ele tem antes da
intervenção administrativa, mas que está sujeita, simplesmente, a uma
intervenção administrativa - mas a raiz do direito já está na sua esfera
jurídica. Ainda há uma outra consequência: é que sendo um direto que ele já
tem na sua esfera jurídica, goza da proteção constitucional concedida ao
direito de propriedade, e por isso é no fundo um trunfo que ele tem perante a
intervenção administrativa.
Repare-se que as duas construções não são isentas no âmbito do regime
administrativo - a tese da licença reforça o peso da administração; a tese da
administração reforça o peso da esfera jurídica do particular.

3. Atos de concessão: tanto pode se um ato administrativo como pode ser por
um contrato, com uma particularidade que resulta do CCP (Código dos
Contratos Públicos) - os atos de concessão estão sujeitos se deles resultar
uma questão concorrencial, às regras dos contratos públicos.
4. Atos de admissão: Investe o particular numa determinada Posição
Jurídica sem que daí resulte a obrigatoriedade. Ato através do qual
cada um de nós entrou na FDL.
5. Atos de delegação: é também uma permissão, de um órgão exercer
poderes que normalmente pertencem a outro.
6. Atos de dispensa: alguém é exonerado; é no fundo isento do cumprimento
de um dever legal. Pode ser um efeito automático, sem necessidade de um
ato administrativo. Exemplo: dispensa de exame, caso se tenha 12 ou mais
valores em avaliação contínua (efeito automático da verificação de um
facto), ou então através de ato administrativo, como a escusa.
7. Atos de renúncia: através da renúncia o próprio dispõe de uma posição
jurídica, claro está só é possível se a posição for disponível. Tanto pode
ocorrer por parte do particular como da parte da administração. Em
qualquer um dos casos, só pode haver renúncia de posições jurídicas com
esta nota - são mais as posições jurídicas disponíveis por parte dos
particulares do que são as posições jurídicas por parte da administração (e
há inclusive áreas em que a administração jamais pode renunciar).
Exemplo: a matéria que a AP não pode renunciar é a competência.

3. Atos propulsores: atos através dos quais se procura no fundo incitar ou de


algum modo desencadear uma conduta, de outros órgãos da administração ou
de um particular.
1. Pedido: pedido de uma autoridade administrativa (não é, aqui, o pedido
do particular à administração) dirigido a uma outra autoridade
administrativa ou a um particular. Exemplo: pedido de apresentação do
certificado de cadeiras feitas, ou de prova de conclusão do secundário.
Naturalmente, a AP vai valorar se o particular não apresentar essa prova.
Mas o pedido pode ser dentro da próprio AP (intradministrativo) -
Exemplo: os serviços da administração polícia pedirem certificado de
prova de que a pessoa x tem a situação fiscal regularizada - pedem não ao
particular mas sim à autoridade tributaria ou à segurança social.
2. Proposta: através da proposta solicita-se um comportamento decisório,
face a algo que não é ainda uma decisão (trata-se aqui de uma proposta da
administração face a outra estrutura administrativa). A proposta é apenas
um juízo, é apenas um esboço daquilo que poderá vir a ser o conteúdo de
uma possível decisão. As propostas não são vinculativas, por via de regra.
Sempre que as propostas sejam vinculativas levanta-se um problema, uma
dúvida legítima: passa a existir uma vinculação do destinatário, e pode
gerar problemas de competência material, ou de autonomia material. É que
quando há uma proposta vinculativa, o decisor não tem liberdade de
decisão - decide aquilo que é o conteúdo da proposta e por isso suscita-se o
problema de saber afinal, quem é o autor material - é o que decide no final
ou aqui que faz a proposta vinculada? Isto é muito relevante em termos de
responsabilidade - quem é o autor do dano? É aquele que decide
formalmente ou aquele que apresentou uma proposta que não havia
margem para dela fugir? O decisor, mesmo quando a proposta é vinculativa
(exceção) o decisor pode recusar a proposta, fundamentando, e são
obrigados a pedir nova opinião sobre a matéria.
3. Diretiva: (superintendência) Fixa o fim e dá a liberdade de meios quanto
aos meios para atingir esse fim. O fim está na base da diretiva.
4. Recomendação: aqui apela-se para que o órgão decisório tome uma
determinada decisão, sem que esta, no entanto seja obrigatória. Não é
injuntiva.
5. Advertência: apela-se/convida-se para que se adote uma determinada
da conduta, mas este apelo tem subjacente uma ideia ou efeito negativo
se não for adotado. Não se impõe a conduta, mas na base da advertência
está um desvalor - um efeito de natureza negativa se a conduta que é
aconselhada não for adotada.
Trata-se de uma questão de formulação linguística:
Exemplo: “está na altura de começarem a estudar Direito Administrativo”; “se
não estudarem Direito Administrativo, temo pelos efeitos dessa ausência de
estudo” - no primeiro caso há uma recomendação e no segundo há uma
advertência;
Exemplo 2: “evite a exposição solar às horas de maior calor” - recomendação;
“a exposição solar às horas de maior calor é prejudicial à saúde” - advertência
Exemplo 3: “vacine-se contra a gripe” - recomendação; “se não se vacinar
contra a gripe corre sério perigo” - advertência.
Exemplo 4: “se beber não conduza” - recomendação; “o álcool na condução
mata” - advertência.

PO: há aqui graus diferentes de intensidade.


Atos secundários: São sempre atos que incidem sobre outros atos anteriores. 3 tipos:
1. Atos integrativos: Tendo por objeto outro ato aditam qualquer coisa que
anteriormente não tinham
1. Aprovação é o exemplo típico, porque se exprime um juízo de
conformidade de um órgão relativamente à legalidade ou conveniência de
um ato jurídico praticado por outro órgão. Exemplo: o orçamento de uma
entidade da administração indireta pode estar sujeito a aprovação por parte
do Ministro das Finanças - o orçamento já existe, mas não produz efeitos
até que o Ministro das Finanças aprove. E repare-se que a aprovação pode
ser expressa ou tácita (Exemplo: após o prazo de 15 dias após a
apresentação do ato do orçamento, se nada for dito em contrário, daí resulta
a sua eficácia - há aqui uma aprovação tácita).
2. Homologação: Ato pelo qual o órgão com poder decisório aceita a
sugestão/proposta apresentada. Exemplo: um subalterno apresenta uma
proposta de decisão ao superior, e o superior escreve por cima
“homologo”, fazendo seu o conteúdo da proposta de decisão do
subalterno. A partir do momento da homologação o autor do conteúdo
decisório é o superior. Há 2 atos, o de homologação e o sujeito a
homologação. No entanto, o ato de homologação consome o ato
apresentado, significa que a partir da homologação, o ato apresentado
(como proposta) deixa de ser autónomo. Assim, se o ato homologado
tiver vícios, estes comunicam-se com o ato de homologação.
3. Confirmação: através da confirmação há um juízo de concordância com o
conteúdo de um anterior ato. Há um órgão que no fundo expressa a ideia de
que aquele ato anterior tem mérito, de tal forma que se fosse ele a decidir
decidiria do mesmo modo. A confirmação é no fundo uma segunda decisão,
sobre a mesma matéria e com o mesmo conteúdo decisório, mas feita
normalmente por um órgão diferente. Pode contudo ser feita pelo mesmo
órgão ou por órgãos diferentes. Note-se que quem confirma
coresponsabiliza-se pelos efeitos da decisão.
4. Ratificação confirmativa: é também uma confirmação, mas com a grande
diferença de que aqui é o órgão competente que decide no fundo intervir,
sobre um ato praticado ao abrigo de uma competência extraordinária de outro
órgão. Ou seja: houve um órgão que agiu primeiro, e agiu ao abrigo de uma
competência extraordinária, excecional. Pode-se justificar que o órgão
normalmente competente venha em caso x emitir um juízo a dizer se
concorda ou não com a decisão daquele órgão que anteriormente praticou o
ato a título excecional. No fundo, a ratificação confirmativa significa a
intervenção (juízo de conformidade) do órgão normalmente competente
sobre uma matéria que é objeto de decisão por um órgão excecionalmente
competente.
2. Atos desintegrativos: Atos que visam cessar os efeitos de anteriores atos
ou de anteriores efeitos produzidos por anteriores atos. Estes estão
regulados nos artigos 165º a 172º do CPA, revogação e anulação
administrativa. A revogação e anulação têm um regime especial complexo.
Na revogação a cessação de efeitos ocorre por questões de conveniência, ao
passo que na anulação a cessação é determinada por razões de ilegalidade.
3. Atos modificativos: Atos que alteram atos anteriores podem ter como
propósito resolver uma situação de invalidade
1. Atos sem caráter saneador (de invalidade): são eles previstos nos 173º e
seguintes
• (1) alteração em sentido estrito;
• (2) suspensão (paralisa temporariamente o efeito, não é revogação, porque
não se extingue, também não se confunde com atos sujeitos a uma condição
suspensiva, visto que a suspensão exige um novo ato, não basta um facto);
• (3) retificação (tem a ver com erros materiais por lapsos, 174º). Aqui
corrige-se o errado.
Nota: a suspensão pode traduzir-se numa falsa suspensão, isto é, imagine-
se um caso em que se resolve suspender, a um idoso de 70 anos, o
pagamento da respetiva reforma durante quatro anos. Isto significa,
materialmente, uma verdadeira revogação. Ou ainda, noutro exemplo,
imagine-se que determinado aluno da FDUL é alvo de uma suspensão por
20 anos - verdadeiramente não seria uma suspensão, mas sim uma
expulsão.
2. Atos com caráter saneador: Estão no 164º e 173º/2 e 3 do CPA
• (1) a ratificação saneadora (que é a intervenção do órgão competente
sobre um ato jurídico de incompetência relativa de um órgão
incompetente. Elimina-se a incompetência de um ato prévio. Isto só é
possível em relação a atos anuláveis, nunca nulos. A usurpação de
poderes implica nulidade);
• (2) a reforma (que é expurgar o aspeto inválido);
• (3) a conversão (aproveitar o que há de válido para um novo ato).
• Não impede nenhum destes a impugnação de efeitos
relativamente à atuação saneadora, não impedindo a
responsabilidade civil, disciplinar e controlo judicial.
I. Atos declarativos:
- São atos que não introduzem alterações nem inovações na ordem jurídica; (Apenas
segurança jurídica)
- Categorias de atos declarativos:
1. Atos de verificação: atos verificativos são atos que emitem uma declaração de
ciência ou de conhecimento, isto é, verificam uma realidade factual e procedem
à respetiva declaração de que assim é; podem ser atos que comprovam,
certificam, esclareçam o sentido de anteriores atos ou podem ser atos que
procedam a uma verificação constitutiva (estes reconhecem a existência de um
facto e certificam esse facto e discute-se, por isso, a questão de saber se são
verdadeiramente constitutivos ou se “ficam a meio caminho entre os atos
declarativos e os constitutivos”). As atas têm um regime próprio no CPA artigo
34º; os atos que se traduzem em certidões também têm regime especial no
código do CPA. Todos os demais não têm um regime jurídico na lei: são
aplicáveis as regras gerais dos atos administrativos com as devidas adaptações à
respetiva atividade.
• Nota: Pode haver atos declarativos que tenham efeitos constitutivos.
Imagine-se que há uma certificação com erro. Se este não for
impugnado no seu prazo produzirá efeitos constitutivos. Ex. Aluno
que teve 12, e aparece 15 no fénix.
2. Atos de valoração: atos que têm pressupostos que assentam em factos,
simplesmente procedem a uma avaliação desses atos, não se limitando a
declarar. Têm subjacente um juízo avaliativo sobre esses factos. Podem ter
uma apreciação técnico-científica. Ex: pareceres (91º e 92º) da administração.
• Em regra, são obrigatórios, mas não são vinculativos. Ainda assim, se
o parecer diz sim e o órgão diz não, este “não” tem sempre de ser
fundamentado);
• Nos vinculativos, mesmo assim o decisor é quem emite o parecer, sob
pena de ilegalidade. Só é vinculativo se for válido, se for ferido de
nulidade, tem de justificar e decidir em sentido diverso, ou no mesmo
sentido, mas não se alicerçando no parecer.
• 92º/3 na falta de prazo, 30 dias. O decisor não pode estar à espeta para
sempre. O CPA permite se decorrer o prazo e depois de intimado, o
decisor poderá decidir sem parecer, de modo a evitar um “direito de
veto”.
• Informações (uma coisa é a informação verbal outra coisa é a
informação escrita, esta gera responsabilidade civil caso não
corresponda á realidade, ao contrário da informação oral); são atos de
valoração, os relatórios.
3. Atos de transmissão: visam comunicar um ato, um facto, uma situação.
O ato que introduz alterações é que é objeto de um ato de transmissão.
Estes podem ser atos de:
• Publicação, 139º, 158º e 159º
• Notificação, 114º, 160º
• Intimação
• Ex. Uma coisa é um mail que me notifica que estou a ser objeto
de uma inspeção tributária. A decisão é prévia, e a comunicação
sucessiva. Um vício no ato de transmissão não inquina o ato
anterior. Antes torna o particular inoponível.

Principais categorias de atos desintegrativos 165º a 172º


- Atos constitutivos > atos secundários > atos desintegrativos

Anulação e Revogação
- Antes de 2015, não havia a figura de anulação administrativa, tudo era visto como
uma revogação; Hoje, em ambos os casos o propósito é cessar efeitos, mas
enquanto na revogação, o fundamento tem a ver com o mérito, conveniência e
oportunidade do ato, na anulação, o fundamento tem a ver com a ilegalidade.

1. Revogação 165º
Pressupõe dois atos – o ato revogado (aquele cujos efeitos são extintos) e o ato
revogatório (aquele que cessa os efeitos do ato anterior). A revogação diferencia-se
da suspensão, na medida em que nesta há uma cessação temporária de efeitos e
naquela há uma cessação definitiva. Em bom rigor existe apenas revogação de
efeitos, não de atos. O ato em si é um facto que não se pode apagar, apenas os
efeitos gerados. Note-se ainda que em regra a anulação tem efeitos retroativos, ao
passo que a revogação não os tem, conforme o 171º/1.
Espécies de revogação:
- Quanto ao autor, a revogação pode ser:
• (1) por iniciativa da administração – designa-se de revogação oficiosa, e
tanto pode ser desencadeada pelo autor do ato (retratação) ou por outro
órgão administrativo que não o autor do ato, ex. o superior hierárquico;
• (2) a requerimento do particular/ interessado (169º/1) – pode ser pedida
ao autor do ato (reclamação) ou pedida a um órgão que tem poderes de
supremacia sobre o autor do ato (recurso hierárquico/ recurso
administrativo).
- Quanto ao seu conteúdo, poderá ser uma:
• (1) revogação simples – apenas tem efeitos destrutivos, ou seja, cessa os
efeitos do ato anterior ato.
• (2) ou substitutiva – aqui há uma nova disciplina jurídica, onde a
revogação ocorre por incompatibilidade com o novo regime jurídico.
Substitui-se a solução jurídica.
- Quanto aos efeitos, a revogação pode ter:
• (1) eficácia ex nunc/ ab-rogatória – 171º/1 – apenas produz efeitos para
o futuro, ou seja, o ato cessa efeitos a partir de agora.
• (2) ou eficácia ex tunc – cessa os efeitos desde o início, ou seja, produz
efeitos retroativos. Esta é a exceção e aquela é a regra.

Quem tem competência revogatória? Para responder a esta pergunta, podemos


encontrar cinco respostas:
1. Pode revogar o ato o seu autor, o autor tem sempre competência revogatória
ao abrigo da sua competência dispositiva, isto é quem pode praticar o ato, pode
em princípio, competência para revogar o ato – 169º/2; pode ocorrer que o
órgão competente deixe de ter competência para revogar (ex: se houver recurso
hierárquico de A para B, A já não poderá revogar, porque a competência foi
atribuída ao superior; na delegação de poderes, o delegado perde os seus
poderes, depois de praticar o ato; ou se tiver uma alteração legislativa acerca da
competência do autor do ato, onde A era competente e essa competência passou
para B). 169º/4.
2. O superior hierárquico – pode revogar o ato, mas nos termos do 169º/2
parte final, mas o superior não pode revogar, se a competência for exclusiva
do subalterno. Quem pode revogar pode suspender. O superior pode revogar
por 2 ordens de razão:
• Responsável pela totalidade da função.
• Dentro do poder hierárquico há o poder de supervisão.
Notas:
 O superior tanto pode revogar o ato por iniciativa do interessado
(situação de recurso hierárquico), como pode revogar o ato
avocando, isto é, chamando a si a revogação, sem necessidade que o
particular interessado tenha interpostos;
 É admissível a exclusão da competência exclusiva do subalterne da área do
poder de revogação do superior. Isto, porque quem vai ao parlamento ter de
responder pela atuação do subalterno é o superior hierárquico. Não é
admissível que este tenha de responder por aquele, mas depois não tenha o
poder de revogar o ato, se este for inoportuno e inconveniente, porque isso
seria não ter controlo sobre a atuação do subalterne. Mas mesmo que o
superior hierárquico não tenha o poder de revogar os atos praticados pelo
subalterne, ao abrigo da competência exclusiva, há sempre uma coisa que o
superior hierárquico tem: o poder de lhe dar uma ordem para revogar, na
medida em que o superior pode ditar o conteúdo da atuação do subalterne. E
se ele não acatar, no limite, pode ser disciplinarmente responsabilizado.
3. O delegante – pode sempre revogar os atos praticados pelo delegado, tal como
o delegado pode fazê-lo em relação ao subdelegado, porque aquele é delegando
deste – 169º/4. Mesmo que não existisse este artigo, o delegante poderia
sempre revogar o ato, porque quem pode mais pode menos: se ele pode revogar
a delegação de poderes, também pode revogar os atos praticados. (49º/2). O
44º/5 diz que os atos do delegado valem como se fossem do delegante, sendo
estúpido se o delegante não pudesse revogar atos que afinal são como se
tivessem sido emanados por si.
4. Órgãos que exerçam poderes de superintendência ou poderes de tutela –
169º/5 – embora seja apenas nos casos expressamente previstos na lei. O Otero
tem dúvidas, no sentido em que, por força do art. 51º CRP, que estabelece a
aplicabilidade direta do direito fundamental de petição, a administração está
vinculada a dar resposta à petição e, consequentemente, por via do direito de
petição atribui-se poder revogatório a estas entidades. Se não houver recurso
administrativo só poderá haver revogação nos casos previstos da lei.
5. Órgão competente preterido – aquele que viu os seus poderes invadidos por
um outro órgão em sede de incompetência relativa – 169º/6. Ex: a câmara
municipal de lisboa pratica o ato que é da competência da Assembleia
municipal de lisboa (dois órgãos da mesma pessoa coletiva) – a câmara
municipal invadiu a competência da assembleia municipal, logo este pode
revogar o ato daquele.
Regime da revogabilidade dos atos – assenta em três ideias síntese:
1. Existem atos que não podem ser revogados: art. 166º/1 – são eles os atos
nulos (nunca produziram efeitos), anulados contenciosamente e os atos
revogados com eficácia retroativa.
Questão: o ato nulo é objeto de um ato de revogação; de que vicio padece o ato
de revogação? A revogação é a cessação de efeitos, ora não se pode revogar um
ato nulo, porque um ato nulo nunca produziu efeitos. É uma violação de lei
por impossibilidade jurídica; o problema é o objeto, porque o ato não tem
sequer objeto – é nulo nos termos do art. 161º/2 c). Objetivamente é assim, mas
pode ocorrer que subjetivamente haja uma falsa representação da realidade, ou
seja, pode ser que se verifique uma situação de erro sobre a possibilidade
jurídica da revogação.
2. Quando é que um ato já revogado pode ser objeto de revogação? 166º/1 c)
– ex: ato B revoga ato A; mas a revogação tem eficácia ex nunc (ou seja, sem
eficácia retroativa). Poderá o ato voltar a ser revogado? Sim, se aparecer um
ato C que pretenda revogar ex tunc o ato A. Ou seja, pretende ir para além da
revogação feita pelo ato B: o primeiro não tinha eficácia retroativa e este tem.
3. Os atos válidos, são livremente revogáveis com fundamento em razões de
mérito – 167º, a contrario. Exceções:
 Não são livremente revogáveis se resultam de uma vinculação legal, ou seja,
se a lei diz que têm de existir, a administração não os pode revogar,
contrariando a lei;
 Se esses atos criam obrigações legais ou direitos irrenunciáveis para a
administração;
 Se forem atos constitutivos de direitos válidos. (regime especial de revogação)

Os atos administrativos são livremente revogáveis; esta livre revogabilidade tem


limites de 3 ordens:
 Não são revogáveis atos que correspondem a vinculações legais;
 Não são livremente revogáveis os atos que correspondam à criação de
obrigações legais ou direitos irrenunciáveis por parte da administração
 Não são livremente revogáveis atos constitutivos de direito.
São atos constitutivos de direito – 167º/3 – todos aqueles que reúnam uma de três
características:
 Conceda um direito ou um interesse legalmente protegido, isto é, confira
uma posição jurídica favorável;
 Liberte, isto é, remova, total ou parcialmente, o particular de uma posição
jurídica passiva.
 O ato que amplia uma posição jurídica favorável anterior.
Há dois tipos de atos que não são constitutivos de direito em termos de regime (ou
seja, que podem ser revogados?):
1. São os atos precários – aqueles que estruturalmente são constitutivos de
direito, mas cuja natureza é precária, porque, por exemplo, estão sujeitos a
uma condição resolutiva ou suspensiva. Ou seja, investem o particular
numa posição jurídica favorável, mas essa posição tem qualquer coisa que
a torna provisória. Estes atos podem ser livremente revogados,
verificando-se a cláusula acessória que lhes confere a respetiva
precaridade 167º/2/d + 167º/ 3 parte final – por outras palavras, os atos
precários são aqueles que têm como condição ou cláusula acessória a sua
revogabilidade. Estruturalmente são constitutivos de direitos, mas seguem
o regime dos atos não constitutivos de direito, porque são livremente
revogáveis. A sua precaridade resulta de uma cláusula de revogabilidade.
2. Os atos verificativos – em primeiro lugar, a lei nada diz sobre estes; há
uma construção doutrinária jurídica que diz que: os atos de cerificação são
estruturalmente não constitutivos de direitos, mas seguem o regime dos
atos constitutivos de direitos. Exemplo de um diploma de curso.
Exemplo: Decreto Lei revoga o certificado de os alunos que foram
aprovados na cadeira x; é um ato administrativo, porque é um ato
individual e concreto que tem como destinatários um conjunto de pessoas
determinável – é um ato plural, o que significa que são tantos os atos
administrativos quantos os respetivos destinatários, ou seja, alunos
atingidos por este DL revogatório. O que está em causa é a revogação do
ato verificativo de certificação que titula uma situação de facto – a
aprovação na disciplina x. A titulação da aprovação não é o ato que fez os
alunos aprovados, o que os fez aprovados foi a classificação que
obtiveram no exame e o que está a ser revogado é o ato que titula a
respetiva aprovação (os atos verificativos não são estruturalmente
constitutivos de direitos, mas seguem o regime dos atos constitutivos.
Regime a que estão sujeitos os atos constitutivos de direitos: o princípio é o da
proibição da revogação e a exceção ao princípio está consagrada no artigo
167º/2: os atos constitutivos de direitos podem ser revogados.
a) Nas partes em que são desfavoráveis ao particular
b) Se todos os destinatários devem a sua concordância e o direito não for
indisponível.
c) Quando a superveniência de conhecimentos técnico científicos ou
alteração de circunstâncias possam fundamentar a revogação, mas só
podem fazê-lo se, à data em que o ato foi praticado, ele não deveria ter
sido praticado. Esta revogação por alteração das circunstâncias ou dos
conhecimentos técnico-científicos, só pode ser feita no prazo de um ano (a
contar do conhecimento)– 167º/4 CPA – com a particularidade de que se o
particular estava de boa-fé, o ato pode ser revogado, mas a revogação
concede-lhe o direito de ser indemnizado – 167º/5; concretização do
conceito indeterminado de boa-fé – 167º/6. Caso de RC por ato lícito.

- Quanto às formas e formalidade:


- Artigo 170º estabelece o princípio do paralelismo das formas, ou seja, o ato
de revogação deve seguir a forma – 170º/1 – e as formalidades – 170º/3 –
que foram adotadas para o ato que foi revogado;
- Exceções – 170º/2 + 170º/3. Se o ato revogado tiver excecionalismo de forma.
- Quanto aos efeitos da revogação:
- Em regra, esta só produz efeitos para o futuro – 171º/1;
- Exceções – pode ser retroativa quando for favorável aos interessados ou quando
eles expressamente concordem, desde que não exista uma posição jurídica
desfavorável – 171º/1.

Nem sempre é assim tão fácil. Para uns um ato pode ser constitutivo de direitos e
para outros não o ser. Se alguém num concurso público só pode haver 1 vencedor, o
ato que institui o vencedor do concurso será constitutivo de direitos para quem o
ganhou e para os outros não houve provimento. Assim, o regime de cada ato poderá
variar de acordo com o destinatário, o que aumenta em muito a complexidade deste
regime.
1. Anulação:
Pressupõe a ilegalidade do ato, ou seja, através da anulação os efeitos do ato
ilegal cessam. Perante um ato ilegal, o que é que a administração deve fazer? O
ato de anulação administrativa é um ato vinculado? Não é um ato vinculado, pois
a administração pode sempre escolher um de dois caminhos: ou anula (destrói o
ato) ou procede à sanação da ilegalidade (aproveita o ato), mas nunca poderá
ignorar a ilegalidade, tendo o dever de a repor. Note-se, que por norma esta figura
tem efeitos retroativos. A anulação também simplifica a vida aos tribunais. Se a
própria administração reconhece que produziu um ato ilegal, não precisa de
esperar que o tribunal o venha a declarar. Para além disto, o pressuposto de base é
que o ato que venha a ser anulado seja anulável, nunca nulo. Isto, porque um ato
nulo não produz efeitos, como tal não se pode anular um ato nulo, os seus efeitos
não podem ser cessados.

Figuras afins da anulação administrativa


- Anulação administrativa – é feita ao abrigo do poder de uma autoridade
administrativa; obedece a um procedimento administrativo; forma caso
decidido administrativo; Anulação judicial – feita ao abrigo de um tribunal;
obedece a um processo judicial; obedece a caso julgado; é um ato declarativo,
na medida em que se limita a verificar que aquele ato não produziu nem ira
produzir efeitos. A forma é a sentença.
- Anulação administrativa – é sempre um ato constitutivo (altera a ordem
jurídica), na medida em que introduz uma alteração na ordem jurídica (cessação
de efeitos); Declaração de nulidade – é um ato declarativo, pois limita-se a
verificar que o ato em causa não produziu nem vai produzir quaisquer efeitos.
Mas atenção que a declaração de nulidade pode ter natureza constitutiva:
quando por razões de boa-fé, de decurso do tempo se entenda reconhecer
efeitos jurídicos a atos nulos.
- A anulação administrativa só tem por objeto os atos anuláveis; mas nem
sempre é assim – o que é que acontece ao ato administrativo que reconhece
efeitos jurídicos ao ato nulo? Ou seja, nunca poderá este ato ser destruído ou
extinto (e, portanto, ser objeto de cessação de efeitos)? Por uma questão de bom
senso, deve permitir-se que se destrua. Não faz sentido permitir que efeitos
jurídicos de um ato nulo tenham maior permanência do que efeitos jurídicos do
que um ato anulável. Estando de acordo sobre isto, cabe saber se esse ato que
reconheceu efeitos jurídicos ao ato nulo cessa a vigência por efeito de
revogação ou por efeito de anulação. São efeitos jurídicos válidos ou são efeitos
jurídicos que têm o “pecado original” de terem sido efeitos jurídicos do ato nulo
e, por isso, continuam a ser efeitos jurídicos inválidos. Se entendermos que
esses efeitos passam depois de reconhecidos, a serem válidos, o ato só pode ser
objeto de revogação, mas se entendermos que o ato permanece inválido, nos
seus efeitos, então poderá ser objeto de anulação.

Espécies de anulação administrativa


Quanto ao autor:
1. Anulação oficiosa, que tanto pode partir do autor do ato como de outro órgão –
169º/1;
2. Anulação particular, através da reclamação ou recurso administrativo – 191º a
199º, 184º a 190º
Quanto aos efeitos: a regra é a de que a anulação administrativa produz sempre
efeitos retroativos (ex tunc), enquanto a revogação só produz efeitos para futuro
(ex nunc) – 163º/2 e 171º/3 1ª parte.

Há, no entanto, casos de anulação administrativa atípica:


1. Quando apenas produz efeitos para futuro, eficácia ex nunc – 168º/4 b) +
171º/3 2ª parte;
2. Casos em que pode haver modelação de efeitos, ou seja, permitir que o
ato, apesar de anulável, produza alguns efeitos – 163º/5;
3. Casos em que a anulação confere direito de indemnização aos prejudicados de
boa-fé – 168º/6
A anulação administrativa tem dois fundamentos: (1) repor a legalidade violada;
(2) dar à administração uma oportunidade antes da intervenção dos tribunais, de
modo a facilitar o trabalho destes.

Quem tem competência anulatória do ato dentro da administração?


- As mesmas entidades que têm competência para revogar, com especialidades:
1) O órgão incompetente (relativa) pode anular o ato que praticou – 169º/3. Esta
disposição vem criar um paradoxo na ordem jurídica. Passo a explicar:
tínhamos visto que o órgão competente (Assembleia Municipal de Lisboa)
tem sempre competência para revogar o ato de quem invadiu os seus poderes
(CML), mas agora a questão é diferente – saber se autor do ato que era
incompetente para o praticar, tem competência para o anular. E a resposta é
sim, por força do princípio do autocontrolo da legalidade.
2) O superior hierárquico pode revogar atos da competência exclusiva, mas
poderá, todavia, anulá-los, isto porque não há competência exclusiva para a
ilegalidade– 169º/3
3) Quem exerça posições de tutela ou superintendência poderá anular atos da
entidade a que a estas esteja sujeita, a pedido do interessado, é no fundo
mais uma manifestação do direito constitucional de petição.
Regime da anulação administrativa – resume-se em cinco ideias:
1. Existem atos administrativos cuja anulação administrativa é impossível:
os mesmos que são de revogação impossível, ou seja, aqueles a que se
refere o art. 166º/1. (Atos nulos, anulados com eficácia retroativa).
2. A invalidade dos atos administrativos só fundamenta a sua anulação durante
um certo prazo, ou seja, não é possível anular um ato administrativo fora do
prazo legal – 168º/1. Quais são esses prazos?
1. A anulação só pode ocorrer dentro dos 5 anos subsequentes à emissão à
prática do ato inválido – 168º/1. (nota: se o ato for anulado fora do prazo,
o ato anulatório é que é inválido, haverá, neste caso, violação de lei ou
incompetência em razão do tempo).
2. Por outro lado, o prazo de 5 anos pode ser encurtado – se o órgão
competente para anular tem conhecimento da invalidade só tem seis
meses para o anular.
3. Se a causa da invalidade for erro, os seis meses não se contam da data da
prática do ato, mas da data em que cessou o erro, uma vez mais dentro do
prazo dos cinco anos.
4. Todos estes prazos podem ser encurtados se um ato for objeto de
impugnação oficiosa – 168º/4 Neste caso só poderá ser anulado dentro do
processo.
5. Se o ato se tornou impugnável junto de um tribunal, ele só pode ser
anulada oficiosamente (e nunca a pedido do particular) – 168º/5. Tudo
em matéria de prazos tem um regime especial em matéria de atos
constitutivos de direito (ideia nuclear: obedecem a prazos mais pequenos
com o objetivo de uma maior estabilidade).
3. Os atos constitutivos de direitos estão sujeitos ao regime especial – regra: só
podem ser anulados no prazo de um ano, a contar da respetiva emissão –
168º/2 –, salvo se tiverem sido impugnados contenciosamente, nos termos do
167º/3 (aqui só até ao encerramento da discussão). Todavia, nem todos estão
sujeitos a um prazo de um ano, mas antes de cinco anos, apesar de serem
constitutivos de direito. Tal sucede quando se verificam as hipóteses do
168º/4, ou seja:
1. Quando o beneficiário agiu de má-fé (cometeu fraude), de forma a ser
beneficiado
2. Se é uma relação continuada que envolve prestações periódicas (reforma,
pensão), só para o futuro.
3. Atos que tenham conteúdo pecuniário.
4. Pode nem haver prazo para anulação – 168º/7 se estiver em causa uma diferente
opinião de um tribunal da UE. P.O. acha que é inconstitucional por violar o
disposto no 282º/3 da CRP. Viola o caso julgado.
5. Se o ato inválido passou o prazo para ser anulado, consolida-se, não podendo
mais ser anulado, mas pode continuar a ser revogado. 167º. Fundamento logico:
se os atos que são válidos, podem ser revogados, por maioria de razão, os que
podem são inválidos também podem. O fundamento já não será a ilegalidade,
mas motivos de oportunidade, conveniência e interesse público.
6. O novo regime de anulação suscita duvidas quanto à constitucionalidade de
algumas das soluções. A primeira já foi abordada, a do 168º/7 a lesão da
intangibilidade do caso julgado. A segunda é que a segurança jurídica e a tutela
da confiança são lesadas, pois não há normas transitórias. Este novo regime é
mais desfavorável para a anulação de atos constitutivos de direitos e entra em
vigor para se aplicar a atos praticados ao tempo do CPA de 91. Prazos mais
amplos de revogação e outros aspetos. Ex. No CPA de 91 o prazo de anulação
para atos constitutivos de direitos era apenas de 1 ano sem exceções.
Formas e Formalidades: 170º igual ao da revogação.
Efeitos temporais da anulação:
1. Efeito retroativo: 171º/3. No entanto há exceções:
a. Se o ato era constitutivo de direitos e envolvia prestações continuadas.
168º/4.
b. Se o ato se tornou inimpugnável por via jurisdicional, 171º/3/2ª parte.
c. Razões de equidade, interesse público. Corresponde ao último parágrafo
do manual de direito administrativo do 1º semestre. Corresponde à
aplicação do 282º/4 da CRP em matéria de constitucionalidade aplicada
ao controlo da legalidade administrativa. Argumento por maioria de
razão.
2. A anulação de um ato revogatório envolve repristinação salvo sentido contrário.
171º/4.
Efeitos Materiais:
1. A administração tem o dever de reconstruir a situação atual hipotética. A
situação de facto e de direito. 172º/1.
2. No entanto, a reconstituição da situação atual hipotética pode gerar efeitos
muito complexos.
a. Ex. Aluno do 3º ano de medicina é objeto de uma sanção de expulsão.
Não conclui o 4º ano. Ao fim de dois anos a administração reconhece que
a sanção foi ilegal. Como não é um ato constitutivo de direitos pode ser
anulado no prazo de 5 anos. Como é que é a situação atual hipotética?
Como é que se reconstitui a situação de facto que existiria caso não
tivesse havido a expulsão? Em princípio o aluno teria concluído a
licenciatura. Isto seria justo?! Pela natureza das coisas a reconstituição é
injusta. Aqui, a solução é a responsabilidade civil, havendo dever de
indemnizar o aluno neste cenário.
3. A administração deve praticar atos retroativos salvo se daqui ocorrerem
situações de desvantagem para o particular- Não há prazo para anular, revogar
ou substituir os atos consequentes de um ato anulado. 172º/2
Efeitos para os particulares:

1. Atos praticados na sequência de um ato anulado, desde que estejam de boa-fé,


podem ser investidos de uma especial proteção. A sua boa-fé do destinatário de
um ato anulado pode ser objeto de um tratamento privilegiado. 172º/3 se:
a. Estiverem de Boa-fé, direito a serem indemnizados. Legítimas
expectativas.
b. Se mostrar desproporcionada a anulação, e os danos forem de difícil
reparação. A posição jurídica dos beneficiários não poderá ser posta em
causa.
c. 172º/4 Concurso para 1 vaga na administração. A e B concorrem. O A
ganhou e preencheu a vaga. O B veio impugnar o ato e passados alguns
anos foi dada razão a B o que significa que B é que devia ter ganho. Não
se pode prejudicar o A, pois ao longo dos anos veio a exercer aquela
função e o B deve ser recompensado.
Como é que a administração procede à decisão:

Há 3 tipos de procedimentos:

1. Declarativo Típico
a. Normal, aquele que declara um direito
2. Recurso Gracioso (especial)
a. Alguém insatisfeito, e procura obter uma nova decisão perante outra
autoridade
3. Execução (cumprimento do ato administrativo)

Procedimento declarativo típico:

Como é que este pode ser desencadeado? Artigo 53º

1. Pela administração (oficiosa)


a. Deve comunicar aos interessados, nos termos do 110/3º
b. Esta obrigação da administração tem exceções, no 110º/2
i. Se a comunicação prejudica a natureza secreta do procedimento. Ex.
A administração suspeita que há droga num local. Não se vai
comunicar que vai lá a casa fazer uma rusga.
2. Pelos particulares:
a. Requerimento inicial deve obedecer aos requisitos do 102º/1:
i. Designação do órgão a quem se destina
ii. Identificação de quem formula
iii. Identificação do objeto
iv. Data e assinatura do requerente.
b. E se estes não forem cumpridos?
i. Indeferimento liminar, 108º/3
ii. A administração também o pode convidar a suprir as deficiências do
requerimento. A assinatura é uma merda ilegível. “Indique qual é o
seu nome”.
iii. A própria administração pode ter o dever de suprir a deficiência a
nível oficioso, se a administração tiver os meios para suprir essa
deficiência. Se o requerente não pós a data, mas mandou um email
por exemplo.

Como é que o requerimento chega à administração? 102º, 103º e 104º

1. Registo da apresentação do requerimento, 105º


2. Recibo de entrega, 106º
a. Pode ser feito em termos documentais ou da internet.
b. Serve de prova
c. Pode ser útil se a administração nada disse. E se o silêncio tiver um
significado.

Pressupostos procedimentais:

1. Resultam de uma leitura a contrario do artigo 109º:


a. Competência do órgão da administração
i. Devo requerer ao órgão competente, se o enviar a um incompetente,
este terá o dever de o enviar para o órgão competente respetivo.
b. Legitimidade do requerente
i. Tenho de ter um interesse pessoal sobre a matéria.
ii. Exceções:
1. Se há um vínculo de representação. (Advogado e cliente)
2. Gestão de negócios.
c. Tempestividade do pedido
i. Eu tenho de respeitar o prazo para o desencadear do requerimento.
ii. Ex. Prazo de 72 horas para pedido de revisão de nota.
1. O professor não tem o dever de analisar, os serviços nem o
têm de aceitar
d. O direito subjetivo ainda tem de existir. Se caducou, o pedido não tem
base substantiva.
2. A falta destes pressupostos deve conduzir ao indeferimento liminar nos termos
do 109º.
3. Podem ser necessárias medidas provisórias que salvaguardem um determinado
quadro factual e que não torne inútil a decisão. Pode conduzir a medidas
justificadas à luz do princípio de necessidade, e proporcionalidade nos termos do
89º. Estas medidas podem cessar através de revogação, 89º/2 ou caducidade nos
termos do artigo 90º.
4. Pode ocorrer que medidas provisórias não sejam necessárias.
5. Segue-se a fase da instrução:
a. Apurar os factos, identificado o quadro material que está na base da
situação.
b. Visa determinar a realidade da situação factual.
c. 115º/1
d. Está ligada ao princípio do inquisitório do artigo 58.
i. A administração pode averiguar factos, que o próprio particular não
tenha identificado.
e. A direção da instrução, artigo 55º, está confiada ao órgão competente para
a decisão final.
i. O 55º/2 a 5 é um poder delegar.
6. Diligências instrutórias típicas:
a. A administração pode desencadear averiguações gerais, 115º
b. Pode haver solicitação de informações entre órgãos administrativos, 66º
c. Solicitar informações aos particulares, 117º
d. Solicitar provas, 117º
e. Determinar a realização de inspeções 117º
f. Solicitar pareceres técnicos.
7. Pode haver também diligências instrutórias por parte dos particulares.
a. Estas vêm no artigo 116º
i. Pode juntar ele alegações
ii. Documentos e pareceres
iii. Produção antecipada da prova
1. 120º. Se for fundamental o testemunho de uma pessoa e
sabendo que aquela pessoa estiver a morrer, pode-se antecipar
o seu depoimento com carácter de urgência.
8. Segue-se agora a fase da preparação da decisão final:
a. A administração tem já uma ideia daquilo que será a sua decisão final,
com base nas suas ponderações prévias sobre os factos que recolheu.
b. É uma decisão provisória. Aqui deve proceder à audiência prévia dos
interessados, 121º a 124º
i. Esta é uma forma de participação dos interessados nas decisões
administrativas, resultando do 267º e 268º da CRP e da ideia de que
Portugal é uma democracia participativa artigo 2º da CRP.
ii. Este também é, em determinadas áreas (sancionatório e ablativo)
uma manifestação do princípio do contraditório, e um aspeto do
direito fundamental do direito a um procedimento equitativo justo,
conforme o artigo 6º/1 da Convenção Europeia dos Direitos do
Homem.
c. A administração ainda não tem a decisão final. E quando a administração
diz que pensa vir a decidir, a administração deve ouvir o interessado para
ver o que este tem a dizer. Simplesmente, a audiência deve ser
acompanhada não apenas da futura decisão, mas também dos seus
fundamentos.
i. Assim o particular poderá refutar as razões de facto e de direito que
levam à decisão,
d. Há situações de dispensa de audiência prévia: 124º/1
i. Quando é urgente
ii. Favorável aos interessados
iii. Quando isso possa comprometer a utilidade da decisão (a rusga
policial)
e. Pode ser feita por escrito, 123º a contrario ou oral.
f. Pode haver uma preterição da audiência: 2 teses
i. Pode gerar vício de forma e o ato é anulável
ii. Sérvulo Correia diz que se trata de uma violação de direito
fundamental, e é nulo.
iii. P.O. se a audiência prévia é justificada por um imperativo de direito
a um procedimento equitativo (sancionatório, limitar a liberdade, ou
extinguir a propriedade privada) aí a falta de audiência é violação do
núcleo fundamental do direito fundamental. Nos outros casos, não
se viola o núcleo essencial. 161º/2/d apenas há nulidade se
ofenderem o conteúdo essencial do direito fundamental.
g. A administração não só deve fundamentar a decisão, como depois de o
particular se pronunciar, deve dizer porque é que não acolheu os
argumentos do particular em sede de audiência prévia.
h. O 125º trata de diligências complementares.
i. E depois?
j. Pode haver extinção do procedimento.
i. Decisão expressa: 93º e 94º
1. Decisão (13º)
2. Forma expressa e conteúdos obrigatórios (150º+151º)
3. Deve ser fundamentada, 152º a 154º
4. Tipos de decisão:
a. Ato Típico 127º
b. Atos Consensuais, 57º/3 ou 127º (contratuais)
ii. Decisão tácita: 129º
1. Silêncio como forma de decisão.
iii. Acordo substitutivo do procedimento:
1. 77º/4
iv. Desistência: 131º
v. Deserção: 132º
1. O procedimento não funciona por culpa do interessado.
vi. Impossibilidade ou inutilidade superveniente: 95º
1. Aluno que foi expulso e pede para ser reintegrado. Mas o
aluno morreu ou a universidade foi extinta. Poderá haver um
direito a indemnização póstuma.
vii. Falta de pagamento de taxas, 133º.

Procedimento dos recursos graciosos – procedimento que tem a ver com a nova
intervenção da administração sobre uma decisão relativamente à qual no passado já se
pronunciou ou não pronunciou e devia ter pronunciado. Ou seja, pode reclamar-se tanto
sobre uma ação indevida como sobre uma omissão. A matéria vem regulada nos art.
184º e ss.
O procedimento típico do agir da administração é o de recurso hierárquico – regime
geral: 184º a 190º CPA.

Normas comuns quer ao recurso administrativo (da decisão de uma autoridade para
outra autoridade administrativa), quer às situações de reclamação (perante o próprio
autor da decisão);

Pode haver recursos/reclamações necessárias ou facultativas. A diferença é se já existe u


uma decisão passível de ser impugnada perante um tribunal, a via administrativa é
facultativa. Mas se a lei estipula a necessidade de recurso antes da impugnação judicial,
é um recurso necessário para impugnar a decisão perante o tribunal. Artigo 185º CPA.

Como é que se desencadeiam estes mecanismos? Através de um requerimento inicial –


184º/3 para a estrutura que emanou o ato ou para um superior hierárquico.
Neste requerimento: deve identificar-se o requerente, o objeto do recurso (o que é que
se vai impugnar, uma decisão expressa, uma omissão), deve apresentar-se o
fundamento (185º/3), ou seja, quais são as razões de facto ou de direito (ilegalidade,
falta de mérito da conduta) e, por último, identificação do pedido (ou seja, o que é que
se pede que seja alterado). O destinatário deve ser o superior hierárquico, no caso de
haver hierarquia. Se não houver, as estruturas decisórias do artigo 199º.

A interposição do recurso, isto é, a formulação do pedido cria dois efeitos:


1) o dever legal de decisão do destinatário do pedido;
2) Saber se, com o pedido de recurso interposto, há ou não um efeito suspensivo
da decisão – ou seja, quando há uma decisão administrativa que goza de
eficácia e o particular dela formula um pedido de reclamação ou de recurso, ao
fazê-lo, suspende-se o dever de (o particular) cumprir a decisão ou não?
Exemplo: saiu a nota da prova escrita que dá acesso à prova oral; vou
interpor pedido de revisão da nota e, por isso, fico suspensa de ir á prova oral
de passagem marcada para o dia x? R: Não.
Fundamento - art. 189º CPA – se a decisão em causa é passível de impugnação
judicial imediata (facultativa), então não há efeito suspensivo, pois o particular
pode ir a tribunal pedir uma providência cautelar (pedido de suspensão da
eficácia do ato). Pelo contrário, se a pessoa não pode ir a tribunal (necessário) e,
portanto, pedir a suspensão junto do tribunal, então a atuação administrativa
tem esse efeito suspensivo. Repito: se a decisão é passível de ser objeto de
intervenção judicial, não há efeito suspensivo; pelo contrário, se a decisão
administrativa não é passível de ser impugnada contenciosamente e, portanto, o
particular não tem qualquer meio de ir a tribunal para pedir para paralisar os
efeitos, a interposição do recurso administrativo tem feito suspensivo.

Pressupostos para o respetivo recurso – 196º, a contrario


a) O pedido deve ser formulado ao órgão competente da administração
b) Ato deve poder ser objeto de impugnação
c) Quem apresenta o pedido deve ter legitimidade para tal (186º)
d) Respeito pelo prazo legal
• 194º atos expressos
• Necessária: 30 dias
• Facultativa: 3 meses
• 187º Silêncio
• 1 ano

A falta de um destes pressupostos leva ao indeferimento liminar. Sublinho a

relevância dupla do art. 195º CPA:


1. 195º/1 – impõe o dever de serem chamados ao procedimento os
contrainteressados (aqueles que têm interesse contrário àquele que formula a
reclamação), isto é, quando a decisão administrativa do recurso possa ter impacto
em relação a terceiros. Ex: há apenas uma vaga e a administração decidiu que o
concurso é ganho pelo A. B reclama e interpõe recurso da decisão, o que
significa que se a decisão do recurso for favorável ao B, esta produz efeitos em
relação ao A. Este tem de ser notificado, para garantir o princípio do
contraditório.
2. Há uma obrigação de intervenção do autor do ato recorrido, 195º/2. Por outras
palavras, se é um recurso hierárquico da decisão do subalterno para o superior,
é este que deve decidir, mas deve ouvir sobre o fundamento do autor do ato,
neste caso, o subalterno, para saber o que o levou a praticar o ato.

Decisão:
197º CPA – a decisão administrativa pode ser uma decisão com dois conteúdos
diferentes:

1. Uma decisão de improcedência do recurso – tem uma natureza confirmativa do


ato praticado. Quando se indefere o pedido de recurso, estamos a confirmar o ato
objeto de recurso.
Nota: saber se há possibilidade de a administração reformular a decisão para pior,
isto é, o particular tem a expectativa de obter uma decisão mais favorável, mas
pode obter uma resposta ainda mais desfavorável? Há que diferenciar três
situações:
1) É natural que não haja reforma para pior na área discricionária administrativa.
2) Mas se for na área da legalidade, isto é, quem decidiu, decidiu violando a lei.
ex: nos termos da lei o subsídio máximo é 50 e o particular recebeu 52. Tendo
pedido que lhe revissem a decisão no sentido de a subir, coloca-se a questão de
saber se a administração deve repor a legalidade violada e descer o valor para
50 ou deve manter o valor de 52. Sobre esta matéria podemos ter em confronto
o 195º/4 (que proíbe) com o 197º/1/in fine (que admite, estabelecendo “ainda
que em sentido desfavorável ao recorrente”). Nota que os poderes do superior
hierárquico estão limitados quando existe competência exclusiva do
subalterno. 197º/1 e 4.
3) No caso de erro material, deve haver uma reformulação da decisão. Por
exemplo, se ao passar para o computador, a administração deu 500 de
subsídio, em vez de 50, este erro deve ser corrigido, uma vez que a vontade
declarada não corresponde com a vontade real. Nem sempre é fácil distinguir o
lapso material da ilegalidade. Por exemplo: no caso de o aluno receber no dia
5 de fev. uma nota no fénix que corresponde a 12 valores e, no dia a seguir, a
mesma nota corresponde a 2 valores. Tinha havido um lapso cometido pela
secretaria. A correção do lapso material corresponde a uma revogação ou a
anulação do atos constitutivo?
2. O órgão para o qual formulado o pedido pode dar procedência ao recurso, que
significa uma de duas coisas: ou a decisão foi revogado ou foi anulada. Esta
revogação ou anulação pode ser total ou meramente parcial (ex: reduzir o
subsidio de 52 para 50)

O prazo de decisão do recurso, está no artigo 198º, dependendo se for uma


decisão expressa ou tácita.

Questão: saber se da decisão do recurso gracioso cabe ou não novo recurso


gracioso (isto é, um recurso gracioso de segundo nível). A regra é que da decisão
de recurso não cabe reclamação – 191º/2; exceção: pode ter a ver com os casos
de omissão de pronúncia, (ex. digo que o ato é ilegal e inconveniente. O superior
diz que o ato não é inconveniente, mas nada diz quanto à legalidade) 191º/2. Ou
quando existe a contradição entre duas decisões de dois casos semelhantes
(violação do princípio da igualdade, e do precedente).

Procedimento da execução do ato administrativo – questão: perante uma decisão


administrativa que define o direito no caso concreto, pode acontecer que o particular a
cumpra ou pode suceder que este resista ao seu cumprimento (ex: há uma ordem para
que o particular destrua a obra ilegal e este não o faz). Coloca-se o problema da
execução da decisão administrativa – matéria regulada nos artigos 175º a 183º:
- Princípio geral – 176º CPA – a administração só pode utilizar a força para
aplicação do seu direito nos casos e segundo as formas expressamente previstas
na lei, o que significa que, nos termos do 176º, a administração deve recorrer
previamente aos tribunais. Resulta daqui que o CPA de 2015 aboliu o privilégio de
execução prévia como regra geral. Só é possível impor coercivamente nos casos e
nos termos expressamente previsos na lei – 176º/1 –, onde apenas estão previstas
as situações de urgente necessidade pública e nos casos de medidas de polícias de
coação direta. Em todos os outros casos, se a administração quer utilizar a força
em detrimento do particular, tem de ir primeiro a tribunal. Regime especial que
admite o privilégio de execução prévia – a nível das obrigações pecuniárias
(179º) (ex: impostos); pode estar em causa entrega de coisa certa (180º),
prestação de facto (181º).
- Nos casos não previstos na lei, não há autotutela executiva. 183º CPA.

Quais são então os momentos de execução?


1. Tem de existir um ato a executar, ou seja, tem de previamente a administração ter
definido o direito para o caso concreto – 177º. Não é possível executar sem um
prévio título declarativo, com uma exceção: as situações de estado de necessidade
– 177º/2.
2. Não basta existir um título declarativo, é necessário que exista uma decisão que
mande executar, isto é, que diga que aquele ato não foi cumprido e, por não ter
sido cumprido, tem de ser executado – 177º/2. Esta decisão de impor a execução
tem dois efeitos: fixa o conteúdo e os termos em que deve ser executado.
3. É necessária a notificação dos destinatários, isto é, a administração tem de
comunicar individualmente aos administrados que tem de executar – 177º/3 e 4
– dando-lhes um prazo razoável para o fazer. O particular pode reagir,
impugnando administrativamente ou indo a tribunal. Pode impugnar o ato
exequendo ou o ato que procede à execução do ato exequendo (decisão que
manda executar). 182º.
4. Se, notificado, o particular acatar, tudo bem. Mas se resistir, coloca-se o
problema de a administração passar para execução coerciva. Pode a
administração usar a força? É aqui que há uma diferença entre o antes e depois
de 2015: tradicionalmente, a administração não precisava de ir a tribunal; hoje, a
administração deve recorrer aos tribunais –176º. Daqui surge um quinto
momento:
5. Há uma necessidade de um título executivo judicial que permitirá à administração
executar o ato, tal como sucede nas relações entre os particulares. Elemento
essencial.
Mas, na realidade, nada se passa assim. Era suposto ser, mas não é. Passo a explicar:
no diploma preambular que aprova o CPA 4/2015, o art. 8º/2 estabelece que o art.
176º/1 do código (de 2015), que remete para os tribunais, só entra em vigor quando
for elaborada uma lei que concretize como é que administração pode ir a tribunal
pedir o tal título executivo. E esta lei devia ser elaborada no prazo de 60 dias, a
contar da data de entrada em vigor deste diploma. Ora este entrou em vigor no dia
8/abril de 2015, ou seja, já passaram os 60 dias, mas o diploma ainda não foi feito. O
que significa que se aplica o regime transitório – 6º e 8º do diploma preambular –
mantém-se em vigor o regime de execução do CPA anterior a 2015, mantendo-se em
vigor o artigo 149º/2 do antigo CPA de 91. Logo, ainda hoje a administração mantém
privilégio de execução prévia.
Mais: a norma que cria a solução transitória (que mandava aplicar o regime antigo
enquanto não houvesse lei) não constava da lei de autorização legislativa que
fundamentou a revisão do CPA anterior a 2015, ou seja, estamos perante uma norma
a descoberto da autorização legislativa. Isto significa que é inconstitucional a
manutenção do regime anterior; há uma violação orgânica da constituição.
Mas o problema não é assim tão simples, estamos perante um problema de separação
de poderes, uma vez que, à luz da lei nova, a exigência de um título executivo
judicial fez com que a matéria até então da esfera exclusiva do poder administrativo
transitasse para uma breve intervenção do poder judicial. Assim, caso os particulares
não cumpram voluntariamente as decisões administrativas e a administração utilize a
força com base no código velho, a pergunta é esta: a administração não está a impor
uma decisão com base na violação da separação de poderes? Se sim, a execução
consubstanciará num ato nulo (ferido de usurpação de poderes), o que significa que o
particular tem direito de resistência com fundamento na constituição.
Se o regime transitório é inconstitucional, mas o regime novo (176º) não pode ser
aplicado, porque ainda não há lei. Mais: a aplicação do regime novo irá provocar o
bloqueio dos próprios tribunais administrativos. Não há interesse dos tribunais,
porque estes iam ter demasiadas cenas para fazer, não há interesse da administração,
porque está a perder uma prerrogativa clássica. Já passaram 5 anos, quando devia ter
sido emanada em 60 dias.
Capítulo 3º - Procedimento contratual
Secção 1ª – Procedimento dos contratos administrativos
§1º - Formação do contrato administrativo
1.1.Princípio da parametrização reguladora multinível
a) Subordinação à legalidade interna, internacional e europeia: 1º-A;
(i) Níveis de regulação dos contratos. Nem tudo se esgota no domínio
interno.
b) Admissibilidade de acordos-quadro: 251º a 259º
c) Peças do procedimento (outros instrumentos que regulam os contratos, atos que
disciplinam um procedimento contratual
(i) Espécies: Anúncio (130º, 131º, 157º, 167º, 197º, 208º, 218º-A, nº 2);
Programa do procedimento (é um regulamento, regulado nos artigos
41º, 132º, 164º, 196º, 206º) e Caderno de encargos (42º, este tem como
conteúdo as clausulas que vão ser incluídas no contrato que vai ser
celebrado) e o Convite à apresentação de propostas: 115º, 189º
(ii) Natureza das peças procedimentais: Há 2 teses: ato unilateral (a
administração define unilateralmente o programa de procedimento) ou
então pode ser uma proposta contratual preliminar sobre as regras do
procedimento e as futuras cláusulas (o particular implicitamente
concorda com os termos do programa do procedimento, concordando
com o caderno de encargos. Quando eu manifesto concordância não
estou a celebrar um contrato? Se assim é, eu estou a manifestar uma
vontade, sendo um contrato preliminar. As 2 interpretações são
possíveis, o legislador opta pelo ato unilateral ao designá-lo de
regulamento.
(iii) O princípio da estabilidade das peças procedimentais – os limites do 50º,
a administração não pode alterar as regras do jogo. Por uma razão de
segurança e imparcialidade. Quando já conhece os participantes não pode
alterar o caderno de encargos. A ideia tem limites, previsto no 50º.
Clarificações, correções, alteração das peças, havendo um prazo, previsto
no artigo.
(iv) Critérios de resolução de antinomias: 40º, nºs 4 e 5; 41º; 50º, nº 9; 51º.
Ex. O programa diz uma coisa e outra peça procedimental diz coisa
diferente. Estes artigos dão resposta. Há uma pluralidade de situações,
tendo o legislador estabelecido regras de prevalência.
1.2.Princípio da não plenitude da subordinação dos contratos públicos ao regime
do CCP: Os contratos públicos excluídos (4º a 6º-B) e seu regime (5º-B).
a) Nem todos os contratos públicos estão sujeitos ao CCP, pode haver situações
especiais que derroguem o âmbito do CCP.
1.3.Princípio da pluralidade de procedimentos de escolha do cocontratante: Artigo
16º, nº 1.
a) Os tipos de procedimento para escolher o cocontratante. A bold estão definições.
(i) Ajuste direto: 112º, nº 2 + 113º a 129º;
(ii) Consulta prévia: 112º, nº 1 + 113º a 129º;
(iii) Concurso público: funções e sentido 130º a 161º;
(iv) Concurso limitado por prévia qualificação: 162º a 192º - 163º;
(v) Procedimento de negociação: 193º a 203º - 194º;
(vi) Diálogo concorrencial: 204º a 218º - 205º;
(vii) Parceria para a inovação: 218º-A a 218º-D – 218º-A, nº 1
• Os mais importantes são o ajuste direto e inversamente o
concurso público.
b) Escolha do procedimento:
(i) Adequação do procedimento: Critérios: (vias pelas quais a
administração está vinculada para escolher o cocontratante).
• Critério do valor do contrato (17º a 22º);
• Critério assente nas matérias (23º a 30º-A);
• Critério do tipo de contrato (31º),
• Critério em função da entidade adjudicante (33º)
(ii) A boa administração, apresenta um dilema entre a celeridade (eficácia) e
a transparência (concorrência). Ajuste direto vs Concurso Público.
(iii) Preferência pelo concurso público e flexibilidade procedimental, mesmo
quando o sistema é flexível, o governo pode sempre efetuar um decreto
lei, que sendo lei especial, derroga o CCP.
1.4.Princípio da complexidade intraprocedimental da adjudicação
a) Pluralidade de procedimentais pré-contratuais:
(i) Tramitação procedimental específica (112º a 218º-D)
(ii) Instrumentos procedimentais especiais (219º-A a 266º-C)
b) Intervenientes no procedimento
(i) Administração: entidade adjudicante (2º, 7º) e seu agrupamento (39º),
decisor (v.g, 36º, 38º, 67º, nº 1, 79º, 109º), júri do procedimento (67º a
69º); contraente público (aquele que celebra o contrato);
(ii) Entidades gestoras de plataformas eletrónicas – Lei das Plataformas
Eletrónicas;
(iii) Interessados: candidatos (52º, participam na fase de qualificação para o
concurso), concorrentes (53º, já apresentaram uma proposta) e seus
agrupamentos (54º);
(iv) Idem: entidades consultadas preliminarmente (35º-A, a administração
pode consultar o mercado, para aspetos técnicos), os destinatários de
convite a apresentar propostas (112º) ou a participar no concurso (167º,
c)
(v) Limites: 55º e 55º-A
(vi) Idem: adjudicatário e cocontratante.
(vii) O mesmo interveniente pode ocupar várias posições. Candidato,
Concorrente, Adjudicatário e Cocontratante.
c) Procedimento eletrónico: v.g., 62º-A; 115º, nº 1, g); 128º, nº 1; 133º; 138º; 140º
a 145º; 219º-B, nº 4; 241º-C; 465º a 469º; 475º
d) Fases procedimentais:
(i) Fase anterior à abertura do procedimento de formação: 34º a 35º-A;
(Estudo, quando a administração apresenta o caderno de encargos tudo
isto é resultado de uma fase preliminar interna preliminar.)
(ii) Decisão de contratar (36º): contratar e autorização da despesa + escolha
do tipo de procedimento (38º) + elaboração das peças do procedimento,
tem de se materializar no anúncio, no caderno ou outro.
(iii) Anúncio do procedimento: publicação (130º, 131º, 157º, 167º, nºs 1 e 2,
197º, 208º) e envio (113º, nº 1). Tem de ter efeitos externos.
(iv) Esclarecimentos, erros, omissões e retificações: 50º. Por iniciativa própria
ou dos concorrentes.
(v) Intervenção dos candidatos e sua qualificação ou exclusão: 164º, nº 1,
n); 168º a 178º; 183º a 188º. Se leva à exclusão, os candidatos não
passam a concorrentes 52º e 53º.
(vi) Entrega de propostas – 56º a 66º; 135º a 138º; 158º, 189º a 192
(vii) Análise e avaliação das propostas: 70º a 72º; 139º;
• Cumprem as exigências da legalidade e das peças do procedimento
(do programa e do caderno de encargos)
• Avaliação do mérito das propostas. (entra aqui o júri)
(viii) Idem: relatório preliminar (122º e 146º) + audiência prévia dos
concorrentes (123º e 147º) + relatório final (148º);
• Podem os concorrentes apreciar a sua proposta e a avaliação do
júri das outras propostas. Fazendo sugestões e notas. Assim,
valorizam a sua proposta e desvalorizam as outras.
• O relatório final pondera e fundamenta a decisão.
(ix) Idem: adjudicação (com base no relatório final, 73º a 80º e 81º a 93º;
124º, nº 4; 148º, nº 4);
(x) Celebração do contrato (94º a 106º)
(xi) Eficácia: 127º e 287º
(xii) Idem: a fiscalização prévia pelo Tribunal de Contas – LOPTC, artigos 44º
e 45º.
1.5. Princípio do sancionamento da violação da juridicidade
a) Invalidade dos atos procedimentais
b) Comunicabilidade dos vícios do procedimento ao contrato: v. infra, nº 4.2. a)
c) Responsabilidade contraordenacional: 455º a 463º
d) Responsabilidade criminal: 464º

1.6. Princípio da tutela garantística dos


interessados (meios de defesa)
a) Audiência prévia: 147º e 461º, manifestação da participação e do contraditório.
b) Impugnações administrativas: 267º a 274º
c) Tutela judicial: ação administrativa urgente, CPTA, 97º, nº 1, c)
(i) Impugnação das peças do procedimento: CPTA, 103º
(ii) Ação de impugnação dos atos: CPTA, 100º e 180º, nº 3
(iii)
Ação de condenação à prática de atos: CPTA, 100º
(iv)Efeito suspensivo automático (CPTA, 103º-A) e medidas provisórias
(CPTA, 103º-B)
d) Idem: processos cautelares; CPTA, 132º
e) Idem: ação de responsabilidade civil pré-contratual
f) Idem: direito de acesso aos tribunais e exercer o direito ao contraditório face aos
mecanismos sancionatórios
§2º - Execução do contrato administrativo
2.1. Princípio do cumprimento das vinculações contratuais e legais
a) O contrato como lei entre as partes: 279º, princípio geral das obrigações.
b) Acordos endocontratuais – 310º, as partes podem substituir o acordo
anteriormente existente, podendo substituir atos unilaterais por um vinculo
jurídico bilateral.
c) Vinculação bilateral à boa-fé e ao interesse público: 286º
d) Colaboração mútua: 289º
e) Dever de execução exata e pontual das prestações pelo cocontratante: 288º
f) Idem: o sancionamento do incumprimento do dever de executar: 464º-A
g) Deveres de informação e de sigilo: 290º, proteção com natureza acessória.
h) Dever de vigilância, de acompanhamento e conformação da relação por parte do
contraente público: 291º, 290º-A e 302º.
i) O gestor do contrato, pode ser uma figura importante – 290º-A
j) Auditoria e fiscalização: 454º-A a 454º-
C

2.2. Princípio da estabilidade contratual


a) Formulação do princípio geral da estabilidade (286º): Quanto ao regime + quanto
às prestações + quanto às partes (288º). O contrato não pode estar sempre a ser
alterado.
b) Limites à estabilidade e situações que permitem as modificações do objeto (311º
a 315º): (i) alteração das circunstâncias e razões de interesse público (312º)
c) A estabilidade não impede modificações unilaterais: 302º, c)
d) Limites: Suspensão da execução das prestações: 297º + 298º
e) Limites: A cessão de posição contratual: 302º, f) + 316º a 324º
f) Subcontratação, 316º a 321º a)

2.3 Princípio do equilíbrio financeiro


a) Princípio geral: 282º, quando se contrata, a proposta aceite tem uma ideia de
equação entre uma prestação a que a outra parte está obrigada havendo uma
previsão de uma contrapartida da administração. Este equilíbrio pode entrar em
desequilíbrio. Por:
b) Modificações objetivas: 313º, nº 1, e), + 314º
c) Alteração das circunstâncias ou imprevisão; (quebra nas receitas das
concessionárias)
d) Modificação unilateral por parte da administração; Em vez da iluminação pública
ser feita por gás, que seja por eletricidade. O objeto é o mesmo, mas a prestação é
diferente. Deve-se garantir o equilíbrio financeiro.
e) Limites – 282º, nº 6: (difíceis na prática)
• (i) Proibição do enriquecimento sem causa;
• (ii)Perdas já existentes do equilíbrio; Enganei-me nas contas. Azar.
• (iii)Risco contratual. Não tive a antevisão de que o contrato era
arriscado.
f) Parcerias público-privadas: partilha de benefícios a favor do contraente
público – 341º
2.4.Princípio da intervenção exorbitante do contraente público

a) Poderes do contraente público: 302º


(i) o poder de direção da execução das prestações – 303º + 304º;
• Como quer que sejam executadas as prestações, o contraente público
pode definir como as prestações devem ser executadas.
• A entidade patronal privada também pode ter este direito, no âmbito da
contratação privada, mas a justificação é diferente. Aqui há um
imperativo de interesse público.
(ii) o poder de fiscalizar a execução do contrato – 303º º 305º;
(iii) o poder de modificar unilateralmente – v. supra, nº. 2.2. c), 302º/c
(iv) o poder sancionatório (329º):
• Multas (329º); Situação menos grave. Incumprimento de Prazos.
• Resolução do contrato (329º e 333º);
• Cessão de posição contratual (318º-A);
(v) o poder de resolução unilateral:
(i) sancionatório (333º); Indemnização para o erário público.
(ii) razões de interesse público (334º); Indemnização para o contratante,
ato semelhante a expropriação, à luz da constituição.
(vi) o poder de ordenar a cessão da posição contratual.

b) Poder de substituir a execução das prestações omitidas pelo cocontratante em


mora: 325º, nºs 2 e 3

2.5. Princípio da relativização dos poderes de ius imperii do contraente público


a) Intervenção sobre interpretação, validade e execução: meras declarações
negociais – 307º nº 1. A sua eficácia depende do consentimento do destinatário.
Se o quiser impor terá de ir a tribunal.
b) Limites: as situações de autotutela declarativa: 307º, nº 2
c) Limites: os atos de execução que são título executivo – 309º

2.6. Princípio da responsabilidade civil do cocontratante:


a) 325º, nº 4; 333º, nºs 2 e 3

2.7. Princípio da salvaguarda da posição do cocontratante


a) Ausência de autotutela declarativa em matéria de interpretação, validade e
execução: 307º nº 1. A administração não pode impor a sua vontade. Precisa de
um tribunal.
b) Reposição do equilíbrio financeiro. A administração não pode por lei excluir
este.
c) Exigir responsabilidade por mora do contraente público: 326º e 334º, nº 3
d) Exceção do não cumprimento: 327º
e) Direito de retenção: 328º
f) Resolução do contrato por iniciativa do cocontratante: 332º
g) Direito a uma justa indemnização: 334º, nº 2, + 335º, nº 2
h) Tutela judicial: 307º, nº 1; 332º, nº 3; e o 476º

§3º - Extinção do contrato administrativo


3.1.Acordo das partes: revogação – 331º
3.2.Caducidade: 330º, alínea a)
(i) Cumprimento integral das prestações
(ii) Verificação de termo final ou condição resolutiva que cessa o contrato.
(iii) Impossibilidade superveniente absoluta: o caso de força maior – “an act of
God”
3.3.Resolução através de iniciativa do contraente público:
a) Resolução sancionatória: 325º, nº 2 e 333º, nº 1;
b) Resolução por razões de interesse público: 334º - ato análogo à “expropriação”
c) Resolução por alteração anormal e imprevisível das circunstâncias: 335º, nº 1
3.4.Resolução por iniciativa do cocontratante: 332º, nº 1
3.5.Anulação judicial ou arbitral
3.6.Intervenção do legislador: fait du prince (sem prejuízo do dever de indemnizar) –
artigo 335º, nº 2
3.7.Regimes especiais
a) Contratos sobre o exercício de poderes públicos: 336º e 337º
b) Contrato de empreitada de obras públicas: 405º e 406º
c) Concessões de obras públicas e de serviços públicos: 421º a 423º e 436º
d) Contrato de locação de bens móveis: 448º e 449º

§4º - Invalidade dos contratos


administrativos
4.1.Tipologia das invalidades contratuais
a) Invalidade do fundamento normativo do contrato administrativo: a invalidade
consequente ou derivada (extraprocedimental). A lei que permite o contrato é
inválida, fazendo com que o contrato seja inválido por na sua base ter essa lei.
b) Invalidade dos atos procedimentais pré-contratuais: invalidade consequente ou
derivada (intraprocedimental) – 283º. A ideia de que o vício a montante vai
inquinar o contrato.
c) Invalidade do próprio contrato: 284º.
(i) Invalidade originária
(ii) Invalidade superveniente: os limites de intervenção da “lei nova”.
4.2.Desvalor da invalidade contratual
a) Comunicabilidade do desvalor dos atos procedimentais a montante aos contratos
a jusante: solução para a nulidade e para anulabilidade (283º, nº 1). Se o ato
prévio é nulo, o contrato é nulo. Se for anulável é anulável.
b) Se a invalidade for do próprio contrato, a regra geral é a anulabilidade (284º, nº
1)
c) Os contratos são nulos nos termos do artigo 161º do CPA, das normas do CCP
ou de lei especial: 284º, nº 2 do CCP.
d) Falta ou vícios da vontade nos contratos às normas do Código Civil: 284º, nº 3
e) Os contratos com objeto passível de ato administrativo e os contratos sobre o
exercício de poderes estão sujeitos ao regime da invalidade do ato
administrativo: 285º, nº 1.
4.3.Regime da invalidade:
a) Relativização da projeção a jusante das invalidades a
montante
(i) A nulidade do ato procedimental a montante só gera
nulidade do contrato se a primeira tiver sido
judicialmente declarada ou ainda o possa vir a ser:
283º, nº 1
(ii) O ato procedimental anulável a montante só gera
anulabilidade dos contratos se tiver sido anulado ou
ainda poder ser e se demonstrar “que o vício é causa
adequada e suficiente da invalidade do contrato”
(283º, nº 2). Nos casos em que a anulabilidade não é
suficiente, não invalidade. E, mesmo nesta última
hipótese, o efeito anulatório pode ser afastado, por
via de ponderação judicial ou arbitral, nos termos
previstos pelo 283º, nº 4.
b) A invalidade de todos os contratos pode ser objeto de redução
e conversão: 285º, nº 3
c) Se não for possível a redução ou a conversão, o efeito
anulatório pode ser afastado, por decisão judicial ou arbitral,
nos termos do 285º, nº 4.
§5º - Contencioso dos contratos administrativos
5.1. Tribunais do Estado e tribunais arbitrais: 476º; CPTA, 180º a
185º-B; Lei da Arbitragem Voluntária (exercício privado da
atividade judicial)
5.2.Contencioso pré-contratual – v. supra, nº 1.6. c), d) e e)
a) Antes do contrato, tem que ver com o procedimento da
formação contratual
5.3.Contencioso contratual: tipologia das ações
a) Ações sobre a interpretação dos contratos: CPTA, 37º, nº 1, l)
• O contraente não tem autotutela declarativa nesta
matéria
b) Ações sobre validade dos contratos: CPTA, 37º, nº 1, l); 45º-
A; 77º-A e 77º-B
c) Ações sobre a execução de contratos: CCP, 307º, nº 1; CPTA,
37º, nº 1, l); 77º-A, nº 3.
d) Ações de impugnação de atos administrativos em execução
de contratos: CCP, 307º, nº 2; 311º, nº 2; CPTA, 37º, nº 1,
a). Ex. A administração decide alterar a prestação
unilateralmente, mas o particular não concorda.
e) Ações administrativa para a condenação à prática de atos
administrativos contratualmente devidos (CPTA, 37º, nº 1,
b), à adoção ou abstenção de condutas (ibidem, h) ou ainda
ao cumprimento de deveres de prestar por parte da
Administração (ibidem, j).
f) Ações administrativa para o reconhecimento de situações
jurídicas subjetivas decorrentes de contratos administrativos:
CPTA, 37º, nº 1, f). O reconhecimento do tribunal obriga a
administração a reconhecer a posição.
g) Ações sobre responsabilidade civil contratual: CPTA, 37º, nº
1, k)

5.4.O poder de modelação do juiz perante efeitos inválidos dos


contratos
a) Modelação dos casos de anulabilidade: 283º, nº 4; 285º, nº 4;
CPTA, 45º-A
b) Modelação dos casos de nulidade: 285º, nº 3, por analogia o
285º, nº 4; CPA, 162º, nº 3
Secção 2ª – Procedimento dos contratos de direito privado da Administração
Pública
§6º - A decisão de celebrar um contrato de direito privado
6.1.Conceito unitário de contratação pública:
a) Irrelevância da designação e da natureza do contrato: 1º, nº 2.
Todos os contratos que envolvam a administração estão
sujeitos a um procedimento administrativo. Há apenas um
procedimento, o que varia é o regime substantivo.
b) Regime substantivo / regime procedimental: 1º, nº 2; CPA,
200º, nº 1
6.2.Discricionariedade da opção pelo contrato de direito privado
a) Não há discricionariedade quanto à aplicação do regime
procedimental
b) Mas há as vinculações do artigo 4º (contratos excluídos do
CCP) e do artigo 5º (contração excluída da parte II):
c) Exclusão aplicativa do CCP e natureza dos contratos: Há
contratos que têm de ser obrigatoriamente de direito privado?
Sim, os que têm que ver com a regulação do mercado e com
questões de concorrência. Ex. Alienações em bolsa.
6.3.Há vinculações substantivas dos contratos de direito privado da
Administração Pública.
a) Ausência de autonomia da vontade privada das entidades
públicas. Estas têm competência.
b) Vinculações a princípios: 1º-A + 5º-B do CCP; CPA, 2º, nº 3;
202º, nº 2. Direito privado publicizado.
c) Tutela jurisdicional: ETAF, artigo 4º, nº 1, e)
• Estatuto dos tribunais administrativos e fiscais.

§7º - Regime dos contratos de direito privado da Administração


Pública
7.1.Regime dos contratos de direito privado subordinados ao CCP
a) Regime procedimental de Direito Administrativo: v. supra,
§1º a §5º
b) Regime substantivo de Direito privado: Mas em matéria de
interpretação, validade e execução na jurisdição
administrativa – ETAF, artigo 4º, nº 1, e)
7.2.Regime dos contratos de direito privado não subordinados ao
CCP
a) Será possível a contratualização de poderes exorbitantes?
Lógica paritária do direito privado vs autonomia da vontade.
P.O. diz que sim, se houver lei, mas não fará muito sentido.
Celebre antes um contrato administrativo!
b) Intervenção dos tribunais comuns. Os litígios serão regulados
por estes. Com exceção das matérias de interpretação.

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