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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE - Escola Superior de Teologia

Teologia Sistemática 2 (Anotações de M.H.Smith “Systematic Theology”) 1

XIII - Criação 179


I. Introdução 179
Alguns autores estudam Criação e Providência na Teontologia. Morton H. Smith sugere que aquele loci deve
concentrar-se no estudo do Ser e Natureza de Deus e deixar para a Antropologia Teológica as obras divinas da
Criação e da Providência.
II. Pressuposições 179
1. A Bíblia, divinamente inspirada é infalível e inerrante.
2. A Bíblia não é livro científico e sim Palavra de Deus, e por isso fala a verdade sobre tudo, até mesmo
naquilo que é estudado pela ciência.
3. Deus é verdade e também sua Palavra e os fatos do Universo; assim não deve haver nenhum conflito entre
a Bíblia e a ciência.
4. O conflito pode existir se não houver interpretação correta da Bíblia ou do Universo, ou de ambos.
5. A verdadeira doutrina da criação é conhecida somente pela revelação e entendida pela fé.
III. Posições da Origem do Mundo 180
Cada cultura humana procura explicações para a origem do mundo. Os incrédulos não incluem Deus em suas
posições.
A. Teorias Ateístas 180
Teorias que negam a existência de Deus são ateístas.
1. Atomística 180
Provém da filosofia grega e considera a matéria eternamente existente. Tudo o que existe no mundo deve ser
contado como movimento da matéria eterna. É hoje consensual que a idéia de átomo remonta à civilização
grega. “A própria palavra átomo vem do grego e é composta de a', que corresponde a uma negativa,
juntamente com te' meiu, que diz respeito a cortar, partir, dividir. Demócrito (século quinto AC) concebia os
átomos como as menores partículas da matéria, ainda que não os imaginasse como necessariamente
pequenos (no conceito de pequeno que temos hoje). A composição da matéria, na visão de Empédocles (490
– 430 AC), resultava de quatro elementos indestrutíveis (fogo, ar, água e terra) – uma visão ainda hoje assim
apresentada por muitos místicos. Estes elementos, se uniam mediante ou se separavam como conseqüência,
de duas forcas divinas: amor e discórdia. Epicuro (341 – 270 AC), por sua vez, afirmava que os átomos não
podiam ser divididos em partes menores por nenhum meio, ainda que eles possuíssem estrutura. Lucrécio
(romano, 98 – 55 AC) concebia os átomos como infinitos em numero e restritos nas suas variedades e seriam,
juntamente com o espaço vazio, as únicas entidades eternas e imutáveis das quais o mundo físico era
constituído. A visão oposta, no entanto, ou seja, a de continuidade e divisibilidade sempre possível, possuía
também defensores. Anaxágoras (500 – 428 AC) e Aristóteles (384 – 322 AC) estavam entre estes. O grande
sucesso de Aristóteles, em vários outros campos, provavelmente contribuiu para que a visão atomística não
prosperasse, pelo menos ate o século dezessete. A concepção da matéria como constituída por átomos,
inicialmente resultado apenas de uma construção especulativa, essencialmente não se altera no período que
vai da Grécia Antiga ate o final do século dezoito e início do século dezenove.”
2. Evolução 180
A matéria é eterna mas o mundo está em constante evolução, ou num processo contínuo de transformação.
“Desde o tempo dos filósofos gregos, passando pelos pensadores do século passado, a adaptação dos seres
vivos aos seus ambientes de vida é um fato incontestável. A origem da adaptação, porém, é que sempre foi
discutida. Desde a Antigüidade se acreditava que essa harmonia seria o resultado de uma criação especial, a
obra de um criador que teria planejado todas as espécies, adequando-as aos diferentes ambientes. Com o
advento do cristianismo, ficou mais fácil admitir que as espécies, criadas por Deus, seriam fixas e imutáveis.
Os defensores dessa idéia, chamados de fixistas ou criacionistas, propunham que a extinção de muitas
espécies seria devida a eventos especiais como, por exemplo, muitas catástrofes que exterminaram grupos
inteiros de seres vivos.
Lentamente, no entanto, a partir do século XIX, uma série de pensadores passou a admitir a idéia da
substituição gradual de espécies por outras através de adaptações a ambientes em contínuo processo de
mudança. Essa corrente de pensamento, transformista, que vagarosamente foi ganhando adeptos, explicava
a adaptação como um processo dinâmico, ao contrário do que propunham os fixistas. Para o transformismo,
a adaptação é conseguida através de mudanças. À medida que muda o meio, muda a espécie. Os adaptados
ao ambiente em mudança sobrevivem. Essa idéia deu origem ao evolucionismo. Evolução biológica é a
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adaptação das espécies a meios continuamente em mudança. Essa mudança das espécies nem sempre
implica aperfeiçoamento ou melhora. Muitas vezes leva a uma simplificação. É o caso das tênias, vermes
achatados parasitas: embora nelas não exista tubo digestivo, estão perfeitamente adaptadas ao parasitismo
no tubo digestivo do homem e de muitos outros vertebrados.” http://ateus.net/artigos/ciencias/
a_evolucao_biologica.php
3. Fenomenalismo 181
Tudo que sabemos é o que experimentamos através dos sentidos, e não podemos afirmar qualquer realidade
adiante de nós.
B. Dualismo 181
Provém da filosofia grega que afirma a eternidade das substâncias espiritual e material. A substância
espiritual (que é boa) chama-se Deus, que usa a substância material (que é imperfeita e má) para criar ou
formar o mundo, dando origem a um mundo imperfeito.
C. Panteísmo 181
O mundo material é a manifestação da realidade espiritual de Deus. Ele é tudo e tudo é Deus.
D. Teísmo 181
O Deus Criador que criou tudo sem o uso de qualquer matéria.
IV. A Visão Bíblica da Criação 182
A. As Palavras Usadas 182
Três palavras hebraicas para descrever a atividade Três palavras gregas utilizadas para tradução dos
criativa: termos hebraicos na LXX:

I. bara’ => criar, moldar, formar: (Qal) moldar, dar ktizo => 1) tornar habitável; povoar, um lugar,
forma a, criar (sempre tendo Deus com sujeito), região, ilha - fundar uma cidade, colônia, estado; 2)
referindo-se: 1) ao céu e à terra; 2) ao homem criar: 2a) de Deus criando o universo; 2b) formar,
individualmente; 3) a novas condições e modelar, i.e., mudar ou transformar
circunstâncias; 4) a transformações. completamente.

II. ‘asah => fazer, manufaturar, realizar, fabricar:


(Qal) fazer, trabalhar, fabricar, produzir, lidar poieo => 1) fazer: 1a) com os nomes de coisas feitas,
(com); agir, executar, efetuar. produzir, construir, formar, modelar, etc.; 1b) ser os
autores de, a causa; 1c) tornar pronto, preparar; 1d)
produzir, dar, brotar; 1e) adquirir, prover algo para
si mesmo; 1f) fazer algo a partir de alguma coisa;
etc.

III. yatsar => formar, dar forma, moldar: (Qal)


formar, dar forma, referindo-se: 1) à atividade
humana; 2) à atividade divina na criação: 2a) a plasein => formar.
criação original; 2b) a indivíduos na concepção;
2c) a Israel como um povo; 3) moldar, pré-
ordenar, planejar (fig. do propósito divino de
uma situação).

Três sentidos aplicados a todas elas:


I. bara’ II. ‘asah III. yatsar
1. No senso absoluto – criação sem material pré-existente:
Gn 1.1 Gn 2.4; Pv 16.4; At 17.24 Sl 90.2
2. Criação secundária – criação a partir do material existente
Gn 1.21,25; 5.1; Is 45.7,12;
Gn 2.7,19; Sl 104.26; Am 4.13; Zc
54.16; Am 4.13; 1 Co 11.9; Ap Gn 1.7,16,26; 2.22; Sl 89.47
12.1
10.6
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3. Aquilo que é criado por providência


Sl 104.30; Is 45.7,8; 65.18; 1 Tm
Sl 74.17 Dt 32.18; Is 43.1,7,21; 45.7
4.4

B. Passagens Relevantes na Criação 183


1. Hebreus 11.3 183
Aceitação por fé, considerando o comando de Deus. Bavinck, Berkhof e outros não concordam com a
expressão creatio ex nihilo, preferindo dizer que a criação se deu sem material pré-existente. Essa expressão
apareceu pela primeira vez em II Macabeus 7.28.
2. Romanos 4.17 184
Deus chama à existência as coisas que não existem. Ênfase no poder divino
3. Apocalipse 4.11 184
Deus criou todas as coisas; por causa da sua vontade vieram a existir e foram criadas. Ênfase na vontade
divina. Não há obrigação divina, mas vontade.
4. Salmos 33.6,9 185
Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o exército deles... ele falou, e tudo se fez; ele
ordenou, e tudo passou a existir. Ênfase no poder divino e na ordem estabelecida para criar.
5. Salmos 104.24 185
Que variedade, SENHOR, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste; cheia está a terra das tuas riquezas.
Ênfase na sabedoria e virtude de Deus para criar (estão implícitas as leis que regem a natureza, bem como a
estética.
6. Isaías 40.25,26,28,29 185
A quem, pois, me comparareis para que eu lhe seja igual? — diz o Santo. Levantai ao alto os olhos e vede.
Quem criou estas coisas? Aquele que faz sair o seu exército de estrelas, todas bem contadas, as quais ele
chama pelo nome; por ser ele grande em força e forte em poder, nem uma só vem a faltar... Não sabes, não
ouviste que o eterno Deus, o SENHOR, o Criador dos fins da terra, nem se cansa, nem se fatiga? Não se pode
esquadrinhar o seu entendimento. Faz forte ao cansado e multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor.
Ênfase na presença de Deus e no acompanhamento constante da obra criada. Com a passagem se combate o
deísmo e o panteísmo.
C. Tratamento de Gênesis 1 185
1. A Interpretação de Gênesis 1.1-2 185
a) No verso 1 lemos que no princípio Deus criou os céus e a terra, sem menção do uso de qualquer material
pré-existente, e se constitui numa narrativa completa.
b) Nos versos 2-31 temos outra narrativa do mesmo fato. O verso 2, visto sob a perspectiva de Is 45.18, não
significa caos, mas apresenta a terra inabitada nesse estágio e tudo sob o controle de Deus.
c) O verso 1 se refere à toda realidade criada na expressão “céus e terra”; do verso 2 em diante a narrativa
concentra-se na Terra como o centro de toda a obra da criação. Bavinck acredita que os anjos teriam sido a
primeira ordem criada, já constantes em Gn 1.1 (céus). Daí justificar-se que a terra era informe e vazia (Gn
1.2).
d) A obra da criação é ad extra, isto é, obra divina em atendimento à sua soberana vontade, distinta de Deus,
porém, dependente dele e manifestação visível da sua glória (Ap 4.11).
2. Os Seis Dias 186
a) Duas teses discutem os seis dias: a) terra jovem; b) terra antiga.

TERRA JOVEM TERRA ANTIGA


10 mil anos 4,5 bilhões de anos
Cada dia da criação um dia normal de 24 horas Cada dia da criação um longo período de tempo

a. Dias Literais b. Períodos Longos de Tempo 187


(1) o sentido básico da palavra yôm denota um dia (1) a palavra yôm é usada de diferentes modos na
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natural; Bíblia (Gn 1.5,16; 2.4; Sl 90.4; 2 Pe 3.8);


(2) a expressão “tarde e manhã” parece apontar (2) As passagens acima mostram que Deus não
para um dia literal; vive no tempo mas está acima dele;
(3) pelo menos do 4° ao 6° dias foram dias literais, (3) os dias referidos são dias de Deus, dias
porque o sol, a lua e as estrelas foram arquetípicos, dos quais os dias dos homens são
posicionados no firmamento para medição da meras cópias ectípicas;
duração dos dias;
(4) o 4° mandamento estabelece o trabalho em (4) os primeiros quatro dias foram orquestrados
seis dias e o sétimo dedicado ao descanso, assim de maneira diferente dos últimos, por causa do
como Deus o fez (Ex 20.9-11); surgimento do sol apenas no 4° dia;
(5) o sétimo dia do repouso de Deus foi (5) “manhã e tarde” são termos designativos do
literalmente de um dia; começo e do fim do dia ou período;
(6) Adão não pode ter sido criado no ritmo dos (6) o sétimo dia do repouso de Deus em relação à
dias, se considerados como longos períodos; sua obra criadora continua até hoje;
(7) de acordo com Sl 33.9, ao comando de Deus (7) se o descanso de Deus é o eterno sábado de
surgiram resultados imediatos; repouso, os outros dias foram longos períodos;
(8) longos períodos de tempo requereriam (8) os longos períodos de tempo se adaptam
obrigatoriamente a inclusão da morte antes da melhor às descobertas científicas e à idade da
criação de Adão (dinossauros, etc.); terra;
(9) assim como Adão e Eva foram criados adultos,
o restante da criação teria surgido com aparência
antiga (criacionismo maduro);
(10) as tremendas forças naturais desencadeadas
pelo dilúvio teriam produzido as atuais condições
terrestres e os fósseis (geologia diluviana)
188
c. Hipótese da Estrutura (framework) 189
A criação está posta sob a luz do fato central da redenção, Jesus Cristo. O objetivo do primeiro capítulo de
Gênesis é mostrar a criação sob a ótica dos atos redentores de Deus. Há dois trios paralelos nos dias da
criação, pelos quais se percebe a proeminente glória do homem, que alcança seu destino no sabbath. O
conceito de “dia” não é importante, mas a descrição de manhãs e tardes evidencia uma estrutura, apenas
para exibir a majestade da criação à luz do grande propósito redentivo de Deus.
V. A Formulação da Doutrina 191
A. O Autor da Criação é Deus - o Deus Triúno 191
a) Deus é o autor, sem distinção de pessoa (Gn 1.1,26); b) Deus Pai é o seu autor (1 Co 8.6; Is 41.4; 45.12; Ap
4.11); c) Deus Pai criou tudo por meio do Filho (Hb 1.2); d) Deus Pai criou tudo por meio do Espírito (Sl
104.30); e) A criação é atribuída ao Filho (Jo 1.1-3; 1 Co 8.6; Cl 1.15-17; Hb 1.2-3); f) A criação é atribuída ao
Santo Espírito (Gn 1.2; Jó 33.4; Sl 104.30; Is 40.12-13). “Todas as coisas são, de uma só vez, oriundas do Pai,
por meio do Filho e no Espírito Santo.” (Berkhof p.130)
B. A Natureza do Ato Criativo 192
1. A Criação foi um Ato Livre de Deus 192
O panteísmo e as teorias de emanação afirmam que a criação foi necessária para a evolução divina. Deus
criou tudo de acordo com o conselho de sua vontade (Ef 1.11; Ap 4.11) e não depende em nada da obra
criada (Jó 22.2-3; 38.4-5; At 17.25).
2. A Criação foi um Ato Temporal de Deus 192
Deus criou no princípio (Gn 1.1; Jo 1.1), mas não havia a contagem do tempo quando Deus criou o mundo. A
criação é temporal, mas o tempo começou a ser contado junto com a criação e as ações de Deus devem ser
consideradas como tomadas na eternidade.
3. A Criação ocorreu sem Meios Externos 192
Ao criar todas as coisas Deus não utilizou material pré-existente, mas pela palavra do seu poder vieram a
existir das coisas que não aparecem (Hb 11.3).
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4. A Criação foi Toda Inclusiva 193


Gn 1.1 se refere à criação dos céus e da terra com o sentido geral do Universo. Já em Cl 1.16, Deus criou por
meio de Cristo todas as coisas visíveis e invisíveis, e isto pode ser entendido como o conjunto de forças e
poderes que atuam no universo físico e no universo espiritual, “sejam tronos, sejam soberanias, quer
principados, quer potestades.”
5. A Criação foi Progressiva 193
O relato de Gn 1 demonstra a progressividade e um possível paralelismo:
Dia Evento Dia Evento
1º Criação integral 4º Sol, lua e estrelas colocados no
Criação da luz. firmamento para sinais, estações, dias e
anos.
2º Criação do firmamento e separação das 5º Águas com enxames de criaturas viventes
águas debaixo e sobre ele. e aves, cada um segundo a sua espécie.
3º Mares concentrados. 6º A terra produz seres viventes: animais
Parte seca surgida. domésticos, répteis e animais selváticos,
segundo a sua espécie.
A terra produz ervas e sementes e
árvores segundo a sua espécie. Deus fez o ser humano à sua imagem.
7º Deus descansou e abençoou o Sabbath
O quadro acima afirma com certeza o caráter progressivo da criação, de forma a permitir a instalação do ser
humano na obra criada.
Quanto à possibilidade de evolução, pode-se concluir que o relato bíblico reafirma a criação das diferentes
formas de vida “segundo a sua espécie”; alguns autores admitem a possibilidade de evolução dentro da
espécie e denominam esta tese de evolução teística.
6. O Resultado do Ato da Criação é uma Criação Dependente 195
Por sua natureza, como obra feita por Deus, a criação é dependente dele e aguarda de sua mão o sustento e a
preservação. Antes do pecado a criação era boa para o padrão divino. Conseqüentemente, não havia pecado
e malignidade durante o processo de criação, o que leva à conclusão de que o mal e o pecado não são
eternos, nem residentes para sempre na natureza criada pelas mãos divinas. O propósito de Deus em Cristo é
a restauração da criação (Rm 8.21).
7. O Propósito da Criação foi a Manifestação da Glória de Deus 196
Ver Sl 19.1; Is 43.7; 60.21. Ver ainda Ef 1.5,6,9,12,14; 3.9,10; Cl 1.16.

XIV - Anjos, sua criação, natureza e funções 197


Introdução 197
A teologia moderna entende o assunto como parte da mitologia primitiva. A Escritura afirma que Deus criou o
ser humano à sua semelhança, mas também criou outras criaturas inteligentes e morais conhecidas como
anjos.
I. Os Termos Bíblicos 197
Malak no hebraico e aggelos no grego significam mensageiro.
Pode significar: 1) O mensageiro ordinário (Jó 1.14; Lc 7.24; 11.52); 2) Profetas (Is 43.19; Ml 3.1); 3)
Sacerdotes (Ml 2.7); 4) Ministros do Novo Testamento (Ap 1.20); 5 Teofanias (Ex 14.19)
II. A Criação dos Anjos 198
Não há detalhes a respeito da criação dos anjos, mas eles fazem parte da criação (Ex 20.11) e constam
naturalmente de relatos da Escritura (Gn 3.1 comp. Ap 12.9; 1 Rs 19.5-7; Hb 1.5-14); foram criados em grande
número (Dn 7.10; Mt 26.53; Lc 2.13; Hb 12.22)
III. A Natureza dos Anjos 198
Anjos são seres criados em Cristo (Cl 1.16), portanto, distintos de Deus (Sl 148.1-5); são criaturas espirituais e
não possuem corpo físico (Lc 24.39; Hb 1.14; Mt 8.16; 12.45; At 19.12; Ef 6.12); não se casam (Mt 22.30);
podem estar presentes em um mesmo espaço em grande número (Lc 8.30); são criaturas racionais e não
oniscientes (2 Sm 14.20; Mt 24.36; Ef 3.10; 1 Pe 1.12; 2 Pe 2.9-11), mestres dos homens em Daniel e
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Apocalipse; não são sujeitos à morte (Lc 20.36) mas sujeitos à condenação (;
Aparições físicas dos anjos: em sonhos (Gn 31.11; Mt 1.20); pessoas sob a inspiração do Espírito Santo (Zc 4.1-
6); pessoas em circunstâncias ordinárias (Gn 18;19; Jz 6.11,12; 1 Rs 19.5,7)
IV. As Ordens dos Anjos 200
Querubins (Gn 3.24; Ex 25.18; Sl 80.1; 99.1; Is 37.16; Hb 9.5), que estão junto ao trono de Deus (Ap 4);
Serafins (Is 6.1-7), que estão a serviço do trono de Deus; Arcanjos (Jd 9), chefes dos anjos, especialmente nas
batalhas contra os inimigos de Deus; Gabriel (Dn 8.16; 9.21; Lc 1.9,26) e Miguel (Dn 10.13,21), anjos que
mediam e interpretam a revelação divina em ocasiões especiais; tronos, soberanias, principados e potestades
(Cl 1.16)
V. O Serviço dos Anjos 202
Berkhof distingue dois serviços:
A. O Serviço Ordinário 202
Louvor a Deus dia e noite (Jó 38.7; Is 6; Sl 103.20; Ap 5.11); alegria no céu pelos pecadores arrependidos (Lc
15.10; cuidado dos crentes (Sl 34.7; 91.11; Mt 18.10; presença na igreja (1 Co 11.10; 1 Tm 5.21); exemplo no
cumprimento da vontade de Deus (Mt 6.10)
B. O Serviço Extraordinário 202
Doação da Lei (Gl 3.19b; ver At 7.53; Hb 2.2); transmissão de aos crentes (Hb 1.14; ver At 12.7; Sl 91.10-12);
execução do juízo de Deus sobre os seus inimigos (At 12.23 ver 2 Rs 19.35; 1 Cr 21.16); separação dos justos e
injustos no dia final (Mt 13.30,39; 24.31; 1 Ts 4.17)
C. A Questão dos Anjos da Guarda 203
Surge com os pais da Igreja (Orígenes; Crisóstomo disse: “Todos os cristãos no momento do batismo,
recebem cada um, um anjo de Deus”; Hermas desenvolve a idéia de dois anjos, um bom e outro mau, que
sugerem o bem ou o mal, respectivamente); os judeus, com exceção dos saduceus, os muçulmanos, os gregos
e os romanos tinham idéias semelhantes. A doutrina dos anjos da guarda faz parte do ensino católico
romano, baseado em Mt 18.10 e At 12.15. Comparar Gn 32.1; 2 Rs 6.16; Sl 34.7; 91.11; Lc 16.22; At 5.19; Hb
1.14, em que não há correspondência de “um anjo” para “cada pessoa”.
VI. O Primeiro Estado dos Anjos e sua Provação 204
A. O Primeiro Estado dos Anjos 204
Como seres criados por Deus, todos devem ter sido criados bons (por implicação de Gn 2.1; 2 Pe 2.4; Jd 6)
B. A Provação e Queda dos Anjos Não Eleitos 204
O estado original é o de santidade e capacitação para os serviços ordinários e extraordinários (Jd 6); a
provação pode estar ligada à soberba (1 Tm 3.6); a queda se dá antes da queda do ser humano (Gn 3.1)
C. Satanás e os Anjos Caídos 205
1. Satanás uma pessoa 205
Ele é apresentado na Bíblia como alguém que fala, arrazoa, odeia, mente e é objeto do julgamento de Deus.
Na tentação de Jesus ele apareceu como pessoa (Mt 4.1-11) e é identificado por Cristo como o pai da mentira
(Jo 8.44); é chamado o deus deste século (2 Co 4.4) e espírito que atua nos filhos da desobediência (Ef 2.2)
2. Sua relação com os espíritos caídos e o mundo 205
Outros espíritos malignos são chamados “anjos do diabo” (Mt 25.41); Satanás é chamado príncipe dos
demônios (Mt 9.34); nas regiões celestes atuam principados e potestades, dominadores deste mundo
tenebroso e as forças espirituais do mal (Ef 6.12). Berkhof comenta que Ef 6.12 não significa que ele está no
controle do mundo, pois esta posição é de Deus (ver Is 43.13; 57.15; Dt 32.39); Satanás é sobre-humano, mas
não divino; tem grande poder mas não é onipotente; sua atuação é limitada (Mt 12.29; Ap, 20.2) e seu
destino é o lago de fogo (Ap 20.10)

XV - A Obra da Providência de Deus 207


A Providência trata de como Deus continua a manter a obra criada. Providência é o termo para “preservação”
e “governo” (ver SI 104)
I. A Crise da Doutrina da Providência no Pensamento Contemporâneo 207
Duas guerras mundiais no séc. XX transformaram o otimismo do séc. XIX em pessimismo. O humanismo
passou a ser realismo (nihilismo) e o ateísmo ganhou força. O crescimento da ciência, do misticismo e do
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sincretismo são patentes. O secularismo ensina que a religião é a projeção do desejo humano. O marxismo vê
a religião como ópio do povo. Feuerbach transformou a teologia em antropologia e viu a religião como
projeção do desejo egoísta. Nietzsche viu o Cristianismo como platonismo para o povo. Freud viu a fé como o
resultado da imaginação humana. Todos esses viram na religião o escapismo humano. O deísmo foi
grandemente responsável por esta visão. Deus foi idealizado à partir da perspectiva humana (ver Rm 1.19-23)
II. Diferentes Visões da Providência 208
A. Que a Providência é apenas Presciência 208
Alguns pais da igreja limitaram a providência de Deus à sua capacidade presciente. Outros a incluíram nos
decretos de Deus referentes à criação e entenderam os decretos como providência divina. O Breve Catecismo
de Westminster se refere aos decretos de Deus tanto para a criação quanto para a providência (P. 11, 12)
B. A Visão Deísta da Providência 209
Deus criou o mundo, que por leis e poderes que lhe são inerentes, funciona por si mesmo desde sua criação.
A providência divina consiste em Deus permitir que o mundo funcione por si próprio. Esse conceito for
concebido pelo pelagianismo (ênfase no livre arbítrio humano), adotado pelo socinianismo (ênfase na
interpretação da Bíblia pela razão e a rejeição de mistérios), afetou o pensamento arminiano (negação da
soberania de Deus na forma de seus decretos), surgiu na forma de deísmo no séc. XVIII e hoje é visto na
forma da teoria da evolução, com ênfase na uniformidade da natureza
C. Ateísmo – Fatalismo 209
Os ateístas pregam, de modo geral, um determinismo cego ou fatalismo, pelo qual algumas forças do
Universo influenciam e determinam o destino humano, como por exemplo, a Astrologia
D. A Visão Bíblica Teísta da Providência 209
A visão bíblica da providência é aquela pela qual Deus não deixou sua criação sozinha, mas continua a
preservá-la e sustentá-la; também governa e controla tudo o que acontece
III. O Conhecimento da Providência 209
A doutrina católico-romana da teologia natural afirma que podemos chegar a um conhecimento verdadeiro
da providência pela natureza. Isto implica que o homem natural poderia interpretar o mundo de maneira
apropriada sem ser regenerado pelo Espírito Santo (ver Rm 3.10-18).
A doutrina cristã evangélica e reformada considera que qualquer visão da providência divina, não contida na
revelação especial de Deus, é falsa por causa do efeito noético (entendimento) do pecado presente nos
humanos, e que o plano de salvação do ser humano é a providência especial de Deus. Se a providência divina
é relacionada à salvação, então o conhecimento verdadeiro da providência vem ao ser humano do mesmo
modo - pela revelação especial
IV. A Providência como Sustentação 211
A. O Ensino Bíblico Concernente à Preservação 211
Deus não somente criou, mas sustenta a criação, permanecendo em contato com ela (CI 1.16,17; Hb 1.3; ver
Ne 9.6) como ensinou Jesus (Mt 10.29,30). (Ver ainda a respeito da ação divina na natureza: Jó 37,38; Salmos
19,33,89,104 e 148)
B. A Relação de Manutenção para a Criação 212
A tese luterana: o trabalho de criação não cessou. A providência é uma re-criação constante de Deus, porque:
1) Somente Deus é auto-existente; 2) Todas as criaturas existem em instâncias de tempo que não têm
conexão entre si; 3) Passagens que sustentam esta tese: Ne 9.6; Jó 10.12; SI 104.27-30; At 17.28; Hb 1.3; Cl
1.17; Is 10.15). Bavinck e Kuyper consideram a providência uma criação contínua, isto é, uma obra divina tão
grande quanto a criação, porém a distinguem da criação quanto ao fato dela proceder daquilo que já existe,
enquanto que as coisas criadas vieram a existir, quando nada havia (Ap 4.11)
Berkouwer e Smith aceitam os textos de Gn 2.1; Is 45.7,12; 51.13; Mc 10.6; Hb 1.10; 2 Pe 3.4; Mt 19.4,8 como
ações divinas separadas
C. A Questão da Graça Comum 214
Kuyper e Berkouwer visualizam, no pacto de Deus com Noé (Gn 8.21,22), a promessa divina de sustento
contínuo do mundo, até o final da história. Schilder não vê a graça comum nessa promessa, nem o propósito
da providência como ligado à salvação, mas o cumprimento do duplo aspecto da obra de Cristo como
Salvador-Redentor e Salvador-Juiz, pela qual tudo redundará em bênção e julgamento. Hoeksema considera
que Deus favorece e ama apenas os eleitos e passagens como Mt 5.45 e Lc 6.35 não podem ser vistas como
graça comum. Van Til e Murray entendem que Deus não tem prazer na morte do ímpio e evitam o termo
graça comum, denominando a ação divina como “benevolência geral”. Berkouwer insiste na longanimidade

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