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CIÊNCIAS SOCIAIS
consciência é o que distancia o sujeito da estrutura a qual ele pertence e, sem saber, ele
contribui para o fortalecimento da estrutura social. Assim como Mills, Bourdieu
exemplifica as ideias de Habitus, subjetividade e objetividade, ou seja,
condicionamento, indivíduo e sociedade. O indivíduo nasce sujeito a uma estrutura
social já estabelecida, ele não participou de sua criação, mas sua ação social certamente
irá reafirmar todas as instituições da sociedade; a educação que ele tem lhe condiciona,
o mundo externo é interiorizado e a participação dele no grupo obriga-o a se submeter.
Na submissão ele expõe sua interioridade que existe em função do exterior e assim
reafirma a estrutura.
Pode parecer que o sujeito, em relação a estrutura não tenha grande participação,
mas ele é o fator principal para que haja uma. É o ator social e sua ação que afirma as
instituições. É ele quem possibilita a permanência do corpo social. Piedade Lalanda, em
Sobre a metodologia qualitativa na pesquisa sociológica põe justamente esse conceito;
o indivíduo como fator principal das transformações. Pode-se entender em Bourdieu e
em Mills essa categoria transformadora no individuo, ainda que seja uma última
instancia, pois o condicionamento social lhe impõe ações preestabelecidas; mas ainda
assim ele tem ação, pois sua subjetividade, ainda que muito parecida, não é igual as
outras, portanto suas ações em última instancia são inovadoras e modificam,
minimamente, a estrutura. Essa percepção é proposta por Mills para que os sujeitos,
pesquisadores ou não pesquisadores, possam perceber o mundo, estranha-lo – como
Salomon propõe ‒ e questioná-lo, entende-lo e situar-se; esse ideal é a Imaginação
Sociológica, o que ele propõe não como uma obrigatoriedade de uma ciência, mas de
um estudo, um estudo social.
E é nessa perspectiva de estudo da sociedade, principalmente da ação individual,
ou seja, da subjetividade na construção da estrutura social, que Alberto Melucci traz em
Por uma sociologia Reflexiva, a tentativa de estruturar, assim como Bourdieu, Mills e
Lalanda, em seus termos a ideia de pesquisa sociológica qualitativa; fugindo da
objetividade cientifica criada pela ciência moderna. E é desse pressuposto de fuga do
“modernismo”, da distanciação obrigatória do observador para com o objeto, da
pesquisa prioritariamente quantitativa. Melucci assim como Lalanda, propõe o foco no
sujeito, na narrativa que ele apresenta sobre o mundo. Segundo Melucci a modernidade
trouxe consigo essa exigência cientifica de suspensão das categorias, sendo o
pesquisador; no entanto nenhum dos autores em questão creditam a possibilidade de se
manter excepcionalmente “afastado” do objeto. No entanto a modernidade trouxe
também as consequências sociais e essas consequências puseram o sujeito como uma
exigência. E o ponto de vista desse sujeito se mostrou crucial para entender a sociedade.
Nesse sentido, a pesquisa qualitativa se fez necessária. Bourdieu, Melucci, Lalanda, etc.
aceitam a impossibilidade da suspensão do observador. Ele é, de uma forma ou de outra,
um sujeito também detentor de valores e frente a outro sujeito irá interpretar as
narrativas de acordo com tais valores. A sociologia é dialética, segundo Salomon, é um
troca de informações que direcionam a verdade, ainda que em perspectiva. Melucci
reconhece que o pesquisador, já dotado de valores, influencia diretamente seu meio de
pesquisa e seu objeto. Da mesma forma Lalanda e Bourdieu afirmam isso. Para
Bourdieu esse problema deve ser enfrentado com uma certa ética profissional, ou seja, é
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preciso estra centrado em seu objetivo para que não acabe por direcionar o objeto para
quilo que você como pesquisador que afirmar. A sociologia para ele não é um meio de
amaciar o ego do pesquisador, mas de buscar verdade, como Mills, ainda que perturbe,
ainda que contrarie a sua visão é preciso ir, refutar-se, como Salomon afirma; a grande
maravilha é a incerteza. Lalanda por sua vez reitera a importância de uma suspensão
relativa, não de se descaracterizar como indivíduo, mas de empatizar à medida que se
faça necessário, entende as suas categorias e entender o objeto. Qualquer que seja a
relação entre objeto e observador deve estar dentro de uma zona segura, isso defende
Bourdieu, Lalanda e Melucci (com mais ênfase), pois a proximidade demais levará a
certas reflexões, digamos, superestimadas, e afastamento pode levar a presunções
teóricas sem nem conhecer o objeto em seu meio.
De toda forma, a pesquisa qualitativa tem como centro a relação entre
observador e objeto. E é crucial, como diria Bourdieu, a técnica de contar a história do
objeto, e ninguém melhor para dar os dados que o próprio objeto. Lalanda reforça
sempre a importância de deixar o entrevistado/objeto no centro, deixar contar-se, deixa-
lo refletir. Melucci trata isso como o fator mais importante, pois a epistemologia, ou
forma que o objeto tem de se conhecer é o ponto principal da pesquisa, ainda que crie
um suspense devido a relativização da realidade; uma vez que cada individuo enxerga o
mundo por si, e que o pesquisador narrará uma narrativa, sempre relativizando a
perspectiva de cada um. Aqui entra a importância de aceitar a diversidade e basear a
teoria, a cada transformação, nos protagonistas dessa realidade. Assim podemos inserir
categoricamente o pensamento de Boaventura de Sousa Santos; as epistemologias do
Sul, que assim como o que incita Melucci, propõe dar o foco àqueles que por muito não
foram.
Boaventura então repensa a transformação das sociedades de acordo com o que
os indivíduos que pertencem a elas. Portanto é preciso criar os caminhos de significação
e transformação da sociedade, como se exige com os movimentos pós-modernos,
decoloniais, etc. que buscam a afirmação das individualidades, inclusão, etc. que
conversam diretamente com o que busca a pesquisa qualitativa/reflexiva das ciências
sociais. A modernidade trouxe estranhamento entre a diversidade, entre o pensamento
hegemônico e o subalterno e o que Boaventura coloca é a necessidade de, dentro dessas
transformações, é preciso verificar as realidades que foram omitidas e que agora se
propõem a falar sobre si. Pois são elas que significam e constroem a estrutura social
existente.
Conclusão
Dentro do campo teórico das ciências sociais nos deparamos com as múltiplas
realidades sociais, de grupo para grupo, de pessoa para pessoa. O inegável é que a
subjetividade desses grupos e consequentemente desses indivíduos é crucial para o
desenvolvimento de hipóteses e teorias sociais plausíveis.
A disciplina de Metodologia da pesquisa em ciências sociais abre um leque na
imaginação do “como fazer” a prática em campo na coleta dos dados; a metodologia, as
preocupações com o meio e com o objeto. A metodologia da pesquisa deve, como
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Lalanda diz, ser mais que só mera coleta de dados, mas uma experiencia humana, de
confiança e dialética, onde as múltiplas interpretações da realidade se expõem e se
conversam a fim da verdade social. A relação da sociologia com o campo é de extrema
importância, não só para a pesquisa em si, mas para todos aqueles que se servem da
atividade e conclusões sociológicas extraídas da prática; instituições públicas,
econômicas, a academia e a própria comunidade. As transformações que as ciências
sociais, munida de teorias reflexivas sobre si e sobre o meio, pode possibilitar, a
expansão de consciência que pode favorecer é inestimável. Por isso é tão cara para as
ciências sociais a pesquisa qualitativa; uma sociologia reflexiva.
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