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25/10/2020 Livro de artista – brevíssima história | Perspectivas do Livro de Artista

Livro de artista – brevíssima história

07/09/2009
tags: textos

O ano de 1962 é considerado o ano do advento dos livros de artista, graças à publicação, nos
Estados Unidos e na Europa, de 4 livros que modificaram a forma de se pensar os livros
conhecidos até então.
Alguns trabalhos considerados precursores dos livros de artista são bons exemplos de design
gráfico ou de livros ilustrados que não questionam o estatuto do livro. Podemos dizer que os livros
de pintores não tem nenhuma ligação direta com o tipo de publicação surgida na década de 1960 e
que veio a ser conhecida como livros de artista. Uma parte da confusão criada em torno deste
nome deve-se ao uso do termo em francês livres d´artiste, em uso desde o início do século XX para
se referir a edições de luxo ilustradas por artistas (pintores e escultores). O termo em inglês
apareceu pela primeira vez impresso quase uma década depois dos primeiros livros entrarem em
circulação.

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Muita gente considera isoladamente o livro Twentysix gasoline Stations, de Ed Ruscha, como o
pioneiro, devido à grande repercussão que teve. Era um livro ordinário – o papel era comum, as
fotos em preto e branco não eram artísticas, não havia um texto de apresentação, apenas legendas
que identificavam um assunto que não era nem um pouco artístico: a localização dos 26 postos de
gasolina do título. O que chama a atenção é que não é um livro de fotografias, apesar das fotos
terem sido realizadas especificamente para este livro. Não é um livro de um fotógrafo, porque
Ruscha é um pintor. É um livro em que a fotografia é utilizada para fazer algo coerente – um livro.
A primeira edição, de 400 exemplares, era numerada e assinada, como as edições de luxo, mas o
livro era comercializado por U$ 3.00. Depois o artista em um depoimento disse que considera um
erro seguir essa tradição de tiragens assinadas, que remete a edições de gravura e aos livros de
luxo, e fez mais duas edições do livro, uma de 500 cópias em 1967 e outra de 3000 cópias em 1969,
sem numeração e sem assinatura. É um livro só de imagens, sem texto.

O romeno Daniel Spoerri, na ocasião de uma exposição de suas esculturas, conseguiu convencer a
galeria a publicar em uma tiragem de mil exemplares um livro que foi enviado pelo correio no
lugar do convite. O livro, chamado de Topografia Anedotada do Acaso, é uma espécie de inventário
que descreve objetivamente e metodicamente os 80 objetos que estavam na mesa de trabalho do
artista, em seu quarto de hotel em Paris. Não é um livro de memórias, nem um diário ou um
manifesto, e também não é um catálogo, pois não reproduz nenhuma obra. É um livro só de texto,
sem imagens, em que o artista faz comentários de caráter pessoal a respeito dos objetos, a memória
que cada um deles evoca. Quatro anos depois, a editora Something Else Press publica nos Estados
Unidos uma edição ampliada, com comentários de Robert Filiou e do tradutor, Emmet Williams.
Existem mais duas edições: uma feita na Alemanha em 1968, com comentários de Dieter Roth, e
outra publicada na Inglaterra, em 1995, em que Spoerri comenta os comentários das edições
anteriores. É uma obra em progresso, cresce e se transforma, como a vida.

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Entre 1961 e 1962, o suíço Dieter Roth publicou diversos pequenos livros (entre 2 e 4 cm) feitos de
jornais recortados. Um destes livros, editado na Bélgica, Dagblegt Bull, era escrito em islandês (o
artista morava na Islândia). As páginas de jornal eram empilhadas e coladas, formando um bloco
que depois era recortado. Com estes fragmentos impressos, o artista coloca em evidência o
processo, a partir do seu interesse pela indústria gráfica e as possibilidades de distribuição, e o uso
crítico ou mesmo político destas possibilidades. Seu objetivo era transformar um instrumento de
alienação (os jornais populares) em instrumento de conscientização (os livros), que se tornasse um
espaço de liberdade, imune aos efeitos da comunicação de massas, aos estereótipos e à
padronização do pensamento. O livro não é um fim em si mesmo, mas um meio.

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