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A fase de instrução preparatória abrange todo o conjunto de provas que formam o corpo
de delito e tem por fim reunir os elementos de indiciação necessários para fundamentar
a acusação. Na instrução preparatória devem efectuar-se não só diligências conducentes
a provar a culpabilidade dos arguidos, mas também aqueles que possam concorrer para
demonstrar a sua inocência e irresponsabilidade.
Distingue a instrução preparatória da contraditória, o facto de a primeira ser dirigida
pelo Ministério Público (MP) e revestir forma inquisitória, e a segunda (instrução
contraditória) ser dirigida pelo juiz e revestir forma contraditória, surgindo deste modo
também com uma finalidade especial, que é a garantia de defesa, se bem que relativa á
apreciação judicial da introdução do feito penal em juízo.
Como todo o processo penal, a instrução deve ser norteada pelo princípio da verdade
material, pelo que a verificação da existência de infrações deve compreender a
verificação da existência ou inexistência da infração suspeita; de modo semelhante, a
averiguação da responsabilidade dos seus agentes deve compreender averiguação da
responsabilidade e irresponsabilidade, e constatando existir efectivamente a
responsabilidade, há que averiguar também a medida desta.
A instrução preparatória é dominada por um espirito que não difere dos que devem
presidir às fases ulteriores do processo, pese embora nela sejam usados meios de obter a
verdade material. Na instrução preparatória devem efectuar-se não só as diligências
conducentes a provar a culpabilidade dos arguidos, mas também aquelas que possam
concorrer para demonstrar a sua inocência e irresponsabilidade. E assim deve ser porque
em processo penal o interesse do Estado não é nunca um interesse á condenação, mas á
realização da justiça, e esta tem como pressuposto a descoberta da verdade material.
Nos termos do CPP a instrução preparatória obedece a determinados prazos legais que
variam consoante haja ou não arguidos presos e em função da forma de processo ou
pena aplicável.
Assim, quando haja arguidos presos e tratando-se de crimes dolosos puníveis com pena
correcional de prisão superior a 1 ano ou nos processos de polícia correcional, é de 20
dias; tratando-se de crimes puníveis com pena de prisão maior ou para cujo o
julgamento deva seguir-se processo de querela, o prazo é de 40 dias e; quando se trate
de crimes cuja instrução preparatória é diferida ao SERNIC ou da sua exclusiva
competência, o prazo é de 90 dias, nos termos do artigo 308, parag. 1°/n°s 1, 2 e 3 e
artigo 337 CPP.
Não havendo arguidos presos, dispõe expressamente o corpo do artigo 337 CPP que o
prazo de instrução preparatória é de 3 meses em processo de querela é de 2 meses nos
restantes processos, os quais só começam a contar a partir do momento em que a
instrução preparatória seja dirigida contra determinada pessoa.
Prazos especiais para casos de criminalidade complexa pelo seu carácter altamente
organizada são previstas pela lei, a exemplo do prazo estabelecido para a instrução
preparatória tendo por objecto o regime jurídico e medidas de prevenção e repressão
relativamente a utilização do sistema financeiro e das entidades não financeiras para
efeitos de branqueamento de capitais e de financiamento do terrorismo, nos termos do
artigo 65 da Lei n° 14/2013, de 12 de Agosto (Estabelece o regime sobre o
Branqueamento de Capitais), é de 9 meses.
A instrução preparatória é secreta, conforme resulta do artigo 70, corpo do CPP, e artigo
13, corpo do DL 35007.
Decorre do carácter secreto da instrução preparatória, que o processo penal nesta fase
está sob segredo da justiça, que “implica o não conhecimento dos autos por terceiros;
este segredo de justiça quanto a terceiros estende-se até á notificação do despacho de
pronúncia ou equivalente ou até transitar em julgado o que mandou arquivar o
processo”.
O não conhecimento dos autos por terceiros e, por conseguinte, do seu conteúdo,
pressupõe que aquelas não devam assistir á prática de actos processuais ou tomem
conhecimento dos mesmos. Pressupõe ainda a proibição de divulgação dos termos dos
actos processuais, neste caso a proibição abrangendo inclusivamente a pessoa que tenha
o direito ou o dever de assistir e praticar o acto, como seria o caso de interrogatório de
arguido e de testemunhas.
Em bom rigor a instrução ou fase instrutória do processo é secreta para terceiros, uma
característica que encontra a sua razão de ser por duas ordens de razoes:
O segredo de justiça cede mais relativamente ao assistente ou seu advogado, visto que
colaborando na descoberta da verdade material, embora com a sua actividade
subordinada à do MP, poderá o processo lhe se mostrado, em todo caso devendo
guardar segredo de justiça, pois só assim o assistente poderá exercer os poderes
processuais consagrados no artigo 13, Único do DL 35007, concretamente a solicitação
de diligencias de prova que entenda puderem contribuir para descoberta da verdade.