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O Mito Da Grama Mais Verde PDF
O Mito Da Grama Mais Verde PDF
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Sumário
CAPÍTULO 1
A Loura
Ela era uma mulher muito atraente: jovem e um tanto tímida. Eu me encontrara com ela depois da sessão
de uma conferência, e ela perguntara se eu tinha tempo para ouvir a sua história. impecavelmente vestida, o
cabelo bem penteado, ela parecia um modelo comparecendo a uma entrevista. Quando nos sentamos, ela teve
todo o cuidado com a sua postura. A posição de suas mãos e pés era tal, que presumi que ela era muito dona de si
ou havia sido treinada em uma escola de arte. Séria e pesando cuidadosamente cada palavra, ela falou de seu
casamento malogrado, que estava agora no limiar do colapso. Ela e seu marido haviam viajado oitenta
quilômetros, para participar daquela conferência.
A história desconcertante do casamento deles parecia focalizar-se em uma queixa: "Eu preciso tanto que
ele goste de mim. Preciso sentir que significo algo para ele. Eu daria tudo para que ele dissesse que sou
maravilhosa ou linda para ele. Não posso entender por que recebo cumprimentos de outras pessoas a respeito de
minha aparência e meus talentos e parece que ele não os nota de forma alguma."
"Você encontrou alguém que a encoraja e aprecia?" — perguntei. Ela hesitou, olhou para o assoalho e,
vacilante, balançou a cabeça afirmativamente.
"Fale-me a esse respeito" — continuei.
"Sei que isso está errado e sinto-me culpada, mas não sei o que fazer. Eu nunca pensei em ter um 'caso' —
de fato, este homem é o mais feio que conheço — mas aprendi a amá-lo. Da primeira vez que o vi, senti repulsa,
mas ele falou amável e compreensivamente; ele me aceitou, fez-me sentir mulher, importante e atraente, e me
deu o apoio emocional que eu tanto queria de meu marido. Finalmente esqueci a sua aparência, porque quando
alguém faz por você o que ele fez, você deseja dar-lhe de volta muito mais — tudo o que você tem."
A essa altura havia lágrimas em seus olhos, e ela exclamou: "Não posso suportar a idéia de desistir dele,
porque acho que meu marido jamais mudará."
O Executivo
Eu estava em meu quarto de hotel, esperando. Alguém bateu à porta. O homem que havia telefonado,
marcando um encontro, chegara. Ele era conhecido na cidade, tivera êxito nos negócios e era muito considerado
por sua capacidade de liderança e seu excelente casamento e família maravilhosa. Ele viera de sólidas origens,
fora educado em colégios evangélicos, era um líder em sua igreja e estava ativamente envolvido em muitos
empreendimentos cristãos.
Depois que trocamos algumas frases convencionais, ele sentou-se nervosamente em uma cadeira.
"Em que posso servi-lo?" — perguntei.
Por vários minutos, ele falou em termos gerais de problemas que são comuns ao homem: "Todos
enfrentam problemas... ninguém é perfeito... mesmo como crentes, freqüentemente lutamos com interrogações a
respeito do que ninguém sabe... algumas vezes há coisas aqui dentro que os outros não podem ver e acontecem
coisas que nos surpreendem..."
Senti o seu embaraço para chegar ao ponto difícil de revelar o objetivo de sua visita. Ele rodeou o
problema repetidamente, procurando algum indício de compreensão em meus olhos. Finalmente, em um esforço
para ajudá-lo, perguntei: "Por que você não me diz somente o nome dela e conta como tudo começou?"
"Então você sabe, não é?"
É claro que, a essa altura, eu sabia.
Ele descreveu as recentes desavenças que ele e a esposa estavam tendo a respeito dos filhos e como o seu
relacionamento havia se tornado tenso. Eles estavam pouco a pouco se afastando um do outro. Nesse mesmo
período de solidão, aparentemente ele foi lançado, de maneira inevitável, devido a atividades eclesiásticas, nos
braços de uma jovem e atraente mulher divorciada. Ela havia ficado frustrada com o ex-marido: "Ele era bronco,
parado, sem atrativos — bom, mas chato." As histórias dos dois eram como as peças de dois quebra-cabeças que
se ajustassem. Eles se encaixaram perfeitamente. Parecia que fora até algo providencial, algo que lhes acontecera
pelo destino. Eles se entendiam um ao outro, precisavam um do outro. Olhos se encontraram e mãos se tocaram
— contentamento, uma fagulha, uma chama, e, antes de perceberem o que estava acontecendo, eles estavam na
cama juntos.
Na ocasião em que ele veio conversar comigo, eles estavam tendo encontros freqüentes, e ele estava
lutando com os sentimentos de terror e fascínio — amor e um sentimento atormentador de culpa. "Eu sempre
achei que algo como isso não deve acontecer, mas quando acontece com você é diferente. Orei sinceramente
para que, se Deus não quisesse aquilo em nossas vidas, que tirasse os sentimentos que tenho por ela. Chegamos a
orar juntos. Orei neste sentido repetidamente, e ele não respondeu; portanto, deve significar que ele nos quer
juntos."
Em uma pequena cidade do centro-oeste, o culto terminou, e a igreja estava se tornando vazia e silenciosa.
Uma mulher, que retardara sua retirada, esgueirou-se até mim, e perguntou se eu podia conceder-lhe um
momento. Indo direto ao assunto, ela expressou fortemente a sua discordância com uma parte de minha
mensagem: — Você chama isso de adultério; eu o chamo de "um caso". Você o faz soar como a coisa pior do
mundo. Eu não estou envolvida com algum vagabundo sujo da rua. O meu homem é respeitado e tão bom quanto
qualquer outra pessoa desta igreja. Acontece ser este meu pecado corriqueiro e... qual é o seu? Você não é um
anjo, é?
Ela piscou para mim, e mergulhou na noite.
Estes são apenas quatro dentre as centenas de homens e mulheres que têm compartilhado comigo os seus
segredos maritais, durante os meus trinta e oito anos de ministério itinerante: esposas de pastores, missionários,
professores de Escolas Bíblicas Dominicais, conselheiros cristãos, membros de igrejas e líderes cristãos muito
ativos. Eles refletem a crescente incidência de casos extraconjugais entre crentes professos, revelam a ampla
gama de pessoas afetadas e a tendência de encontrar razões para apoiar esse procedimento, embora essas razões
possam ser contrárias às convicções morais e bíblicas que temos esposado há muito tempo.
1 NOTA DO TRADUTOR: Ao traduzir, preferi colocar "cristãs autênticas" a "fortemente religiosas", porque no Brasil "religião", para muitos, inclui a
umbanda e o candomblé, que, de certa forma, encorajam o adultério.
Tudo isto, a despeito de outra pesquisa, que mostra que 86 por cento de todas as pessoas interrogadas
crêem que o sexo extraconjugal é sempre ou quase sempre errado. Outros 11 % acham que circunstâncias
especiais precisam ser consideradas. Menos de 3 % dizem que a infidelidade não é errada, de forma alguma. O
que afirmamos acreditar e a maneira como vivemos estão muitas vezes distantes como um pólo do outro.
Durante os recentes escândalos sexuais que abalaram o Congresso americano, o Dr. Sam Janus,
catedrático na Faculdade de Medicina de New York, disse: "Uma aposta vitoriosa seria de que metade dos
membros do Congresso se envolve em 'casos' fora do casamento,"5
Porém, seja qual for o número exato, a "esmagadora maioria" citada pela Playboy que é contra esses
"casos" certamente não controla os veículos de comunicação, o cinema ou a propaganda.
Sexo, sexo, sexo. A nossa cultura está chegando ao ponto de saturação total. A fossa está transbordando.
Livros, revistas, discos e filmes o proclamam incessantemente. A TV, o veículo de comunicação mais poderoso e
imediato, o proclama espalhafatosamente. O sexo está com tudo. Ele é o tema constante das novelas vespertinas
e das mesas redondas, o assunto inevitável das entrevistas com gente famosa. Todos os dias, o dia todo,
bombardeia-nos essa mensagem, como petardos vindos de um canhão de lavagem cerebral: "Consiga do sexo
tudo o que ele pode dar. De todo jeito. Em todo o tempo. Você só vive uma vez. Goze o que puder. Não deixe
passar a oportunidade. O amanhã não existe."
O estudo dirigido por Louis Harris, em 1978-79, recenseou 1.990 homens entre 18 e 49 anos de idade, e
chegou à conclusão de que "a ênfase crescente que os homens estão dando à auto-realização, ao prazer e a fazer
o que bem entendem está alterando dramaticamente o sistema americano tradicional de valores. Os valores auto-
orientados que estão surgindo representam um novo liberalismo pessoal. Não é uma forma do velho liberalismo
social. Ele se coloca à parte da distinção tradicional, conservadora-radical, baseada em problemas sociais e
econômicos. A sua preocupação é com a conduta da vida pessoal do homem."6
Traduza esta filosofia, e ela dirá: "A fidelidade está por fora; os "casos" é que estão por dentro. Se o seu
casamento não lhe propicia, em todo tempo, tudo o que você sempre esperou, sonhou ou imaginou, e deixa de
lhe proporcionar o constante prazer dos sentidos e a realização que você merece, encontre isso tudo em outro
lugar, desfrute de algum 'adultério sadio'. As pessoas são espíritos livres, e não devem ser restringidas. Não pode
haver regulamentos a respeito de relacionamentos."
"Adultério sadio" é exatamente a expressão usada pelo Dr. Albert Ellis, proeminente sexólogo. Ele
recomenda, aos casais cujo amor romântico feneceu em seu casamento, que o adultério pode ser uma coisa sadia
para rejuvenescer o seu relacionamento. Não faz sugestões acerca de como revigorar o relacionamento de dentro
para fora — como edificar o amor novamente. Somente dá uma resposta egocêntrica: pule fora; tenha um "caso".
Toda esta enxurrada pseudocientífica, pseudoliberada, a respeito da necessidade de sexo extra, tem feito
mais do que colocar casais na cama. Tem criado um clima social que tem gerado temor e silêncio. Os casados
fiéis são menos descontraídos do que os infiéis, como se a fidelidade, e não a infidelidade, fosse motivo de
vergonha, nesta sociedade obcecada pelo sexo. Uma jovem casada que trabalha me disse: "Eu trabalho em um
escritório com vinte e três outras esposas. Sou a única que ainda é fiel ao seu marido. Elas acham que sou
esquisita — perguntam-me qual é o meu problema.
A autora Eva Baguedor, em Is Ayone Faithful Anymore? (Ainda Existe Alguém Fiel?) fala a respeito de
mulheres fiéis que parecem autodepreciadoras. Elas protestam, como a desculpar-se: "Eu sou do século passado,
sou quadrada, sou chata, e não há nada interessante em sê-lo."
Uma esposa confessou: "Eu estava almoçando, na semana passada, com onze mulheres. Temos estudado
francês juntas desde que os nossos filhos estão na creche. Uma delas, a provocadora do grupo, perguntou:
'Quantas de vocês têm sido fiéis durante toda a sua vida de casadas?' Somente uma de nós, à mesa, levantou a
mão. Naquela noite o meu marido me olhou pesaroso quando contei-lhe que não fora eu.
" 'Mas eu tenho sido fiel'" — assegurei-lhe.
" 'Então, por que você não levantou a mão?'"
" 'Fiquei com vergonha."7
Isso é a mesma coisa que uma pessoa ficar com vergonha de sua saúde, durante uma epidemia, ou se
desculpar por sua vitalidade e energia, por ocasião de uma convenção de paraplégicos.
Embora o sexo extraconjugal esteja sendo apresentado como mais aceitável e seja mais disponível do que
nunca, os resultados são tão positivos como a promoção? Costumávamos falar a respeito do sentimento de culpa,
da dor, do extermínio do amor-próprio e do auto-engano, em enganarmos nosso cônjuge. Será que estas
ponderações desapareceram juntamente com a lâmpada a querosene, e a vida agora pode ser uma grande orgia
sexual, sem problemas, sem remorsos, sem reverberações?
Os médicos Alexander Lowen e Robert J. Levin fazem coro com um sonoro NÃO! Devido à incomum
percepção deles, os cito livremente.
Considere, por exemplo, um marido que está tendo relações sexuais com outra mulher. A sua atitude,
compartilhada por muitas pessoas em circunstâncias semelhantes, é de que sexo e amor são duas coisas
diferentes, e que ele tem o direito de desfrutar do sexo da mesma forma como de qualquer um dos prazeres
físicos da vida. Mas que ele ama e respeita a esposa; dá valor ao seu casamento; gosta demais de seus filhos.
No modo de ver dele, a sua responsabilidade está em proteger a sua família de qualquer conhecimento de suas
infidelidades. E assim, argumenta ele, a sua esposa não perde nada. Ela pode até ganhar, porque ele volta para
ela um homem mais amoroso e relaxado. E assim, em nome do amor, ele a engana.
Há pelo menos três maneiras de a infidelidade poder ser desastrosa para o futuro de qualquer casamento.
Primeira, ela inevitavelmente causa dor ao outro cônjuge. Um casamento existe quando um homem e uma
mulher estão ligados não pela lei, mas pelo amor, e assumiram o compromisso livre de aceitar responsabilidade
um pelo outro, fortificados pelo sentimento de dedicação completa, que se estende do presente até o futuro.
Virtualmente, todos os casamentos assim começam com fé ou confiança — o que quer dizer que, quando um
homem e uma mulher confiam-se um ao outro, fazem-no crendo que nenhum deles jamais tentará ferir o outro,
que cada um deles contribuirá para a felicidade do outro e que, juntos, eles procurarão se realizar.
A primeira transgressão dessa fé, ou confiança, a infidelidade básica, precede qualquer ato de relações
extraconjugais. Acontece quando um cônjuge decide afastar-se de seu companheiro, em busca de intimidade ou
realização, e mantém esta decisão em segredo. Esta é a verdadeira traição da confiança. Um homem não pode
ou não quer falar com sua esposa a respeito de assuntos que o interessam profundamente, e então discute essas
preocupações com outra mulher, de cuja companhia gosta. Ele precisa conservar esse relacionamento em
segredo, porque a esposa ficaria ferida se ficasse sabendo da verdade, e isto, por sua vez, reforça a separação
de ambos.
E, também, o marido sexualmente infiel precisa devotar tempo e dinheiro, tanto quanto energia física e
emocional à outra mulher. Seja o que for que ele lhe der, na verdade, ele o precisa tirar de sua esposa. Isto
significa que a esposa está pagando pelos prazeres dele.
Segunda, a infidelidade mascara o verdadeiro problema. Seja até que ponto for que a infidelidade alivie
temporariamente os sintomas superficiais de descontentamento em um marido ou esposa — tais como o de se
sentirem sem atrativos ou não serem apreciados — ela encobre a verdadeira doença e permite que se agrave.
Ao invés de procurar uma confrontação honesta, com todos os seus riscos e possibilidades, ambos aceitam o ato
desonesto da infidelidade — em muitos casos, um ativamente e o outro passivamente. Angustiados pelo
pensamento de uma separação ou divórcio, eles fingem ser fiéis, enquanto buscam satisfação fora do
casamento.
Muitas vezes é o membro mais sadio e mais forte do casamento que encontra realização em outros
lugares, e então pede o divórcio. Esta situação deixa o outro cônjuge com um sentimento de desamparo e em
uma posição muito pior do que se tivesse havido uma confrontação.
Terceira, ela é destruidora do ego. O cônjuge infiel que finge que, conservando em segredo os seus
"casos", protege a esposa e salvaguarda o seu casamento, labora no mais profundo engano de todos: o engano
próprio. Visto que o uso do engano transforma a pessoa contra quem ele é usado em adversária. Uma pessoa
auto-enganada torna-se, obviamente, o seu próprio inimigo, o pior deles.
Como acontece com todas as criaturas vivas, procuramos espontaneamente o prazer, e fugimos da dor.
Dizer a verdade é uma forma de procurar o prazer da intimidade, como os que se amam bem o sabem. Pregar
uma mentira é uma tentativa de evitar castigo e dor. Por conseguinte, é natural desejar falar a verdade em
situações normais e mentir em situações de perigo.
E quando achamos que precisamos mentir a alguém que confia em nós e a quem amamos que caímos na
armadilha do que os psicólogos chamam de laço duplo. Seja o que for que fizermos, perderemos. £ isto que um
marido infiel enfrenta quando volta para casa, para uma esposa que ele ama genuinamente. Ele quer restaurar
o seu senso de proximidade com ela, mas sabe que não pode contar-lhe o que fez. E então ele mente.
Contudo, esta mentira tem um efeito de bumerangue. 2 Ao invés de aproximá-lo de sua esposa, ela o faz
sentir-se muito mais distante dela. A mentira que o poupara da ira e rejeição dela, trouxe consigo uma dor
caracteristicamente sua. Em tais situações, quanto mais forte for o desejo de uma pessoa de se aproximar de
quem ela está enganando, maior será a dor decorrente da mentira que os divide.
Contudo, a pessoa que não se importa muito com nada nem com ninguém pode, ajustando a sua idéia de
amor de forma a adequar-se às suas necessidades, dizer tanto à esposa como à amante que as ama, e crer nisso.
As mentiras são inconscientes, e, portanto, não marcadas pela dor. Este é o ato final do auto-engano. Em vez de
resolver o conflito, ele o perpetua; a pessoa que se engana vive uma mentira; está doente, e não sente a febre.8
Assim, a dor se manifesta, atingindo todas as pessoas envolvidas. Há algo de destruidor em um "caso": ele
destrói a integridade intrínseca do indivíduo, o amor-próprio do cônjuge e a possibilidade de intimidade, e
repercute através das gerações futuras, afetando os nossos filhos e os deles. Os melões roubados e comidos em
segredo, na verdade, são venenosos.
A lei da colheita permanece inexorável. Os homens se arrebentam contra ela, porém ela nunca se desfaz.
"Não vos iludais; de Deus não se zomba. O que o homem semear, isso colherá: quem semear na sua carne, da
carne colherá corrupção; quem semear no espírito, do espírito colherá a vida eterna."9
Os doutores Lowen e Levin concluem:
O alvo final está além de falar a verdade para si mesmo. Consiste em ser fiel a si mesmo. A pessoa que é
fiel a si mesma não pode viver feliz, a não ser que os cordões gêmeos de sexo e amor sejam trançados em sua
vida. Pelo fato de ser uma pessoa indivisa, ela procura ser fiel à mulher que ama. A sua fidelidade é filha do
amor, e não do medo; é motivada por escolha, e não pelo acaso; provém do desejo satisfeito, e não de
sentimentos extintos.
CAPITULO 2
Romance na Cumeeira
Nenhum bom crente, ou boa crente, se levanta de manhã cedo, olha pela janela, e diz: "Puxa, que dia
bonito! Acho que vou sair por aí e cometer adultério. " Não obstante, há muitos que o fazem.
Florence Littauer
ELA era uma mulher extremamente bela, de dezenove anos, casada havia quatro anos, sem filhos. Agora,
havia alguns meses, o seu marido, de meia-idade, estava fora da cidade, a serviço militar. Uma noite de
primavera, já bem tarde, ela estava se preparando para dormir. Despiu-se para o banho. O seu cabelo longo,
lustroso, negro, caiu suavemente ao redor de sua face e de seu corpo — um quadro de beleza caracteristicamente
feminina. A lua brilhou sobre ela, iluminando as suas formas esculturais. Ela terminou o seu ritual vespertino
particular da higiene pessoal.
Roberta Kells Dorr descreve, em cores vivas, esta cena em sua novela David and Bathseba:
Bate-Seba tirou a roupa e entrou na bacia de alabastro que a sua serva Sara havia enchido com água
morna. Ela permaneceu nua na bacia, enquanto a sua serva enchia uma cuia de água e a derramava sobre ela.
Bate-Seba levantou-se sem embaraço, embora não tivesse nada para cobrir a sua nudez. Sem que ela o
soubesse, os olhos de um homem a estavam observando e... normalmente ele teria olhado para outro lado, mas
foi tudo tão inesperado e era tão lindo, que ele continuou a olhar. Em crescente admiração, ele absorveu-se na
beleza dela, vista apenas parcialmente através das folhas secas de palmeira. O cabelo dela caía em cachos
úmidos sobre os seus seios redondos, e a sua cintura minúscula acentuava a agradável curva de seus quadris.
Enquanto ele olhava, ela saiu da bacia, e, com brusco movimento da cabeça, jogou os cabelos para trás,
tornando visível a curva de suas costas. Ele reconheceu que nunca tinha visto algo tão belo ou tão gracioso em
sua vida.'
Uma batida suave na sua porta mudou totalmente os seus planos para o resto daquela noite e o resto de sua
vida.
2 NOTA DO TRADUTOR: Bumerangue é uma arma usada pelos aborígenes neozelandeses, em forma de L, que, quando atirada, volta à mão do atirador.
"Efeito de bumerangue" é o que atinge o autor do processo.
Um "caso" extraconjugal. Como ele começa; o que faz com que ele continue; quais são as suas
características; e quem são, ao mesmo tempo, os seus perpetradores e as suas vítimas?
A Bíblia nunca encobre ou omite as falhas humanas. Deus não escreve biografias humanas como um pai
"coruja". As falhas e loucuras dos líderes que ele escolheu são identificadas tão claramente quanto os seus
sucessos. Ele não encobre os defeitos deles. As histórias desses líderes mostram que as tentações hodiernas são
tão antigas quanto o homem e que o fracasso faz parte de cada um de nós. Mas, indubitavelmente, cada caso de
infidelidade conjugal é diferente em muitos detalhes: o contexto geográfico, social e familiar — a idade, as
atitudes e os antecedentes das pessoas envolvidas. Mas os elementos básicos são os mesmos, especialmente entre
crentes professos. E o caso de Davi e Bate-Seba é tão moderno quanto uma novela de TV.
AS CIRCUNSTÂNCIAS
Aquele dia de primavera era comum em todos os sentidos. Não há nada no registro bíblico que indique
que havia algo de inusitado nas atividades ou na atmosfera daquele dia. Os mercadores apregoavam as suas
mercadorias, como haviam feito havia séculos; as crianças brincavam nas ruelas da velha cidade, e as sinagogas
ressoavam com as orações do povo, repetidas sem parar. Israel acabara de atravessar uma série de batalhas
contra os sírios, e estava gozando os frutos de suas vitórias. Reinavam paz e prosperidade. Davi, procurando
alargar os limites de seu reino, havia enviado os seus exércitos para enfrentar e destruir os amonitas. Quanto ao
mais, tudo corria como de costume. Qualquer coisa que pudesse fazer com que aquela velha cidade vibrasse e
que as suas tradições seculares prosperassem não estava sendo perturbada.
Ninguém suspeitava de algo desastroso naquele dia comum, e muito menos Davi e Bate-Seba. Nada
indicava a terrível cadeia de eventos desencadeada naquele dia: adultério, gravidez, engano, homicídio, tragédia
familiar e juízo divino. Tudo isso num dia como outro qualquer.
"Eu nunca pensei que isto poderia acontecer-nos", soluçou uma esposa de pastor, em meu escritório. "As
coisas pareciam estar correndo tão bem, tudo era normal, não havia sinais de perigo — naquela época a nossa
igreja estava crescendo — e foi tão inesperado, tão chocante. O meu marido requereu divórcio, abandonou o
pastorado e juntou-se a essa mulher leviana que já se divorciara três vezes."
"Tudo bem", "normal", "nenhum sinal", "igreja crescendo", "inesperado". Estas não são palavras de
surpresa. Tudo parece bem. Não há razões para se suspeitar de uma tragédia. O trabalho está indo bem. Deus
parece estar operando. A família está em paz. E então, sem nenhum sinal de advertência... a bomba!
José, com cerca de vinte anos de idade, tinha grande responsabilidade na casa de Potifar. Ele gerenciava
todos os assuntos domésticos de seu patrão e todos os seus negócios. Tudo estava correndo normalmente: as
plantações produzindo, os rebanhos se multiplicando. Aquele simpático jovem administrava tudo sem percalços.
Deus o fazia prosperar.
E então, um dia — em nada especial — enquanto ele estava "cuidando de seu trabalho", uma mulher
começou a olhá-lo de maneira significativa, sugerindo sedutoramente: "José, venha dormir comigo!"
Ao se levantar naquela manhã, José nunca sonharia que naquele dia — outro dia normal de trabalho — ele
receberia um convite apaixonado para um "caso", sofreria chantagem e seria levado para a prisão.
Eu também não tinha suspeitas. Eu acabara de chegar a uma cidade de Michigan, para começar uma série
de reuniões na igreja, naquele domingo. Era uma comunidade pequena, insípida, um povo comum, sem
sofisticação. Naquela noite de sábado, na recepção de apresentação, uma senhora da igreja sentou-se ao meu
lado. Ela estava longe de ser cativante ou bonita. Uma simples Maria: não tinha personalidade cintilante, era um
pouco gorda, um tipo de dona-de-casa comum.
Durante um momento trocamos cumprimentos. Em seguida, de maneira trivial, ela me estendeu um
pedaço de papel com o seu endereço e número de telefone.
"Pensei que você poderá sentir-se solitário, enquanto estiver aqui. Se quiser passar por lá uma destas
tardes, telefone-me. O meu marido estará ausente a semana inteira, trabalhando em Detroit. O último orador que
tivemos aqui na igreja visitou-me várias vezes; acho que você vai gostar de ir também." Nada sutil ou
expressivo, astuto ou pudico, mas casual como oferecer-se um copo de água, e aparentemente, sem maiores
conseqüências.
Os "casos" não começam com o piscar de luzes vermelhas de advertência. O dia não começa com nuvens
negras e agourentas, avisos de furacão, uma intranqüilidade interior ou uma voz do céu que diz: "Reforce as suas
defesas; a tentação está se aproximando." O furacão que destruiu o prédio em que estava o meu escritório, há
vários anos atrás, apresentou-se inesperadamente, em um belo dia de primavera, veio rugindo como um avião a
jato, e deixou tudo torcido, quebrado e em frangalhos. E a primavera continuou. Assim também vem a tentação.
Quando? Em um dia como os outros.
OS CARACTERES
Creio que aquele "caso" aconteceu quase como uma surpresa, tanto para Davi como para Bate-Seba.
Nenhum dos dois planejara aquilo uma hora antes de acontecer. Não foi o resultado de um namoro ou de uma
cumplicidade voluptuosa. Davi era um homem segundo o coração de Deus, e Bate-Seba, uma esposa fiel ao seu
marido, corajoso e patriota. Davi estava vindo de um período de prosperidade e fama. Em numerosas batalhas
ele fora vitorioso; ele havia destruído oitenta e sete mil inimigos e capturado vinte e dois mil. E todas essas
vitórias eram confirmação da presença de Deus com ele e da promessa de Deus de lhe dar uma dinastia perene.
"E o Senhor ia concedendo vitórias a Davi por onde quer que ele passasse."2
Haviam acabado de ser pronunciadas as promessas de Deus: "Eu escolhi você... tenho estado com você...
Você será contado entre os homens mais famosos do mundo! ... A família de Davi governará o meu povo para
sempre." E Davi respondera com esfuziantes agradecimentos: "Õ Senhor Deus! por que derramou suas bênçãos
justamente sobre este teu servo de família tão insignificante?... Essa bondade está longe da compreensão
humana!... Toda a honra seja dada ao Senhor... Pois o Senhor é Deus, e verdadeiras são suas palavras."3
Pouco antes ele saíra de sua rotina, para cumprir os seus votos a Jônatas, e havia restaurado, aos herdeiros
dele, toda a terra anteriormente de propriedade de Saul. O filho aleijado de Jônatas fora convidado a morar no
palácio, como membro da própria família de Davi. Sem nenhum acanhamento, Davi dançara diante da Arca do
Senhor, à vista de toda a cidade, celebrando louvores a Deus. "Não me importa que aos seus olhos eu não seja
bem-visto: continuarei dançando, em louvor ao Senhor", disse ele.4 "Davi foi um rei justo e estimado por todo o
povo de Israel."5 Portanto, aqui está Davi, um homem de grande coragem, generosidade e bondade, justo e reto
em seus atos, dedicado a Deus e cheio de louvor e ação de graças. Dificilmente poderia ser considerado
candidato a um desastre pessoal.
INOCENTE
Segundo todas as aparências, tanto Davi como Bate-Seba estavam inocentes. Nenhum dos dois se
envolveu em qualquer atividade que pudesse ser interpretada como encorajadora de infidelidade ou transigência
para com o pecado. Bate-Seba ocupou-se com a inocente tarefa de tomar um banho vespertino. Nada há de
sensual nisso. Ela não estava expondo os seus encantos femininos com o intuito de seduzir. Não era uma
prostituta barata nem uma sedutora cortesã; e também não era uma sereia ardente e ardilosa. Simplesmente uma
esposa fiel preparando-se para uma noite de sono.
E Davi? Provavelmente com trinta e nove anos de idade, ele não era um homem sexualmente frustrado,
um macho inquieto, a espreitar nas sombras da noite. E também ele não era um homem sexualmente faminto,
rondando como um animal no cio. Nessa época, ele tinha já mais de sete esposas e várias concubinas à sua
disposição. Ele já gerara dezessete filhos. Assim sendo, dificilmente se poderia dizer que estava procurando uma
nova conquista sexual para evidenciar a sua virilidade. Ele experimentara o que qualquer um pode experimentar
de vez em quando: uma noite insone. Eu tenho tido muitas. Você também. Uma noite em que os pensamentos
parecem correr e pular como cabritos selvagens, recusando-se a se acalmarem. Talvez ele estivesse pensando em
suas tropas que estavam sitiando a cidade de Rabá. Ou em algum outro problema de Estado.
Mas ainda não era tarde quando Davi levantou-se da cama e foi dar uma volta no terraço do palácio —
para analisar o seu problema, para resolver a sua luta contra a insônia. Desinteressadamente, ele olhou em várias
direções, notando que a cidade estava dormindo melhor do que ele. Ali perto, os seus olhos foram atraídos por
uma pequena luz, que se filtrava através de postigos parcialmente fechados. Ele olhou rapidamente uma vez,
duas — depois os seus olhos se fixaram ali. Uma bela jovem estava tomando o seu banho vespertino. Até esse
ponto, tudo era inocente e ninguém deve ser culpado.
CONQUISTA
As circunstâncias não fazem um homem: elas o revelam. Ã semelhança dos saquinhos de chá, a nossa
verdadeira força se manifesta quando somos imersos em água quente. Não há nada de errado em acontecer de se
ver uma bela mulher tomando banho. Nada de errado em se reconhecer a sua atração física e encanto dados por
Deus. Nada de errado com um rápido e involuntário pulsar do coração, uma onda de sangue viril, uma
exclamação silenciosa:
"Puxa!" Mas agora começa a luta, a luta com as suas fantasias, a sua carne, a sua fé e o seu futuro.
Davi conhecia bem a lei de Deus e a sua proibição do adultério. Ele sabia que, de acordo com a lei, uma
mulher que fosse comprovadamente adúltera podia ser apedrejada. Na mocidade, ele decorara: "Não cobiçarás a
mulher de teu próximo." E, sem dúvida, esta não era a primeira tentação desse tipo que ele sentia. Como jovem
forte, sadio, no palácio do rei, admirado pelas; moças do reino, ele tivera o seu quinhão de seduções e
oportunidades. Mas isso era diferente — ou não? Os seus pensamentos corriam de forma selvagem, desenfreada.
"Mais bonita do que qualquer de minhas esposas. Tão jovem, fremente, convidativa; ela me excita. Tenho
sofrido muita pressão; mereço um pouco de relaxamento. Tenho guardado a lei de Deus por muito tempo; uma
pequena infração não é nada sério demais. De fato, pode ser que Deus me fez andar aqui fora esta noite para que
pudéssemos estar juntos. Talvez este seja o objetivo de uma noite insone, e só uma vez... um ato... não um 'caso'
prolongado. A coisa não precisa passar desta noite. E ninguém ficará sabendo; eu tomarei providências neste
sentido." E pergunta ao seu servo: "Quem é aquela moça? A casa é de quem? Preciso saber."
Nenhuma hesitação, nenhuma espera, consideração, medição de conseqüências, desistência. Ele não
conseguia ver além daquele momento; fora cegado pela paixão. Um fusível começava a despedir fagulhas. Ele já
podia vê-la em seus braços.
"Ela é Bate-Seba, a esposa de Urias" — informa o servo.
Davi murmura: "E Urias está ausente, na guerra. Tudo se encaixa tão bem. Urias é um grande soldado,
mas provavelmente não é muito bom marido ou amante — tão mais velho do que ela — e ficará ausente por
muito tempo. Esta jovem precisa de um pouco de conforto, em sua solidão. Esta é uma forma em que a posso
ajudar. Ninguém ficará ferido. Eu não tenciono nada de errado com isto. Não é concupiscência — que já senti
muitas vezes. É amor. Não é a mesma coisa que achar uma prostituta na rua. Deus sabe." E ordena ao servo:
"Traze-a para mim."
Evidentemente, Davi não pensou muito. O que ele vira incendiou a sua imaginação, e, em menos tempo
do que leva para contar o que aconteceu, ele estava alimentando uma fantasia, que se tornou uma obsessão. Ele
fora arrastado pelos seus próprios desejos; aqueles desejos conceberam, e ele estava prenhe de pecado antes de
Bate-Seba chegar ao aposento real e ficar grávida.5 A tentação apela para o desejo, o desejo cria a fantasia, a
fantasia incendeia os sentimentos, e os sentimentos clamam por ação.
O OCULTAMENTO
Durante vários dias — provavelmente semanas — as coisas continuaram como antes. Muitas vezes Davi
relembrou aquela noite memorável, embora ele e Bate-Seba tivessem jurado guardar segredo e não tivessem
planejado nenhum outro encontro. Era uma recordação particular deles, trancada só em dois corações. Dentro de
um mês ou dois os sinais: a ausência de um período menstrual, tontura matinal, náuseas... e o segredo foi
exposto. "Estou grávida".
Desde a época e o exemplo de Adão, o homem, instintivamente, procura encobrir os seus rastros, "porque
os seus atos são maus".7 Watergate não foi nada de novo. O que se pretendia fosse um prazer clandestino e
passageiro — um ato — agora requer a minuciosa estratégia do engano — uma atitude. O fato de ter vivido uma
mentira uma noite, se não for confessado completamente, requer muitas mentiras para encobri-lo.
E a pessoa que tem reputação de integridade agora recorre a todo tipo de engano concebível para salvar a
sua pele. Viver uma mentira torna fácil o desencadeamento de outras mentiras; de fato, elas se tornam
necessárias. "Este é o primeiro segredo que escondi de minha esposa em dezoito anos", confessou um esposo
infiel. "Eu me sinto um miserável, tendo que inventar tantas mentiras, visto que nunca fiz isso antes." A
estratégia é sempre a mesma. As táticas, imemoráveis: proteja-se, culpe os outros, elimine as evidências. Através
dos séculos, o homem ainda não inventou maneiras novas de se esconder.
E também o crente bem doutrinado que prefere ocultar em vez de confessar conta as mesmas histórias
enganosas, tanto quanto o galanteador que nunca ouviu falar da graça de Deus. Um Davi — homem segundo o
coração de Deus — torna-se ardiloso, traiçoeiro, implacável e sem consciência.
Em um golpe de mestre, de desígnio maligno, Davi passou rapidamente e decisivamente a fazer as três
coisas ao mesmo tempo: Tragam Urias da guerra, façam-no dormir com Bate-Seba uma noite ou duas e
mandem-no de volta à batalha. Urias gostaria muito desse descanso; ele e todo mundo creria que o bebê era dele
e Davi estaria completamente livre do alçapão, livre do escarmento, da culpa e da responsabilidade. Um plano
engenhoso! A verdade seria sepultada na ignorância de Urias. E teria funcionado sem empecilhos, se Urias e
Deus tivessem cooperado. Davi não contou com a integridade de seu soldado nem com a discordância de Deus.
Urias chegou ao palácio por ordem do rei, fez um relatório da batalha e recebeu ordens de ir para casa e
descansar aquela noite. Presentes de comida e vinho foram mandados adiante dele, para indicar que Davi se
alegrava com ele e para preparar o palco para uma noite agradável. Mas aquele homem era um soldado na plena
acepção da palavra, e, embora possivelmente não sentisse nenhum motivo oculto da parte de Davi, não se podia
permitir descansar e desfrutar de sua esposa enquanto os seus colegas oficiais estavam aquartelados no campo,
em uma zona de batalha. Ele dormiu na casa da guarda do palácio.
Com decisão e ira crescentes, Davi o enviou ao segundo estágio. "Se eu o embriagar, poderemos fazer
com que ele entre em sua casa, e então ele desejará Bate-Seba. Mesmo que ele não durma com ela, estará bêbado
demais para lembrar-se do que aconteceu, e assim tudo estará bem. Mas Urias, embora inteiramente bêbado,
dormiu outra noite com os guardas.
Toda a consideração por esse soldado leal estava se transformando em medo e ressentimento. "Então ele
precisa ser tirado da cena. Se isto significa que eu estou me voltando contra os que me amam e me servem, que
se saiba que os meus amigos podem ser sacrificados. É assim que as coisas são, às vezes. Eu sacrificarei
qualquer pessoa — qualquer relacionamento — para me proteger e manter a verdade amordaçada.
"Ponde Urias na frente onde for mais renhida a peleja, e retirai-vos dele, para que seja ferido e morra." 8
Ele enterrou o seu pecado no túmulo de Urias. Um "caso" extraconjugal que tem continuidade sempre necessita
de sacrifício. O sacrifício egoístico do amor, da lealdade, dos relacionamentos, do respeito, da integridade, da
consciência — e da comunhão com Deus. "Mas isto que Davi fez desagradou ao Senhor."9
A noite de prazer que Davi gozara tornou-se um pesadelo de dor. O seu filho morreu. A sua bela filha,
Tamar, foi violentada pelo seu meio-irmão Amnom. Amnom foi morto pelo seu irmão mais velho, Absalão.
Absalão foi separado de Davi durante três anos, e voltou para formar uma conspiração contra o pai. Quando
finalmente Absalão foi morto, em uma emboscada, Davi rompeu em pranto e soluçou: "Meu filho Absalão, meu
filho, meu filho Absalão."10
O que modifica um homem de Deus, de forma que ele se torne velhaco, sinistro, destruidor de tudo o que
ele e as outras pessoas prezam? O que transforma o terno e sensível amor de um homem a Deus em uma
determinação dura, implacável, de agir à sua própria maneira? As lições da experiência de Davi são óbvias, e se
aplicam a todos nós. Sublinhe-as em sua mente e em seu coração.
1. Ninguém, embora escolhido, abençoado e usado por Deus, está imune a um "caso" extraconjugal.
2. Qualquer pessoa, a despeito de quantas vitórias tenha tido, pode cair desastrosamente.
3. O ato de infidelidade é o resultado de desejos, pensamentos e fantasias descontrolados.
4. O seu corpo é seu servo; se não o for, torna-se seu senhor.
5. O crente que cair vai desculpar-se, racionalizar e encobri-lo, quanto qualquer outra pessoa.
6. O pecado pode ser agradável, mas nunca ser oculto de maneira eficaz.
7. Uma noite de paixão pode desencadear anos de dor para a família.
8. O fracasso não é nem fatal nem final.
Todas estas lições serão abordadas nos próximos capítulos.
CAPITULO 3
IMATURIDADE EMOCIONAL
A adolescência é geralmente temida pelos pais, da mesma forma como teme as doenças da infância;
esperam que os seus filhos não sejam adolescentes difíceis e que não haja traumas permanentes.
Muita vezes ela é um período traumático, acarretando a mudança de relacionamentos, agonizante pressão
dos colegas e interrogações a respeito da identidade e do futuro do adolescente. Esse período não deve ser
permanente, mas geralmente é uma ponte da dependência da infância para a interdependência do adulto. Esses
anos de transição muitas vezes são marcados por imaturidade, rebeldia, volubilidade, dúvidas quanto a si mesmo
e experimentação. Infelizmente, algumas pessoas que já têm quarenta ou cinqüenta anos de idade ainda são
adolescentes quanto ao seu comportamento. Em vez de o casamento ser a nossa última chance de crescermos, de
acordo com Joseph Barth, ele torna-se um refletor de nossas imaturidades perpétuas.
Consideremos o meu amigo Joe. Casado há três anos — dois filhos. Durante os anos em que estava
namorando, ele gostava de pensar acerca de si mesmo como um presente de Deus para as garotas, e mudava de
uma namorada para outra. Másculo e simpático, ele tinha um sorriso matreiro e maneiras confiantes que faziam
dele um encanto. Forçado a casar-se devido à inesperada gravidez da sua namorada, ele queria ser fiel, mas ainda
tinha olhos irrequietos. De acordo com ele, sua esposa era tudo o que uma esposa pode ser: vivaz, sexualmente
estimulante, altruísta, e, como ele, crente. Mas, em sua mente, ele era ainda o adolescente sem peias, namorador.
"Na verdade, eu não sou homem de uma só mulher", jactou-se ele, com um piscar de olhos.
à época em que ele e a esposa vieram a mim, ele estava tendo almoços de negócios em pontos de
encontro, tomando lanches em casas de má fama e visitando uma garota periodicamente. Ele estava vacilando
entre o desejo de manter um casamento bem estabelecido e os seus apetites de adolescente flutuantes.
Dúvidas quanto a si mesmo podem armar o palco para a infidelidade conjugal. Lembro-me bem de Jorge.
Ele veio de uma família de grandes realizadores: o seu pai estava no topo da pirâmide gerencial, e sua mãe era
calorosa, extrovertida, tendo muitos amigos. Os seus irmãos e irmãs eram agressivos, confiantes, e todos ativos
na igreja. Quando menino, ele lutara com grandes expectativas e comparações, especialmente com os seus
irmãos, e sentia, secretamente, que não era tão bem dotado quanto eles e por isso não era provável que tivesse
sucesso. Tinha pouca estima por si mesmo. Casou-se com Ana, tipo dominador, e eles se estabeleceram, para
formar uma família.
Embora ele tivesse tudo o que acompanha o sucesso — bom emprego, oportunidades ímpares, casa boa —
o seu conflito íntimo continuou. "Todo mundo espera mais de mim; eles não me aceitam como realmente sou.
Até no quarto de dormir, minha esposa reage, mas relutantemente, como a dizer: 'Ande depressa e acabe logo
com isso'. Realmente não sou o homem que devia ser."
Ele sentia-se castrado. Sonhava com uma relação em que não tivesse essa luta interior — esse fracasso
constante — embora o adultério fosse totalmente contrário a tudo o que cria e que lhe fora ensinado. Como a
maioria dos homens, ele não estava procurando sexo, mas alguém que fosse um arrimo sobre o seu amor próprio,
tão vacilante.
A garota com quem se encontrou no supermercado era qualquer coisa, menos o tipo que ele teria
considerado para ser sua esposa. Divorciada duas vezes, pobre, desleixada — uma vagabunda, mas uma campeã
em saber como edificar o ego de um homem. Em sua primeira visita à casa dela, ele sentiu repulsa. Era o oposto
de tudo que ele conhecia: tinha apenas poucos móveis, uma cama velha, umas duas cadeiras de dobrar, uma
mesa e um pequeno tapete desfiado. Mas era um escape para tudo o que pesava sobre ele.
Depois da primeira vez que mantiveram relações sexuais, ele pensou: "Ela gosta de mim pelo que sou, e
não pela pessoa que procurasse fazer de mim. Sou aceito. Ela gosta de mim. Eu a excito." Ele estava fisgado.
Como alguém que encostara em um fio de alta tensão, não podia largá-la. Mais tarde, ele disse: "Eu nunca me
senti tão homem como quando estava com ela."
Abigail van Buren, colunista de imprensa americana, que escreve a famosíssima coluna "Dear Abby", diz:
"Um homem escolhe uma vagabunda, porque quer uma companhia feminina que não seja melhor do que ele. Na
companhia dela, ele não se sente inferior. Ele a recompensa, tratando-a como a uma dama. Ele trata a esposa
(que é uma dama) como uma vagabunda, porque acha que, degradando-a, a rebaixará até o nível dele. Isto fá-lo
sentir-se culpado. Assim, a fim de 'empatar' com a esposa, pelo fato de fazer com que ele se sinta culpado, ele
continua punindo-a.''
Indulgência por parte dos pais pode preparar um filho para uma imaturidade perpétua e para a
infidelidade conjugal. Pais permissivos, temerosos de contrariar os desejos de seus filhos, dão-lhes tudo o que
eles pedem. Nunca lhes é negado nada. Eles são mimados, tratados como bebês e nunca lhes é ensinada a
necessidade ou o valor da disciplina. O adolescente que tem tudo, cujos menores desejos sempre foram
atendidos, não se tornará um cônjuge forte e altruísta. A pessoa que cresce sem ouvir e respeitar a palavra NÃO
jamais a considerará uma resposta hábil, quando estiver sendo tentada a satisfazer os seus desejos e caprichos.
Steve, provavelmente, nunca entendera que isto fazia parte de seu problema. Ele viera de um sólido lar
cristão, em que a Bíblia era honrada, lida e seguida. O fato de ir à igreja, a reuniões especiais, a acampamentos
bíblicos e a um colégio evangélico, tudo isto era considerado como lugar-comum e era característico de sua
família. Os interesses comerciais da família floresciam, bem como o seu padrão de vida. Em todos os aspectos,
eles eram uma família cristã exemplar, de sucesso. Mas havia um defeito fatal.
Fosse o que fosse que os filhos quisessem, conseguiam obter. Brinquedos ou roupas, patins, barcos,
carros, casas, viagens — não fazia diferença: bastava apenas mencionar. Claro que os pais não tencionavam
fazer-lhes mal. "Deus nos tem abençoado; vamos aproveitar", esta era a atitude deles. Sacrifício, abnegação
(negação dos próprios desejos), disciplina, eram termos bíblicos familiares, mas estranhos ao seu vocabulário e
estilo de vida. Quando Steve se casou, tudo foi amor e luxo. Muitos anos mais tarde, com problemas, quando o
seu casamento apresentou uma fratura, ele fez a única coisa que sabia fazer: comprou mais coisas para a esposa.
Maiores e melhores. Gastou dinheiro como se não houvesse o dia de amanhã. Mas a fenda se alargou. O que ela
queria era compreensão, companheirismo, uma solução. Nessa época, uma mulher jovem, na igreja, sentiu a
frustração dele, o seu desencoraja-mento, e ofereceu-lhe um sorriso amistoso, uma mão calorosa, e, finalmente,
um corpo ardoroso. "Casos" eram acontecimento familiar para ela, e ele estava em sua lista.
O "caso" deles o mergulhou em um profundo sentimento de culpa, e ele começou a lutar entre as opções
de negar os seus próprios desejos e de entregar-se a eles. Não obstante, muitas vezes ele ficava estranhamente
contente consigo mesmo por ceder. A sua familiaridade com a Bíblia só fazia crescer o seu sentimento de culpa.
Quando o fiz lembrar-se de que a vontade de Deus proibia aquilo — "Não adulterarás... Não cobiçarás a mulher
do teu próximo... se a tua mão te escandalizar, corta-a" — ele não conseguia entender. A essência de sua reação
foi: "Como é que o senhor ou qualquer outra pessoa pode dizer-me 'não'? Eu consigo o que desejo, sempre o
consegui e sempre o conseguirei. Quero esta mulher, não importam as conseqüências. Não me venha dizer que
significará o rompimento com minha família, a destruição do casamento dela e prejuízos no testemunho da
igreja. Quero este meu relacionamento." Menino mimado! Os seus pais, perplexos, nunca perceberam como eles
haviam contribuído, anos atrás, para este fracasso e para esse drama familiar que estavam vivendo.
O orgulho também prepara um homem para a queda. Como diz Salomão, em Provérbios: "Quando o
homem se orgulha de si mesmo, acaba sendo envergonhado, mas quando ele se humilha, acaba se tornando
sábio."2 Uma pessoa emocionalmente madura tem um senso realista de suas próprias fraquezas humanas e da
necessidade de dependência de Deus e de outras pessoas. Ela não exibe a sua força nem flexiona os seus
músculos diante de Deus e dos outros.
Um conhecido evangelista tornou-se possuído pelo orgulho. O seu trabalho estava prosperando, os seus
programas de rádio e TV estavam florescendo, crescia o número de convites para falar. Ele começou a manipular
pessoas para satisfazer os seus objetivos egoísticos. Quando se tornou mais ousado, começou a viajar a sós com
sua secretária. Ao um homem de Deus o interrogar a respeito daquilo, ele se jactou: "Eu conseguirei resolver
isto. Não se preocupe comigo. E mesmo que eu decida me divorciar e casar com essa moça, que é que tem? O
povo se esquecerá de tudo em poucos meses. Isso não afetará o meu ministério." É claro que ele caiu — caiu
como um passarinho acertado por um tiro, e o seu casamento e o seu ministério caíram com ele.
Outro jovem pensava que a sua capacidade de decorar versículos da Bíblia o tornaria seguro. Ele era capaz
de citar mais de dois mil versículos, mas continuava a fazer visitas clandestinas a certa mulher, quando o marido
dela estava fora de casa. "Eu não devia fazer isto, mas acho que sou muito homem." O orgulho o cegou. O
conhecimento, por si só, exalta o ego. Da mesma forma, ele poderia ter decorado o dicionário. A Palavra,
absorvida mentalmente, não fora misturada com fé — a fé que age. Ele foi como um boi para o matadouro, como
uma mariposa para a chama.
Orgulho em um campo de realizações pode preparar-nos para cair em outro, "...e o orgulho vem antes da
queda (a queda de Satanás é um exemplo)."3 Um autor evangélico de grande sucesso, nos Estados Unidos, com a
cabeça pesada do vinho dos elogios e da prosperidade, envolve-se ousadamente em uma relação adúltera. As
duas áreas estão relacionadas. A queda acontece não na área de seu sucesso; ele ainda está escrevendo. Mas o seu
orgulho a respeito do sucesso de seus livros levou-o ao colapso moral.
"Eu era o pastor de maior êxito na cidade. A nossa igreja crescera, ganhando centenas de membros em
poucos meses" — disse-me um jovem pastor durante uma convenção de verão. "Eu era o assunto das conversas
da comunidade — reconhecido, louvado, admirado. Na história dessa igreja, ninguém havia obtido tal sucesso.
Todos, por assim dizer, comiam em minha mão. E então, por alguma razão absurda, me envolvi com uma jovem,
e requeri divórcio. Na verdade, o nosso casamento estava indo muito bem, e eu não tinha nada de que me
queixar, mas não consegui abrir a mão dessa jovem."
"Você acha que o fato de você ter resvalado para este 'caso' está, de alguma forma, relacionado com o seu
sucesso na igreja?" — perguntei.
"Oh, claro que sim!" — concordou ele. "O meu egoísmo me arruinou. Eu achava que não havia
possibilidade de eu errar. Comecei a crer no que os outros falavam de mim, elogiando-me. À medida que a igreja
continuou a crescer, fiquei imbuído de orgulho, e isso juntou a ladeira moral em que escorreguei. Vitória e
derrota ao mesmo tempo. E, sem dúvida, o meu relacionamento com essa jovem apenas alimentou o meu GO
ainda mais. Minha esposa não quis me conceder o divórcio, e assim eu estava amarrado."
Cada pessoa determina a extensão de sua própria imaturidade emocional. Os "casos" não se originam de
maus casamentos: são desenvolvidos por pessoas imaturas. Um clássico parágrafo a respeito de maturidade é
Filipenses 3:10-14:
Presentemente anseio conhecer Cristo Jesus e o poder manifestado pela sua ressurreição, e ainda por
participar dos seus sofrimentos, até mesmo morrer como ele morreu, de modo a poder talvez como ele obter a
ressurreição dos mortos.
Entretanto, irmãos meus, não me considero dos que já a alcançaram "espiritualmente", nem me julgo ter
atingido a perfeição. Mas continuo lutando mais firmemente por aquilo para que Cristo me atraiu.
Meus irmãos, não creio tê-lo atingido ainda; mas fico-me nisto: deixo atrás o passado, e com as mãos
estendidas para qualquer coisa que se me depare à frente, dirijo-me para o alvo: o galardão honroso de ser
chamado por Deus em Cristo.
Desta passagem aprendo que a maturidade tem cinco elementos:
Confiança completa, irrevogável, em Cristo somente.
Reconhecimento de minhas imperfeições humanas.
Dedicação a aprendizado e crescimento vitalícios.
Conservação de meu futuro diante de mim, esquecendo o passado.
Previsão, busca, persistência para com tudo de bom que Deus quer para mim.
Todos estes elementos também se aplicam ao casamento.
NECESSIDADES INSATISFEITAS
"Meu parceiro não entende nem satisfaz as minhas necessidades." Todo marido, toda mulher, sentiu isto
em alguma ocasião, embora possa ser que nunca o tivesse expressado audivelmente. Quando as necessidades não
são satisfeitas, está aberta a porta para a infidelidade — outra pessoa que satisfaça essas necessidades. O Dr.
James Dobson, conhecido conselheiro familiar, o expressa sucintamente:
Surgem grandes necessidades. Quanto maiores as necessidades de prazer, romance, sexo e satisfação do
ego, maiores as necessidades do casamento e mais alto clamam essas vozes. Uma necessidade cresce, e não está
sendo suprida. E geralmente a pessoa clama para os que estão ao seu redor: "Satisfaçam as minhas
necessidades. Ouçam-me. Amem-me. Entendam-me. Cuidem de mim." E esse clamor não é ouvido, entendido ou
respondido. Estamos em casa, estamos vivendo juntos, mas não estamos suprindo as necessidades um do outro.
E as necessidades se agravam; e, quando se tornam prementes, então as vozes que chamam as pessoas para a
infidelidade tornam-se mais audíveis.5
O casamento é um relacionamento que satisfaz as necessidades. Assim foi durante o namoro e continua até
o último dia em que um casal está junto. Ninguém é tão altruísta ou pouco egocêntrico que se case pelo puro
desejo de satisfazer as necessidades de outrem, sem pedir nada para si. E o fato de querer que as nossas
necessidades sejam supridas não é egoístico nem pecaminoso. Tem sido dito que o amor é a avaliação exata e o
suprimento das necessidades do outro.
Adão e Eva, embora perfeitos e inocentes, tinham várias espécies de necessidades. Deus os criou dessa
maneira. Eles tinham necessidades sociais, emocionais, físicas, psíquicas e espirituais — e isto antes de eles
terem caído em pecado. De fato, a sua queda foi uma tentativa de satisfazer essas necessidades de maneira e em
época contrárias ao plano do Criador.
Deus colocou o homem, com suas necessidades, em uma posição em que elas pudessem ser supridas.
1. Ele foi colocado em um belo jardim, e lhe foi dito que o cultivasse, guardasse e comesse dele. As suas
necessidades de beleza, trabalho e alimentação podiam ser satisfeitas pelo ambiente em que vivia.
2. Ele não foi deixado sozinho. Foi-lhe dada outra pessoa, e foi-lhes dito que compartilhassem, se unissem
e procriassem. As suas necessidades de companhia, intimidade, continuidade e família foram supridas por outra
pessoa.
3. Foi-lhe dada comunhão com Deus. As suas necessidades de realização pessoal, propósito e vida eterna
foram satisfeitas somente por Deus.
Só certas necessidades podem ser satisfeitas, no casamento, por outra pessoa. Nem todas. Mas a essência
da promessa do casamento é: "Eu satisfarei essas necessidades." Os votos pronunciados na cerimônia de
casamento dizem:
"Ter-te e conservar-te" — dedicação
"Na alegria e na tristeza" — propriedade
"Na riqueza ou na pobreza" — lealdade
"Na doença ou na saúde" — sustento
"Para amar-te e querer-te" — fidelidade
"Até que a morte nos separe" — companheirismo
São exigências nada fáceis. Não é de se admirar que todos falhemos, por vezes. Não estou sugerindo que
diluamos os votos, mas que entendamos como eles são traduzidos e aplicados às necessidades diárias de nosso
cônjuge.
As necessidades de duas pessoas raramente se encaixam perfeitamente, mas quando cada cônjuge está
procurando seriamente satisfazer as necessidades do outro, o problema da terceira ponta do triângulo tem pouca
oportunidade de vir à existência.
Temos cinco necessidades básicas, que um cônjuge pode satisfazer:
ATENÇÃO
"Você já ouviu falar da grande face de pedra"? — perguntou certa mulher à sua amiga.
"Sim, acho que já" — replicou a amiga.
"Eu me casei com ela" — declarou a mulher. "Meu marido não ouve e não fala."
Sara escreveu-me, depois de nossas sessões de aconselhamento: "Ser-me-á difícil desistir do amor que
sinto por outra pessoa, e dizer 'não' à primeira pessoa que realmente me ouviu. Durante treze anos com Bruce,
não me tenho sentido amada nem desejada. Ele nunca nota o que cozinho, nem minha aparência e como tento
arrumar a casa para ele. Ele nunca presta atenção a mim. Acha que tudo o que sou ou faço é normal, natural, e,
realmente, penso que não sou importante para ele."
Um marido que havia prevaricado e sentia-se culpado disse: "Cheguei a sentir-me como nada mais do que
uma peça do mobiliário. Eu era um joão-ninguém dentro de minha casa, ninguém que fosse digno de nota, de ser
ouvido ou de ser amado. Fiquei cheio. Não faz muito tempo, saí, para não voltar mais. Finalmente me decidi",
disse ele. "Há algumas semanas cheguei em casa e minha esposa estava colocando o bebê na cama. Comecei a
beijá-la. Ela, porém, virou-se de lado e começou a falar a respeito da erupção da pele do bebê. Você já tentou
beijar alguém com um alfinete de segurança na boca? Por que ela não podia olhar para mim? Conversar comigo?
Será que preciso andar de fraldas ou cuspir fora a comida, para conseguir que ela me note? Eu sou o cara com
quem ela se casou. Mas precisaria chegar com uma perna quebrada ou ficar com pneumonia para conseguir que
ela notasse que estou presente."6
ACEITAÇÃO
Toda pessoa tem uma necessidade profundamente arraigada de ser aceita pelo seu valor individual. É
nosso dever amar nosso cônjuge; cabe a Deus mudá-lo. O autor John Drescher cita o conselheiro Ira J. Tanner:
"Qualquer tentativa para mudar o cônjuge, em um esforço de nossa parte, é um insulto a ele. Isso divide, suscita
ira, e causa solidão ainda maior."7 E posso acrescentar que isso empurra o cônjuge para outros braços, que o
aceitem melhor.
Ruth e Jack eram amigos pessoais de Evelyn e meus. Na verdade eram nossos vizinhos. Mas o "caso" em
que ela se envolveu os trouxe a mim, para serem aconselhados. Jack era ambicioso, dinâmico, exigente, uma
testemunha eficiente de Cristo — um bom papo. Rute era serena, atraente, extrovertida e distinta. Uma pessoa
encantadora.
Os próprios padrões cristãos inflexíveis de Jack atraíam algumas pessoas, mas repeliam outras. Eram
aplicados a todas as pessoas, na igreja e fora dela, produzindo em algumas delas falso sentimento de culpa; em
outras, apenas compaixão... por Jack. Todos os membros da família sentiam a pressão. Alguns se rebelavam;
outros se sujeitavam.
Ruth disse: "Amo muito o Senhor, mas nunca consigo agradar ao meu marido. Eu não estava crescendo
espiritualmente tão depressa quanto ele achava que eu devia. Ele estava sempre procurando saber quanto eu
estava lendo a minha Bíblia. Fiquei simplesmente fisicamente esgotada, e não pude continuar indo às diversas
reuniões da igreja todas as noites da semana. Eu precisava ficar em casa. Jack interpretou isso como sinal de
apostasia, e me criticou na frente das crianças, até que toda a nossa família começou a brigar constantemente.
Então ele me culpou pelos problemas de nossa família, apresentando como causa que eu estava me 'afastando do
Senhor'. Ele queria que eu fosse Madre Teresa, Betty Crocker e Cheryl Ladd, reunidas em uma só pessoa. Ele
estava decidido a me moldar à sua vontade. Nada que eu fazia lhe agradava.
"Pecado — adultério — era a coisa mais distante de meus pensamentos, desde o dia em que me convertera
a Cristo. Eu não estava procurando sexo — até isso também se havia deteriorado em nosso casamento. Eu nem
sequer estava procurando um 'caso', para me vingar, fazer meu marido pagar, e nem mesmo para chamar a
atenção dele. Eu estava simplesmente aturdida. E, quando o vizinho do meio do quarteirão me notou, sorriu
algumas vezes, conversou comigo amavelmente e gostou de mim da maneira como sou — aconteceu. Eu estava
agonizante."
AFEIÇÃO
Muitos cônjuges traem por nada mais, a princípio, do que o desejo de um pouco de afeição. As coisas que
dão brilho aos dias de namoro e ao começo do casamento — dar-se as mãos, carinhos, abraços, beijos — não
podem agora ser guardadas no guarda-roupa, juntamente com o vestido de noiva.
"Agora estamos casados; não somos mais crianças." Pensa ele: "Por que você precisa continuar correndo
atrás do bonde, uma vez que já o pegou?" E ela: "Uma vez que você pegou o peixe, pode jogar a isca fora."
"Nós não nos temos tocado há mais de dois anos, quase literalmente. Certamente temos tido relações
sexuais, mas, na verdade, dificilmente nos tocamos, pelo menos não intencionalmente." — estas foram as
palavras de uma esposa de pastor que veio a uma de nossas conferências.
Ela estava com cerca de cinqüenta anos, era um tanto atarracada, cabelos puxados para trás, vestida de
maneira simples, e parecia do tipo altamente organizado, uma administradora. Com a voz começando a se
embargar, ela continuou: "Eu não tenho sido muito do tipo afetivo, não que eu não goste disso, mas meu marido
e eu precisávamos trabalhar tanto para administrar as igrejas! Durante vinte e três anos, pastoreamos
principalmente igrejas pequenas. O senhor sabe como é isso. Faz-se todo o trabalho: ensinar, cantar, organizar,
visitar, servir de zeladora. Está sempre sobrecarregada, sempre exausta.
"Quando meu marido não evidenciou nenhum desejo de demonstrar afeição, nenhuma necessidade disso,
presumi que ele fosse simplesmente desse tipo, e que essas coisas não o interessassem — não fossem
necessárias. Por isso, também não insisti, e, por assim dizer, fiquei fora do caminho dele. Nunca me fora
ensinado que essas coisas são importantes para um homem."
"Como é que o seu marido começou a se envolver com essa outra mulher?" — arrisquei.
"Bem, ela se ofereceu para fazer algum trabalho voluntário no escritório da igreja. Não a conhecíamos
bem, mas precisávamos da ajuda. Ficamos em dúvida, uma ou duas vezes, se devíamos conservá-la, porque ela
se vestia de maneira muito sensual. Mas meu marido achava que, visto que ela era uma crente nova, ele poderia
ajudá-la. Achei que ela não seria uma tentação para ele, pois ele não se interessava por afeição."
A essa altura ela estava soluçando.
"E então, o que aconteceu?"
"Oh, como eu estava cega! Como estava errada! Ela fazia questão de estar no escritório dele, dando, para
isso, qualquer desculpa. Arreliava com ele, tocava-o, brincando, e, bem, algo foi despertado nele, creio eu. Ele
tornou-se outro homem. Foi então que me disse que não me amava mais, e ia deixar o ministério e morar com
ela. Era incrível."
Muitas mulheres também são famintas de afeição. A autora Evelyn Miller Berger lembra a história
familiar, mas jocosa, que ouvi anos atrás. Um casal estava viajando de carro por uma estrada deserta, certa noite,
e foi impedido de continuar, e assaltado. O assaltante lhes disse para entregarem o dinheiro. "Mas eu não tenho
dinheiro", protestou o homem, que estava dirigindo o carro. O bandido ordenou que ele saísse do carro para ser
revistado. De fato, ele não tinha dinheiro. Então o bandido ordenou que a esposa saísse do carro. Quando ela foi
revistada, ele verificou que também não tinha dinheiro, e então ela recebeu ordens de entrar no carro de novo. E,
ao entrar, ela disse: "Se você me revistar outra vez, eu lhe faço um cheque."
ADMIRAÇÃO
Mark Twain disse: "Eu posso viver dois meses sustentado por um bom elogio." Para cada comentário
negativo que um pai ou mãe faz a uma criança, ele, ou ela, precisa fazer quatro comentários positivos, para
conservar o equilíbrio. Assim acontece no casamento. O louvor verbal nutre o relacionamento. De acordo com o
meu amigo Dr. Ed Wheat, "a consciência de sua própria beleza, para uma esposa, depende grandemente do que o
seu esposo pensa dela. Ela precisa ser nutrida emocionalmente com louvor, e jamais deve ser diminuída pela
crítica."8
A famosa autora Marabel Morgan pergunta: "O que leva o homem a ser responsável e a ter sucesso em
suas ambições? Que incentivo ajudará o homem a permanecer estável, fiel e amoroso para com sua esposa e sua
família? A admiração pode fazer com que o marido ande garbosamente outra vez, devolverá o brilho aos seus
olhos e a vibração ao seu coração. Ele terá novamente a ousadia de sonhar e crer em suas capacidades, porque
você lhe disse que acredita nelas."9
Que características devemos admirar? "Concentre-se nas virtudes dele", dizem Lou Beardsley e Toni
Spry: "No seu papel de marido e pai.
Na sua aparência e modo de vestir.
Nas suas capacidades mentais.
Na sua confiabilidade no trabalho.
Na sua força masculina.
No seu amor ao Senhor.
Na sua capacidade e coordenação atlética.
No seu senso de humor.
Na sua coragem.
Na sua ternura e capacidades sexuais.
Estas são apenas o começo. "10
Todo marido deve ler Provérbios 31 e Cântico dos Cânticos. Sublinhe cada qualidade, capacidade e área
de beleza mencionadas a respeito da esposa, nessas passagens. Aplique-as todas à sua esposa, e faça a sua
própria lista de admiração.
ATIVIDADES
Muitos casamentos naufragam nas rochas da infidelidade porque se tornam chatos. Tornam-se cansativos.
A rotina torna-se mortal. Ir para o trabalho, voltar para casa, assistir TV, ir para a cama — semana após semana,
monotonamente.
"Não fazemos juntos mais coisa alguma", é uma queixa comum das esposas. "Não saímos juntos sem os
filhos, não temos recreação nem vamos a concertos, nem temos interesses ou projetos que compartilhemos, nem
diversão."
"Meu marido e eu costumávamos sair, sem os filhos, três ou quatro vezes por semana, o que era demais.
Mas depois paramos, e não temos ido a lugar nenhum, o que também está errado."
O marido dessa mulher, convalescendo do "caso" que teve com uma moça no escritório, concordou: "Eu
acho que precisávamos passar mais tempo juntos — só nós dois — nos dedicando a coisas como 'hobbies',
projetos, etc."
Casamentos ótimos, ou potencialmente ótimos, sofrem, se forem negligenciados. Leia de novo a famosa
declaração de Benjamim Franklin: "Um pouco de negligência pode gerar muito prejuízo; pela falta de um prego,
perdeu-se a ferradura; pela falta da ferradura, perdeu-se o cavalo; pela falta do cavalo, o cavaleiro perdeu-se,
sendo vencido e morto pelo inimigo — tudo pela falta de um pouco de cuidado com um prego da ferradura."
Nenhuma pessoa pode satisfazer todas as necessidades de outra. Algumas necessidades são supridas pelos
outros; outras, pelas nossas vocações; e ainda outras, somente por Deus. Esperar que o cônjuge propicie o que
apenas Deus pode propiciar, certamente acarretará desapontamento. Ninguém pode tomar o lugar dele. E a paz, o
contentamento e a força que ele propicia influenciarão todas as outras áreas do nosso relacionamento
matrimonial.
Porém, da mesma forma como nenhuma pessoa pode ocupar o lugar de Deus, Deus não ocupa o lugar do
cônjuge. Fomos criados para suprir as necessidades um do outro, as necessidades que somente outra pessoa pode
suprir. Um comovente poema da famosa poetisa Ella Wheeler Wilcox, embora escrito há quase cem anos, narra,
em cores vivas, a história dos dias atuais:"
CAPITULO 4
CAPITULO 5
CAPÍTULO 6
Aconteceu - e Agora?
Muitos maridos e esposas pensam que é mais fácil promover a separação do que consertar o casamento.
Só quando já é tarde demais é que eles percebem que escolheram o caminho mais fácil, mas não o mais sábio.
Um HOMEM de meia-idade e sua esposa estavam de pé na lama e água, olhando tristemente para as
ruínas e os escombros de sua casa e de tudo o que possuíam. Eram vítimas de um furacão. A sua bela casa de
praia, no Texas, outrora uma propriedade invejável, agora não passava de uma grotesca pilha de pedras, madeira,
eletrodomésticos, móveis, comida e roupa — tudo ensopado de água salgada. As sirenes que advertiam da
tempestade haviam soado, dando o seu aviso, mas eles pensavam que estavam em segurança. Não haviam
suportado outros vendavais igualmente severos? E este não seria diferente. As ondas retumbantes, que outrora
faziam parte do panorama que se via da porta de frente, agora haviam destruído a casa.
Ao olharem, pasmos, para aqueles destroços chocantes, interrogações que nunca haviam feito antes
turbilhonavam em suas mentes: "Será que devemos chamar a Cruz Vermelha? O lixeiro? O Exército de
Salvação? Será que há algo que possa ser salvo ou compense o esforço? Devemos construir aqui novamente?
Temos condições financeiras para tanto? É seguro? Ou devemos abandonar isto para sempre?"
Estas são perguntas muito parecidas com as que são feitas sempre que um "caso" extraconjugal é
descoberto e a realidade dele nos atinge como uma onda de maremoto. Podemos construir o nosso casamento de
novo? Será que quero isso? Há algo nele que possa ser salvo ainda? Se há, como fazê-lo? Por onde começar?
Posso confiar mais uma vez, visto que fui traído? Certa mulher expressou a sua reação inicial de desespero,
quando descobriu a infidelidade de seu marido. "Tudo chegou a um fim abrupto. Sinto-me como se tivessem me
pisoteado, e estou entorpecida de dor. É tudo tão sem esperança! Õ Deus, ajuda-me! Ajuda-me!"
A sua reação inicial e as seguintes, diante do "caso" de seu cônjuge, determinarão, em grande medida,
quais serão os resultados finais, em termos de dor e de progresso. A infidelidade pode ser o fato, mas o que você
sente a respeito desse fato e a sua reação em relação a ele é que formam o x do problema. Algumas reações são
maduras, mas não fortes. Outras são totalmente improdutivas desde o começo, especialmente do ponto de vista
do casamento e da família. Algumas reações aumentam o problema, já sério. Vamos discutir cinco das reações
negativas mais comuns, antes de acentuar o lado positivo. As tendências humanas naturais, numa situação de
tanta tensão, são: ficar paralisado, autojustificar-se, dar-se por vencido, lutar e forçar.
FICAR PARALISADO
Esta reação torna a pessoa imóvel por causa da recusa — a recusa de ver e admitir o que as evidências
indicam e o coração confirma. Quando alguém está se envolvendo em uma "transa", há sempre sinais, sinais
definidos que mostram que as coisas não estão como estavam antes. Não é simplesmente a questão de encontrar
um bilhetinho de amor esquecido num bolso, ou manchas de batom no colarinho. Há mudanças sutis de
personalidade, na atenção, quanto à franqueza e respeito à linguagem corporal.
Para muitas pessoas, o próprio pensamento de o seu cônjuge estar tendo um "caso" torna-as paralisadas,
levando-as a negar o fato e a nada fazerem. As evidências podem estar por toda parte, porém, elas não querem
acreditar. Se o marido chegou em casa com manchas de batom no colarinho, elas dirão que provavelmente ele
estava andando debaixo de uma escada e pingou tinta na camisa. Sally era assim. Ela me disse: "Eu não parava
de dizer a mim mesma que eu estava imaginando tudo aquilo. Não estava acontecendo — não acontece — não
vai acontecer. Estou fazendo uma tempestade em um copo d'água." Ela levou mais de um ano para reunir
coragem para fazer ao marido uma pergunta a esse respeito.
Nesse ínterim, o seu marido infiel estava fazendo tudo o que podia para ser descoberto, de forma que ela
pudesse saber de tudo e ajudá-lo a enfrentar o problema. Era um grito, pedindo ajuda. Ele chegou ao ponto de
dizer, à mesa do café, depois de ter estado fora a noite toda: "Caí no sono na casa dela, e acabei passando a noite
lá." Ainda assim não se fizeram perguntas, não houve confrontação. Sally estava enterrando a cabeça em um
travesseiro de fantasia, achando, de alguma forma, que pensar no problema poderia acentuá-lo — que a coisa
que ela temia pudesse lhe sobrevir.
Certa amante questionou em voz alta, duvidando que esse tipo de esposa fosse a parte inocente: "Perguntei
ao meu amante se a esposa dele está sabendo de nosso relacionamento, indagando: 'Ela sabe?'
'"Ela não quer saber'" — respondeu ele. '"Ela nunca o pergunta. Se perguntasse, eu lho diria.'"
A mulher continuou: "Em casos como este, não há partes inocentes. Somente seres humanos, que não
fazem perguntas porque não querem saber as respostas."
Linda Wolfe, que escreveu muito a respeito de infidelidade conjugal, o diz claramente: "Essa recusa em
reconhecer o problema é um artifício psicológico que permite que uma mulher finja para si mesma que o marido
dela é perfeitamente fiel, mesmo quando ele se esforça para apresentar-lhe evidências de sua infidelidade. Em
um caso típico, a mulher que se recusa a reconhecer esse problema tenta apegar-se ao seu casamento, mesmo
quando ele não é mais nada além de uma farsa."1
A recusa em reconhecer o problema é um mecanismo de escape baseado em medo, falsa esperança e falta
de confiança em Deus. Há um medo de incapacidade para enfrentar a crise, um complexo de não se ter recursos
para enfrentá-la, de não se saber para onde se voltar, nessa confusão. É assim que sentimentos de desamparo,
solidão e desespero o inundam, e você não consegue enfrentar as exigências da situação difícil. "Não me posso
permitir crer nisso, pois não saberia o que fazer, se fosse verdade." Pensamentos de suicídio são comuns nessas
circunstâncias. Sally, que mencionei acima, disse-me como, durante o período em que ela estava recusando-se a
reconhecer o problema, esforçou-se ao máximo, ficando exasperada dia e noite — tendo algumas noites somente
três horas de sono — procurando tirar esse pensamento da cabeça. No limiar de um esgotamento nervoso, ela
começou a tomar doses exageradas de comprimidos para dormir, para não ser obrigada a enfrentar o problema,
pensando: "A única solução é não sentir nada."
O caso de Sally pode parecer extremo, mas qualquer espécie de recusa em reconhecer o problema só o
estimula e agrava. Essa recusa produz várias coisas desastrosas:
Você começa inconscientemente a encobrir as faltas de seu cônjuge, dar desculpas para os seus atos,
culpar-se pelo procedimento dele. Você torna-se parte do problema, e não da solução. Quando os seus filhos ou
seus pais comentam ou perguntam algo, você se apressa a fingir, apresentar um álibi, tirar as desconfianças da
cabeça deles. "Ele tem trabalhado muito... ultimamente não tem dormido bem... etc, etc."
Sem querer, você estimula a infidelidade. Nesse caso, o tempo não cura, só proporciona, ao infrator, maior
oportunidade. A recusa em reconhecer o problema, exercida passivamente, dá ao "caso" a oportunidade de se
aprofundar, até o ponto em que seja impossível a recuperação, e o casamento esteja condenado.
Você prolonga o castigo e impede Deus de dar soluções de maneira ativa. Até o próprio Deus fica
limitado, se ninguém admite a verdade. Deus não opera de maneira estranha, etérea, na atmosfera que cerca o
problema. Ele opera nas pessoas e através delas — através de alguém que toma a iniciativa, confronta, perdoa,
sana.
Parece ao seu cônjuge que você não o ama. Ficar paralisado em uma posição de inatividade também dá a
entender ao cônjuge que está se desencaminhando que você não se importa com ele, que o seu amor é fraco, está
baseado nas conveniências. O amor forte diz: "Não quero que você continue a ferir-se e ferindo os outros,
perdendo de vista o que Deus espera de você."
Em uma história verdadeira, a respeito de um casal anônimo, Ellen Williams descreve vivamente a luta de
uma mulher com o seu marido pastor. "Duas vezes, nos meses que se seguiram, eu lhe perguntei, deitada ao lado
dele, em nossa cama, tensa e tremendo, reunindo toda a minha coragem: 'Há outra mulher?'
"'Não!' disse ele com raiva na voz, dando-me a única resposta que eu desejava ouvir. Eu me enrolei
agarrada às costas dele, desse homem que eu conhecia tão bem, esse homem com quem me casara vinte e sete
anos antes, e dormimos ambos, sabendo que ele me havia mentido. Eu o percebera em sua voz, o sentira em seu
corpo. Fiz a única coisa que sabia fazer, quando uma coisa é terrível demais para se enfrentar. Voltei as costas ao
problema. Se eu o encarasse, quem sabe, ele se desvaneceria."2
AUTOJUSTIFICAR-SE
Muitos cônjuges traídos sentem fogo por dentro; eles ardem de autocompaixão e justiça própria. Há
também hostilidade e humilhação, mas isso se expressa em um "Veja o que ele me fez!" Ao descobrir o "caso" de
seu marido, Lorna explicou, numa atitude de choque e descrença: "Depois de tudo o que fiz por ele, este é o
agradecimento que recebo! Dei-lhe os melhores anos de minha vida. Fui a mãe dos filhos dele. Mantive a casa
limpa para ele. Fiz a comida dele. Tinha uma camisa limpa para ele todas as manhãs. Fiquei ao lado dele nas
horas difíceis, e agora não sou suficientemente boa para ele. Essa é a gratidão que recebo." E ela poderia,
provavelmente, ter desfiado um rosário de dezenas de outras coisas boas que havia feito por ele. Ela possuía uma
personalidade muito ordenada e tinha a tendência de tomar as rédeas e dirigir as atividades da família e as tarefas
diárias com um rigor de sargento. Ela freqüentemente dava ordens em voz estridente, em vez de pedir ajuda. A
idéia que tinha de um tempo divertido era quando se "fazia algo construtivo", como reformar completamente o
jardim ou fazer seis pares de cortinas em uma noite.
Lorna era uma boa mulher, mas o seu senso de valores estava inteiramente envolvido com o que ela
conseguia realizar. Presumia que essas realizações também edificariam o seu relacionamento conjugal, e, quando
não o fizeram, ela sentiu-se ofendida e deprimida, e censurou severamente o seu esposo, que não dava valor
àquelas coisas.
O meu amigo Bob estava não apenas saindo-se muito bem em seu negócio de vendas de automóveis, mas
tinha também a imagem que o ajudava naquilo. Ele gostava de roupas finas, bons carros, uma piscina e tudo o
mais. O interior de sua casa era imaculado, de fino acabamento, e sempre parecia como se jamais alguém tivesse
morado ali. Eu o visitei muitas vezes. Quando ele descobriu o "caso" da esposa, ficou perplexo. E exclamou,
incrédulo: "Dei a ela tudo o que queria: roupas, carro, dinheiro — redecorei a casa, comprei móveis novos.
Agora ela arruinou a minha reputação, aproveitando-se de mim. Acho que é verdade que é impossível entender
ou agradar uma mulher."
Amor-próprio
O orgulho ferido está intimamente relacionado com o amor-próprio de uma pessoa e a imagem que ela faz
de si própria. O fato de que o seu cônjuge encontrou alguém mais atraente abala esse amor-próprio. Sobrevém
um sentimento de incapacidade, e até de desamor a si mesmo. Uma esposa exclamou: "Comecei a sentir-me feia,
horrível, e ficava diante do espelho, examinando-me, para ver o que havia de errado que me fazia tão
indesejável." Evelyn Miller Berger fala de outra esposa, que ficou sabendo que a sua negligência, permitindo-se
engordar além da conta, encorajara o marido a iniciar um relacionamento extraconjugal, e que a auto-aversão
que se seguiu quase a destruiu. "Meu marido se queixava de eu ser gorda. Ele perguntava-me como eu podia
esperar que ele se sentisse sexualmente excitado quando o meu corpo parecia um colchão volumoso. Tentei
reduzir o peso, mas as suas críticas me levaram a desejar comer mais — uma espécie de consolo. Mas acho que a
essa altura já estava zangada por ele me culpar, e pensava: 'Bem, se você não gosta disso, eu vou mostrar-lhe que
posso comer até ficar tão gorda quanto quiser!' Depois percebi que estava inequivocamente feia — gorda — e
me odiei por isso."3
Uma esposa traída sentiu que a sua reputação estava destruída: "Senti que não tinha mais coragem de sair
de casa. O que pensariam agora os meus vizinhos, os meus amigos, o povo da igreja? Todos vão chegar à
conclusão de que não consegui prender meu marido. Não é justo", queixou-se ela. "Como ele espera que eu
pareça fascinante, quando tenho filhos e casa para cuidar?"
Perfeccionismo
A reação de um mártir do orgulho é geralmente a reação predominante de um perfeccionista, quando o
cônjuge é infiel. O perfeccionista é um indivíduo amedrontado, competitivo, que sempre deseja vencer, dominar
e controlar as pessoas que o rodeiam. Muitas vezes ele é um detectador de falhas crônico, e nada é
suficientemente bom para ele. Como crente, ele é legalista. Gosta de regras, rituais e padrões, e não consegue
viver espontaneamente. Tendo medo de intimidade, ele faz de seu casamento mais um contrato comerciai do que
um caso de amor sem peias. O sexo torna-se uma obrigação superficial. Há pouco divertimento, pouco riso.
Tendo um marido brincalhão e galanteador, uma esposa costumava dizer: "George, para com isso. Não
somos mais crianças." Por fim, ele encontrou uma pessoa que gostava de suas piscadelas e carícias. E a esposa
ficou horrorizada. Ao aconselhá-la, minha esposa perguntou-lhe: "Com que freqüência você tinha sexo com seu
marido?"
Ela ficou um pouco embaraçada, e respondeu pensativamente: "Acho que a última vez foi por ocasião do
aniversário dele... sim... eu lhe dei sexo no seu aniversário."
Um presente anual. Quando minha esposa me contou isso, eu disse: Ainda bem que ele não nasceu no dia
29 de fevereiro, em um ano bissexto.
Ela desempenhou bem o seu papel de mártir e gostou dele. Além disso, pensava que era uma crente bem
doutrinada, avançada, e tinha sérias dúvidas de que o marido fosse crente. Desta forma, no conceito dela, o
"caso" dele e o divórcio subseqüente faziam parte do fato de ela ser "perseguida por causa da justiça". Claro que
essas coisas não tinham nada a ver com isso, mas para suscitar simpatia, foi isso o que ela anunciou a todos. Ela
ainda acha que a solidão que sofre é o preço que está pagando por ser correta, e isto só aumenta o isolamento em
que ela vive.
Os Dependentes
Algumas pessoas, especialmente mulheres, caem em confusão por serem dependentes. A escora da esposa
é tirada, e ela cai. A única pessoa de quem ela dependia, a sua muleta, foi removida, e ela não consegue ficar de
pé sozinha. De repente ela percebe que sente-se deserdada, fraca, indefesa, inadequada e amedrontada, como se
de súbito tivesse perdido a capacidade de enfrentar a vida. O futuro lhe parece perigoso, agourento. O hábito sem
solução de apoiar-se em outrem a deixou incapaz de sustentar-se física e emocionalmente.
Mary, o tipo de beata religiosa, veio a mim, pedindo aconselhamento. Ela era uma pequena menina
amedrontada, embora já estivesse casada havia dezesseis anos. O seu marido, Bill, havia pedido divórcio, para
poder continuar o seu "caso" com Dottie. Mary estava visivelmente abalada — devastada. Dottie era uma jovem
coquete do escritório dele, cheia de problemas com o marido dela, e Bill havia se tornado o seu "consolador". A
coisa toda aconteceu como uma bomba, embora Mary me tivesse contado que havia tempos estava ouvindo,
todos os dias, falar de Dottie e seus problemas com aquele "cachorro" do marido dela. "Era Dottie no café da
manhã, no almoço e no jantar, e embora estivesse cansada de ouvir falar nela, não esperava nenhuma
infidelidade."
Quando Bill requereu o divórcio, tudo o que a sustentava foi retirado, e ela desmoronou. Claro que ele a
manejava como a um boneco. Ameaçou ir embora — chegou a colocar as roupas na mala — e ela implorou que
ele ficasse. Ele ameaçou vender a casa com ela dentro, e, como ele esperava, ela deu-se por vencida, pedindo
misericórdia entre lágrimas. Exatamente como uma escrava. A sua dependência a degradava, e, na verdade, ela
se odiava por isso. "Eu me odeio", disse ela, "por ser tão imatura a ponto de me apoiar em todo mundo tão
fortemente que fico completamente perdida quando sou deixada por minha conta." A situação mudou
tremendamente quando ela experimentou uma conversão a Cristo e, através de seu poder, que lhe infundiu nova
vida, começou a exercer ações positivas.
Os Maltratados
Algumas mulheres dão-se por vencidas por causa de violência e maus-tratos. Uma amiga graciosa, bem-
educada e talentosa que encontrei na igreja, Noemi, ficava paralisada por medo de violência corporal. "Se eu
enfrentasse o meu marido com o seu engano e infidelidade", disse-me ela, "estou certa de que nada o impediria
de fazer com que eu e as crianças pagassem caro." Eu o vi. Ele era um homem grande e de mau gênio — um
touro. A despeito de todas as minhas recomendações para ajudá-la a desenvolver uma estratégia de ação, Noemi
não o conseguiu. Ele a havia petrificado.
Os Culpados
A culpa também paralisa, provavelmente mais do que qualquer outra reação. Muitas vezes o cônjuge
rejeitado olha para dentro de si mesmo e aceita toda a culpa pela confusão sórdida em que o seu lar entrou. Esta
introspecção não é o questionamento sadio que pergunta se a pessoa contribuiu de qualquer forma para a
situação, e reconhece, e aprende de qualquer falha. Pelo contrário, é a procura de um bode expiatório, alguém em
quem colocar toda a culpa. E, por causa de suas próprias inseguranças, esse cônjuge assume toda a
responsabilidade. Como costumava dizer o comercial da televisão: "Comi tudo." Isto não é nem verdadeiro nem
útil.
A esposa rejeitada muitas vezes recapitula todas as coisas que ela poderia ter feito de maneira diferente, e
se detém nos seus erros passados — alguns reais e outros imaginários. Quanto mais analisa o seu passado, mais
razões encontra para a sua situação. O seu senso de valor próprio vai a zero; o seu sentimento de culpa se
multiplica — falsa culpa, em grande parte. O Diabo impedirá certas pessoas de até fazerem um inventário
honesto da situação; outras, ele lança por sobre a amurada e as afoga em autocondenação falsa misericórdia entre
lágrimas. Exatamente como uma escrava. A sua dependência a degradava, e, na verdade, ela se odiava por isso.
"Eu me odeio", disse ela, "por ser tão imatura a ponto de me apoiar em todo mundo tão fortemente que fico
completamente perdida quando sou deixada por minha conta." A situação mudou tremendamente quando ela
experimentou uma conversão a Cristo e, através de seu poder, que lhe infundiu nova vida, começou a exercer
ações positivas.
Os Maltratados
Algumas mulheres dão-se por vencidas por causa de violência e maus-tratos. Uma amiga graciosa, bem-
educada e talentosa que encontrei na igreja, Noemi, ficava paralisada por medo de violência corporal. "Se eu
enfrentasse o meu marido com o seu engano e infidelidade", disse-me ela, "estou certa de que nada o impediria
de fazer com que eu e as crianças pagassem caro." Eu o vi. Ele era um homem grande e de mau gênio — um
touro. A despeito de todas as minhas recomendações para ajudá-la a desenvolver uma estratégia de ação, Noemi
não o conseguiu. Ele a havia petrificado.
Os Culpados
A culpa também paralisa, provavelmente mais do que qualquer outra reação. Muitas vezes o cônjuge
rejeitado olha para dentro de si mesmo e aceita toda a culpa pela confusão sórdida em que o seu lar entrou. Esta
introspecção não é o questionamento sadio que pergunta se a pessoa contribuiu de qualquer forma para a
situação, e reconhece, e aprende de qualquer falha. Pelo contrário, é a procura de um bode expiatório, alguém em
quem colocar toda a culpa. E, por causa de suas próprias inseguranças, esse cônjuge assume toda a
responsabilidade. Como costumava dizer o comercial da televisão: "Comi tudo." Isto não é nem verdadeiro nem
útil.
A esposa rejeitada muitas vezes recapitula todas as coisas que ela poderia ter feito de maneira diferente, e
se detém nos seus erros passados — alguns reais e outros imaginários. Quanto mais analisa o seu passado, mais
razões encontra para a sua situação. O seu senso de valor próprio vai a zero; o seu sentimento de culpa se
multiplica — falsa culpa, em grande parte. O Diabo impedirá certas pessoas de até fazerem um inventário
honesto da situação; outras, ele lança por sobre a amurada e as afoga em autocondenação falsa.
Certa esposa escreveu para um conselheiro de uma revista evangélica: "Meu marido disse-me que ama
outra mulher. A princípio fiquei zangada, mas agora acho que tudo foi por minha culpa. Acho que, como crente,
eu devia ter feito mais para salvar o meu casamento. Não contribuí com o suficiente. Não amei o suficiente.
Sinto-me um fracasso, tanto como mulher quanto como esposa. Algumas manhãs, mal consigo me arrastar para
fora da cama. Preferiria dormir e esquecer. Ainda há esperança?"
Outra disse: "Não posso parar de me focalizar em meus erros. Sinto-me como a ovelha negra, pois em
nossa família nunca houve 'casos' antes."
Como se todos os aspectos do casamento dependessem dela, outra esposa arrasada confessou: "Fracassei
como mãe tanto quanto como esposa, porque não ensinei os nossos filhos de forma que o meu esposo desejasse
passar o seu tempo como eles em casa." Visto que esta mulher evidentemente cria que o seu marido não tinha
nenhuma responsabilidade pela criação dos filhos ou pela atmosfera do lar, certamente ela não seria capaz de
permitir que ele assumisse qualquer responsabilidade por suas escapadas adúlteras. Dessa maneira, ela as
encorajava.
Os Escapistas
Outra palavra que seria sinônima de "dar-se por vencido", neste contexto, seria "fugir". A tendência
natural é correr quando você tem medo, e não tem certeza de onde está o que fazer. Nesse caso, a desistência é
uma forma de fuga, de admissão de fraqueza. O escapismo pode desencadear uma recusa para considerar o
perdão, uma vingança explosiva ou um divórcio rápido. Porém, seja o que for que torne a pessoa imóvel ou
incapaz de agir, é doentio e improdutivo.
Alguns crentes dão-se por vencidos em face de um "caso" por causa de sua própria fé distorcida e
anêmica. A sua marca de cristianismo faz deles capachos para serem pisados e esmagados. Eles acham que não
têm o direito de fazer perguntas a respeito do mal, e assim precisam suportá-lo passivamente, e sofrer em
silêncio. Eles não se permitem lidar com a infidelidade, mas continuam convivendo com ela e, se necessário,
aceitam uma vida de extrema humilhação.
O problema de toda essa inatividade é que ela recompensa o infiel e prolonga a solução do caso. A
infidelidade conjugal é resolvida com uma espécie de ação estratégica, e você não pode iniciar ação estando a
toda hora procurando escapar do problema.
LUTAR
Estou certo de que nunca houve um caso de infidelidade conjugal em que não estivesse evidente a ira —
ira da parte daquele que é infiel, devido à negligência real ou suposta que motivou a sua infidelidade, e ira,
certamente, da parte daquele que se sente traído. Não importa como a pessoa pareça, calma ou compreensiva, na
superfície, o ultraje sofrido está queimando por dentro ou se preparando para explodir tudo violentamente. Há ira
por causa da vergonha, da humilhação, da desilusão, do engano.
Certa mulher, acerca de quem li, explodiu quando descobriu a infidelidade de seu marido. "Joguei um
prato nele. Disse-lhe que ele podia ir embora, que eu não queria um homem que não me amava. 'Eu não quero ir
embora', disse ele. 'Amo você e amo as crianças.' Aquilo me deixou ainda mais furiosa; e joguei um copo nele."
Isso deu a ela um pouco de alívio, mas certamente não resolveu nada. E os pratos são caros.
Seria mórbido se não houvesse ira contra "a terrível violência psicológica do adultério". Linda Wolfe diz:
"Os psicanalistas chamam o adultério de 'ferimento psíquico' e de fato parece haver algo quase visceralmente
pungente nesse sentido. Não é apenas uma ferida profunda no ego, mas também na confiança entre os cônjuges
— uma ferida que pode e, de fato, muitas vezes termina fazendo um casamento sangrar até a morte."4
Todavia, por que esta ira é expressa e em que forma determina se ela é ou não destrutiva? Estamos lutando
pelo casamento, contra o mal, contra o cônjuge ou pelas razões puramente egoístas de terem sido feridos os
nossos sentimentos? A luta pode assumir várias formas, a saber:
Vingança, que é tão comum quanto inútil e autodestruidora. Embora os escritores do Novo Testamento
mencionem várias vezes: "A ninguém torneis mal por mal", esta é uma tendência muito humana. "Se ele pode
fazê-lo, eu também posso." Muitas esposas cedem ao desejo de revidar, de dar a ele uma prova de seu próprio
remédio, de provar que ainda são desejáveis, que ainda podem arrumar um homem — por malvadez.
Evelyn Miller Berger fala de uma mulher a quem aconselhou. "Eu senti-me justificada em também ter
uma aventura", disse a cliente, com hostilidade franca. "Eu também queria alguma atenção. Mas quando o 'caso'
acabou, de repente acordei para o fato de que eu era aquele caráter desprezível, 'a outra', eu! Imagine só! Boa,
firme, a filha mais velha de um catedrático, sempre uma garota direita, no caminho reto e estreito da virtude!" 5
Embora exista um inegável prazer egoístico em vingar-se, não obstante, isso só complica o problema — o
duplica. Agora são dois que saíram da linha e precisam de perdão.
A coisa mais importante é: Quem está no controle? Se você paga mal por mal — a sua reação é
determinada pela ação de seu cônjuge — o seu cônjuge controla você. Reagir, pagando com a mesma moeda, é
ser controlado pela pessoa que iniciou a ação. Você é controlado pela pessoa cujas ações você imita. Você cessa
de ser o iniciador, e torna-se apenas um reator, e o tiro sai pela culatra. Você não é mais inocente em toda a
situação do que o seu marido ou a outra.
Vingança é mais do que retaliação. É a busca de uma forma para castigar, como pagamento pela injúria
infligida. Um marido que prevaricou pode não ficar absolutamente ferido quando a esposa se envolve em uma
aventura, como retaliação contra a dele. Ele pode alegrar-se com isso. Agora ele tem uma boa razão para
adulterar, e mesmo para desmanchar o casamento. Mas, se ela deseja vingar-se por causa do que está sofrendo,
vai tomar providências para que ele também sofra.
Uma divorciada escreveu para a "Dear Abby" depois do "caso" de seu marido: "Eu me portei como
maníaca. Gritei e impliquei com ele. Empacotei as roupas dele, e mandei que saísse de casa. Depois cometi um
erro fatal. Contei tudo aos nossos parentes e amigos, e me dirigi imediatamente a um advogado e pedi o
divórcio. Criei um escândalo tão notório que meu marido não pôde mais ficar na cidade." Ela empatou o placar,
e conseguiu vingança. Mas funcionou? "Agora percebo que só estava pensando em mim. Os meus filhos
pagaram o preço do meu orgulho. Eram três meninos com menos de dez anos de idade." E ela continua: "Os
anos se passaram. Os meus filhos agora estão casados, em seus próprios lares, mas eu estou sozinha. Sinto-me
arrasada e a minha amargura se manifesta claramente."6
Culpar. A ira toma outra forma: de culpar. O oposto da pessoa que aceita toda a culpa, que mencionei
acima, é a que culpa o cônjuge por tudo. Ela explode em justiça própria, com ira, e espera a confissão e a volta
de seu marido. Uma mulher disse-me, espumando de raiva: "O problema é dele; não meu. Fiquei cansada destas
perguntas: 'Onde foi que eu errei? Em que eu fracassei? Como foi que eu o negligenciei?, etc, etc Foi ele quem
adulterou; não eu. E, por falar nisso, é bom que eu diga que não o empurrei para a cama da outra; ele subiu nela
por iniciativa própria."
Há também o desejo de lutar contra "a terceira parte". "Aquela mulher vil roubou o meu marido, e vai
pagar por isso." Se a outra mulher é uma estranha, você pode ter o desejo incontrolável de se defrontar com ela e
fulminá-la com as suas palavras. Doris era uma mulher assim. Ela exigiu que o marido revelasse quem era
aquele "verme". Quando ele se recusou a fazê-lo, ela fez com que alguém o >seguisse. Mais tarde, quando ela foi
até aquela casa, "para ver quem era a sua competidora", não conseguiu crer no que viu. A casa era simples,
pequena, em um bairro de segunda classe — em agudo contraste com a casa grande e o bairro bonito, cheio de
árvores, para onde o seu sucesso os havia levado. Ela tocou a campainha e esperou nervosamente. Quando a
porta se abriu, não apareceu nenhuma beleza voluptuosa e alucinante enquadrada nos batentes. Só uma dona-de-
casa jovem, despenteada, desmazelada!
Depois de ter injuriado verbalmente aquela mulher e a ter condenado à perdição, Doris exigiu que ela não
permitisse que o seu marido a visitasse outra vez. A resposta que recebeu deu-lhe pouco alívio. "Se o seu marido
volta ou não vem mais, isso é decisão dele. Eu não posso controlar isso. Talvez ele esteja encontrando aqui algo
que não encontra em casa."
Se a "outra" é uma vizinha, amiga ou conhecida, você tenta lutar de outra forma: com difamação — no
cabeleireiro, no clube, na igreja, nas reuniões. Ela é metodicamente destruída por aquele "pequeno membro", a
língua não domada, que Tiago diz que está cheia de peçonha.
FORÇAR
Forçar significa atacar, empurrar impetuosamente exigindo uma solução, manipular as pessoas envolvidas
e a situação, para encontrar um conserto rápido. É natural que desejemos nos ver livres de um problema horrível
como o que estamos considerando o mais depressa possível. Nenhuma pessoa emocionalmente sadia quer
prolongar a dor um minuto mais do que o necessário. Se você tem a tendência de ser uma pessoa que toma a
iniciativa, é quase impossível ficar sentada e esperar que as soluções apareçam e amadureçam. É quase como se
você achasse que qualquer ação é melhor do que nenhuma.
A descoberta de um caso extraconjugal desencadeia tantas emoções conflitantes — a surpresa do fato, o
engano, o desencanto, a traição. Algo precisa ser feito. Como alguém que está se afogando, você se debate na
água selvagemente, esperando agarrar-se a algo que seja a sua salvação: o milagre.
Essas ações desesperadas podem não estar relacionadas umas com as outras e serem até antagônicas. Ou
podem ir desde fingir ignorância, manipular circunstâncias, até a citação da Bíblia.
Judy, uma nossa distinta amiga crente, ficou arrasada devido às infidelidades crônicas de seu marido e o
subseqüente divórcio. Eu lhe perguntei que reação ela tivera, que se demonstrara negativa, improdutiva. "Eu fiz
tudo de espiritual que pude pensar, para tentar resolver a situação. Eu disse a meu marido: 'Vamos orar a este
respeito', e esperei um milagre. Citei versículos da Bíblia para ele — versículos que ele conhecia tão bem quanto
eu, pois ambos havíamos nascido em lares cristãos. Repeti todos os fatos e fórmulas cristãos apropriados. Então,
depois que toda a minha pregação não funcionou, mandei um oficial da igreja falar com ele, usar a sua 'mágica'
espiritual para com ele. Quando todas essas fórmulas espirituais só complicaram o problema, você começa
secretamente a perder a sua fé em Deus também."
"Que outras coisas de natureza não espiritual você foi tentada a fazer?" — perguntei.
"Bem, há a tendência de fazer com que o seu cônjuge fique sabendo que você ficaria destruída sem ele,
para que cresça o sentimento de culpa dele. E também você tem vontade de espioná-lo, de manipulá-lo, em uma
tentativa de separá-lo da 'outra' ou de intervir em um salvamento dramático." "Aprendi, o que foi duro" —
declarou Judy, com grande convicção — "que essa espécie de esforços não apenas falharam, mas também
pioraram a situação."
Estas cinco reações — ficar paralisado, autojustificar-se, dar-se por vencido, lutar e forçar — levam a um
beco sem saída. As reações negativas sempre fazem isso. Elas têm uma coisa em comum: propiciam ao cônjuge
um pouquinho de satisfação própria transitória, mas não contribuem para a solução do dilema. Apenas agravam
um assunto já por si delicado e inseguro.
Um pai pediu ao seu filho pequeno que desse graças à mesa.
Enquanto o restante da família observava, o garotinho fitou cada prato de comida que a mãe havia
preparado. Depois do exame, ele baixou a cabeça e orou sinceramente: "Senhor, não estou gostando do aspecto
da comida, mas te agradeço por ela, e vou comê-la assim mesmo. Amém." A reação certa em uma situação
difícil. De semelhantes circunstâncias tratará o capítulo seguinte.
CAPITULO 7
Desfazendo o Triângulo
Ainda estou para ver um casamento ameaçado pela intrusão de uma terceira pessoa em que cada um dos
parceiros não contribuiu para o triângulo.
Dra. Evelyn Miller Berger
SUSPEITA e a descoberta de um "caso" extraconjugal pode ser uma experiência emocional dolorosa.
Emoções de surpresa, choque, ira, medo, ódio e culpa vêm cascateando sobre você como as cataratas do Niágara.
Você fica confuso, e, em vez de as suas reações serem planejadas e positivas, são imprevisíveis e explosivas. O
sociólogo Lewis Yablonsky nota que, quando um "caso" é descoberto, os homens, provavelmente, manifestarão
justiça própria e ira, sendo menos provável que considerem o "caso" como ato contra eles, e tendem a agir. As
mulheres, provavelmente, se sentirão feridas; elas absorvem as notícias e ficam imaginando o que há de errado
com elas, reexaminam o relacionamento, e tendem, finalmente, a deixar a infidelidade passar.
Certamente é difícil pensar de maneira lógica e sensata quando o seu casamento, como o Titanic, chocou-
se com um "iceberg" e você sente que tudo aquilo pelo que viveu está soçobrando. Não é de admirar que as
nossas reações sejam, muitas vezes, frenéticas e impulsivas. É impossível sentar-se calmamente na cobertura do
navio que já começa a afundar, e elaborar uma estratégia para salvá-lo.
Todavia, há diferença entre o Titanic que está sendo levado rapidamente para o fundo do oceano e um
casamento profundamente atingido pelo adultério. O casamento é um relacionamento, e não um objeto. Os
relacionamentos não são desenvolvidos nem destruídos em um momento, como resultado de uma só experiência,
boa ou má. O crescimento, ou deterioração, é determinado por muitas experiências e por nossa reação a essas
experiências. Portanto, um esforço feito em momento de pânico não tem valor e é improdutivo. "Então, o seu
cônjuge prevaricou?", pergunta a conselheira Evelyn Miller Berger. "Isso não significa que a sua vida está
arruinada, que o objetivo de sua vida acabou; há algo que você pode fazer a respeito. Esse acontecimento pode
suscitar em você os seus recursos mais insuspeitos, mas, mesmo que você não consiga salvar o seu casamento,
pode haver para a sua vida um significado profundo, e, com sabedoria e paciência, quem sabe, você pode até
salvar o seu casamento."1 Um "caso" é realmente uma coisa muito complexa, e não cede por meio de soluções
simples, imediatas. Ele não começou da noite para o dia, e não será resolvido do dia para a noite. Podemos e
devemos desenvolver uma estratégia eficiente para nos havermos com esse problema, porque tanto a parte
enganada quanto a parte culpada estão mergulhadas em incertezas a respeito de como agir.
Eu isolei dez princípios práticos, que nos propiciarão uma compreensão melhor acerca de nós mesmos, do
problema e de suas soluções. Estes princípios ajudarão, quer o "caso" tenha sido apenas descoberto, quer já tenha
continuado por muito tempo. Mesmo para as pessoas que não estão sendo afetadas pessoalmente, de forma
alguma, por um "caso" extraconjugal no momento presente, estes princípios podem fazer parte de uma estratégia
para impedir a infidelidade. Eles não estão relacionados em qualquer ordem de importância ou seqüência, mas os
primeiros quatro, acredito, vêm antes dos últimos seis.
O Perdão É Possível
É possível para ambos os cônjuges: o infiel e o traído. O adultério não é um pecado sem perdão, como
parece que algumas pessoas pensam. A Bíblia não relaciona os pecados como se alguns deles fossem mais
hediondos do que os outros, e alguns mais facilmente perdoados. Alguns pecados causam mais danos do que
outros, e, em suas conseqüências, são de mais longo alcance. Paulo fala a respeito de como o adultério, de
maneira peculiar, afeta tão seriamente o corpo:
Fugi da prostituição. Qualquer outro pecado que o homem comete, é fora do corpo; mas o que se
prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que
habita em vós, o qual possuis da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por
preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.20
Mas todo pecado confessado pode ser perdoado. Nada é impossível para Deus. Depois de seu adultério
com Bate-Seba, Davi disse: "Confessei-te o meu pecado, e a minha iniqüidade não encobri. Disse eu:
Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a culpa do meu pecado." 21 Os pecados de
omissão, dentro do casamento — negligência, rejeição, egocentrismo, amargura — podem, por vezes, ser mais
corrosivos do que o adultério, e também precisam ser perdoados. Os pecados de temperamento precisam ser
confessados, tanto quanto os pecados da carne. Todo pecado é primordialmente cometido contra Deus, embora,
na infidelidade, muitas outras pessoas sejam feridas: os cônjuges de ambos os lados, as duas famílias, todos os
filhos. Visto que Deus criou cada um de nós, planejou o casamento e os relacionamentos familiares, e tem um
lindo plano para cada pessoa. Quando pecamos, rejeitamos o plano de Deus. Ele odeia o pecado, porque destrói
o homem que ele tanto ama, de forma que a confissão precisa ser primeiramente feita a ele. Davi enxergou esta
perspectiva: "Contra ti, contra ti somente, pequei, e fiz o que é mau diante dos teus olhos."22
O Perdão É Necessário
É essencial para a nossa saúde mental tanto quanto para a nossa saúde conjugal. Davi falou a respeito do
sentimento de culpa e do engano de seu "caso", e como ele o deixou seco por dentro. E finalmente a libertação:
"Como é feliz o homem cujos pecados Deus apagou e está livre de más intenções em seu coração! Eu tentei, por
algum tempo, esconder de mim mesmo o meu pecado. O resultado foi que fiquei muito fraco, gemendo de dor e
aflição o dia inteiro. De dia e de noite sentia a mão de Deus pesando sobre mim, fazendo com as minhas forças o
que a seca faz com um pequeno riacho. O sofrimento continuou até que admiti minha culpa e confessei a ti o
meu pecado. Pensei comigo mesmo: 'Confessarei ao Senhor como desobedeci às suas leis.' Quando confessei, tu
perdoaste meu terrível pecado."23
O Perdão E Difícil
Ele atinge o âmago de nossa justiça própria. Algumas vezes gostamos de nos sentir condenados.
Agarramo-nos às nossas feridas, desejando ainda empatar, nos vingando. Perdoar é abrir mão dos sentimentos de
vítima, e isso não é fácil. O nosso ódio próprio muitas vezes está no alicerce de nossa incapacidade de perdoar;
por não conseguirmos aceitar as nossas características humanas, não temos a capacidade de aceitar o nosso
cônjuge, que falhou. A nossa incapacidade de aceitar o amor limita a nossa capacidade de dá-lo. Sempre
julgamos os outros da maneira como nos julgamos a nós mesmos. Se não temos um amor-próprio sadio e não
nos consideramos valiosos, pessoas em estágio de crescimento, muitas vezes necessitando de perdão, não
conseguimos dar ao nosso cônjuge o que não podemos dar a nós mesmos. Só quando reconhecemos as nossas
deficiências é que estamos prontos para aceitar as imperfeições dos outros. Não podemos oferecer perdão, se
estamos num vácuo. Na medida em que recebemos e gozamos do amor de Deus e dos outros, aprendemos a
amar.
Precisamos deixar Deus nos amar. O que recebemos e experimentamos, podemos depois repartir. O
mesmo é verdadeiro em relação ao perdão. Quanto mais sou perdoado, mais perdoador me torno.
O Perdão É Oferecido
Gosto da maneira como o Pastor Wildeboer o expressa:
Da mesma forma como o perdão divino não depende do fato de o homem sentir-se perdoado, mas da
declaração de perdão feita por Deus, a ser aceita com base em sua Palavra, assim também cada cônjuge
precisa declarar que perdoa o outro e aceita o perdão do outro com base na palavra dele. Ambas as partes
precisam renovar a dedicação um ao outro, não apenas de maneira emocional, mas com uma declaração — e
com atos que confirmem as palavras... Eles precisarão dizer um ao outro o que, se são crentes, já disseram a
Deus: 'Eu lhe pertenço: coração, alma, mente e forças. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para ser fiel a
você. " Depois precisarão pôr em prática o amor um ao outro. Precisarão dar de si tanto quanto foram capazes
de dar e querer e esforçar-se para dar muito mais.2*
Este perdão pode ser a pedra angular de um casamento mais forte do que nunca. Há anos, li uma história
clássica de perdão excelente, que me comove outra vez, ao escrevê-la. A mulher a conservou trancada no coração
durante meio século, mas compartilhou-a com a "Dear Abby", para ajudar outras pessoas que se encontrem nas
mesmas condições:
Eu tinha vinte anos, e ele, vinte e seis. Fazia dois anos que estávamos casados, e eu nem sonhava que ele
pudesse ser infiel. A terrível verdade foi-me comunicada quando uma jovem viúva de uma fazenda vizinha me
veio dizer que o filho que ela estava esperando era de meu marido. O meu mundo veio abaixo. Eu queria
morrer. Lutei contra uma vontade imensa de matá-la. E a ele também.
Eu sabia que isso não resolveria o caso. Orei, pedindo forças e orientação. E elas vieram. Eu sabia que
precisava perdoar aquele homem, e o fiz. E perdoei a ela também. Calmamente contei ao meu marido o que
havia aprendido, e nós três juntos elaboramos uma solução. {Que criaturazinha amedrontada era ela!) O bebê
nasceu em minha casa. Todo mundo pensou que eu dera à luz, e que a minha vizinha estava me "ajudando". Na
verdade, era exatamente o contrário. Mas poupamos à viúva a humilhação {ela tinha mais três filhos), e o
garotinho foi criado como meu. E nunca ficou sabendo da verdade.
Teria sido esta a compensação divina para a minha incapacidade de gerar um filho? Não sei. Nunca
comentei este incidente com meu marido. Ele tem sido um capítulo fechado em nossas vidas durante cinqüenta
anos. Mas tenho lido nos olhos dele, milhares de vezes, o amor e a gratidão.26
CAPITULO 8
CAPÍTULO 9