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INSTITUIÇÕES DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - Prof.

Abel Abelardo Stadniky

Programa a ser desenvolvido :

01.- Noções gerais de Direito. A Disciplina da atividade humana como condição de


coexistência. Regras técnicas e normas éticas. Espécies de normas éticas.

02.- Direito natural e Direito Positivo. Ramos do Direito Positivo.

03.-Fontes do Direito Positivo. Leis, costumes, doutrina e jurisprudência.

04.- Lei: conceito, classificação e hierarquia.

05.-Processo legislativo. Fases de elaboração da lei ordinária federal, estadual e


municipal.

06.- Retroatividade da lei.

07.- Interpretação da lei.

08.-Pessoa física: personalidade e capacidade de direito. Individualização no meio


social. Extinção da personalidade de direito.

09.-Pessoa jurídica: personalidade de direito, início e extinção. Classificação das


pessoas jurídicas, segundo o ramo de direito positivo ao qual pertencem.

10.- Objeto do direito. Bens e coisas e suas classificações.

11.- Fatos Jurídicos Naturais e Atos Jurídicos. Elementos constitutivos do negócio


jurídico. Defeitos do negócio jurídico. Atos ilícitos.

12.- O Estado: funções e poderes.

13.- Os princípios fundamentais do Estado Brasileiro.

14.- Nacionalidade.

15.- Direitos políticos: eleitores, elegíveis e inelegíveis.

16.- Partidos políticos.

17.-Direitos e deveres individuais e coletivos e as garantias constitucionais: hábeas


corpus, mandado de segurança, mandado de injunção, hábeas data e ação
popular. A propriedade e sua função social.

18.-Direitos sociais. Direitos dos trabalhadores urbanos e rurais. A organização


sindical.

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Bibliografia

OBRAS ESPECÍFICAS.

BRANCATO, Ricardo Teixeira. Instituições de Direito Público e Privado: São Paulo-SP: Saraiva, Edição, 2002.
CRETELLA NETO, José; Cretela Jr., José, 1000 Perguntas e Respostas Sobre Instituições de Direito Público
e de Direito Privado, Forense, 3ª Edição 2002.

DOWER, Nelson Godoy Bassil. Instituições de Direito Público e Privado: São Paulo-SP: Nelpa Edições
Jurídicas – L. Dower Ltda. : 11ª Edição, 2002.
MARTINS, Sergio Pinto, Instituições de Direito Público e Privado, Atlas, 2ª Edição 2002.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro; Pinho, Ruy Rebello, Instituições de Direito Público e Privado, Atlas, 23ª
Edição 2002.

OBRAS DE DIREITO PRIVADO .

CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO – LEI 10.406/2001, em vigor desde 12/01/2003.

DOWER, Nelson Godoy Bassil. Direito civil Simplificado – Parte Geral : São Paulo-SP: Nelpa Edições
Jurídicas – L. Dower Ltda. : 1ª Edição, 2002.

DOWER, Nelson Godoy Bassil. Direito Empresarial Simplificado: São Paulo-SP: Nelpa Edições Jurídicas – L.
Dower Ltda. : 1ª Edição, 2002.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: São Paulo-SP: Editora Saraiva : 1° Volume: 10 ª Edição,
1994.

ENCICLOPÉDIA SARAIVA DE DIREITO : São Paulo-SP: Saraiva S/A – Livreiros Editores. 1977-1982

OBRAS DE DIREITO PÚBLICO .

BASTOS, Celso Ribeiro e MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil: São Paulo-SP:
Editora Saraiva. 1º e 2º Volumes, 1989.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

CRETELLA JR., José e CRETELLA NETO, José.1000 Perguntas e Respostas de Direito Constitucional: Rio
de Janeiro-RJ: Edições Revista Forense.3ª Edição, 1999.

FERREIRA, Pinto. 1000 Perguntas Constituição Federal: Rio de Janeiro-RJ: Editora Rio: 1ª Edição. 1983.

FERREIRA, Pinto. Comentários à Constituição Brasileira: São Paulo-SP: Editora Saraiva. 1° Volume, 1990.

GAMA, Lídia Elizabeth Peñaloza Jaramillo Questões para Concursos Jurídicos : Leme-SP: LED Editora de
Direito. 1997.

GAMA, Ricardo Rodrigues. Elementos de Direito Constitucional.: Leme-SP: LED Editora de Direito, 1996.

LARROYED, Marcelo. A Constituição em 1000 Exercícios: Brasília-DF: Brasília Jurídica, 1999.

MORAES, ALEXANDRE. Direito Constitucional: São Paulo-SP: Editora Atlas S/A, 1999.

Instituições de Direito Público e Privado

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Conceito

Instituições de Direito Público e Privado significam o conjunto de normas


jurídicas criadas pelo Estado com a finalidade de disciplinar as relações externas das pessoas
no meio social. Este conjunto de normas impostas pelo Estado é dividido, para fins didáticos,
em dois grandes grupos: l. Normas de Direito Público e 2. Normas de Direito Privado.
Para distinguir tais normas, a doutrina parte do pressuposto de que a norma jurídica
regula as relações entre pessoas na sociedade. Portanto, para se fazer a diferenciação das
normas basta caracterizar quais os sujeitos que se inter-relacionam.
A norma pertencerá à massa de Direito Público se um dos sujeitos for o Estado na
relação com seus súditos ou com outros Estados, no exercício de seu poder de soberania.
Portanto, Normas de Direito Público são aquelas que envolvem a participação do Estado, ou
seja, que regulam as relações em que o Poder Público é parte.
Por outro lado, a norma pertencerá ao Direito Privado se os sujeitos envolvidos na
relação jurídica forem particulares, sem que haja qualquer envolvimento com o Poder
Público. Normas de Direito Privado, são aquelas que disciplinam as relações entre
particulares,1 sem a participação do Estado.
Apesar da denominação da disciplina sugerir o estudo de todas as normas criadas
pelo Estado, tanto as de Direito Público como as de Direito Privado, na verdade, a pretensão
deste curso é menos ampla, pois seu objetivo é estudar algumas noções básicas do Direito
Público e Privado.

I - Direito: Noções Gerais

Direito: definição

Vulgarmente, costuma-se dizer que o Direito não passa de um “sentimento”, algo


assim como o amor, que nasce no coração dos homens. Não é exagero mesmo afirmar que
todos sentem o Direito e que, de certo modo, todos sabem o que o Direito é. Vocábulo
corrente, empregado a todo instante nas relações da vida diária para exprimir sentimento que
todos já experimentamos, está gravado na mente de cada um, representando idéia esboçada
em traços mais ou menos vagos e obscuros. “Isto é direito”, “o meu direito foi violado”, “o
juiz reconheceu meu direito”, são expressões quotidianamente ouvidas, que envolvem a noção
vulgar a respeito do fenômeno jurídico2.
Entretanto, em conseqüência da precariedade dessa noção vulgar, os especialistas
buscam, incessantemente, um conceito mais aprofundado para o Direito. Na verdade a
palavra Direito tem diferentes concepções, tornando-se praticamente impossível reuni-las
num só conceito.
Para exemplificar, podemos tomar a concepção que classifica o Direito em
Objetivo e Subjetivo.

1
Cf. Nelson Godoy Bassil Dower. Instituições de Direito Público e Privado . 8ª ed., Ed.
Nelpa: São Paulo, 1975, p. 5.
2
Cretela Junior, José. Curso de Filosofia do Direito. São Paulo: José Bushatsky, 1967, pp.
120-127.

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Direito Objetivo é o conjunto de normas vigentes que disciplinam o comportamento


das pessoas no meio social. Assim, fazem parte do Direito Objetivo todas as leis que têm por
finalidade dizer como agir ou em quais casos deve-se omitir ou, ainda, quais são os atos
considerados criminosos.
Direito Subjetivo, por sua vez, significa a faculdade ou prerrogativa do
indivíduo de invocar a lei na defesa de seu interesse. Assim, o direito subjetivo de uma
pessoa corresponde sempre ao dever de outra que no caso do não cumprimento poderá ser
forçada a cumpri-lo através de medidas judiciais. A Constituição da República Federativa do
Brasil, por exemplo, garante a todos os trabalhadores o direito de perceber o salário mínimo.
O trabalhador que não receber o valor correspondente ao salário mínimo poderá exigir ou
não o seu pagamento. Essa faculdade de agir, é o Direito Subjetivo.

Definição de Direito

É na sociedade que o Direito existe. Existindo em sociedade o Direito tem como


objetivo dirimir conflitos, além de cuidar do comportamento do homem. O Direito tem como
função disciplinar o comportamento da vida humana.

Nesse sentido, segundo Kant, direito é o conjunto das condições sob as quais a
liberdade de um se harmoniza com a liberdade de outrem mediante uma lei geral
chamada Liberdade.

Liberdade é faculdade de cada um se decidir ou agir segundo a própria


determinação. Todos os homens devem gozar da mesma liberdade, assim o exercício da
liberdade de cada um é limitado pela igualdade de todos. O único limite para o exercício
pleno da liberdade individual será, portanto, o reconhecimento de igual liberdade dos outros.
Todos são livres para decidir ou agir segundo sua determinação, desde que respeitado o limite
imposto pelo reconhecimento das liberdades dos outros.

Dai concluirmos que o exercício da liberdade de um vai até o início do exercício da


liberdade de outrem, ou seja, o Direito de uma pessoa vai até o início do Direito de outra
pessoa.

Normatização da Vida Social – Regras Técnicas e Normas Éticas

Só em passado recente, após Descartes ( 1596-1650 ) é que Ortega y Gasset e


Heiddeger se preocuparam com o estudo da vida humana. Vida humana não é somente o
corpo; não é, apenas, a atuação da alma; não seria, assim, o resultado de corpo e alma. Vida
humana seria a co-presença do homem no mundo. Quando o homem se sente presente no
mundo ele esta vivendo. Vida humana seria, assim, o testemunho que o individuo dá do
mundo que o circunda.

Duas são as ordens de relações possíveis: do indivíduo para com o objeto e do


indivíduo para com outro indivíduo. Estas relações podem ensejar choques de interesses.
Vejamos dois exemplos:

a)- Eu disponho de R$ 100,00 e preciso comprar um livro e uma caneta. Cada um


custa R$ 100,00. Há aqui um choque ou um conflito entre dois interesses de um mesmo
indivíduo ( indivíduo em relação a dois objetos). Esse conflito é denominado de intra
subjetivo.

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b)- Também pode acontecer que dois indivíduos, dispondo cada um de R$ 100,00
queiram comprar um único objeto: conflito, portanto, no âmbito social, entre dois indivíduos.
Esse conflito é denominado de inter subjetivo.

A questão que se apresenta, neste momento, é justamente saber como solucionar


estes conflitos.

Os conflitos intra subjetivos são resolvidos através de regras técnicas. Os


intersubjetivos através de normas éticas.

As regras técnicas podem ser definidas como: a regulamentação que preside a


atividade humana, objetivando conseguir, de modo mais fácil, rápido e eficaz, uma
dada utilidade. Elas dizem respeito à vida humana e à sua regulamentação.

As normas éticas podem ser consideradas como: a regulamentação das relações


entre indivíduos, objetivando possibilitar a coexistência social.

Geralmente toda conduta humana implica na aplicação de uma regra técnica e de


uma norma ética, simultaneamente.

Por exemplo: um jogador de futebol ao passar por seus adversários com a bola,
aplica regras técnicas, efetuando “dribles”; entretanto, se ele empurrar o adversário, estará
contrariando uma regra ética.

Distinção entre regra técnica e norma ética.

Muitos são os estudiosos que se dedicaram a formular a distinção entre a regra


técnica e a norma ética.

Korkounov, por exemplo, afirma que as regras técnicas produzem conseqüências só


no âmbito do indivíduo. A sua inobservância causaria prejuízo, apenas, ao individuo que a
desobedecesse, ao passo que a norma ética produziria conseqüências no âmbito da
coletividade.

Como primeira decorrência desta afirmação, diz Korkounov que as regras técnicas
são facultativas e as normas éticas são obrigatórias. Entretanto esta afirmação não resiste a
analise crítica, como podemos observar com o seguinte exemplo: um engenheiro vai construir
uma casa e desrespeita as regras técnicas de engenharia. A casa acaba caindo e ferindo ou
matando pessoas. Vemos, aí, que o individuo desrespeitou regras técnicas, mas as
conseqüências do ato não se restringiu ao âmbito daquele individuo.

Quem melhor situa a diferença entre a regra técnica e a norma ética é Carlos Cossio.
Diz ele: “ Toda conduta humana é o resultado de uma soma de ACÕES “.

Exemplo: um agricultor deseja construir uma armadilha para capturar animais


daninhos que vêem dizimando sua plantação.

A situação fática acima mencionada pode ser vista sob dois aspectos distintos: 1)-
como o individuo age; 2)- para que o individuo age.

Com relação ao primeiro aspecto, ou seja a atuação na construção da armadilha,


várias etapas deverão ser cumpridas para que se atinja o objetivo desejado: a)- estudo do local
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onde a armadilha será colocada; b)- compra do material; c)- confecção da planta, etc. Neste
aspecto o individuo deverá observar as regras técnicas para a construção de uma armadilha
eficaz.

Com relação ao segundo aspecto vamos verificar qual o desejo do individuo com a
construção da armadilha e assim teremos a apreciação de normas éticas.

Em suma, a regra técnica objetiva a realização de um fim, enquanto a norma ética


visa a conveniência de um fim.

A regra técnica objetiva a perfeição do ato. A norma ética visa aperfeiçoar o


agente do ato.

A regra técnica explica como se alcança um fim. A norma ética cuida conveniência
de se alcançar um fim.

Classificação das normas éticas

Os autores não são unânimes ao se manifestarem com relação aos diversos tipos de
normas éticas.

Leon Duguit, por exemplo, afirma que as normas éticas podem ser resumidas numa
única norma: não fazer nada que atente contra a solidariedade social em qualquer de
suas formas, e tudo fazer que conduza à realização e aperfeiçoamento da solidariedade
mecânica e orgânica.

No entanto essa afirmação de Duguit não pode ser considerada norma ética única,
uma vez que indica o fim visado por todas normas éticas, que é a afirmação de condições que
possibilitem a coexistência social.

Outros autores, como Gurvitch, Del Vecchio, Cossio, indicam a existência de duas
classes de normas éticas : Normas Morais e Normas Jurídicas.

Outros, ainda, como Espíndola, Cogliolo, afirmam a existência de três espécies de


normas éticas: Morais, Jurídicas e Religiosas.

Por fim, há autores, como François Geny, Vanni e Recasens Siches, que classificam
as normas éticas em quatro espécies:

a)- Normas de uso social;

b)- Normas religiosas;

c)- Normas morais;

d)- Normas jurídicas.


Normas de Uso Social visam amenizar a vida em comum. Caracterizam, também,
determinados tipos de conduta: Usual ou Convencional. Significa a conformação do homem
ao querer aquilo que acha que deve ser feito para satisfazer aos outros. É uma conformidade
exterior. A etiqueta, o decoro, as normas de correspondência epistolar constituem normas de
uso social e, conforme sejam elas observadas, ou não, implicam num juízo de aprovação ou
desaprovação por parte da comunidade, e nisto consiste sua sanção.
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Normas Religiosas visa tornar o homem devoto, piedoso e santo. Na conduta


religiosa o homem age sem encontrar em si ou nos outros homens o valor determinante deste
agir. Ele age em função de um valor que transcende a si mesmo e aos outros homens.
Procura encontrar aquilo que nele é eterno, porque receia alguma coisa que está acima de si
mesmo.

Normas Morais visam o aperfeiçoamento espiritual do homem. É o conjunto de


normas que disciplinam o homem em Sociedade e que, impondo somente deveres, visa o seu
aperfeiçoamento, segundo o paradigma vigorante em determinado grupo social.

O parricídio ( matar o próprio pai ) é um dos maiores crimes entre nós. No entanto
na Oceania, este mesmo fato não constitui um crime. O filho deve tirar a vida do pai, quando
este está velho e doente, incapacitado para exercer função na sociedade.

As normas morais tem por objeto, como as jurídicas, disciplinar a conduta social do
homem, mas distinguem-se das normas jurídicas, pois apreciam a conduta humana em
relação ao próprio individuo, enquanto as normas jurídicas apreciam-na em relação a outro
individuo.

Normas Jurídicas são normas formalmente criadas pelo Estado e impostas


coercitivamente à conduta humana com objetivo de discipliná-la, permitindo a convivência
social.

Ela se caracteriza pela bilateralidade: ao mesmo tempo que estabelece deveres


jurídicos de conduta, como prerrogativa, atribui faculdade a outro individuo de reclamar ou
exigir o dever.

II - RAMOS DO DIREITO POSITIVO

1. Direito Natural

Público
Internacional
Privado

Constitucional
Administrativo
2. Direito Positivo Público Tributário
Penal
Nacional Processual ou Judiciário

Civil
Privado Trabalho
Empresarial

Direito Natural e Direito Positivo.

Direito Natural - São os princípios existentes em todas as legislações ou que nelas


devem estar presentes, por se fundarem numa idéia superior de justiça da qual o homem não
pode afastar-se.
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O Direito Natural para os que aceitam a sua existência, é aquele que não se
consubstancia em normas impostas ao indivíduo pelo Estado, mas sim uma lei anterior e
superior ao Direito Positivo. Ele se impõe a todos os povos pela própria força dos princípios
supremos dos quais resulta; é constituído pela própria natureza e não pela criação dos
homens. São exemplos, o direito de se reproduzir, o direito de viver, etc.
O Direito Positivo compreende o conjunto de normas jurídicas em vigor num
Estado determinado e numa determinada época. É o direito, histórica e objetivamente
estabelecido, encontrado em leis, códigos, tratados internacionais, costumes, decretos,
regulamentos etc. É o direito cuja existência não é contestada por ninguém.
Em síntese, o Direito Positivo é o direito que depende da vontade humana,
enquanto o Direito Natural é o que independe de ato de vontade, por refletir exigências
sociais de natureza humana, comuns a todos os homens.
Vejamos os conceitos, detalhadamente:
Direito Internacional Público - É um Ramo do Direito Positivo, cujas normas têm por
finalidade regular as relações entre Estados soberanos.

Direito Internacional Privado - É um Ramo do Direito Positivo, cujas normas regulam as


relações de ordem privada na sociedade internacional. São normas jurídicas que têm por
finalidade resolver os conflitos de leis entre o ordenamento jurídico de dois ou mais Estados.

Direito Constitucional - É um Ramo do Direito Positivo nacional público, cujas normas têm
por finalidade traçar os princípios fundamentais de todo o Direito do Estado, regulando sua
organização política e ditando os direitos básico a quem vive no território deste Estado.

Direito Administrativo - É um Ramo do Direito Positivo nacional público, cujas normas têm
por finalidade disciplinar a organização do Estado para que possa administrar o bem público
a fim de proporcionar o bem estar à coletividade.

Direito Tributário - É um Ramo do Direito Positivo nacional público, cujas normas têm por
finalidade a instituição e a arrecadação de impostos, taxas e outras fontes de receitas do
Estado.

Direito Penal - É um Ramo do Direito Positivo nacional público, cujas normas têm por
finalidade definir crimes e impor penas.

Direito Processual ou Judiciário - É um Ramo do Direito Positivo nacional público, cujas


normas têm por finalidade regular as soluções de conflitos de interesses pelos órgãos do poder
Judiciário.

Direito Civil - É um Ramo do Direito Positivo nacional privado, cujas normas têm por
finalidade regular as relações entre particulares e as destes com o Estado, desde que despido
de suas prerrogativas.

Direito do Trabalho - É um Ramo do Direito Positivo nacional privado, cujas normas têm
por finalidade regular a prestação de serviços subordinados. Regula, portanto, as relações
empregatícias.

Direito Empresarial - É um Ramo do Direito Positivo nacional privado, cujas normas têm
por finalidade disciplinar o exercício da atividade econômica organizada para a produção ou
circulação de bens e serviços.
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* Com a entrada em vigor do Código Civil em 11/01/2003, a profissão de


comerciante e os atos de comércio que eram reguladas pelo Código Comercial,
passaram a ser disciplinadas por ele, através do Livro II – Do Direito de Empresa.

Estudo Dirigido

1. O que se entende por Instituições de Direito Público e Privado?


2. Qual a diferença entre direito objetivo e direito subjetivo?
3. O que se entende por regra técnica?
4. O que se entende por norma ética?
5. Quais são os tipos de normas éticas.
6. Qual a diferença entre as normas de Direito Público e Privado?
7. O que são normas de Direito Positivo?
8. O que é Direito Natural?
9. Quais são os ramos do Direito Positivo Nacional Público?
10. Quais são os ramos do Direito Positivo Nacional Privado?
11. Para que se prestam as normas do Direito Internacional Público?
12. De que tratam as normas jurídicas do Direito Internacional Privado?
13. O que se entende por Direito Constitucional?
14. De que tratam as normas jurídicas do Direito Administrativo?
15. O que é Direito Tributário?
16. O que se entende por Direito Penal?
17. Qual a denominação do ramo do Direito Positivo cujas normas têm por finalidade a
solução dos conflitos de interesses, através do Poder Judiciário?
18. O que é Direito Civil?
19. De que tratam as normas jurídicas consideradas de Direito do Trabalho?
20. O que é Direito Empresarial?

III - FONTES DO DIREITO POSITIVO

1. Conceito de Fonte

A expressão “fontes do direito” tem várias acepções. Podemos considera-la como o


meio técnico de realização do direito objetivo. A autoridade encarregada de aplicar o direito e
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também aqueles que devem obedecer aos seus ditames precisam conhecer as suas fontes, que
são de vária espécies.
Assim, teremos a Fonte de Produção e as Fontes de Conhecimento do Direito
Positivo. A Fonte de Produção é o Estado. As Fontes de Conhecimento, por sua vez, se
subdividem em imediatas ou primárias e mediatas ou secundárias. Como Fontes
imediatas ou primárias temos: a lei e o costume. Como Fontes mediatas ou secundárias
temos: a doutrina e a jurisprudência.
Desta forma, as Fontes do Direito Positivo podem ser representadas no seguinte
quadro sinóptico:

Fonte de Produção Estado

Lei
Imediatas ou primárias
Costume
Fontes de Conhecimento

Doutrina
Mediatas ou Secundárias
Jurisprudência

Vejamos, resumidamente, todas as fontes:


1)- Lei - Lei, considerada como fonte do Direito Positivo, é o preceito formal que
emana da autoridade suprema do Estado, mediante a qual se criam, modificam ou
revogam normas de Direito. A lei é a mais importante fonte do Direito Positivo, pois é a
primeira a ser consultada, quando se quer dirimir qualquer controvérsia. Em países como o
nosso, em que o Direito é escrito, a lei assume papel de suma importância. Por essa razão,
trataremos dela logo a seguir, pois faremos observações de ordem mais particular a seu
respeito.
2)- Costume - Podemos definir costume como o posicionamento uniforme e
reiterado de uma coletividade diante de um determinado acontecimento ou fenômeno
social.
As leis escritas, entretanto, não compreendem todo o Direito. Concomitantemente,
há normas costumeiras, também chamadas consuetudinárias que, embora, não constem de
preceitos votados por órgãos competentes, geram obrigações.
A obediência a uma conduta, por parte de uma coletividade, configura um uso. A
reiteração desse uso forma o costume.

Segundo lição de Vicente Ráo,


“costume vem a ser a regra de conduta criada espontaneamente pela consciência
comum do povo, que a observa por modo constante e uniforme, e sob a convicção
de corresponder a uma necessidade jurídica.3

3
Ráo ,Vicente. O Direito e a Vida dos Direitos. São Paulo: Max Limonad, 1992, p. 287.
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Nos dizeres de João Franzen de Lima,


“costume é o produto de uma elaboração entre os homens. O emprego de uma
determinada regra para regular determinada situação, desde que se repita
reiteradamente, quando igual situação se apresente de novo, constitui uma prática,
um uso, cuja generalização através do tempo leva a todos os espíritos à convicção
de que se trata de uma regra de Direito. Esse hábito que adquirem os homens de
empregar a mesma regra sempre que se repete a mesma situação, e de segui-la
como legítima e obrigatória, é que constitui o costume”4.
Mais cedo ou mais tarde determinados costumes acabam por ser cristalizados em
uma lei, passando, pois, a integrar a legislação do País. Exemplo de uma norma costumeira
que, apesar de não estar consagrada em lei e nem por isso deixa de ser obrigatória, é a
chamada “fila”, seja de ônibus, seja para ingresso em lugar concorrido.
Para que um costume seja reconhecido como tal é preciso:
a)- que seja contínuo; fatos esporádicos não são considerados costumes;
b)- que seja constante, vale dizer: a repetição dos fatos deve ocorrer sem dúvidas e
sem alteração;
c)- que seja moral, isto é, o costume não pode contrariar a moral ou os bons hábitos;
d)- que seja obrigatório, isto é, que não seja facultado à vontade das partes
interessadas;
e)- que não seja contrário à lei, o costume não tem poder de modificar uma norma
legal;

Como já vimos o Direito Consuetudinário 5 é aquele baseado nos costumes.


Consuetudinário vem da palavra latina consuetudine, que significa costume.

3)- Doutrina - A doutrina pode ser definida como o resultado da opinião científica
dos estudiosos do Direito (doutos) a respeito de uma norma ou um conjunto de normas
jurídicas. É o conjunto de investigações e reflexões teóricas e princípios metodicamente
expostos, analisados e sustentados pelos autores, tratadistas, jurisconsultos, no estudo das leis.
É fonte secundária ou mediata do Direito. Como salienta Caio Mário da Silva Pereira,

”em determinadas fases da cultura jurídica, sobressaem escritores, a cujos


trabalhos todos recorrem e de tal forma que as suas opiniões acabam por se
converter em preceitos obrigatórios. No século passado e no começo deste, os livros
de Lafayette, Teixeira de Freitas, Ribas, Coelho Rodrigues tiveram este prestígio.
Eram citados pelos juizes e fundamentavam suas decisões”6.

Com efeito, é de grande valor o trabalho dos doutrinadores na elaboração do direito


objetivo, pois ao apontar falhas, inconvenientes e defeitos da lei vigente, acaba
encaminhando o legislador para a elaboração de lei mais perfeita.

4)- Jurisprudência - São decisões reiteradas dos Tribunais de Justiça a respeito


de controvérsias semelhantes. São normas gerais extraídas de decisões reiteradas dos
4
Lima, João Franzen de. Curso de Direito Civil Brasileiro . Rio de Janeiro: Forense,
1968, p. .33.
5
O antigo direito consuetudinário passou a ser direito escrito com a Lei das 12 Tábuas,
datada de, aproximadamente, 445 A.C., e considerada a mais antiga lei romana.
6
Pereira, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense,
1982, vol. 1, p. 68.

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tribunais num mesmo sentido, numa mesma direção interpretativa. Sempre que uma questão é
decidida reiteradamente do mesmo modo, surge a jurisprudência. Ela é uma fonte mediata
ou secundária do Direito. Não tem poder de levar o juiz a decidir casos semelhantes da
mesma maneira, entretanto, fornece importantes subsídios na solução de outros casos.

Consultar decisão transcrita na página 44 e seguintes

Como exemplo para melhor compreender o valor da jurisprudência na


formação do Direito podemos citar os direitos da concubina. Até há pouco tempo, a
concubina não tinha qualquer direito reconhecido pelo nosso ordenamento jurídico, todavia,
longa série de julgados alterou tal situação. Atualmente é pacífica a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal, reconhecendo a ela o direito à remuneração de seus serviços de
valor econômico e à sua parte nos bens adquiridos com o esforço comum do casal. Neste
sentido, a súmula 380 do Supremo Tribunal Federal dispõe: “Comprovada sociedade de fato
entre concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio
adquirido pelo esforço comum”. Este entendimento jurisprudencial já produziu frutos no
nosso Direito Positivo na medida em que a Constituição de 1.988, art. 266, § 3°, dispõe:
“Para efeitos da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a
mulher, como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”. Em
10/05/96 entrou em vigor a Lei 9.278, regulamentando a União Estável.
À série de exemplos pode ser acrescido um dos temas mais polêmicos da
sociedade moderna: a união entre homossexuais. Recentemente, verificamos decisões de
nossos Tribunais reconhecendo a sociedade de fato na união entre homossexuais,
assegurando o direito da meação dos bens adquiridos na constância do convívio e com
esforço comum.

IV - Preenchimento da lacuna da lei

A solução dos litígios é realizada pelo Estado, através do seu representante próprio, o
juiz. O juiz aplica a lei à uma situação litigiosa concreta, dizendo a quem pertence a razão. A
fonte principal utilizada pelo juiz para decidir um litígio na sentença é a lei jurídica.
Por outro lado, o juiz tem a obrigação de proferir a sua decisão final, ou seja, de
proferir a sentença solucionando o litígio que lhe foi submetido. O que não pode acontecer é
o juiz não dar decisão, alegando não existir lei a ser aplicada ou ser ela lacunosa ou obscura.
Quando a lei for lacunosa, obscura ou, ainda, não existir lei que discipline o fato causador
do litígio, o juiz decidirá com apoio na analogia e nos princípios gerais do direito.

1. A n a l o g i a

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Ao consultarmos o Dicionário do Aurélio7, verificamos que a palavra analogia


possui diversas acepções. Juridicamente, significa a operação lógica mediante a qual se
suprem as omissões da lei, aplicando à apreciação de uma dada relação jurídica, as
normas de direito objetivo disciplinadoras de casos semelhantes.
A analogia consiste em aplicar a um caso não previsto na lei, uma outra lei que
disciplina um caso semelhante, pois fatos semelhantes exigem normas semelhantes.
Como exemplo de aplicação da analogia lembramos aqui a Lei n° 2.681 de 1912,
que é sempre mencionada como interessante exemplo da sua aplicação. Destinada a
regulamentar a responsabilidade das companhias de ferro por danos causados a passageiros e
a bagagem, passou a ser aplicada, por analogia, a todas as espécies de transportes terrestres
( bonde, metrô, ônibus e até em acidentes ocorridos em elevadores), à falta de legislação
específica.

2. Princípios gerais do Direito

Princípios, sob o ponto de vista da filosofia, são proposições diretoras de uma


ciência, às quais todo o desenvolvimento posterior dessa ciência deve estar subordinado.
Toda ciência é constituída por princípios. Há princípios que são comuns a todas as
ciências e aplicáveis a todos os campos do saber, como é o caso do movimento ou do
equilíbrio: sãos os chamados “princípios universais”. Cada ciência, por sua vez, é gerida por
princípios ou cânones.
Os princípios da ciência do Direito são chamados de princípios gerais do Direito e
abrangem todos os ramos da ciência jurídica. Assim, cada ramo do direito também terá seus
princípios particulares que distinguem os ramos entre si.
Os princípios gerais do Direito têm grande importância no preenchimento da
lacuna da lei, pois existindo lacunas ou omissões no sistema legal e não podendo o juiz
servir-se da analogia para solucionar o caso que lhe é submetido, apelará para os princípios
gerais do Direito.
Na expressão de Caio Mário da Silva Pereira,
“a invocação dos princípios gerais do Direito faz apelo às inspirações mais
altas da humanidade civilizada, e joga com aquelas normas incorporadas no
patrimônio cultural e jurídico da nação, permitindo ao juiz suprir a
deficiência legislativa com a adoção de uma cânon que o legislador não
chegou a ditar sob a forma de preceito, mas que se contém imanente no
espírito do sistema jurídico” 8.

Nosso legislador não especificou quais são esses princípios, uma vez que seus
enunciados são manifestações do próprio espírito de uma legislação. No entanto, a título de
exemplo, enumeramos alguns princípios gerais de Direito:

1. Ninguém pode transferir mais direito do que tem.


2. Ninguém deve ser condenado sem ser ouvido.

7
Cf. Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Dicionário Básico da Língua Portuguesa. São
Paulo: Nova Fronteira, 1995.
8
Pereira, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Rio de Janeiro: Forense,
1982, vol. 1, pp. 67/68.
13
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3. Ninguém pode invocar a própria malícia em benefício próprio.


4. Os contratos devem ser cumpridos.
5. O direito individual da pessoa vai até onde inicia o direito da outra.

Ainda, a título de exemplo, podemos citar alguns princípios particulares aplicáveis a


ramos do Direito:
1. Direito da Família - os princípios visam sempre o reforço do núcleo familiar.
2. Direito do Trabalho, tem como princípio dominante a proteção do empregado.
3. Direito Penal, tem como princípio decidir em favor do réu sempre que haja
dúvida.

V- L E I
Como mencionamos anteriormente, a lei é a fonte principal do Direito. Passamos a
tratar da Lei, fazendo considerações de ordem mais particular sobre o tema.

1. Conceito

Não há unanimidade quanto ao conceito de LEI entre os estudiosos. A discussão


começa com o próprio significado etimológico da palavra. Uns acreditam que “lei” vem do
verbo latino “ligare”, que significa “ligar”. Outros, julgam que vem da palavra latina
“legere”, que significa “ler”. A palavra tanto pode originar-se do verbo “ligar”, pois, com
efeito, lei é algo que liga, no sentido de vincular obrigatoriamente a todos, quanto de “ler”,
porque a lei é uma disposição que, sendo escrita, há de ser lida.
No entanto, há outro aspecto que nos chama atenção. A palavra LEI é empregada em
sentido amplo e, também , em sentido restrito. Isto pode causar certa perplexidade quando
nos defrontamos com as várias definições de LEI elaboradas pelos estudiosos do Direito.
Para facilitar a compreensão dos diversos sentidos em que LEI é usada, mais ou
menos amplos, podemos esboçar o seguinte quadro:

1. Normas dos fenômenos físicos

Lei Constitucional

Lei Complementar

Normas jurídicas Lei Ordinária

LE Decreto-lei
I
2. Normas dos fenômenos sociais Medida Provisória

Normas de uso social


Normas religiosas
Normas morais.
Assim, se encararmos a LEI em sentido amplo, ela poderá referir-se à regra que
rege tanto os fenômenos físicos, como os fenômenos sociais.

14
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A chamada LEI dos fenômenos físicos é aquela fixada em razão da observância de


certos fenômenos. Se o fenômeno se repete constantemente, sempre da mesma forma, nasce
ali a norma em razão desta constância. Em conseqüência, se diz que a lei dos fenômenos
físicos indica sempre “o que é”. Não raro, encontramos pessoas usando as expressões: Lei
da Física, Lei da Matemática, etc. , pois essas normas foram fixadas a partir da observância
da repetição do fenômeno. Na matemática, por exemplo, encontramos a regra que estabelece
que “na adição a ordem dos fatores não altera o produto”. Essa regra, conhecida como LEI,
expressa exatamente “o que é”, pois a ordem dos fatores jamais alterará o produto na adição.
A chamada LEI dos fenômenos sociais não pode ser representada pela expressão “o
que é”, pois, na verdade, representa, tão somente, um ideal de comportamento, uma vez que
ela pode ser infringida, desrespeitada e, por essa razão, pode ser representada pela
expressão “o que deve ser”. Assim, quando a LEI estabelece que matar alguém é crime, está
indicando um ideal de comportamento, ou seja, que não se deve tirar a vida do semelhante.

As Leis dos fenômenos sociais podem ser encaradas sob aspectos mais particulares.
Há normas jurídicas, normas morais, normas de uso social e normas religiosas. Nosso
campo de interesse reside nas Normas Jurídicas, que se caracterizam por certas
especificidades. Há diversas espécies de “LEIS”, como a Lei Constitucional, a Lei Ordinária,
o Decreto-lei, a Medida Provisória, etc. Cada uma com suas particularidades, no entanto,
denominadas genericamente de Lei.
Ruy Rebello Pinho e Amauri Mascaro Nascimento9, citam diversas definições de Lei
elaboradas por pensadores em épocas diferentes. Ao analisarmos tais definições, em
confronto com o acima exposto, concluiremos que as concepções vistas até aqui referem-se
à Leis encaradas sob aspectos diferentes. Vejamos:
Auguste Comte (Isidore Auguste François Marie Comte, filósofo e matemático
francês – 1798-1857), por exemplo, segundo os citados autores, definiu LEI como “relações
constantes de sucessão e semelhança entre os fenômenos”. Na concepção de Stuart Mill
(John Stuart Mill, filósofo e economista inglês – 1806-1873), a LEI decorre de “Relações
constantes de sucessão e simultaneidade”. Igualmente, Bertrand ( Bertrand Arthur Willian
Russel, matemático e filósofo britânico – 1872-1970), definiu-a como “Relações constantes
e invariáveis que ligam os fenômenos”. Tais definições nos levam a crer que os respectivos
autores estão se referindo tão somente às leis dos fenômenos físicos, pois salientam a
invariabilidade dos fenômenos.
A definição atribuída a Ahrens ( Heinrich Ahrens, jurisconsulto e filósofo alemão –
1808-1874) nos leva a deduzir que o autor possui uma visão mais genérica, pois assim se
expressa quanto a LEI: “Regra geral e constante que domina a ordem dos fenômenos, quer
no mundo físico, quer no mundo moral”. Nesta definição concebe-se a LEI, no sentido
genérico, englobando, portanto as duas espécies: a dos fenômenos físicos e a dos fenômenos
sociais, que o autor denomina de fenômenos do mundo moral.

Por último, queremos chamar a atenção sobre a definição atribuída a Beseler que,
tendo uma perfeita visão dos diversos tipos de LEI, especifica a LEI à qual está se
referindo, quando assim se expressa: “A lei, considerada como fonte do Direito Positivo, é o
preceito formal que emana da autoridade suprema do Estado, mediante a qual se criam,
modificam ou revogam normas de Direito.” Esta definição expressa com melhor precisão a
dinâmica social presente no processo de criação das normas de Direito, bem como salienta o
papel do Estado, enquanto fonte de produção, e da Lei, enquanto fonte do conhecimento do
Direito Positivo.

9
Pinho, Ruy Rebello e Nascimento, Amauri Mascaro. Instituições de Direito Público e
Privado. São Paulo: Ed. Atlas, 1976, p. 47.

15
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2. Classificação das leis

As LEIS poderão ser classificadas sob diversos aspectos. Entretanto, vamos nos
deter somente em dois: 1. quanto à natureza e, 2. quanto à origem.

Substantivas
1. Quanto à
natureza
Adjetivas

Federais
2. Quanto à origem Estaduais
Municipais

1. Quanto à natureza:

Substantivas - São aquelas que contêm uma regra de organização ou de


comportamento. São as chamadas leis de fundo, como as que compõe o Código Civil,
Código Penal, etc.
Adjetivas - São aquelas que contêm uma regra que estabelece a forma pela qual o
Estado, através do Poder Judiciário, aplica a sanção prevista nas leis substantivas. Contêm
normas que determinam a forma de resolver os conflitos de interesses submetidos ao Estado.
São normas de procedimento, como as contidas no Código de Processo Civil, Código de
Processo Penal.

2. Quanto à origem:

Federais - São leis que emanam do Congresso Nacional (Senado e Câmara dos
Deputados) e têm aplicação em todo território nacional.

Estaduais - São leis originárias das Assembléias Legislativas Estaduais, cuja


aplicação se restringe ao território do respectivo Estado-Membro.

Municipais - São leis originárias das Câmaras de Vereadores, cuja aplicação se


restringe ao território do respectivo Município.

3. Hierarquia da lei

No caso do Brasil, um Estado Federativo constituído de unidades políticas


autônomas agregadas à União Federal, três são as fontes originárias da LEI. Por essa razão
e para se evitar o conflito de leis originárias de unidades diferentes, que possam disciplinar
diferentemente um mesmo fenômeno social, é que se preconizou uma ordem de
importância das Leis, evitando-se, assim os possíveis conflitos de Leis. Essa hierarquia da
Lei obedece a seguinte ordem:

Lei Constitucional Federal

16
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Lei Complementar e Ordinária Federal

Lei Constitucional Estadual

Lei Complementar e Ordinária Estadual

Lei Orgânica do Município

Lei Complementar e Ordinária Municipal

Assim, uma Lei Estadual não pode contrariar os dispositivos de uma Lei Federal e
se isso ocorrer ela será inaplicável, ressalvados os casos de competência exclusiva dos
Estados e Municípios. Uma Lei Federal estabelece o princípio a ser seguido pelas Leis de
hierarquia inferior que a ela devem coadunar-se.

Leis inconstitucionais são aquelas que entram em choque com preceitos contidos
na Constituição Federal, que é a lei que ocupa o topo da pirâmide da hierarquia das leis.

4. Fases de elaboração da Lei

Para que possamos melhor entender as fases de elaboração da leis, tomaremos como
exemplo, as fases de elaboração de uma lei ordinária no âmbito federal, que comporta duas
Casas Legislativas (Senado e Câmara dos Deputados), diferentemente do âmbito Estadual e
Municipal, que comportam apenas uma Casa Legislativa (Assembléia Legislativa, no Estado
e Câmara de Vereadores, no Município).

A elaboração da Lei Ordinária compreende uma série de atos que devem ser
praticados por determinados órgãos para a validade formal da lei. As fases desta elaboração
podem ser representadas pelo seguinte quadro:

1. Iniciativa

2. Discussão e votação

Expressa
Sanção
Tácita

Total
3. Execução Veto
Parcial

Promulgaçã
o

Publicação

4.1. Iniciativa

17
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Iniciativa é a faculdade de propor um projeto de Lei. É atribuída à pessoas ou


colegiados. A iniciativa da Lei Ordinária, no âmbito federal compete:

ao Presidente da República

aos Senadores

aos Deputados Federais

ao Procurador Geral da República

às Comissões especializadas

ao Supremo Tribunal Federal

aos Tribunais Superiores

aos cidadãos
Comumente, a elaboração do projeto de Lei Ordinária Federal cabe ao Presidente da
República, aos Senadores ou Deputados Federais.

No caso do projeto de lei ser de iniciativa do povo, ele deverá ser subscrito por, pelo
menos, 1% dos eleitores, distribuídos por, pelo menos, 5 Estados da Federação, sendo que
estes Estados deverão estar representados por, pelo menos, 0,3 % de seus eleitores.

4.2. Discussão e Votação


Se o projeto de lei for, por exemplo, de iniciativa do Presidente da República, será
encaminhado à Câmara dos Deputados, onde iniciará sua tramitação no Poder Legislativo.
Esta tramitação representa a segunda fase de elaboração e é denominada de Discussão e
Votação. Ao chegar na Câmara dos Deputados, o projeto é submetido às Comissões
Especializadas.
Comissões Especializadas - são colegiados formados por Deputados Federais com o
objetivo de analisar projeto e emitir parecer sob determinados aspectos específicos da Lei,
para o qual a Comissão foi constituída.
Assim, por exemplo, haverá uma Comissão com o objetivo de verificar se o projeto
de Lei não contraria dispositivos contidos na Lei hierarquicamente superior. No caso da lei
ordinária federal, verifica-se que ela é hierarquicamente inferior à Constituição Federal. Essa
Comissão Especializada , na Câmara dos Deputados, é denominada de Comissão de
Constituição e Justiça e de Redação- CCRJ. Outras comissões existem como a Comissão de
Direitos Humanos - CDH, Comissão de Educação, Cultura e Desporto- CECD , Comissão de
Fiscalização Financeira e Controle – CFFC., etc.
Nas Comissões Especializadas, o projeto de lei poderá receber emendas. Após ser
submetido às Comissões Especializadas e receber os respectivos pareceres o projeto será
enviado ao plenário, quando, então ocorrerão os debates (discussão) e a votação. A
aprovação do projeto de lei ordinária se dá por maioria simples ou relativa.

Vamos aqui, abrir um parênteses para esclarecer os atributos da Maioria:

18
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Maioria Simples ou Relativa - é a simples superioridade numérica de votos. A


aprovação por maioria simples se dará se o projeto obtiver mais votos favoráveis do
que contrários.
Maioria Absoluta - é número igual ou superior à metade do total dos votos, mais um
voto. A aprovação por maioria absoluta se dará se o projeto obtiver pelo menos 50%
+1 dos votos.
Maioria Qualificada - é o número superior de votos ao da maioria absoluta, e
poderá ser representada por 2/3, 3/5 dos votos. A aprovação por maioria qualificada
de 3/5, por exemplo, só ocorrerá se o projeto obtiver a aprovação de, pelo menos, 3/5
dos votos.
Quorum - é o número mínimo de pessoas presentes para que uma assembléia
deliberativa seja considerada válida. Assim, quando um colegiado for constituído
para tomar qualquer deliberação é indispensável a fixação do quorum. A falta de
quorum invalida a deliberação que , por ventura, tenha ocorrido.

O projeto aprovado no 1° Turno de Discussão e Votação, será submetido ao 2°


Turno de Discussão e Votação. Se for novamente aprovado por maioria simples, estará
aprovado na Câmara dos Deputados.
No sistema bicameral as deliberações tomadas por uma das câmaras deverá ser
submetida a outra, que funcionará como revisora. Por isso, o projeto de lei ordinária
aprovado na Câmara dos Deputados é enviado ao Senado, onde, após passar pelas
Comissões Especializadas e receber os respectivos pareceres, será submetido a mais um (1)
turno de Discussão e Votação. Se aprovado pela maioria simples, neste único turno de
revisão, estará aprovado no Poder Legislativo.

Arquivamento do projeto - o projeto de lei será arquivado se receber pareceres


contrários de todas as Comissões Especializadas. Este é único caso em que as Comissões
Especializadas têm força deliberativa na elaboração da lei ordinária, uma vez que sua
função primária é emitir pareceres.

Outra forma de arquivamento do projeto de lei é a não aprovação pela maioria


simples em qualquer um dos três turnos de votação - dois na casa iniciadora e um na casa
revisora.

4.3. Execução

O projeto de lei aprovado no Legislativo é enviado ao Poder Executivo, que participa


na elaboração da lei ordinária. Esta fase recebe a denominação de fase da execução.

SANÇÃO - é a aprovação, no Poder Executivo, do projeto de lei já aprovado no


Legislativo. A sanção poderá ser de duas espécies: 1. expressa e, 2. tácita.
1. Sanção Expressa - ocorre quando o Presidente da República, representante do
Poder Executivo, manifesta-se expressamente no sentido de concordar com o
projeto de lei já aprovado no Legislativo.
2. Sanção Tácita - ocorre quando o Presidente da República, não se manifesta, no
prazo de quinze dias, a contar do recebimento do projeto de lei já aprovado no
Legislativo. Essa omissão tem como conseqüência a aprovação do projeto de lei.

19
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VETO - é a não aprovação, pelo Presidente da República, do projeto de lei já


aprovado no Poder Legislativo. O veto poderá ser de duas espécies: 1. total e, 2. parcial.
1. Veto Total - ocorre quando o Presidente da República não concorda com todo
projeto de lei.

2. Veto Parcial - ocorre quando o Presidente da República não concorda com parte
do projeto de lei. Não concorda, por exemplo, com um ou mais artigos.
A competência para a elaboração da Lei é do Poder Legislativo. A
participação do Poder Executivo é para possibilitar o aperfeiçoamento da Lei. Esta
participação se dá através da sanção e do veto, por esse motivo, o direito de veto é limitado à
apresentação de motivos justificadores. O veto deve sempre ser acompanhado das razões que
o motivaram e, essas razões, limitam-se a dois argumentos: Inconstitucionalidade do projeto
ou ser ele contrário ao interesse público.
Projeto Vetado - Ocorrendo o veto, total ou parcial, as razões do veto serão
submetidas à apreciação do Câmara dos Deputados e do Senado. Se a maioria absoluta
(50%+1 dos votos) de Deputados e Senadores não concordar com as razões do veto, este
cairá, ou seja, perderá seu efeito, e o projeto de lei é considerado aprovado tal como o
foi originariamente no Poder Legislativo.

No caso do veto ser total e as razões do veto não caírem, o projeto será
arquivado. Se o veto for parcial, serão desconsiderados, tão somente, os artigos ou
parágrafos vetados.

Promulgação - é a declaração de que o projeto de lei já percorreu todas as fases de


elaboração e está pronto para entrar em vigor.
A promulgação é a conseqüência necessária da sanção expressa. Concordando com
o projeto de lei, o chefe do Poder Executivo não poderá se furtar de promulgá-lo, pois é por
meio da promulgação que se confere força executória à Lei. É por isso que a sanção
expressa vem sempre acompanha da promulgação. “Sanciono e promulgo a presente Lei”,
despacha o Presidente da República.

Nas hipóteses de sanção tácita e derrubada do veto, o Presidente da República tem


um prazo de 48 horas para promulgar a Lei. Caso não o faça, a promulgação será efetivada
pelo Presidente do Senado ou, ainda, pelo Vice-Presidente do Senado.

Publicação - é o ato pelo qual se dá ciência às pessoas da existência da nova Lei.

É preceito de nosso Direito que não é lícito a ninguém deixar de cumprir a Lei
alegando que não a conhece. “Se fosse possível escusar-se de cumprir a Lei com a simples
alegação de ignorância, a Norma deixaria de ter força e perderia a sua finalidade,
contrariando, portanto, a ordem pública”10.

Tratando-se de Lei Federal, a publicação deverá ser feita no Diário Oficial da


União. Se for Lei Estadual, no Diário Oficial do Estado e, no Diário Oficial do Município,
se for Lei Municipal.

“No tocante à Lei Municipal, em não havendo imprensa oficial, a publicação poderá
ser efetuada em órgão de imprensa de circulação local ou regional ou, por afixação de seu

10
Brancato, Ricardo Teixeira. Instituições de Direito Público e Privado . São Paulo: José
Bushatsky-Editor, 1982, p. 34.
20
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texto integral na Prefeitura ou sede da Câmara de Vereadores. Nesta última hipótese, a Lei
será obrigatoriamente arquivada no Cartório de Registro do distrito da sede, permitida a
consulta gratuita a qualquer interessado”11.

Vigência da Lei - é de fundamental importância sabermos o momento exato do


início da vigência da lei, ou seja, a partir de que momento ela passa a ser obrigatória e deve
ser, por todos, cumprida.

A lei entra em vigor na data designada em seu próprio texto. O mais comum é
encontrarmos a seguinte expressão: “A presente lei entra em vigor na data de sua
publicação”. Entretanto, uma Lei publicada hoje poderá ter vigência no dia 1º de janeiro do
ano próximo. Assim, teremos uma Lei que foi aprovada e publicada, mas somente no dia 1º
do ano seguinte terá vigência, ou seja, passa a ser obrigatória. Este lapso de tempo que
decorre entre a publicação de uma lei e o início de sua vigência chama-se “vacatio legis”.

Se, por qualquer motivo, a lei não determinar o início de sua vigência, ela entrará em
vigor 45 dias após sua publicação no território nacional e 90 dias para aplicação fora do
território nacional.

5. Elaboração da Lei Ordinária Estadual e Municipal

Após termos examinado as fases de elaboração da lei ordinária federal, fica fácil
entender as fases de elaboração da lei ordinária Estadual e Municipal.

A elaboração dessas leis obedece as mesmas fases da lei ordinária federal: 1.


iniciativa; 2. discussão e votação e 3. execução, que subdivide-se em sanção, veto,
promulgação e publicação.
5.1. Iniciativa

A iniciativa da Lei Ordinária Estadual poderá ser:

do Governador

dos Deputados Estaduais

das Comissões Especializadas

do Presidente do Tribunal de Justiça

da Procurador Geral da Justiça

dos cidadãos.

No Estado do Paraná, o projeto de lei de iniciativa popular deverá estar subscrito


por, pelo menos, 1% dos eleitores do Estado, distribuídos em pelo menos 50 municípios, com
pelos 1% dos eleitores inscritos em cada um deles.

O projeto de Lei Ordinária Municipal será de iniciativa:

do Prefeito Municipal

11
Max & Édis. Manual de Direito Público& Privado . São Paulo: Ed. Revista dos
Tribunais, 1987, p. 37.
21
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dos Vereadores

das Comissões especializadas da Câmara

dos cidadãos.

No Município de Apucarana, o projeto de lei de iniciativa dos cidadãos deverá ser


subscrito por, no mínimo, 5% dos eleitores do Município.

5.2. Discussão e votação

Diferentemente do âmbito federal, os Estados e os Municípios possuem uma só casa


legislativa, respectivamente, Assembléia Legislativa e Câmara de Vereadores. Por esta razão,
o projeto de lei ordinária, na fase da discussão e votação terá três turnos na mesma casa
legislativa.

5.3. Execução

A única diferença nesta fase nas leis estaduais e municipais está no fato de que o
Poder Executivo é representado, respectivamente, pelo Governador e pelo Prefeito.

6. PROCESSO LEGISLATIVO

O processo legislativo é o conjunto de atos pré-coordenados realizados pelos órgão


legislativos, visando a criação de normas jurídicas.

O processo legislativo, no âmbito federal, compreende a elaboração de:

1. Emendas à Constituição.

2. Leis complementares à Constituição.

3. Leis Ordinárias.

4. Leis Delegadas.

5. Resoluções.

6. Decretos Legislativos.

7. Medidas Provisórias.

1. Emenda à constituição - é a lei de elaboração de forma especial que tem por


finalidade acrescentar ou modificar um dispositivo da Constituição.

O projeto de Emenda à Constituição poderá ser de iniciativa:

a)- De 1/3, no mínimo, dos membros da Câmara de Deputados ou do Senado


Federal

b)- Do Presidente da República


22
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c)- De mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação,


manifestando-se cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.

A Emenda à Constituição será discutida e votada em cada Casa do Congresso


Nacional, em dois turnos. Será considerada aprovada se obtiver, em ambas as Casas, 3/5 dos
votos dos respectivos membros.

A Emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e


do Senado, com o respectivo número de ordem. Após, será publicada e entrará em vigor.

Clausulas Pétreas - Denominam-se clausulas pétreas os dispositivos constitucionais


que não podem ser alterados por Emendas à Constituição. Não será objeto de deliberação a
proposta tendente a abolir:

a)- a forma federativa do Estado

b)- o voto direto, secreto, universal e periódico

c)- a separação dos Poderes

d)- os direitos e garantias individuais


2. Leis complementares à Constituição - são leis que têm por finalidade
complementar um dispositivo contido na Constituição, regulamentando assunto nela
contido. A própria Constituição, portanto, estabelece os casos em que deve haver a
complementação.

Tomemos por exemplo o seguinte caso. “A Constituição estabelece:

Art. 7ª - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros


que visem a melhoria de sua condição social:

I- relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa


causa, nos termos da lei complementar, que preverá indenização
compensatória, dentre outros direitos”.

A Lei complementar à Constituição possui uma única diferença com relação as fases
de elaboração da Lei Ordinária. Esta diferença está na Votação. Enquanto a lei ordinária é
aprovada por maioria simples de votos, a Lei Complementar será aprovada por maioria
absoluta de
votos.”

3. Leis Ordinárias - São leis criadas com o objetivo de disciplinar os casos comuns,
ou seja, aqueles que o legislador constitucional não determinou que fossem disciplinados por
leis especiais.

4. Leis Delegadas - São leis elaboradas pelo Presidente da República, em razão da


delegação de poderes feita pelo Poder Legislativo.

Delegação é a transferência temporária e excepcional de poderes que um


órgão faz a outro. Com a delegação legislativa, o Congresso transfere ao governo (Poder

23
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Executivo) a competência de editar atos materialmente legislativos, tendo a eficácia de lei


formal.12

As leis delegadas são equiparadas às leis ordinárias, pelas quais podem ser
alteradas ou revogadas.

5. Resoluções - São atos deliberativos do poder legislativo, com caráter


administrativo ou político. Nas palavras do prof. Manoel Gonçalves Ferreira Filho, as
resoluções cuidam, geralmente, de assuntos de interesse interno do Legislativo. Assim, por
exemplo, a Resolução materializa a deliberação do Poder Legislativo quando este outorga
poderes ao Presidente da República para elaborar uma Lei Delegada.

“Destinam-se os projetos de resolução, em regra, a regular matéria de


caráter político, administrativo ou processual, sobre o que deve o órgão legislativo,
pronunciar-se em casos concretos, tais como a perda de mandato, concessão de licença
a parlamentar para desempenhar missão diplomática ou cultural, criação de Comissão
Parlamentar de Inquérito ( CPI), etc.”13

6. Decretos Legislativos - São deliberações do Poder Legislativo a respeito de


matéria de sua exclusiva competência. Não estão sujeitos à sanção ou veto presidencial e
sua promulgação é feita pelo presidente do Senado Federal.

O Decreto Legislativo abrange as matérias de competência exclusiva do Congresso


Nacional, enumeradas no artigo 49 da Constituição Federal. Dentre elas citamos, a título de
exemplo:

a)- Autorizar o Presidente e o Vice-Presidente da República a se ausentarem do País,


quando a ausência exceder a quinze dias.

b)- Resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que


acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;

c)- Autorizar o Presidente da República declarar guerra, celebrar a paz, permitir que
forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou que nele permaneçam
temporariamente, ressalvados os casos previstos em lei complementar.

7. Medidas Provisórias - São normas criadas pelo Presidente da República em


casos de relevância e urgência. Essas normas entram em vigor de imediato, após a
publicação. Porém, deverão ser submetidas de imediato ao Congresso Nacional.

A Medida Provisória, como parte integrante do processo legislativo, foi introduzida


na Constituição em 1988 em substituição ao Decreto-Lei que vigorou durante o regime
militar.

De outubro de 1988 até setembro de 2001 registrou-se um crescente uso de Medidas


Provisórias pelo Poder Executivo caracterizando-se, em algumas ocasiões, uma verdadeira
usurpação de poder na elaboração de normas jurídicas. Com objetivo de limitar esse abuso
praticado pelo Poder Executivo na edição de Medidas Provisórias foi promulgada a Emenda

12
Ferreira, Pinto. Comentários à Constituição Brasileira . 3° vol., São Paulo: Saraiva,
1992, p. 351.
13
Max & Édis. Manual de Direito Público & Privado. São Paulo: Revista dos Tribunais,
1987, p. 39.
24
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Constitucional de nº 32, em 11 de setembro de 2002, que determinou a observância das


seguintes normas básicas para edição, votação, aprovação ou não de medidas provisórias.

1. quanto à matéria.

Não poderão ser editadas medidas provisórias que versem sobre as seguintes
matérias:

a)- nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito


eleitoral;

b)- direito penal, processual penal e processual civil;

c)- organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a


garantia de seus membros;

d)- planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais


e suplementares, ressalvado crédito extraordinário para atender despesas imprevisíveis e
urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública;

e)- que vise a detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular ou qualquer


outro ativo financeiro;
f)- matéria reservada à lei complementar;

g)- já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e


pendente de sanção ou veto do Presidente da República.

2. quanto à eficácia.

A medida provisória não convertida em lei no prazo de sessenta dias, contados de


sua publicação, perderá sua eficácia desde a edição. A contagem desse prazo fica suspensa
durante os períodos de recesso do Congresso Nacional.

Na hipótese da medida provisória não ser aprovada ou de perder a eficácia pelo


decurso de prazo, o Congresso deverá, por Decreto Legislativo, disciplinar as relações
jurídicas por ela produzida.

Caso não seja editado o Decreto Legislativo acima referido no prazo de sessenta
dias, contados da rejeição ou perda da eficácia, as relações jurídicas constituídas e
decorrentes de atos praticados durante a vigência da medida provisória, continuarão por ela
sendo disciplinados.

Quanto o projeto de lei de conversão for aprovado contendo alteração no texto


original da medida provisória, ela continuará a vigorar integralmente até que o projeto de
conversão seja sancionado ou vetado.

Ficará prorrogada por mais sessenta dias a vigência da medida provisória que não
tiver sua votação encerrada nas duas Casas do Congresso Nacional, no prazo de sessenta dias
de sua publicação.

3. quanto à reedição.

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A medida provisória não poderá ser reeditada na mesma sessão legislativa que tenha
sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo. Sessão legislativa é o
período do ano em que os órgãos integrantes do legislativo realizam sessões.

4. quanto ao processo de apreciação no legislativo .

Inicialmente a medida provisória será submetida a uma Comissão mista de


Deputados e Senadores que a examinará e emitirá um parecer.

Em seguida será enviada à Câmara dos Deputados onde iniciará sua votação. Antes
de se apreciar o mérito da medida provisória deverá se apreciado as condições constitucionais
de sua admissibilidade, que são a relevância e urgência.

Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de
sua publicação, entrará em regime de urgência, em ambas as Casas Legislativas, ficando
assim sobrestadas todas as demais deliberações legislativas até que se ultime sua votação.

A Constituição da República Federativa do Brasil assim estabelece quanto ao Processo Legislativo:

SEÇÃO VII

DO PROCESSO LEGISLATIVO

SUBSEÇÃO I

Disposições Gerais

Art. 59 - O processo legislativo compreende a elaboração de:


I . emendas à Constituição;
II . leis complementares;
III. leis ordinárias;
IV . leis delegadas;
V. medidas provisórias;
VI. decretos legislativos;
VII. resoluções;

Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre a elaboração, redação, alteração e consolidação das
leis.

SUBSEÇÃO II

Da Emenda à Constituição

Art.60 - A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:


I . de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal:
II. do Presidente da República:
III. de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-
se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros:

§ 1° - A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de


defesa ou de estado de sítio;
§2° - A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso nacional, em dois turnos,
considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos
membros;
§ 3° - A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do
Senado Federal, com o respectivo número de ordem.
§ 4° - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;

26
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II - o voto direto, secreto, universal e periódico;


III - a separação dos Poderes;
IV- os direitos e garantias individuais;
§ 5° - A matéria constante de propostas de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode
ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa;

SUBSEÇÃO III
Das Leis
Art. 61 - A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da
Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso nacional, ao Presidente da
República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador Geral da
República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.
§ 1° - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
I - fixem ou modifiquem os efetivos das Forças Armadas;
II - disponham sobre:
a)- criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e
autárquica ou aumento de sua remuneração;
b - organização administrativa e judiciária, matéria tributária e orçamentária, serviços
públicos e pessoal da administração dos Territórios;
c)- servidores públicos da União e Territórios, seu regime jurídico, provimento de
cargos, estabilidade e aposentadoria de civis, reforma e transferência de militares
para a inatividade;
d)- organização do Ministério Público e da Defensoria Pública da União bem como
normas gerais para a organização do Ministério Público e Defensoria Pública dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios;
e)- criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública, observado o
disposto no art. 84, VI; (NR). ( EC 32 de 11/09/2001).
§ 2° - A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos Deputados do
projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído
pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de
cada um deles.

Art. 62 - Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas


provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
§ 1.° É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
I – relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral;
b)direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de
seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e
suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3.°;
II – que vise a detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo
financeiro;
III – reservada a lei complementar;
IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de
sanção ou veto do Presidente da República.
§ 2.° Medida provisória que implique a instituição ou majoração de impostos, exceto os
previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos no exercício financeiro seguinte se houver
sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.
§ 3.° As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão eficácia, desde a
edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta dias, prorrogável, nos termos no § 7.°, uma vez
por igual período, devendo o Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas
delas decorrentes.
§ 4.° O prazo a que se refere o § 3.° contar-se-á da publicação da medida provisória,
suspendendo-se durante os períodos de recesso do Congresso Nacional.
§ 5.°A deliberação de cada uma das Casas do Congresso Nacional sobre o mérito das medidas
provisórias dependerá de juízo prévio sobre o atendimento de seus pressupostos constitucionais.
§ 6.° Se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua
publicação, entrará em regime de urgência, subseqüentemente, em cada uma das Casas do Congresso
Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa
em que estiver tramitando.

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§ 7.° Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência de medida provisória que, no
prazo de sessenta dias, contado de sua publicação, não tiver a sua votação encerrada nas duas Casas do
Congresso Nacional.
§ 8.° As medidas provisórias terão sua votação iniciada na Câmara dos Deputados.
§ 9.° Caberá à comissão mista de Deputados e Senadores examinar as medidas provisórias e
sobre elas emitir parecer, antes de serem apreciadas, em sessão separada, pelo plenário de cada uma das Casas
do Congresso Nacional.
§ 10.° É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido
rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo.
§ 11.° Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3.° até sessenta dias após a rejeição
ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados
durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas.
§ 12.° Aprovado projeto de lei de conversão alterando o texto original da medida provisória, esta
manter-se-á integralmente em vigor até que seja sancionado ou vetado o projeto. (NR)

Art 63 - Não será admitido aumento da despesa prevista:


I. nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República, ressalvado o disposto no art.
166, §§ 3° e 4°:
II. nos projetos sobre organização dos serviços administrativos da Câmara dos Deputados, do
Senado Federal, dos Tribunais Federais e do Ministério Público.

Art. 64 - A discussão e votação dos projetos de lei de iniciativa do Presidente da República, do Supremo
Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores terão início na Câmara dos Deputados.
§ 1° - O Presidente da República poderá solicitar urgência para apreciação de projetos de sua
iniciativa.
§ 2° - Se, no caso do § 1º, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal não se manifestarem
sobe a proposição, cada qual sucessivamente, em até quarenta e cinco dias, sobrestar-se-ão
todas as demais deliberações legislativas da respectiva Casa, com exceção das que tenham
prazo constitucional determinado, até que se ultime a votação. (NR).
§ 3° - A apreciação das emendas do Senado Federal pela Câmara dos Deputados far-se-á no
prazo de dez dias, observado quanto ao mais o disposto no parágrafo anterior.
§ 4° - Os prazos do § 2° não corem nos períodos de recesso do Congresso Nacional, nem se
aplicam aos projetos de código.

Art. 65 - O projeto de lei aprovado por uma Casa será revisto pela outra, em um só turno de discussão e
votação, e enviado à sanção ou promulgação, se a casa revisora o aprovar, ou arquivado, se o
rejeitar.
Parágrafo único. Sendo o projeto emendado, voltará à Casa iniciadora.

Art. 66 - A Casa na qual tenha sido concluída a votação enviará o projeto de lei ao Presidente da
República, que, aquiescendo, o sancionará.
§ 1° - Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte, inconstitucional
ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, no prazo de quinze dias
úteis, contados da data do recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao
Presidente do Senado Federal os motivos do veto.
§ 2° - O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, de parágrafo, de inciso ou de
alínea.
§ 3° - Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Presidente da República importará sanção.
§ 4° - O veto será apreciado em sessão conjunta, dentro de trinta dias a contar de seu
recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados e
Senadores, em escrutínio secreto.
§ 5° - Se o veto não for mantido, será o projeto enviado, para promulgação, ao Presidente da
República.
§ 6° - Esgotado sem deliberação o prazo estabelecido no § 4°, o veto será colocado na ordem do
dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições, até sua votação final. (NR).
§ 7° - Se a lei não for promulgada dentro de quarenta e oito horas pelo Presidente da República
nos casos dos §§ 3° e 5°, o Presidente do Senado a promulgará, e, se este não o fizer em
igual prazo, caberá ao Vice-Presidente do Senado faze-lo.

Art. 67 - A matéria constante de projeto de lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto,
na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros de qualquer
das Casas do Congresso Nacional.

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Art. 68 - As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a
delegação ao Congresso Nacional.

§ 1° - Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional,


os de competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria
reservada à lei complementar, nem a legislação sobre:
I - organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus
membros;
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;

III - planos plurianuais, diretrizes orçamentárias e orçamentos.

§ 2° - A delegação ao Presidente da República terá a forma de resolução do Congresso Nacional,


que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício.
§ 3° - Se a resolução determinar a apreciação do projeto pelo Congresso Nacional, este a fará em
votação única, vedada qualquer emenda.

Art. 69 - As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta.

6. RETROATIVIDADE DA LEI
Em princípio, a Lei é editada para regular situações futuras, que irão ocorrer
durante seu período de vigência. O passado escapa ao seu comando.

Contudo, em casos especialíssimos, a Lei pode retroagir, desde que haja disposição
legislativa expressa. Para melhor compreendermos a retroatividade da lei, necessário se faz
dividir o conjunto de leis em dois grupos: 1. leis penais e, 2. as demais leis.

1. Com relação à Lei Penal:

A Constituição, em seu art. 5°, item XL, estabelece:

“A lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu.”

Tomando como exemplo o crime de homicídio, verificamos que o art. 121 do


Código Penal estabelece que matar alguém é crime e a pena será de 6 a 20 anos de reclusão.
Suponhamos que alguém tenha cometido um homicídio e tenha sido condenado à pena
máxima de 20 anos de reclusão. Se, no decorrer do cumprimento da pena, entrar em vigor
uma nova lei que altere a pena para homicídio, estipulando reclusão de 4 a 10 anos, esta lei
retroagirá seus efeitos por beneficiar o réu. Assim, basta ao réu condenado anteriormente à
pena máxima de 20 anos, que cumpra, agora, a pena máxima de 10 anos.

2. Com relação às demais leis

Excetuada a Lei Penal, em se tratando, portanto, das demais leis, a Constituição


Federal estabelece regra diferente quando trata da retroatividade de lei. Em seu art. 5°, item
XXXVI, estabelece:

“A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa


julgada.”

Resta saber, portanto, o significado de “direito adquirido”, “ato jurídico perfeito” e


“coisa julgada”. A Lei de Introdução ao Código Civil, art. 6°, nos fornece tais conceitos.

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Direito Adquirido - Consideram-se adquiridos os direitos que o seu titular, ou


alguém por ele, possa exercer, tais como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-
fixo, ou condição preestabelecida inalterável a arbítrio de outrem.

“Direito adquirido é a vantagem jurídica, líquida, certa, lícita, concreta, que a


pessoa obtém na forma de lei vigente e que se incorpora definitivamente e sem contestações
ao patrimônio de seu titular, não lhe podendo ser subtraída pela vontade alheia, inclusive
dos entes estatais e seus órgãos14.

Ato Jurídico Perfeito - Reputa-se ato jurídico perfeito àquele já consumado segundo
a lei vigente ao tempo que se efetuou.

O Direito Brasileiro estabelece o princípio de que uma lei nova não pode alcançar
um ato jurídico perfeito. Como exemplo, citamos a manifestação do Supremo Tribunal
Federal:

“Tratando-se de contrato legitimamente celebrado, as partes têm o direito de vê-lo


cumprido, nos termos da lei contemporânea ao seu nascimento, e regular inclusive seus
efeitos. Os efeitos do contrato ficam condicionados à lei vigente no momento em que foi
firmado pelas partes.”

Coisa Julgada - Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que
já não caiba recurso.

7. INTERPRETAÇÃO DA LEI

Interpretar é o processo lógico pelo qual se determina o sentido da lei. Interpretar é


procurar o pensamento, o alcance do texto, a vontade da lei.

É evidente que o legislador, por mais cauteloso e previdente, jamais poderá prever
todos os possíveis casos que o juiz será chamado a resolver. O Juiz, por sua vez, ainda que a
lei seja omissa, terá que decidir a questão que lhe é submetida à julgamento. Deve, portanto,
o Juiz suprir as lacunas da lei, recorrendo à várias normas. Essas normas constituem o que se
chama de hermenêutica, que é o campo do Direito que estuda a interpretação das leis. A
interpretação das leis pode ser examinada sob três aspectos diferentes, representados no
seguinte quadro:

Judiciária
1. Quanto às suas fontes Doutrinária
Autêntica

INTERPRETAÇÃO Gramatical ou Literal


Quanto ao processo
Sistemática

Restritiva
3. Quanto ao resultado Extensiva
Declarativa

14
Nunes, Pedro. Dicionário de Tecnologia Jurídica. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1979,
v. l, p. 351.
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7.1. QUANTO ÀS SUAS FONTES

Interpretação Judiciária - É aquela que é feita pelo Poder Judiciário quando da


solução de um conflito de interesse que lhe é submetido. Esta interpretação nos é transmitida
através das sentenças, acórdãos, súmulas etc.

Interpretação Doutrinária - É a interpretação elaborada pelos estudiosos do Direito


( doutrinadores ) sem qualquer preocupação de dar solução a um conflito em particular.
Tomamos conhecimento dessa interpretação através dos livros editados pelos doutrinadores,
artigos em revistas especializadas, conferências, etc.

Interpretação Autêntica - É a interpretação feita pelo próprio legislador. Essa


interpretação nos é transmitida pelo próprio texto legal.

Citamos, como exemplo, o crime de violação de domicílio, definido no art.


150 do Código Penal:

“Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade


expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências.”

Nos §§ 4° e 5° do artigo 150, o legislador esclarece o significado de “casa”,


para efeito de caracterização desse crime:

§ 4° - A expressão “casa” compreende:


I - qualquer compartimento habitado;
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III- compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou
ati vidade.
§ 5° - Não se compreende na expressão “casa”:
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto
aberta, salvo a restrição do n° II do parágrafo anterior.
II- taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero

7.2. QUANTO AO PROCESSO

Interpretação Gramatical ou literal - É aquela em que o intérprete analisa o


significado de cada uma das palavras de que é composto o texto interpretado.

Interpretação sistemática - É aquela em que o intérprete compara o texto,


interpretado gramaticalmente, com outros textos de lei, a fim de harmonizá-lo com o sistema
jurídico.
7.3 .QUANTO AO RESULTADO

Interpretação restritiva - A interpretação é restritiva quando o intérprete chega à


conclusão que o legislador disse mais do que queria dizer, por isso, deve-se restringir o
alcance do texto interpretado.

Interpretação extensiva - A interpretação é extensiva quando o intérprete conclui


que o legislador disse menos do que queria dizer, desta forma deve-se alargar o alcance do
texto interpretado.

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Interpretação declarativa - A interpretação é declarativa quanto o intérprete conclui


que a letra da lei corresponde exatamente ao pensamento do legislador.

Estudo dirigido

1. Qual é a fonte de produção do Direito Positivo?


2. Quais são as fontes primárias ou imediatas do Direito?
3. Quais são as fontes secundárias ou mediatas do Direito?
4. Qual a diferença entre a norma que rege um fenômeno físico e a que rege um fenômeno
social?
5. O que significa Lei, vista como fonte do Direito Positivo?
6. O que é Direito Consuetudinário?
7. O que significa costume, como fonte do Direito Positivo?
8. O que significa doutrina, como fonte do Direito Positivo?
9. O que é jurisprudência?
10. Como se classificam as leis, segundo sua natureza?
11. Como se classificam as leis, segundo sua origem?
12. O que se entende por Lei Federal?
13. O que se entende por Lei Estadual?
14. O que é lei municipal.
15. Quais são as fases de elaboração da Lei Ordinária Federal?
16. A quem cabe, comumente, a iniciativa da Lei Ordinária Federal?
17. De que forma deverá ser apresentado o projeto de lei federal de iniciativa popular?
18. Classifique as leis segundo sua importância hierárquica.
19. O que se entende por sanção, como fase de elaboração da lei ordinária?
20. Como se dá a sanção expressa da lei?
21. O que é sanção tácita da lei?
22. O que é veto, como fase de elaboração da lei?
23. Quais são os motivos justificadores do veto?
24. Quando se diz que o veto é total?
25. Quando se diz que o veto é parcial?
26. O que é promulgação de uma lei ordinária?
27. O que é publicação da lei?
28. A partir de que momento a lei entra em vigor?
29. O que é “vacatio-legis” de uma lei?
30. O que ocorre com o projeto de lei vetado pelo Presidente da República?
31. O que significa “quorum”?

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32. Como se verifica a aprovação de um projeto por maioria simples ou relativa?


33. O que se entende por maioria absoluta?
34. O que é maioria qualificada?
35. Para que se presta a emenda à constituição?
36. Qual a finalidade da lei complementar à constituição?
37. O que é uma lei delegada?
38. O que é decreto-legislativo?
39. O que é medida provisória?
40. Em quais circunstâncias o Presidente da República poderá editar uma medida
provisória?
41. Em que caso a lei penal retroagirá?
42. O que se entende por interpretação judiciária da lei?
43. O que se entende por interpretação doutrinária da lei?
44. Quando se diz que a interpretação da lei é autêntica?
45. O que é interpretação gramatical ou literal de um texto legal?
46. O que é interpretação sistemática?
47. Quando a interpretação da lei é considerada restritiva?
48. Quando a interpretação é considerada extensiva?
49. O que é interpretação declarativa da lei?

- SUJEITOS DO DIREITO -

Os sujeitos do direito são as pessoas. Há dois tipos distintos de pessoas: 1. física


ou natural e, 2. jurídica.

I - Pessoa Física ou Natural.

Pessoa Física ou natural - Considera-se pessoa física ou natural todo ser humano,
ou seja, a criatura que provenha da mulher.

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Ao estudarmos a pessoa física, inicialmente, duas questões relevantes se impõem.

1. A primeira questão diz respeito ao exato momento em que a pessoa física passa
a ser titular de direitos e sujeito de obrigações, ou seja, quando é que adquire Personalidade
de Direito.
2. A segunda questão diz respeito ao momento em que a pessoa física pode exercer
os direito por si só, sem ser representada ou assistida por alguém, ou seja, quando é que
adquire Capacidade de Direito.

Personalidade de Direito: É a faculdade de ser titular de direitos e sujeito de


obrigações e começa do nascimento com vida. Entretanto, a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direito do nascituro.

Do acima exposto, conclui-se que é de grande importância definir com precisão o


início da Personalidade de Direito da pessoa. Em conseqüência, os conceitos de “concepção”
e de “nascimento com vida”, assumem papel relevante.

Concepção - é o momento da junção do óvulo com o espermatozóide, formando


o ovo que se aninhará no útero onde se desenvolverá.

Nascimento com vida - nascer significa a passagem do nascituro da vida intra


uterina para vida extra uterina. Nascer com vida significa que o ser inspirou, ou seja,
recebeu ar nos pulmões.

Por nascituro se entende o feto já concebido e que se encontra no ventre


materno. Enquanto não se caracterizar a situação do nascimento com vida haverá apenas
uma expectativa de ser sujeito de direito, sendo um sujeito de direito em potencial.

Para melhor compreensão da importância da aquisição da Personalidade de Direito e


da expectativa do nascituro tornar-se sujeito de direito, vamos a um exemplo. Suponhamos o
falecimento de um milionário, casado recentemente pelo regime de separação de bens, que
deixa pais vivos e viúva grávida do primeiro filho 15. A morte tem entre outras conseqüências,
a transmissão do patrimônio do falecido aos seus herdeiros. A lei brasileira estabelece a
ordem desses herdeiros, a saber:

1. Em primeiro lugar herdam os descendentes do falecido, em concorrência


com o cônjuge sobrevivente, salvo se:
a)- se o casamento for no regime de comunhão universal;
b)- se o casamento for no regime da separação obrigatória de bens;
c)- se o casamento for no regime de separação parcial e o autor da
herança não houver deixado bens particulares.

2. Não existindo descendentes, herdam os ascendentes, em concorrência com o


cônjuge sobrevivente.

3. Não possuindo descendentes e nem ascendentes, quem herda é o cônjuge


sobrevivente, não separado judicialmente;

15
Dower. Nelson Godoy Bassil. Instituições de Direito Público e Privado . São Paulo:
Nelpa, 1995, p. 128.
34
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4. Na falta dos supracitados, herdam os colaterais até 4° grau (2° grau são os
irmãos; 3° grau são os tios e sobrinhos; 4° grau, os primos).

5. Na falta dos enumerados quem fica com o patrimônio do falecido é o


Município ou Distrito Federal, se localizado nas respectivas circunscrições, ou à União,
quando situado em território federal.

Obs. a)- Na concorrência com os descendentes ( item 1), ao cônjuge


sobrevivente, se for ascendente dos herdeiros, caberá um quinhão igual ao dos herdeiros,
não podendo ser inferior a ¼ (25%) da herança.

b)- Na concorrência com os ascendentes em primeiro grau, ao cônjuge


tocará um terço (1/3) da herança; caber-lhe-á a metade desta se houver um só ascendente, ou
se maior for aquele grau.

No exemplo acima citado, há de se aguardar o nascimento do filho do falecido, pois


a lei assegura direitos ao nascituro e o considera como um sujeito de direito em potencial.
O caso enseja várias possibilidades:

1. Se o nascituro nascer com vida receberá a herança pelo falecimento do pai, em


concorrência com a mãe.

2. Se o nascituro nascer morto, não adquire Personalidade de Direito, portanto,


não recebe e nem transmite a herança, que ficará com os avós paternos, em concorrência com
o cônjuge sobrevivente, visto que figuram em segundo lugar na ordem da vocação sucessória.

3. Se nascer vivo, receberá a herança. Porém, se vier a falecer no segundo


subseqüente ao nascimento, a herança passará à sua mãe.

Poderá haver dúvida quanto ao fato do recém-nascido ter vivido, ou não, por um
instante. Para dirimir esta dúvida poderá ser realizado exame médico denominado docimasia
hidrostática pulmonar, que consiste em colocar os pulmões do falecido num recipiente com
água à temperatura de 15° a 20°C. Se os pulmões flutuarem, é porque inspirou e nasceu com
vida. Portanto, tornou-se titular de direitos e sujeito de obrigações. Caso os pulmões não
flutuem, é prova de que nasceu sem vida.

1. CAPACIDADE DE DIREITO
Capacidade de Direito, também chamada de capacidade de exercício é a aptidão de
exercer direito e assumir obrigações por si ou pessoalmente, sem estar assistido ou
representado pelos pais, curador ou tutor.
Ser titular de direito e sujeito de obrigações é ter Personalidade de Direito.
Entretanto, o fato de poder exercer esse direito por si só, pessoalmente, constitui-se situação
diversa, que denominamos de capacidade de direito ou de exercício.

A lei não estabelece de forma direta o momento exato do início da capacidade de


direito, porém o faz de forma indireta ao enumerar as incapacidades. Assim, a pessoa terá

35
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capacidade de direito ou de exercício se não possuir nenhuma das incapacidade previstas na


lei.

As incapacidades podem ser resumidas no seguintes quadro:

1- Menores de 16 anos.
2- Os privados do necessário discernimento por
Absolutamente Incapazes enfermidade ou deficiência mental
3- Os que não puderem exprimir sua vontade, mesmo por
causa transitória.

1- Menores entre 16 e 18 anos


2- Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos e os
Relativamente Incapazes deficientes mentais de discernimento reduzido.
3- Os excepcionais sem desenvolvimento mental
completo.
4- Os Pródigos

A capacidade civil dos Índios é disciplinada por legislação especial.

A. ABSOLUTAMENTE INCAPAZES

“Aquele que é absolutamente incapaz não pode, portanto, comparecer


pessoalmente para praticar os atos da vida civil e mercantil. Se o fizer, tal ato será nulo, ou
seja, é como se não existisse “16.

Desde o nascimento com vida, ficam os filhos sujeitos ao poder familiar dos
genitores enquanto menores; se houver o falecimento de ambos os pais ou se estes forem
suspensos ou destituídos do poder familiar, os filhos menores de 16 anos são postos em
tutela, nomeando o juiz um tutor. Quando a pessoa completa 16 anos e é um deficiente
mental, achando-se impossibilitado de cuidar os próprios interesses,e não estiver sob o poder
familiar, está sujeito à curatela. Quem nomeia o curador é o juiz. Portanto os incapazes estão
protegidos por três institutos: poder familiar, tutela e curatela.

A.1. Menores de 16 anos

Esses menores têm direitos, porém, não poderão exercê-los pessoalmente,


devendo ser representados pelo pai, mãe ou tutor.

Se o menor de 16 anos tiver que outorgar procuração para advogado, por


exemplo, poderá faze-lo por seu representante legal, o qual assinará a procuração em nome do
seu representado.

Esses menores são tradicionalmente chamados de menores impúberes.

16
Dower, Nelson Godoy Bassil. Instituições de Direito Público e Privado . São Paulo:
Nelpa, 1995, p. 130.

36
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A.2. Os privados do necessário discernimento por enfermidade ou deficiência mental

O Código Civil usa expressão genérica ao referir-se à falta de discernimento


para os atos da vida civil, compreensiva de todos os casos de insanidade mental, permanente
ou duradoura, caracteriza por grave alterações das faculdades psíquicas.

Para a caracterização de uma pessoa portadora de deficiência mental, ou


anomalia psíquica, é preciso a declaração judicial de sua incapacidade, mediante a propositura
da ação de interdição, cuja sentença será inscrita no Registro de nascimento do interditado,
alem de publicada na imprensa local para inteiro conhecimento de todos. É nulo o ato
praticado pelo enfermo ou deficiente mental depois dessas providências.

A velhice ou senilidade, por si só, não é causa de limitação da capacidade,


salvo se motivar um estado patológico que afete o estado mental.

A.3. Os que não puderem exprimir sua vontade, mesmo por causa transitória

A expressão, também genérica, não abrange as pessoas portadoras de doenças


ou deficiência mental permanentes, referidas no inciso anterior, mas as que não puderem
exprimir sua vontade por causa transitória, ou em virtude de alguma patologia ( embriaguez
não habitual, uso eventual de entorpecentes ou substâncias alucinógenas, hipnose ou outras
causas semelhantes).

É nulo, assim, o ato jurídico exercido pela pessoa de condição psíquica normal,
mas que se encontrava completamente embriagada no momento em que o praticou e que, em
virtude dessa situação transitória, não se encontrava em perfeitas condições de exprimir a sua
vontade.

B . RELATIVAMENTE INCAPAZES

As pessoas relativamente incapazes poderão praticar alguns atos da vida civil mas
não todos. São indivíduos que se situam entre os de integral inaptidão e os de perfeito
desenvolvimento intelectual. De modo que a lei procura tão-somente suprir a deficiência
parcial, que lhes é peculiar, quer impedindo apenas a prática de certos atos ( como, p. ex., os
atos de alienação, para os pródigos), quer determinando a maneira como devem praticar
outros tantos.

B.1. Menores entre 16 e 18 anos.

Os menores com idade entre 16 e 18 anos são chamados de menores púberes.


A lei, neste caso, admite que o indivíduo já tenha atingido um certo desenvolvimento
intelectual que, se não basta para dar-lhe o inteiro discernimento de tudo que lhe convém nos
negócios, é suficiente, entretanto, para possibilitar-lhe atuar, pessoalmente, na vida jurídica.

O menor púbere ao praticar um ato jurídico não mais será representado pelos pais
ou tutor, mas sim assistido por seus pais ou tutor, que lhe aconselhará na realização do ato
desejado..

Como muito bem observa Silvio Rodrigues, “diferentemente do caso do impúbere,


aqui é o próprio menor que atua no negócio jurídico e é a sua vontade que vai constituir sua
mola geradora”. Se o menor púbere contrai obrigação desassistido por seu representante, ela é
37
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passível de anulação pelo próprio menor ou por seu representante. E, obviamente, só será
anulada se resultar prejudicial ao incapaz. Entretanto, uma regra limita o alcance deste
princípio, pois ele não incide sobre o menor que, agindo dolosamente, enganou o outro
contratante sobre a sua idade. Diz o art. 180:

”O menor, entre 16 ( dezesseis) e 18 (dezoito) anos, não pode, para eximir-se de


uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra
parte, ou se,no ato de obrigar-se, declarou-se maior.”

Aqui entram em conflito dois princípios gerais de direito: de um lado, o anseio de


proteger o menor; de outro, o propósito de repelir o dolo e amparar a boa fé, não permitindo
leve aquele a melhor sobre esta.”17

B.2. Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos e os deficientes mentais de


discernimento reduzido.

Somente os alcoólatras e os toxicômanos, isto é, os viciados no uso e dependentes


de substâncias alcoólicas ou entorpecentes, são considerados relativamente incapazes. Os
usuários eventuais que, por efeito transitório dessas substâncias, ficarem impedidos de
exprimir plenamente sua vontade estão incluídos no rol dos absolutamente incapazes.

Estabeleceu-se, assim, uma gradação para a debilidade mental: quando privar


totalmente o deficiente do necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil,
acarretará a incapacidade absoluta; quando, porém causa apenas a sua redução, acarretará
a incapacidade relativa.
Ao determinar a interdição dos deficientes mentais, ébrios habituais e dos viciados
em tóxicos, o juiz estabelecerá, segundo o estado ou desenvolvimento mental do interdito, os
limites da curatela, que poderão circunscrever-se à privação do direito de, sem curador,
praticar atos que possam onerar ou desfalcar o seu patrimônio (arts. 1.772 e 1782 do Código
Civil)

B.3. Os excepcionais sem desenvolvimento mental completo.

O portador de deficiência que não tem desenvolvimento mental completo deve ser
assistido na prática de negócio jurídico.

Ao comentar esse dispositivo o prof. Silvio Rodrigues, assim se manifestou: “Esse


dispositivo, que é de extrema flexibilidade, deixa uma porta aberta para aqueles casos de
deficiência mental mais brandos, que não couberem no dispositivo do art. 3°, que arrola entre
os absolutamente incapazes os que não tiverem, por enfermidade ou deficiência mental, o
discernimento para participar de negócio jurídico”. 18

B.4. Os Pródigos.

Considera-se pródigo a pessoa que gasta desordenadamente seu patrimônio, pondo-


se em situação que poderá levá-lo à miséria.

A prodigalidade é decretada no interesse do próprio pródigo.

O pródigo, declarado como tal, torna-se incapaz de praticar certos atos, como o de
emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar,
17
Cf. Silvio Rodrigues. Enciclopédia Saraiva do Direito , vol. 43, p. 178.
18
Direito Civil, Parte Geral, vol. I, Saraiva, S.Paulo, ed. 2002, p. 52.
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em geral, os atos que não sejam de mera administração, ou seja, todos os atos que importem
na diminuição de seu patrimônio. Entretanto, poderá praticar todos os demais atos da vida
civil como casar, exercer a profissão e atos de mera administração do patrimônio.

Os Índios

Os índios são os habitantes das selvas, não integrados à civilização. O Código Civil
determina que a capacidade dos índios será regulada por legislação especial.

O diploma legal que atualmente regula a situação jurídica dos índios no País é a Lei
n° 6.001, de 19 de dezembro de 1.973, que dispõe sobre o Estatuto do Índio, proclamando
que ficarão sujeitos à tutela da União, até se adaptarem à civilização.

O índio é, portanto, independentemente de qualquer medida judicial, incapaz desde o


nascimento , até que preencha os requisitos exigidos pelo art. 9° da Lei 6.001/73 ( idade
mínima de 21 anos, conhecimento da língua portuguesa, habilitação para o exercício de
atividade útil à comunidade nacional, razoável compreensão dos usos e costumes da
comunhão nacional) e seja liberado por ato judicial.

2. EMANCIPAÇÃO

No que diz respeito a idade, a incapacidade da pessoa cessa a partir dos 18 anos
completos. No entanto, existem diversas situações em que a pessoa passa ser considerada
absolutamente capaz antes de atingir os 18 anos. Essas situações são chamadas de
EMANCIPAÇÃO.

Emancipação, na conceituação de Clóvis Beviláqua, é a aquisição da capacidade


civil antes da idade legal. Ou seja, a pessoa adquire capacidade para exercer pessoalmente
direitos e assumir obrigações, sem haver completado a maioridade.

Os casos de emancipação são enumerados pelo Código Civil Brasileiro, a saber:

1. Por concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento


público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz,
ouvido o tutor, se o menor tiver 16 (dezesseis) anos completos;

2. Pelo casamento;

3. Pelo exercício de emprego público efetivo;

4. Pela colação de grau em curso de ensino superior;

5. Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de


emprego, desde que, em função deles, o menor com 16 (dezesseis) anos
completos tenha economia própria.

2. 1. Por concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento


público

A emancipação por vontade dos pais depende sempre do menor ter completado 16
anos de idade. O menor não tem direito de exigir a sua emancipação, muito menos de pedi-la
judicialmente, pois trata-se de uma concessão que só os pais podem conceder, após dosar a
39
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capacidade do filho, lembrando que a emancipação há de ser concedida sempre no interesse


do menor.

Para conceder a emancipação os pais deverão ir ao Tabelionato de Notas e solicitar a


lavratura de uma escritura pública de emancipação e, em seguida, registra-la no Cartório de
Registro Civil, onde foi feito o registro de nascimento do menor emancipado.

2.2. Pelo Casamento

O casamento, automaticamente, emancipa os cônjuges. Se antes do casamento os


nubentes forem menores, com o casamento eles passam a ser capazes e de maneira
irreversível. Vale dizer, caso os cônjuges venham a separar-se judicialmente ou divorciar-se
não ocorrerá a revogação da emancipação.

A lei fixa a idade nupcial: 16 anos para os cônjuges. Contudo, no caso de ocorrer a
união sexual e a menor de 16 anos engravidar, o pedido de suprimento de idade, cabe ao
juiz. Estando os interessados de acordo, o juiz autorizará o casamento.

2.3. Pelo exercício de emprego público efetivo

Todo menor que passar a exercer emprego público efetivo obterá a emancipação.
Aqui, como no caso anterior, a emancipação dar-se-á automaticamente, pelo simples fato de
tomar posse em cargo público efetivo.
2.4. Pela colação de grau em curso de ensino superior

A emancipação pela colação de grau em curso superior dificilmente ocorrerá nos


nossos dias, porque a maioria das pessoas o conclui com mais de 18 anos. Mas, se isso
acontecer, o indivíduo estará, automaticamente, emancipado.

2.5. Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego,


desde que, em função deles , tenha economia própria.

O menor contando com, pelo menos, 16 anos e estabelecendo-se civil ou


comercialmente, ou mantendo relação de emprego, desde que , em razão deles, tenha
economia própria, também se emancipa.

A atividade civil é aquela ligada à mera prestação de serviços, sem envolver


transação de bens ou mercadorias.

A atividade comercial é aquela de intermediação entre a produção e o consumo,


com habitualidade e visando lucro. É a atividade exercida pelo comerciante.

Nesse passo o legislador do Código Civil não foi feliz na redação o item
mencionado, pois o próprio Código eliminou a distinção entre atividade civil e comercial,
englobando-as como atividades empresariais.

Para que o menor possa comprovar sua emancipação, neste caso, será necessário
provar perante o juiz o exercício da atividade com economia própria. Feito isso, o juiz
sentencia, constituindo-se a prova.

DA AUSÊNCIA

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É considerado ausente aquele que se afasta de seu domicílio para lugar incerto e
não sabido, sem dar notícias de seu paradeiro.

Constatando-se o desaparecimento de uma pessoa de seu domicilio, sem dar notícia


de seu paradeiro, e se ela não deixar representante ou procurador para administrar seu
patrimônio, por requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, o Juiz
declarará sua ausência, mandando arrecadar seus bens e nomeará curador para administra-los.

A situação do ausente passa por três fases.

Na primeira, também chamada de curadoria do ausente, o ordenamento jurídico


procura preservar os bens por ele deixados, para a hipótese de seu eventual retorno.

Na segunda fase, prolongando-se a ausência, o legislador passa a preocupar-se com


os interesses dos sucessores, permitindo a abertura da sucessão provisória.

Finalmente, depois de longo período de ausência, é autorizada a abertura da


sucessão definitiva.

A declaração da ausência fica restrita aos bens, não produzindo efeitos de ordem
pessoal, a esposa do ausente não é considerada viúva.

Feita a arrecadação, o Juiz mandará publicar editais durante um ano, reproduzidos de


dois em dois meses, anunciando a arrecadação dos bens e chamando o ausente a entrar na
posse de seus bens. Findo este prazo, ou seja, um ano após a publicação do primeiro edital,
se não se constatar o comparecimento do ausente, de seu procurador ou representante, os
interessados poderão requerer a sucessão provisória. Consideram-se interessados para
requerer a sucessão provisória:

1.o cônjuge não separado judicialmente;

2. os herdeiros presumidos legítimos e os testamentários;

3. os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;

4. os credores de obrigações vencidas e não pagas.


O interessado que ficar na administração dos bens de forma provisória terá que
prestar caução de restitui-los.

A sucessão provisória cessará pelo comparecimento do ausente. Porém, tornar-se-á


definitiva nas seguintes hipóteses:

1. quanto houver certeza da morte do ausente;

2. dez (10) anos depois de passada em julgado a sentença de abertura da sucessão


provisória.
3. quando o ausente contar oitenta (80) anos de idade e houver decorrido cinco (5)
anos das últimas notícias suas.

Caso o ausente regresse após a sucessão definitiva, ainda assim, receberá os bens
na forma em que se encontram.

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3. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA FÍSICA

A pessoa física se individualiza no seio da família ou da sociedade através do nome,


que é composto de duas partes:

Nome = prenome + sobrenome

A. Prenome

O prenome é de livre escolha dos pais ou, na falta, do tutor, quando do nascimento
da criança. Entretanto, esse direito de livre escolha não é absoluto pois existe uma limitação
quanto ao seu exercício. Não se poderá consignar um prenome que no futuro possa ser
considerado vexatório, ou seja, que possa expor o seu portador ao ridículo, por ser exótico
ou extravagante.

A Folha de Londrina, em sua edição de 06.03.94, publicou um reportagem sob o


título: Qual é a sua Graça?, onde cita alguns prenomes não comuns que foram obtidos junto
aos Cartórios de Registro Civil daquela cidade, como: Geonefa Expedita; Virtuoso;
Ziguemundo; Jaconco; Umbelina; Uicedir; Lecreris; Teolona; Isperina; Tibustiana; Públio;
Tertuciano; Epovina; Frozena; Espiritosa; Gripina; Etinavas; Agaviny; entre outros.

A fiscalização, quanto ao fato do prenome ser ridículo ou não, fica a cargo do


escrivão do Cartório de Registro Civil, que deverá recusar o registro. No entanto, se os pais
não se conformarem com a recusa, o oficial, independentemente de qualquer custas,
submeterá a controvérsia à decisão do juiz competente.

A.1. Prenome estrangeiro

É comum ouvirmos, no dia a dia, comentários referentes a impossibilidade de se


atribuir um prenome estrangeiro à pessoa. Entretanto, a legislação brasileira não faz distinção
entre nomes nacionais e estrangeiros, pois não apresenta um rol de nomes nacionais, como
também não enumera quais seriam os estrangeiros. Assim, a questão verificada com os
prenomes comumente tratados como sendo estrangeiros, como por exemplo: Wilson, Kelly,
Washington, tem outro fundamento. As letras K, W e Y não fazem parte de nosso alfabeto.
Portanto não há possibilidade de se grafar um prenome com um sinal inexistente no alfabeto.
Desta forma, o impedimento de se registrar uma pessoa com o prenome de Kelly, por
exemplo, residiria no fato de inexistir em nosso alfabeto os sinais K e Y , bem como o uso do
duplo ”l”.

A fiscalização quanto à escrita correta do prenome compete ao titular do cartório de


Registro Civil que, da mesma forma que não registrará o prenome suscetível de expor o
portador ao ridículo, deverá também recusar-se a grafar um prenome com sinais inexistentes
no alfabeto pátrio. Este dever, contudo, não vem sendo cumprido e, por outro lado, a
fiscalização dos atos praticados pelos Cartórios de Registro Civil também não é eficaz. Desta
forma, proliferam os prenomes grafados com sinais inexistentes em nosso alfabeto.

Há quem defenda a reinclusão de tais sinais gráficos em nosso alfabeto na próxima


reforma ortográfica, uma vez que tais letras deixaram de compor nosso alfabeto a partir da
reforma ortográfica, no início dos anos 50.

A.2. Prenomes simples ou compostos

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O prenome poderá ser simples ou composto.

Prenome simples é aquele que possui um único sinal, como por exemplo: João,
José, Maria, Paula etc.

Prenome composto é o formado de dois ou mais sinais, por exemplo: Maria José,
João Paulo, etc.

A.3. Alteração do prenome

Como regra geral o prenome é imutável. Contudo, há algumas exceções, como nos
casos abaixo mencionados:

1. A Lei 9.708/98 a substituição do prenome por apelidos públicos notórios, desde


que tais apelidos não sejam proibidos por Lei.

2. O interessado, no primeiro ano após haver atingido a maioridade civil, poderá


alterar o prenome, sem prejudicar o apelido de família, averbando-se a alteração que será
publicada pela imprensa;

3. No caso do prenome ser ridículo ou vexatório que impossibilite seu portador a


conviver normalmente no meio social;

4. No caso de adoção, a pedido do adotante;

5. No pedido de naturalização, quando o estrangeiro declarará: “se deseja ou não


traduzir ou adaptar o seu nome à língua portuguesa”;

6. No caso de ocorrer evidente erro gráfico do prenome. Como por exemplo: pessoa
do sexo masculino receber o premone MARIA, admite-se a retificação do erro gráfico
para que seja consignado o prenome MÁRIO;

A.4. Os Homônimos

A homonímia pode trazer graves e indesejáveis problemas no convívio das pessoas


no meio social. Assim, permite-se à pessoa, que desejar diferenciar-se de outra homônima,
acrescentar mais um sinal ao seu prenome, transformado-o de simples em composto.
Portanto, não se trata de mudança do prenome propriamente dita, mas sim, de simples
acréscimo de outro sinal.

A.5. Acréscimo no prenome

Além do caso dos homônimos, quando poderá se acrescentar ao prenome um outro


sinal para que haja a diferenciação, uma outra situação poderá ocorrer. É o fato da pessoa ser
conhecida por um sinal que não consta de seu nome. É o que chamamos de apelido ou
alcunha ou, ainda, no meio artístico, de nome artístico. Há possibilidade de se acrescentar
ao prenome esse apelido ou alcunha.

A título de exemplo, podemos citar o ocorrido com o ex-presidente da República,


Sr. José Sarney. Registrado com o nome de José Ribamar Ferreira de Araújo Costa e nascido
numa cidade do interior do Maranhão, onde o prenome José Ribamar é muito comum , na
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convivência, foi-lhe acrescentado um sinal distintivo dos demais, passando a ser conhecido
como José do Sarney, uma vez que Sarney era o nome de seu pai. Posteriormente, com
ingresso na vida pública, o apelido “Sarney” foi acrescentado ao seu prenome, passando a
chamar-se José Ribamar Sarney Ferreira de Araújo Costa.

A.6. Nome abreviado

A lei permite que seja averbado no registro de nascimento, por sentença judicial, o
nome abreviado, usado como firma comercial registrada ou em qualquer atividade
profissional. Usando desta faculdade que a lei lhe oferece, José Ribamar Sarney Ferreira de
Araújo Costa, novamente como exemplo, averbou o nome abreviado - José Sarney.

Para melhor elucidar o exposto, transcrevemos uma decisão tomada pelo Tribunal
de Justiça de Minas Gerais e publicada em Jurisprudência Brasileira, vol. 61, p. 379 e
seguintes:

PRENOME - RETIFICAÇÃO - CORREÇÃO DE GRAFIA - EXPOSIÇÃO


AO RIDÍCULO OU VEXAME - ACRÉSCIMO DE APELIDOS DE FAMÍLIA - NOME
DO CONHECIMENTO PÚBLICO - ADMISSIBILIDADE.

A regra da imutabilidade do prenome não é absoluta, justificando-se sua alteração


para simples correção de grafia, ou mesmo sua mudança total, para evitar ridículo ou
vexames ao portador.

Admite-se também, a retificação, para fazer constar do registro, o verdadeiro


nome pelo qual a pessoa é conhecida no meio social em que vive, embora diferente do que
consta do assentamento, e, ainda, para acrescentar ao prenome os apelidos de família.

Apelação Cível n° 57.113 - Ituiutaba - Apelante: Marlene Maria dos Santos


Ferreira - Apelado: O Juízo - Rel.: Des. Bernardo Figueira - j. em 19/11/1981 - DJ de
30/03/1983.

Relatório
Recorre Marlene Maria dos Santos Ferreira, oportunamente, de sentença de fls.7
que, baseada no parecer do Dr. Promotor de Justiça, indeferiu-lhe o pedido de retificação
do prenome, com que foi registrada, no Cartório de Registro Civil de Ituiutaba. Em sua
decisão, o MM. Juiz declara não vislumbrar razões para determinar a mudança do prenome,
Epoméia. Nas razões de apelação, afirma a apelante que é conhecida por Marlene e o seu
registro foi feito à sua revelia, quando contava 10 anos de idade (fls.8/9). Opinou o Dr.
Promotor (fls.9-v) e o MM. Juiz “manteve” por seus fundamentos a decisão recorrida,
determinando a remessa dos autos ao eg. Tribunal de Alçada (fls. 10). O Dr. Christovam
Joaquim Fernandes Ramos, DD. Procurador da Justiça, opinou no sentido da anulação da
sentença (fls. 15/17). A apelante está amparada pela Assistência Judiciária (fls.3). À douta
revisão.
Belo Horizonte, 20 de outubro de 1.981.
Bernardo Figueira
ACÓRDÃO

Acorda, em Turma, a Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas


Gerais, incorporando neste o relatório de fls., na conformidade da ata dos julgamentos e
das notas taquigráficas, à unanimidade de votos, em dar provimento à apelação.
Belo Horizonte, 19 de novembro de 1981 - Gouthier de Vilhena, Presidente - Bernardo
Figueira, Relator - Milton Fernandes, Revisor - Rubens Lacerda, Vogal.

NOTAS TAQUIGRÁFICAS

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O Sr. Des. Bernardo Figueira - Com razão o digno Dr. Procurador da Justiça: não pode
prevalecer a sentença recorrida. A imutabilidade do prenome não é absoluta. Casos há que
justificam, plenamente, a alteração, seja com a retificação da grafia, seja com a mudança
total para poupar vexames ao portador (parágrafos únicos dos arts. 55 e 58, da Lei n°
6.015). Admite-se, também, a retificação que tenha por objetivo consignar no registro o
nome verdadeiro da pessoa, mesmo porque “só se considera imutável o nome que foi posto
em uso, embora não conste do registro, e não o constante de assentamento e jamais usado”,
conforme decidiu a Eg. Primeira Câmara Cível deste Tribunal (“Ver. Tribs.”, 433/232). “In
casu”, pretendeu a apelante provar que, tendo sido batizada com o prenome de Marlene, em
1961, foi registrada, dez anos depois, pela diretora de uma Escola Estadual com o nome de
Epoméia - “para que ela pudesse apresentar-se, em Belo Horizonte, no programa de
televisão “Mineiros Frete à Frente”, onde Ituiutaba queria concorrer com o maior número
possível de meninas que tivessem o nome de flor”. Nas razões de apelação, alega o
apelante que, como Marlene é conhecida por todas as pessoas de seu círculo de amizade.
Sua pretensão foi deferida de plano, baseando-se o MM. Juiz no parecer do Promotor de
Justiça, sem que tivesse oportunidade de provar que o prenome do seu registro não
corresponde ao que a identifica no meio em que vive. O nome, que se incorpora à pessoa
humana, antecede ao registro. Este, apenas, lhe dá estabilidade e publicidade. Se não
corresponde ao usado, se não coincide com aquele que se integra na sua personalidade,
deve ser corrigido, mudado. O registro, deve expressar a verdade; não pode falsear, dizendo
chamar-se José quem se chama realmente João. Nem se diga que Marlene Maria dos
Santos, que outorgou procuração, não existe. Existe, sim, e quer provar que Epoméia não
corresponde ao seu verdadeiro nome, aquele que a distingue no meio em que vive.
Naturalmente, o Dr. Promotor de Justiça não encontrou nos dicionários a flor Epoméia
porque o verdadeiro nome da bela planta ornamental é Ipoméia. Quem fez o registro errou
até no nome da flor. O MM. Juiz decidiu o mérito, negando a retificação, por entender que
o prenome, em questão, em nada prejudicará à apelante. Além de considerar
personalíssimo o conceito de “ridículo”, a que se refere o parágrafo único, do art. 55 da
Lei n° 6.015, entendo que a apelante provou que, desde o batismo, porta o prenome de
Marlene. Muito justo que queira retificar o registro, para que dele conste o nome que a
identifica e compõe a sua personalidade. A agregação ao prenome do nome Maria, não
prejudicando os apelidos de família, pode ser, também, deferida, nos termos do art. 56, da
Lei 6.015. Tendo em vista o disposto no art. 515 do CPC, dou provimento à apelação para
reformando a r. sentença recorrida, determinar se faça a retificação do nome da apelante,
nos termos do pedido inicial. Sem custas, “ex lege".

O Sr. Des. Milton Fernandes: - Dou provimento à apelação, para reformar a sentença e
deferir a petição inicial. À recorrente foi dado, no batistério, o prenome de Marlene. O
registro civil, feito quanto a portadora já contava com dez anos, atribuiu-lhe a denominação
de Epoméia “para que ela pudesse se apresentar, em Belo Horizonte, no programa de
televisão “Mineiros Frente a Frente”, em que Ituiutaba queria concorrer com o maior
número possível de meninas que tivessem o nome de flor”(petição inicial, fls.2). Assim,
conhecida como Marlene, a requerente surpreendeu-se, ao habilitar-se para o casamento,
com o estranho nome de Epoméia. Pediu retificação. Apoiando-se no parecer da
Promotoria Pública, segundo o qual o prenome é imutável (fls.7), o ilustre Juiz de Primeiro
Grau, “não vislumbrou razões para mudá-lo”( fls.7 e 7-v). A regra da imutabilidade do
prenome não é absoluta. Cede ante a possibilidade de levar ao ridículo seu detentor. Na
espécie destes autos, o registro aproximou-se da fronteira do ridículo. Criou ainda para a
apelante a duplicidade de denominações: Marlene para a sociedade e Epoméia para fins
civis. Estou com o Procurador da Justiça, Dr. Christovam Joaquim Fernandes Ramos, em
que “o Juiz foi muito rigoroso no indeferimento, de plano, do pedido. Deveria cumprir a
lei, já que a requerente protestou pela apresentação da prova testemunhal” (fls. 16). O
nome, segundo Josserand, é como uma etiqueta colocada sobre cada um de nós, ele dá a
chave da pessoa inteira. É o sinal distintivo revelador da personalidade (“Cours de Droit
Civil Positif Français”, 1932, 1° vol., n° 207 e segs.). A apelante está com o sinal
distintivo pouco alentador. Não há condenação a custas, por ser o apelado o próprio Juízo.

O Sr. Des. Rubens Lacerda: - De acordo.


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O Sr. Des. Presidente: - Deram provimento.

B. SOBRENOME

O sobrenome é o sinal que identifica a procedência da pessoa física ou natural,


indicando sua filiação ou estirpe, podendo advir do apelido de família paterno, materno
ou de ambos.

O sobrenome é adquirido pelo simples fato da pessoa nascer, uma vez que indica a
origem da pessoa, não sendo, portanto, de livre escolha do pais ou do representante legal.

Tal como o prenome poderá ser simples ou composto.

B.1 - Sobrenome simples

O sobrenome simples é aquele que o possui um só sinal, somo por exemplo: Silva,
Souza, Pereira, Bitencourt, etc.

B.2 – Sobrenome composto

O sobrenome composto é aquele que possui dois ou mais sinais, por exemplo:
Araújo Mendes, Almeida Campos, Souza e Silva, etc. , podendo ser acompanhado da
partícula de, do, da, dos ou das, que dele fazem parte.
B.3 – Alteração no sobrenome

A aquisição do sobrenome também poderá ocorrer através de ato jurídico como:


casamento e adoção, ou ainda, através de requerimento das partes ao Poder Judiciário.

Através do casamento qualquer dos nubentes poderá acrescer ao seu o sobrenome


do outro. Do mesmo modo que perderá o direito de continuar a usar o sobrenome acrescido
no caso de anulação do casamento, separação judicial, se for considerado culpado, e, ainda,
no divórcio.

Formalizada a adoção, esta gera uma série de efeitos pessoais para o adotado,
cessando quaisquer vínculos com a antiga família. A situação equivale, em termos gerais, ao
renascimento do adotado no seio de uma outra família, apagando todo o seu passado.

É o que dita do art. 1626 do Código Civil: “A adoção atribui a situação de filho
ao adotado, desligando-o de qualquer vínculo com os pais e parentes consangüineos,
salvo quanto aos impedimentos para o casamento”.

4. FIM DA PERSONALIDADE DE DIREITO

A personalidade de direito da pessoa física, que inicia-se com o nascimento com


vida, tem o seu fim determinado pela morte. A morte, sob o aspecto do direito pátrio, se dá
com a cessação da atividade cerebral. Assim, enquanto a pessoa possuir atividade cerebral,
será considerada titular de direitos e sujeito de obrigações, mesmo que a função de diversos
órgãos vitais esteja sendo exercida por máquinas.

46
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Tal qual a questão do nascimento com ou sem vida, a morte ocasiona ao Direito
situações diversas. A determinação do exato momento da morte, também, é de relevante
importância para o direito. Dentre as diversas conseqüências jurídicas produzidas pela
morte, podemos citar: a mudança no estado civil do casado, passando o cônjuge sobrevivente
à condição de viúvo, podendo contrair novo casamento; a transferência do patrimônio do
falecido para seus herdeiros.

A morte pode ser considerada sob dois aspectos:

Real
Morte
Presumida

Morte Real - é aquela atestada através do exame e identificação do corpo, quando


se verifica a cessação da atividade cerebral e se tem certeza de quem se trata. Este atestado,
geralmente fornecido por médico, servirá de prova para o assentamento do óbito, em livro
próprio, no Cartório de Registro Civil.

Poderá ocorrer também o desaparecimento da pessoa, sem que exista o corpo para
ser examinado e identificado, através do atestado médico. Nesse caso teremos a morte
presumida
.
Morte Presumida - é a morte declarada pelo Poder Judiciário, através da análise
de diversas circunstâncias relativas ao desaparecimento da pessoa, de forma tal que se
possibilite, com um grau de certeza, concluir-se que determinada pessoa morreu.

Portanto, no caso da inexistência de um corpo para exame e identificação, há


necessidade da parte interessada em recorrer ao Poder Judiciário e de se provar, através de
diversas circunstâncias, que determinada pessoa tenha morrido. Como exemplo,
lembramos o caso da morte do Dr. Ulisses Guimarães, então Presidente da Câmara dos
Deputados, vítima de acidente aéreo cujo corpo perdeu-se no mar.

O Código Civil Brasileiro considera, também morte presumida, para efeitos de


transmissão do patrimônio, a ausência devidamente declarada pelo Poder Judiciário.

Ainda, entre as situações diversas que a morte pode suscitar ao Direito, há a


Comoriência, que significa a morte simultânea de duas ou mais pessoas.

Dependendo de como a morte é admitida - se simultânea ou sucessiva, diversas e


importantes serão as conseqüências. No caso do marido e mulher morrerem num acidente,
sem deixarem descendentes ou ascendentes. O problema sucessório pode ser resolvido de
maneira absolutamente diferente, conforme se demonstre que um ou outro faleceu primeiro
ou, que ambos faleceram ao mesmo tempo.

1. Na hipótese da pré-morte do marido, o patrimônio passa à mulher e daí ao seus


herdeiros colaterais. Sendo que os colaterais do marido nada receberiam;

47
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2. Na hipótese da pré-morte da mulher, o patrimônio passa ao marido e daí aos seus


herdeiros colaterais. Sendo que os colaterais da mulher nada receberiam.

3. Se ambos morrerem no mesmo instante, relações jurídicas não se estabelecem


entre eles, porque perderam simultaneamente sua personalidade, e, por
conseguinte, beneficiar-se-ão os herdeiros colaterais de cada um.19

Estudo dirigido
1. Quem é considerado pessoa física?
2. A partir de que momento a pessoa física passa a ser titular de direitos e sujeito de
obrigações?
3. A partir de que momento a pessoa física pode exercer seus direitos?
4. Quais são as pessoas consideradas absolutamente incapazes?
5. Quais são as pessoas consideradas relativamente incapazes?
6. Quando uma pessoa física passa a ser considerada ausente?
7. O que é uma pessoa pródiga?
8. Quais são os atos jurídicos que não podem ser praticados pelo pródigo?
9. A partir de que momento a pessoa física deixa de ser titular de direito e obrigações?
10. A partir de que momento a pessoa é considerada morta, sob o prisma do Direito
Brasileiro?
11. Quando se diz que ocorreu morte real?
12. Quando se diz que ocorreu a morte presumida?
13. De que forma a pessoa se individualiza no meio social?
14. Como se compõem o nome da pessoa física?
15. Quais são as limitações impostas quanto à escolha do prenome?
16. Cite um exemplo de prenome composto.
17. Cite um exemplo de sobrenome composto.
18. Em quais circunstâncias poderá haver a mudança de prenome?

19
Diniz, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. São Paulo: Editora Saraiva,
1994, p. 111.
48
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II – Pessoa Jurídica.

1. Conceito

É comum tratar a pessoa jurídica como sinônima de firma, empresa ou sociedade.


No entanto, estes termos não são sinônimos; não podem ser confundidos com pessoa
jurídica, senão vejamos.

Firma - Esta palavra tem diversos significados, conforme verbete no dicionário do


Aurélio. Entretanto, juridicamente, significa nome usado pelo comerciante ou industrial
(pessoa física ou jurídica) no exercício das suas atividades: razão social.

Empresa - É uma organização particular, governamental ou de economia mista


que produz e/ou oferece bens e serviços, visando, em geral, a obtenção de lucros.

Sociedade - Esta palavra também possui diversos significados. Juridicamente,


significa contrato consensual pelo qual duas ou mais pessoas se obrigam a reunir esforços
ou recursos para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados>

Nem todas as sociedades são pessoas jurídicas. Para que assim sejam consideradas,
torna-se indispensável o registro de seu documento constitutivo na repartição competente,
dotando-a de personalidade de direito. A sociedade que não registrar seu documento
constitutivo denomina-se “sociedade não personificada”, não considerada, portanto, “pessoa
jurídica”.
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Após essas considerações podemos definir pessoa jurídica como: Agrupamento de


pessoas (físicas ou jurídicas ) ou de bens, dotado de personalidade de direito.

Como vimos anteriormente, ao tratarmos da pessoa física, personalidade de direito


é a faculdade de ser titular de direitos e sujeito de obrigações, daí a importância de se saber
o momento em que a pessoa jurídica adquire a personalidade de direito. Para tanto, devemos
levar em consideração a existência de espécies diferentes de pessoas jurídicas, ou seja, 1.
de Direito Internacional Público e, 2. de Direito Nacional , que pode ser Público e Privado.

1. As pessoa jurídicas de Direito Internacional Público adquirem personalidade de


direito a partir do momento que são reconhecidas, como tal, por outras pessoas jurídicas da
comunidade internacional. Os Estados, por exemplo, que são organizações políticas de povos
nos seus respectivos territórios, para adquirirem personalidade de direito devem ser
reconhecidos pelos demais Estados da comunidade internacional.

2. As pessoas jurídicas de Direito Nacional Público adquirirão personalidade de


direito através da lei que a constitui.

Por outro lado, as pessoas jurídicas de Direito Nacional Privado adquirem a


personalidade de direito com o registro de seu documento constitutivo numa repartição
pública determinada. Esse documento constitutivo da pessoa jurídica denomina-se: Contrato
Social ou Estatutos.

O registro do contrato social de uma sociedade empresária faz-se na Junta


Comercial. Os estatutos e os atos constitutivos das demais pessoas jurídicas de direito
privado são registrados no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas, com exceção
das Sociedades de Advogados serão registradas junto a Ordem dos Advogados do Brasil.
2. Representação da pessoa jurídica

Diferentemente da pessoa física, que é concreta, a pessoa jurídica é uma abstração,


pois nasce:

1. da declaração de vontade de um povo de organizar-se politicamente e de forma


independente num território determinado;

2. da lei formalmente estabelecida;

3. do registro de um documento constitutivo.

Por isso, será necessário designar-se uma pessoa física para personificar a pessoa
jurídica. Essa pessoa deverá ter capacidade de direito, ou seja, não possuir nenhuma daquelas
incapacidades que já enumeramos quando tratamos da pessoa física.

A República Federativa do Brasil, enquanto pessoa jurídica de Direito Internacional


Público e de Direito Nacional Público, será personificada pelo Presidente da República. Os
Estados Membros, serão personificados pelos respectivos Governadores e os Municípios
pelos Prefeitos.

As pessoas jurídicas de Direito Nacional Privado, serão personificadas pelas pessoas


físicas designadas pelos Contratos Sociais ou Estatutos.

50
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3. Características da pessoa jurídica

1. A pessoa jurídica é um ser de existência distinta da dos seus membros.


Age em nome próprio e não no de seus membros, assina contratos e pratica atos
jurídicos por meio de seus representantes legais;

2. Há a possibilidade da substituição de seus membros (sócios) sem qualquer quebra


do curso de vida da pessoa jurídica;

3. Ela é titular de direitos e assume obrigações em seu próprio nome e tem


patrimônio próprio. É ele que responde pelas obrigações assumidas e não o patrimônio das
pessoas que comporem a pessoa jurídica.

OBS. Desconsideração da personalidade jurídica 20 - O ordenamento jurídico


confere às pessoas jurídicas personalidade distinta da dos seus membros. Essa regra,
entretanto, tem sido mal utilizada por pessoas inescrupulosas, com a intenção de prejudicar
terceiros, as quais se utilizam da pessoa jurídica como uma espécie de “capa”ou “véu”para
proteger os seus negócios escusos.
A reação a esses abusos ocorreu no mundo todo, dando origem à teoria da
desconsideração da personalidade jurídica. Permite tal teoria que o juiz, em caso de fraude e
de má-fé, desconsidere o princípio de que as pessoas jurídicas têm existência distinta da dos
seus membros e os efeitos dessa autonomia para atingir e vincular os bens particulares dos
sócios à satisfação das dívidas da sociedade.

4. Classificação da Pessoa Jurídica

As pessoas jurídicas podem ser classificadas sob diversos aspectos, por exemplo: a)
quanto à nacionalidade, em nacionais e estrangeiras; b)- quanto a estrutura interna, em
corporações que é um conjunto ou reunião de pessoas e em fundações que é uma reunião de
bens.
A classificação aqui apresentada tem por fundamento o Ramo do Direito Positivo a
que pertence a pessoa jurídica.

Sob esse prisma, a classificação pode ser representada conforme eviden cia o quadro a
seguir:
P
Estados
E
Santa Sé
S
A. De Direito Internacional Público ONU(Organização das Nações Unidas).
S OEA(Organização dos Estados Americanos).
O OIT(Organização Internacional do Trabalho).
A
S Estado(União)
Estados-Membros
J De Direito Constitucional Distrito Federal
U Municípios
B.1. Público Territórios
R
Í Autarquias
D De Direito Administrativo Demais entidades públicas criadas por
lei.
I
C Associações

20
Gonçalves, Carlos Roberto – Direito Civil Parte Geral, 2002, Editora Saraiva, S. Paulo, p. 73.
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B. De Direito Nacional Fundações


Sociedade Simples
Sociedade em nome coletivo
Sociedade em comandita simples
De Direito Civil Sociedades Sociedade em comandita por
B.2. Privado
ações
Sociedade limitada
A Sociedade Anônima
S Sociedade Cooperativa

Sindicatos
De Direito do Trabalho Federações
Confederações

OBS. Sociedades que não são pessoas jurídicas ou sociedades não personificadas:

Existem dois tipos de sociedades que não são personificadas e por isso não são
consideradas pessoas jurídicas: a)- Sociedade em Comum e b)- Sociedade em conta de
participação.
a)- Sociedade em Comum é aquela que não possui documento constitutivo ou as
que possuírem ainda não os registraram. Todos os sócios respondem solidária e
ilimitadamente pelas obrigações sociais.
b)- Sociedade em conta de participação é aquela em que a atividade constitutiva
do objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo em seu nome individual e sob
sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados
correspondentes.

A. Pessoas jurídicas de Direito Internacional Público

Essas pessoas jurídicas atuam no plano internacional. As nações estrangeiras, a


Santa Sé, são algumas dessas pessoas jurídicas sujeitas às normas do Direito Internacional
Público.
Com relação à Santa Sé, esclarece o prof. Hélio Maldonado Jorge que, desde o
tempo de Constantino (Imperador Romano, de 306 a 337), as igrejas puderam ser
contempladas em testamento e, portanto, gozaram de capacidade jurídica. Mas, cumpre hoje
distinguir duas ordens de relações: 1 pública e, 2. privada.

Na ordem pública, considerando que a Igreja católica tem um chefe universalmente


conhecido, perante o qual são enviados representantes diplomáticos, do qual se recebem,
igualmente, embaixadores. Não há dúvida que um chefe tratado como soberano contém os
atributos de uma pessoa jurídica internacional, à semelhança de uma potência, de um Estado
estrangeiro. Sob este aspecto, a Igreja católica apresenta-se com a denominação de Santa Sé21
e é tratada como potência, como pessoa jurídica internacional. Posição excepcional, que lhe
é exclusiva entre as Igrejas.

Na ordem privada, a Igreja católica, ao invés de se apresentar em sua unidade,


como reunião de todos os fiéis, para facilidade de seus próprios fins, fraciona-se em
coletividades, corporações, igrejas, irmandades 22.

21
Sé é um termo usado na terminologia da Igreja Católica Apostólica Romana para
designar a Igreja Episcopal ou Igreja Catedral do local onde há bispos ou arcebispos.
Santa Sé significa a jurisdição do Papa e o local onde tem sede.
22
Jorge, Hélio Maldonado. Programa de Instituições de Direito . São Paulo: H.C. Editora
Ltda., 1975, p. 75.
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B. Pessoas Jurídicas de Direito Nacional

B.1. Pessoas Jurídicas de Direito Nacional Público

As pessoas jurídicas de Direito Nacional Público se subdividem em: 1. pessoas


jurídicas de Direito Constitucional e , 2. de Direito Administrativo.

As de Direito Constitucional são: Estado (união), Estados Membros (Paraná, São


Paulo, Bahia, etc.), Distrito Federal, Municípios e Territórios.

As de Direito Administrativo são as Autarquias e demais entidades públicas criadas


por lei.

Autarquias : São pessoas jurídicas criadas pelo Estado (União), pelos Estados-Membros ou
Municípios, através de lei, com o objetivo de desenvolverem atividades que são de
competência da Administração Pública que as criou.

São entidades autônomas, auxiliares e descentralizadas da administração


pública, sujeita à fiscalização do Estado, com patrimônio próprio e cujo fim é executar
serviços de caráter estatal ou interessantes à coletividade.

B.2. Pessoas jurídicas de Direito Nacional Privado

O Direito Nacional Privado se subdivide em dois Ramos: Direito Civil e Direito do


Trabalho, com suas respectivas pessoas jurídicas.
B.2.1. Pessoas Jurídicas de Direito Civil

1. Associações

A associação é formada pelo agrupamento de pessoas para fins não econômicos ,


portanto sem visar lucros, cujo objetivo poderá ser: cultural, esportivo, social, religioso,
recreativo, defesa de interesses coletivos (como as associações de bairros, estudantis, de
categorias profissionais, etc.).

As expressões sem fins econômicos ou sem visar lucros, são de fundamental


importância para a caracterização das pessoas jurídicas de direito privado. Elas significam
que o resultado positivo obtido pela pessoa jurídica, na prática de seus atos, será dividido
entre as pessoas (sócios) que a compõe.

Como exemplo de associação podemos citar os Clubes Sociais (Country Club),


onde se verifica um agrupamento de pessoas (os associados) com objetivos sociais e
esportivos, sem visar lucros, ou seja, os resultados positivos obtidos pelos Clubes Sociais são
reinvestidos em seus patrimônios, e não distribuídos entre os associados.

2. Fundações

As fundações são agrupamentos de bens dotados de personalidade de direito. Essas


pessoas jurídicas possuem características totalmente distintas das demais pessoas
jurídicas, que são formadas a partir de um agrupamento de pessoas. Na fundação inexistem
pessoas (sócios), mas, e tão somente, um patrimônio (conjunto de bens) com
personalidade de direito.

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As fundações somente poderão ser constituídas para fins religiosos, morais,


culturais ou de assistência.

Para se constituir uma fundação será necessário que o proprietário de um


patrimônio, destine parte ou, até mesmo, sua totalidade com este objetivo. Essa destinação
deverá ser feita através de escritura pública ou testamento. O instituidor deverá também
elaborar os estatutos da fundação, onde constará, entre outros requisitos, a denominação da
fundação, seus objetivos e quem irá personifica-la ou seja, quem irá representá-la. Poderá
estabelecer, também, o destino do patrimônio no caso de extinção da fundação.

Os atos praticados pela fundação serão fiscalizados pelos órgãos previstos em seus
estatutos, como Conselho Fiscal ou de Curadores e, também, pelo representante do
Ministério Público.

3. Sociedades personificadas

A sociedade é o agrupamento de pessoas que reciprocamente se obrigam a


contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha,
entre si, dos resultados.

A partir do registro de seu ato constitutivo a sociedade ganha personalidade de


direito, distinguindo-se das pessoas físicas e/ou jurídicas que a compõem.

3.1. Distinção entre sociedade e associação

Uma sociedade é formada por duas ou mais pessoas (físicas ou jurídicas), que se
comprometem a reunir capitais ou trabalho para a realização de um fim lucrativo. Na
sociedade o objetivo é econômico; tem como finalidade a participação dos sócios nos
resultados da empresa.

Uma associação, embora possa exercer atividade econômica, não tem finalidade
lucrativa, ou seja, os resultados positivos das atividades da associação não são distribuídos
entre as pessoas que a compõe. Nada impede, pois, que uma associação de caráter cultural ou
altruísta, tenha uma atividade econômica para sobreviver.
3.2. Espécies de Sociedades personificadas

Existem duas espécies de sociedade personificadas:

a)- Sociedades empresarias: são aquelas que exercem atividades econômicas


organizadas para a produção ou circulação de bens e serviços.

b)- Sociedades não empresariais: são aquelas que se dedicam as atividades


intelectuais, de natureza científica, literária ou artística, ainda que concurso de
auxiliares e colaboradores e as cooperativas.

3.3. Como se constitui uma sociedade personificada

A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou publico, que, além


de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:

1. nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas


naturais, e afirma ou denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;

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2. denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;

3. capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender


qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;

4. a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;

5. as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;

6. as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e poderes e


atribuições;

7. se os sócios respondem ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.

3.4 Tipos de sociedades

Existem diversos tipos de sociedades empresarial, devendo os sócios escolherem a


forma que julgarem mais adequada.

Antes de fazermos observações de ordem particular para cada tipo de sociedade


vamos ver a classificação delas de acordo com a responsabilidade do sócios, pois esse critério
é um dos que mais são decisivos para a escolha do tipo de sociedade mais adequado para
cada um.

Segundo esse critério, as sociedades dividem-se em:

a)- Sociedade de responsabilidade solidária e ilimitada – todos os sócios


respondem solidária e ilimitadamente pela obrigações sociais. Significa que o patrimônio
pessoal dos sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações assumidas pela
sociedade. Ex. sociedade em nome coletivo e sociedade cooperativa, se assim o documento
constitutivo estabelecer ( art. 1095, § 2°, do CC.).

b)- sociedade de responsabilidade subsidiária e ilimitada – todos os sócios


respondem subsidiariamente e ilimitadamente pelas obrigações sociais. Significa que, se o
patrimônio social não fora suficiente para o integral pagamento dos credores da sociedade, o
saldo passivo terá que ser suportado pelo patrimônio particular dos sócios. Ex. a sociedade
simples.

c)- Sociedade de responsabilidade mista – uma parte dos sócios tem


responsabilidade ilimitada e outra tem responsabilidade limitada. Ex. sociedade em
comandita simples e sociedade em comandita por ações.

d)- Sociedade de responsabilidade limitada – todos os sócios não respondem pelas


obrigações sociais, desde que o capital esteja integralizado. Ex. sociedade limitada e
sociedade anônima e as sociedades cooperativas, se assim o documento constitutivo
estabelecer (art. 1095, § 1° do CC.)

Daí resulta o seguinte quadro:

a)- Solidária: Sociedade em Nome Coletivo


Sociedades 1. Responsabilidade ilimitada
quanto à
b)- Subsidiária: Sociedade Simples
responsabilid
ade dos
a)-sociedade em comandita simples
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2. Responsabilidade mista
b)-sociedade em comandita por ações

sócios a)-sociedade limitada


3. Responsabilidade limitada
b)-sociedade anônima

* Nas sociedades cooperativas a responsabilidade a responsabilidade dos sócios


poderá ser limitada ou ilimitada, de acordo com o que dispuser o documento constitutivo.

3.4.1– Sociedade Simples

Poderão ser organizadas em sociedade simples às sociedades que se dedicarem as


atividades não empresariais, ou seja, as atividades intelectuais, de natureza científica,
literária ou artística, caso os seus sócios não optem por outro tipo de sociedade.

As sociedades empresariais, ou seja, àquelas que se dedicam a exercerem


atividades organizadas para a produção e circulação de bens e serviços, não poderão adotar
esse tipo de sociedade (art. 983, CC).

Esse tipo de sociedade terá seu documento constitutivo registrado junto ao Cartório
de Registro Civil das Pessoas Jurídicas.

3.4.2– Sociedade em nome coletivo

Esse tipo de sociedade somente poderá ser constituído por pessoas físicas e a
responsabilidade dos sócios é solidária e ilimitada.
3.4.3- Sociedade em comandita simples

É constituída por duas categorias distintas de sócios: a)- os comanditados, pessoas


físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; b)- os
comanditários, possuem responsabilidade limitada, obrigam-se somente pelo valor de suas
quotas.

3.4.4- Sociedade em comandita por ações

O capital social é dividido em ações e é regida pelas normas relativas às sociedades


anônimas.

Somente o acionista poderá ser administrador da sociedade e, como diretor,


responde subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações sociais.

Se houver mais de um diretor todos serão solidariamente responsáveis, depois de


esgotados os bens sociais.

3.4.5- Sociedade Limitada

O capital social é dividido em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas


a cada sócio.

A responsabilidade de cada sócio pelas obrigações assumidas pela sociedade é


restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integração do
capital social.
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Não é permitido aquisição de quotas através de prestação de serviços.

3.4.6- Sociedade Anônima

Esta sociedade, que é também conhecida por “Companhia” ou “Sociedade por


Ações”, será sempre empresarial, qualquer que seja seu objeto.

Características:

1. Seu capital será dividido em ações, que poderão ou não ter valor nominal.
2. Esta sociedade poderá ser de capital aberto ou fechado:
a. Será de capital aberto quanto as ações forem subscritas e negociadas sob a
fiscalização e através da Bolsa de Valores.
b. Será de capital fechado quando as ações não forem colocadas à venda
diretamente ao público e sim subscritas por pessoas previamente
determinadas.
3. O órgão soberano da sociedade anônima é a Assembléia Geral dos acionista e
suas deliberações serão tomadas levando-se em conta o número de ações que
possui o acionista votante.
4.-A administração competirá ao Conselho de Administração e à Diretoria, ou
somente à Diretoria. Estes colegiados serão constituídos na forma determinada pelos
Estatutos Sociais.

3.4.7- Sociedade Cooperativa

Do exame do artigo 3° da Lei n° 5.764/71, que rege atualmente as sociedades


cooperativas tiramos o seguinte conceito:

É um agrupamento de pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com


bens e serviços para o exercício de uma atividade econômica de proveito comum sem
objetivo de lucro.
As cooperativas são consideradas sociedades simples. Sendo assim ficam excluídas
da incidência de dispositivos de leis extravagantes, como a lei de falências, aplicáveis às
sociedades empresarias.

Tem-se, pois, nas cooperativas um tipo bem amplo de sociedade que pode abranger
o exercício de atividade empresárias diversas e também não empresária, o que lhe dá um
posição peculiar.

As cooperativas que operarem com crédito estão subordinadas ao Conselho


Monetário Nacional e ao Banco Central; as habitacionais estão subordinadas ao Banco
Nacional de Habitação (BNH), as demais, através do Conselho Nacional do Cooperativismo,
ao INCRA ( Instituto de Colonização e Reforma Agrária). Cabendo a esses órgãos conceder
autorização ou cancela-la, fixar normas disciplinadoras da constituição, funcionamento e
fiscalização das cooperativas a eles subordinadas.

B.2.2. Pessoas Jurídicas de Direito do Trabalho

1. Sindicatos

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Sindicatos são agrupamentos de pessoas da mesma categoria econômica ou


profissional, sem visar lucros, cujo objetivo é a defesa dos interesses coletivos e individuais
da respectiva categoria.

Pela definição acima notamos que há duas espécies distintas de sindicatos: 1. um é


o sindicato constituído pelas pessoas da mesma categoria econômica ou seja que desenvolve
a mesma atividade empresarial. São os sindicato dos empregadores; 2. o outro é o sindicato
constituído pelas pessoas da mesma categoria profissional. São os sindicatos dos
empregados.

Exemplos: 1. Categoria econômica:

Sindicato das Indústrias do Vestuário de Apucarana e Vale do Ivaí - Base


Territorial: Apucarana, Arapongas, Bom Sucesso, Borrazópolis, Califórnia, Cambira,
Faxinal, Grandes Rios, Ivaiporã, Jandaia do Sul, Jardim Alegre, Kaloré , Lunardeli, Manoel
Ribas, Marilândia do Sul, Marumbi, Rio Bom, Sabaudia, São João do Ivaí e São Pedro do
Ivaí.

Sindicato das Indústrias de Serrarias, Carpintarias, Tanoarias, Madeiras


Compensadas e Laminadas, Aglomeradas e Chapas de Fibras de Madeiras e da
Marcenaria ( Móveis de Madeiras), Móveis e Mobílias em Geral, Inclusive Junco, Vime e
Tubulares (Estruturas Metálicas), além de Vassouras e ainda Cortinas, Cortinados e
Estofados de Arapongas. Base Territorial: Arapongas, Rolândia e Apucarana.

2. Atividade profissional:

Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário de Apucarana e Região.


- Base Territorial: Apucarana, Arapongas, Bom Sucesso, Borrazópolis, Califórnia, Cambira,
Faxinal, Grandes Rios, Ivaiporã, Jandaia do Sul, Jardim Alegre, Kaloré , Lunardeli, Manoel
Ribas, Marilândia do Sul, Marumbi, Rio Bom, Sabaudia, São João do Ivaí e São Pedro do
Ivaí.

Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e Mobiliário de


Arapongas. - Base Territorial: Arapongas, Rolândia e Apucarana.

Os sindicatos têm, portanto, como atividade essencial a defesa dos interesses


coletivos e individuais da respectiva categoria, nas questões relativas a relação de
emprego, ou seja, nas relações entre empregados e patrões ou empregadores. Por isso, os
sindicatos podem firmar acordos individuais ou coletivos de trabalho, fixando normas de
trabalho. Essas normas acordadas entre os sindicados - de empregados e empregadores -
passam a ser obrigatórias, como se leis fossem, entre as categorias representadas no acordo.
Em razão disso, os sindicatos deverão ter uma área territorial de atuação. Essa área
denomina-se base territorial que nunca será inferior ao território de um Município, podendo,
portanto, ser composta de vários Municípios.

Ninguém é obrigado a filiar-se ou manter-se filiado a sindicato, no entanto é


obrigado a contribuir para a manutenção dos sindicatos e do sistema confederativo, através
do pagamento do Imposto Sindical. Este imposto, que é pago uma vez ao ano, corresponde a
um percentual calculado sobre o capital da empresa, cujo montante será destinado aos
sindicatos das categorias econômicas e a um dia de salário que será descontado de todos os
empregados e destinado às categorias profissionais.
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Outras contribuições poderão ser instituídas pelos sindicatos, mas o seu pagamento
será de responsabilidade dos respectivos associados.

2. Federações

As federações são agrupamentos de sindicatos da mesma categoria econômica ou


profissional, sem visar lucros, cujo objetivo é a defesa dos interesses coletivos e individuais
da respectiva categoria no território do Estado Membro onde foi constituída.

As federações podem convencionar entre si normas disciplinadoras da relação de


emprego. Portanto, aquilo que é convencionado entre as federações das categorias
econômicas e profissionais, passam a valer, como se leis fossem, para todo território daquele
Estado Membro.

As federações representarão as categorias somente onde não estejam organizadas


em sindicatos. Exemplos:

1. Atividade econômica:

Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

2. Atividade profissional:

Federação dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil e do Mobiliário do Estado do


Paraná. - Base Territorial: Estado do Paraná.

3. Confederações

As confederações são agrupamentos de federações da mesma categoria econômica


ou profissional, sem visar lucros, cujo objetivo é a defesa dos interesses coletivos e
individuais da respectiva categoria no território nacional. Se as confederações
convencionarem normas do Direito do Trabalho, essas normas vigorarão em todos território
nacional.

As confederações representarão as categorias somente onde não estejam


organizadas em sindicatos ou federações. Exemplos:

1. Atividade Econômica:

Confederação Nacional de Transportes Marítimos, Fluviais e Aéreos.


Confederação Nacional de Educação e Cultura.

2. Atividade Profissional:

Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Marítimos, Fluviais e Aéreos.


Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Educação e Cultura.
Centrais de Trabalhadores

O movimento de organização dos trabalhadores no Brasil culminou com as centrais


de trabalhadores. Entretanto, as centrais não são pessoas jurídicas de Direito do Trabalho,
uma vez que não há previsão legal autorizando-as a convencionar normas relativas a

59
INSTITUIÇÕES DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - Prof. Abel Abelardo Stadniky

prestação de serviço subordinado. No entanto, também não existe lei proibindo seu
funcionamento. Porém, são pessoas jurídica de Direito Civil, da espécie “Associação”.

Observe-se que o modelo sindical brasileiro não é o da organização espontânea dos


trabalhadores. Há os compartimentos já traçados pelo legislador, nos quais se situarão as
diferentes formas de entidades e dentre elas não há lugar para as centrais de trabalhadores.

Com objetivo de estimular a reflexão sobre o assunto lembramos dos ensinamentos


de Mário de La Cueva, autor Mexicano conhecido pela sua posição em defesa do
trabalhador:

“É doloroso ver, como fizemos notar ao falar do sindicalismo, que o que se


chama de luta social tenha duas faces: a luta dos trabalhadores contra os
patrões e a luta da Centrais Obreiras para adquirir o domínio sobre a classe
trabalhadora; a cláusula de exclusão por separação é a arma melhor desse
segundo aspecto da guerra social. Não haverá de deduzir-se destas reflexões
que é prejudicial ao movimento obreiro a formação de Federações e
Confederações; unicamente desejamos ressaltar um fato e advertir os
trabalhadores que sobre os interesses de seus dirigentes encontra-se os da
classe trabalhadora”23.

Estudo dirigido

1. O que se entende por pessoa jurídica?


2. Cite uma pessoa jurídica de Direito Internacional Público.
3. Cite três pessoas jurídicas de Direito Nacional Público.
4. A partir de que momento a pessoa jurídica de direito nacional público adquire
personalidade de direito?
5. O que é autarquia?
6. Cite três pessoas jurídicas de Direito Nacional Privado.
7. A partir de que momento a pessoa jurídica de direito nacional privado adquire
personalidade de direito?
8. Cite um exemplo de sociedade despersonalizada.
9. Quais são as características de uma associação?
10. Quais são as características de uma sociedade empresarial?
11. Quais são as atividades próprias de uma sociedade não empresarial?
12. O que é uma fundação, enquanto pessoa jurídica?
13. Para que fins poderá se constituir uma fundação?

23
Cueva, Mário de la. Derecho Mexicano del Trabajo. México: Porrua, 1960, T. II, p.
55.
60
INSTITUIÇÕES DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - Prof. Abel Abelardo Stadniky

14. O que é sindicato?


15. Quais o as características da federação sindical?
16. Quais são as características da confederação sindical?
17. A que ramos do direito pertence as Centrais dos Trabalhadores?

- OBJETO DO DIREITO POSITIVO -

O objeto do Direito Positivo são os bens jurídicos. Toda relação jurídica se


estabelece entre pessoas, tendo como objeto um bem jurídico. Aquilo que o sujeito passivo
deve ao sujeito ativo é o objeto do direito, que nem sempre é uma coisa corpórea, podendo
ser um bem imaterial.

Para Clóvis Beviláqua, bens são os valores materiais ou imateriais que servem de
objeto de uma ralação jurídica.

Para que um bem seja jurídico é necessário que ele seja suscetível de avaliação
econômica. O mar, o ar atmosférico, por exemplo, apesar de sua utilidade ao homem, não
podem ser considerados bens jurídicos, por não representarem um valor apreciável em
dinheiro. Assim somente as coisas úteis ao homem e apreciáveis em dinheiro são
consideradas bens jurídicos.

1. Classificação dos bens

1.1. Bens considerados em si mesmos

São aqueles que são observados independentemente de qualquer relação com outros.

Eles se subdividem em:

1.1.1. Móveis

61
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São bens móveis os suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força


alheia, sem alteração da substância ou destinação econômico-social..

Assim teremos:

a)- Moveis propriamente ditos - São bens que necessitam da ação do homem para
serem removidos. Ex. Mesa, cadeira, automóvel, sapato, etc.

b)- Semoventes - São bens que possuem movimentos próprios. Ex. Animais de
modo geral: gato, boi, cavalo, etc.

c)- Móveis por determinação legal – são aqueles enumerados pela própria lei, art. 83
do Código Civil:

1. as energias que tem valor econômico.

2. os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes.

3. os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.

d)- Móveis por antecipação – São os bens incorporados ao solo, mas com a
intenção de separá-los oportunamente e convertê-los em móveis, como as árvores destinadas
ao corte.

Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados,


conservam essa qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da
demolição de algum prédio.

1.1.2. Imóveis

São considerados imóveis os bens que não podem ser removidos de um lugar para
outro sem destruição.

Há quatro tipos de bens imóveis:

a) Imóveis por natureza - Considera-se bens imóveis pela própria natureza o solo
com a sua superfície, subsolo e espaço aéreo.

Tudo o mais a que a ele adere dever ser classificado como imóvel por acessão.
Acessão significa justaposição ou aderência de uma coisa a outra.

b) Imóveis por acessão natural - Tudo quanto se incorporar permanentemente ao


solo, por força da natureza. Incluem-se nessa categoria as árvores nascidas sem a ação do
homem e seus frutos pendentes.

c) Imóveis por acessão artificial ou industrial - Tudo quanto o homem incorporar


permanentemente ao solo, como a semente lança à terra, os edifícios e construções, de modo
que se não possa retirar sem destruição, fratura ou dano.

* Nesse conceito não se incluem, portanto, as construções provisórias, que se


destinam a remoção ou retirada, como os circos e parques de diversões, as barracas de feiras,
pavilhões etc.
62
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d) Imóveis por determinação legal - São os considerados imóveis pelo art. 80 do


Código Civil:

1. os direito reais sobre imóveis e as ações que os asseguram.

2. o direito à sucessão aberta.

O direito abstrato à sucessão aberta é considerado bem imóvel, ainda que os bens
deixados pelo falecido sejam todos móveis. A renúncia da herança é portanto renúncia de
imóvel e deve ser feita por escritura pública ou termo nos autos, mediante autorização do
cônjuge, se o renunciante for casado e recolhimento do ITBI ( Imposto de Transmissão de
Bem Imóvel).

Não perdem o caráter de imóveis:

1. as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem


removidas para outro local.

2. os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se


reempregarem.

A importância prática de se saber a distinção entre um bem móvel e imóvel reside no


fato da lei estabelecer maneiras diferentes para a transmissão da propriedade desses bens. O
bem móvel tem a sua propriedade transferida através da tradição, ou seja, pela entrega do
bem ao adquirente. O bem imóvel, no entanto, somente terá sua propriedade transferida se
cumprida as formalidades estabelecidas pela lei, ou seja, que a declaração de vontade esteja
contida num documento público (escritura pública, documento judicial, etc.) e que tal
documento seja devidamente registrado junto ao Cartório de Registro de Imóveis, onde o
referido bem esteja matriculado.

Para melhor esclarecimento, eis um caso concreto, citado pelo prof. Nelson
Godoy24, publicado na Revista dos Tribunais, vol. 348, p. 340:. Nelson Godoy ao tratar do
assunto:

“Para melhor esclarecimento, eis um caso concreto, que foi publicado na Revista
dos Tribunais, vol. 398, pág. 340. Um automóvel foi vendido e o comprador pagou o preço
mediante recibo, mas a entrega do veículo ficou para dentro de dez dias. Aconteceu, ainda,
que oito dias após o contrato de compra e venda, um incêndio provocado por um curto
circuito ocasionou a perda total do auto, que não estava assegurado. Discutiu-se sobre
quem deveria suportar o prejuízo: o comprador ou o vendedor, pois pela lei, quem suporta
o prejuízo, in casu, é o dono do bem.

Para decidir essa situação, o juiz aplicou a lei que trata do assunto, isto é, o art.
620 do Código Civil ( antigo ), que dizia o seguinte: “”O domínio das coisas não se
transfere pelos contratos antes da tradição.”” – O atual Código Civil repete essa regra no
art. 1.267 – “A propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos, antes da
tradição.”

Somente o contrato não transfere a propriedade; é preciso, ainda, a tradição, ou


seja, a entrega. A justiça, portanto, decidiu que o vendedor deveria suportar o prejuízo,
24
Dower, Nelson Godoy Bassil. Instituições de Direito Público e Privado . São Paulo:
Nelpa, 1995, p. 72.
63
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devolvendo o dinheiro que recebera, porque não houve a entrega e, conseqüentemente, não
se operou a transferência do domínio do veículo.”

1.1.3 Fungíveis

São bens móveis que podem ser substituídos por outro da mesma espécie,
quantidade e qualidade. Ex. Dinheiro, cereais, qualquer objeto fabricado em série.

1.1.3 Infungíveis

São bens móveis que não podem ser substituídos por outro da mesma espécie,
quantidade e qualidade. Ex. Obra de arte, qualquer objeto fabricado artesanalmente.

Esta diferenciação faz-se necessária pelas contingências da prática diária.. Um bom


exemplo da questão é o contrato de depósito, que caracteriza a entrega de um bem a outrem
para ser guardado e restituído assim que houver a solicitação. Se o bem for fungível, o
depositário não está obrigado a restituir exatamente o mesmo, pois poderá restituir outro da
mesma espécie, qualidade e quantidade. No entanto, se for infungível, o depositário estará
obrigado a restituir exatamente o mesmo bem que recebeu em depósito, caso não possa fazê-
lo, responderá por perdas e danos.

1.1.4 Consumíveis

São bens móveis cujo uso acarreta a destruição imediata da própria substância,
considerando-se da mesma forma os destinados à alimentação. Ex.: Cigarro, gasolina, etc.

1.1.4 Inconsumíveis

São bens móveis cujo uso não acarreta a destruição imediata. Ex.: Mesa, cadeira,
automóvel, etc.

1.1.5 Divisíveis

São os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição


considerável do valor, ou prejuízo do uso a que se destinam. São os que podem ser divididos
em porções reais e distintas, formando cada uma das partes um todo em separado. Ex. Giz,
lote de terras.

1.1.5 Indivisíveis

São bens que não podem ser divididos em porções, sob pena de alterar sua
substância e os que, embora naturalmente divisíveis, se considera indivisíveis por força de lei
ou vontade das partes. Ex. Automóvel, mesa, cadeira, terreno que possui metragem inferior
ao módulo exigido por lei.

Um dos co-proprietários de um bem considerado divisível poderá exigir, dos


demais, a sua divisão, de modo que cada uma das partes que formam um todo em separado,
possa ficar para cada um dos proprietários. Caso o bem seja considerado indivisível, a
propriedade deverá ficar, necessariamente, em condomínio.

1.1.6 Singulares
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São singulares os bens que, embora reunidos, são considerados individualmente,


independentemente dos demais. Ex.: Uma lata de óleo numa pilha, um automóvel na agência
revendedora.

1.1.6 Coletivos

São coletivos os bens que reunidos sempre são considerados num todo, no coletivo.
Ex. Uma caixa de fósforos, um maço de cigarros.

Os bens coletivos são chamados, também de universalidades e abrangem:

a)- Universalidades de fato

b)- Universalidades de direito.

a)- Universalidades de fato – considera-se universalidade de fato a pluralidade de


bens singulares que, pertencentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária ( rebanho,
biblioteca, floresta).

b)- Universalidades de direito – é o conjunto de relações jurídicas, de uma


pessoa, dotado de valor econômico ( herança, patrimônio, fundo de comércio).

1.2 Bens Reciprocamente Considerados

1.2.1 Principais

São bens que existem por si só, abstrata ou concretamente. Sua existência independe
da existência de outro bem. Ex..: Mesa, cadeira, lápis.

1.2.2. Acessórios

São bens que existem somente se existir um outro bem considerado principal, do
qual eles dependam. Ex.: Juros, fruto pendente.

O atual Código civil incluiu no rol dos bens acessórios, as pertenças.

Pertenças – são os bens móveis, não constituindo partes integrantes, se destinam,


de modo duradouro, ao uso, aos serviços ou ao aformoseamento de outro.

3. Quanto a propriedade

3.1. Públicos

São os bens pertencentes à União, aos Estados ou aos Municípios, ou seja, às


pessoas jurídicas de direito público interno .Ex.: Praças públicas, máquinas do município.

Os bens públicos são de três espécies:

a)- de uso comum do povo – tais como os rios, mares, estradas, ruas praças.

65
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b)- de uso especial – tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou


estabelecimento da administração federal, estadual ou municipal, inclusive suas autarquias.
Como as instalações das repartições públicas, secretarias, escolas, ministérios, etc.

c)- os dominicais ou do patrimônio disponível – são os que constituem o


patrimônio das pessoas jurídica de direito público interno, como objeto de direito pessoal ou
real. São as terras devolutas, as estradas de fero, oficinas e fazendas pertencentes ao Estado.

3.2. Particulares

São bens pertencentes às pessoas físicas ou jurídicas de Direito Privado. Ex.: Casa,
boi, automóvel.

Estudo dirigido

1- O que são bens imóveis? Exemplo


2- O que são bens imóveis pela própria natureza? Exemplo.
3- O que são bens imóveis por acessão física artificial? Exemplo.
4- O que são bens imóveis por definição de lei? Exemplo.
5- O que são bens móveis? Exemplo.
6- O que são bens móveis pela propriamente ditos? Exemplo.
7- O que são bens semoventes? Exemplo
8- O que são bens fungíveis? Exemplo.
9- O que são bens infungíveis? Exemplo.
10- O que são bens consumíveis? Exemplo.
11- O que são bens inconsumíveis? Exemplo.
12- O que são bens divisíveis? Exemplo.
13- O que são bens indivisíveis? Exemplo.
14- O que são bens principais? Exemplo.
15- O que são bens acessórios? Exemplo.
16- O que são pertenças?
17- O que são bens singulares? Exemplo.
18- O que são bens coletivos? Exemplo.
19- O que são bens públicos? Exemplo.
20- Quais são as espécies de bens públicos.
21- Cite três bens públicos de usos comum do povo.
22- O que são bens particulares? Exemplo.

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- FATOS JURÍDICOS -

O direito também tem o seu ciclo vital: nasce, desenvolve-se e extingue-se.


Essas fases ou momentos decorrem de fatos denominados de fatos jurídicos, exatamente por
produzirem efeitos jurídicos.

O quadro abaixo, aclara de vez a questão:

Fato simples

Ordinários - ( nascimento, morte, maioridade,


decurso de prazo)
Fatos jurídicos naturais
Extraordinários - ( raio, terremoto, tempestade,
etc.)
Fato Jurídico

Negócio Jurídico
Ato Jurídico lícito Ato Jurídico em sentido estrito
Atos Jurídicos Ato-fato jurídico

Ato jurídico ilícito

1- Fato simples e fato Jurídico.

O fato simples é todo acontecimento da vida que não tem qualquer relevância para o
direito, não resulta nenhuma conseqüência jurídica., ou seja, não faz nascer, modificar ou
extinguir direitos. Por exemplo, um raio que caia em alto mar, ou o eclipse, sem qualquer
conseqüência jurídica é considerado um fato simples.

Já o fato jurídico é todo acontecimento da vida relevante para o direito, ou seja,


que resulta na criação, modificação ou extinção de direitos, mesmo que sejam fatos ilícitos
( praticado em descordo com os preceitos do ordenamento jurídico).

1.1. - Fatos Jurídicos Naturais

São acontecimentos naturais que resultam na criação, modificação ou extinção de


direitos.

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Para exemplificar esta situação, podemos imaginar um automóvel, assegurado por


uma apólice de seguro, que é atingido por um raio que o destrói completamente. Assim, por
um lado, teremos a extinção do direito de propriedade pela extinção do objeto. Por outro,
teremos o surgimento do direito à indenização, vez que o objeto encontra-se assegurado.

O Código de Águas (Decreto 24.643, de 10.07.1934), nos fornece outros exemplos


de aquisição de direito através de acontecimentos naturais ao tratar, no Capitulo V, da
acessão (significa o modo de aquisição de coisa pertencente a outrem, por se considerar esta
incorporada à do adquirente). Dentre os casos de acessão temos o álveo abandonado. Álveo é
a superfície que as águas cobrem sem transbordar para o solo natural e ordinariamente
enxuto. Desta forma se um rio abandonar seu curso original, em função de um acontecimento
natural (sem que tenha havido ação do homem) teremos o álveo abandonado. Essa superfície
pertencerá aos proprietários ribeirinhos, das duas margens, sem que tenham direito à
indenização alguma os donos dos terrenos por onde as águas abrigarem novo curso (art. 26
da referida lei).

Os fatos jurídicos naturais se subdividem, ainda, em duas espécies:

a)- Fatos jurídicos naturais ordinários - nascimento, morte, maioridade, decurso de


prazo.

b)- Fatos jurídicos naturais extraordinários - raio, terremoto, tempestade, etc.

1.2. - Atos Jurídicos

Os atos jurídicos, diferentemente dos fatos jurídicos naturais, é o resultado da


ação do homem desde que tenha conseqüência jurídica, ou seja, criando, modificando ou
extinguindo direitos.

Os atos jurídicos, se subdividem em: 1)- Atos jurídicos lícitos e 2)- Atos
jurídicos ilícitos.

1.2.1. - Atos Jurídicos Lícitos

São atos lícitos que têm por fim imediato adquirir, resguardar, transferir,
modificar ou extinguir direitos. O ato jurídico, portanto, é resultado da ação do homem, que
não poderá ser contrária ao direito, pois exigi-se a licitude, e deve ter por fim imediato
adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos.

Os atos jurídicos lícitos, por sua vez, se subdividem em: 1)- Negócio Jurídico 2)-
Ato jurídico em sentido estrito e 3)- Ato-fato jurídico.

1.2.1.1.- Negócio Jurídico

Negócio jurídico, na palavra de Caio Mário de Silva Pereira 25, são declarações de
vontade destinada à produção de efeitos jurídicos queridos pelo agente. O fundamento e os
efeitos do negócio jurídico assentam, então, na vontade, não uma vontade qualquer, mas
aquela que atua em conformidade com os preceitos ditados pela ordem legal.

25
Instituições de Direito Civil, vol. I , 19ª ed., Forense, Rio, p.3003
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INSTITUIÇÕES DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - Prof. Abel Abelardo Stadniky

No negócio jurídico (contrato de compra e venda, por exemplo), a ação humana


visa diretamente a alcançar um fim prático permitido na lei, dentre a multiplicidade de
efeitos possíveis. Por essa razão é necessária uma vontade qualificada, sem vícios.

No negócio jurídico há uma composição de interesses, um regramento geralmente


bilateral de condutas, como ocorre na celebração de contratos. A manifestação da vontade
tem finalidade negocial, que em geral é criar, adquirir, transferir, modificar ou extinguir
direitos.

A. Elementos constitutivos do negócio jurídico.

O negócio jurídico é uma manifestação da vontade dirigida a um determinado fim.


Para que produza os efeitos jurídicos pretendidos é necessário que se revista de certos
requisitos relativos à pessoa do agente, ao objeto da relação jurídica e à forma da
manifestação da vontade.

Assim, para a validade do negócio jurídico, exigi-se:

A.1)- Agente capaz;

A.2)- Objeto lícito, possível, determinado ou determinável;

A.3)- Forma prescrita ou não defesa em lei;

A.1. Agente Capaz

O praticante do ato jurídico deverá ter capacidade de direito. Quando estudamos a


pessoa física, vimos que a lei não estabelece de forma direta o momento em que a pessoa
adquire a capacidade de direito. Isto é feito de forma indireta, ou seja, o que a lei estabelece
são as incapacidades. Essas incapacidades poderão ser de duas espécies: 1. os absolutamente
incapazes, que são os menores de 16 anos; os que, por enfermidade ou deficiência mental,
não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; os que, mesmo por causa
transitória, não puderem exprimir sua vontade. 2. os relativamente incapazes: os menores
entre 16 e 18 anos; os ébrios habituais, ou viciados em tóxicos, e os que, por deficiência
mental, tenham o discernimento reduzido; os excepcionais, sem desenvolvimento mental
completo; os pródigos.

Portanto, com relação à idade, a pessoa torna-se absolutamente capaz a partir dos 18
anos. No entanto, há certas situações que o menor de 18 anos pode ser considerado
absolutamente capaz. A essas situações denominamos genericamente de emancipação.
Existem cinco espécies de emancipação: por concessão dos pais, pelo casamento, pelo
exercício de emprego público efetivo, pela colação de grau em curso de ensino superior e
pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde
que, em função deles, o menor com 16 anos (dezesseis) anos completos tenha economia
própria.

Os incapazes que necessitarem realizar negócios jurídicos poderão suprir a


incapacidade de exercício pelos meios legais: a representação e a assistência ( art. 1634 do
Código Civil). Os absolutamente incapazes não participam do ato, sendo representados pelos
pais, tutores ou curadores. Os relativamente incapazes já participam do ato, mas deverão ser
assistidos pelos pais ou curadores.

69
INSTITUIÇÕES DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - Prof. Abel Abelardo Stadniky

A.2. Objeto Lícito, possível, determinado ou determinável

Objeto lícito é o que não atenta contra a lei, moral ou bons costumes. Quando o
objeto do contrato é imoral os tribunais têm considerados nulos, com aplicação do princípio
de que ninguém pode valer-se da própria torpeza.

O Objeto de ser, também, possível. Quando impossível, o negócio é nulo.

Por fim, o objeto do negócio jurídico deve ser, também, determinado ou


determinável. Admite-se, assim, a venda de coisa incerta, indicada ao menos pelo gênero e
pela quantidade ( Código Civil, art. 243).

Como exemplo da necessidade do objeto lícito podemos citar a seguinte hipótese:


se alguém vender a outrem um bem roubado, este ato de transmissão de propriedade será
considerado inexistente, pois sobre o objeto do ato jurídico pesa uma ilicitude em função do
roubo.

Outra situação, que vem se tornando repetitiva entre nós, deve ser lembrada com
exemplo: é a contratação de pessoal para coletar as apostas do chamado “jogo do bicho”. A
questão é saber se o contrato de trabalho realizado entre o “bicheiro” e o coletor de apostas
(cambista) é válido e, portanto, se sujeito às normas do Direito do Trabalho, com direito a
salário mínimo, férias, 13° salário, horas extras, etc. É sabido que o “jogo do bicho” é uma
contravenção penal, ou seja, um crime de menor proporção. Assim, o objeto do ato jurídico é
ilícito, pois a lei assim o define. Se o objeto é ilícito o ato é nulo e não surte qualquer efeito.
No entanto, por outro lado, se o coletor das apostas prestou serviços ao “bicheiro”, este
obteve um ganho com o serviço prestado e deverá remunerar pelo ganho obtido, sob pena de
ferir um princípio do direito que é: o enriquecimento sem causa.

Nossos tribunais têm se manifestado sobre o assunto em diversas oportunidades,


como se vê pelas ementas abaixo transcritas:26

Anotador do “jogo do bicho”. Contrato de prestação de serviços com objeto ilícito.


Inexistência da relação jurídica de emprego, na espécie (TST. RR 76.321/93.6, Guimarães
Falcão, Ac. 4ª T. 5.390/93).

Jogo do bicho. Se o objeto do contrato de trabalho mostra-se ilícito, face à atividade


desenvolvida, deve ser considerado nulo. Entretanto, a impossibilidade de fazer com que as
partes retornem ao status quo ante faz com que se autorize o pagamento dos salários ao
empregado, sob pena de enriquecimento ilícito da pessoa que usufruiu do seu trabalho
(TST, RR 109.376/94.6, Afonso Celso, Ac. 1ª T. 4.393/94).

A.3. Forma prescrita ou não defesa em lei.

O terceiro requisito de validade do negócio jurídico é a forma. Esta deve ser a


estabelecida ou não proibida pela lei. Em regra a forma é livre. As partes podem celebrar
contrato por escrito, público ou particular, ou verbalmente, a não ser nos casos em que a lei,
para maior segurança ao negócio, exija a forma escrita, pública ou particular (art. 107 do
Código Civil).

O descumprimento dessa forma estabelecida na lei culminará com a nulidade do


negócio jurídico. Por exemplo: a transmissão da propriedade de um bem considerado

26
Carrion , Valentin. Nova Jurisprudência em Direito do Trabalho . São Paulo: Editora
Saraiva, 1995, p.122.
70
INSTITUIÇÕES DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - Prof. Abel Abelardo Stadniky

imóvel, exige que a manifestação de vontade do proprietário conste de um documento e que


esse documento seja levado à registro junto ao Cartório de Registro de Imóveis, onde o
imóvel esteja matriculado. Somente dessa maneira se transmitirá a propriedade de um bem
imóvel.

B.- Defeitos do Negócio Jurídico

A declaração da vontade é elemento essencial no negócio jurídico. Para a validade


do negócio jurídico é indispensável a presença da vontade do agente e que esta haja
funcionado normalmente. É justamente com este objetivo, ou seja, de preservar a livre
manifestação da vontade que a lei estabelece as incapacidades, como já vimos anteriormente.

Entretanto, mesmo que o agente capaz seja capaz, poderá ocorrer, no momento da
prática do ato jurídico, um vício na manifestação da vontade do agente, de forma a não
representar exatamente o que queria. A essas situações, em que se constata uma diferença
entre a vontade real e a vontade declarada, se dá o nome de defeitos do ato jurídico. Esses
defeitos são os seguintes: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão e fraude contra
credores.

Os referidos defeitos, exceto a fraude contra credores, são chamados de vícios de


consentimento porque provocam uma manifestação de vontade que não correspondente com
o íntimo e verdadeiro querer do agente. A fraude contra credores não conduz a um
descompasso entre o íntimo querer do agente e a sua declaração, mas é exteriorizada com a
intenção de prejudicar terceiros.

Os negócios jurídicos que contenham tais vícios são anuláveis.

B.1. Erro.

Erro é a falsa noção que o agente tem com relação ao objeto da relação jurídica ou
com relação à qualidades essenciais de pessoas a quem se refere a declaração de vontade,
de forma tal que se tivesse noção exata com relação ao objeto ou a qualidades da pessoa não
teria praticado o ato.

A ignorância, que significa a ausência completa de conhecimento, é encarada da


mesma forma que o erro.

Não é, porém, qualquer espécie de erro que torna anulável o negócio jurídico. Para
tanto deve ser substancial ou essencial.

Por exemplo: a)- alguém adquire um terreno que se supõe valorizado porque
situado em rua importante mas que na verdade tem pouco valor pois se situa em rua do
mesmo nome, porém de outra localidade. b)- compra de um relógio dourado como se fosse
de ouro.

B.2. Dolo.

Dolo é o artifício empregado no sentido de induzir o agente a praticar o ato


jurídico em erro.

71
INSTITUIÇÕES DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - Prof. Abel Abelardo Stadniky

Para melhor compreensão do conceito acima exposto, reproduzimos, a título de


exemplo, o caso narrado por Nelson Godoy Bassil Dower27:

“Vendedor e comprador, mediante instrumento particular, avençaram-se para


venda e compra de um sítio. Por ocasião da lavratura da escritura pública, o comprador, com
a participação de um delegado, convenceram o vendedor (sitiante) de que deveria receber o
preço em jóias; particularmente o delegado insistia nas vantagens do pagamento em forma de
jóias, pois se tratava de um emprego de capital mais seguro.

Verificou-se, posteriormente, que as jóias valiam somente 1/3 do valor do preço


pactuado em dinheiro. O vendedor era pessoa simples, residente em um sítio, e o comprador
lhe havia sido apresentado pelo delegado”.

O recebimento do preço em jóias foi resultante do erro criado no espírito do sitiante,


pessoa simples e que confiava na palavra de um delegado. Ludibriado, teve um procedimento
diverso daquele que realmente teria se conhecesse a realidade dos fatos.
B.3. Coação.

É toda violência física ou psicológica empregada no sentido de obrigar o agente a


praticar um ato que não queira.

Como exemplo podemos citar o caso da mãe que ao saber da acusação que pesava
sobre o filho – de ter dado desfalque como caixa do banco em que trabalhava – assina uma
nota promissória em branco na presença do gerente, do advogado do banco e dos policiais
que acompanham o filho.

Na hipótese acima, verificamos a existência de uma ameaça, de uma intimidação


que colocou a mãe numa situação tal, que levada pelo temor, emitiu uma declaração de
vontade que não correspondia à sua vontade real.

B.4. Estado de perigo.

Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de


salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume
obrigação excessivamente onerosa.

Portanto compõe-se de dois elementos: a)- objetivo, que a assunção de “obrigação


excessivamente onerosa”; e b)- subjetivo, caracterizado pelo constrangimento causado pela
necessidade de “salvar-se”ou de “salvar pessoa da família”.

Como exemplo podemos citar o caso de alguém, premido pela necessidade de


manter-se, juntamente com sua família, arrenda as instalações de uma granja para criação de
aves. No entanto, após alguns meses de trabalho, verifica que o ganho anual com a
exploração daquela atividade será insuficiente para o pagamento do arrendamento.

O estado de perigo ocorre, assim, quando alguém se encontra em situação


equiparada ao “estado de necessidade”e, por isso, assume obrigação excessivamente onerosa.
B.5. Lesão

Configura-se a lesão quando alguém obtém um lucro exagerado, desproporcional,


aproveitando-se da inexperiência ou da situação de necessidade do outro contratante.

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Instituições de Direito Público e Privado, 11ª ed., Editora Nelpa, São Paulo, 2002, p. 242.
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INSTITUIÇÕES DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - Prof. Abel Abelardo Stadniky

A lesão também é composta de dois elementos: a)- objetivo, consistente na


manifesta desproporção entre a prestações recíprocas, geradora de lucro exagerado; e b)-
subjetivo, caracterizado pela “inexperiência”ou “premente necessidade” do lesado.

B.6. Fraude contra credores.

É todo ato jurídico praticado com o objetivo de lesar direitos de credores.

No direito das obrigações encontramos o princípio da responsabilidade patrimonial,


segundo o qual o patrimônio do devedor responde por suas obrigações. Assim, se alguém
deve certa importância a outrem e não paga no vencimento, caberá ao credor, através do
poder judiciário, retirar todo ou parte do patrimônio do devedor ( penhora ) vende-lo e com o
resultado da venda pagar o credor. No entanto se o devedor praticar qualquer ato que objetive
impedir o exercício do direito do credor, como, por exemplo, doar seu patrimônio aos
descendentes, estará praticando fraude contra o credor.

1.2.1.2. Ato Jurídico em Sentido Estrito.

São atos lícitos cujo efeito da manifestação de vontade está predeterminado


pela lei.

Como, por exemplo, a notificação judicial, que constitui em mora o devedor;


reconhecimento de filho;

1.2.1.3.- Ato-Fato Jurídico.

Muitas vezes o efeito do ato não é buscado e nem imaginado pelo agente, mas
decorre de uma conduta que é sancionada pela lei, como no caso da pessoas que acha,
casualmente, um tesouro ( art. 1264 do Código Civil).

Para a realização do ato-fato jurídico não se exige do agente a capacidade de


direito. Assim, um garoto de sete ou oito anos de idade tornar-se proprietário dos peixes que
pesca, pois a incapacidade, no caso, não acarreta a nulidade ou anulação do ato.

1.2.2. – Atos Jurídicos Ilícitos.

Ato ilícito é todo ato praticado com infração a um dever de conduta, por meio de
ações ou omissões culposas ou dolosas do agente, das quais resulta dano para outrem.

Ato jurídico ilícito é o praticado com infração ao dever legal de não lesar a outrem.
Tal dever é imposto pelo art. 186 do Código Civil que assim prescreve: “Aquela que, por
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

Não são considerados atos ilícitos:

1. os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito


reconhecido.

2. a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou lesão a pessoa, a fim de


remover perigo iminente.

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INSTITUIÇÕES DE DIREITO PÚBLICO E PRIVADO - Prof. Abel Abelardo Stadniky

* Legítima defesa – ocorre legítima defesa quando alguém, usando moderadamente


dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Somente a legítima defesa praticada contra o agressor deixa de ser ato ilícito. Se o agente,
por erro de pontaria, atingir um terceiro, ficará obrigado a indenizar os danos a este
causados.

* Exercício regular de um direito reconhecido – O abuso do direito constitui ato


ilícito, só não será ilícito o exercício regular do direito. Por exemplo, se o inquilino ou
proprietário de imóvel produzir barulho excessivo com o objetivo de simplesmente perturbar
o sossego do vizinho, ter-se-á o abuso do direito.

* Estado de necessidade – O Estado de necessidade visa à remoção de perigo


iminente que leva a coisa alheia à deterioração ou destruição.

Estudo Dirigido

1. O que vem a ser um fato simples? Dê exemplo.


2. Em que o fato simples difere do fato jurídico?
3. O eclipse é, ou não um fato jurídico? Justifique.
4. Em que o fato jurídico difere do ato jurídico ?
5. O que é ato jurídico em sentido estrito?
6. Quais são os elementos constitutivos do negócio jurídico?
7. O que se entende por agente capaz como elemento constitutivo do negócio jurídico?
8. O que é forma prescrita ou não defesa na lei?
9. Quais são os defeitos do negócio jurídico?
10. O que é erro, como defeito do negócio jurídico?
11. O que é dolo, como defeito do negócio jurídico?
12. O que é lesão, como defeito do negócio jurídico?
13. O que é fraude contra credores , como defeito do negócio jurídico?

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