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INFIDELIDADE CONJUGAL -

Causas, Prevenção e Soluções

Digitalizado por: karmitta


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Sumário
CAPÍTULO 1

Ainda Existe Alguém Fiel?


O que outrora era chamado de adultério e escondido como estigma de culpa e embaraço, agora é um
"caso" — uma palavra que soa bem, convidativa, envolta em mistério, fascínio e emoção.
POR QUE você não terminou a história?" — perguntou ele, apertando minha mão, ao despedir-se, depois
da sessão da manhã da conferência para homens. Eu havia contado a história de um homem cuja infidelidade
havia arruinado o seu casamento, causado um divórcio em outra família e deixado cicatrizes indeléveis na alma
de seus filhos.
"O que você quer dizer?" — perguntei.
"Petersen, tal história não termina costumeiramente em tragédia e frustração; muitas vezes é através de um
'caso' extraconjugal que uma pessoa encontra o verdadeiro amor e felicidade e alegria pela primeira vez.
Podemos almoçar juntos?"
No carro, indo para o restaurante, fiquei sabendo que esse homem franco, de meia-idade, era um pastor
que dirigia três pequenas igrejas naquela região. Embora casado com uma bela e talentosa mulher (em sua
própria descrição), ele estava profundamente envolvido com uma jovem pianista de uma de suas igrejas.
"Minha esposa é uma boa mulher, mas quando me casei com ela foi apenas uma decisão intelectual, e não
sabíamos o que era amor. O nosso casamento é sólido, mas não muito emocionante, e os nossos três filhos
adolescentes estão indo bem."
"Fale-me a respeito da pianista."
"Eu comecei a atender chamados pastorais na casa dela quando os filhos estavam na escola e o marido
trabalhando. Descobri que tínhamos afinidade em muitos sentidos, e que havia nela uma vivacidade que minha
esposa não possui. Gostei da maneira como eu agia e me sentia quando estava com ela. A primeira vez que
'fizemos amor' foi algo do outro mundo."
Com nervosa excitação em sua voz, ele continuou: "Ela é tão desinibida e satisfaz todas as fantasias
sexuais que já tive. Eu nunca havia me divertido muito em minha vida; nunca havia me sentido jovem,
romântico ou 'sexy'. Pela primeira vez descobri o que é o verdadeiro amor. Temos o direito de ser felizes, não é?
Qualquer coisa que seja boa assim tem que estar correta. Eu preferiria ir para o inferno com ela, do que para o
céu com minha esposa."
"Amor verdadeiro?" — perguntei.
"Certamente! Eu estou sempre pensando no melhor para ela. Eu jamais a feriria. Não poderia pensar em
'fazer amor' com ela enquanto ela estivesse menstruada ou quando estivesse nos dias férteis."
"Se isto é amor verdadeiro, porque você não se divorcia de sua esposa e se casa com ela?" — sugeri,
jocosamente.
"O quê? Você está brincando! Ora, isso seria errado. Eu não quero ferir minha esposa e destruir duas
famílias."

A Loura
Ela era uma mulher muito atraente: jovem e um tanto tímida. Eu me encontrara com ela depois da sessão
de uma conferência, e ela perguntara se eu tinha tempo para ouvir a sua história. impecavelmente vestida, o
cabelo bem penteado, ela parecia um modelo comparecendo a uma entrevista. Quando nos sentamos, ela teve
todo o cuidado com a sua postura. A posição de suas mãos e pés era tal, que presumi que ela era muito dona de si
ou havia sido treinada em uma escola de arte. Séria e pesando cuidadosamente cada palavra, ela falou de seu
casamento malogrado, que estava agora no limiar do colapso. Ela e seu marido haviam viajado oitenta
quilômetros, para participar daquela conferência.
A história desconcertante do casamento deles parecia focalizar-se em uma queixa: "Eu preciso tanto que
ele goste de mim. Preciso sentir que significo algo para ele. Eu daria tudo para que ele dissesse que sou
maravilhosa ou linda para ele. Não posso entender por que recebo cumprimentos de outras pessoas a respeito de
minha aparência e meus talentos e parece que ele não os nota de forma alguma."
"Você encontrou alguém que a encoraja e aprecia?" — perguntei. Ela hesitou, olhou para o assoalho e,
vacilante, balançou a cabeça afirmativamente.
"Fale-me a esse respeito" — continuei.
"Sei que isso está errado e sinto-me culpada, mas não sei o que fazer. Eu nunca pensei em ter um 'caso' —
de fato, este homem é o mais feio que conheço — mas aprendi a amá-lo. Da primeira vez que o vi, senti repulsa,
mas ele falou amável e compreensivamente; ele me aceitou, fez-me sentir mulher, importante e atraente, e me
deu o apoio emocional que eu tanto queria de meu marido. Finalmente esqueci a sua aparência, porque quando
alguém faz por você o que ele fez, você deseja dar-lhe de volta muito mais — tudo o que você tem."
A essa altura havia lágrimas em seus olhos, e ela exclamou: "Não posso suportar a idéia de desistir dele,
porque acho que meu marido jamais mudará."

O Executivo
Eu estava em meu quarto de hotel, esperando. Alguém bateu à porta. O homem que havia telefonado,
marcando um encontro, chegara. Ele era conhecido na cidade, tivera êxito nos negócios e era muito considerado
por sua capacidade de liderança e seu excelente casamento e família maravilhosa. Ele viera de sólidas origens,
fora educado em colégios evangélicos, era um líder em sua igreja e estava ativamente envolvido em muitos
empreendimentos cristãos.
Depois que trocamos algumas frases convencionais, ele sentou-se nervosamente em uma cadeira.
"Em que posso servi-lo?" — perguntei.
Por vários minutos, ele falou em termos gerais de problemas que são comuns ao homem: "Todos
enfrentam problemas... ninguém é perfeito... mesmo como crentes, freqüentemente lutamos com interrogações a
respeito do que ninguém sabe... algumas vezes há coisas aqui dentro que os outros não podem ver e acontecem
coisas que nos surpreendem..."
Senti o seu embaraço para chegar ao ponto difícil de revelar o objetivo de sua visita. Ele rodeou o
problema repetidamente, procurando algum indício de compreensão em meus olhos. Finalmente, em um esforço
para ajudá-lo, perguntei: "Por que você não me diz somente o nome dela e conta como tudo começou?"
"Então você sabe, não é?"
É claro que, a essa altura, eu sabia.
Ele descreveu as recentes desavenças que ele e a esposa estavam tendo a respeito dos filhos e como o seu
relacionamento havia se tornado tenso. Eles estavam pouco a pouco se afastando um do outro. Nesse mesmo
período de solidão, aparentemente ele foi lançado, de maneira inevitável, devido a atividades eclesiásticas, nos
braços de uma jovem e atraente mulher divorciada. Ela havia ficado frustrada com o ex-marido: "Ele era bronco,
parado, sem atrativos — bom, mas chato." As histórias dos dois eram como as peças de dois quebra-cabeças que
se ajustassem. Eles se encaixaram perfeitamente. Parecia que fora até algo providencial, algo que lhes acontecera
pelo destino. Eles se entendiam um ao outro, precisavam um do outro. Olhos se encontraram e mãos se tocaram
— contentamento, uma fagulha, uma chama, e, antes de perceberem o que estava acontecendo, eles estavam na
cama juntos.
Na ocasião em que ele veio conversar comigo, eles estavam tendo encontros freqüentes, e ele estava
lutando com os sentimentos de terror e fascínio — amor e um sentimento atormentador de culpa. "Eu sempre
achei que algo como isso não deve acontecer, mas quando acontece com você é diferente. Orei sinceramente
para que, se Deus não quisesse aquilo em nossas vidas, que tirasse os sentimentos que tenho por ela. Chegamos a
orar juntos. Orei neste sentido repetidamente, e ele não respondeu; portanto, deve significar que ele nos quer
juntos."
Em uma pequena cidade do centro-oeste, o culto terminou, e a igreja estava se tornando vazia e silenciosa.
Uma mulher, que retardara sua retirada, esgueirou-se até mim, e perguntou se eu podia conceder-lhe um
momento. Indo direto ao assunto, ela expressou fortemente a sua discordância com uma parte de minha
mensagem: — Você chama isso de adultério; eu o chamo de "um caso". Você o faz soar como a coisa pior do
mundo. Eu não estou envolvida com algum vagabundo sujo da rua. O meu homem é respeitado e tão bom quanto
qualquer outra pessoa desta igreja. Acontece ser este meu pecado corriqueiro e... qual é o seu? Você não é um
anjo, é?
Ela piscou para mim, e mergulhou na noite.
Estes são apenas quatro dentre as centenas de homens e mulheres que têm compartilhado comigo os seus
segredos maritais, durante os meus trinta e oito anos de ministério itinerante: esposas de pastores, missionários,
professores de Escolas Bíblicas Dominicais, conselheiros cristãos, membros de igrejas e líderes cristãos muito
ativos. Eles refletem a crescente incidência de casos extraconjugais entre crentes professos, revelam a ampla
gama de pessoas afetadas e a tendência de encontrar razões para apoiar esse procedimento, embora essas razões
possam ser contrárias às convicções morais e bíblicas que temos esposado há muito tempo.

NÃO É UM PROBLEMA NOVO


Infidelidade no contexto do casamento não é uma idéia nova. Não é um produto da chamada revolução
sexual ou da nova moralidade. Casos extraconjugais têm acontecido à humanidade durante milhares de anos.
"Quando os faraós governavam o Egito", sublinha o psiquiatra Alexander Wolf, de New York, "virtude,
continência e fidelidade matrimonial eram requeridos do marido, e a sua infidelidade era tratada com rigor." O
cineasta social Robert A. Harper declara que "regulamentos a respeito de relações extra-conjugais e violações
desses regulamentos estão certamente enterrados no passado pré-histórico do homem. Todas as culturas
conhecidas estabeleceram algumas limitações em relação às relações sexuais extraconjugais e alguns meios de
castigar as violações desses tabus designados."1 Em um estudo feito pelo antropólogo J. S. Brown, descobriu-se
que, dentre oitenta e oito sociedades, em várias partes do mundo, 89% desses grupos puniam os seus cidadãos
quando eram descobertos envolvidos em um caso extraconjugal. Em outro estudo, de cento e quarenta e oito
sociedades, os tabus contra casos extraconjugais apareciam em 81 % delas.2
Não obstante, uma conclamação à fidelidade na década de 80 é como uma voz solitária clamando no
deserto sexual de hoje em dia. O que outrora era rotulado de adultério, escondendo um estigma de culpa e
embaraço, agora é um "caso" — uma palavra que soa bem, convidativa, envolta em mistério, fascínio e emoção.
Um relacionamento, e não um pecado. O que outrora ficava por detrás dos bastidores — um segredo bem
guardado — está agora nas manchetes, é um tema da TV, faz sucesso, é tão comum como um resfriado. Os
casamentos são "abertos"; os divórcios, "criativos".
A promiscuidade sexual nunca foi o costume estabelecido em nenhuma sociedade humana, e, sim, sempre
considerada uma influência negativa sobre a família e a sociedade. Até a revista Playboy, que dificilmente
poderia se pensar seja dirigida a casamentos sólidos, descobriu, em uma pesquisa cuidadosamente realizada, que
a esmagadora maioria de homens e mulheres é contra o sexo extraconjugal para o povo em geral e para eles
próprios em particular.3
Dificilmente isto está de acordo com o pensamento do pai do "relatório sexual", Dr. Alfred Kinsey. Em
1953, ele disse que metade dos homens e um quarto das mulheres que entrevistou confessaram relações
extraconjugais. Desde então, todo autor que escreve a respeito do que o homem americano faz, se baseia,
freqüentemente, nesse relatório e faz elaborações a partir dele. Mas o relatório de Kinsey não foi exato. Na
verdade, ele não entrevistou homens que representassem toda a população americana. Pelo contrário, dos "5.000
homens (que ele entrevistou), uma parte exageradamente grande estava em prisões, hospitais de doenças
mentais, instituições para deficientes mentais, incluindo homossexuais".4 Dificilmente era este um grupo
representativo que fosse conhecido por sua saúde moral e mental estável.
Shere Hite, moderna pesquisadora de sexo, diz que as suas descobertas revelam que 66 % dos homens
(americanos) têm casos extraconjugais. McCalls (revista americana para a família) fez uma pesquisa que
discorda dessa porcentagem: ela indica apenas 16 %. Outras estatísticas de grande publicidade agora concordam
com Hite, indicando que dois, dentre três maridos, e quase uma, dentre duas esposas, foram infiéis em
determinada ocasião, durante as suas vidas.
Das cem mil mulheres que responderam à pesquisa do Redbook, em 1974, trinta, dentre cem — quase um
terço — haviam tido "casos" com outros homens. E, se uma mulher teve sexo pré-nupcial, era muito mais
provável que tivesse um "caso". Vinte e seis de cada grupo de trinta haviam tido sexo pré-nupcial.
Entre as esposas de trinta e cinco a trinta e nove anos de idade, 38 % haviam sido infiéis. Para as esposas
que trabalhavam fora, a porcentagem saltava para 47 % — quase a metade. Ã medida que mais esposas passam a
participar da força de trabalho, os "casos" crescem na mesma proporção. Não é de se admirar que alguns
sociólogos e pesquisadores de sexo predigam que futuramente a metade de todas as esposas americanas
experimentará sexo extraconjugal.
De acordo com o Redbook, é duas vezes mais provável que esposas sem religião tenham sexo com
homens que não sejam seus maridos do que as esposas que sejam cristãs autênticas.1

1 NOTA DO TRADUTOR: Ao traduzir, preferi colocar "cristãs autênticas" a "fortemente religiosas", porque no Brasil "religião", para muitos, inclui a
umbanda e o candomblé, que, de certa forma, encorajam o adultério.
Tudo isto, a despeito de outra pesquisa, que mostra que 86 por cento de todas as pessoas interrogadas
crêem que o sexo extraconjugal é sempre ou quase sempre errado. Outros 11 % acham que circunstâncias
especiais precisam ser consideradas. Menos de 3 % dizem que a infidelidade não é errada, de forma alguma. O
que afirmamos acreditar e a maneira como vivemos estão muitas vezes distantes como um pólo do outro.
Durante os recentes escândalos sexuais que abalaram o Congresso americano, o Dr. Sam Janus,
catedrático na Faculdade de Medicina de New York, disse: "Uma aposta vitoriosa seria de que metade dos
membros do Congresso se envolve em 'casos' fora do casamento,"5
Porém, seja qual for o número exato, a "esmagadora maioria" citada pela Playboy que é contra esses
"casos" certamente não controla os veículos de comunicação, o cinema ou a propaganda.
Sexo, sexo, sexo. A nossa cultura está chegando ao ponto de saturação total. A fossa está transbordando.
Livros, revistas, discos e filmes o proclamam incessantemente. A TV, o veículo de comunicação mais poderoso e
imediato, o proclama espalhafatosamente. O sexo está com tudo. Ele é o tema constante das novelas vespertinas
e das mesas redondas, o assunto inevitável das entrevistas com gente famosa. Todos os dias, o dia todo,
bombardeia-nos essa mensagem, como petardos vindos de um canhão de lavagem cerebral: "Consiga do sexo
tudo o que ele pode dar. De todo jeito. Em todo o tempo. Você só vive uma vez. Goze o que puder. Não deixe
passar a oportunidade. O amanhã não existe."
O estudo dirigido por Louis Harris, em 1978-79, recenseou 1.990 homens entre 18 e 49 anos de idade, e
chegou à conclusão de que "a ênfase crescente que os homens estão dando à auto-realização, ao prazer e a fazer
o que bem entendem está alterando dramaticamente o sistema americano tradicional de valores. Os valores auto-
orientados que estão surgindo representam um novo liberalismo pessoal. Não é uma forma do velho liberalismo
social. Ele se coloca à parte da distinção tradicional, conservadora-radical, baseada em problemas sociais e
econômicos. A sua preocupação é com a conduta da vida pessoal do homem."6
Traduza esta filosofia, e ela dirá: "A fidelidade está por fora; os "casos" é que estão por dentro. Se o seu
casamento não lhe propicia, em todo tempo, tudo o que você sempre esperou, sonhou ou imaginou, e deixa de
lhe proporcionar o constante prazer dos sentidos e a realização que você merece, encontre isso tudo em outro
lugar, desfrute de algum 'adultério sadio'. As pessoas são espíritos livres, e não devem ser restringidas. Não pode
haver regulamentos a respeito de relacionamentos."
"Adultério sadio" é exatamente a expressão usada pelo Dr. Albert Ellis, proeminente sexólogo. Ele
recomenda, aos casais cujo amor romântico feneceu em seu casamento, que o adultério pode ser uma coisa sadia
para rejuvenescer o seu relacionamento. Não faz sugestões acerca de como revigorar o relacionamento de dentro
para fora — como edificar o amor novamente. Somente dá uma resposta egocêntrica: pule fora; tenha um "caso".
Toda esta enxurrada pseudocientífica, pseudoliberada, a respeito da necessidade de sexo extra, tem feito
mais do que colocar casais na cama. Tem criado um clima social que tem gerado temor e silêncio. Os casados
fiéis são menos descontraídos do que os infiéis, como se a fidelidade, e não a infidelidade, fosse motivo de
vergonha, nesta sociedade obcecada pelo sexo. Uma jovem casada que trabalha me disse: "Eu trabalho em um
escritório com vinte e três outras esposas. Sou a única que ainda é fiel ao seu marido. Elas acham que sou
esquisita — perguntam-me qual é o meu problema.
A autora Eva Baguedor, em Is Ayone Faithful Anymore? (Ainda Existe Alguém Fiel?) fala a respeito de
mulheres fiéis que parecem autodepreciadoras. Elas protestam, como a desculpar-se: "Eu sou do século passado,
sou quadrada, sou chata, e não há nada interessante em sê-lo."
Uma esposa confessou: "Eu estava almoçando, na semana passada, com onze mulheres. Temos estudado
francês juntas desde que os nossos filhos estão na creche. Uma delas, a provocadora do grupo, perguntou:
'Quantas de vocês têm sido fiéis durante toda a sua vida de casadas?' Somente uma de nós, à mesa, levantou a
mão. Naquela noite o meu marido me olhou pesaroso quando contei-lhe que não fora eu.
" 'Mas eu tenho sido fiel'" — assegurei-lhe.
" 'Então, por que você não levantou a mão?'"
" 'Fiquei com vergonha."7
Isso é a mesma coisa que uma pessoa ficar com vergonha de sua saúde, durante uma epidemia, ou se
desculpar por sua vitalidade e energia, por ocasião de uma convenção de paraplégicos.
Embora o sexo extraconjugal esteja sendo apresentado como mais aceitável e seja mais disponível do que
nunca, os resultados são tão positivos como a promoção? Costumávamos falar a respeito do sentimento de culpa,
da dor, do extermínio do amor-próprio e do auto-engano, em enganarmos nosso cônjuge. Será que estas
ponderações desapareceram juntamente com a lâmpada a querosene, e a vida agora pode ser uma grande orgia
sexual, sem problemas, sem remorsos, sem reverberações?
Os médicos Alexander Lowen e Robert J. Levin fazem coro com um sonoro NÃO! Devido à incomum
percepção deles, os cito livremente.
Considere, por exemplo, um marido que está tendo relações sexuais com outra mulher. A sua atitude,
compartilhada por muitas pessoas em circunstâncias semelhantes, é de que sexo e amor são duas coisas
diferentes, e que ele tem o direito de desfrutar do sexo da mesma forma como de qualquer um dos prazeres
físicos da vida. Mas que ele ama e respeita a esposa; dá valor ao seu casamento; gosta demais de seus filhos.
No modo de ver dele, a sua responsabilidade está em proteger a sua família de qualquer conhecimento de suas
infidelidades. E assim, argumenta ele, a sua esposa não perde nada. Ela pode até ganhar, porque ele volta para
ela um homem mais amoroso e relaxado. E assim, em nome do amor, ele a engana.
Há pelo menos três maneiras de a infidelidade poder ser desastrosa para o futuro de qualquer casamento.
Primeira, ela inevitavelmente causa dor ao outro cônjuge. Um casamento existe quando um homem e uma
mulher estão ligados não pela lei, mas pelo amor, e assumiram o compromisso livre de aceitar responsabilidade
um pelo outro, fortificados pelo sentimento de dedicação completa, que se estende do presente até o futuro.
Virtualmente, todos os casamentos assim começam com fé ou confiança — o que quer dizer que, quando um
homem e uma mulher confiam-se um ao outro, fazem-no crendo que nenhum deles jamais tentará ferir o outro,
que cada um deles contribuirá para a felicidade do outro e que, juntos, eles procurarão se realizar.
A primeira transgressão dessa fé, ou confiança, a infidelidade básica, precede qualquer ato de relações
extraconjugais. Acontece quando um cônjuge decide afastar-se de seu companheiro, em busca de intimidade ou
realização, e mantém esta decisão em segredo. Esta é a verdadeira traição da confiança. Um homem não pode
ou não quer falar com sua esposa a respeito de assuntos que o interessam profundamente, e então discute essas
preocupações com outra mulher, de cuja companhia gosta. Ele precisa conservar esse relacionamento em
segredo, porque a esposa ficaria ferida se ficasse sabendo da verdade, e isto, por sua vez, reforça a separação
de ambos.
E, também, o marido sexualmente infiel precisa devotar tempo e dinheiro, tanto quanto energia física e
emocional à outra mulher. Seja o que for que ele lhe der, na verdade, ele o precisa tirar de sua esposa. Isto
significa que a esposa está pagando pelos prazeres dele.
Segunda, a infidelidade mascara o verdadeiro problema. Seja até que ponto for que a infidelidade alivie
temporariamente os sintomas superficiais de descontentamento em um marido ou esposa — tais como o de se
sentirem sem atrativos ou não serem apreciados — ela encobre a verdadeira doença e permite que se agrave.
Ao invés de procurar uma confrontação honesta, com todos os seus riscos e possibilidades, ambos aceitam o ato
desonesto da infidelidade — em muitos casos, um ativamente e o outro passivamente. Angustiados pelo
pensamento de uma separação ou divórcio, eles fingem ser fiéis, enquanto buscam satisfação fora do
casamento.
Muitas vezes é o membro mais sadio e mais forte do casamento que encontra realização em outros
lugares, e então pede o divórcio. Esta situação deixa o outro cônjuge com um sentimento de desamparo e em
uma posição muito pior do que se tivesse havido uma confrontação.
Terceira, ela é destruidora do ego. O cônjuge infiel que finge que, conservando em segredo os seus
"casos", protege a esposa e salvaguarda o seu casamento, labora no mais profundo engano de todos: o engano
próprio. Visto que o uso do engano transforma a pessoa contra quem ele é usado em adversária. Uma pessoa
auto-enganada torna-se, obviamente, o seu próprio inimigo, o pior deles.
Como acontece com todas as criaturas vivas, procuramos espontaneamente o prazer, e fugimos da dor.
Dizer a verdade é uma forma de procurar o prazer da intimidade, como os que se amam bem o sabem. Pregar
uma mentira é uma tentativa de evitar castigo e dor. Por conseguinte, é natural desejar falar a verdade em
situações normais e mentir em situações de perigo.
E quando achamos que precisamos mentir a alguém que confia em nós e a quem amamos que caímos na
armadilha do que os psicólogos chamam de laço duplo. Seja o que for que fizermos, perderemos. £ isto que um
marido infiel enfrenta quando volta para casa, para uma esposa que ele ama genuinamente. Ele quer restaurar
o seu senso de proximidade com ela, mas sabe que não pode contar-lhe o que fez. E então ele mente.
Contudo, esta mentira tem um efeito de bumerangue. 2 Ao invés de aproximá-lo de sua esposa, ela o faz
sentir-se muito mais distante dela. A mentira que o poupara da ira e rejeição dela, trouxe consigo uma dor
caracteristicamente sua. Em tais situações, quanto mais forte for o desejo de uma pessoa de se aproximar de
quem ela está enganando, maior será a dor decorrente da mentira que os divide.
Contudo, a pessoa que não se importa muito com nada nem com ninguém pode, ajustando a sua idéia de
amor de forma a adequar-se às suas necessidades, dizer tanto à esposa como à amante que as ama, e crer nisso.
As mentiras são inconscientes, e, portanto, não marcadas pela dor. Este é o ato final do auto-engano. Em vez de
resolver o conflito, ele o perpetua; a pessoa que se engana vive uma mentira; está doente, e não sente a febre.8
Assim, a dor se manifesta, atingindo todas as pessoas envolvidas. Há algo de destruidor em um "caso": ele
destrói a integridade intrínseca do indivíduo, o amor-próprio do cônjuge e a possibilidade de intimidade, e
repercute através das gerações futuras, afetando os nossos filhos e os deles. Os melões roubados e comidos em
segredo, na verdade, são venenosos.
A lei da colheita permanece inexorável. Os homens se arrebentam contra ela, porém ela nunca se desfaz.
"Não vos iludais; de Deus não se zomba. O que o homem semear, isso colherá: quem semear na sua carne, da
carne colherá corrupção; quem semear no espírito, do espírito colherá a vida eterna."9
Os doutores Lowen e Levin concluem:
O alvo final está além de falar a verdade para si mesmo. Consiste em ser fiel a si mesmo. A pessoa que é
fiel a si mesma não pode viver feliz, a não ser que os cordões gêmeos de sexo e amor sejam trançados em sua
vida. Pelo fato de ser uma pessoa indivisa, ela procura ser fiel à mulher que ama. A sua fidelidade é filha do
amor, e não do medo; é motivada por escolha, e não pelo acaso; provém do desejo satisfeito, e não de
sentimentos extintos.

CAPITULO 2

Romance na Cumeeira
Nenhum bom crente, ou boa crente, se levanta de manhã cedo, olha pela janela, e diz: "Puxa, que dia
bonito! Acho que vou sair por aí e cometer adultério. " Não obstante, há muitos que o fazem.
Florence Littauer
ELA era uma mulher extremamente bela, de dezenove anos, casada havia quatro anos, sem filhos. Agora,
havia alguns meses, o seu marido, de meia-idade, estava fora da cidade, a serviço militar. Uma noite de
primavera, já bem tarde, ela estava se preparando para dormir. Despiu-se para o banho. O seu cabelo longo,
lustroso, negro, caiu suavemente ao redor de sua face e de seu corpo — um quadro de beleza caracteristicamente
feminina. A lua brilhou sobre ela, iluminando as suas formas esculturais. Ela terminou o seu ritual vespertino
particular da higiene pessoal.
Roberta Kells Dorr descreve, em cores vivas, esta cena em sua novela David and Bathseba:
Bate-Seba tirou a roupa e entrou na bacia de alabastro que a sua serva Sara havia enchido com água
morna. Ela permaneceu nua na bacia, enquanto a sua serva enchia uma cuia de água e a derramava sobre ela.
Bate-Seba levantou-se sem embaraço, embora não tivesse nada para cobrir a sua nudez. Sem que ela o
soubesse, os olhos de um homem a estavam observando e... normalmente ele teria olhado para outro lado, mas
foi tudo tão inesperado e era tão lindo, que ele continuou a olhar. Em crescente admiração, ele absorveu-se na
beleza dela, vista apenas parcialmente através das folhas secas de palmeira. O cabelo dela caía em cachos
úmidos sobre os seus seios redondos, e a sua cintura minúscula acentuava a agradável curva de seus quadris.
Enquanto ele olhava, ela saiu da bacia, e, com brusco movimento da cabeça, jogou os cabelos para trás,
tornando visível a curva de suas costas. Ele reconheceu que nunca tinha visto algo tão belo ou tão gracioso em
sua vida.'
Uma batida suave na sua porta mudou totalmente os seus planos para o resto daquela noite e o resto de sua
vida.

2 NOTA DO TRADUTOR: Bumerangue é uma arma usada pelos aborígenes neozelandeses, em forma de L, que, quando atirada, volta à mão do atirador.
"Efeito de bumerangue" é o que atinge o autor do processo.
Um "caso" extraconjugal. Como ele começa; o que faz com que ele continue; quais são as suas
características; e quem são, ao mesmo tempo, os seus perpetradores e as suas vítimas?
A Bíblia nunca encobre ou omite as falhas humanas. Deus não escreve biografias humanas como um pai
"coruja". As falhas e loucuras dos líderes que ele escolheu são identificadas tão claramente quanto os seus
sucessos. Ele não encobre os defeitos deles. As histórias desses líderes mostram que as tentações hodiernas são
tão antigas quanto o homem e que o fracasso faz parte de cada um de nós. Mas, indubitavelmente, cada caso de
infidelidade conjugal é diferente em muitos detalhes: o contexto geográfico, social e familiar — a idade, as
atitudes e os antecedentes das pessoas envolvidas. Mas os elementos básicos são os mesmos, especialmente entre
crentes professos. E o caso de Davi e Bate-Seba é tão moderno quanto uma novela de TV.

AS CIRCUNSTÂNCIAS
Aquele dia de primavera era comum em todos os sentidos. Não há nada no registro bíblico que indique
que havia algo de inusitado nas atividades ou na atmosfera daquele dia. Os mercadores apregoavam as suas
mercadorias, como haviam feito havia séculos; as crianças brincavam nas ruelas da velha cidade, e as sinagogas
ressoavam com as orações do povo, repetidas sem parar. Israel acabara de atravessar uma série de batalhas
contra os sírios, e estava gozando os frutos de suas vitórias. Reinavam paz e prosperidade. Davi, procurando
alargar os limites de seu reino, havia enviado os seus exércitos para enfrentar e destruir os amonitas. Quanto ao
mais, tudo corria como de costume. Qualquer coisa que pudesse fazer com que aquela velha cidade vibrasse e
que as suas tradições seculares prosperassem não estava sendo perturbada.
Ninguém suspeitava de algo desastroso naquele dia comum, e muito menos Davi e Bate-Seba. Nada
indicava a terrível cadeia de eventos desencadeada naquele dia: adultério, gravidez, engano, homicídio, tragédia
familiar e juízo divino. Tudo isso num dia como outro qualquer.
"Eu nunca pensei que isto poderia acontecer-nos", soluçou uma esposa de pastor, em meu escritório. "As
coisas pareciam estar correndo tão bem, tudo era normal, não havia sinais de perigo — naquela época a nossa
igreja estava crescendo — e foi tão inesperado, tão chocante. O meu marido requereu divórcio, abandonou o
pastorado e juntou-se a essa mulher leviana que já se divorciara três vezes."
"Tudo bem", "normal", "nenhum sinal", "igreja crescendo", "inesperado". Estas não são palavras de
surpresa. Tudo parece bem. Não há razões para se suspeitar de uma tragédia. O trabalho está indo bem. Deus
parece estar operando. A família está em paz. E então, sem nenhum sinal de advertência... a bomba!
José, com cerca de vinte anos de idade, tinha grande responsabilidade na casa de Potifar. Ele gerenciava
todos os assuntos domésticos de seu patrão e todos os seus negócios. Tudo estava correndo normalmente: as
plantações produzindo, os rebanhos se multiplicando. Aquele simpático jovem administrava tudo sem percalços.
Deus o fazia prosperar.
E então, um dia — em nada especial — enquanto ele estava "cuidando de seu trabalho", uma mulher
começou a olhá-lo de maneira significativa, sugerindo sedutoramente: "José, venha dormir comigo!"
Ao se levantar naquela manhã, José nunca sonharia que naquele dia — outro dia normal de trabalho — ele
receberia um convite apaixonado para um "caso", sofreria chantagem e seria levado para a prisão.
Eu também não tinha suspeitas. Eu acabara de chegar a uma cidade de Michigan, para começar uma série
de reuniões na igreja, naquele domingo. Era uma comunidade pequena, insípida, um povo comum, sem
sofisticação. Naquela noite de sábado, na recepção de apresentação, uma senhora da igreja sentou-se ao meu
lado. Ela estava longe de ser cativante ou bonita. Uma simples Maria: não tinha personalidade cintilante, era um
pouco gorda, um tipo de dona-de-casa comum.
Durante um momento trocamos cumprimentos. Em seguida, de maneira trivial, ela me estendeu um
pedaço de papel com o seu endereço e número de telefone.
"Pensei que você poderá sentir-se solitário, enquanto estiver aqui. Se quiser passar por lá uma destas
tardes, telefone-me. O meu marido estará ausente a semana inteira, trabalhando em Detroit. O último orador que
tivemos aqui na igreja visitou-me várias vezes; acho que você vai gostar de ir também." Nada sutil ou
expressivo, astuto ou pudico, mas casual como oferecer-se um copo de água, e aparentemente, sem maiores
conseqüências.
Os "casos" não começam com o piscar de luzes vermelhas de advertência. O dia não começa com nuvens
negras e agourentas, avisos de furacão, uma intranqüilidade interior ou uma voz do céu que diz: "Reforce as suas
defesas; a tentação está se aproximando." O furacão que destruiu o prédio em que estava o meu escritório, há
vários anos atrás, apresentou-se inesperadamente, em um belo dia de primavera, veio rugindo como um avião a
jato, e deixou tudo torcido, quebrado e em frangalhos. E a primavera continuou. Assim também vem a tentação.
Quando? Em um dia como os outros.

OS CARACTERES
Creio que aquele "caso" aconteceu quase como uma surpresa, tanto para Davi como para Bate-Seba.
Nenhum dos dois planejara aquilo uma hora antes de acontecer. Não foi o resultado de um namoro ou de uma
cumplicidade voluptuosa. Davi era um homem segundo o coração de Deus, e Bate-Seba, uma esposa fiel ao seu
marido, corajoso e patriota. Davi estava vindo de um período de prosperidade e fama. Em numerosas batalhas
ele fora vitorioso; ele havia destruído oitenta e sete mil inimigos e capturado vinte e dois mil. E todas essas
vitórias eram confirmação da presença de Deus com ele e da promessa de Deus de lhe dar uma dinastia perene.
"E o Senhor ia concedendo vitórias a Davi por onde quer que ele passasse."2
Haviam acabado de ser pronunciadas as promessas de Deus: "Eu escolhi você... tenho estado com você...
Você será contado entre os homens mais famosos do mundo! ... A família de Davi governará o meu povo para
sempre." E Davi respondera com esfuziantes agradecimentos: "Õ Senhor Deus! por que derramou suas bênçãos
justamente sobre este teu servo de família tão insignificante?... Essa bondade está longe da compreensão
humana!... Toda a honra seja dada ao Senhor... Pois o Senhor é Deus, e verdadeiras são suas palavras."3
Pouco antes ele saíra de sua rotina, para cumprir os seus votos a Jônatas, e havia restaurado, aos herdeiros
dele, toda a terra anteriormente de propriedade de Saul. O filho aleijado de Jônatas fora convidado a morar no
palácio, como membro da própria família de Davi. Sem nenhum acanhamento, Davi dançara diante da Arca do
Senhor, à vista de toda a cidade, celebrando louvores a Deus. "Não me importa que aos seus olhos eu não seja
bem-visto: continuarei dançando, em louvor ao Senhor", disse ele.4 "Davi foi um rei justo e estimado por todo o
povo de Israel."5 Portanto, aqui está Davi, um homem de grande coragem, generosidade e bondade, justo e reto
em seus atos, dedicado a Deus e cheio de louvor e ação de graças. Dificilmente poderia ser considerado
candidato a um desastre pessoal.

INOCENTE
Segundo todas as aparências, tanto Davi como Bate-Seba estavam inocentes. Nenhum dos dois se
envolveu em qualquer atividade que pudesse ser interpretada como encorajadora de infidelidade ou transigência
para com o pecado. Bate-Seba ocupou-se com a inocente tarefa de tomar um banho vespertino. Nada há de
sensual nisso. Ela não estava expondo os seus encantos femininos com o intuito de seduzir. Não era uma
prostituta barata nem uma sedutora cortesã; e também não era uma sereia ardente e ardilosa. Simplesmente uma
esposa fiel preparando-se para uma noite de sono.
E Davi? Provavelmente com trinta e nove anos de idade, ele não era um homem sexualmente frustrado,
um macho inquieto, a espreitar nas sombras da noite. E também ele não era um homem sexualmente faminto,
rondando como um animal no cio. Nessa época, ele tinha já mais de sete esposas e várias concubinas à sua
disposição. Ele já gerara dezessete filhos. Assim sendo, dificilmente se poderia dizer que estava procurando uma
nova conquista sexual para evidenciar a sua virilidade. Ele experimentara o que qualquer um pode experimentar
de vez em quando: uma noite insone. Eu tenho tido muitas. Você também. Uma noite em que os pensamentos
parecem correr e pular como cabritos selvagens, recusando-se a se acalmarem. Talvez ele estivesse pensando em
suas tropas que estavam sitiando a cidade de Rabá. Ou em algum outro problema de Estado.
Mas ainda não era tarde quando Davi levantou-se da cama e foi dar uma volta no terraço do palácio —
para analisar o seu problema, para resolver a sua luta contra a insônia. Desinteressadamente, ele olhou em várias
direções, notando que a cidade estava dormindo melhor do que ele. Ali perto, os seus olhos foram atraídos por
uma pequena luz, que se filtrava através de postigos parcialmente fechados. Ele olhou rapidamente uma vez,
duas — depois os seus olhos se fixaram ali. Uma bela jovem estava tomando o seu banho vespertino. Até esse
ponto, tudo era inocente e ninguém deve ser culpado.

CONQUISTA
As circunstâncias não fazem um homem: elas o revelam. Ã semelhança dos saquinhos de chá, a nossa
verdadeira força se manifesta quando somos imersos em água quente. Não há nada de errado em acontecer de se
ver uma bela mulher tomando banho. Nada de errado em se reconhecer a sua atração física e encanto dados por
Deus. Nada de errado com um rápido e involuntário pulsar do coração, uma onda de sangue viril, uma
exclamação silenciosa:
"Puxa!" Mas agora começa a luta, a luta com as suas fantasias, a sua carne, a sua fé e o seu futuro.
Davi conhecia bem a lei de Deus e a sua proibição do adultério. Ele sabia que, de acordo com a lei, uma
mulher que fosse comprovadamente adúltera podia ser apedrejada. Na mocidade, ele decorara: "Não cobiçarás a
mulher de teu próximo." E, sem dúvida, esta não era a primeira tentação desse tipo que ele sentia. Como jovem
forte, sadio, no palácio do rei, admirado pelas; moças do reino, ele tivera o seu quinhão de seduções e
oportunidades. Mas isso era diferente — ou não? Os seus pensamentos corriam de forma selvagem, desenfreada.
"Mais bonita do que qualquer de minhas esposas. Tão jovem, fremente, convidativa; ela me excita. Tenho
sofrido muita pressão; mereço um pouco de relaxamento. Tenho guardado a lei de Deus por muito tempo; uma
pequena infração não é nada sério demais. De fato, pode ser que Deus me fez andar aqui fora esta noite para que
pudéssemos estar juntos. Talvez este seja o objetivo de uma noite insone, e só uma vez... um ato... não um 'caso'
prolongado. A coisa não precisa passar desta noite. E ninguém ficará sabendo; eu tomarei providências neste
sentido." E pergunta ao seu servo: "Quem é aquela moça? A casa é de quem? Preciso saber."
Nenhuma hesitação, nenhuma espera, consideração, medição de conseqüências, desistência. Ele não
conseguia ver além daquele momento; fora cegado pela paixão. Um fusível começava a despedir fagulhas. Ele já
podia vê-la em seus braços.
"Ela é Bate-Seba, a esposa de Urias" — informa o servo.
Davi murmura: "E Urias está ausente, na guerra. Tudo se encaixa tão bem. Urias é um grande soldado,
mas provavelmente não é muito bom marido ou amante — tão mais velho do que ela — e ficará ausente por
muito tempo. Esta jovem precisa de um pouco de conforto, em sua solidão. Esta é uma forma em que a posso
ajudar. Ninguém ficará ferido. Eu não tenciono nada de errado com isto. Não é concupiscência — que já senti
muitas vezes. É amor. Não é a mesma coisa que achar uma prostituta na rua. Deus sabe." E ordena ao servo:
"Traze-a para mim."
Evidentemente, Davi não pensou muito. O que ele vira incendiou a sua imaginação, e, em menos tempo
do que leva para contar o que aconteceu, ele estava alimentando uma fantasia, que se tornou uma obsessão. Ele
fora arrastado pelos seus próprios desejos; aqueles desejos conceberam, e ele estava prenhe de pecado antes de
Bate-Seba chegar ao aposento real e ficar grávida.5 A tentação apela para o desejo, o desejo cria a fantasia, a
fantasia incendeia os sentimentos, e os sentimentos clamam por ação.

O OCULTAMENTO
Durante vários dias — provavelmente semanas — as coisas continuaram como antes. Muitas vezes Davi
relembrou aquela noite memorável, embora ele e Bate-Seba tivessem jurado guardar segredo e não tivessem
planejado nenhum outro encontro. Era uma recordação particular deles, trancada só em dois corações. Dentro de
um mês ou dois os sinais: a ausência de um período menstrual, tontura matinal, náuseas... e o segredo foi
exposto. "Estou grávida".
Desde a época e o exemplo de Adão, o homem, instintivamente, procura encobrir os seus rastros, "porque
os seus atos são maus".7 Watergate não foi nada de novo. O que se pretendia fosse um prazer clandestino e
passageiro — um ato — agora requer a minuciosa estratégia do engano — uma atitude. O fato de ter vivido uma
mentira uma noite, se não for confessado completamente, requer muitas mentiras para encobri-lo.
E a pessoa que tem reputação de integridade agora recorre a todo tipo de engano concebível para salvar a
sua pele. Viver uma mentira torna fácil o desencadeamento de outras mentiras; de fato, elas se tornam
necessárias. "Este é o primeiro segredo que escondi de minha esposa em dezoito anos", confessou um esposo
infiel. "Eu me sinto um miserável, tendo que inventar tantas mentiras, visto que nunca fiz isso antes." A
estratégia é sempre a mesma. As táticas, imemoráveis: proteja-se, culpe os outros, elimine as evidências. Através
dos séculos, o homem ainda não inventou maneiras novas de se esconder.
E também o crente bem doutrinado que prefere ocultar em vez de confessar conta as mesmas histórias
enganosas, tanto quanto o galanteador que nunca ouviu falar da graça de Deus. Um Davi — homem segundo o
coração de Deus — torna-se ardiloso, traiçoeiro, implacável e sem consciência.
Em um golpe de mestre, de desígnio maligno, Davi passou rapidamente e decisivamente a fazer as três
coisas ao mesmo tempo: Tragam Urias da guerra, façam-no dormir com Bate-Seba uma noite ou duas e
mandem-no de volta à batalha. Urias gostaria muito desse descanso; ele e todo mundo creria que o bebê era dele
e Davi estaria completamente livre do alçapão, livre do escarmento, da culpa e da responsabilidade. Um plano
engenhoso! A verdade seria sepultada na ignorância de Urias. E teria funcionado sem empecilhos, se Urias e
Deus tivessem cooperado. Davi não contou com a integridade de seu soldado nem com a discordância de Deus.
Urias chegou ao palácio por ordem do rei, fez um relatório da batalha e recebeu ordens de ir para casa e
descansar aquela noite. Presentes de comida e vinho foram mandados adiante dele, para indicar que Davi se
alegrava com ele e para preparar o palco para uma noite agradável. Mas aquele homem era um soldado na plena
acepção da palavra, e, embora possivelmente não sentisse nenhum motivo oculto da parte de Davi, não se podia
permitir descansar e desfrutar de sua esposa enquanto os seus colegas oficiais estavam aquartelados no campo,
em uma zona de batalha. Ele dormiu na casa da guarda do palácio.
Com decisão e ira crescentes, Davi o enviou ao segundo estágio. "Se eu o embriagar, poderemos fazer
com que ele entre em sua casa, e então ele desejará Bate-Seba. Mesmo que ele não durma com ela, estará bêbado
demais para lembrar-se do que aconteceu, e assim tudo estará bem. Mas Urias, embora inteiramente bêbado,
dormiu outra noite com os guardas.
Toda a consideração por esse soldado leal estava se transformando em medo e ressentimento. "Então ele
precisa ser tirado da cena. Se isto significa que eu estou me voltando contra os que me amam e me servem, que
se saiba que os meus amigos podem ser sacrificados. É assim que as coisas são, às vezes. Eu sacrificarei
qualquer pessoa — qualquer relacionamento — para me proteger e manter a verdade amordaçada.
"Ponde Urias na frente onde for mais renhida a peleja, e retirai-vos dele, para que seja ferido e morra." 8
Ele enterrou o seu pecado no túmulo de Urias. Um "caso" extraconjugal que tem continuidade sempre necessita
de sacrifício. O sacrifício egoístico do amor, da lealdade, dos relacionamentos, do respeito, da integridade, da
consciência — e da comunhão com Deus. "Mas isto que Davi fez desagradou ao Senhor."9
A noite de prazer que Davi gozara tornou-se um pesadelo de dor. O seu filho morreu. A sua bela filha,
Tamar, foi violentada pelo seu meio-irmão Amnom. Amnom foi morto pelo seu irmão mais velho, Absalão.
Absalão foi separado de Davi durante três anos, e voltou para formar uma conspiração contra o pai. Quando
finalmente Absalão foi morto, em uma emboscada, Davi rompeu em pranto e soluçou: "Meu filho Absalão, meu
filho, meu filho Absalão."10
O que modifica um homem de Deus, de forma que ele se torne velhaco, sinistro, destruidor de tudo o que
ele e as outras pessoas prezam? O que transforma o terno e sensível amor de um homem a Deus em uma
determinação dura, implacável, de agir à sua própria maneira? As lições da experiência de Davi são óbvias, e se
aplicam a todos nós. Sublinhe-as em sua mente e em seu coração.
1. Ninguém, embora escolhido, abençoado e usado por Deus, está imune a um "caso" extraconjugal.
2. Qualquer pessoa, a despeito de quantas vitórias tenha tido, pode cair desastrosamente.
3. O ato de infidelidade é o resultado de desejos, pensamentos e fantasias descontrolados.
4. O seu corpo é seu servo; se não o for, torna-se seu senhor.
5. O crente que cair vai desculpar-se, racionalizar e encobri-lo, quanto qualquer outra pessoa.
6. O pecado pode ser agradável, mas nunca ser oculto de maneira eficaz.
7. Uma noite de paixão pode desencadear anos de dor para a família.
8. O fracasso não é nem fatal nem final.
Todas estas lições serão abordadas nos próximos capítulos.

CAPITULO 3

Por Que os Cônjuges Se Traem?


O "caso"é um sinal da necessidade de ajuda; uma tentativa para compensar as deficiências que há no
relacionamento, devidas à tensão circunstancial — um aviso de que alguém está sofrendo.
Susan Squire
AS COISAS não acontecem simplesmente. Toda ação tem uma causa. As ações não surgem
espontaneamente do nada. Há fatores que contribuem, forças que pressionam e razões pessoais sob a superfície.
Os ramos têm de ter raízes. E, embora as raízes raramente sejam vistas, elas determinam o tamanho e o caráter
dos ramos.
Se um casamento é vibrante e se desenvolve, é porque há razões para isso. O crescimento não é
espontâneo, imperceptível e sem causa. Os relacionamentos não vicejam, se forem negligenciados ou se deles se
fizer uso inadequado. E, embora os cônjuges possam não ser capazes de articular de modo correto tudo o que
fazem, não obstante, estão fazendo algumas coisas certas.
O fracasso de um casamento acontece da mesma forma. Quando um cônjuge se envolve em um "caso" —
uma aventura de uma noite ou um relacionamento prolongado — há razões. Nem a parte culpada nem a inocente
podem entender plenamente essas razões ou descrevê-las exatamente. Pode ser que não saibam quais são as suas
mais profundas dimensões psicológicas, emocionais, físicas e espirituais, e o que pode parecer uma razão válida
para um, pode parecer uma desculpa para o outro.
O "caso" é um sinal da necessidade de ajuda — uma tentativa de compensar as deficiências existentes no
relacionamento, um sinal de compensar as deficiências existentes no relacionamento, um sinal de advertência de
que alguém está sofrendo. Linda Wolfe o resume: "Ser infiel é um sintoma, e não uma síndrome. Algo está
errado no casamento deles ou em sua capacidade de ter intimidade com outro ser humano, da mesma forma que
uma febre é manifestação de uma infecção. Os 'casos' extraconjugais servem como indicador de disfunção no
casamento."1
As causas da infidelidade conjugal variam tanto quanto as personalidades envolvidas, mas creio que todas
podem ser consideradas, enquadrando — se em uma destas três categorias gerais: imaturidade emocional,
conflitos sem solução ou necessidades não satisfeitas.

IMATURIDADE EMOCIONAL
A adolescência é geralmente temida pelos pais, da mesma forma como teme as doenças da infância;
esperam que os seus filhos não sejam adolescentes difíceis e que não haja traumas permanentes.
Muita vezes ela é um período traumático, acarretando a mudança de relacionamentos, agonizante pressão
dos colegas e interrogações a respeito da identidade e do futuro do adolescente. Esse período não deve ser
permanente, mas geralmente é uma ponte da dependência da infância para a interdependência do adulto. Esses
anos de transição muitas vezes são marcados por imaturidade, rebeldia, volubilidade, dúvidas quanto a si mesmo
e experimentação. Infelizmente, algumas pessoas que já têm quarenta ou cinqüenta anos de idade ainda são
adolescentes quanto ao seu comportamento. Em vez de o casamento ser a nossa última chance de crescermos, de
acordo com Joseph Barth, ele torna-se um refletor de nossas imaturidades perpétuas.
Consideremos o meu amigo Joe. Casado há três anos — dois filhos. Durante os anos em que estava
namorando, ele gostava de pensar acerca de si mesmo como um presente de Deus para as garotas, e mudava de
uma namorada para outra. Másculo e simpático, ele tinha um sorriso matreiro e maneiras confiantes que faziam
dele um encanto. Forçado a casar-se devido à inesperada gravidez da sua namorada, ele queria ser fiel, mas ainda
tinha olhos irrequietos. De acordo com ele, sua esposa era tudo o que uma esposa pode ser: vivaz, sexualmente
estimulante, altruísta, e, como ele, crente. Mas, em sua mente, ele era ainda o adolescente sem peias, namorador.
"Na verdade, eu não sou homem de uma só mulher", jactou-se ele, com um piscar de olhos.
à época em que ele e a esposa vieram a mim, ele estava tendo almoços de negócios em pontos de
encontro, tomando lanches em casas de má fama e visitando uma garota periodicamente. Ele estava vacilando
entre o desejo de manter um casamento bem estabelecido e os seus apetites de adolescente flutuantes.
Dúvidas quanto a si mesmo podem armar o palco para a infidelidade conjugal. Lembro-me bem de Jorge.
Ele veio de uma família de grandes realizadores: o seu pai estava no topo da pirâmide gerencial, e sua mãe era
calorosa, extrovertida, tendo muitos amigos. Os seus irmãos e irmãs eram agressivos, confiantes, e todos ativos
na igreja. Quando menino, ele lutara com grandes expectativas e comparações, especialmente com os seus
irmãos, e sentia, secretamente, que não era tão bem dotado quanto eles e por isso não era provável que tivesse
sucesso. Tinha pouca estima por si mesmo. Casou-se com Ana, tipo dominador, e eles se estabeleceram, para
formar uma família.
Embora ele tivesse tudo o que acompanha o sucesso — bom emprego, oportunidades ímpares, casa boa —
o seu conflito íntimo continuou. "Todo mundo espera mais de mim; eles não me aceitam como realmente sou.
Até no quarto de dormir, minha esposa reage, mas relutantemente, como a dizer: 'Ande depressa e acabe logo
com isso'. Realmente não sou o homem que devia ser."
Ele sentia-se castrado. Sonhava com uma relação em que não tivesse essa luta interior — esse fracasso
constante — embora o adultério fosse totalmente contrário a tudo o que cria e que lhe fora ensinado. Como a
maioria dos homens, ele não estava procurando sexo, mas alguém que fosse um arrimo sobre o seu amor próprio,
tão vacilante.
A garota com quem se encontrou no supermercado era qualquer coisa, menos o tipo que ele teria
considerado para ser sua esposa. Divorciada duas vezes, pobre, desleixada — uma vagabunda, mas uma campeã
em saber como edificar o ego de um homem. Em sua primeira visita à casa dela, ele sentiu repulsa. Era o oposto
de tudo que ele conhecia: tinha apenas poucos móveis, uma cama velha, umas duas cadeiras de dobrar, uma
mesa e um pequeno tapete desfiado. Mas era um escape para tudo o que pesava sobre ele.
Depois da primeira vez que mantiveram relações sexuais, ele pensou: "Ela gosta de mim pelo que sou, e
não pela pessoa que procurasse fazer de mim. Sou aceito. Ela gosta de mim. Eu a excito." Ele estava fisgado.
Como alguém que encostara em um fio de alta tensão, não podia largá-la. Mais tarde, ele disse: "Eu nunca me
senti tão homem como quando estava com ela."
Abigail van Buren, colunista de imprensa americana, que escreve a famosíssima coluna "Dear Abby", diz:
"Um homem escolhe uma vagabunda, porque quer uma companhia feminina que não seja melhor do que ele. Na
companhia dela, ele não se sente inferior. Ele a recompensa, tratando-a como a uma dama. Ele trata a esposa
(que é uma dama) como uma vagabunda, porque acha que, degradando-a, a rebaixará até o nível dele. Isto fá-lo
sentir-se culpado. Assim, a fim de 'empatar' com a esposa, pelo fato de fazer com que ele se sinta culpado, ele
continua punindo-a.''
Indulgência por parte dos pais pode preparar um filho para uma imaturidade perpétua e para a
infidelidade conjugal. Pais permissivos, temerosos de contrariar os desejos de seus filhos, dão-lhes tudo o que
eles pedem. Nunca lhes é negado nada. Eles são mimados, tratados como bebês e nunca lhes é ensinada a
necessidade ou o valor da disciplina. O adolescente que tem tudo, cujos menores desejos sempre foram
atendidos, não se tornará um cônjuge forte e altruísta. A pessoa que cresce sem ouvir e respeitar a palavra NÃO
jamais a considerará uma resposta hábil, quando estiver sendo tentada a satisfazer os seus desejos e caprichos.
Steve, provavelmente, nunca entendera que isto fazia parte de seu problema. Ele viera de um sólido lar
cristão, em que a Bíblia era honrada, lida e seguida. O fato de ir à igreja, a reuniões especiais, a acampamentos
bíblicos e a um colégio evangélico, tudo isto era considerado como lugar-comum e era característico de sua
família. Os interesses comerciais da família floresciam, bem como o seu padrão de vida. Em todos os aspectos,
eles eram uma família cristã exemplar, de sucesso. Mas havia um defeito fatal.
Fosse o que fosse que os filhos quisessem, conseguiam obter. Brinquedos ou roupas, patins, barcos,
carros, casas, viagens — não fazia diferença: bastava apenas mencionar. Claro que os pais não tencionavam
fazer-lhes mal. "Deus nos tem abençoado; vamos aproveitar", esta era a atitude deles. Sacrifício, abnegação
(negação dos próprios desejos), disciplina, eram termos bíblicos familiares, mas estranhos ao seu vocabulário e
estilo de vida. Quando Steve se casou, tudo foi amor e luxo. Muitos anos mais tarde, com problemas, quando o
seu casamento apresentou uma fratura, ele fez a única coisa que sabia fazer: comprou mais coisas para a esposa.
Maiores e melhores. Gastou dinheiro como se não houvesse o dia de amanhã. Mas a fenda se alargou. O que ela
queria era compreensão, companheirismo, uma solução. Nessa época, uma mulher jovem, na igreja, sentiu a
frustração dele, o seu desencoraja-mento, e ofereceu-lhe um sorriso amistoso, uma mão calorosa, e, finalmente,
um corpo ardoroso. "Casos" eram acontecimento familiar para ela, e ele estava em sua lista.
O "caso" deles o mergulhou em um profundo sentimento de culpa, e ele começou a lutar entre as opções
de negar os seus próprios desejos e de entregar-se a eles. Não obstante, muitas vezes ele ficava estranhamente
contente consigo mesmo por ceder. A sua familiaridade com a Bíblia só fazia crescer o seu sentimento de culpa.
Quando o fiz lembrar-se de que a vontade de Deus proibia aquilo — "Não adulterarás... Não cobiçarás a mulher
do teu próximo... se a tua mão te escandalizar, corta-a" — ele não conseguia entender. A essência de sua reação
foi: "Como é que o senhor ou qualquer outra pessoa pode dizer-me 'não'? Eu consigo o que desejo, sempre o
consegui e sempre o conseguirei. Quero esta mulher, não importam as conseqüências. Não me venha dizer que
significará o rompimento com minha família, a destruição do casamento dela e prejuízos no testemunho da
igreja. Quero este meu relacionamento." Menino mimado! Os seus pais, perplexos, nunca perceberam como eles
haviam contribuído, anos atrás, para este fracasso e para esse drama familiar que estavam vivendo.
O orgulho também prepara um homem para a queda. Como diz Salomão, em Provérbios: "Quando o
homem se orgulha de si mesmo, acaba sendo envergonhado, mas quando ele se humilha, acaba se tornando
sábio."2 Uma pessoa emocionalmente madura tem um senso realista de suas próprias fraquezas humanas e da
necessidade de dependência de Deus e de outras pessoas. Ela não exibe a sua força nem flexiona os seus
músculos diante de Deus e dos outros.
Um conhecido evangelista tornou-se possuído pelo orgulho. O seu trabalho estava prosperando, os seus
programas de rádio e TV estavam florescendo, crescia o número de convites para falar. Ele começou a manipular
pessoas para satisfazer os seus objetivos egoísticos. Quando se tornou mais ousado, começou a viajar a sós com
sua secretária. Ao um homem de Deus o interrogar a respeito daquilo, ele se jactou: "Eu conseguirei resolver
isto. Não se preocupe comigo. E mesmo que eu decida me divorciar e casar com essa moça, que é que tem? O
povo se esquecerá de tudo em poucos meses. Isso não afetará o meu ministério." É claro que ele caiu — caiu
como um passarinho acertado por um tiro, e o seu casamento e o seu ministério caíram com ele.
Outro jovem pensava que a sua capacidade de decorar versículos da Bíblia o tornaria seguro. Ele era capaz
de citar mais de dois mil versículos, mas continuava a fazer visitas clandestinas a certa mulher, quando o marido
dela estava fora de casa. "Eu não devia fazer isto, mas acho que sou muito homem." O orgulho o cegou. O
conhecimento, por si só, exalta o ego. Da mesma forma, ele poderia ter decorado o dicionário. A Palavra,
absorvida mentalmente, não fora misturada com fé — a fé que age. Ele foi como um boi para o matadouro, como
uma mariposa para a chama.
Orgulho em um campo de realizações pode preparar-nos para cair em outro, "...e o orgulho vem antes da
queda (a queda de Satanás é um exemplo)."3 Um autor evangélico de grande sucesso, nos Estados Unidos, com a
cabeça pesada do vinho dos elogios e da prosperidade, envolve-se ousadamente em uma relação adúltera. As
duas áreas estão relacionadas. A queda acontece não na área de seu sucesso; ele ainda está escrevendo. Mas o seu
orgulho a respeito do sucesso de seus livros levou-o ao colapso moral.
"Eu era o pastor de maior êxito na cidade. A nossa igreja crescera, ganhando centenas de membros em
poucos meses" — disse-me um jovem pastor durante uma convenção de verão. "Eu era o assunto das conversas
da comunidade — reconhecido, louvado, admirado. Na história dessa igreja, ninguém havia obtido tal sucesso.
Todos, por assim dizer, comiam em minha mão. E então, por alguma razão absurda, me envolvi com uma jovem,
e requeri divórcio. Na verdade, o nosso casamento estava indo muito bem, e eu não tinha nada de que me
queixar, mas não consegui abrir a mão dessa jovem."
"Você acha que o fato de você ter resvalado para este 'caso' está, de alguma forma, relacionado com o seu
sucesso na igreja?" — perguntei.
"Oh, claro que sim!" — concordou ele. "O meu egoísmo me arruinou. Eu achava que não havia
possibilidade de eu errar. Comecei a crer no que os outros falavam de mim, elogiando-me. À medida que a igreja
continuou a crescer, fiquei imbuído de orgulho, e isso juntou a ladeira moral em que escorreguei. Vitória e
derrota ao mesmo tempo. E, sem dúvida, o meu relacionamento com essa jovem apenas alimentou o meu GO
ainda mais. Minha esposa não quis me conceder o divórcio, e assim eu estava amarrado."
Cada pessoa determina a extensão de sua própria imaturidade emocional. Os "casos" não se originam de
maus casamentos: são desenvolvidos por pessoas imaturas. Um clássico parágrafo a respeito de maturidade é
Filipenses 3:10-14:
Presentemente anseio conhecer Cristo Jesus e o poder manifestado pela sua ressurreição, e ainda por
participar dos seus sofrimentos, até mesmo morrer como ele morreu, de modo a poder talvez como ele obter a
ressurreição dos mortos.
Entretanto, irmãos meus, não me considero dos que já a alcançaram "espiritualmente", nem me julgo ter
atingido a perfeição. Mas continuo lutando mais firmemente por aquilo para que Cristo me atraiu.
Meus irmãos, não creio tê-lo atingido ainda; mas fico-me nisto: deixo atrás o passado, e com as mãos
estendidas para qualquer coisa que se me depare à frente, dirijo-me para o alvo: o galardão honroso de ser
chamado por Deus em Cristo.
Desta passagem aprendo que a maturidade tem cinco elementos:
Confiança completa, irrevogável, em Cristo somente.
Reconhecimento de minhas imperfeições humanas.
Dedicação a aprendizado e crescimento vitalícios.
Conservação de meu futuro diante de mim, esquecendo o passado.
Previsão, busca, persistência para com tudo de bom que Deus quer para mim.
Todos estes elementos também se aplicam ao casamento.

CONFLITOS NÃO RESOLVIDOS


Os conflitos vivenciais são inevitáveis. Na intimidade e constante convivência do casamento eles não
podem ser evitados. Filhos, dinheiro, sexo, estafa, parentes — tudo isto e mais são os causadores. O jovem casal
que percorre o corredor central da igreja com estrelas nos olhos, crendo em um viveram-felizes-para-sempre,
está para sofrer um rude abalo. Eles são como o homem que comprou um disco por causa da música que
continha num lado; quando chegou em casa, descobriu que tinha outro lado com outra música, totalmente
diferente e menos atraente.
Cada pessoa tem a sua coleção particular de idiossincrasias, trazidas da infância e de sua experiência. Os
seus hábitos são peculiares. Ela se sente bem com eles. Pensando em se casar, ela procura alguém que também se
sinta bem com ela como ela é e, ao mesmo tempo, satisfaça as suas necessidades emocionais. Isto significa,
geralmente, alguém bem diferente dela, e faz parte da atração. Agora, combine estas duas coleções de
temperamentos, personalidades e características individuais, e veja quanto campo para discordância e
dificuldades. Adicione a isto a natureza teimosa e egoística de cada cônjuge, e você pode encontrar ainda mais
— um incêndio!
Nessa situação, para que um casamento sobreviva e prospere, precisa haver negociação, transigência e
aceitação. O que tem importância para uma pessoa, pode não ter para outra. Algumas coisas significam pouco
para nós, e nos rendemos a elas. Alguns dos hábitos de nosso cônjuge são inocentes, e os aceitamos e nos
ajustamos a eles. Outras coisas são fonte constante de irritação, e nos irritamos e lutamos contra elas. Do nosso
ponto de vista, elas parecem tão desnecessárias, ilógicas, sem importância, nada práticas. Não podemos entender
por que o nosso cônjuge não consegue enxergar a sabedoria e a vantagem do nosso ponto de vista, e não quer
mudar.
Desenvolve-se um impasse. Um dos cônjuges insiste em seu ponto de vista. O outro finca-se na sua
opinião com a mesma determinação, e assim continua. A essa altura, a comunicação reduz-se a zero. Nenhum
deles tem amor suficientemente forte para ignorar as fraquezas do outro e focalizar-se nos pontos fortes do outro.
Este ponto de confiança então entra na razão dada para a divergência.
"O trabalho é tudo. " O americano médio vê menos a sua família do que qualquer marido e pai do mundo,
observou Pearl Buck. Os destruidores de lares são freqüentemente o trabalho, a firma, a carreira. Porém nem
todo o sucesso do mundo nos negócios pode substituir ou compensar o fracasso em casa. A promoção extra e um
salário mais alto dificilmente compensam a perda de uma esposa amorosa e a alienação dos filhos. O sucesso
não vale muito para um homem de negócios cujas promessas não cumpridas resultaram em um lar desfeito.
Ainda sinto tristeza por causa do jovem casal com que me encontrei e aconselhei em Washington: Harold
e Phyllis. Ambos eram crentes talentosos, dedicados e davam um impecável testemunho. Fiquei impressionado
com o seu potencial, tão promissor. Deus irá usá-los grandemente, eu estava certo. Mas o trabalho — a profissão
— os clientes. Ele era um "caxias", viciado no trabalho, bem à semelhança de seu patrão. O primeiro a chegar ao
escritório, o último a sair. E, sem dúvida, era pago regiamente. O seu salário, comissões e promoções
aumentaram. E então houve casa nova, carro novo, roupas novas, restaurantes elegantes. O seu único filho, Brad,
estava crescendo em um bairro de classe, mas com pouco interesse de seu pai.
"Eu não posso fazer tudo o que quero — não tenho tempo. E é claro que tenho de pagar as contas, e por
isso preciso continuar me 'virando'", explicava Harold.
As suas responsabilidades no trabalho cresceram, e o seu filho também, mas não o seu casamento. Phyllis
começou a sentir-se cada vez mais posta de lado, ignorada. "Será que ele não percebe que não precisamos de
mais dinheiro, de mais coisas? Precisamos dele.
O trabalho, para ele, é tudo, e tenho medo do que isto significará para o nosso filho. Ele e seu pai estão se
afastando cada vez mais, e eu não posso continuar dando desculpas esfarrapadas para ele", queixou-se ela.
O garoto entrou para um grupo de escoteiros. Harold não encontrou tempo para ver um só desfile, para
assistir aos jogos. Mas tomou providências: "Phyllis, cuide para que Brad chegue a tempo para o jogo, e tenha
uma carona para casa."
E, quando o filho chegava, não tinha oportunidade nem de contar ao pai como fora a vitória; ele não
estava lá. Quando finalmente chegava em casa, o garoto estava dormindo. Cada semana a mesma história. A
solidão e o ressentimento cresceram, levando mãe e filho a se voltarem contra o pai.
"Um 'caso' com outro homem nunca entrara na minha cabeça", contou Phyllis. "Esse homem agradável
estava em todos os jogos, e deu especial atenção a Brad e a mim, visto que estávamos sozinhos. E, uma coisa
levou a outra, como dizem."
A esposa de Harold tornou-se amante de outro homem, porque Harold tinha uma amante: o trabalho.
"A vida toda é uma luta por dinheiro. " "Foi o dinheiro que me lançou nos braços de outro homem — pelo
menos o conflito e as pressões por causa do dinheiro", queixou-se Arlene.
Os conflitos por causa do dinheiro são comuns no casamento. A renda, as despesas, o crédito, as dívidas,
acrescidos do significado diferente que o dinheiro tem para cada cônjuge, podem criar uma situação tensa,
explosiva. Quando um homem perde o emprego e não consegue sustentar a família, muitas vezes acha que a sua
masculinidade está sendo ameaçada. E, nessas circunstâncias, alguns homens acham que uma conquista sexual
vai ajudá-los a reafirmar a sua virilidade.
Porém, voltemos a Arlene. "Tínhamos a oportunidade de comprar uma casa, e era uma pechincha. Mas
precisávamos mobiliá-la, e só as coisas essenciais nos deixariam atolados em dívidas. Então Bill sofreu um
acidente com o carro, e houve um monte de coisas ligadas com ele que o nosso seguro não cobria. Quando fiquei
grávida, descobrimos que alguém no escritório de Bill havia deixado de incluir o meu nome como dependente
dele, de forma que as despesas com o parto também não foram cobertas. Tentei arrumar um emprego, para
ajudar, mas, quando paguei à empregada, comprei roupas e paguei as refeições fora, e outras coisas, cheguei à
conclusão de que não compensava. Toda nossa vida é uma luta por dinheiro. Todo mês é um tropel frenético para
ver que contas podemos pagar, e o que precisamos deixar de lado. Assumi o 'agradável' serviço de telefonar para
os credores e dizer-lhes que podemos pagar apenas a metade do que lhes devemos cada mês. A constante
preocupação, o embaraço — você não pode imaginar como é isso.
"E então, um dia, encontrei-me, por acaso, com Dave, que fora meu colega no ginásio. Ele levou-me para
almoçar em um restaurante elegante e luxuoso. Oh, que alívio! O simples prazer de conversar a respeito de
coisas comuns, da vida diária, e não ouvir falar nenhuma vez em dinheiro! A culpa que sinto acerca do meu
'caso' é como gotas de ácido corroendo o fundo de meu cérebro. Mas preciso ter algum escape, algum alívio
dessa preocupação e tensão constantes a respeito de dinheiro."
"A minha sogra não é mandona; ela é uma tirana. " Os parentes de seu cônjuge encorajam a infidelidade
conjugal? A maioria deles está ansiosa para que o seu rebento se saia bem, e não deslustre o nome da família. E o
fato de ter os avós por perto e disponíveis é importante para as crianças, a fim de lhes dar uma sensação de
história e de continuidade.
Mas Joanne aprendeu, da maneira mais difícil, que a integridade do casamento precisa ter precedência
sobre qualquer influência negativa, qualquer intrusão dos parentes, sejam quem forem.
Porém, ela não agiu com suficiente presteza. Tinha apenas vinte e cinco anos de idade, e trabalhava, em
regime de tempo parcial, como enfermeira. A sua reação diante do fim de seu "caso", bem como as razões que
apresentou para justificá-lo foram bem características.
"Jim é um amor — um tanto apático, mas eu o amo demais. Se alguém me dissesse que eu iria enganá-lo,
eu teria rido na cara dessa pessoa. Mas eu o fiz.
"Tudo começou quando minha sogra quebrou o tornozelo e veio ficar conosco, enquanto convalescia.
Minha sogra não é mandona; ela é uma tirana. Ela quer isto, aquilo e mais aquilo outro feito já, e do jeito dela.
Supúnhamos que ia ficar apenas algumas semanas, porém ela se mudou com armas e bagagens, e, dentro de uma
semana, arranjara a nossa casa e as nossas vidas da maneira como queria. Para mim era evidente que ela
planejara ficar permanentemente.
"Achei que não devia dizer nada; afinal de contas, ela era a mãe de Jim. Comecei a ficar cada vez mais
ressentida. E comecei a passar tanto tempo quanto possível fora de casa. Um dia Fred, filho de um de meus
pacientes, ofereceu-se para me levar para casa no carro dele e sugeriu que parássemos para tomar um café no
meio do caminho.
"Foi assim que começou. Durou três meses. Um dia Fred falou algo a respeito de ser grato à minha sogra
por me fazer querer ficar tanto tempo com ele. Aquilo me pôs a pensar, e reconheci várias coisas. Eu não amava
Fred. Na verdade, eu o estava usando como forma aloucada de revidar contra minha sogra e contra Jim, por não
conseguir suportá-la. Eu nunca dissera a Jim o que sentia; esperava que ele soubesse, e fiquei zangada quando vi
que ele não percebia.
"Rompi com Fred, e então disse a Jim que a mãe dele precisava ir embora. Ele ficou surpreso e, acho eu,
aliviado, porque encontrou, para ela, um apartamento — do outro lado da cidade — já no dia seguinte. Agora
estou dez vezes mais feliz."
"Nós discordamos a respeito de nossa filha." "O que você considera problema básico de seu casamento,
que, de alguma forma, se relaciona com a infidelidade que você está praticando? O seu casamento sempre
pareceu bem firmado, e você e sua esposa tinham tanto em comum!" — esta foi a minha pergunta a um
executivo da Califórnia, quando ele pediu ajuda para tirá-lo do emaranhado extraconjugal em que se metera.
"Minha esposa e eu tivemos uma discussão séria a respeito da nossa filha" — respondeu ele
imediatamente. "Isso se tornou um muro de separação entre nós."
"Conte-me como a coisa se desenvolveu até este ponto" — sugeri.
"Nossa filha estava começando a namorar, e nenhum de nós dois, na verdade, sabia o que fazer. Minha
esposa tinha medo que ela de repente chegasse em casa grávida, considerando a turma com que ela estava
andando. E então disse: 'Proíba-a de andar com eles. Precisamos protegê-la; é para o próprio bem dela.' Eu
também estava preocupado, mas queria abordar o problema de maneira diferente. Queria dizer-lhe que
confiávamos nela, e ela devia firmar-se em sua honra. Discutimos os méritos de cada abordagem, até que não
havia nada mais para se dizer. Mas continuamos falando. Na verdade, não estávamos mais falando: estávamos
discutindo, criticando, ferindo um ao outro.
"Naturalmente, nossa filha aproveitou-se disso ao máximo. Sabia que, se estávamos lutando um contra o
outro, ela estava livre de restrições. Tomou as minhas dores, e colocou-se contra a mãe. Sentindo-se rejeitada,
minha esposa acusou-me de ser fraco e vacilante — e talvez eu o tenha sido. No que concerne a mim, o golpe me
atingiu quando ela disse que havia perdido todo o respeito por mim. Senti-me devastado. O problema havia se
transferido de nossa filha para o nosso casamento. Os ataques se tornaram mais intensos, e catalizaram outras
coisas que, havia muito, tinham sido esquecidas. Todos os nossos sonhos estavam ruindo por terra.
"Saí andando como um autômato. O que havia sido um casamento extraordinário, agora parecia uma
concha vazia. Eu não estava procurando outra mulher — eu sempre fora fiel — mas estava procurando um
pouco de conforto, um impulso, um arrimo, para o meu espírito vacilante, assim penso. Esta outra mulher me
propiciou isso."
"Uma entrevista com uma rainha. " "Ninguém conseguiu entender quando encontrei outra mulher e me
mudei", disse Frank, "nem mesmo Helen, embora eu tenha tentado explicar o caso a ela. Foi a atitude boba que
ela tinha a respeito de sexo que causou o problema. Para Helen pensar em relação sexual, tudo precisava estar
perfeito. A casa precisava estar limpa, a roupa passada, o cabelo dela bem penteado, etc... etc, e ela precisava
estar perfeitamente feliz comigo em todos os aspectos. Se tivesse havido qualquer tipo de problema na última
semana, bastava. Eu estava andando na corda bamba. E precisava dar-lhe a conhecer com bastante antecedência
que eu queria fazer sexo. Se eu não o fizesse, ela fingia estar dormindo ou dizia que estava com dor de cabeça.
Passei oito anos sentindo-me como alguém que estava tentando ter uma entrevista com uma rainha. Cada vez eu
sentia que fazer sexo ficava muito caro. É uma pena. É uma pena, porque em muitos outros aspectos ela é uma
ótima esposa."
"Uma dona-de-casa horrível. " A queixa de Samuel é exatamente o contrário. "Lúcia era uma dona-de-
casa horrível. Nunca tinha tempo de passar as minhas camisas, e ficava horas no telefone, geralmente falando a
respeito de nossa vida particular. Assim, quando eu ficava irritado ou simplesmente tentava falar com ela a
respeito do problema, ela me agarrava e me levava para a cama. Ela pensava que todos os nossos problemas
podiam ser resolvidos na cama, sem que ela fizesse qualquer esforço para mudar a sua maneira de ser. Eu
precisava conseguir algum alívio. A primeira vez que me encontrei com essa divorciada, na casa dela, era um
lugar limpo, perfumoso, atraente. Qualquer pessoa ali se sentiria em casa. Era confortável e repousante. O sexo
não era nada de especial, mas o apartamento, um lugar tão agradável!"
"Antecedentes conservadores. "Ao observar Mary, de trinta e três anos, de minha escrivaninha, fiquei
impressionado com a sua simplicidade. O cabelo, a ausência de pintura, o vestido, tudo dizia que ela devia ter
tido antecedentes religiosos conservadores. Ela remexeu-se, hesitante, na cadeira, mas finalmente contou a sua
história, soluçando.
"Eu não posso crer que Tom tenha feito isso, mas encontrei este bilhete de Diana no bolso dele. Ele
sempre foi ativo na igreja, mas é muito calmo, não sendo do tipo agressivo. E quanto a Diana, nós estamos no
mesmo clube, vivemos apenas três quarteirões uma da outra e os nossos caminhos se cruzam constantemente."
Quando Tom veio ao meu escritório, alguns dias depois, ele era exatamente o que ela dissera: distinto,
reservado, amável. Enquanto falou de seu "caso", observou tranqüilamente: "Minha esposa é tão simples e
modesta! A família dela era assim. Ela veste roupas tão fora de moda que todos a notam no meio da multidão.
Fico embaraçado, embora queira orgulhar-me dela. Eu já lhe falei repetidas vezes para arrumar-se melhor, porém
ela se recusa. Um pouco teimosa, acho eu."
"Dê-me um exemplo" — pedi.
"Bem, recentemente pedi-lhe para comprar um vestido que não se arrastasse até os seus tornozelos, porém
achou que eu queria que se vestisse indecentemente, e ela não iria fazer isso. Até mesmo em nosso clube, as
esposas dos outros homens têm aparência muito melhor. Mary poderia parecer muito mais bonita, se pudesse
livrar-se dessas noções rígidas. Este é realmente o pomo de nossa discórdia e conflito."
"Jean super limpa." Os conflitos que se originam em padrões diferentes de higiene não são apenas
comuns, mas também fonte de contínuas discussões, que gradualmente vão erodindo os sentimentos dos
cônjuges um pelo outro. Cada pessoa, em seu subconsciente, tem uma versão ideal de como deve ser o seu "lar",
baseada na experiência de sua primeira infância. Quando essas diferenças existem, o problema conjugal
resultante é muito mais sério do que qualquer discordância a respeito de sexo ou dinheiro.
Jean era uma perfeccionista e exagerada quanto a manter-se limpa. Bob queixou-se: "Ela é do tipo de
esposa que, se eu me levantar no meio da noite para tomar um copo d'água, arruma a cama de novo. E, de fato,
ela não deixa a família usar a sala de visitas, receosa de que a desarrumemos." Ela era tão enfadonha quanto ao
seu corpo como acerca da casa, e exigia que o marido se afastasse antes de ejacular, porque não queria o sêmen
dele dentro dela.
"O som das queixas dela me cansava. " O que é mais comum do que o cônjuge que se julga perfeito, cuja
importunação e crítica tiram o seu cônjuge do sério?
"Minha esposa resmunga da forma como a maioria das pessoas respira: sem perceber." E os comentários
de Harvey, a respeito da esposa, não eram todos negativos. "Ela sempre teve boa aparência, foi boa mãe, boa
cozinheira e boa dona-de-casa. Mas, rapaz, era só acontecer uma coisa mais trivial, e ela já destrambelhava.
Fiquei tão abalado que preferia ficar sentado no carro, na garagem, do que entrar em casa, quando chegava do
trabalho.
"Certa noite estávamos vindo de carro para casa, e não fiz o retorno a tempo, tendo que prosseguir até
outro retorno. Oito quarteirões mais adiante, ela ainda estava fazendo daquilo um cavalo de batalha. Aquele som,
martelando em meus ouvidos, simplesmente me cansou. Você chega ao ponto em que não ouve mais palavras, só
uma enxurrada contínua de ruídos. Finalmente, precisei cair fora completamente e encontrar outra companhia
feminina, silenciosa. E, pode crer, não é difícil encontrar uma companhia assim."
"Quem vive relembrando problemas passados", diz Salomão, "destrói boas amizades. É melhor morar
sozinho num quarto de pensão do que numa bela casa com uma mulher briguenta e implicante. Aquele pinga-
pinga constante que acontece quando chove e a mulher briguenta e implicante são muito parecidos. Tentar
impedir que ela reclame e resmungue é como tentar segurar o vento ou uma gota de óleo na mão." 4 Esses
versículos aplicam-se também a maridos resmungões.
As discordâncias não prejudicam um casamento, mas a crítica o destrói. Podemos discordar
diametralmente em muitos assuntos, respeitar os pontos de vista um do outro, trabalhar para alisar as arestas, e
ainda amar um ao outro. Mas, quando as discordâncias se transformam em crítica da outra pessoa, ninguém pode
agüentar por muito tempo. O erro de atacar a pessoa, em vez de procurar resolver o problema, é uma forma
segura de sugerir ao seu cônjuge que ele/ela cometeu um erro casando com você. E ele/ela pode procurar
remediar esse erro na companhia de outrem.
"Talvez isto seja apenas a melancolia da meia-idade. " Steve, chefe da companhia que estava trabalhando
em meu gramado na semana passada, foi cruamente sincero quando lhe perguntei acerca de seu casamento. "Na
verdade, sou casado, mas vivo na "Chatolândia'. Parece como se eu estivesse num túmulo. Vai de mal a pior.
Minha esposa parece não entender algumas das lutas que estou enfrentando — nem eu as entendo. Tenho
trabalhado como um mouro — cumprido o meu dever — e o que foi que isso me adiantou? Estamos ficando
velhos. Pode ser que eu tenha apanhado o que eles chamam de 'melancolia da meia-idade'. No entanto, a metade
de minha vida já passou, os filhos já saíram de casa — um homem tem o direito de se divertir um pouco."
Por conseguinte, o seu "caso" — na verdade, mais de um — se relacionava com a sua meia-idade e seu
estágio na vida, e confirmava o estudo dos doutores Blood e Wolfe, que revelou que apenas a metade dos casais
de meia-idade está satisfeita com o seu casamento. Alguns casais permanecem juntos até os filhos serem criados,
e depois se separam. Contudo, muitos não esperam nem isso. Hoje em dia, quarenta e cinco por cento de todos
os adolescentes americanos vivem em um lar na companhia apenas do pai ou da mãe, antes de chegarem aos
dezoito anos.
A satisfação conjugal, muitas vezes, diminui drasticamente depois que os filhos chegam. A rotina torna-se
mortal, e o casamento torna-se enfadonho, chato e monótono. A medida que os cônjuges envelhecem, afastam-se
um do outro, e experimentam um divórcio emocional. Há uma erosão gradual de suas esperanças e sonhos
mútuos, e a única coisa que compartilham é o banheiro.
E a mudança é difícil — custa caro. Pode parecer mais difícil renovar e regenerar um velho contrato
matrimonial do que fazer um novo com outra pessoa.
Steve concluiu: "Eu sei que estou dando para a minha esposa apenas as migalhas, mas não sou um velho
que 'já era' e não estou para criar teias de aranha junto com uma velha, quando há tantas coisinhas jovens por aí,
achando que eu tenho algo a oferecer. Não pretendo perder o último trem a sair da cidade."

NECESSIDADES INSATISFEITAS
"Meu parceiro não entende nem satisfaz as minhas necessidades." Todo marido, toda mulher, sentiu isto
em alguma ocasião, embora possa ser que nunca o tivesse expressado audivelmente. Quando as necessidades não
são satisfeitas, está aberta a porta para a infidelidade — outra pessoa que satisfaça essas necessidades. O Dr.
James Dobson, conhecido conselheiro familiar, o expressa sucintamente:
Surgem grandes necessidades. Quanto maiores as necessidades de prazer, romance, sexo e satisfação do
ego, maiores as necessidades do casamento e mais alto clamam essas vozes. Uma necessidade cresce, e não está
sendo suprida. E geralmente a pessoa clama para os que estão ao seu redor: "Satisfaçam as minhas
necessidades. Ouçam-me. Amem-me. Entendam-me. Cuidem de mim." E esse clamor não é ouvido, entendido ou
respondido. Estamos em casa, estamos vivendo juntos, mas não estamos suprindo as necessidades um do outro.
E as necessidades se agravam; e, quando se tornam prementes, então as vozes que chamam as pessoas para a
infidelidade tornam-se mais audíveis.5
O casamento é um relacionamento que satisfaz as necessidades. Assim foi durante o namoro e continua até
o último dia em que um casal está junto. Ninguém é tão altruísta ou pouco egocêntrico que se case pelo puro
desejo de satisfazer as necessidades de outrem, sem pedir nada para si. E o fato de querer que as nossas
necessidades sejam supridas não é egoístico nem pecaminoso. Tem sido dito que o amor é a avaliação exata e o
suprimento das necessidades do outro.
Adão e Eva, embora perfeitos e inocentes, tinham várias espécies de necessidades. Deus os criou dessa
maneira. Eles tinham necessidades sociais, emocionais, físicas, psíquicas e espirituais — e isto antes de eles
terem caído em pecado. De fato, a sua queda foi uma tentativa de satisfazer essas necessidades de maneira e em
época contrárias ao plano do Criador.
Deus colocou o homem, com suas necessidades, em uma posição em que elas pudessem ser supridas.
1. Ele foi colocado em um belo jardim, e lhe foi dito que o cultivasse, guardasse e comesse dele. As suas
necessidades de beleza, trabalho e alimentação podiam ser satisfeitas pelo ambiente em que vivia.
2. Ele não foi deixado sozinho. Foi-lhe dada outra pessoa, e foi-lhes dito que compartilhassem, se unissem
e procriassem. As suas necessidades de companhia, intimidade, continuidade e família foram supridas por outra
pessoa.
3. Foi-lhe dada comunhão com Deus. As suas necessidades de realização pessoal, propósito e vida eterna
foram satisfeitas somente por Deus.
Só certas necessidades podem ser satisfeitas, no casamento, por outra pessoa. Nem todas. Mas a essência
da promessa do casamento é: "Eu satisfarei essas necessidades." Os votos pronunciados na cerimônia de
casamento dizem:
"Ter-te e conservar-te" — dedicação
"Na alegria e na tristeza" — propriedade
"Na riqueza ou na pobreza" — lealdade
"Na doença ou na saúde" — sustento
"Para amar-te e querer-te" — fidelidade
"Até que a morte nos separe" — companheirismo
São exigências nada fáceis. Não é de se admirar que todos falhemos, por vezes. Não estou sugerindo que
diluamos os votos, mas que entendamos como eles são traduzidos e aplicados às necessidades diárias de nosso
cônjuge.
As necessidades de duas pessoas raramente se encaixam perfeitamente, mas quando cada cônjuge está
procurando seriamente satisfazer as necessidades do outro, o problema da terceira ponta do triângulo tem pouca
oportunidade de vir à existência.
Temos cinco necessidades básicas, que um cônjuge pode satisfazer:

ATENÇÃO
"Você já ouviu falar da grande face de pedra"? — perguntou certa mulher à sua amiga.
"Sim, acho que já" — replicou a amiga.
"Eu me casei com ela" — declarou a mulher. "Meu marido não ouve e não fala."
Sara escreveu-me, depois de nossas sessões de aconselhamento: "Ser-me-á difícil desistir do amor que
sinto por outra pessoa, e dizer 'não' à primeira pessoa que realmente me ouviu. Durante treze anos com Bruce,
não me tenho sentido amada nem desejada. Ele nunca nota o que cozinho, nem minha aparência e como tento
arrumar a casa para ele. Ele nunca presta atenção a mim. Acha que tudo o que sou ou faço é normal, natural, e,
realmente, penso que não sou importante para ele."
Um marido que havia prevaricado e sentia-se culpado disse: "Cheguei a sentir-me como nada mais do que
uma peça do mobiliário. Eu era um joão-ninguém dentro de minha casa, ninguém que fosse digno de nota, de ser
ouvido ou de ser amado. Fiquei cheio. Não faz muito tempo, saí, para não voltar mais. Finalmente me decidi",
disse ele. "Há algumas semanas cheguei em casa e minha esposa estava colocando o bebê na cama. Comecei a
beijá-la. Ela, porém, virou-se de lado e começou a falar a respeito da erupção da pele do bebê. Você já tentou
beijar alguém com um alfinete de segurança na boca? Por que ela não podia olhar para mim? Conversar comigo?
Será que preciso andar de fraldas ou cuspir fora a comida, para conseguir que ela me note? Eu sou o cara com
quem ela se casou. Mas precisaria chegar com uma perna quebrada ou ficar com pneumonia para conseguir que
ela notasse que estou presente."6

ACEITAÇÃO
Toda pessoa tem uma necessidade profundamente arraigada de ser aceita pelo seu valor individual. É
nosso dever amar nosso cônjuge; cabe a Deus mudá-lo. O autor John Drescher cita o conselheiro Ira J. Tanner:
"Qualquer tentativa para mudar o cônjuge, em um esforço de nossa parte, é um insulto a ele. Isso divide, suscita
ira, e causa solidão ainda maior."7 E posso acrescentar que isso empurra o cônjuge para outros braços, que o
aceitem melhor.
Ruth e Jack eram amigos pessoais de Evelyn e meus. Na verdade eram nossos vizinhos. Mas o "caso" em
que ela se envolveu os trouxe a mim, para serem aconselhados. Jack era ambicioso, dinâmico, exigente, uma
testemunha eficiente de Cristo — um bom papo. Rute era serena, atraente, extrovertida e distinta. Uma pessoa
encantadora.
Os próprios padrões cristãos inflexíveis de Jack atraíam algumas pessoas, mas repeliam outras. Eram
aplicados a todas as pessoas, na igreja e fora dela, produzindo em algumas delas falso sentimento de culpa; em
outras, apenas compaixão... por Jack. Todos os membros da família sentiam a pressão. Alguns se rebelavam;
outros se sujeitavam.
Ruth disse: "Amo muito o Senhor, mas nunca consigo agradar ao meu marido. Eu não estava crescendo
espiritualmente tão depressa quanto ele achava que eu devia. Ele estava sempre procurando saber quanto eu
estava lendo a minha Bíblia. Fiquei simplesmente fisicamente esgotada, e não pude continuar indo às diversas
reuniões da igreja todas as noites da semana. Eu precisava ficar em casa. Jack interpretou isso como sinal de
apostasia, e me criticou na frente das crianças, até que toda a nossa família começou a brigar constantemente.
Então ele me culpou pelos problemas de nossa família, apresentando como causa que eu estava me 'afastando do
Senhor'. Ele queria que eu fosse Madre Teresa, Betty Crocker e Cheryl Ladd, reunidas em uma só pessoa. Ele
estava decidido a me moldar à sua vontade. Nada que eu fazia lhe agradava.
"Pecado — adultério — era a coisa mais distante de meus pensamentos, desde o dia em que me convertera
a Cristo. Eu não estava procurando sexo — até isso também se havia deteriorado em nosso casamento. Eu nem
sequer estava procurando um 'caso', para me vingar, fazer meu marido pagar, e nem mesmo para chamar a
atenção dele. Eu estava simplesmente aturdida. E, quando o vizinho do meio do quarteirão me notou, sorriu
algumas vezes, conversou comigo amavelmente e gostou de mim da maneira como sou — aconteceu. Eu estava
agonizante."

AFEIÇÃO
Muitos cônjuges traem por nada mais, a princípio, do que o desejo de um pouco de afeição. As coisas que
dão brilho aos dias de namoro e ao começo do casamento — dar-se as mãos, carinhos, abraços, beijos — não
podem agora ser guardadas no guarda-roupa, juntamente com o vestido de noiva.
"Agora estamos casados; não somos mais crianças." Pensa ele: "Por que você precisa continuar correndo
atrás do bonde, uma vez que já o pegou?" E ela: "Uma vez que você pegou o peixe, pode jogar a isca fora."
"Nós não nos temos tocado há mais de dois anos, quase literalmente. Certamente temos tido relações
sexuais, mas, na verdade, dificilmente nos tocamos, pelo menos não intencionalmente." — estas foram as
palavras de uma esposa de pastor que veio a uma de nossas conferências.
Ela estava com cerca de cinqüenta anos, era um tanto atarracada, cabelos puxados para trás, vestida de
maneira simples, e parecia do tipo altamente organizado, uma administradora. Com a voz começando a se
embargar, ela continuou: "Eu não tenho sido muito do tipo afetivo, não que eu não goste disso, mas meu marido
e eu precisávamos trabalhar tanto para administrar as igrejas! Durante vinte e três anos, pastoreamos
principalmente igrejas pequenas. O senhor sabe como é isso. Faz-se todo o trabalho: ensinar, cantar, organizar,
visitar, servir de zeladora. Está sempre sobrecarregada, sempre exausta.
"Quando meu marido não evidenciou nenhum desejo de demonstrar afeição, nenhuma necessidade disso,
presumi que ele fosse simplesmente desse tipo, e que essas coisas não o interessassem — não fossem
necessárias. Por isso, também não insisti, e, por assim dizer, fiquei fora do caminho dele. Nunca me fora
ensinado que essas coisas são importantes para um homem."
"Como é que o seu marido começou a se envolver com essa outra mulher?" — arrisquei.
"Bem, ela se ofereceu para fazer algum trabalho voluntário no escritório da igreja. Não a conhecíamos
bem, mas precisávamos da ajuda. Ficamos em dúvida, uma ou duas vezes, se devíamos conservá-la, porque ela
se vestia de maneira muito sensual. Mas meu marido achava que, visto que ela era uma crente nova, ele poderia
ajudá-la. Achei que ela não seria uma tentação para ele, pois ele não se interessava por afeição."
A essa altura ela estava soluçando.
"E então, o que aconteceu?"
"Oh, como eu estava cega! Como estava errada! Ela fazia questão de estar no escritório dele, dando, para
isso, qualquer desculpa. Arreliava com ele, tocava-o, brincando, e, bem, algo foi despertado nele, creio eu. Ele
tornou-se outro homem. Foi então que me disse que não me amava mais, e ia deixar o ministério e morar com
ela. Era incrível."
Muitas mulheres também são famintas de afeição. A autora Evelyn Miller Berger lembra a história
familiar, mas jocosa, que ouvi anos atrás. Um casal estava viajando de carro por uma estrada deserta, certa noite,
e foi impedido de continuar, e assaltado. O assaltante lhes disse para entregarem o dinheiro. "Mas eu não tenho
dinheiro", protestou o homem, que estava dirigindo o carro. O bandido ordenou que ele saísse do carro para ser
revistado. De fato, ele não tinha dinheiro. Então o bandido ordenou que a esposa saísse do carro. Quando ela foi
revistada, ele verificou que também não tinha dinheiro, e então ela recebeu ordens de entrar no carro de novo. E,
ao entrar, ela disse: "Se você me revistar outra vez, eu lhe faço um cheque."

ADMIRAÇÃO
Mark Twain disse: "Eu posso viver dois meses sustentado por um bom elogio." Para cada comentário
negativo que um pai ou mãe faz a uma criança, ele, ou ela, precisa fazer quatro comentários positivos, para
conservar o equilíbrio. Assim acontece no casamento. O louvor verbal nutre o relacionamento. De acordo com o
meu amigo Dr. Ed Wheat, "a consciência de sua própria beleza, para uma esposa, depende grandemente do que o
seu esposo pensa dela. Ela precisa ser nutrida emocionalmente com louvor, e jamais deve ser diminuída pela
crítica."8
A famosa autora Marabel Morgan pergunta: "O que leva o homem a ser responsável e a ter sucesso em
suas ambições? Que incentivo ajudará o homem a permanecer estável, fiel e amoroso para com sua esposa e sua
família? A admiração pode fazer com que o marido ande garbosamente outra vez, devolverá o brilho aos seus
olhos e a vibração ao seu coração. Ele terá novamente a ousadia de sonhar e crer em suas capacidades, porque
você lhe disse que acredita nelas."9
Que características devemos admirar? "Concentre-se nas virtudes dele", dizem Lou Beardsley e Toni
Spry: "No seu papel de marido e pai.
Na sua aparência e modo de vestir.
Nas suas capacidades mentais.
Na sua confiabilidade no trabalho.
Na sua força masculina.
No seu amor ao Senhor.
Na sua capacidade e coordenação atlética.
No seu senso de humor.
Na sua coragem.
Na sua ternura e capacidades sexuais.
Estas são apenas o começo. "10
Todo marido deve ler Provérbios 31 e Cântico dos Cânticos. Sublinhe cada qualidade, capacidade e área
de beleza mencionadas a respeito da esposa, nessas passagens. Aplique-as todas à sua esposa, e faça a sua
própria lista de admiração.

ATIVIDADES
Muitos casamentos naufragam nas rochas da infidelidade porque se tornam chatos. Tornam-se cansativos.
A rotina torna-se mortal. Ir para o trabalho, voltar para casa, assistir TV, ir para a cama — semana após semana,
monotonamente.
"Não fazemos juntos mais coisa alguma", é uma queixa comum das esposas. "Não saímos juntos sem os
filhos, não temos recreação nem vamos a concertos, nem temos interesses ou projetos que compartilhemos, nem
diversão."
"Meu marido e eu costumávamos sair, sem os filhos, três ou quatro vezes por semana, o que era demais.
Mas depois paramos, e não temos ido a lugar nenhum, o que também está errado."
O marido dessa mulher, convalescendo do "caso" que teve com uma moça no escritório, concordou: "Eu
acho que precisávamos passar mais tempo juntos — só nós dois — nos dedicando a coisas como 'hobbies',
projetos, etc."
Casamentos ótimos, ou potencialmente ótimos, sofrem, se forem negligenciados. Leia de novo a famosa
declaração de Benjamim Franklin: "Um pouco de negligência pode gerar muito prejuízo; pela falta de um prego,
perdeu-se a ferradura; pela falta da ferradura, perdeu-se o cavalo; pela falta do cavalo, o cavaleiro perdeu-se,
sendo vencido e morto pelo inimigo — tudo pela falta de um pouco de cuidado com um prego da ferradura."
Nenhuma pessoa pode satisfazer todas as necessidades de outra. Algumas necessidades são supridas pelos
outros; outras, pelas nossas vocações; e ainda outras, somente por Deus. Esperar que o cônjuge propicie o que
apenas Deus pode propiciar, certamente acarretará desapontamento. Ninguém pode tomar o lugar dele. E a paz, o
contentamento e a força que ele propicia influenciarão todas as outras áreas do nosso relacionamento
matrimonial.
Porém, da mesma forma como nenhuma pessoa pode ocupar o lugar de Deus, Deus não ocupa o lugar do
cônjuge. Fomos criados para suprir as necessidades um do outro, as necessidades que somente outra pessoa pode
suprir. Um comovente poema da famosa poetisa Ella Wheeler Wilcox, embora escrito há quase cem anos, narra,
em cores vivas, a história dos dias atuais:"

DE UMA ESPOSA INFIEL PARA O SEU MARIDO


Marcada e desonrada pelos seus próprios delitos, Estou diante de você; não como alguém que pede
Misericórdia ou perdão, mas como alguém, Depois que o mal foi cometido, Que procura os porquês e as razões.
Venha comigo, De volta para aqueles primeiros anos de amor, e veja Onde foi que nossos caminhos
começaram a se afastar. Você deve lembrar
Como me perseguiu selvagemente, ultrapassando todos Os competidores e rivais, até que por fim Me
agarrou firme e fortemente, Com votos e aliança. Eu era a coisa central
De todo o Universo, para você, naquela época. Da mesma forma como então, para mim, não havia outros
homens. Eu me preocupava
Apenas com tarefas e prazeres de que você participava. Que dias felizes! Você se cansou primeiro. Não
direi que você se cansou, mas uma sede De conquista e realização no campo masculino Deixou o barco do amor
sem piloto ao leme. A loucura do dinheiro e o desejo intenso De sobrepujar os outros abrasaram o seu coração.
Nessa crescente conflagração, desapareceram Romance e sentimento.
Lá fora, você era um homem de talentos e poder — O seu dote duplo
De elegância e cérebro lhe deu um lugar de líder; Em casa, você era enfadonho, estava cansado, banal.
Você me dava casa, comida, roupas; você era amável; Porém, oh, tão cego, tão cego! Você não via nem podia
ver as minhas necessidades femininas
De pequenas atenções; e você não deu atenção
Quando me queixei de solidão; você disse:
"O homem precisa pensar no pão de cada dia
E não desperdiçar tempo em vida social vazia —
Ele deixa essa espécie de encargo para a esposa,
E paga as contas dela, e deixa que ela faça o que quer,
E acha que ela deve, com isso, sentir-se satisfeita. "
Cada dia Nossas vidas, que haviam sido uma vida no começo, Começaram a se afastar cada vez mais. O
velho romance de um homem e uma mulher estava morto. Você só falava sobre políticas do comércio. O seu
trabalho, o seu clube, a busca louca de ouro Absorviam os seus pensamentos. O beijo que você me dava por
dever era frio. Sobre os meus lábios. A vida perdera o seu sabor, sua emoção, até que Num dia fatal, quando a
terra parecia muito insossa, O sol nasceu radioso e belo. Eu falei pouco, e ele ouviu muito; Havia atenção nos
olhos dele, e uma tamanha Nota de camaradagem em seu grave tom de voz; Eu já não me sentia sozinha. Havia
um interesse amável na face dele; Ele falou da maneira como eu estava penteada. E louvou a roupa que eu
vestia. Parecia que já fazia mil anos ou mais Que eu não era notada dessa forma. Se o meu ouvido Estivesse
acostumado a cumprimentos ano após ano, Se eu tivesse ouvido você falar
Como esse homem falou, eu não teria sido tão fraca. O começo inocente De todo o meu pecado
Foi apenas o anseio feminino de ser colocada No santuário interior do pensamento de um homem. Você
me conservou lá, como namorada e noiva; Mas depois, como esposa, você me deixou de fora. Tão longe, tão
longe, que não me podia ouvir gritar; Você podia, você devia, ter-me salvo de minha queda. Eu não era má;
somente solitária — isso era tudo.
O homem deve oferecer algo para substituir
A doce aventura da perseguição do amante
Que termina no casamento.
As leis do amor, quando negligenciadas,
Pavimentam o caminho para a "Causa Estatutária".

CAPITULO 4

Mitos e Lendas Acerca do Casamento


Quando alguém espera, do casamento, algo que ele nunca pretendeu dar, está condenado a sentir-se
frustrado, desiludido e irado. Isto pode tornar-se uma desculpa para um "caso" ou pode ser uma oportunidade
para crescer.
MAIORIA das coisas em que grande parte de nós cria, quando chegou ao casamento, não é verdade. Esses
mitos e lendas têm atravessado muitas gerações, e, embora a experiência de todo mundo o negue, ainda nos
apegamos a eles tenazmente, como um homem que está se apegando a uma corda que não está presa a lugar
nenhum. Tenho conversado com pessoas que se divorciaram duas e três vezes que ainda crêem e esperam que
esses mitos venham a ser realidade para elas da próxima vez.
O fato de crer nessas lendas cria expectativas conscientes e inconscientes, que condenam o casamento
desde o princípio e preparam os seus participantes para a infidelidade. Daí, então, eles se tornam frustrados,
enfraquecidos e vulneráveis.
As crenças determinam o comportamento. Você não pode crer errado e agir certo. Você não pode pensar
em doença e saúde; cultivar fracasso, e encontrar sucesso; crer em fábulas, e desfrutar da realidade.
É triste dizê-lo, mas alguns desses mitos são perpetuados na igreja, na classe da Escola Bíblica Dominical,
no seminário. Não tenho nenhum desejo de perturbar a fé de ninguém. Pelo contrário, quero que essa fé seja
sincera, realista e verdadeiramente bíblica. Mas os crentes, por vezes, crêem em coisas que não estão na Bíblia,
por causa de um método errado de interpretação ou de uma esperança infantil de que Deus assumirá as
responsabilidades por eles.
Todos nós desejamos respostas prontas, soluções pré-fabricadas. Queremos que um mestre autoritário nos
diga em que pensar, e não como pensar. Que nos assegure que "tal maneira de crer", "tal plano", "tal método",
"tal abordagem" é a resposta para todos os problemas e a única verdade bíblica. E é claro que achamos que só
esses mestres têm essas verdades.
Consideremos quatro desses mitos religiosos.

MITO NÚMERO UM: "FEITO NO CÉU"


Esta marca registrada, de todo casamento, significa o que a etiqueta de um estilista famoso significa em
certas calças "jeans": qualidade. Não há defeitos; não há falhas na costura; o material é de primeira qualidade; o
acabamento, impecável; o estilo, revolucionário. Como diz certa companhia, a qualidade precede o nome.
Assim, se nosso casamento foi feito no céu, se Deus nos ungiu, o êxito é inevitável. Isso não aconteceu no
primeiro casamento, e desde então não tem acontecido. Ninguém questionaria que Deus uniu Adão e Eva, mas
isso não assegurou sucesso familiar.
As suposições não confessadas deste mito são mais ou menos assim: "Visto que o céu é um lugar perfeito,
qualquer plano que venha de lá traz consigo o seu próprio sucesso. Existe só uma mulher certa, ou só um homem
certo — a única pessoa do mundo com quem posso ser feliz — com quem realmente sou compatível. E Deus
estabeleceu que de alguma forma nos uniremos. E, além do mais, se Deus escolheu o meu cônjuge e nos uniu,
certamente não teremos os problemas e dificuldades que outros casais têm. Pouco ajustamento será necessário,
ou mesmo nenhum. Fomos feitos um para o outro."
Vamos colocar todos esses sonhos diurnos de volta nos livros de contos de fadas, com o cavaleiro branco e
a princesa, pois é a esse ambiente que eles pertencem.
Uma falácia deste mito é a predestinação. Se Deus nos predestinou para este relacionamento e ele não
funciona, a culpa é dele. Nós somos apenas participantes passivos do jogo. Deus o planejou, elaborou as regras e
assegurou a sua prosperidade. Quando dificuldades imprevistas aparecem, juntamente com Adão, culpamos a
Deus: "o cônjuge que tu me deste", abandonamos a nossa fé ou negamos a realidade do problema.
E, também, crer nesta lenda propicia conforto e segurança falsos. "Deus nos fez um para o outro" dá a
entender que as nossas personalidades se encaixam perfeitamente — que os nossos temperamentos são
complementares. Estamos despreparados para os choques de discórdia e conflito, ocasiões em que tudo aquece a
fogueira — vem o impasse, se apresenta o beco sem saída, a ruptura.
Terceiro, este mito torna-se uma desculpa. Quando o amor romântico fenece, a sua chama bruxuleia. A
antiga vivacidade se vai, o seu cônjuge já não é o mesmo, e começa a deterioração. Então vem a desculpa: "Para
começar, acho que, na verdade, Deus não nos uniu. Talvez o nosso casamento tenha sido apenas secular, e
realmente Deus não estava nele. Não foi ele que nos uniu; por isso é melhor nos separarmos." Uma mulher que
me disse isto acrescentou: "E finalmente encontramos um versículo que diz que podemos nos divorciar." Isso
parece espiritual, mas é tão absurdo quanto um peixe usando óculos.
Tenho ouvido isso vezes incontáveis, e sempre respondo: "Não sei se o seu casamento foi feito no céu ou
não, mas sei que todo o trabalho de sua manutenção precisa ser feito na terra."
Uma palavra a respeito desta teoria de "o homem certo — a mulher certa": É difícil, para mim, crer que
Deus limitaria desta forma as possibilidades de felicidade de uma pessoa. Morte, acidente ou separação por
outros motivos poderia impedir o casamento de dado homem com dada mulher. Acho que seria possível edificar
um casamento maravilhoso com qualquer membro do outro sexo escolhido dentre muitas pessoas. Se duas
pessoas entendem a natureza ativa do amor e se dedicam ao bem-estar um do outro, podem gozar de satisfação
conjugal.
Em muitas culturas não-ocidentais não há familiaridade nem amor antes do casamento. Os casamentos são
planejados pelos pais. A pessoa não interfere na decisão de quem será o seu cônjuge, e certamente os nubentes
não se conhecem nem se amam. Contudo, muitos casamentos fortes e belos têm sido produzidos com essa forma
de arranjo. Muito amor verdadeiro é desenvolvido depois do casamento, e requer a mesma qualidade de esforço
em qualquer cultura ou civilização.
Este mito também imobiliza. Sinceros jovens crentes esperam, apreensivos, por alguma estrela-guia —
alguma direção dramática, escrita em uma nuvem: CCF — Case-se com Fulano! Um rapaz, obviamente sincero
e preocupado, me implorou: "Por favor, diga-me se eu devo casar-me com essa moça. Ambos somos dedicados a
Cristo e cremos que nos amamos. Namoramos há bastante tempo, e parece ser a coisa certa, mas eu ainda não
tive um sinal claro. Nenhuma certeza de que tudo dará certo — nenhuma direção específica."
Porém, não sejamos acusados de deixar Deus fora do quadro do casamento. Aqui estão fatos. Deus
certamente tem um plano para a vida de cada pessoa e nos guiará nesse plano, se o quisermos. E esse plano
certamente inclui duas direções básicas: o trabalho que teremos e o nosso casamento — o nosso lugar e o nosso
cônjuge, se o casamento for a vontade dele para nós.
Se um casal procura realmente fazer a vontade de Deus e a busca pacientemente em sua Palavra, ora e
pede o conselho de crentes amadurecidos, Deus unirá as pessoas certas. Enquanto Adão dormiu segundo a
vontade de Deus, Deus lhe preparou uma esposa e a trouxe para ele.
O servo de Abraão foi enviado ao Iraque, para encontrar uma esposa para Isaque. Este servo queria fazer a
vontade de Deus, e orou: "Mostra-me a moça certa, aquela que for generosa, aquela que se oferecer para servir,
para andar a segunda milha."1 Deus gosta de responder a esse tipo de oração.
Considere o meu caso. Evelyn era uma garota vivaz, talentosa, generosa e popular, quando nos
conhecemos. Ela estivera noiva duas vezes, de rapazes crentes, e não tinha falta de pretendentes que a
admirassem. Minha primeira reação, depois de me recuperar do delicioso choque de conhecê-la, foi: "Preciso
salvar esta garota de todos os seus admiradores." Ficamos noivos — não naquele mesmo dia, é claro, mas não
muitos meses depois. Ambos desejávamos realmente a vontade de Deus em nossas vidas, e sentíamos que ele
nos havia unido.
Depois de um noivado de seis meses, discordamos a respeito da decisão de nos casarmos àquela altura ou
terminarmos primeiro os estudos. Rompemos completamente. Definitivamente. Fui para a escola. Ela voltou
para a sua casa, a oitocentos quilômetros de distância. Não continuamos tendo nenhum contato e destruímos ou
devolvemos todas as recordações do nosso relacionamento: cartas, fotografias, alianças, etc. E, embora
estivéssemos completamente fora da vida um do outro e muito separados, muitas vezes eu me lembrava de como
ela era uma garota sensacional, e inconscientemente comparava com ela as outras garotas com quem saía.
Evelyn ainda sentia profundamente em seu coração que Deus nos havia unido desde o princípio, embora tudo
então indicasse que nunca veríamos isso acontecer.
Muitos meses se passaram. Evelyn, chegando à conclusão de que a nossa amizade terminara totalmente,
relutantemente fez outros planos. Arrumou outro emprego, e toda a sua vida tomou outra direção. Por fim, ela
encontrou um ótimo rapaz crente, e estava noiva outra vez, planejando casar. Por algum motivo, nessa ocasião,
eu precisei enviar-lhe uma comunicação, sem saber de seu iminente casamento com aquele rapaz — e, é claro,
sem saber que os convites já haviam sido enviados, o vestido de noiva confeccionado, o pastor convidado e
todos os outros preparativos terminados.
Minha comunicação reacendeu uma antiga chama. A resposta dela fez suscitar de novo a minha apreciação
por ela. Telefonei-lhe.
O seu espírito vivaz cativou-me novamente. O casamento dela foi desmanchado cinco dias antes da data
estabelecida, e nós recomeçamos de onde havíamos parado. E tem havido muitos benefícios adicionais. Eu ainda
como torradas todas as manhãs feitas na torradeira que alguém lhe deu para o outro casamento!
Porém não estou sugerindo que isso é um padrão. Foi em cima da hora. Mas nós dois sabemos e nunca
tivemos dúvida de que Deus nos uniu para edificar um casamento forte e para ajudar outros casamentos.

MITO NUMERO DOIS: "ENCONTRAR O MEU PAPEL"


Tanto quanto posso me lembrar, todo sermão que ouvi a respeito do lar enfatizava dois ou três pontos.
Havia sempre estes dois: "O marido é o patrão; a esposa deve ser-lhe sujeita." Se um terceiro ponto era incluído,
era: "Faça as crianças obedecerem, e mantenha o culto doméstico." Desde aqueles anos impressionáveis, tenho
visto muitos casais com os seus papéis claramente definidos, mas o seu casamento indo por água abaixo — lares
em que era lido Ezequiel, no culto doméstico, e os filhos não viam a hora de caírem fora.
Duvido que a cena tenha mudado muito, embora certamente haja mais recursos para se ter uma boa vida
familiar agora do que em qualquer outra época da história da igreja. A compreensão prática e bíblica acerca do
casamento e da criação de filhos que temos hoje é maravilhosa. Mas o ensino desequilibrado a respeito do papel
dos cônjuges continua, como se o fato de se identificar e assumir o seu papel característico assegurasse o sucesso
do casamento. Ministros e professores de seminários, tanto homens como mulheres, ainda estão fazendo as
mulheres sentirem o peso da culpa a respeito de qual é o seu papel, mas não ouço falar muito de os maridos
"amarem as suas esposas como Cristo amou a igreja" e acerca do que isto significa. No começo de meu
ministério, eu conseguia falar horas seguidas a respeito da responsabilidade da mulher, mas balbuciar apenas
uma ou duas frases para os homens, e isso acontecia pouco antes da bênção final.
Em um dos seminários que conduzimos juntos, o Dr. Howard Hendricks disse que muitos homens crentes
são como sargentos frustrados, batendo na cabeça de suas esposas com a Bíblia e repetindo o único versículo que
decoraram: "Submeta-se, submeta-se, encontre o seu lugar e fique ali."
Outras desanimadas esposas crentes estão suspirando: "Ah, se meu marido assumisse o seu papel como
cabeça desta casa, os nossos problemas estariam resolvidos!"
Claro que cada cônjuge tem uma função especial, embora o nosso objetivo não seja dissecar isso aqui.
Deus nos criou com características masculinas e femininas, dons peculiares e responsabilidades espirituais.
Somos iguais em valor e importância, mas diferentes quanto às funções. Ninguém tem o direito de escolher o
lugar que vai preencher nem como o preencherá. Há um plano preconcebido e ordem.
Todavia, o fato de se assumir um papel e autoridade não é o mesmo que ter liderança em termos bíblicos.
Eu posso assumir essa posição e ainda ser egocêntrico, mandão, tirânico. E, quando a minha atitude é errada, os
meus relacionamentos se desfazem.
Eu era o chefe de minha família. Não havia dúvidas quanto a isso. Mas eu não entendia a receita de Jesus
de que um líder é o servo de todos: dando, ministrando, redimindo. 2 Eu podia dar ordens, mas não conseguia
servir. Eu era decisivo, mas inflexível, não cedia nunca. Eu era um bom provedor, mas providenciava pouco
encorajamento para os dons de minha esposa. A meu ver, Efésios 5:22-33 fora escrito primordialmente para a
esposa.
...Até que aconteceu a adversidade. Tensões sobrevindas ao nosso casamento me levaram novamente a
essa passagem, e senti-me arrasado. Palavras que, na verdade, eu não havia visto antes saltaram da página:
submetei-vos... amai... se deu... santifica e purifica a sua esposa... apresentá-la sem mancha... amai as vossas
mulheres como ao vosso próprio corpo... nutre... preza... membros... deixará/se unirá... serão... uma só carne...
ame como a si mesmo... como também Cristo amou a igreja.
Como foi que Cristo amou a igreja? Fosse o que fosse que ele tivesse pedido de seu povo, ele o fez
primeiro. Ele nos manda amar; ele o fez primeiro. Precisamos perdoar; ele perdoou primeiro. Somos chamados
para levar a nossa cruz; ele a levou primeiro. Precisamos nos sacrificar; ele o fez primeiro.
Assim, o homem é o iniciador. Ele perdoa primeiro, sacrifica-se, sustenta, aceita primeiro. Ele modela
algo para a sua esposa, como Cristo fez com a igreja. Isto é mais do que usar um título ou ser um fiscal divino.
Subtrai o senso de superioridade de que ele é possuído, e ele reconhece que não pode fazer isto sem as forças que
vêm de Deus.

MITO NUMERO TRÊS: "O CASAMENTO ME TORNARA FELIZ"


Uma das razões por que o casamento tem sofrido críticas hoje em dia é que ele não é o remédio para todos
os males que se pensa que é. E nenhum povo do mundo faz maiores exigências do casamento do que os
americanos. Ele também não faz o que nossos pais, amigos, educadores e o sucesso não foram capazes de fazer:
tornar-nos felizes. Ainda cremos que o casamento é a nossa grande esperança. Ele nos separará de nosso
passado, nos dará todo o amor de que precisamos agora e nos garantirá uma velhice tranqüila. "Felizes para
sempre" ainda consta em nossos sonhos.
A cerimônia do casamento é uma revelação ao mundo de que cremos que encontramos alguém que nos
tornará felizes. Um marido divorciado disse, a um pastor amigo, o que muitos não teriam a coragem de dizer:
"Deus abençoe a minha querida esposa; ela tentou tão intensamente! Eu dei a esta mulher três dos melhores anos
de minha vida, esperando que ela pudesse me entender e me fazer sentir homem. Ela simplesmente não tinha
condições. Ela simplesmente não soube como me fazer feliz."
Os pais dele haviam tentado e falhado. Outros falharam. Por isso, ele casou-se e deu à esposa a chance de
acertar. Ela, porém, também não o conseguiu. Mas ele tentará outra vez, estou certo, e dará a outra mulher o
mesmo privilégio. E ela também falhará. Cada nova tentativa, nessa mesma direção, desse menino crescido, está
destinada a aumentar o seu desapontamento e frustração. Ele é um sonhador.
Um homem "pensou alto", para mim, acerca do motivo por que o seu casamento não durou. Ele já fizera a
quinta tentativa. Ele é um homem genioso, e as suas explosões destroem tudo o que realmente deseja. Mas, no
conceito dele, a esposa é sempre a culpada, porque não conseguia produzir a felicidade.
Três falácias compõem este mito:
O casamento compensará os fracassos do passado. "Minha mãe não gostava de mim; uma vez, meu pai
não abotoou as minhas calças direito; vivíamos no lado errado da cidade; minha professora do primário foi um
fracasso. O casamento será um porto em que lançarei a âncora — serei aceito. Todo o passado será esquecido.
Será um novo começo." Claro que será um relacionamento novo, mas o passado o perseguirá como um cão de
caça. Nós nos casamos por todas as razões erradas: fugir de um lar desajustado, tirar desforra, provar algo. Os
problemas do casamento trarão de volta o passado, e o passado determinará como nos haveremos com os
problemas. O seu passado influenciará o seu casamento mais do que o seu casamento irá alterar o seu passado.
O casamento não modifica o passado; ele o revela. Nem Deus pode mudar o passado; ele aconteceu; é
imutável. Mas Deus pode nos livrar de sua tirania. E então poderemos aprender do passado e usá-lo como
plataforma, da qual lançaremos contra-ataques positivos.
Segunda falácia: O meu cônjuge propiciará o que preciso. Se eu crer nisso, criarei uma dependência
controlada. Tornar-me-ei um aleijado emocional. A qualidade de minha vida é determinada pelos outros. Não
pertenço a mim mesmo. Eles agem, eu reajo. Eles comandam o espetáculo, eu sou um espectador. Eu me apoio
neles; quando eles se movem, eu caio. Eles apanham um resfriado, sou eu quem espirra. Eu vivo através deles, e
os torno moralmente obrigados a providenciar o meu bem-estar. Quando eles não conseguem providenciar o que
acho que preciso, eu os culpo pelos meus fracassos. Eu lhes dei o poder de me destruírem.
Uma jovem esposa de pastor, em soluços, fez esta confissão a David Wilkerson: "Agora não há
absolutamente nenhuma esperança para o nosso casamento. Vivemos em dois mundos diferentes. Ele está
demasiadamente envolvido no seu trabalho; não tem tempo para mim e para as crianças. Todo o meu mundo
girava ao redor dele, mas agora estou ficando cansada de ficar em casa, esperando por ele. Não estou realizando
nada, pessoalmente. Nem sei se ainda o amo."
Sabiamente, David respondeu: "Que vergonha! Toda a sua felicidade depende apenas do que o seu marido
faz? Sendo um bom marido, tratando-a da maneira que você pensa que deve ser tratada, gastando um pouco de
tempo com você — então você pode achar um pouco de felicidade! Mas se ele a menosprezar, o seu mundo
desmoronará! Tudo depende dos atos de seu marido! .Tovem, você não é uma pessoa inteira; é apenas meia
pessoa. Você não pode sobreviver se depender de outrem para ser feliz. A verdadeira liberação da mulher
significa você encontrar a sua própria felicidade em si mesma, através do poder de Deus."3
E ele continuou: "O casamento não é feito de duas metades tentando se tornarem um todo. Pelo contrário,
o casamento consiste de duas pessoas inteiras, que são unidas pelo Espírito de Deus.
O casamento nunca funciona, a não ser que cada cônjuge mantenha a sua identidade, estabeleça os seus
próprios valores, encontre o seu próprio senso de realização e descubra a sua própria fonte de felicidade...
através do Senhor."
Intimamente ligada está a terceira falácia deste mito: A felicidade é um resultado — o amor, um
sentimento. A felicidade é o resultado de um acontecimento, e o amor, algo que você consome gulosamente.
Esses dois conceitos encorajam o cônjuge a ser passivo: a esperar, reagir apenas, ver para que lado o vento
sopra. Ele espera que "algo de bom vai acontecer" com ele. Muitos de nós chegamos ao casamento gritando:
"Satisfaça as minhas necessidades, ame-me, faça-me feliz", e depois esperamos, e esperamos. E temos
esperança.
Mas a verdade é que essa felicidade é uma escolha. Abraham Lincoln sempre dizia: "A maioria das
pessoas é tão feliz quanto escolheu ser." Você não pode escolher os seus sentimentos de felicidade, mas pode
escolher as ações que propiciarão esses sentimentos. Não fazemos o que fazemos porque sentimos da maneira
como sentimos; sentimos da maneira como sentimos porque fazemos o que fazemos. Agimos, e assim
aprendemos uma nova maneira de sentir; e não sentimos, e assim aprendemos uma nova maneira de agir.
Temos pouco controle sobre as nossas emoções, mas tremendo controle sobre as nossas ações. Foi por isso
que Erich Fromm disse: "O amor não é uma vítima de minhas emoções, mas um servo de minha vontade." A
Bíblia diz a mesma coisa: "Acostumemo-nos a amarmos uns aos outros." 4 Você já praticou algo: piano, tênis,
canto, natação? O que é prática? É a repetição da mesma ação até que você se torna perito, até que aquilo se
torna parte de você.
A prática relaciona-se com as ações. Você não pode praticar sentimentos. Portanto, amor é algo que você
faz. Eric Hoffer acrescenta: "Amor é uma atividade direcionada para outra pessoa." Visto que é ação, é uma
decisão — um ato consciente da vontade, um ato de fé. Na cerimônia de casamento, o pastor pergunta: "Você vai
amar esta pessoa?" presumindo que amor é algo que você decide que vai exercer. E você responde: "Sim, vou",
uma promessa, em vez de um sentimento — uma promessa de fazer, em vez de uma espera para reagir. Quando a
ação do amor é iniciada em relação a um cônjuge no nível volitivo, os outros elementos do amor, intelectuais e
emocionais, aparecerão por si. E, como nos lembra John Drakeford: "Uma vez estabelecido um padrão de
comportamento, ele tem o seu próprio modo de realização."
Assim, precisamos escolher. Um solteiro infeliz será um casado infeliz. Um celibatário infeliz não será
modificado por uma aliança matrimonial. Nenhum cônjuge poderá fazer por mim o que eu não decidir desejar. A
minha felicidade é de minha escolha, e não da obrigação de meu cônjuge.

MITO NÚMERO QUATRO: "OS FILHOS MANTÊM OS CASAIS UNIDOS"


Há uma crença comum de que os filhos consertam um casamento. Se isso fosse verdade, considerando-se
as estatísticas de divórcio, eles não tiveram sucesso nisso. Isto significaria que os filhos de divorciados estão
sofrendo devido ao seu próprio fracasso. Absurdo!
Uma fábula relacionada com essa crença diz: "O nosso casamento pode não ser tão firme, mas a presença
de crianças criará um ponto focai unificador. Se ambos nos concentrarmos em criar filhos, as nossas diferenças
pessoais desaparecerão." Isto é como atirar um fósforo em um barril de pólvora e sentar em cima dele.
Os filhos não resolvem os problemas conjugais; eles os revelam, os agravam. Eles são muito maus
conselheiros matrimoniais. Em vez de aliviar as tensões maritais, eles as aumentam. As falhas encobertas serão
expostas, e esses amorzinhos vão precipitar um terremoto.
Todo estudo de satisfação conjugal mostra que há um declínio quando os filhos começam a nascer.
Quando chega o terceiro filho, a satisfação conjugal decresce drasticamente. Isto não nos deve surpreender. O
que é que um filho acrescenta ao casamento? A presença iniludível de uma criatura dependente, exigente,
egoísta, vulnerável, que tem duas extremidades que precisam ser limpas. Certamente isto vai mudar o programa,
si 'citar frustrações, esgotar a mãe e diminuir a conta bancaria 17arf 'gir em nós o que há de melhor e o que há de
pior.
As dificuldades do casamento causarão discordância a respeito da criação dos filhos, quanto à sua
disciplina e instrução. Um dos pais é mais permissivo, o outro, mais autoritário. Um diz: Fique. O outro: Deixe-o
ir. Os filhos, estando entre ambos, jogam um cônjuge contra o outro, e, inconscientemente, os separam ainda
mais.
O foco primordial precisa ser o casamento, e não os filhos. Precisamos nos concentrar no que damos aos
filhos, e não no que eles nos dão.
Quando Jesus disse: "Por isso deixará o homem pai e mãe, e unir-se-á a sua mulher; e serão os dois uma
só carne",5 ele não falou nem uma palavra a respeito dos filhos. Só acerca do casamento. O casamento é
permanente, a paternidade temporária. Precisamos nos esmerar no que é permanente, e não no que é temporário,
e criar os filhos no contexto de um casamento em crescimento.
O Dr . Armin Grams enfatiza:
Nunca se pretendeu que os filhos fossem o eixo da família. O seu lugar é na periferia, protegidos e
amados, mas respeitados como crianças, esperando-se deles que se portem como tais. O centro de uma família é
a relação entre o marido e a esposa. Tudo o mais gira em torno disso. Desta maneira, quando os filhos deixam o
convívio da família, podem fazê-lo causando o mínimo de perturbação para a unidade familiar. Se eles são o
centro dessa unidade, não podem sair sem causar uma ruptura séria nela. A nossa função, como pais, é
tornarmo-nos gradualmente desnecessários, equipar a criança e permitir que ela circunde a família em órbitas
cada vez mais amplas, até estabelecer-se individualmente na sociedade como adulto responsável.6
Até mesmo filhos doentes podem ter um efeito devastador sobre o casamento. Um estudo indicou um
grande coeficiente de divórcios que aconteceu depois que um filho morreu, após longa enfermidade. A mãe que
passa noite e dia cuidando do filho tem a tendência de negligenciar quase totalmente o seu casamento. Logo
depois do funeral a deterioração surge na superfície, e muitos maridos vão embora. Fico pensando que apoio e
cuidado esses maridos estavam oferecendo durante aqueles dias dolorosos — evidentemente muito pouco.
Talvez eles também fossem crianças.
Um estudo feito na Califórnia descobriu que os casamentos de uma surpreendente porcentagem de oitenta
por cento de pais com filhos que tinham câncer finalmente se separou! O Dr. Sidney Arje, da Sociedade
Americana de Câncer, concorda: "Quando as pessoas se descobrem nesta situação, há todo tipo de reações. Há
uma grande interligação de agressões, e, antes de você perceber, muitos maridos e esposas estão se detestando."
"E, se há uma patologia emocional na família, esta situação a estimula", diz o Dr. M. Lois Murphey,
diretor dos pediatras de um grande hospital americano. "O câncer não produz nada que já não estivesse latente
anteriormente."
Desta forma, como eu disse em meu livro The Marriage Affair, o casamento começa com duas pessoas, e
termina com as mesmas duas. Ele passa pelo ciclo de paternidade, e volta ao ponto onde começou. Começa com
um casal apaixonado, mas não necessariamente termina dessa maneira. Muitas vezes isto acontece por causa de
um lar centralizado nos filhos, e quando esses filhos crescem e vão embora, não há mais centro de interesse
comum. Esses pais, no esforço de fazer o melhor pelos seus descendentes, na verdade, permitiram que os seus
filhos se intrometessem entre eles, para o detrimento de todas as pessoas envolvidas.7
Estes quatro mitos matrimoniais têm uma característica em comum, uma falácia que os liga: a de que você
pode livrar-se de sua responsabilidade. Que outrem — Deus, o seu cônjuge, o seu filho — é responsável pelo seu
bem-estar. Que outrem deva ser o iniciador.
Esta maneira de pensar prepara você de maneira perfeita para ter um "caso". Se Deus não lhe deu o
cônjuge ideal e o seu cônjuge e seus filhos não lhe propiciam felicidade, por que não procurar em outra parte?
Algures você a encontrará.
E isto também é um mito.

CAPITULO 5

Não Me Induzas á Tentação


Se você está pensando, em seu íntimo:"Um 'caso' jamais poderia me acontecer", está em dificuldades.
Crer que somos imunes nos deixa completamente expostos e desprotegidos.
Ellen Williams
QUANDO você nasceu, casou-se — casou-se com uma companheira que palmilhará o caminho da vida
com você até o fim. Você jamais acordará qualquer manhã nem irá dormir qualquer noite sem que essa
companheira esteja bem ao seu lado. Essa companheira nunca o deixará por falta de sustento. Você nunca a
poderá processar, requerendo sustento separado. É impossível divorciar-se dela. Quer você goste quer não, você
e essa companheira estarão juntos até que a morte os separe. Tentação — esta é a sua companheira vitalícia.
Todo mundo é tentado. A tentação não desconhece ninguém. Todo mundo é tentado, e sempre será.
Ninguém pode evadir-se dela ou evitá-la. É um fato inescapável da vida. Enquanto um homem estiver vivo, será
tentado. A tentação é como a poeira: cai sobre todo mundo. É como os germes que carregamos conosco, que nos
atacam quando a nossa resistência está fraca.
Nenhum isolamento das outras pessoas nos isolará da tentação. O monge, em seu mosteiro recluso; o
eremita, em sua caverna secreta; o prisioneiro, em sua cela solitária, todos conhecem a tentação. Não há
exceções. Não há isenções. A tentação é uma realidade universal, inevitável.
Se você tem uma mente por meio da qual pensa, será tentado através dessa mente. Se você tem um corpo
em que vive, será tentado através desse corpo. Se você tem uma natureza social, com que se relaciona com os
outros seres humanos, essa será uma avenida para a tentação. Se você é um ser sexuado, terá tentações sexuais.
Certo autor, na revista Psychology Today, disse: "Todos os homens, desde o primeiro dia de seu casamento
em diante, pensam na sua possibilidade de serem infiéis. Não, necessariamente, que eles planejem fazer algo
nesse sentido, mas a possibilidade é uma coisa consciente em suas mentes." Se o autor quis dizer que todas as
pessoas, homens e mulheres, enfrentam verdadeira tentação sexual, está absolutamente certo. De fato, se uma
pessoa pensa, erradamente, que é isenta da tentação, já está sendo vulnerável, e Satanás já está passando graxa
no escorregador para ela.
"Ninguém, ao ser tentado, deve dizer: 'É Deus que me está tentando', pois Deus não pode ser tentado pelo
mal e a ninguém tenta. Antes, cada qual é tentado pela própria concupiscência, que o arrasta e seduz. Em
seguida, a concupiscência, tendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, atingindo a maturidade, gera a
morte."1
O Autor da Tentação. Durante a sedução da tentação, é fácil racionalizar, e culpar Deus de ser o seu autor.
Não, conforme Tiago diz, Deus não tenta ninguém. Fazê-lo, seria completamente contrário à sua natureza, aos
seus objetivos e à sua Palavra.
Quem tentou Adão e Eva, no jardim do Éden? Quem tentou Jesus durante quarenta dias no deserto?
Satanás, o Diabo, que é chamado de tentador, a velha serpente, e é nosso grande inimigo. Ele anda em derredor,
rugindo como leão, procurando a quem possa tragar.2 E ele tem um padrão de tremendo sucesso — que teve
êxito, até certo ponto, com todos os membros da raça humana.
A Natureza da Tentação. Note bem isto: tentação não é pecado. Nunca poderia ser. A Bíblia diz: "Jesus foi
tentado em tudo, mas sem pecado."3 Costumávamos cantar, muitos anos atrás, este hino, na Escola Bíblica
Dominical: "Tentado, não cedas; ceder é pecar." A tentação não é pecado.
A nossa reação, a nossa resposta, determina se pecamos ou não. De fato, a tentação, em si própria, é uma
das coisas mais fracas do mundo. Sozinha, ela é totalmente impotente. Para ter êxito, a tentação sempre necessita
de um parceiro — alguém para concordar com ela, para dançar com ela, para abrir a porta para ela, para dar-lhe
as boas-vindas.
Você não pode impedir as tentações de virem, mas pode decidir o que vai fazer com cada uma delas.
Você não pode impedir os pássaros de voarem sobre a sua cabeça, mas pode impedi-los de fazerem ninho
em seus cabelos.
Você não pode impedir o Diabo de cantar em seus ouvidos as suas cantilenas de encantamento, mas não
precisa juntar-se a ele e cantar um dueto.
Você não pode impedir o Diabo de expor suas mercadorias na vitrine, instando para que você as compre,
mas você não tem de comprá-las.
Você não pode impedir o Diabo de colocar os seus fedelhos à sua porta, e de bater incessantemente. Mas
você não precisa abrir a porta, pô-los para dentro, aquecê-los, vesti-los e alimentá-los.
Quando uma garota se aproximou de mim, no vestíbulo de um hotel, e, sorrindo, perguntou: "Você
gostaria de se divertir um pouco esta noite?" era apenas uma tentação. Ser induzido à infidelidade não é pecar.
Aquiescer com ela é que faz a diferença.
A Tentação É Sempre Para Pecar... "E origina o pecado'', adverte Tiago. Pecado é o objetivo da tentação.
Embora toda tentação seja aparentemente inocente, o único propósito do Diabo é levar você a pecar. Não apenas
impedir um pouquinho o seu progresso, colocar alguns obstáculos em seu caminho, mas assisti-lo como uma
parteira, e ajudá-lo a dar à luz... o pecado.
O objetivo do Diabo não é ter um mundo cheio de bêbados, prostitutas e toxicômanos. Essas pessoas não
constituem uma propaganda para ele. Mas o pecado, seja em que nível social for e com que sofisticação, opõe-se
ao maravilhoso plano de Deus para a sua vida, e neste objetivo sinistro e destruidor o Diabo está totalmente
empenhado.
A Tentação Apela Para os Seus Desejos Humanos. Para as necessidades que você tem, e que foram criadas
por Deus. Todas elas não são malignas. "...A tentação do homem deriva dum impulso dos seus próprios desejos...
" O apelo da tentação é sempre satisfazer uma necessidade legítima de maneira errada ou na hora errada. O
desejo intrínseco, por si mesmo, é bom, querer satisfazê-lo é bom, mas quando e como é satisfeito faz a
diferença. O bem ou o mal estão na maneira como essas necessidades são satisfeitas.
O desejo de ter amigos, amor, ser apreciado, ter sucesso, aceitação, intimidade, são todos bons. Satisfazê-
los mediante desonestidade, manipulação, egoísmo e violação da verdade de Deus nos leva ao pecado.
Acontece exatamente assim com o sexo. Toda pessoa é um ser sexuado, com desejos sexuais, atrações
sexuais e sentimentos sexuais. Tudo isto foi idéia de Deus. Não há nem nunca poderia haver nada de errado com
o sexo. Por ser a sexualidade um dom de Deus, não pode haver erro, defeito ou mal nela. Mas o homem,
historicamente, tem prostituído os dons de Deus, e os tem usado para a sua vantagem egoística e detrimento.
Satanás é astuto. Ele sabe que, como crentes, temos bom gosto e boas motivações. Ele não nos tenta com
coisas baratas ou com o pecado impudente, pois isso não apelaria à nossa natureza espiritual. Pelo contrário,
ele pega sutilmente algum dos melhores dons de Deus, como intimidade e unidade de espírito, e injeta, nesse
dom, algumas qualidades que não são agradáveis a Deus. Ele distorce as nossas prioridades e nos tenta a usar
as coisas boas de Deus no lugar ou na hora errada. Desta forma, a atração sexual pode tornar-se um problema
num relacionamento amoroso perfeitamente apropriado.4
A Tentação Apela Para o Ponto Mais Fraco de Sua Vida. Todos nós temos uma fraqueza especial. Como
estrategista arguto, o Diabo reúne as suas forças mais poderosas no ponto mais fraco da batalha. As nossas
diferenças de temperamento, personalidade, fraquezas herdadas nos levam a reagir peculiarmente a diferentes
tipos de tentação. Pedro teve a sua tentação especial, e, certamente, Tome também, Tiago e João lutaram com
suas fraquezas características.
Uma pessoa luta o dia inteiro com a tentação de roubar. Outra preferiria morrer a roubar. Onde uma pessoa
é fraca, outra é forte. Uma, luta contra a tentação de mentir. Uma jovem disse-me, depois do culto em que eu
pregara na capela de certa universidade: "Sr. Petersen, eu sou uma mentirosa. Minto o tempo todo — sempre
menti. Provavelmente, hoje já menti cinqüenta vezes. Minto até quando não preciso. Minto quando isso não me
faz nenhum bem. Mas minto sempre. E, por falar nisso, estou me preparando para ser missionária." Antes de
tornar-se missionária, ela precisa entregar-se a Cristo, que disse: "Eu sou a verdade." Outra pessoa é muito
tentada à inveja, violentamente levada ao ciúme, quando outros têm sucesso ou adquirem posição, proeminência
ou prestígio. Já outra não se importa. Uma pessoa é gananciosa, ávida. Outras têm o problema oposto. Esbanjam
tudo o que ganham. Algumas lutam com a arrogância e o orgulho, enquanto outras lutam com o complexo de
inferioridade e a passividade. O sexo é um problema mais difícil para uns do que para outros. É que eles são
mais sensuais — suas necessidades emocionais são maiores. A tentação para um "caso" extraconjugal pode
constituir uma grande batalha para eles, maior do que para os do tipo mais conservador.
A Tentação Começa na Mente. O órgão sexual mais importante é a mente. Um "caso" começa na mente,
muito antes de terminar na cama. A relação clandestina começou como um pensamento inocente no recesso
secreto da mente de alguém. O pensamento é a fonte da ação. O corpo é o servo da mente. O pensamento
determina o caráter. O nosso caráter é moldado na forma de nossa concentração.
A mente é um jardim que pode ser cultivado, para produzir a colheita que desejarmos.
A mente é uma oficina, em que são feitas as decisões importantes para a vida e a eternidade.
A mente é uma fábrica de armas, onde forjamos as armas de nossa vitória ou de nossa destruição.
A mente é um campo de batalha, em que todas as batalhas decisivas da vida são ganhas ou perdidas.
Os comunistas aprenderam, através do sucesso de sua lavagem cerebral, que, se puderem converter e
controlar os pensamentos das pessoas, podem reformar o seu caráter e escravizá-las. Eles crêem, como disse
Emerson: "A chave de todo homem é o seu pensamento." Os pensamentos governam o mundo. Os bons
pensamentos nunca produzem maus resultados, nem os maus pensamentos, bons resultados. Jesus disse:
"Conhece-se a árvore por seus frutos."
Napoleon Hill cristalizou o que julgo ser o conceito mais importante e surpreendente a respeito da mente:
"A única coisa sobre que todas as pessoas têm controle completo, indisputado, é a sua mente — O.Í seus
pensamentos." Você não tem controle sobre as suas circunstâncias ou a sua natureza; você não pode controlar a
hereditariedade ou o ambiente; você não pode controlar a sua condição física ou capacidade mental; nem outras
pessoas, amigos ou inimigos, o passado ou o futuro. Há uma única coisa que você pode controla. -: você tem o
poder de moldar os seus pensamentos e adequá-los a qualquer padrão de sua escolha. "Como ele pensa consigo
mesmo, assim é."5
Pensamento do Mal ou Mau Pensamento. Qual é a diferença entre estes dois? Suponhamos que eu leia um
livro ou revista ou assista a um programa de TV. Algo que vejo — uma propaganda, um parágrafo, um desenho
— faz com que um pensamento do mal relampeje pela minha mente. Isso é pecado? Não. Dirigindo pela rua, o
que vejo em uma propaganda ou ouço no rádio do carro faz com que uma sugestão do mal invada a minha
mente. Isso é pecado? Não. Ou, enquanto estou trabalhando na fábrica, no refeitório do escritório, no clube, ouço
piadas sujas, anedotas picantes, o relato de aventuras sexuais. É pecado ouvi-las? Claro que não.
Ou então me encontro na igreja e deparo com uma mulher que é radiante, charmosa, vibrante. Embora não
haja flerte, ela tem uma personalidade radiante. Conserva-se em forma, veste-se bem e dispõe de uma
amabilidade cristã extrovertida, que a torna muito atraente. Um pensamento esvoaça pela minha mente de que
essa pessoa é uma beleza, é mui talentosa e que é sexualmente atraente para qualquer homem que tenha sangue
nas veias. Há algo de errado com isso? Não! Não é pecado ouvir as centenas de sugestões passageiras e
tentadoras que batem à porta de minha mente todo dia, a vida inteira. Para o super-sensível, o Diabo cochicha:
"Há algo de errado em você. Se você fosse um bom crente, Deus estaria cuidando de você, e você não teria esses
pensamentos. Ê tarde demais; você já pecou." Você pode reconhecer as mentiras do Diabo, porque são sempre
negativas e levam a um sentimento irremediável de culpa e à autocondenação.
Mas quando esse pensamento passageiro do mal é aceito, recebe acolhida e é acariciado demoradamente,
com o consentimento de sua vontade, torna-se um mau pensamento. Se eu abrir a porta, convidar amavelmente o
visitante para entrar, der-lhe uma cadeira confortável para descansar e encorajar conversa adicional, o estranho
se torna meu amigo. Este amigo agora me ajuda a formar um quadro — simples a princípio, mas por fim com
detalhes e a cores vivas — de tudo o que essa amizade pode significar para mim c das necessidades que serão
supridas por ela.
Esse quadro é uma fantasia, e as fantasias são os aprestos para a ação desejada. Uma "transa" é
experimentada muitas vezes na fantasia, antes da hora e do lugar do primeiro encontro serem estabelecidos.
Alguém perguntará: "Quando Jesus falou a respeito de concupiscência ou adultério mental, ele estava
falando apenas de pensamentos do mal ou de maus pensamentos?" Verifiquemos cuidadosamente as suas
palavras em Mateus 5:28: "Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em
seu coração cometeu adultério com ela."
Em seu vibrante livro Love and Marriage, o Dr. David Hocking torna este princípio meridianamente claro:
Primeiro, a palavra olhar está no presente, no grego, indicando um hábito vivencial contínuo. Não
cremos que esteja dizendo que olhar com desejo sexual em um dado momento é errado. Deus nos fez com desejo
sexual. Os homens gostam de olhar para as mulheres, e as mulheres gostam de olhar para os homens. Cremos
que esta passagem está condenando a prática de centralizar a sua atenção em uma dada pessoa, com a
motivação de cometer adultério com ela.
Em segundo lugar, a palavra "mulher" está no singular, quanto ao número, e não no plural. O texto não
está condenando o ato de se olhar para mulheres em geral, mas a concentração em uma mulher em particular.
Uma pessoa determinada começa a dominar os nossos desejos.
Em terceiro lugar, as palavras "para a cobiçar" têm referência óbvia à perpetração do adultério. Isto não
é a mesma coisa que experimentar o desejo de olhar para a aparência física de uma mulher e gostar do que se
viu. O problema acontece quando você se concentra em uma pessoa em particular e mentalmente vai para a
cama com ela.6
Este é o mau pensamento, a fantasia, "concentrar-se em uma dada pessoa, e planejar mentalmente ir para a
cama com ela".
Neste ponto, a mente começa a fazer duas coisas. A sua parte subconsciente não faz diferença entre bem e
mal, e apenas reage às sugestões e figuras que lhe são ministrados, audivelmente ou na imaginação. As sugestões
vêm da conversa com nós mesmos que todos praticamos, não percebendo, muitas vezes, o seu tremendo poder 3
influência. Todas as pessoas conversam consigo mesmas o tempo todo, reagindo inconscientemente a todas as
situações, analisando, julgando, recordando, expressando as suas crenças, temores ou desejos. O psicólogo Dr.
David Stoop fez um estudo sobre nossa conversa com nós mesmos e observa: "Geralmente, em voz alta, dizemos
a média de 150 a 200 palavras por minuto. Algumas pesquisas sugerem que falamos com nós mesmos, em
nossos pensamentos, a média de, aproximadamente, 1.300 palavras por minuto. Visto que muitos de nossos
pensamentos tomam a forma de imagens ou conceitos mentais, podemos pensar, em uma fração de segundo, em
algo que nos tomaria vários minutos de discurso verbal para descrever."7
A medida que se desenvolve a fantasia a respeito da possibilidade de uma relação extraconjugal, a nossa
mente afirma e incentiva essa fantasia, mediante o que dizemos para nós mesmos e as imagens criadas. "Isso
seria gostoso... eu preciso disso... a vida tem sido enfadonha... ela é algo mais... as maçãs roubadas são mais
doces... Não estou pensando em nada de errado." E assim por diante, à velocidade de 1.300 palavras por minuto.
Centenas de imagens alimentam a fantasia. Se repetirmos qualquer delas audivelmente para nós mesmos, essa
auto-sugestão cauteriza a imagem ainda mais profundamente, e o nosso subconsciente tomará providências para
que isso aconteça.
Motivadores de sucesso há muito têm reconhecido a veracidade deste princípio. O primeiro passo para o
sucesso, dizem eles, é decidir exatamente o que você deseja realizar e quando. Identifique claramente o seu
objetivo, o seu alvo. Escreva isto, de forma que você possa vê-lo. Faça um desenho. Repita o alvo audivelmente
todos os dias, talvez cinqüenta vezes de manhã e cinqüenta vezes de noite. Em seguida, faça um livro de
recortes. Encontre figuras coloridas, de revistas, que se relacionem com o seu alvo, ou o que você possuirá,
quando o alcançar: casa nova, carro, roupas de tamanho menor, férias, etc. E, ao estudar as figuras, comece a
falar consigo mesmo positivamente. Você criará uma imagem forte e clara em sua mente; as emoções
apropriadas se seguirão, e o seu objetivo será realizado.
Assim, as nossas mentes alimentam a fantasia, a fantasia cria as emoções, e as emoções clamam pela
experiência propriamente dita. Ê por isso que, quando uma pessoa está emocionalmente decidida a ter um
"caso", toda a verdade e toda a lógica do mundo não parecem intimidá-la. Em uma disputa entre emoção e
verdade, a emoção geralmente vence.
Outra coisa que a nossa mente faz é nos enganar. A nossa mente nos ajuda a encontrar o que esperamos
encontrar, quer isso esteja ou não presente. Temos um modo esquisito de encontrar aquilo que estamos
procurando. Se estamos cultivando uma "transa" extraconjugal, uma fantasia, a nossa mente aparecerá com todo
tipo de idéias acerca de como isso poderá ser feito, onde e quais serão os resultados positivos.
A nossa mente também nos ajuda a racionalizar, isto é, a encontrar boas razões para justificar qualquer
coisa que façamos. Elaboramos um belo rosário de razões para justificar as nossas ações, embora possamos estar
ferindo outras pessoas, no processo. Sob a nobre bandeira de sermos sinceros para com nós mesmos, enganamos
o nosso cônjuge. A nossa mente não é um instrumento que detecta a verdade, mas corteja o nosso "ego" e nos
protege de ouvir coisas que não queremos ouvir. Não é de se admirar que Paulo tenha falado a respeito da
necessidade de uma transformação resultante de uma "renovação da vossa mente".8
Quando uma fantasia extraconjugal é nutrida e alcançou este ponto, há vários efeitos colaterais, que fazem
o casamento desmoronar ainda mais.
O Cônjuge Torna-se Passivo
É impossível estar alimentando ativamente uma fantasia e estar edificando ativamente o casamento em
casa ao mesmo tempo. Estes esforços são automaticamente tirados do outro. As pequenas coisas que
melhorariam o casamento são reservadas para o amante. Se alguém inicia ações positivas no lar, que ajudam o
relacionamento, não tem desculpas. Se a situação piora ainda mais, isso ratifica a sua racionalização. E é claro
que não há oração séria. Ninguém está esperando a intervenção de Deus, quando as emoções estão clamando por
um corpo ardente.

Comparação Gera Desdém


A mulher em casa, com um avental, não é páreo para outra que esteja em nossa fantasia. As comparações
aumentam à medida que o "caso" se aprofunda. A esposa em casa agora não se comunica mais, não é tão
afetuosa, não satisfaz as minhas necessidades, não sai tão bem na cama, etc. Em outras palavras, ela não se
compara com esse barco de ilusões que encontrei. Agora, na cama, há três pessoas, em vez de duas. As relações
sexuais, que, por necessárias, só podem ser mecânicas, envolvem apenas dois participantes, mas o terceiro está
na imaginação e na fantasia do trapaceiro.

Engano Torna-se a Regra


O começo de um "caso", ou a sua continuação, requerem desonestidade, engano e duplicidade. Uma
pessoa que vive uma mentira não tem problema de pregar mentiras. De fato, a situação o exige. Mentira é como
batatinha frita: você não consegue parar apenas com uma. Pessoas outrora honradas agora olham para o seu
cônjuge bem nos olhos e mentem ousadamente a respeito de seus programas, sua saúde, seu trabalho e seus
gastos. Um "caso" atinge bem fundo a integridade de uma pessoa, e a verdade se torna dispensável. Quando uma
pessoa se envolve dessa maneira, você crê no que ela faz, e não no que ela diz — nas suas ações, e não nas suas
palavras.

Um Secreto Desejo de Morte


A fim de racionalizar um "caso", a mente do infiel apresenta todos os subterfúgios concebíveis. Creio que
todas as pessoas que continuaram tendo ligações extraconjugais, em algum tempo, desejaram que o seu cônjuge
morresse silenciosamente durante o sono, para que pudessem continuar tendo tal relacionamento sem sentimento
de culpa. Uma espécie de desejo benevolente de morte. Não estou dizendo que querem que eles sejam
assassinados — embora em alguns casos isso inclua envenenamento da comida ou o empréstimo de uma arma
(lembre-se de Davi e Urias). Da mesma forma, não acho que eles lamentariam sinceramente a perda. "Mas se
houvesse alguma forma de o meu cônjuge dar o fora desta vida legítima e pacificamente, eu estaria livre e não
seria desonrado nem precisaria me esconder." O coração humano, sem a graça de Deus, fará o que for necessário
para torcer as coisas de acordo com os seus desejos depravados, conscientes ou inconscientes.

QUANDO VEM A TENTAÇÃO


Contudo, não é suficiente analisar a tentação — dissecar os seus resultados. Como você a enfrenta? O que
você faz para arrancar as suas presas, e fazer dela sua escrava?

Anule-a, Ficando de Sobreaviso


Uma grande parte do poder da tentação está em sua estratégia: agir de surpresa. Um ataque de surpresa é
uma das táticas mais eficientes do inimigo. Freqüentemente tenho ouvido isso de crentes sinceros: "Nunca
sonhei que seria tentado a ser infiel; pensei que estava a salvo, que isso não podia acontecer comigo." Visto que a
Bíblia nos diz claramente que seremos sempre tentados, por que não esperá-lo? Muitas vezes fazemos um jogo
passivo, defensivo, em vez de jogar inteligente e agressivamente. Expressamos surpresa, ficamos chocados
quando a tentação acontece da maneira como Deus disse que aconteceria.Surpresa seria se a tentação não viesse.
Por que não crer em Deus?
Um amigo querido me telefonou, e eu podia perceber, pela sua voz, que ele estava com problemas. Não fiz
grandes conjeturas, porque ele era, eu sabia, um crente muito forte, convertido de uma vida escabrosa, e que,
havia anos, era um respeitado líder em sua igreja. Chegando ao meu escritório, ele falou de uma jovem
divorciada que estava desamparada, como ele lhe levara uma cesta de compras, mandou consertar o carro dela e
procurou ajudá-la como irmão em Cristo. Parte da reação dela foi apaixonar-se por ele e convidá-lo a ir à casa
dela, para uma noite calma, íntima. "Achei difícil dizer não", disse ele. "Fiquei surpreso por ter havido uma luta.
Acho que eu pensava que não teria essas tentações nunca mais."

Desenvolva uma Consciência Bíblica


Em uma luta contra a tentação, geralmente vivemos os nossos valores, e não o que cremos. Se a nossa
consciência foi treinada pela Bíblia e somos dedicados aos nossos princípios, enfrentamos a tentação com
confiança, e não com medo. As advertências de Deus são as palavras amorosas de um pai, dizendo ao seu filho
para não correr na rua, não pular da ponte, não brincar com fósforos. São apenas proteções amorosas, e não
proibições arbitrárias.
Aqui estão algumas advertências que propiciam percepção e força — uma âncora: A sabedoria do
Senhor pode livrar você das palavras doces e mentirosas da prostituta, da mulher que abandona seu marido,
sem se lembrar que o casamento é um compromisso feito perante Deus. Quem freqüenta as casas dessas
mulheres põe em risco a própria vida; quem anda com elas se dirige diretamente para o reino dos mortos.
Acima de tudo, meu filho, tome muito cuidado com suas emoções, porque elas afetam toda a sua vida. Tome
cuidado com a mentira e a falsidade; fuja delas, e olhe sempre para a frente, sem olhar para os lados. Pense
muito antes de dar qualquer passo, e andará sempre pelo caminho do bem. Não se desvie nem para a direita
nem para a esquerda! Não ande pelo caminho do mal!
Saiba que as prostitutas usam palavras doces e suaves para atrair os jovens. Mas, depois de tudo, o que
sobra para você é a vergonha amarga e uma consciência pesada, que fere como uma espada aguda e bem
afiada.
Beba água do seu próprio poço, meu filho — seja fiel e leal para com sua esposa! Qual o valor de ter
filhos com mulheres sem honra, mulheres de rua? Para que ter filhos que não serão seus e viverão com pessoas
que você nem ao menos conhece? Use bem essa bênção que você recebeu, a capacidade sexual. Aproveite o
prazer que ela pode lhe dar através do amor de sua esposa. Ela deve ser sempre para você a mulher mais bela e
encantadora! Os abraços e carinhos de sua esposa devem ser o seu prazer, a sua satisfação total! . Não dê valor
à beleza dessas mulheres nem se deixe atrair pelos seus olhares provocantes. E a mulher que trai seu marido é
ainda pior que a prostituta! Esta exige apenas um pouco de dinheiro, mas a mulher que trai o marido deseja
destruir a vida do jovem. Será possível alguém abraçar brasas acesas sem queimar o peito? £ possível alguém
andar sobre brasas acesas sem queimar os pés ? Da mesma forma, é impossível alguém roubar a mulher de
outro homem e não ser castigado pelo seu pecado!... Só mesmo um louco seria capaz de roubar a mulher de
outro homem! Só mesmo alguém que deseje destruir sua própria vida faria uma coisa dessas!
A loucura, ao contrário, parece uma prostituta, dominada pelo fogo da paixão, que nada sabe nem deseja
saber. Fica sentada à porta de casa ou anda pelas esquinas da cidade, fazendo propostas aos homens que
passam e tratam de seus negócios e dizendo aos descuidados e sem compreensão da vida: "Venham a minha
casa comigo! A bebida roubada é mais doce! O pão roubado e comido às escondidas é muito mais gostoso!" E
muitos vão atrás dela, sem saber que estão caminhando para a morte, que muitos já seguiram a loucura e agora
estão no fundo do inferno.
E porque o Senhor viu a traição que vocês cometeram, abandonando suas esposas, que foram fiéis por
tanto tempo. Aquelas companheiras a quem prometeram cuidado e sustento. Ninguém com um pouco de juízo
faria isso. "Mas, que fez um patriarca?", dirão vocês. Bem, ele procurava uma descendência prometida por
Deus, num propósito espiritual. Portanto, tenham cuidado com suas paixões e ninguém seja infiel à sua esposa!
Eis por que eu digo: Fujam do pecado sexual. Nenhum outro pecado atinge o corpo como este. Quando
vocês cometem este pecado, é contra o seu próprio corpo. Será que vocês não aprenderam ainda que seu corpo
é a morada do Espírito Santo que Deus lhes deu, e que ele vive dentro de vocês? Seu próprio corpo não lhes
pertence. Porque Deus comprou vocês por preço elevado. Portanto, usem todas as partes do seu corpo para
render glória a Deus, porque o corpo lhe pertence.
Porque Deus deseja que vocês sejam santos e puros, e se conservem afastados de todo pecado sexual, a
fim de que cada um de vocês se case em honra e santidade. E não em paixão carnal, como fazem os pagãos, na
sua ignorância de Deus e de seus caminhos. E esta é também a vontade de Deus: que neste assunto nenhum de
vocês cometa jamais a usurpação de tomar a esposa de outro homem, porque o Senhor lhes dará por isto uma
retribuição terrível, como nós antes já os advertimos severamente. Porque Deus não nos chamou para vivermos
na impureza nem cheios de imoralidade, mas para ser santos e puros. Se alguém se recusar a viver de acordo
com estes mandamentos, não estará desobedecendo às leis dos homens, mas de Deus, que dá o seu Santo
Espírito a vocês.
Honrem o casamento e os seus respectivos votos; e sejam puros; porque Deus sem falta castigará todos
os que são imorais ou cometem adultério.9

Desarme-a, Recusando-se a Temê-la


Um medo fatalista da tentação aumenta o seu poder sobre nós. Algumas pessoas dariam tudo para que a
tentação pudesse ser eliminada e elas pudessem viver sem lutar. "A maior de todas as tentações é a de não tê-la",
diz Henry Drummond. Napoleão Bonaparte declarou: "Aquele que tem medo de ser vencido está certo da
derrota."
Cada tentação é uma oportunidade de derrotar o Diabo. Devemos dar as boas-vindas a cada uma dessas
oportunidades. A tentação é uma chance de desenvolver virtudes e autodomínio — uma pedra para a construção
do caráter cristão. O homem que tem mais tentações tem mais oportunidades de crescer na graça. Tomateiros
frágeis e sem firmeza podem ser cultivados na atmosfera controlada de uma estufa. Mas são necessárias
tempestades e ventos para fazer crescerem os carvalhos. Depende do que você quer ser. Cada tentação nos leva
para mais perto de Deus e dá a ele a oportunidade de confirmar e demonstrar a vitória dele sobre Satanás.
Graças a Deus pela tentação e seus efeitos benéficos. O que o Diabo tencionava fosse a nossa destruição,
Deus usa para o nosso desenvolvimento. O que o Diabo planejava para nos deter, Deus usa para o nosso
aperfeiçoamento. Deus usa a luta moral para nos levar à maturidade. Ele criou o homem para ter domínio, para
estar acima das circunstâncias, problemas, tentações, e não abaixo deles. Fomos feitos para sermos vencedores, e
não covardes; filhos de Deus, e não escravos; vitoriosos, e não desertores.

Decida com Determinação Se Você Quer Vitória


A palavra "vitória" pressupõe batalha. A tentação é o campo de batalha. Indecisão em uma batalha significa
derrota. O objetivo de toda a sua vida determinará como você enfrentará as tentações diárias. Se você vacilar
aqui, vacilará quando a pressão for forte.
E. Stanley Jones o declara intensamente: "Se você não resolver, a sua mente indecisa vai derrotá-lo. Aqui é
o lugar em que não pode haver ociosidade. Pois qualquer ociosidade será o cavalo de Tróia, que penetrará em
seu interior e abrirá as portas para o inimigo. Deus pode fazer qualquer coisa pelo homem que se decidiu; mas
ele pode fazer pouco ou nada pelo que não tem pensamentos firmes." 10 Os nossos queridos amigos, os radialistas
David e Karen Mains, falam a respeito de sua dedicação à "fidelidade mental":
Há muitas coisas a que não nos permitimos ser expostos, nesta sociedade ímpia e louca. Algumas vezes é
uma conversa com outra pessoa, em que temos que mudar de assunto. Ou um programa de TV, uma revista ou
jornal que precisa ser rejeitado. Podemos controlar estes fatores. As pessoas que caem sexualmente não caem
automaticamente. Caem porque estavam brincando com certas coisas, em sua mente, durante determinado
período de tempo. Sempre que esse tipo de pensamento vem, nós o expulsamos de nossa mente. Há uma
tremenda força no hábito, e, habitualmente, durante muitos anos, sempre que essas tentações se apresentam,
através de uma revista, uma publicidade ou seja o que for, nós a recusamos. Esta fidelidade mental nos torna
incapazes de sermos atingidos no que concerne à nossa relação conjugal.
A vitória não acontece por acaso. Ela vem como resultado de uma dedicação completa a Deus e uma
estratégia de vida planejada. Nada de valor é ganho sem que se pague um preço. Rendição a Deus é o preço que
você paga pela liberdade. O Dr. Jones conclui: "Uma erupção de desejo passageiro o derrotará, se você permitir
que ele tome controle de sua vontade e se torne algo permanente. Uma vontade frouxa deixará você frouxo — e
vacilante. Desejos mutuamente exclusivos, competindo dentro de você pelo domínio de sua vontade, o deixarão
anulado — farão de você uma nulidade. Decida-se, em sua mente, a pagar o preço da vitória, porque, se não o
fizer, você precisará decidir-se a ser uma casa dividida contra si mesma, que não prevalecerá." Na verdade, uma
pessoa não cai na imoralidade porque não pode impedi-lo. Pelo contrário, ela o faz porque no seu íntimo está
acariciando esse pensamento. Ela não fez um ato de consagração.

Determine Antecipadamente a Sua Reação


Você não pode esperar até estar cara a cara com a tentação, para decidir qual vai ser a sua reação. Então
será tarde demais. No banco de trás do carro, na convenção de vendas, na estrada, na festa, juntos no escritório
— esses não são os lugares certos para se meditar, analisar e decidir a respeito de um "caso". Emoção demais
encontra-se presente. A decisão deve ser tomada antecipadamente, e só ser confirmada na ocasião da tentação.
Um representante comercial crente, meu amigo, estava assistindo a uma convenção de vendedores em
New York. Numa noite livre, ele estava esperando um carro, com outros homens, para conhecer alguns dos
lugares turísticos da cidade. Mas entrou no carro errado. Aqueles vendedores não estavam indo ver as atrações
turísticas, mas dirigiam-se para um famoso bar dançante. Antes de entender o seu erro, o meu amigo estava a
caminho com os outros, sem possibilidade de voltar. Ao entrar no bar, a cada homem juntou-se imediatamente
uma dançarina, que o tomou pelo braço e o levou a uma mesa. A jovem que o conduziu era elegante, atrevida e
se vestia sedutoramente. "A medida que a noite continuou, a tentação tornou-se como um rolo compressor", ele
me contou mais tarde. "Aquela mulher era deliciosa. Eu fiz tudo o que pude para não agarrá-la impulsivamente e
levá-la para um dos quartos, nos fundos. Mas a coisa que me segurou e me protegeu — a única coisa — foi que,
antes de ter saído de casa, eu havia dito, à minha esposa, que era só dela, e que, não importava que tentações
houvesse, pertencíamos somente um ao outro e estaríamos orando um pelo outro." A sua decisão antecipada o
salvou.

Discipline Sua Mente com Contra-ataques


Jesus contou a história de um homem que expulsou os espíritos malignos de sua casa, mas deixou-a limpa
e vazia. Um vácuo. Por fim, os espíritos voltaram com maior força, e a situação ficou pior que antes. Não é
suficiente resistir às forças negativas: precisamos nos esmerar nas coisas positivas. Se não abrigar o bem,
nenhum homem pode conservar por muito tempo o mal do lado de fora. Paulo diz: "...vence o mal com o bem."
Contra-ataque é a chave. "Firmem seus pensamentos naquilo que é verdadeiro, bom e direito. Pensem em
coisas que sejam puras e agradáveis e detenham-se nas coisas boas e belas que há em outras pessoas. Pensem em
todas as coisas pelas quais vocês possam louvar a Deus e alegrar-se com elas." 11 Outra tradução diz: "Fixe os
seus pensamentos... pense... pense... pense." Isto não significa desengatar a sua mente, deixá-la em ponto morto e
esperar que alguns pensamentos excelentes surjam nela inopinadamente. Coloque o seu carro em ponto morto, e
ele cairá pela ribanceira, descontrolado. Sonhar com os olhos abertos é perigoso, é um dos desastres mais
dispendiosos da vida. Precisamos nos concentrar deliberada e decididamente no que é puro, digno de louvor,
positivo e honrado.
Toda a nossa sociedade desencoraja esta prática. O Dr. Lacy Hall realizou uma pesquisa séria e descobriu
que noventa por cento de tudo o que contribui para a vida de uma pessoa é negativo. Só dez por cento dos
pensamentos e conceitos na vida das pessoas são positivos. Não é de admirar que a maioria delas siga a linha de
menor resistência — a lei do mínimo esforço — e deseje desistir, parar de lutar. A maioria dos pensamentos que
penetram em nosso cérebro e em nossas almas é negativa. É por isso que precisamos saturar a nossa mente com
a Bíblia e outra literatura sadia. Cante hinos que elevem e encorajem. Arranje um amigo crente positivo, para se
sustentarem mutuamente. Agradeça diariamente a Deus por seu cônjuge, seus filhos, seus pais e sua família.
Pedro disse: "Cingindo os lombos do vosso entendimento."12 E Isaías afirma: "Tu conservarás em paz
aquele cuja mente está firme em ti."13

Descubra o Segredo da Vitória de Cristo


Nosso Senhor foi tentado em tudo, da mesma forma que nós, e venceu. Ele enfrentou as tentações como
homem, usando os mesmos recursos que estão à nossa disposição. Se ele tivesse recorrido ao seu poder divino,
como Filho de Deus, poderia ter operado um milagre, para destruir o seu inimigo e suprir as suas necessidades.
No entanto, em vez disso, como ser humano, com todas as emoções, pressões e fraquezas do homem, ele
enfrentou o tentador em todos os pontos. Durante quarenta dias no deserto, na companhia de animais selvagens,
ele foi exposto a todo o arsenal satânico de tentações. Ele suportou quarenta dias de provação severa e constante.
Durante quarenta dias e noites na tempestade, a sutileza e a persistência das tentações cresceram. Satanás apertou
os laços, usando todos os argumentos e seduções possíveis, e estava decidido a ter uma vitória decisiva.
As tentações atacaram o ponto mais fraco, na hora mais difícil. Quando Cristo estava faminto, devido ao
jejum, a tentação foi propiciar pão, para satisfazer a fome, a necessidade. Quando ele estava sentindo-se
abandonado, a tentação foi testar o amor de Deus e verificar se ele ainda se importava com o Filho. Quando ele
estava sendo subjugado por uma sensação de importância, a tentação foi transigir, a fim de ganhar poder e
domínio. Em todos os pontos Cristo resistiu firmemente, decisivamente.
Qual foi o segredo de sua vitória? Três princípios podem ser detectados:
Ele foi obediente ao seu Pai. Antes da tentação, ele havia se rendido a toda a vontade de Deus. Este foi o
princípio fundamental de sua vida — uma escolha tranqüila e repetida de obedecer a cada passo.A obediência a
um programa planejado por Deus nunca é fácil, mas é o preço da liberdade e plenitude.
Ele estava cheio do Espírito. O Espírito Santo o havia controlado, de forma que tornava-se possível a
manifestação exterior de sua dedicação a Deus. O poder do Espírito Santo o capacitava para enfrentar destemida
e agressivamente a tentação, e sair-se incólume.
Ele estava saturado das Escrituras. Para contra-atacar cada tentação de Satanás, Jesus citou a Bíblia.
"Está escrito" foi a sua poderosa arma, em cada batalha. A Escritura fazia parte de sua vida— memorizada,
estudada, usada.
Cristo é o nosso padrão. Obtemos a vitória, da mesma forma como ele a obteve, através de nossa
obediência, do Espírito Santo e da Palavra de Deus. A nossa dedicação e as nossas decisões operam em
cooperação com o poder de Deus.
Duas meninas estavam atravessando um campo, a caminho da escola. Um touro bravo começou a
persegui-las. Uma delas gritou de medo: "Vamos parar aqui e orar para que Deus nos proteja." A outra, um pouco
mais sábia, disse: "Não, vamos correr e orar." Os pés dela e a força de Deus: cooperação.
Cada tentação requer a sua responsabilidade e a capacidade de Deus. Deus não fará por você aquilo que já
equipou você para fazer por si mesmo. E, por outro lado, não importa o quanto você tente, não conseguirá fazer
o que somente ele pode fazer.

CAPÍTULO 6

Aconteceu - e Agora?
Muitos maridos e esposas pensam que é mais fácil promover a separação do que consertar o casamento.
Só quando já é tarde demais é que eles percebem que escolheram o caminho mais fácil, mas não o mais sábio.
Um HOMEM de meia-idade e sua esposa estavam de pé na lama e água, olhando tristemente para as
ruínas e os escombros de sua casa e de tudo o que possuíam. Eram vítimas de um furacão. A sua bela casa de
praia, no Texas, outrora uma propriedade invejável, agora não passava de uma grotesca pilha de pedras, madeira,
eletrodomésticos, móveis, comida e roupa — tudo ensopado de água salgada. As sirenes que advertiam da
tempestade haviam soado, dando o seu aviso, mas eles pensavam que estavam em segurança. Não haviam
suportado outros vendavais igualmente severos? E este não seria diferente. As ondas retumbantes, que outrora
faziam parte do panorama que se via da porta de frente, agora haviam destruído a casa.
Ao olharem, pasmos, para aqueles destroços chocantes, interrogações que nunca haviam feito antes
turbilhonavam em suas mentes: "Será que devemos chamar a Cruz Vermelha? O lixeiro? O Exército de
Salvação? Será que há algo que possa ser salvo ou compense o esforço? Devemos construir aqui novamente?
Temos condições financeiras para tanto? É seguro? Ou devemos abandonar isto para sempre?"
Estas são perguntas muito parecidas com as que são feitas sempre que um "caso" extraconjugal é
descoberto e a realidade dele nos atinge como uma onda de maremoto. Podemos construir o nosso casamento de
novo? Será que quero isso? Há algo nele que possa ser salvo ainda? Se há, como fazê-lo? Por onde começar?
Posso confiar mais uma vez, visto que fui traído? Certa mulher expressou a sua reação inicial de desespero,
quando descobriu a infidelidade de seu marido. "Tudo chegou a um fim abrupto. Sinto-me como se tivessem me
pisoteado, e estou entorpecida de dor. É tudo tão sem esperança! Õ Deus, ajuda-me! Ajuda-me!"
A sua reação inicial e as seguintes, diante do "caso" de seu cônjuge, determinarão, em grande medida,
quais serão os resultados finais, em termos de dor e de progresso. A infidelidade pode ser o fato, mas o que você
sente a respeito desse fato e a sua reação em relação a ele é que formam o x do problema. Algumas reações são
maduras, mas não fortes. Outras são totalmente improdutivas desde o começo, especialmente do ponto de vista
do casamento e da família. Algumas reações aumentam o problema, já sério. Vamos discutir cinco das reações
negativas mais comuns, antes de acentuar o lado positivo. As tendências humanas naturais, numa situação de
tanta tensão, são: ficar paralisado, autojustificar-se, dar-se por vencido, lutar e forçar.

FICAR PARALISADO
Esta reação torna a pessoa imóvel por causa da recusa — a recusa de ver e admitir o que as evidências
indicam e o coração confirma. Quando alguém está se envolvendo em uma "transa", há sempre sinais, sinais
definidos que mostram que as coisas não estão como estavam antes. Não é simplesmente a questão de encontrar
um bilhetinho de amor esquecido num bolso, ou manchas de batom no colarinho. Há mudanças sutis de
personalidade, na atenção, quanto à franqueza e respeito à linguagem corporal.
Para muitas pessoas, o próprio pensamento de o seu cônjuge estar tendo um "caso" torna-as paralisadas,
levando-as a negar o fato e a nada fazerem. As evidências podem estar por toda parte, porém, elas não querem
acreditar. Se o marido chegou em casa com manchas de batom no colarinho, elas dirão que provavelmente ele
estava andando debaixo de uma escada e pingou tinta na camisa. Sally era assim. Ela me disse: "Eu não parava
de dizer a mim mesma que eu estava imaginando tudo aquilo. Não estava acontecendo — não acontece — não
vai acontecer. Estou fazendo uma tempestade em um copo d'água." Ela levou mais de um ano para reunir
coragem para fazer ao marido uma pergunta a esse respeito.
Nesse ínterim, o seu marido infiel estava fazendo tudo o que podia para ser descoberto, de forma que ela
pudesse saber de tudo e ajudá-lo a enfrentar o problema. Era um grito, pedindo ajuda. Ele chegou ao ponto de
dizer, à mesa do café, depois de ter estado fora a noite toda: "Caí no sono na casa dela, e acabei passando a noite
lá." Ainda assim não se fizeram perguntas, não houve confrontação. Sally estava enterrando a cabeça em um
travesseiro de fantasia, achando, de alguma forma, que pensar no problema poderia acentuá-lo — que a coisa
que ela temia pudesse lhe sobrevir.
Certa amante questionou em voz alta, duvidando que esse tipo de esposa fosse a parte inocente: "Perguntei
ao meu amante se a esposa dele está sabendo de nosso relacionamento, indagando: 'Ela sabe?'
'"Ela não quer saber'" — respondeu ele. '"Ela nunca o pergunta. Se perguntasse, eu lho diria.'"
A mulher continuou: "Em casos como este, não há partes inocentes. Somente seres humanos, que não
fazem perguntas porque não querem saber as respostas."
Linda Wolfe, que escreveu muito a respeito de infidelidade conjugal, o diz claramente: "Essa recusa em
reconhecer o problema é um artifício psicológico que permite que uma mulher finja para si mesma que o marido
dela é perfeitamente fiel, mesmo quando ele se esforça para apresentar-lhe evidências de sua infidelidade. Em
um caso típico, a mulher que se recusa a reconhecer esse problema tenta apegar-se ao seu casamento, mesmo
quando ele não é mais nada além de uma farsa."1
A recusa em reconhecer o problema é um mecanismo de escape baseado em medo, falsa esperança e falta
de confiança em Deus. Há um medo de incapacidade para enfrentar a crise, um complexo de não se ter recursos
para enfrentá-la, de não se saber para onde se voltar, nessa confusão. É assim que sentimentos de desamparo,
solidão e desespero o inundam, e você não consegue enfrentar as exigências da situação difícil. "Não me posso
permitir crer nisso, pois não saberia o que fazer, se fosse verdade." Pensamentos de suicídio são comuns nessas
circunstâncias. Sally, que mencionei acima, disse-me como, durante o período em que ela estava recusando-se a
reconhecer o problema, esforçou-se ao máximo, ficando exasperada dia e noite — tendo algumas noites somente
três horas de sono — procurando tirar esse pensamento da cabeça. No limiar de um esgotamento nervoso, ela
começou a tomar doses exageradas de comprimidos para dormir, para não ser obrigada a enfrentar o problema,
pensando: "A única solução é não sentir nada."
O caso de Sally pode parecer extremo, mas qualquer espécie de recusa em reconhecer o problema só o
estimula e agrava. Essa recusa produz várias coisas desastrosas:
Você começa inconscientemente a encobrir as faltas de seu cônjuge, dar desculpas para os seus atos,
culpar-se pelo procedimento dele. Você torna-se parte do problema, e não da solução. Quando os seus filhos ou
seus pais comentam ou perguntam algo, você se apressa a fingir, apresentar um álibi, tirar as desconfianças da
cabeça deles. "Ele tem trabalhado muito... ultimamente não tem dormido bem... etc, etc."
Sem querer, você estimula a infidelidade. Nesse caso, o tempo não cura, só proporciona, ao infrator, maior
oportunidade. A recusa em reconhecer o problema, exercida passivamente, dá ao "caso" a oportunidade de se
aprofundar, até o ponto em que seja impossível a recuperação, e o casamento esteja condenado.
Você prolonga o castigo e impede Deus de dar soluções de maneira ativa. Até o próprio Deus fica
limitado, se ninguém admite a verdade. Deus não opera de maneira estranha, etérea, na atmosfera que cerca o
problema. Ele opera nas pessoas e através delas — através de alguém que toma a iniciativa, confronta, perdoa,
sana.
Parece ao seu cônjuge que você não o ama. Ficar paralisado em uma posição de inatividade também dá a
entender ao cônjuge que está se desencaminhando que você não se importa com ele, que o seu amor é fraco, está
baseado nas conveniências. O amor forte diz: "Não quero que você continue a ferir-se e ferindo os outros,
perdendo de vista o que Deus espera de você."
Em uma história verdadeira, a respeito de um casal anônimo, Ellen Williams descreve vivamente a luta de
uma mulher com o seu marido pastor. "Duas vezes, nos meses que se seguiram, eu lhe perguntei, deitada ao lado
dele, em nossa cama, tensa e tremendo, reunindo toda a minha coragem: 'Há outra mulher?'
"'Não!' disse ele com raiva na voz, dando-me a única resposta que eu desejava ouvir. Eu me enrolei
agarrada às costas dele, desse homem que eu conhecia tão bem, esse homem com quem me casara vinte e sete
anos antes, e dormimos ambos, sabendo que ele me havia mentido. Eu o percebera em sua voz, o sentira em seu
corpo. Fiz a única coisa que sabia fazer, quando uma coisa é terrível demais para se enfrentar. Voltei as costas ao
problema. Se eu o encarasse, quem sabe, ele se desvaneceria."2

AUTOJUSTIFICAR-SE
Muitos cônjuges traídos sentem fogo por dentro; eles ardem de autocompaixão e justiça própria. Há
também hostilidade e humilhação, mas isso se expressa em um "Veja o que ele me fez!" Ao descobrir o "caso" de
seu marido, Lorna explicou, numa atitude de choque e descrença: "Depois de tudo o que fiz por ele, este é o
agradecimento que recebo! Dei-lhe os melhores anos de minha vida. Fui a mãe dos filhos dele. Mantive a casa
limpa para ele. Fiz a comida dele. Tinha uma camisa limpa para ele todas as manhãs. Fiquei ao lado dele nas
horas difíceis, e agora não sou suficientemente boa para ele. Essa é a gratidão que recebo." E ela poderia,
provavelmente, ter desfiado um rosário de dezenas de outras coisas boas que havia feito por ele. Ela possuía uma
personalidade muito ordenada e tinha a tendência de tomar as rédeas e dirigir as atividades da família e as tarefas
diárias com um rigor de sargento. Ela freqüentemente dava ordens em voz estridente, em vez de pedir ajuda. A
idéia que tinha de um tempo divertido era quando se "fazia algo construtivo", como reformar completamente o
jardim ou fazer seis pares de cortinas em uma noite.
Lorna era uma boa mulher, mas o seu senso de valores estava inteiramente envolvido com o que ela
conseguia realizar. Presumia que essas realizações também edificariam o seu relacionamento conjugal, e, quando
não o fizeram, ela sentiu-se ofendida e deprimida, e censurou severamente o seu esposo, que não dava valor
àquelas coisas.
O meu amigo Bob estava não apenas saindo-se muito bem em seu negócio de vendas de automóveis, mas
tinha também a imagem que o ajudava naquilo. Ele gostava de roupas finas, bons carros, uma piscina e tudo o
mais. O interior de sua casa era imaculado, de fino acabamento, e sempre parecia como se jamais alguém tivesse
morado ali. Eu o visitei muitas vezes. Quando ele descobriu o "caso" da esposa, ficou perplexo. E exclamou,
incrédulo: "Dei a ela tudo o que queria: roupas, carro, dinheiro — redecorei a casa, comprei móveis novos.
Agora ela arruinou a minha reputação, aproveitando-se de mim. Acho que é verdade que é impossível entender
ou agradar uma mulher."

Amor-próprio
O orgulho ferido está intimamente relacionado com o amor-próprio de uma pessoa e a imagem que ela faz
de si própria. O fato de que o seu cônjuge encontrou alguém mais atraente abala esse amor-próprio. Sobrevém
um sentimento de incapacidade, e até de desamor a si mesmo. Uma esposa exclamou: "Comecei a sentir-me feia,
horrível, e ficava diante do espelho, examinando-me, para ver o que havia de errado que me fazia tão
indesejável." Evelyn Miller Berger fala de outra esposa, que ficou sabendo que a sua negligência, permitindo-se
engordar além da conta, encorajara o marido a iniciar um relacionamento extraconjugal, e que a auto-aversão
que se seguiu quase a destruiu. "Meu marido se queixava de eu ser gorda. Ele perguntava-me como eu podia
esperar que ele se sentisse sexualmente excitado quando o meu corpo parecia um colchão volumoso. Tentei
reduzir o peso, mas as suas críticas me levaram a desejar comer mais — uma espécie de consolo. Mas acho que a
essa altura já estava zangada por ele me culpar, e pensava: 'Bem, se você não gosta disso, eu vou mostrar-lhe que
posso comer até ficar tão gorda quanto quiser!' Depois percebi que estava inequivocamente feia — gorda — e
me odiei por isso."3
Uma esposa traída sentiu que a sua reputação estava destruída: "Senti que não tinha mais coragem de sair
de casa. O que pensariam agora os meus vizinhos, os meus amigos, o povo da igreja? Todos vão chegar à
conclusão de que não consegui prender meu marido. Não é justo", queixou-se ela. "Como ele espera que eu
pareça fascinante, quando tenho filhos e casa para cuidar?"

Perfeccionismo
A reação de um mártir do orgulho é geralmente a reação predominante de um perfeccionista, quando o
cônjuge é infiel. O perfeccionista é um indivíduo amedrontado, competitivo, que sempre deseja vencer, dominar
e controlar as pessoas que o rodeiam. Muitas vezes ele é um detectador de falhas crônico, e nada é
suficientemente bom para ele. Como crente, ele é legalista. Gosta de regras, rituais e padrões, e não consegue
viver espontaneamente. Tendo medo de intimidade, ele faz de seu casamento mais um contrato comerciai do que
um caso de amor sem peias. O sexo torna-se uma obrigação superficial. Há pouco divertimento, pouco riso.
Tendo um marido brincalhão e galanteador, uma esposa costumava dizer: "George, para com isso. Não
somos mais crianças." Por fim, ele encontrou uma pessoa que gostava de suas piscadelas e carícias. E a esposa
ficou horrorizada. Ao aconselhá-la, minha esposa perguntou-lhe: "Com que freqüência você tinha sexo com seu
marido?"
Ela ficou um pouco embaraçada, e respondeu pensativamente: "Acho que a última vez foi por ocasião do
aniversário dele... sim... eu lhe dei sexo no seu aniversário."
Um presente anual. Quando minha esposa me contou isso, eu disse: Ainda bem que ele não nasceu no dia
29 de fevereiro, em um ano bissexto.
Ela desempenhou bem o seu papel de mártir e gostou dele. Além disso, pensava que era uma crente bem
doutrinada, avançada, e tinha sérias dúvidas de que o marido fosse crente. Desta forma, no conceito dela, o
"caso" dele e o divórcio subseqüente faziam parte do fato de ela ser "perseguida por causa da justiça". Claro que
essas coisas não tinham nada a ver com isso, mas para suscitar simpatia, foi isso o que ela anunciou a todos. Ela
ainda acha que a solidão que sofre é o preço que está pagando por ser correta, e isto só aumenta o isolamento em
que ela vive.

DAR-SE POR VENCIDO


O cônjuge que se dá por vencido cai em confusão, e assume toda a culpa, esperando pelo inevitável. Dar-
se por vencido significa declarar falência, admitir que os seus recursos estão totalmente esgotados, abandonar a
luta, desistir de assumir controle, tornar-se vítima. Como estas frases descrevem bem as reações manifestadas
diante da descoberta do adultério do cônjuge!

Os Dependentes
Algumas pessoas, especialmente mulheres, caem em confusão por serem dependentes. A escora da esposa
é tirada, e ela cai. A única pessoa de quem ela dependia, a sua muleta, foi removida, e ela não consegue ficar de
pé sozinha. De repente ela percebe que sente-se deserdada, fraca, indefesa, inadequada e amedrontada, como se
de súbito tivesse perdido a capacidade de enfrentar a vida. O futuro lhe parece perigoso, agourento. O hábito sem
solução de apoiar-se em outrem a deixou incapaz de sustentar-se física e emocionalmente.
Mary, o tipo de beata religiosa, veio a mim, pedindo aconselhamento. Ela era uma pequena menina
amedrontada, embora já estivesse casada havia dezesseis anos. O seu marido, Bill, havia pedido divórcio, para
poder continuar o seu "caso" com Dottie. Mary estava visivelmente abalada — devastada. Dottie era uma jovem
coquete do escritório dele, cheia de problemas com o marido dela, e Bill havia se tornado o seu "consolador". A
coisa toda aconteceu como uma bomba, embora Mary me tivesse contado que havia tempos estava ouvindo,
todos os dias, falar de Dottie e seus problemas com aquele "cachorro" do marido dela. "Era Dottie no café da
manhã, no almoço e no jantar, e embora estivesse cansada de ouvir falar nela, não esperava nenhuma
infidelidade."
Quando Bill requereu o divórcio, tudo o que a sustentava foi retirado, e ela desmoronou. Claro que ele a
manejava como a um boneco. Ameaçou ir embora — chegou a colocar as roupas na mala — e ela implorou que
ele ficasse. Ele ameaçou vender a casa com ela dentro, e, como ele esperava, ela deu-se por vencida, pedindo
misericórdia entre lágrimas. Exatamente como uma escrava. A sua dependência a degradava, e, na verdade, ela
se odiava por isso. "Eu me odeio", disse ela, "por ser tão imatura a ponto de me apoiar em todo mundo tão
fortemente que fico completamente perdida quando sou deixada por minha conta." A situação mudou
tremendamente quando ela experimentou uma conversão a Cristo e, através de seu poder, que lhe infundiu nova
vida, começou a exercer ações positivas.

Os Maltratados
Algumas mulheres dão-se por vencidas por causa de violência e maus-tratos. Uma amiga graciosa, bem-
educada e talentosa que encontrei na igreja, Noemi, ficava paralisada por medo de violência corporal. "Se eu
enfrentasse o meu marido com o seu engano e infidelidade", disse-me ela, "estou certa de que nada o impediria
de fazer com que eu e as crianças pagassem caro." Eu o vi. Ele era um homem grande e de mau gênio — um
touro. A despeito de todas as minhas recomendações para ajudá-la a desenvolver uma estratégia de ação, Noemi
não o conseguiu. Ele a havia petrificado.

Os Culpados
A culpa também paralisa, provavelmente mais do que qualquer outra reação. Muitas vezes o cônjuge
rejeitado olha para dentro de si mesmo e aceita toda a culpa pela confusão sórdida em que o seu lar entrou. Esta
introspecção não é o questionamento sadio que pergunta se a pessoa contribuiu de qualquer forma para a
situação, e reconhece, e aprende de qualquer falha. Pelo contrário, é a procura de um bode expiatório, alguém em
quem colocar toda a culpa. E, por causa de suas próprias inseguranças, esse cônjuge assume toda a
responsabilidade. Como costumava dizer o comercial da televisão: "Comi tudo." Isto não é nem verdadeiro nem
útil.
A esposa rejeitada muitas vezes recapitula todas as coisas que ela poderia ter feito de maneira diferente, e
se detém nos seus erros passados — alguns reais e outros imaginários. Quanto mais analisa o seu passado, mais
razões encontra para a sua situação. O seu senso de valor próprio vai a zero; o seu sentimento de culpa se
multiplica — falsa culpa, em grande parte. O Diabo impedirá certas pessoas de até fazerem um inventário
honesto da situação; outras, ele lança por sobre a amurada e as afoga em autocondenação falsa misericórdia entre
lágrimas. Exatamente como uma escrava. A sua dependência a degradava, e, na verdade, ela se odiava por isso.
"Eu me odeio", disse ela, "por ser tão imatura a ponto de me apoiar em todo mundo tão fortemente que fico
completamente perdida quando sou deixada por minha conta." A situação mudou tremendamente quando ela
experimentou uma conversão a Cristo e, através de seu poder, que lhe infundiu nova vida, começou a exercer
ações positivas.

Os Maltratados
Algumas mulheres dão-se por vencidas por causa de violência e maus-tratos. Uma amiga graciosa, bem-
educada e talentosa que encontrei na igreja, Noemi, ficava paralisada por medo de violência corporal. "Se eu
enfrentasse o meu marido com o seu engano e infidelidade", disse-me ela, "estou certa de que nada o impediria
de fazer com que eu e as crianças pagassem caro." Eu o vi. Ele era um homem grande e de mau gênio — um
touro. A despeito de todas as minhas recomendações para ajudá-la a desenvolver uma estratégia de ação, Noemi
não o conseguiu. Ele a havia petrificado.

Os Culpados
A culpa também paralisa, provavelmente mais do que qualquer outra reação. Muitas vezes o cônjuge
rejeitado olha para dentro de si mesmo e aceita toda a culpa pela confusão sórdida em que o seu lar entrou. Esta
introspecção não é o questionamento sadio que pergunta se a pessoa contribuiu de qualquer forma para a
situação, e reconhece, e aprende de qualquer falha. Pelo contrário, é a procura de um bode expiatório, alguém em
quem colocar toda a culpa. E, por causa de suas próprias inseguranças, esse cônjuge assume toda a
responsabilidade. Como costumava dizer o comercial da televisão: "Comi tudo." Isto não é nem verdadeiro nem
útil.
A esposa rejeitada muitas vezes recapitula todas as coisas que ela poderia ter feito de maneira diferente, e
se detém nos seus erros passados — alguns reais e outros imaginários. Quanto mais analisa o seu passado, mais
razões encontra para a sua situação. O seu senso de valor próprio vai a zero; o seu sentimento de culpa se
multiplica — falsa culpa, em grande parte. O Diabo impedirá certas pessoas de até fazerem um inventário
honesto da situação; outras, ele lança por sobre a amurada e as afoga em autocondenação falsa.
Certa esposa escreveu para um conselheiro de uma revista evangélica: "Meu marido disse-me que ama
outra mulher. A princípio fiquei zangada, mas agora acho que tudo foi por minha culpa. Acho que, como crente,
eu devia ter feito mais para salvar o meu casamento. Não contribuí com o suficiente. Não amei o suficiente.
Sinto-me um fracasso, tanto como mulher quanto como esposa. Algumas manhãs, mal consigo me arrastar para
fora da cama. Preferiria dormir e esquecer. Ainda há esperança?"
Outra disse: "Não posso parar de me focalizar em meus erros. Sinto-me como a ovelha negra, pois em
nossa família nunca houve 'casos' antes."
Como se todos os aspectos do casamento dependessem dela, outra esposa arrasada confessou: "Fracassei
como mãe tanto quanto como esposa, porque não ensinei os nossos filhos de forma que o meu esposo desejasse
passar o seu tempo como eles em casa." Visto que esta mulher evidentemente cria que o seu marido não tinha
nenhuma responsabilidade pela criação dos filhos ou pela atmosfera do lar, certamente ela não seria capaz de
permitir que ele assumisse qualquer responsabilidade por suas escapadas adúlteras. Dessa maneira, ela as
encorajava.

Os Escapistas
Outra palavra que seria sinônima de "dar-se por vencido", neste contexto, seria "fugir". A tendência
natural é correr quando você tem medo, e não tem certeza de onde está o que fazer. Nesse caso, a desistência é
uma forma de fuga, de admissão de fraqueza. O escapismo pode desencadear uma recusa para considerar o
perdão, uma vingança explosiva ou um divórcio rápido. Porém, seja o que for que torne a pessoa imóvel ou
incapaz de agir, é doentio e improdutivo.
Alguns crentes dão-se por vencidos em face de um "caso" por causa de sua própria fé distorcida e
anêmica. A sua marca de cristianismo faz deles capachos para serem pisados e esmagados. Eles acham que não
têm o direito de fazer perguntas a respeito do mal, e assim precisam suportá-lo passivamente, e sofrer em
silêncio. Eles não se permitem lidar com a infidelidade, mas continuam convivendo com ela e, se necessário,
aceitam uma vida de extrema humilhação.
O problema de toda essa inatividade é que ela recompensa o infiel e prolonga a solução do caso. A
infidelidade conjugal é resolvida com uma espécie de ação estratégica, e você não pode iniciar ação estando a
toda hora procurando escapar do problema.

LUTAR
Estou certo de que nunca houve um caso de infidelidade conjugal em que não estivesse evidente a ira —
ira da parte daquele que é infiel, devido à negligência real ou suposta que motivou a sua infidelidade, e ira,
certamente, da parte daquele que se sente traído. Não importa como a pessoa pareça, calma ou compreensiva, na
superfície, o ultraje sofrido está queimando por dentro ou se preparando para explodir tudo violentamente. Há ira
por causa da vergonha, da humilhação, da desilusão, do engano.
Certa mulher, acerca de quem li, explodiu quando descobriu a infidelidade de seu marido. "Joguei um
prato nele. Disse-lhe que ele podia ir embora, que eu não queria um homem que não me amava. 'Eu não quero ir
embora', disse ele. 'Amo você e amo as crianças.' Aquilo me deixou ainda mais furiosa; e joguei um copo nele."
Isso deu a ela um pouco de alívio, mas certamente não resolveu nada. E os pratos são caros.
Seria mórbido se não houvesse ira contra "a terrível violência psicológica do adultério". Linda Wolfe diz:
"Os psicanalistas chamam o adultério de 'ferimento psíquico' e de fato parece haver algo quase visceralmente
pungente nesse sentido. Não é apenas uma ferida profunda no ego, mas também na confiança entre os cônjuges
— uma ferida que pode e, de fato, muitas vezes termina fazendo um casamento sangrar até a morte."4
Todavia, por que esta ira é expressa e em que forma determina se ela é ou não destrutiva? Estamos lutando
pelo casamento, contra o mal, contra o cônjuge ou pelas razões puramente egoístas de terem sido feridos os
nossos sentimentos? A luta pode assumir várias formas, a saber:
Vingança, que é tão comum quanto inútil e autodestruidora. Embora os escritores do Novo Testamento
mencionem várias vezes: "A ninguém torneis mal por mal", esta é uma tendência muito humana. "Se ele pode
fazê-lo, eu também posso." Muitas esposas cedem ao desejo de revidar, de dar a ele uma prova de seu próprio
remédio, de provar que ainda são desejáveis, que ainda podem arrumar um homem — por malvadez.
Evelyn Miller Berger fala de uma mulher a quem aconselhou. "Eu senti-me justificada em também ter
uma aventura", disse a cliente, com hostilidade franca. "Eu também queria alguma atenção. Mas quando o 'caso'
acabou, de repente acordei para o fato de que eu era aquele caráter desprezível, 'a outra', eu! Imagine só! Boa,
firme, a filha mais velha de um catedrático, sempre uma garota direita, no caminho reto e estreito da virtude!" 5
Embora exista um inegável prazer egoístico em vingar-se, não obstante, isso só complica o problema — o
duplica. Agora são dois que saíram da linha e precisam de perdão.
A coisa mais importante é: Quem está no controle? Se você paga mal por mal — a sua reação é
determinada pela ação de seu cônjuge — o seu cônjuge controla você. Reagir, pagando com a mesma moeda, é
ser controlado pela pessoa que iniciou a ação. Você é controlado pela pessoa cujas ações você imita. Você cessa
de ser o iniciador, e torna-se apenas um reator, e o tiro sai pela culatra. Você não é mais inocente em toda a
situação do que o seu marido ou a outra.
Vingança é mais do que retaliação. É a busca de uma forma para castigar, como pagamento pela injúria
infligida. Um marido que prevaricou pode não ficar absolutamente ferido quando a esposa se envolve em uma
aventura, como retaliação contra a dele. Ele pode alegrar-se com isso. Agora ele tem uma boa razão para
adulterar, e mesmo para desmanchar o casamento. Mas, se ela deseja vingar-se por causa do que está sofrendo,
vai tomar providências para que ele também sofra.
Uma divorciada escreveu para a "Dear Abby" depois do "caso" de seu marido: "Eu me portei como
maníaca. Gritei e impliquei com ele. Empacotei as roupas dele, e mandei que saísse de casa. Depois cometi um
erro fatal. Contei tudo aos nossos parentes e amigos, e me dirigi imediatamente a um advogado e pedi o
divórcio. Criei um escândalo tão notório que meu marido não pôde mais ficar na cidade." Ela empatou o placar,
e conseguiu vingança. Mas funcionou? "Agora percebo que só estava pensando em mim. Os meus filhos
pagaram o preço do meu orgulho. Eram três meninos com menos de dez anos de idade." E ela continua: "Os
anos se passaram. Os meus filhos agora estão casados, em seus próprios lares, mas eu estou sozinha. Sinto-me
arrasada e a minha amargura se manifesta claramente."6
Culpar. A ira toma outra forma: de culpar. O oposto da pessoa que aceita toda a culpa, que mencionei
acima, é a que culpa o cônjuge por tudo. Ela explode em justiça própria, com ira, e espera a confissão e a volta
de seu marido. Uma mulher disse-me, espumando de raiva: "O problema é dele; não meu. Fiquei cansada destas
perguntas: 'Onde foi que eu errei? Em que eu fracassei? Como foi que eu o negligenciei?, etc, etc Foi ele quem
adulterou; não eu. E, por falar nisso, é bom que eu diga que não o empurrei para a cama da outra; ele subiu nela
por iniciativa própria."
Há também o desejo de lutar contra "a terceira parte". "Aquela mulher vil roubou o meu marido, e vai
pagar por isso." Se a outra mulher é uma estranha, você pode ter o desejo incontrolável de se defrontar com ela e
fulminá-la com as suas palavras. Doris era uma mulher assim. Ela exigiu que o marido revelasse quem era
aquele "verme". Quando ele se recusou a fazê-lo, ela fez com que alguém o >seguisse. Mais tarde, quando ela foi
até aquela casa, "para ver quem era a sua competidora", não conseguiu crer no que viu. A casa era simples,
pequena, em um bairro de segunda classe — em agudo contraste com a casa grande e o bairro bonito, cheio de
árvores, para onde o seu sucesso os havia levado. Ela tocou a campainha e esperou nervosamente. Quando a
porta se abriu, não apareceu nenhuma beleza voluptuosa e alucinante enquadrada nos batentes. Só uma dona-de-
casa jovem, despenteada, desmazelada!
Depois de ter injuriado verbalmente aquela mulher e a ter condenado à perdição, Doris exigiu que ela não
permitisse que o seu marido a visitasse outra vez. A resposta que recebeu deu-lhe pouco alívio. "Se o seu marido
volta ou não vem mais, isso é decisão dele. Eu não posso controlar isso. Talvez ele esteja encontrando aqui algo
que não encontra em casa."
Se a "outra" é uma vizinha, amiga ou conhecida, você tenta lutar de outra forma: com difamação — no
cabeleireiro, no clube, na igreja, nas reuniões. Ela é metodicamente destruída por aquele "pequeno membro", a
língua não domada, que Tiago diz que está cheia de peçonha.

FORÇAR
Forçar significa atacar, empurrar impetuosamente exigindo uma solução, manipular as pessoas envolvidas
e a situação, para encontrar um conserto rápido. É natural que desejemos nos ver livres de um problema horrível
como o que estamos considerando o mais depressa possível. Nenhuma pessoa emocionalmente sadia quer
prolongar a dor um minuto mais do que o necessário. Se você tem a tendência de ser uma pessoa que toma a
iniciativa, é quase impossível ficar sentada e esperar que as soluções apareçam e amadureçam. É quase como se
você achasse que qualquer ação é melhor do que nenhuma.
A descoberta de um caso extraconjugal desencadeia tantas emoções conflitantes — a surpresa do fato, o
engano, o desencanto, a traição. Algo precisa ser feito. Como alguém que está se afogando, você se debate na
água selvagemente, esperando agarrar-se a algo que seja a sua salvação: o milagre.
Essas ações desesperadas podem não estar relacionadas umas com as outras e serem até antagônicas. Ou
podem ir desde fingir ignorância, manipular circunstâncias, até a citação da Bíblia.
Judy, uma nossa distinta amiga crente, ficou arrasada devido às infidelidades crônicas de seu marido e o
subseqüente divórcio. Eu lhe perguntei que reação ela tivera, que se demonstrara negativa, improdutiva. "Eu fiz
tudo de espiritual que pude pensar, para tentar resolver a situação. Eu disse a meu marido: 'Vamos orar a este
respeito', e esperei um milagre. Citei versículos da Bíblia para ele — versículos que ele conhecia tão bem quanto
eu, pois ambos havíamos nascido em lares cristãos. Repeti todos os fatos e fórmulas cristãos apropriados. Então,
depois que toda a minha pregação não funcionou, mandei um oficial da igreja falar com ele, usar a sua 'mágica'
espiritual para com ele. Quando todas essas fórmulas espirituais só complicaram o problema, você começa
secretamente a perder a sua fé em Deus também."
"Que outras coisas de natureza não espiritual você foi tentada a fazer?" — perguntei.
"Bem, há a tendência de fazer com que o seu cônjuge fique sabendo que você ficaria destruída sem ele,
para que cresça o sentimento de culpa dele. E também você tem vontade de espioná-lo, de manipulá-lo, em uma
tentativa de separá-lo da 'outra' ou de intervir em um salvamento dramático." "Aprendi, o que foi duro" —
declarou Judy, com grande convicção — "que essa espécie de esforços não apenas falharam, mas também
pioraram a situação."
Estas cinco reações — ficar paralisado, autojustificar-se, dar-se por vencido, lutar e forçar — levam a um
beco sem saída. As reações negativas sempre fazem isso. Elas têm uma coisa em comum: propiciam ao cônjuge
um pouquinho de satisfação própria transitória, mas não contribuem para a solução do dilema. Apenas agravam
um assunto já por si delicado e inseguro.
Um pai pediu ao seu filho pequeno que desse graças à mesa.
Enquanto o restante da família observava, o garotinho fitou cada prato de comida que a mãe havia
preparado. Depois do exame, ele baixou a cabeça e orou sinceramente: "Senhor, não estou gostando do aspecto
da comida, mas te agradeço por ela, e vou comê-la assim mesmo. Amém." A reação certa em uma situação
difícil. De semelhantes circunstâncias tratará o capítulo seguinte.

CAPITULO 7

Desfazendo o Triângulo
Ainda estou para ver um casamento ameaçado pela intrusão de uma terceira pessoa em que cada um dos
parceiros não contribuiu para o triângulo.
Dra. Evelyn Miller Berger
SUSPEITA e a descoberta de um "caso" extraconjugal pode ser uma experiência emocional dolorosa.
Emoções de surpresa, choque, ira, medo, ódio e culpa vêm cascateando sobre você como as cataratas do Niágara.
Você fica confuso, e, em vez de as suas reações serem planejadas e positivas, são imprevisíveis e explosivas. O
sociólogo Lewis Yablonsky nota que, quando um "caso" é descoberto, os homens, provavelmente, manifestarão
justiça própria e ira, sendo menos provável que considerem o "caso" como ato contra eles, e tendem a agir. As
mulheres, provavelmente, se sentirão feridas; elas absorvem as notícias e ficam imaginando o que há de errado
com elas, reexaminam o relacionamento, e tendem, finalmente, a deixar a infidelidade passar.
Certamente é difícil pensar de maneira lógica e sensata quando o seu casamento, como o Titanic, chocou-
se com um "iceberg" e você sente que tudo aquilo pelo que viveu está soçobrando. Não é de admirar que as
nossas reações sejam, muitas vezes, frenéticas e impulsivas. É impossível sentar-se calmamente na cobertura do
navio que já começa a afundar, e elaborar uma estratégia para salvá-lo.
Todavia, há diferença entre o Titanic que está sendo levado rapidamente para o fundo do oceano e um
casamento profundamente atingido pelo adultério. O casamento é um relacionamento, e não um objeto. Os
relacionamentos não são desenvolvidos nem destruídos em um momento, como resultado de uma só experiência,
boa ou má. O crescimento, ou deterioração, é determinado por muitas experiências e por nossa reação a essas
experiências. Portanto, um esforço feito em momento de pânico não tem valor e é improdutivo. "Então, o seu
cônjuge prevaricou?", pergunta a conselheira Evelyn Miller Berger. "Isso não significa que a sua vida está
arruinada, que o objetivo de sua vida acabou; há algo que você pode fazer a respeito. Esse acontecimento pode
suscitar em você os seus recursos mais insuspeitos, mas, mesmo que você não consiga salvar o seu casamento,
pode haver para a sua vida um significado profundo, e, com sabedoria e paciência, quem sabe, você pode até
salvar o seu casamento."1 Um "caso" é realmente uma coisa muito complexa, e não cede por meio de soluções
simples, imediatas. Ele não começou da noite para o dia, e não será resolvido do dia para a noite. Podemos e
devemos desenvolver uma estratégia eficiente para nos havermos com esse problema, porque tanto a parte
enganada quanto a parte culpada estão mergulhadas em incertezas a respeito de como agir.
Eu isolei dez princípios práticos, que nos propiciarão uma compreensão melhor acerca de nós mesmos, do
problema e de suas soluções. Estes princípios ajudarão, quer o "caso" tenha sido apenas descoberto, quer já tenha
continuado por muito tempo. Mesmo para as pessoas que não estão sendo afetadas pessoalmente, de forma
alguma, por um "caso" extraconjugal no momento presente, estes princípios podem fazer parte de uma estratégia
para impedir a infidelidade. Eles não estão relacionados em qualquer ordem de importância ou seqüência, mas os
primeiros quatro, acredito, vêm antes dos últimos seis.

NÃO SE APRESSE A AGIR


Esta pode ser a coisa mais difícil de se fazer, mas certamente será a mais sábia. Para proteger-se de
julgamentos apressados e emoções súbitas, você precisa afastar-se da situação, em vez de atirar-se nela,
correndo. "A coisa mais importante para se fazer imediatamente é não fazer nada", diz a Dra. Rita R. Rogers,
catedrática de psiquiatria na UCLA (Universidade da Califórnia — Los Angeles). "Não se apresse a agir, mas,
pelo contrário, retire-se, para refletir. Pese o que tudo realmente significa para o seu cônjuge, bem como para
você."2 A tendência, ao se descobrir a infidelidade, é culpar, acusar, ameaçar, entrar em pânico. Não há como esta
maneira de abordar o problema possa ser construtiva, porque você está agindo baseado em suas emoções, e elas
podem fluir desenfreadamente quando você está sofrendo a dor insuportável de um coração partido. O orgulho
ferido, o ciúme e a ira justa o impulsionarão a alguma ação explosiva. Resista a isso. Não saia imediatamente,
para fazer alguma coisa drástica, como correr ao advogado, pedir o divórcio, ameaçar separação ou fazer algum
ultimato irrevogável, que force o seu cônjuge a agir de forma também apressada, que torne impossível a
restauração de seu casamento.
Se você agir de maneira impulsiva e imediata, nunca será capaz de entender realmente o que aconteceu e
por quê. Espere até saber o que está acontecendo com o seu cônjuge, antes de tomar medidas apressadas ou mal
concebidas. Pelo contrário, você precisa dar-se tempo para permitir que as suas emoções se acalmem. Isso pode
levar dias; assim sendo, espere. Resista a todas as tentações de fazer algo apressadamente ou de pôr as cartas na
mesa. Não fale por enquanto com ninguém, pedindo conselho ou simpatia. Um dia as lágrimas escaldam a sua
face, e você acha que poderia chorar a vida toda, mas no dia seguinte você se sentirá totalmente destruído, ou
destruída, com dores em todo o corpo ou amortecido de dor.
Outra sugestão: Não se apresse a tirar férias sozinha ou coisa parecida, porque você "precisa de tempo
para pensar nisso". Isto só levará a mais envolvimento com "a outra". Mantenha a sua rotina costumeira;
conserve-se ativa fisicamente, mantenha a casa limpa, cuide dos filhos. Não abandone as suas responsabilidades
em casa, na igreja ou na comunidade, exceto, talvez, por um breve período de descanso e meditação. Se você
trabalha fora de casa, permaneça no seu trabalho. Isso é importante para a sua cura e seu amor-próprio.
Esta é a hora de conversar com Deus. Derrame diante dele o seu coração, e diga-lhe exatamente como
você se sente. Ele sabe que você é humana. Não procure medir as suas palavras para encaixar-se na noção que
você tem dele. Ele não ficará chocado ou perturbado. Exponha a coisa toda diante de Deus, e peça a sabedoria
dele. Ele é um socorro bem presente na angústia. Uma mulher rejeitada escreveu a um conselheiro: "Eu orei,
pedindo paciência para não perder a calma nem chorar ou criticar, da forma como sentia vontade de fazer. Orei,
pedindo ajuda para continuar a amar, em vez de odiar o meu marido, como já estava começando a fazer. Tive
muita dificuldade em perdoá-lo pelo que ele havia feito, e por isso orei a esse respeito também."
Outra mulher anônima falou da importante compreensão que recebeu ao orar: "A primeira ajuda que
recebi naquele dia terrível foi a oração. Só o fato de me comunicar com Deus aliviou parte de minha ansiedade,
mas fez mais do que isso. Em oração, cheguei a compreender, num nível emocional, a verdade que eu conhecera
até então apenas academicamente. Enfrentando a possibilidade de uma família dividida e do divórcio, aprendi à
força que o casamento cristão é mais do que um contrato legal entre um homem e uma mulher ou um acordo que
pode ser encerrado, sempre que a esposa ou o marido o julguem conveniente."
Ela continuou: "Raciocinei que Deus estava presente quando nos casamos; que ele devia também estar
presente então, quando estávamos enfrentando dificuldades. Isto me confortou. Então levei adiante o meu
raciocínio. Meu marido e eu tínhamos apostado em nosso casamento; Deus também tinha apostado nele. 'Isto é
dois contra um', pensei capciosamente, colocando Deus — com muita autojustificação, eu o reconheço agora —
do meu lado. E então, mentalmente, levei minha lógica um passo além: Deus, eu mesma, três filhos e algo que
eu chamava de lar e família — tudo isto pesava contra um homem e uma mulher em um estado de amor
romântico. Quem poderia comparar logicamente a tragédia de um romance destruído com a de um lar e um
casamento destruídos?"
Gastar o tempo para refletir e orar, nos primeiros estágios da descoberta da infidelidade, é a ação mais
importante que você pode realizar. Creia que, de alguma forma, Deus lhe dará sabedoria, e extrairá o bem a
partir de uma situação negativa.

SEPARE OS FATOS DE SUAS OPINIÕES


Quando um "caso" é descoberto, a mente do cônjuge traído funciona em alta velocidade. Experimenta não
apenas todo tipo de emoções, mas essas emoções são também incitadas em seus pensamentos dia e noite.
Inconscientemente, você mistura os fatos propriamente ditos com a sua opinião negativa a respeito desses fatos,
e cria um quadro falso acerca de si próprio e da dificuldade. Você não apenas rememora os fatos repetidamente,
mas também os interpreta e chega a conclusões. Quando as suas interpretações e conclusões são juntadas aos
fatos nus e crus, você acaba tendo um quadro totalmente distorcido e inexato.
Ora, certamente não é fácil pensar lógica e corretamente quando você está debaixo desse tipo de tensão e
angústia. Mas é absolutamente essencial forçar-se a pensar claramente, senão as suas emoções fluirão
desenfreadamente e criarão toda sorte de inverdades. Não estou dizendo que as suas emoções são corretas ou
incorretas, mas que elas carecem de base. Você precisa constantemente fazer diferença entre o que são fatos reais
e o que são opiniões negativas, que você inconscientemente misturou com os fatos verdadeiros. Por exemplo: O
fato é: "O meu cônjuge é infiel", mas você pode adicionar uma conclusão falsa e negativa: "...portanto, ele não
se importa mais comigo e com as crianças."
"Meu marido ama outra mulher” — "Isto quer dizer que perdi a minha beleza e agora sou feia." "Meu
cônjuge me engana." — "Não posso nunca mais confiar nele."
"O nosso amor nunca mais pode ser reacendido. Sempre será frio e estéril." "Jamais poderei perdoar e
refazer-me disso." "A nossa reputação está arruinada."
"Sou um fracasso como esposa e mãe."
"Agora os crentes não nos aceitarão mais." "Os nossos filhos ficarão marcados para o resto da vida."
"Deus não me perdoará. De agora em diante serei um crente de segunda classe. Deus não pode mais usar-me;
estou destruído."
Nenhuma dessas deduções é válida. Os fatos são verdadeiros — as conclusões são falsas. E, porque essas
conclusões são sempre negativas, elas destroem o seu amor-próprio e o levam a mergulhar em desespero
irremediável. O fracasso do casamento torna-se o seu fracasso, e o faz ficar imóvel e arrasado pelo sentimento de
culpa. Elas também dizem que você crê que o fracasso foi fatal e final; portanto, não há razão para crer e
esforçar-se agressivamente para alcançar uma solução.

NÃO DEIXE O PRESENTE DESTRUIR O PASSADO


A frustração e decepção ocasionados por um "caso" mudam significativamente o presente, mas, no seu
processamento, também podem descolorir o passado ou roubá-lo completamente de você. O desânimo que você
está sentindo agora leva-o a imaginar se todas as alegrias do casamento e da família desfrutadas no passado não
eram falsas, e o seu cônjuge, um hipócrita. Há uma tendência para pensar: "Ele sempre me enganou; ele nunca
me amou; nunca falou de coração o que dizia." Assim, perdemos a perspectiva das boas experiências do passado.
As discordâncias e dificuldades do passado são exageradas, amplificadas, e nada parece bom mais.
"Fui traída."
"Fui ferida tão profundamente."
"Este é o primeiro caso de infidelidade em nossa família." "O nosso casamento fracassou."
"Este é o primeiro caso de infidelidade em nossa igreja." "A nossa família está dividida."
"Cometi adultério."
Ellen Williams cita uma esposa anônima que escreveu, depois que o seu marido se envolveu com outra
mulher:
Reconhecemos que o nosso casamento havia sido bom. Era mais fácil para o meu marido afirmar isto do
que para mim. Eu tinha a tendência de jogar fora todas as belezas dos anos em que havíamos vivido juntos, por
causa de uma mancha, como se algo que havia ocorrido no presente pudesse negar a felicidade do passado.
Começamos a relembrar juntos aqueles anos, no calor de nossas discussões e em nossas horas mais tranqüilas.
A nossa vida em comum tivera uma rica história de experiências compartilhadas, três filhos e uma netinha.
Tudo isto foi colocado em um lado da balança. Pesou muito mais do que a infelicidade do ano passado.3
Assim, dê valor aos bons tempos que você gozou — a alegria que gozaram um com o outro, as risadas, o
conforto, a intimidade. Claro que haverá estocadas de dor quando você pensar nessas coisas à luz da traição
atual. Mas deixe que as experiências positivas do passado o encorajem a trabalhar em favor de uma solução
presente. Não sacrifique o prazer do passado ao fracasso do presente. Não cancele o passado. Cuide dele com
carinho. E edifique sobre ele.

DEDIQUE-SE A APRENDER — NÃO A ABANDONAR


A descoberta de um "caso" extraconjugal imediatamente inicia um processo doloroso de reavaliação. A
dinâmica entre você e o seu cônjuge indubitável e irrevogavelmente será mudada. O relacionamento nunca mais
será o mesmo. E duas perguntas serão sempre feitas, deliberada ou inconscientemente, tanto pela parte inocente
quanto pela culpada: "Devo afastar-me? Deve o meu cônjuge afastar-se?" E dezenas de outras perguntas estão
incluídas nessas duas: "O que devo fazer?" "Qual será o resultado disso tudo?" "Posso confiar outra vez?" "De
quem é a culpa?" etc, etc.
Você se acha despreparado para responder a essas perguntas na condição de perplexidade em que está.
Mas pode decidir se para você essa tragédia será o fim de um casamento ou o início de um processo de
aprendizado. Depois que Adão e Eva desobedeceram a Deus e foram descobertos, imediatamente culparam a
Deus, ao Diabo, um ao outro e à situação. Preferiram culpar — não ouvir; censurar — não aprender; esconder-se
— para se protegerem da desaprovação de Deus e daqueles a quem amavam. Desde então todos os homens têm
tido a mesma luta básica. A Dra. Ruth Neubauer, terapeuta do casamento e da família, residente em New York,
diz: "A reconstrução de um casamento depende, em grande parte, da rapidez com que um casal pode avançar
além do estágio em que simplesmente culpa-se um ao outro. Os cônjuges que nunca avançam além do estágio de
culpar podem permanecer casados, mas os problemas que levaram, a princípio, à infidelidade conjugal passam
sem ser reexaminados e podem resultar em um ciclo de infidelidades repetidas."4
Nenhum amigo de Deus ou do casamento pode dizer que o adultério é uma coisa desejável. Mas um
"caso" é uma crise que indica uma necessidade, uma indicação da necessidade de uma mudança — de um
retorno. A conselheira Mareia Lasswell confirma: "A pessoa envolvida em um caso de infidelidade extraconjugal
fez uma declaração iniludivelmente dramática que não pode ser ignorada, e abriu a oportunidade para o casal
realizar uma obra construtiva em seu relacionamento."5
A psicóloga Dra. Ruth K. Westheimer concorda: "Eu nunca recomendaria um 'caso'... por causa das outras
conseqüências, que são dolorosas. Não obstante, é um fato que certos cônjuges são sacudidos de sua
complacência pelo 'caso' de seu, parceiro."6 Uma esposa abalada, traída, confessou: "Cada vez que penso
naqueles dias terríveis, resolvo novamente tratar o meu casamento e o meu marido com mais cuidado."
A infidelidade é mais freqüentemente um sintoma do que uma causa de fratura marital. Da mesma forma
como a lâmpada do óleo em seu carro, a luzinha a cintilar revela um problema que precisa ser resolvido
imediatamente — um sintoma de uma grande dificuldade. A luz vermelha não indica que o carro nunca foi bom,
uma porcaria desde a fábrica. Nem indica que o carro está arruinado, e você deve levá-lo para o ferro velho. É
um sinal, uma advertência de que alguma providência importante é necessária. Muitos anos atrás, minha esposa
estava dirigindo o seu carro alegremente, quando a luz vermelha no painel começou a cintilar. Não sabendo ao
certo o que ela indicava, mas pensando que poderia estar revelando algum desajuste sem importância, ela
continuou dirigindo, até mais depressa ainda, para encontrar um mecânico. Quando chegou à oficina, a muitos
quilômetros dali, o motor do carro havia fundido. Se ela tivesse interpretado corretamente o sinal, os resultados
teriam sido positivos.
O "caso" é um indicador — um alarme, um catalisador para mudança positiva. Decida que você vai
aprender dele, e não usá-lo como um pretexto para desistir, tirar o corpo fora ou afastar-se. Mesmo que os seus
esforços não tenham êxito e seguir-se o divórcio, ainda assim você pode aprender muita coisa que não aprenderia
de outra forma. Deus usa todas as coisas — tudo o que deixamos que ele use — para nos ensinar e nos ajustar,
até mesmo o desastre de um casamento feito em frangalhos.

DETERMINE OS FATOS ANTES DE DECIDIR O DESTINO


Os "casos" acontecem em todos os tamanhos e formas, e por várias razões. O cenário e as causas são
diferentes em cada caso, tão diferentes quanto as pessoas neles envolvidas. Não existe nenhum "caso típico". O
Dr. Westheimer diz: "Há muitas espécies de 'casos', iniciados por diferentes razões, com vários graus de
seriedade."7
Embora o adultério seja o problema, tanto numa aventura de uma noite quanto em um relacionamento de
longa duração, a dinâmica e os resultados variam e cada um deles precisa ser tratado de maneira diferente. O
deão da Escola Bíblica que aconselhei, que deliberadamente seduzia cada garota que podia, na escola, era uma
coisa. Um amigo meu que, reagindo a um problema de seu casamento, cedeu a uma experiência, apenas uma
noite, e então confessou-a a Deus e à esposa, era outra coisa. A Bíblia faz grande diferença entre a pessoa que é
apanhada numa falta — que cai por causa de falta de vigilância da tentação, e depois se recupera — e a que
continua em um programa deliberado de pecado, só deplorando ter sido pego. Isto não quer dizer que um é
menos pecador do que o outro nem que estamos minimizando o pecado, mas significa apenas que o
aconselhamento e o contra-ataque devem ser diferentes. Posso acrescentar, aqui, que o adúltero crônico — cuja
infidelidade é um modo de vida — é geralmente um homem cujo comportamento tem pouco a ver com a esposa
ou a qualidade de seu matrimônio. Sem que haja um milagre de Deus, não é provável que ele se modifique.
Em seu livro assaz elucidador, Affair Prevention, o ministro episcopal Peter Kreitler relaciona oito tipos
comuns de casos extraconjugais: O Caso de Amizade, O Caso do Bom Vizinho, O Caso do Cafezinho, O Caso
do Aproveita-o-momento, O Caso da Velha-Amizade-Nunca-Esquecida, O Caso do Ajudador das Pessoas, O
Caso Bang-Bang e o Caso do Escritório. Os nomes que ele deu a esses "casos" mostram como ou onde eles
começam, e são bem auto-explicativos, exceto, talvez, o Caso Bang-Bang. Este é o do homem promíscuo, cujos
muitos casos são como entalhos feitos em seu cinto de masculinidade — da mesma forma como um cowboy
pode cortar entalhes na culatra de seu revólver para cada bandido que matou.8
Você não pode tratar uma doença, a não ser que saiba qual é. Um estudo mostrou que trinta e um por cento
das mulheres envolvidas voluntariamente contaram a seus maridos a respeito de seus "casos", comparados com
apenas dezessete por cento dos homens. Portanto, precisa haver um tempo para discussão aberta e franca, e
descobrimento dos fatos. Esta discussão direta tem o objetivo de determinar os fatos básicos do "caso" — a
espécie de envolvimento, quem se envolveu, a sua duração, o nível de dedicação do amor por parte do cônjuge.
E também é importante conhecer os sentimentos de seu cônjuge em relação ao "caso" e ao futuro de seu
casamento. Não deve haver acusações, histeria, ameaças, atribuição de culpa ou sondagem para esmiuçar
detalhes. Esta confrontação inicial pode indicar se há qualquer possibilidade de o casamento sobreviver.
Antes da descoberta propriamente dita do "caso", você, provavelmente, percebeu alguns dos sinais, de
forma que tinha já algumas informações. Houve mudanças nos hábitos de seu cônjuge ou nos padrões
estabelecidos em seu casamento — ou um interesse incomum ou exagerado com sua aparência pessoal ou um
desinteresse para com sexo, e até impotência. Ou um interesse renovado em experimentos sexuais, ou mudanças
freqüentes e inexplicadas em seu programa ou horário de trabalho ou tempo de lazer. Ou o fato de ele (ou ela) se
fechar em longos períodos de silêncio, i
O Dr. Richard Fisch, catedrático de psiquiatria na Escola de Medicina da Universidade Stanford, sugere
isto:
Se você deseja consertar o seu casamento, e não se livrar de seu marido, não tente fazê-lo confessar o
adultério, através do interrogatório, insinuações ou outras formas de ciladas. Diga-lhe abertamente o que você
sabe... e como ficou sabendo. E também espere até que o primeiro choque emocional passe, antes de tentar falar
sobre todo o problema. Quando, por fim, você conseguir trazer o assunto à baila, não use de ameaças, tais
como- divórcio ou separação, não fique lembrando-lhe que você se sente traída, que ele nunca mais será digno
de sua confiança. E não insista para que ele procure ajuda profissional.'
Durante esta primeira discussão ficou ele aliviado pelo fato de o problema ser exposto abertamente? Ele
queria falar? Expressou remorso pelo fato de você ter sido ferida ou indicou um desejo de fazer o casamento
funcionar? Esses são bons sinais e devem ser estimulados. Propiciam uma oportunidade de ouro para você usar o
melhor de sua sabedoria, e as chances são razoavelmente boas de que será capaz de salvar o seu casamento.
No entanto, talvez ele tenha sido reticente, negando, culpando, desafiando. Esta situação torna o desafio
maior, mas não, necessariamente, irrealizável. Reações sensatas e cuidadosamente consideradas, da sua parte, a
esta confrontação inicial, serão muito importantes. O seu único objetivo, nesta ocasião, será obter os fatos, e não
saltar para conclusões ou iniciar qualquer ação.

PERGUNTE AS RAZÕES, E NÃO OS DETALHES


Quando obtiver os fatos reais, você poderá explorar as razões para a infidelidade — razões que a ajudarão
a entender as causas e a parte que lhe toca, neste envolvimento. Por que foi que o seu marido se voltou para outra
mulher? Quais são as lutas dele? Em quase todos os casos de infidelidade conjugal, a "outra" propiciou algo que
a esposa não estava dando. A sua motivação precisa ser de aprender e entender, e não de se defender ou culpar —
confrontação com cuidado, não com crítica — de ouvir sem malícia ou ira. Esta pode ser a tarefa mais difícil de
todas: ouvir, colocar-se no lugar de seu cônjuge, tentar entender os sentimentos dele e por que ele acha que
aconteceu o "caso". Algumas das coisas que você ouvir serão difíceis de aceitar. Podem atingi-la diretamente.
Você pode ser ferida e até mesmo acusada injustamente. Certa mulher contou-me que o marido dela lhe disse:
"Eu não posso conversar com você, e só queria alguém com quem conversar." Você pode sentir-se injustamente
criticada. Contudo, morda os seus lábios, enxugue as lágrimas, e ouça — ouça! Nem pense em usar de
menosprezo, de moralização, de sermões, de versículos bíblicos.
Não estou sugerindo uma impassibilidade prática, isto é, que o cônjuge ofendido se assente passivamente
sem expressar sentimentos, reprimindo toda a dor. Essa pode ser a hora em que você diga como foi ferida
profundamente, e comece a estabelecer diretrizes para a reconstrução da confiança entre vocês dois. Mas, se
você está amargurada, e não vê nada, a não ser falhas, e começa a menosprezar seu cônjuge, já arrasado pelo
sentimento de culpa, pode ser desastroso. O Dr. John F. O'Connor, do Centro Psicanalítico da Colúmbia Para
Treinamento e Pesquisa, adiciona esta sugestão: "Quando estiver falando, use a regra do 'eu'. Diga: 'Eu fui
ferida', em vez de dizer: 'Você me feriu.' Em outras palavras, nunca comece uma sentença, numa conversa com
ele, que ó coloque na defensiva. Vocês dois devem tentar pensar: 'Este é um ponto morto em nosso casamento', e
tentar começar a resolver a situação juntos."10
Um terapeuta do Hospital Northside de Atlanta, Geórgia, Dr. Al-fred A. Messe, comenta: "Toda esposa
que se defronta com o adultério de seu marido deve insistir para que ele corte todas as ligações com a outra
pessoa e se concentre em incentivar a satisfação de seu casamento. A descoberta diminui a atração de um "caso".
Ele perde o seu encanto clandestino e torna-se menos sedutor e menos significativo."11
Esta interação aberta é imperativa. Teria sido o "caso" a reação dele à sua ausência física ou emocional ou
a evidência de uma crise na vida de vocês? Uma escapatória de uma situação desanimadora no trabalho ou
incerteza a respeito de sua masculinidade? Fora uma erupção de orgulho, da parte dele, um sustento para os seus
sentimentos de inadequação? Pressão dos colegas? Perda do amor-próprio, devido à perda de um emprego ou
problemas de serviço? Medo da idade? Redução de capacidades sexuais nó casamento? Mudança de cargo ou de
carreira? Nascimento ou enfermidade de um filho? Viagem da esposa, a serviço? Vingança? Insatisfação
emocional? Um desesperado grito, pedindo socorro? (Ou qualquer uma dentre cem outras considerações?) Este é
o tipo de informação de que você necessita para obter compreensão. Você não conseguirá abordar todos esses
aspectos em uma hora; pode levar dias. E certamente não conseguirá ouvir tudo isto, se manifestar crítica e não-
aceitação. Porém ouvir, observar e compartilhar, a fim de se tornar sensível ao profundo significado do "caso"( é
da maior importância. A esposa precisa colocar as suas cartas na mesa, e convencer o marido a fazer o mesmo.
Uma advertência: Não sonde, para descobrir os detalhes picantes. "Onde vocês dois iam quando estavam
juntos?" "Quando fazia amor comigo, você estava pensando nela?" "Você alguma vez a trouxe aqui para nossa
casa, para a nossa cama?" Certa mulher, descobrindo que o seu marido infiel ia, com a "outra", ao Holiday Inn,
exclamou: "Eu nunca vou me hospedar em um Holiday Inn enquanto viver!" Pode haver alguns detalhes que
você está morrendo de vontade de conhecer, mas não procure sabê-los. Eles são irrelevantes para a solução do
problema. O fato de conhecê-los pode satisfazer a sua curiosidade e acender o seu ciúme, mas não contribuirá
para a solução.
Resista a todos os desejos de fazer perguntas que a comparem, de qualquer forma, com a outra, em termos
de aparência, maneira de vestir e realizações.
Também, por favor, não lhe pergunte se ele a ama. Você o estará forçando a ficar constrangido. Nesse
ponto, ele não sabe; está dividido. Ele está vivendo no mundo dos seus sentimentos, e, sem dúvida, sendo
enganado por esses sentimentos. Se você perguntar: "Você ainda me ama?" e ele lhe disser a verdade, é bem
possível que ele diga: "Não", ou: "Não sei", e então você ficaria abalada — sem esperanças. Se ele disser: "Sim",
você será tentada a achar que ele está mentindo, ou dizer: "Então, por que você fez uma coisa dessas? Isso prova
que você não me ama." Isto só agrava a situação. Neste ponto, os atos dele falam mais alto do que qualquer coisa
que ele possa dizer.

INCENTIVE O SEU CRESCIMENTO, NÃO O SENTIMENTO DE CULPA


Talvez a coisa mais difícil de todas para se fazer — e ao mesmo tempo a mais necessária — seja examinar
a possibilidade de sua culpabilidade no "caso". Você, de alguma forma, falhou para com o seu cônjuge? A Dra.
Mary Ann Bartusis, psiquiatra e autora, aponta o que devia ser óbvio para todo mundo: "É necessário haver três
ângulos para se fazer um triângulo, e um desses ângulos, inevitavelmente, é o seu."12 Raramente um marido ou
uma esposa iniciam um triângulo amoroso, se o casamento não estiver seriamente enfermo. O reconhecimento
de que falhamos, de alguma forma, ou contribuímos para o "caso" não nos deve surpreender nem nos lançar em
uma excitação de autodefesa. Afinal de contas, você é perfeita? Você não comete erros? Você não é humana,
como nós outros, com entendimento limitado, fraquezas pessoais, pecados e possibilidades de fracasso? A
autojustificação, em qualquer dos cônjuges, condena o casamento em qualquer estágio. É difícil conviver com a
perfeição.
Por que não engolir o seu orgulho e admitir diante de você mesma, de Deus e de seu cônjuge o que você
de fato sabe ser a verdade, e enfrentar a pergunta necessária e difícil: "O que é que eu fiz que contribuiu para esta
situação?" Não estou sugerindo um prolongado processo de introspecção, onde você disseca todas as suas falhas,
afirma o quanto é má e aumenta o seu sentimento de culpa. Não precisamos, além do mais, disso. Da mesma
forma, não estou recomendando que você assuma toda a culpa por toda a confusão, isentando o seu cônjuge do
pecado que cometeu. Tenho conhecido mulheres que eram tudo o que um marido poderia desejar, mas assim
mesmo o marido as enganou. Há mais razões para a infidelidade do que uma esposa inadequada. Porém
precisamos perguntar realisticamente: "Eu falhei?" "O que posso aprender com isto?" "Em que devo mudar?" Da
mesma forma como espera que o seu cônjuge infiel reconheça a infidelidade dele e aprenda com ela, você
precisa fazer com qualquer falha de sua parte .1
Natalie Gittelson, a autora do Redbook, sugere isto: Cabe a cada esposa que sabe ou suspeita que o seu
marido está enganando-a dar uma boa olhada em sua própria conduta, suas próprias atitudes e as mensagens
mudas que dirige ao homem de sua vida. Ela deve perguntar a si mesma francamente se, de certas maneiras
sutis, não pode estar privando-o da dedicação de seu tempo, simpatia, interesse, compaixão. Se não está
compartilhando as suas melhores idéias com a sua melhor amiga, e deixando para o marido apenas os detalhes
monótonos da vida doméstica. Se não está fazendo ouvidos moucos quando ele traz para casa algumas das
frustrações de seu dia, e, pelo contrário, exigindo as atenções dele para as frustrações dela. Será que ele não se
tornou personagem de secundária importância em sua escala de prioridades? Bode expiatório? Muro de
lamentações? Criança problema?13
Certa esposa ferida, todavia, nem por isso mais sábia, concorda: "Você pode se envolver terrivelmente
com os filhos e com o trabalho, sem perceber, e não dar ao seu marido a atenção de que ele precisa. Descobri que
também não era principalmente sexo o que o meu marido queria. Ele estava procurando todos os outros tipos de
atenções que eu estava negligenciando em proporcionar-lhe, até mesmo, ocasionalmente, o carinho maternal,
que todo mundo precisa de vez em quando, e que eu às vezes desejava receber dele." Marjorie Zimmerman cita
um marido infiel, mas penitente: "Um homem precisa ser mais do que um comensal em sua própria casa."
Uma esposa anônima entristecida acrescenta o seu ponto de vista: "Olhando para o passado, verifiquei que
houve muitas ocasiões — oh, tantas ocasiões! — quando o meu marido procurou proximidade e compreensão,
que não lhe dei. Eu estava sempre fazendo algo mais urgente, como remendar, limpar o refrigerador, arrancar
ervas daninhas do jardim. Lembrei as inúmeras vezes que ele disse, de modo anelante: 'Por que não saímos
sozinhos por uns dois dias? Você poderia comprar um vestido novo. E nós simplesmente gozaríamos umas férias
dos filhos, da casa — ficando sem fazer nada, sentindo-nos jovens.' Eu não disse diretamente: 'Não seja tolo,
somos adultos', mas a minha falta de entusiasmo, sem dúvida, foi óbvia." Outra mulher, embora uma crente
firme, percebeu outra coisa: "Estou tão envergonhada! Eu devo ter sido uma mulher muito dominadora,
autojustificadora. E nunca percebi o que estava fazendo."
Ao abandonar sua esposa crente, um marido incrédulo disse, candidamente: "Essa outra mulher não é tão
bonita como você — ela não é nem muito limpa. Sem mim ela seria uma alcoólatra. Mas é a única pessoa que
conheço que precisa de mim e me aceita como sou. Ela tem algo para mim que você nunca teve." Linda Wolfe
acrescenta: "A maior parte dos adultérios não ocorre devido aos conflitos internos de um indivíduo. É bem mais
freqüente o adultério ser o resultado de um conflito interpessoal. O amor-próprio, em declínio, de um homem,
pode estar ligado ao fato de a esposa ser a causa do 'ego' danificado desse homem. Ela pode ser supinamente
crítica ou excessivamente exigente para com o seu marido ou sexualmente indiferente ou até rejeitá-lo
sexualmente."
Um conselho semelhante vem do Pastor Henry Wildeboer, da Igreja Reformada:
Pelo fato de as relações extraconjugais muitas vezes suprirem o que falta ao casamento, a sua causa é
freqüentemente um ou mais pecados de omissão, tais como deixar de mostrar consideração para com o seu
cônjuge, negligência, deixar de propiciar-lhe a certeza de seu amor, não expressando-o audivelmente,
negligência em expressar afeição ou em se apresentar atraente, acessível, comunicativa. Algumas vezes uma
esposa com um programa intenso parece desinteressada e fria. Filhos, clubes, negócios e atividades na igreja,
embora importantes, precisam ser conservados em suas devidas perspectivas... Quando a parte ofendida
reconhece as suas próprias falhas e como elas contribuíram para a crise, ainda pode, com a ajuda de Deus,
começar a perdoar o ofensor e,reedificar a confiança.14
Para Maridos Também Tudo o que dissemos acima vale para os maridos também, cujas esposas foram
infiéis. Tudo o que uma esposa deve ao marido, o marido deve a ela também — sem exceção. O Dr. David
Reuben, autor de sucesso, observa: "O casamento é como uma longa viagem em um barco pequenino: se um dos
dois passageiros começar a fazer o barco balançar, o outro tem que segurá-lo, 'fazê-lo ficar firme; senão irão
ambos para o fundo."15
"Com o 'caso' de meu marido", contou-me certa senhora, "aprendi tanto a respeito de mim mesma, que me
tornei uma mulher inteiramente diferente. Enfrentei o que vi e ouvi a respeito de mim mesma, e orei para que
Deus me ensinasse, me transformasse. Tive uma profunda experiência com Deus, fui realmente convertida, e as
minhas atitudes mudaram. Repetidamente orei para que Deus me desse sabedoria para me tornar ai esposa mais
perfeita possível para o meu marido. Até o meu marido notou a mudança."
Nenhum casamento é reconstruído, a não ser que cada um dos cônjuges esteja disposto a aprender com o
problema e a sofrer modificações positivas. Nenhuma ação direta, de minha parte, mudará o meu cônjuge, mas
eu posso mudar. A graça de Deus está disponível para me fazer crescer, confessar os meus pecados, a minha
necessidade, e ele promete ser "fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça".16 Ele
também promete dar-me generosamente de sua força, para eu fazer o que não consigo fazer sozinho.17

PERMITA QUE CADA CÔNJUGE CONFESSE AS SUAS AÇÕES


Visto que são necessárias duas pessoas para constitui um casamento, se uma delas falha, ambas têm
alguma responsabilidade por esse fracasso. A sua responsabilidade não é a mesma, mas elas são igualmente
responsáveis. Uma age, a outra reage; uma negligencia o seu parceiro, a outra, os seus votos. Uma é infiel nas
atenções, a outra, adulterando. Nenhuma pode carregar os fardos da outra. Cada uma precisa se responsabilizar
por suas próprias ações, não importa o que a outra tenha feito. Nenhuma das duas é responsável pelas ações da
outra, mas cada uma, pelo seu próprio comportamento. "Tudo o que o homem semear, isso também ceifará"
aplica-se a cada pessoa em particular e individualmente.
O ato de se esquivar da responsabilidade é uma característica humana, posta em prática desde Adão.
Gostamos de jogar o "jogo da culpa", e procurar um bode expiatório. O marido infiel acusa: "Você estava tão
preocupada com os filhos que nunca prestou nenhuma atenção a mim." Ou: "Desde que você arrumou aquele
emprego, a perdi de vista", etc. Ele aponta o dedo, e diz: "Você', "você", "você". O que você fez desculpa o que
eu fiz. Se pode conseguir que a sua esposa aceite toda a responsabilidade, ele fez o bolo e ele mesmo o come.
Como um alcoólatra!, ele pode continuar a sua ação destrutiva, sabendo que a sua "mãe" o protegerá das
conseqüências e assumirá toda a culpa. Qualquer mulher que fizer isto estará apenas dando ao seu marido
experiência em atitudes evasivas e irresponsabilidades egocêntricas. Os doutores Willard e Marguerite Beecher
apresentam um parágrafo ímpar a respeito deste princípio:
Uma pessoa pode ter um problema ou ser um problema. A pessoa que é um problema não acha que tem
problemas. Continua a vida esplendidamente, explorando os outros e tirando das pessoas que a acolhem. A
pessoa que a acolhe é a que tem um problema: o problema de propiciar apoio para a que é um problema. Em
suma, são necessários os dois para tornar possível que um deles falhe!18
Lembro-me de um homem, Charles, que era perito nisso. Depois de ficar um dia ou dois com a amante,
ele vinha para casa e esperava que a esposa o abraçasse e se relacionasse sexualmente com ele. Quando ela
hesitava ou se recusava, ele dizia: ,"Você está me jogando bem nos braços dessa outra mulher. A culpa é sua se o
nosso casamento acabar. É isso que você quer que aconteça?" Ele era um patife. A verdade é que ele não tinha
intenção de desistir de seu "caso", mas queria fazer a esposa sentir que era a culpada. Ela era a lata de lixo dele.
Qualquer decisão tem que mudar do sentimento de culpa para a responsabilidade. Da mesma forma como
não podemos escapar da participação que tivemos no problema, não devemos desculpar a parte que os outros
tiveram. Não podemos defender o pecado de adultério, mas ao mesmo tempo podemos reconhecer O nosso
pecado de negligência, que contribuiu para a crise. Algumas esposas rejeitadas, por medo e insegurança,
assumem toda a culpa pelas ações de seu marido, e rogam, imploram, pressionam e aceitam qualquer tipo de
humilhação, para impedir que eles as abandonem. "Você pode fazer qualquer coisa, mas não me abandone. O
que eu faria sem você?" Nenhum homem, no seu íntimo, 'respeita uma mulher assim. O que ela pode pensar que
lhe propicia controle sobre ele realmente é um sinal de sua fraqueza. Ela está dizendo: "Eu não sou uma pessoa
importante." O marido dela a abandonará por falta de respeito, ou continuará com os seus "casos" e ficará, mas
para usá-la como peteca ou como capacho.
O marido que prevaricou, da mesma forma como começou voluntariamente o seu "caso", precisa escolher
voluntariamente permanecer no casamento. Certamente você ora e confia em Deus para ocasionar uma
transformação, mas nem toda ia pressão do mundo conseguirá isso. Você precisa abrir a gaiola de forma que ele
fique livre para tomar uma decisão voluntária. Só esse tipo de escolha tem algum valor no casamento. Ao mesmo
tempo, você expressa o pensamento encontrado nas palavras do Rev. Mr. Kreitler: "Penso que você seria louco
se arriscasse a me perder", ou: "O que temos juntos ê bom demais para ser destruído." Anos atrás, quando
estávamos discutindo a infidelidade conjugal quanto a alguns amigos que estávamos tentando ajudar, perguntei à
minha esposa: "O que você faria se descobrisse que eu estivesse tendo um 'caso' e pensando em abandonar o
lar?" Sem hesitação, ela respondeu: "Ficaria com o coração partido e, provavelmente, choraria muito. Mas Deus
me ajudaria a atravessar a crise, e eu ainda conservaria as memórias dos bons anos que vivemos juntos. Mas não
choraria eternamente. Há muitos homens que ficariam entusiasmados com a idéia de ter uma esposa como eu,
que os amasse como eu o amei. E estou certa de que não teria problema nenhum em encontrar um deles." Uma
boa resposta. Esse é q tipo de esposa a quem você se apega.

ABRA-SE COM UM CONFIDENTE OU UM CONSELHEIRO


De acordo com as autoridades médicas, oitenta por cento de todos os problemas curam-se a si mesmos.
Devemos enfrentar os problemas do casamento da mesma forma. "Sim", diz Natalie Gittelson, que mencionei
anteriormente, "o casamento que emenda os seus próprios ossos, por assim dizer, muitas vezes é fortalecido no
processo. Só quando tudo o mais falha e passa a haver uma emergência emocional insolúvel é que se torna
essencial a ajuda psicológica exterior."19 Assim, um casal deve ir tão longe quanto possível em resolver a crise
sem a assistência de profissionais.
Contudo, algumas vezes a dor da infidelidade é tão grande que as pessoas envolvidas precisam
descarregar as suas emoções, abrindo-se com alguém, antes de começaram a ser honestas uma com a outra. É
muito difícil desemaranhar as emoções de ira e culpa, e ter uma perspectiva nova. E elas precisam desabafar as
emoções com alguém que não coloque mais lenha no fogo. Esta deve ser, provavelmente, uma pessoa que não
seja influenciada, imparcial: um pastor, um conselheiro, um psicólogo. Quarenta a cinqüenta por cento de todos
os problemas levados ao pastor, hoje em dia, relacionam-se com a família e os interesses matrimoniais. Procurar
aconselhamento necessário é um sinal de força, e não de fraqueza. É o mesmo que procurar a ajuda de um
especialista para salvar os seus olhos, ao invés de tolamente e desnecessariamente ficar cego.
Acho maravilhoso que em nossa época o campo de conselheiros cristãos está se expandindo rapidamente
(pelo menos nos Estados Unidos), e, na maioria dos centros metropolitanos, há um serviço de aconselhamento
cristão. Muitas igrejas grandes agora têm as suas próprias clínicas, nos Estados Unidos. Ao procurar
aconselhamento, primeiro consulte o seu pastor. Se ele achar que não pode ajudá-lo, pode recomendar outra
pessoa com a capacidade para isso. Se você é crente, não hesite em perguntar ao psicólogo, se for consultá-lo,
quais são os valores espirituais que ele preza e quais os seus objetivos em aconselhar. Embora outras pessoas
possam ajudar até certo ponto, faça todo o possível para encontrar um conselheiro competente que aprecie a sua
dedicação a Cristo e possa ajudá-lo no contexto de sua fé, preferivelmente alguém que tenha tido sucesso em seu
próprio casamento e vida familiar. Se o conselho dele, ou dela, não funcionou no seu próprio caso, ele, ou ela,
não poderá ajudá-lo em quase nada.
Qualquer pessoa que esteja sofrendo a dor aguda e a perda ocasionados por infidelidade de seu cônjuge
também precisa de um amigo, um confidente — alguém que saiba ouvir, sem dar palpites. Alguém que dê apoio,
mas sem se enternecer — que manifeste aceitação, mas não dê conselhos. Todos nós temos uma porção de
amigos e conhecidos que gostariam de compartilhar dos detalhes picantes de um mexerico, ou que sempre têm o
conselho certo para qualquer situação, embora o próprio casamento deles dificilmente seja excitante. Evite-os
como a uma praga. A maioria das pessoas, na verdade, não entende as complexidades ou ramificações de um
"caso", e não são capazes de dar conselhos objetivos. Apressam-se a dizer: "O que eu faria é...", ou: "Eu não
confiaria mais nele", ou: "Seja sincera para consigo mesma." Estes conselheiros encontram-se por aí às dúzias.
Não faça publicidade de sua angústia. Pelo contrário, encontre uma caixa de ressonância onde você possa abrir o
coração, expressar tranqüilamente os seus sentimentos e deixar as lágrimas caírem, um amigo ou amiga que
orará por você e orará com você — alguém que não tem todas as respostas. Um amigo que, como diz o verso do
poeta, "tomará juntos o grão e a palha, e, com um sopro de bondade, soprará a palha para longe".
Um amigo assim, ou um casal, é suficiente. Não conte o que você está passando para toda a classe da
Escola Bíblica Dominical ou para a sociedade de senhoras ou para os parentes. Sentimos a tentação, ao descrever
o problema, de rebaixar o nosso cônjuge, para ganhar simpatia. Desta forma, isto envenena a reputação de seu
marido, e, depois que o "caso" for resolvido, ele será malvisto. Haverá períodos escuros, tenebrosos, sentimento
de isolamento. Por vezes você terá vontade de entrar em um buraco e evitar o embaraço de ver velhos amigos ou
de ir à igreja sozinha. O pastor e sua esposa, que mencionei em capítulo anterior, a respeito de quem Ellen
Williams escreveu, encontraram forças em um grupo de amigos na igreja. A esposa disse: "A pressão positiva da
comunidade cristã foi um fator enormemente positivo, enquanto abríamos caminho por entre a crise. Havíamos
nos decidido a compartilhar a nossa dificuldade com outro casal de crentes. Eles foram capazes de nos ajudar a
ambos. Eles tornaram-se um anteparo para mim, no sentido de que a sua influência inabalável me conservou
firme, quando facilmente eu poderia ter explodido. De maneira simbólica, eles ofereceram ao meu marido
aceitação e a certeza de que nada que ele havia feito podia separá-lo do amor de Deus ou da igreja."

BUSQUE O SEU PERDÃO — DEPOIS EXPRESSE O SEU PERDÃO


Sempre que há pecado, uma traição de confiança, apresenta-se o assunto do perdão. Quer ele seja
procurado pelas partes que precisam dele ou oferecido a elas, nem se precisa dizer que é essencial para a
recuperação do casamento, depois de um "caso", que se entenda bem o que é perdão. Perdão é o assunto central.
Como qualquer pessoa que tenha passado por essa experiência pode testificar, a restauração de um casamento,
depois de infidelidade, não é assunto fácil. O perdão não se manifesta rapidamente. É difícil. Mas é a única
maneira de curar e libertar, a única solução para a dor pungente.
O que é que sabemos realmente acerca do perdão? Como pode ele ser praticado em situação tão carregada
de emoções?

O Perdão É Possível
É possível para ambos os cônjuges: o infiel e o traído. O adultério não é um pecado sem perdão, como
parece que algumas pessoas pensam. A Bíblia não relaciona os pecados como se alguns deles fossem mais
hediondos do que os outros, e alguns mais facilmente perdoados. Alguns pecados causam mais danos do que
outros, e, em suas conseqüências, são de mais longo alcance. Paulo fala a respeito de como o adultério, de
maneira peculiar, afeta tão seriamente o corpo:
Fugi da prostituição. Qualquer outro pecado que o homem comete, é fora do corpo; mas o que se
prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que
habita em vós, o qual possuis da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por
preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.20
Mas todo pecado confessado pode ser perdoado. Nada é impossível para Deus. Depois de seu adultério
com Bate-Seba, Davi disse: "Confessei-te o meu pecado, e a minha iniqüidade não encobri. Disse eu:
Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a culpa do meu pecado." 21 Os pecados de
omissão, dentro do casamento — negligência, rejeição, egocentrismo, amargura — podem, por vezes, ser mais
corrosivos do que o adultério, e também precisam ser perdoados. Os pecados de temperamento precisam ser
confessados, tanto quanto os pecados da carne. Todo pecado é primordialmente cometido contra Deus, embora,
na infidelidade, muitas outras pessoas sejam feridas: os cônjuges de ambos os lados, as duas famílias, todos os
filhos. Visto que Deus criou cada um de nós, planejou o casamento e os relacionamentos familiares, e tem um
lindo plano para cada pessoa. Quando pecamos, rejeitamos o plano de Deus. Ele odeia o pecado, porque destrói
o homem que ele tanto ama, de forma que a confissão precisa ser primeiramente feita a ele. Davi enxergou esta
perspectiva: "Contra ti, contra ti somente, pequei, e fiz o que é mau diante dos teus olhos."22

O Perdão É Necessário
É essencial para a nossa saúde mental tanto quanto para a nossa saúde conjugal. Davi falou a respeito do
sentimento de culpa e do engano de seu "caso", e como ele o deixou seco por dentro. E finalmente a libertação:
"Como é feliz o homem cujos pecados Deus apagou e está livre de más intenções em seu coração! Eu tentei, por
algum tempo, esconder de mim mesmo o meu pecado. O resultado foi que fiquei muito fraco, gemendo de dor e
aflição o dia inteiro. De dia e de noite sentia a mão de Deus pesando sobre mim, fazendo com as minhas forças o
que a seca faz com um pequeno riacho. O sofrimento continuou até que admiti minha culpa e confessei a ti o
meu pecado. Pensei comigo mesmo: 'Confessarei ao Senhor como desobedeci às suas leis.' Quando confessei, tu
perdoaste meu terrível pecado."23

O Perdão E Difícil
Ele atinge o âmago de nossa justiça própria. Algumas vezes gostamos de nos sentir condenados.
Agarramo-nos às nossas feridas, desejando ainda empatar, nos vingando. Perdoar é abrir mão dos sentimentos de
vítima, e isso não é fácil. O nosso ódio próprio muitas vezes está no alicerce de nossa incapacidade de perdoar;
por não conseguirmos aceitar as nossas características humanas, não temos a capacidade de aceitar o nosso
cônjuge, que falhou. A nossa incapacidade de aceitar o amor limita a nossa capacidade de dá-lo. Sempre
julgamos os outros da maneira como nos julgamos a nós mesmos. Se não temos um amor-próprio sadio e não
nos consideramos valiosos, pessoas em estágio de crescimento, muitas vezes necessitando de perdão, não
conseguimos dar ao nosso cônjuge o que não podemos dar a nós mesmos. Só quando reconhecemos as nossas
deficiências é que estamos prontos para aceitar as imperfeições dos outros. Não podemos oferecer perdão, se
estamos num vácuo. Na medida em que recebemos e gozamos do amor de Deus e dos outros, aprendemos a
amar.
Precisamos deixar Deus nos amar. O que recebemos e experimentamos, podemos depois repartir. O
mesmo é verdadeiro em relação ao perdão. Quanto mais sou perdoado, mais perdoador me torno.

O Perdão E uma Escolha


Jesus coloca o perdão no nível da decisão pessoal, e não da emoção. "Quando estiverdes orando, perdoai,
se tendes alguma coisa contra alguém, para que também vosso Pai que está no céu vos perdoe as vossas
ofensas."24 Esta é uma ordem dada à vontade. As emoções e os sentimentos não podem receber ordens. Preciso
decidir-me a perdoar, mesmo quando todos os meus sentimentos clamem contra isso. Muitas vezes, quando
tenha enfrentado uma luta para perdoar alguém, levanto-me, em meu escritório, e digo em voz alta: "Eu o
perdôo, perdôo, perdôo." Quando coloco a minha vontade e o meu coração nessa direção, sentimentos de perdão
começam a seguir-se, e então consigo dizer à pessoa envolvida: "Eu te perdôo." Pode levar algum tempo para
que as feridas sarem, mas a sua decisão alivia a tensão, e o tempo começa o processo de cura.

Perdoar Não É Esquecer


O perdão não é um apagador que apaga a lembrança do ato de sua mente definitivamente. Isso é
impossível. Ainda continua sendo história. A cicatriz pode ser permanente. Perdoar e esquecer é esquecer a ira
que sentimos contra a pessoa que nos prejudicou — para nunca mais a usar contra ela, e para não tirar mais do
armário esse esqueleto. Embora nos lembremos do fato, tratamos a pessoa como se ele nunca tivesse acontecido.
Lembrar constantemente o "caso" de seu cônjuge quando estão no quarto, ou durante algum conflito, assegura
que a infidelidade jamais será esquecida por ambas as partes, e isso pode encorajá-lo a voltar a cometê-la.
Certamente, onde a confiança foi abalada pode haver interrogações durante certo tempo, pontadas
ocasionais de dúvida, ou ecos, mas esses sintomas desaparecerão, se houver um esforço mútuo para melhorar o
relacionamento conjugal.

O Perdão É Oferecido
Gosto da maneira como o Pastor Wildeboer o expressa:
Da mesma forma como o perdão divino não depende do fato de o homem sentir-se perdoado, mas da
declaração de perdão feita por Deus, a ser aceita com base em sua Palavra, assim também cada cônjuge
precisa declarar que perdoa o outro e aceita o perdão do outro com base na palavra dele. Ambas as partes
precisam renovar a dedicação um ao outro, não apenas de maneira emocional, mas com uma declaração — e
com atos que confirmem as palavras... Eles precisarão dizer um ao outro o que, se são crentes, já disseram a
Deus: 'Eu lhe pertenço: coração, alma, mente e forças. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para ser fiel a
você. " Depois precisarão pôr em prática o amor um ao outro. Precisarão dar de si tanto quanto foram capazes
de dar e querer e esforçar-se para dar muito mais.2*
Este perdão pode ser a pedra angular de um casamento mais forte do que nunca. Há anos, li uma história
clássica de perdão excelente, que me comove outra vez, ao escrevê-la. A mulher a conservou trancada no coração
durante meio século, mas compartilhou-a com a "Dear Abby", para ajudar outras pessoas que se encontrem nas
mesmas condições:
Eu tinha vinte anos, e ele, vinte e seis. Fazia dois anos que estávamos casados, e eu nem sonhava que ele
pudesse ser infiel. A terrível verdade foi-me comunicada quando uma jovem viúva de uma fazenda vizinha me
veio dizer que o filho que ela estava esperando era de meu marido. O meu mundo veio abaixo. Eu queria
morrer. Lutei contra uma vontade imensa de matá-la. E a ele também.
Eu sabia que isso não resolveria o caso. Orei, pedindo forças e orientação. E elas vieram. Eu sabia que
precisava perdoar aquele homem, e o fiz. E perdoei a ela também. Calmamente contei ao meu marido o que
havia aprendido, e nós três juntos elaboramos uma solução. {Que criaturazinha amedrontada era ela!) O bebê
nasceu em minha casa. Todo mundo pensou que eu dera à luz, e que a minha vizinha estava me "ajudando". Na
verdade, era exatamente o contrário. Mas poupamos à viúva a humilhação {ela tinha mais três filhos), e o
garotinho foi criado como meu. E nunca ficou sabendo da verdade.
Teria sido esta a compensação divina para a minha incapacidade de gerar um filho? Não sei. Nunca
comentei este incidente com meu marido. Ele tem sido um capítulo fechado em nossas vidas durante cinqüenta
anos. Mas tenho lido nos olhos dele, milhares de vezes, o amor e a gratidão.26

CAPITULO 8

Anatomia de um "Caso" - e Depois!


Um impulso interior irresistível alimentou esse "caso" ardente por mais de dois anos. Rogando poder, ele
agora transformou-se em outra pessoa, o que causou grande regozijo.
O EDIFÍCIO cor de âmbar, cercado por centenas de metros quadrados de estacionamento, parecia mais
um armazém atacadista do que uma igreja, a casa de Deus. Não havia colunas brancas no pórtico, nem uma cruz
no alto da fachada, nem um gramado bem cuidado. Estacionamento para centenas de carros, do lado de fora, e
dentro, cadeiras simples, e não bancos pesados de mogno, para as centenas de adoradores. De fato, mil pessoas
no culto de domingo pela manhã é coisa comum, e ainda mais pessoas vêm, se o programa é especial. Esta é a
maior igreja daquele condado, naquele estado no centro dos Estados Unidos.
No quadro de avisos, na entrada, notei o horário dos cultos e uma linha em tipos pequenos, ao pé da
página, que dizia: "Rev. Douglas Nelson, Pastor."^ ) Fiquei imaginando se aquelas centenas de adoradores
conheciam a história de Douglas Nelson que eu conhecia. O seu trágico passado. O engano. O desastre. Os
"casos". Como Doulgas e Sally viram o seu casamento ressuscitar das cinzas. Não fazia muito tempo, eu me
sentara no sofá da sala de visitas de sua casa confortável, e os sondara com dezenas de perguntas. Nenhuma foi
rejeitada como ingênua demais. Nenhuma resposta foi sonegada. Senti a vibração de seu relacionamento franco e
diáfano, que causa refrigério, e a sua profunda compreensão e dedicação, que foram moldadas através de alguns
dias tenebrosos e águas profundas.
Fiquei impressionado ao ver que todos os princípios que mencionei neste livro tornaram-se realidade na
experiência deles. Eles mostraram-se dispostos a reviver comigo, em detalhes vivos, comoventes, todos os
emocionantes momentos, "se isso ajudar outros casais a encontrarem juntos o caminho de volta". É uma história
verdadeira e iluminadora, de poder, paixão e lindas promessas.
Douglas e Sally encontraram-se na igreja durante a sua adolescência. Na verdade, eles não se conheceram
de maneira formal, visto que cresceram juntos na mesma igreja e freqüentaram o mesmo ginásio, e, de certa
maneira, sempre se conheceram. Vindo de um lar em que ambos os pais nunca haviam experimentado nada mais
do que trabalho duro, para se manterem, Sally estava emocionalmente esgotada. Seus pais certamente a amavam
— ou diziam que a amavam — mas não sabiam como expressar esse amor de maneira que uma adolescente
insegura pudesse entender e receber. Nenhuma afeição era demonstrada. Só o que havia era trabalho, trabalho,
trabalho, entremeado com um pouco de comer, dormir e estudar. Assim, como simples aluna do segundo ano do
ginásio, ela sentia uma tremenda necessidade de ser apreciada e amada. Nessa pouca idade, quando a maioria das
jovens está almejando apenas uma boa nota em estudos sociais ou um acompanhante para a festa de promoção
da classe, Sally tinha já um grande desejo de se casar e ter filhos. "Talvez o meu desejo de me casar fosse o de
um escape da difícil situação em casa, ou uma esperança de alívio de minha pobreza. Mas sei que da primeira
vez que saí com Douglas, desejei casar-me com ele, que eu tinha que me casar com ele e que não permitiria que
nada o impedisse."
'Os nomes verdadeiros e os lugares foram mudados, mas os fatos são reais.
Douglas, uns dois anos mais velho, também ficou apaixonado, mas a idéia de um casamento prematuro o
deixou amedrontado. Ele gostava da companhia dela, mas estava totalmente despreparado para pensar em se
estabelecer. Os seus pais, que também não eram muito afetuosos, eram bem-sucedidos, muito disciplinados e
encorajavam integridade, excelência e uma ambição aventurosa entre os seus filhos. A freqüência à igreja era
obrigatória; a boa educação, uma necessidade.
Tanto Douglas como Sally eram ativos em seu grupo de jovens e freqüentavam regularmente as reuniões
anuais de avivamento, na igreja. Mas não havia ninguém com quem pudessem conversar; pelo menos eles assim
pensavam. Ninguém com quem pudessem compartilhar as suas lutas e seus temores. E, como muitos
adolescentes cujos pais não demonstram muita afeição, as suas emoções estavam à flor da pele, esperando para
serem incendiadas com uma palavra, um toque e por outro corpo quente. Se uma garota cresceu sendo tocada e
abraçada de maneira sadia pelo seu pai, o homem mais importante de sua vida, ela será menos vulnerável
sexualmente diante do primeiro rapaz que segurar a sua mão.
"Nós dois gostávamos de estar bem juntos", lembrou Douglas. "E, antes de o percebermos, havíamos
desenvolvido uma intimidade sexual que durou o tempo todo em que estivemos no colégio, até a faculdade. Ela
sempre se manifestava, e nós batalhávamos contra ela constantemente. Guardamos esse segredo durante anos, e
ninguém ficou sabendo." Quando perguntei a respeito de sua relação com a igreja, ele continuou: "Nós dois
éramos crentes e membros da igreja, de forma que nos arrependíamos imediatamente, nos abstínhamos durante
algum tempo, depois cedíamos novamente à tentação. Não tínhamos apoio interior. Conhecíamos toda a ética: os
Dez Mandamentos, os 'deveres', mas isso não era suficiente para nos manter fora da cama. Um sermão ocasional
contra a imoralidade só parecia nos fazer mergulhar ainda mais profundamente em autocondenação e sentimento
de culpa. Não havia ajuda externa; não que ela fosse ou seria rejeitada, mas não se manifestava. Nenhum dos
adultos parecia perceber as lutas que estávamos tendo. Talvez eles se tivessem esquecido de seu próprio passado
ou haviam atravessado a sua adolescência com as suas glândulas desajustadas."
O casamento aconteceu na semana após a colação de grau, e poucas semanas depois Douglas entrou no
seminário evangélico, em New York. O casamento foi a culminação de quatro anos de noivado, e a realização de
um lindo sonho de Sally. Mas foi uma decisão, para Douglas, que significava o cumprimento de um dever.
"Comecei a perceber que estava me casando com ela por causa de um profundo senso de honra colocado em
minha vida por meus pais. Eu sabia que, de certa forma, havia desonrado essa mulher, eu a havia deflorado, e
agora devia casar-me com ela. Embora estivesse apaixonado por ela, adentramos o casamento com essa maneira
de entendê-lo, e ele nunca, absolutamente, foi para mim uma experiência muito profunda. Contudo, éramos um
casal que gostava de diversão, e fizemos muitas coisas divertidas juntos."
Sally acrescenta: "Mas para mim foi um grande sentimento de paixão, que continuava desde o ginásio. Eu
tinha a minha paixão e o meu amor todos ligados em um pacote, e estava emocionada por ser esposa de Douglas,
e estava esperando ter filhos."
No seminário, o ritmo não diminuiu. Empregos noturnos, para sustentar a família, duas crianças para criar
e muita atividade religiosa. Embora Douglas estivesse estudando para ser pastor e profundamente envolvido nos
negócios da igreja, classes da Escola Bíblica Dominical, atividades do seminário, segundo ele disse, "não havia
em mim nenhuma sensação de intimidade com Cristo, do Espírito Santo realmente atuando dentro de minha
vida". Quando perguntei se ele percebia o vácuo espiritual, ele exclamou: "Oh, não! Todas as outras pessoas
estavam agindo da mesma forma, de modo que estávamos todos envolvidos com serviço cristão muito bom. De
fato, se àquela época me tivesse perguntado, estou certo que eu lhe teria dito que me sentia realizado em todos os
sentidos. Mas o que pensávamos que era a nuvem da unção de Deus sobre nós era, provavelmente, nada mais do
que a poeira de nossa própria atividade."
Neste ponto, o casamento deles era típico do da maioria dos casais de estudantes. Eles se aconchegavam e
se abraçavam muito, lutando para encontrar o seu caminho. Nenhum dos pais de ambos havia estabelecido ou
modelado um relacionamento afetuoso, que servisse de exemplo para eles. Eles estavam aprendendo um do
outro, e ambos concordam que foi "difícil". Sally diz que tinha muitas necessidades emocionais, era muito
ciumenta e se agarrava a Douglas, procurando segurança. Ambos estavam em um nível espiritual superficial. Ao
redor deles havia se formado uma concha, a concha de seus primeiros anos juntos, e "nós sobrevivemos devido à
experiência física do amor, a emoção dos filhos, a excitação de estar entrando no ministério".
"Não obstante, o nosso casamento naquela época era bem corriqueiro", lembra Douglas, "as minhas
ambições estavam nada mais do que dormentes. Estava crescendo em mim um desejo impulsivo de sucesso e
poder. O meu único alvo era subir ao topo da escada eclesiástica, tornar-me pastor de uma grande igreja, a maior
do país, e também tornar-me presidente de nossa grande Denominação. Isso, para mim, seria o sumo do
sucesso."
Tudo parecia estar caindo em seus devidos lugares. Parecia que Deus estava sorrindo para eles, e seguindo
o plano deles. O primeiro convite que ele recebeu, logo que saíram do seminário, foi de uma igreja bem grande,
como pastor adjunto. Os móveis deles nem sequer haviam sido arrumados direito ainda, na casa pastoral, quando
a tragédia se abateu — não sobre eles, mas sobre o pastor principal. Ele teve um sério ataque cardíaco, e foi
removido, tornando-se incapacitado. Passara-se apenas um mês, e já esse agressivo graduado do seminário
estava sendo catapultado para a posição de pastor titular, na idade de vinte e seis anos.
Sentar-se detrás da escrivaninha de pastor titular era uma coisa inebriante para esse jovem pregador. Ele
tinha poder, proeminência e controle; as pessoas estavam se convertendo, a igreja crescia, mas ele era como um
marinheiro novo ao leme de um navio de guerra. Quando se lhe perguntava se ele era capaz de fazer aquele
trabalho, ele confiantemente repetia o chavão, que parecia espiritual: "Deus e eu podemos fazer qualquer coisa
juntos." Mas era uma jactância oca de um homem oco. Ensoberbecido com o pensamento de que estava no
caminho do sucesso, ele começou a fazer manobras para abrir caminho através dos canais de influência e poder
na comunidade. Enquanto gozava da alegre companhia dos executivos e líderes profissionais da cidade na
Associação Cristã de Moços, no Rotary, no Lions e no Clube local, o seu casamento mantinha-se coeso apenas
pela atividade estonteante que havia ao redor deles. "Eu estava faminto de poder. Queria ser rei. Queria ser
presidente de todas as organizações." Sally estava envolvida com os filhos — tinha chegado outro — e não
entendia a necessidade de Douglas de ser louvado, ou sua luta com um vazio interior crescente. As palavras dele
são reveladoras: "O anseio por amor que eu sentia no fundo do coração era quase canibal — procurando devorar
qualquer pessoa ao meu redor que parecesse disposta a ser consumida." Sally não entendia isso. Em vez de se
aproximarem, para obterem apoio e compreensão, tendo em vista seu casamento, cada um deles tinha o seu
projeto: ele, a igreja, ela, os filhos. As suas necessidades pessoais continuaram, sem serem reconhecidas ou
satisfeitas. Um vácuo. Um ambiente perfeito para um "caso".
Até para um pastor.
E isso não é surpresa. Os pastores não são menos susceptíveis ao impulso sexual e à paixão do que
qualquer outra pessoa. Se diferença existe, eles são mais susceptíveis. Eles estão expostos a todo tipo de doença
emocional e espiritual. As pessoas que os procuram, pedindo ajuda, estão buscando amor e simpatia. Alguém
que cuide delas. Qualquer pastor, com apenas um toque de compaixão, não pode deixar de se identificar e sentir
com o seu povo que sofre. Não só os pastores, mas qualquer pessoa que está em uma profissão destinada a
ajudar as pessoas enfrenta as mesmas tentações. Há anos, um pastor contou-me como o seu aconselhamento a
uma mulher jovem, em sua igreja, tornou-se a sua ruína. Enquanto ela chorava lágrimas de alegria, ele a
confortou e a abraçou. Dois corpos quentes se tocaram e se fundiram juntos. O fusível foi ligado. Logo
aconteceu a explosão inevitável.
Foi assim que começou o primeiro "caso" de Douglas. Um beijo inocente de uma garota agradecida pela
obra de Deus em sua vida. A motivação dela era pura, mas um fusível foi ligado, que provocou uma reação em
cadeia, e, embora ela e seu jovem pastor fossem ambos inocentes... bem, deixemos que Douglas conte o caso.
"O pensamento de imoralidade com qualquer uma das senhoras de minha igreja jamais havia entrado em
minha cabeça. Eu achava que estava imune a isso. E então, certa noite, batizei uma jovem que havia sido uma
verdadeira prostituta, mas que então aceitara a Cristo. Depois daquele culto vespertino de batismo, ela vestiu-se
e voltou ao meu gabinete para me agradecer. O cabelo dela ainda estava úmido da água do batismo. Para minha
surpresa, ela lançou os braços ao meu redor e estalou um beijo na minha boca, e disse: 'Nem sei dizer como me
sinto maravilhosa e purificada, agora.' Aquilo, provavelmente, fora uma espécie de expressão muito natural para
ela — bem meiga. Foi tudo tão espontâneo, e, estou certo, tão puro. Da parte dela não havia nenhum propósito
oculto, mas uns sinos começaram a tanger dentro de mim, e isso abriu toda sorte de desejos. A lembrança
daquele beijo ficou comigo durante vários dias. Eu lembrei o seu sabor e o revivi muitas vezes, e comecei a
sentir que estava no limiar de uma nova aventura — não procurando algo, mas certamente aberto para uma
aventura."
Essa armadilha satânica fora colocada, e ele sentira o cheiro da isca. Já era tarde para seguir o conselho de
John Dryden: "É melhor recusar a isca do que debater-se no laço." E, um mês mais tarde, apresentou-se a
oportunidade para satisfazer o desejo. Se a tentação está esperando à porta, o Diabo tomará providências para
que alguém esteja ali para abrir a porta depressa. E essa porta aberta sempre parece tão natural, tão coerente, tão
predestinada.
Eram quatro horas da tarde, quando a porta foi escancarada, aberta por um "amigo do peito". "Eu me
lembro muito bem como entrei no hospital para visitar a esposa de um de nossos melhores amigos. Vivíamos a
poucos quarteirões de distância, havíamos passado as férias juntos, algumas vezes, éramos ativos na mesma
igreja, e a esposa era especialmente uma íntima amiga de Sally. Elas faziam muitas coisas juntas, e tinham
grande consideração uma pela outra. Quando eu estava me preparando para sair, ela agarrou a minha mão e
disse: 'Você não sabe disso, mas isto está no meu coração há dois anos. Eu estou profundamente apaixonada por
você. Eu o amo de todo o coração.' Puxa! Foi como uma festa de São João. Tudo começou a explodir dentro de
mim e ao meu redor. O meu coração começou a bater, e as palmas de minhas mãos, a suar, e a minha boca ficou
seca, os meus olhos se dilataram. Mas eu saboreei aquelas primeiras sensações embaraçosas, e saí do hospital
pisando nas nuvens. O resto da tarde foi um quadro psicodélico, e eu estava de volta às sete da noite, para ouvi-
la dizer aquilo de novo, beijá-la e abraçá-la. Nós ambos começamos a viver esperando o dia em que ela tivesse
alta e pudéssemos 'mostrar o nosso amor um ao outro'."
Aquela visita pastoral tornou-se um convite apaixonado que não pôde ser negado. Um impulso irrefreável
incendiou essa "transa" ardente por cerca de dois anos. Durante dois anos eles tinham os seus sinais secretos na
igreja, os seus lugares secretos, onde deixar bilhetes de amor, os seus encontros secretos. Ansiando por poder, ele
agora o tinha sobre outra pessoa, e isso era emocionante. 'E eu comecei a ter as mesmas sensações que tivera no
ginásio, quando Sally e eu começamos a ter as nossas pequenas intimidades. Aquelas palpitações do coração
agora voltavam, e eu disse para mim mesmo: 'Estou apaixonado.'"
A essa altura, achei que precisava perguntar: "Sally, onde estava você? O que estava acontecendo lá 'na
cozinha'?" Sally continuou a história: "Bem, eu soube imediatamente que algo estava errado, mas não estava
certa do que era. Suspeitei que houvesse algo entre Douglas e Joanne, mas não sabia até que ponto estava indo
nem como lutar contra aquilo. As minhas intuições estavam captando sinais por toda parte, e as luzes vermelhas
piscando. Tentei afastar-me da família de Joanne — não tivemos mais jantares juntos, não reunimos mais as duas
famílias nem tivemos mais férias juntos — mas Douglas insistia em que continuássemos considerando-os como
amigos.
"Mas aconteceu algo de bom", continuou Sally. "Essa situação derrubou Douglas do pedestal em que eu o
tinha colocado. Eu havia pensado que ele não poderia fazer nada de errado; era um homem de Deus. Na verdade,
eu estava confiando mais nele do que confiava em Deus. Assim, esse problema realmente me fez recuar, voltar
para Deus, e o meu relacionamento com Cristo começou a aprofundar-se, e ele tornou-se mais real para mim."
Durante dois anos as coisas continuaram, mas não como haviam sido antes, isso era impossível. Algo tinha
que ceder. O que é que acontece por detrás das portas fechadas do coração e da mente do pastor, quando ele se
torna hipnotizado pelas suas "maçãs roubadas" e galvanizado pelo seu engano? Como é que um homem cavalga
três cavalos selvagens ao mesmo tempo e conserva o equilíbrio, quando eles começam a enveredar por direções
diferentes? Quais são? Casamento, ministério e infidelidade. Os chineses têm um provérbio: "Aquele que
sacrifica a sua consciência à ambição queima um quadro para obter as cinzas." O que estava acontecendo com
esse quadro tríplice, quando as chamas da paixão e da ambição continuaram incontroladas? Como um homem
conserva a sua sanidade mental, quando essas forças de seu inferno interior convergem e concorrem?
A essa altura, o casamento estava em dificuldades. Sally sabia ao certo que Douglas estava dormindo com
a sua amiga, e havia brigas diárias. Acusações. Ameaças. "Em público, quando os rumores a respeito do 'caso'
começaram a vazar, eu defendi Douglas. Eu não estava disposta a permitir que os outros jogassem pedras nele.
Eu achava que era algo que nós precisávamos discutir por detrás de portas fechadas. Eu chegava até a negar o
fato diante do povo da igreja, enquanto brigava com ele constantemente a respeito, em particular. Chegamos à
agressão física, algumas vezes, quando ameacei contar para todo mundo, e abandoná-lo. As crianças tornaram-se
as minhas armas contra ele, e, para chamar a sua atenção, eu dizia a elas, na presença dele: 'Se vocês soubessem
quem é seu pai', ou: 'Seu pai é...' Mas ele somente ficava ainda mais furioso. A minha atitude era abjeta, mas eu
estava me debatendo de dor, de toda forma que conseguia.
"Além do mais, eu estava sempre questionando a conversão dele. Eu não entendia como ele podia estar
envolvido com outra mulher, e ainda ter boas relações com Deus. E não havia ninguém a quem eu pudesse
recorrer. Muitas vezes senti que estava levando essa carga sozinha. Eu me sentia humilhada, ferida, rejeitada.
Mas nunca houve o pensamento ou a ameaça de me divorciar. Nós havíamos selado isso quando havíamos nos
casado, de forma que eu nunca desisti. Certamente Douglas estava deixando Deus de lado, deixando-me de lado,
mas eu sabia que Deus o faria voltar à razão, embora o processo fosse doloroso, penoso. Eu cria de todo o
coração que, enquanto eu fosse obediente a Deus, ele cuidaria de meu marido.
"Provavelmente, o senhor pode estar tendo interrogações a respeito de nossa vida sexual. Embora eu
usasse tudo contra ele, nunca recusei-lhe o sexo. Sexualmente, eu procurava satisfazer todas as necessidades
dele, e isso foi uma 'tábua de salvação'. Raciocinei que, já que ele estava indo a outros lugares para se satisfazer,
se eu o pudesse satisfazer em casa, afastá-lo-ia desses outros lugares. Muitas vezes eu chegava a ranger os
dentes, mas sabia que seria errado se eu me negasse a ele. Acrescentar erro ao erro dele não ajudaria. Dois erros
não perfazem uma coisa certa."
Qual era a reação de Douglas a isso? "Sally está certa. Embora ela soubesse que eu estivera com outra
mulher naquela manhã, ela nunca se negou a fazer sexo naquela noite. Penso que, se ela se negasse, me teria
feito sair de casa. Mas disse que isso era problema meu, não dela, e ela estava ali para se dar a mim. Tudo o que
tenho, devo a ela."
Mas o que estava acontecendo com a consciência de Douglas? "É claro que todo homem que comete
adultério também mente. Ambos os pecados vicejam lado a lado. No ato de mentir, o processamento começou a
ser muito rápido. Eu precisava manipulá-la, subjugá-la. Diante das acusações de Sally, eu dizia: 'Você está
imaginando coisas. Há algo errado com você. Pessoas normais não são ciumentas assim.' Eu tentava convencê-la
de que ela estava desequilibrada emocionalmente. Que, na verdade, ela estava louca.
"E havia aquele terrível conflito interior. Eu achava que amava ambas. Algumas vezes, durante a noite, eu
sonhava. O que aconteceria se eu tivesse que escolher uma das duas? As duas estão no carro, o carro pegou fogo,
e eu posso tirar só uma delas. Qual delas vou escolher? Ah, se minha esposa morresse! Embora eu não
expressasse esse desejo audivelmente, esse desejo de morte tornou-se tão forte que foi transferido
espiritualmente para Sally. E ela começou a desejar morrer. Eu literalmente colocara esse desejo no espírito dela.
Intuitivamente. O pecado sempre acaba em morte, propriamente dita, ou em se desejá-la. Ele começa como uma
coisa pequena, uma brincadeira, mas termina com você tendo realmente a vontade de que a sua esposa morra."
E o ministério de Douglas? Será que ele tinha problema em pecar sábado à noite e pregar o evangelho no
domingo de manhã? Outro pastor que conheço tornou-se mais legalista e reprovador, em suas pregações, para
afastar as atenções de seus próprios pecados. Douglas respondeu: "Tornei-me endurecido. A obsessão impulsiva
dentro de mim era continuar aquele 'caso', não importava como, e eu nunca parei para analisar as coisas loucas,
estúpidas, que eu estava fazendo. Não havia nenhuma luta semanal antes de subir ao púlpito, pensando como eu
podia fazer aquilo. Eu estava totalmente cego. Havia tanta cegueira e engano que eu conseguia justificar o que
estava fazendo. De fato, eu pregava melhor quando tinha estado com Joanne na noite de sábado. Mas eu
restringia a minha pregação. Eu não diria, do púlpito, que o adultério é pecado. Eu rodeava o assunto. Eu tinha
muito cuidado, ao atacar os mentirosos. Tudo soava correto, mas eu chegava até a beira e voltava atrás, para não
chegar a condenar a mim mesmo no processo. Mas ninguém jamais podia dizer que eu não estava sendo bíblico.
"E as pessoas estavam sendo salvas. Casamentos sendo restaurados. Eu ainda fico perplexo com isto,
porque os meus estudos teológicos diziam que Deus não pode usar pessoas nessas condições. E a minha lógica
diz que não há maneira de se colocar essas duas coisas juntas. Mas eu era como aqueles leões de pedra, com
água saindo de suas bocas. O poder de Deus estava operando através de mim, mas não estava operando em
mim."
Mas o tempo de Deus finalmente chegou, pelo menos o começo dele. A estratégia dele com cada pessoa é
diferente, mas os princípios são os mesmos. Um por um, ele remove as escoras, e nos deixa expostos, até que
possa obter a nossa atenção. Algumas vezes é uma abordagem direta, sobrepujante. Outras vezes, começa com
uma pobreza interior. Mas ele está decidido a completar a obra que começou em nós, não importa quantos
obstáculos o nosso orgulho coloque no caminho. Ele nos levará de volta ao caminho real, não importa quantos
coelhos estejamos caçando. A sua própria maneira e no seu tempo certo, ele põe os desprezíveis para fora do céu.
Com Douglas começou durante os feriados de Natal e Ano-novo. Ele havia mandado a família passá-los
com os parentes no Estado de Michigan, e decidira passar a melhor parte da semana sozinho na casa pastoral.
"Na véspera do Ano-novo, eu me lembro que me sentei em casa sozinho, ninguém mais estava na casa, e,
ajoelhando-me ao lado de uma cadeira, comecei a chorar. Sem saber por quê. Eu nunca tivera uma explosão
emocional como aquela. Repentinamente senti que estava vazio por dentro, e não o havia percebido. Eu não
sabia mais como orar. Lembro-me de ter ficado sentado ali, tentando orar por Sally, as crianças e Joanne, mas
nada saía. Deus ausentara-se. Era a primeira experiência que eu tinha de meu tremendo vazio espiritual. A única
coisa que conseguia fazer era apenas chorar, soluçar e dizer: 'O que há de errado comigo?' E: 'Õ Deus, ajuda-me!'
Eu não estava disposto a dizer especificamente: 'Remove isto de mim.' Eu não conseguia pedir isso. Tudo o que
podia dizer era: 'Ajuda-me.'
"No mês seguinte, percebi que tudo estava se despedaçando dentro de mim. De fato, comecei a duvidar
que conseguisse continuar no ministério. A convicção de pecado começou a aumentar — profunda convicção de
que eu era uma fraude e que a situação ao meu redor estava se deteriorando. A minha amante estava começando
a fazer exigências inusitadas, que eu não podia cumprir. Ela me telefonava, para saber se eu fizera sexo com
minha esposa na noite anterior. Eu não podia suportar isso. Era um ciúme extremo. Ela queria tudo de mim, o
que é, sem dúvida, a inclinação natural da mulher. Eu podia suportar uma esposa e uma amante, mas não podia
suportar duas esposas. Isto estava muito além de minhas forças, e eu estava sendo esmagado no meio da
situação.
"Na manhã do domingo seguinte havia culto. Fui para o templo bem cedo, cerca de sete e meia, para
repassar o meu sermão e me preparar para os cultos daquele dia. Ao entrar no santuário, ouvi o órgão e me
assentei no último banco. Nossa organista, uma moça solteira de cerca de vinte e sete anos, estava praticando as
músicas para o culto matutino. Não havia ninguém mais no templo. Ao ouvir a música, comecei a chorar
novamente, incontrolavelmente. Quando me levantei e fui descendo pelo corredor, ela notou que eu estava
realmente perturbado, e me disse: 'O que é que eu posso fazer? Sei que algo está errado.' De repente percebi que
ela sabia que eu estava arrasado, e, provavelmente, sabia a razão. Comecei a sentir que talvez muitas outras
pessoas também o soubessem.
"Ela foi comigo ao meu gabinete e, antes de o perceber, eu, por assim dizer, vomitei para ela o que não
dissera para ninguém mais. E solucei: 'Esta coisa com Joanne está me matando.' 'Sim, eu sei', disse ela,
demonstrando simpatia. De repente eu me descobri nos braços dela, e ela estava me acalmando e acariciando e
dizendo: 'Eu compreendo.' E, daquele momento em diante, o caso com Joanne acabou. Aquele episódio terminou
com tudo. Eu nunca mais voltei para ela. Senti, em minha mente, que fora libertado daquele laço, e transferi tudo
para a organista. Tirei dali e coloquei aqui. Caso número dois."
"Ciúme é o inferno do amante injuriado", escreveu John Milton — "e cruel como a sepultura", acrescenta
Salomão. Joanne, agora repudiada, decidiu que, se ela não conseguia ter o pastor para si, nenhuma outra mulher
o teria. O telefone de Sally começou a tocar o dia inteiro: chamados anônimos várias vezes por dia: "Com quem
o seu marido está fazendo sexo esta noite?" As crianças recebiam telefonemas de uma voz de mulher disfarçada,
que dizia: "Você sabe com quem o seu pai está dormindo?"
Em minha entrevista com Douglas, agora um maduro homem de Deus, notei várias vezes que ele
sobressaltou-se, incredulamente, ao perceber o quanto fora estúpido, louco. Eu não pude deixar de perguntar:
"Quais são os elementos desses casos? O que você acha que essas mulheres lhe deram, que a sua esposa não lhe
propiciava em casa? Riso, surpresas, presentes, apreciação, edificação de seu ego?"
"Allan, eu não sei. Eu já pensei nisso. A minha esposa me amava muito, e é claro que essas duas mulheres
diziam que elas também me amavam. Penso que era a emoção de experiências diferentes."
"Como maçãs roubadas?"
"Sim, estou certo de que eram maçãs roubadas. A grama do vizinho parece ser mais verde. A coisa
proibida. Quando era menino, eu costumava esconder-me atrás da casa para fumar, porque os meus pais não
queriam que eu fumasse. E eu achava que era errado fumar na presença deles. Os meus pais, piedosos como
eram, estabeleceram padrões muito elevados para mim. É por isso que nunca pensei em divórcio. Eu podia
mentir, enganar, cometer adultério, mas não podia pensar em divórcio, porque o divórcio é contra a vontade de
Deus. A minha estrutura moral e ética era uma superestrutura. Eu não estava embutido nela — era um estranho
nela, de forma que estava constantemente tentando abrir caminho para sair daquela prisão. Só muito mais tarde a
moralidade tornou-se parte integrante de mim."
Mas os esforços ciumentos de Joanne estavam começando a fazer efeito. As suas acusações tornaram-se
cada vez mais públicas, até que exerceu-se uma pressão crescente do povo, começando a dizer que o pastor e a
organista estavam tendo um "caso". Mas ninguém podia provar nada. Por enquanto.
Confiantemente, mas estupidamente, Douglas estava agindo com essa moça como agira com Joanne. O
mesmo padrão de bilhetinhos de amor, nos mesmos lugares. Mas um bilhete, com os dizeres: "Eu te amo",
deixado sobre o teclado do órgão, nunca chegou às mãos da organista. Acabou nas mãos de um diácono.
Evidência "preto no branco". Os cães de caça do céu haviam alcançado o seu fugitivo.
Os diáconos exigiram uma renúncia imediata. Incapaz de manipular a estrutura política da igreja ainda
mais, Douglas estava numa armadilha. Duas vezes antes, ele havia conseguido enganar o conselho da igreja, e
obtido um voto de confiança. Sair voluntariamente teria sido uma admissão da culpa. Teria significado também
deixar para trás um relacionamento em que ele se revelara com o mesmo grau de intensidade que um alcoólatra
se apega à sua garrafa. Agora ele estava sendo completamente desmascarado. As suas entranhas estavam se
agitando violentamente. Desesperada-mente, ele tentou mostrar uma fachada de falsa confiança. Porém ela
começou a se desfazer quando lhe pediram para sair da reunião e esperar do lado de fora, enquanto eles
discutiam o assunto.
"Em vez de pelo menos simular uma saída tranqüila, eu me assustei. Fugi. Tropecei pelo santuário escuro,
e me ajoelhei, chorando de medo e confusão. De volta à sala de reunião, os homens estavam decidindo o meu
destino. Na sala ao lado, havia um pequeno escritório. Telefonei para Sally: 'Venha me buscar. Não posso
agüentar mais isto.' Desliguei e, com tal vergonha que quase me levou a um estado de choque, encarei a
hediondez de tudo aquilo, e fugi a esmo, por um lance de escadas iluminado apenas pela luz vermelha das letras
que diziam: 'Saída'.
"Sally me encontrou, o pastor do rebanho, encurvado, em posição fetal, em um corredor do porão,
amontoado contra a escadaria. 'Seria melhor para você, para as crianças, para esta igreja, se eu estivesse morto',
solucei.
"Ela me consolou. Ela me acalmou. Ela nunca perguntou os detalhes. Não havia necessidade. Ela me
levou pela mão através dos corredores escuros da casa de Deus até o nosso carro, estacionado debaixo da janela
iluminada da sala de conferências. Na época eu não o percebi, mas aqueles homens eram servos de Deus,
enviados, pelo Espírito Santo, para realizar a desagradável tarefa de sacudir um homem de Deus, até que só o
que fosse inabalável permanecesse.
"Naquela noite eu me encaminhei até o jardim de nossa bela casa pastoral. De pé sob o céu de outono,
olhei para os céus e gritei: 'Leva-me! Leva-me agora! Depressa!' Em um movimento desesperado, agarrei a
camisa e a puxei num repelão, abrindo-a ao peito, arrancando os botões juntamente com a bainha, expondo o
meu peito nu aos céus, aguardando o relâmpago que eu esperava que viesse e me abrisse ao meio, levando-me
para o inferno — lugar ao qual pertencia.
"Mas não houve o relampejar do raio, pois o fogo purificador já começara a queimar. Além disso, Deus
não pune o pecado da maneira como nós o punimos. Da mesma forma como os fazendeiros, muitas vezes,
queimam um pasto, para matar as ervas daninhas, de forma que a grama nova possa brotar, assim também o fogo
consumidor de Deus queima a escória, sem consumir o pecador."
Seguiram-se a revelação dos fatos e a resignação. A igreja lhes deu três meses de salário, três meses na
casa pastoral, mas só até a sexta-feira seguinte para desocupar o gabinete pastoral, com a clara advertência de
que eles nunca mais seriam bem-vindos àquela igreja, em qualquer tempo. Os líderes da igreja mal souberam
como resolver a situação. Através de todo o estado, toda a região, as más línguas depressa levaram aquelas tristes
notícias para pastores e líderes denominacionais.
Douglas procurou desesperadamente os seus amigos, só para descobrir que todos se afastavam dele. Ele
era imundo, um leproso. Noventa e duas cartas foram escritas para amigos influentes, dizendo: "Estou sem
igreja. Preciso de ajuda." Só um se incomodou em responder. Talvez esses homens soubessem o que Deus sabia
— e, provavelmente, Douglas também — que ele não estava pronto para outra igreja. Pois, a despeito do
quebrantamento, da rejeição e do fracasso, por dentro, na verdade, ele ainda não estava diferente. Só a etiqueta
exterior havia mudado, na mesma garrafa vazia. Ele ainda era o magnificente manipulador, o mestre em
controlar, o defensor de sua posição. Ele ainda estava procurando manejar as pessoas, ainda era mais um político
do que um homem de Deus.
Uma igreja pequena, mas em crescimento, abriu-se em Ohio — a única disponível. Mas, a fim de
conseguir a igreja, Douglas mentiu a respeito das razões de sua exoneração. Depois de se mudarem, Sally
dedicava-se às crianças em casa, enquanto Douglas continuava os seus contatos com a organista, agora em outro
estado, pois ela também fora despedida simultaneamente com ele. Havia correspondência, telefonemas, uma
caixa postal particular, encontros clandestinos. Viagens a outras cidades, a serviço da igreja, sempre incluíam
uma parada secreta, mas que não era secreta para Sally. Ela tornara-se uma boa detetive, descobrindo os
chamados nas contas de telefone, os bilhetes e recibos de motéis. "Toda vez que ele saía para fazer uma viagem",
lembra Sally, "eu sabia que ele ia ve-la. Eu o podia até perceber pela maneira como ele agia. Muitas vezes eu
disse a ele que podia suportar melhor a verdade do que as suas mentiras. De qualquer forma, eu iria descobrir, e
isso era mais doloroso do que se ele simplesmente me contasse a verdade logo do princípio."
Logo rumores do passado começaram a se infiltrar até Ohio — rumores de adultério, de manipulação, de
mentira. E os sentimentos de Douglas? "Eu continuava a lutar, a arrostar corajosamente o ataque violento e
crescente de fatos que continuavam a se amontoar contra mim. A velha ressaca exercia sucção contra as minhas
entranhas, e eu sentia que estava para ser varrido de volta para o mar.
"A crise explodiu certa manhã de domingo, quando subi ao púlpito para pregar. No púlpito havia uma
petição, para eu renunciar. Era assinada por trezentas e cinqüenta pessoas, muitas das quais estavam assentadas
sorridentes na congregação. Um grupo de homens havia contratado um detetive particular e examinado o meu
passado. O relatório do detetive — quarenta e sete páginas de fatos terrivelmente distorcidos — havia sido
fotocopiado e distribuído a toda a congregação. Os diáconos exigiram que eu fosse submetido a um teste com o
detector de mentiras. Embora eu tivesse passado nesse teste, isso não foi o suficiente. Fui despedido. Não tive
escolha, a não ser esgueirar-me envergonhado outra vez para casa, e abraçar-me com minha esposa e filhos,
enquanto o fogo de Deus continuava a sua obra purificadora."
Havia um pequeno grupo de pessoas que deixou a igreja com ele, ainda crendo nele, e eles começaram a
reunir-se como uma congregação pequena, lutando para sobreviver, em uma loja.
Despojado de tudo o que, para conseguir, ele pisara sobre muitas pessoas — poder, controle,
reconhecimento — Douglas agora tinha tempo para pensar. Com trinta e cinco anos de idade, ele era um homem
arrasado, com sonhos arrasados e anos de fracasso atrás dele e ao redor dele. Durante meses ele havia flutuado
com a maré, açoitado por todas as circunstâncias que se apresentaram. Vazio, sem objetivos, mas de certa forma
ainda determinado a abrir os seus próprios caminhos.
Mas o começo de uma mudança de cento e oitenta graus foi uma reunião "casual" com um estranho que se
tornara seu amigo. Esse amigo lhe compartilhara uma profunda experiência espiritual — algumas das grandes
coisas que Deus fizera por ele — e convidara Douglas a participar de uma conferência, com ele, em Chicago.
Conferências eram coisas costumeiras para ele, mas aquela devia ser a experiência de sua vida. Todos os seus
outros encontros durante os últimos anos ele havia preparado pessoalmente e procurado infatigavelmente. Este
encontro foi preparado por Deus. Douglas não tinha idéia do que o esperava, à sua família e ao seu futuro,
quando atravessou o vestíbulo daquele hotel, e entrou no salão de convenções, onde estava se realizando a
conferência.
Sendo um visitante, sem responsabilidades determinadas naquela reunião, Douglas ficou observando o
povo, enquanto este entrava para as reuniões. Ele sentiu o seu deleite e excitação de tão-somente estarem ali.
Havia reuniões com diferentes oradores, o dia inteiro, para vários grupos: uma refeição variegada de
oportunidades espirituais de ensino, inspiração e comunhão. Contatos pessoais, no intervalo entre as reuniões, à
mesa de refeições e nos corredores, fizeram Douglas entrar em contato frontal com pessoas cujas vidas haviam
sido radicalmente e lindamente mudadas por Deus. Tudo isso começou a se focalizar em um vazio interior que
estava no centro do ser de Douglas, que havia sido cercado pela sua criação religiosa, seu treinamento, suas
atividades. Esta sensação de vazio só aumentou a sua luta, enquanto ele se assentou para assistir à última reunião
vespertina. Sem nenhuma intenção de se envolver pessoalmente ou de responder ao apelo público do orador de ir
à frente para orar, ele colocou a cabeça nas costas do assento que ficava à sua frente.
De repente, sem aviso prévio, ele começou a chorar incontrolavelmente — a chorar tanto que com
dificuldade conseguia respirar. Era como se todas as represas interiores tivessem se rompido, e ele estava sendo
inundado de dentro para fora. Sentiu o braço de um amigo ao redor dele, e ouviu a sua voz orando por ele. Até
essa hora, Douglas sempre se preocupara com a opinião pública, a sua imagem pública. Anteriormente, as
lágrimas eram derramadas em particular. Ninguém sabia, ninguém as via. Agora ele estava soluçando
convulsivamente, com gente a toda sua volta. Fora posto a descoberto. Não era mais capaz de controlar ou
manipular as suas emoções, visando aos seus próprios interesses.
Aquela intensa agitação emocional colocou em posição diametralmente oposta o único ponto de todo
conflito de sua vida: o medo. "Eu sabia que, se eu me abrisse, Deus iria tirar de mim todas as coisas que eu
considerava preciosas, deixando-me à sua mercê, não agüentava lutar mais,
Pela primeira vez lia VM » T
A luz fora acesa em meu abismo negro.
"Quando voltei ao meu quarto, no hotel, era meia-noite. A primeira coisa que desejei fazer foi telefonar
para Sally, acordá-la e contar-lhe as boas-novas. Eu disse: 'Eu precisava telefonar para você e dizer-lhe como a
amo do fundo do coração.' E chorei novamente. Desta vez, uma espécie diferente de lágrimas. Limpas.
Refrescantes,"
Qual foi a reação de Sally ao telefonema de Douglas, e que significado teve? Sem dúvida, ela pensou que
ele estava visitando a sua amante enquanto assistia à conferência. "Sim, mas quando ele telefonou, chorando à
meia-noite, para me dizer que me amava, percebi que algo havia se rompido dentro dele. Ele nunca demonstrara
emoções, como o choro, antes disso — pelo menos não em minha presença. E então, é claro que eu também
comecei a chorar. Ele nem conseguia explicar o que lhe acontecera, mas o resto daquela maravilhosa noite de
vigília fiquei pensando se esta finalmente não seria a resposta às minhas orações."
No dia seguinte, Douglas pegou um avião diretamente para casa, desta vez com um desejo novo e
dominador: contar a Sally toda a história — tudo a respeito de seu encontro com Deus e tudo acerca de seus dois
"casos". Deitados juntos na cama, ele começou uma confissão que durou a maior parte daquela noite de
domingo. "Abri o coração acerca de tudo o que havia feito, tudo o que estava fazendo e tudo o que havia
planejado fazer nos próximos dias — porque eu tinha um encontro marcado no dia seguinte em outra cidade.
Expus tudo. As mentiras, o engano. Apesar de ela chorar, suportou-o extremamente bem. Ela nunca exigiu
detalhes, embora eu estivesse preparado para lhe contar todos os detalhes, tudo o que ela pedisse. Foi uma
grande catarse, apesar de muito dolorosa para Sally, e especialmente dolorosa para mim.
"Todavia, pela primeira vez em minha vida, percebi que, se as nossas vidas e o nosso casamento deviam
ser salvos, teria que ser através da sinceridade. A única maneira de eu o poder fazer era desarmando-me e dando
a ela o pino percussor da granada e dizendo: 'Segure-o. Você pode me explodir a qualquer momento, se quiser,
mas precisa saber tudo a meu respeito.' Tomei a decisão de nunca mais deixar que algo se interpusesse entre
nosso relacionamento que eu não pudesse compartilhar com ela. Fosse o que fosse."
Perdão! Esta palavra é linda e é fácil pronunciá-la. Mas como é que você esquece anos de engano e
devastação? Este era D problema de Sally. A confissão de Douglas foi como o nascimento do sol depois de sete
anos de noite. Como é que você se acostuma com a luz, quando ela começa a revelar algo a respeito de você
mesmo? O perdão se completa em um momento, mas, e a cura, leva mais tempo? O ato de perdoar restaura a
confiança automaticamente? E que dizer das cicatrizes?
Voltei-me para Sally, sentada em uma cadeira ao meu lado, e notei a paz e a serenidade expressas em sua
fisionomia. Ela era uma mulher encantadora, agora com quase cinqüenta aros. "É claro que eu estava me
regozijando", comentou ela, pensativamente. "Mas estava um pouco temerosa ao mesmo tempo. Aquilo iria
durar? Eu já me sentira desapontada tantas vezes, que hesitava em me permitir crer totalmente que todo aquele
pesadelo acabara. Eu não podia relaxar completamente. A medida que o tempo passou, Deus começou a revelar-
me as minhas atitudes de justiça própria. Eu ainda estava julgando o meu marido de maneira crítica e sentindo
pena de mim mesma, e comecei a querer possuí-lo, controlá-lo. Se eu tão-somente pudesse agarrá-lo, não deixá-
lo sair de minhas garras, ele não cometeria mais erros. Essa possessividade também me fez tentar modificá-lo,
para que não tivéssemos mais problemas. Finalmente percebi que, se Deus havia começado essa obra nova em
Douglas, também só ele poderia continuá-la e completá-la. Assim, reunindo toda a minha força de vontade,
entreguei-o totalmente a Deus — eu o liberei. 'Ele é teu... Ele realmente não pertence a mim.' E foi então que a
verdadeira cura começou a acontecer."
Do outro lado da sala estava Douglas; olhei para ele — agora, dificilmente se diria que era o retrato do
homem que acabara de me descrever. Como eu, com uns poucos quilos além do peso ideal, ele tem uma
fisionomia agradável, com um sorriso fácil, traços animados, mente rápida. "Qual foi o ponto central de SUA.
experiência?" — perguntei. "O que realmente surgiu da experiência purificadora e saneadora que você teve com
Deus? Certamente ela afetou as suas emoções, mas como ela mudou a sua atitude, as suas ações?"
A resposta dele foi clara, limpa. "Fui levado em direção à verdade — verdade para com minha esposa,
verdade para com Deus. Imediatamente depois daquela experiência decidi que passaria o resto de minha vida
sendo honesto. Eu sabia o que o fingimento nos custara. Perdoe-me a expressão, mas nós dois havíamos
apanhado como o Diabo. Assim, ser honestos, na verdade, não nos custou nada. E também uma nova apreciação
por minha esposa começou a se desenvolver. Passei a vê-la sob uma nova luz. Eu não só descobri que ela é uma
comigo em seu relacionamento com Deus, e igual a mim em sua inteligência e caracterização emocional, mas
que em muitas áreas excede muito a mim no que faço. Ela algumas vezes ouve Deus muito melhor do que eu.
Também notei que desejava colocar o meu braço ao redor dela em público, e segurar a mão dela, o que não era
meu costume. Uma outra coisa: comecei a ver a diferença entre amor e paixão. Os sentimentos que vêm da
paixão, eu não posso controlar. Mas posso controlar a maneira como expressarei esses sentimentos em ações.
Posso controlar para quem vou telefonar. Para quem vou escrever. Posso controlar quem vou ver, quando vou ver
essa pessoa e com quem irei. Aprendi que amor é um ato, e que preciso começar a trabalhar nesse sentido — que
os meus sentimentos devem ser colocados sob o controle de meus atos."
Faz quinze anos, agora, que o casamento de Douglas e Sally ressuscitou dentre os mortos. A sua casa
espaçosa tornou-se uma Betel — uma casa de Deus — onde eles agora têm um ministério que tem alcançado
outros casais atingidos pela fratura de um "caso" e que estão lutando com a dor que ele causou. Eles suportaram
essa dor pessoalmente. Eles a podem compreender, mostrar simpatia. Eles atravessaram o sofrimento excruciante
causado pelas feridas auto-infligidas. Agora podem aconselhar com compaixão e certeza. Quando tão-somente
um casal pode descobrir, através deles, que há esperança e cura, eles sentem que a experiência que sofreram não
foi em vão.
Enquanto os dois falavam com tanta sinceridade e franqueza a respeito de seus fracassos e da restauração
de seu casamento, o meu coração sentiu-se aquecido e estimulado. Desejei que outros casais problemáticos que
conheço pudessem enfrentar os seus problemas com tanto sucesso. Levantei-me do sofá confortável, e preparei-
me para ir embora. A filha mais nova entrou — uma bela jovem de dezenove anos. Um netinho veio
engatinhando na direção deles. Outros netos, que vivem perto, brincavam no quintal. Era uma cena tranqüila.
Senti pena de ter de ir embora, mas o meu avião não iria esperar.
Mas eu tinha mais uma pergunta para ambos. "Que lições profundas foram gravadas em suas almas, com
todos esses problemas, e como é que vocês tratam os ecos do passado?"
Sally falou primeiro: "Antes de tudo, uma palavra acerca do perdão. É fácil perdoar alguém quando você
realmente o ama. Esta foi a única razão por que consegui continuar perdoando Douglas durante todos aqueles
anos. Perdão não é apenas algo que você faz. É algo que você é. Não se constitui de palavras que saem de minha
boca, dizendo: 'Eu te perdôo.' É a maneira como uma pessoa vive. Não deixando a vingança para uma hora mais
propícia. É apagar completamente a lousa.
"E, também, o divórcio nunca foi uma opção. Olhando para o passado, fico contente por ninguém ter
aparecido, aconselhando-me a me divorciar. Se eu tivesse sido maltratada fisicamente, separação ou divórcio
poderiam ser necessários, para a minha proteção. Eu sei que tinha todos os direitos legais e morais de me
divorciar, mas preferi permanecer com ele. Vejo toda a mensagem da cruz nos chamando para permanecer no
relacionamento matrimonial e morrer para o eu ali. De que outra forma a vida nova jorrará em seu cônjuge, a não
ser que você esteja disposta a 'morrer'?
"Finalmente, a cura não acontece da noite para o dia. Mas sempre começa com a veracidade — por
dolorosa que seja. Ela leva muito tempo, mas melhora cada dia. As cicatrizes ainda estão lá dentro, mas o tempo
é um fator curador. Eu me focalizo nas experiências felizes de nossos anos recentes, em vez de nas más
recordações do passado tenebroso. Quando um eco do passado repercute, agora podemos enfrentá-lo juntos, com
toda a franqueza. Por que creio que o casamento é para sempre, Deus me capacitou a me firmar, e agora ele nos
abençoou além de nossa imaginação."
Douglas concluiu: "Estou convencido de que uma união mística realmente existe no casamento. Nós nos
tornamos um. Não somos mais duas pessoas vivendo na mesma casa, dois corpos dormindo no mesmo leito. Em
nossos espíritos aconteceu algo que nos tornou um. Esta unidade do casamento tem como condição necessária o
fato de cada cônjuge ter total acesso a tudo que está acontecendo no outro. Isto não significa dragar todo o
passado, e revelar tudo o que aconteceu antes do casamento. Mas significa viver agora, em nosso
relacionamento, com total franqueza. Aconselho os casais da forma que desejaria que alguém nos tivesse
ensinado quando começamos. Façam um contrato de que, não importa como doa, vocês dois compartilharão
todos os sentimentos que tiverem. Não só fatos, mas também sentimentos, porque os sentimentos são sempre as
coisas que nos levam aos fatos. Na verdade, não somos responsáveis por nossos sentimentos, mas pela maneira
como os expressamos e colocamos em ação.
"Sally e eu temos posto em prática deliberadamente este conceito da verdade. A coisa que destrói o
casamento é a mentira. O adultério sozinho não destruirá, necessariamente, o casamento; é a mentira. Fomos
capazes de resolver o problema do adultério quando o trouxemos à luz. Todo homem tem defeitos e pecados. Só
quando você o conserva no escuro é que o pecado cresce e se multiplica. Se ele não é trazido à luz, não há
esperança para ele. No começo, eu não queria trazê-lo à luz, porque não queria ajuda. Agora quero ajuda. Assim,
se for tentado a pecar, quero que a coisa seja exposta imediatamente e isto significa que preciso incluir minha
esposa. Pertencemos a um grupo de mais outros quatro casais, com os quais fizemos um contrato de
compartilhar e apoiar uns aos outros.
"E também, lembre-se daquele preceito que foi mencionado ligeiramente acima, a respeito de amor e
confiança. Minha esposa o percebeu antes de mim, porque ela achava difícil confiar em mim. Na verdade, não
somos chamados para confiar uns nos outros. Não há ninguém em quem se possa confiar totalmente. Todas as
pessoas são capazes de me decepcionar ou trair, e eu sou capaz de trair os outros. Somos chamados para confiar
naquele que nunca nos trairá, nunca nos decepcionará. Mas somos chamados também para amarmos uns aos
outros. Se o nosso relacionamento for baseado na confiança, então no momento em que essa confiança for traída,
o relacionamento estará destruído. Assim, confio em Deus e amo minha esposa. Ela confia em Deus e me ama.
E, se ela me decepcionar, vou continuar a amá-la de qualquer forma, porque é a isso que estou dedicado. O amor
de Sally continuou a manifestar-se a mim, preenchendo a brecha que eu constantemente criava, mediante o meu
adultério. Ela estava sempre indo ao meu encontro.
A distância entre nós continuou a mesma, porque ela continuou iniciando, tendo a iniciativa de me amar.
O seu amor, que não me condenava, é a coisa que cobriu uma multidão de pecados.
"Deixe-me também acrescentar algo à palavra de Sally a respeito do perdão. Temos a tendência de querer
perdão instantâneo um do outro. Só Deus pode propiciar isso. Quando digo à minha esposa que o assunto
acabou, quero que ela nunca mais o aborde outra vez, por que acho que ela deve fazer como Deus faz — apagá-
lo para sempre da memória dela. Porém ela não é igual a Deus, Ela opera na dimensão do tempo, enquanto Deus
opera na dimensão da eternidade. Descobrimos que tempo e paciência são necessários para que o perdão
amadureça em cada um de nós, de forma que muitas vezes precisamos esperar um pelo outro, enquanto ele se
desenvolve.
"Finalmente, sei que o fracasso não é nem fatal nem final. Deus é um Deus restaurador, que nos levanta de
onde estamos e nos propicia um novo começo. Eu estava numa verdadeira fossa. Posso dizer-lhe exatamente
como ela é, como cheira mal e o que sai dela. Sei o que os 'casos' fazem ao seu cônjuge e aos seus filhos, se você
continua nesse caminho. Mas Sally e eu somos testemunhos vivos de que não importa o quanto seja tenebrosa a
situação em qualquer casamento, no momento, ou quantas nuvens negras estejam pairando sobre você por causa
de fracassos passados, Deus pode perdoar completamente. Os campos que foram consumidos pelos gafanhotos
são restaurados com belas colheitas."
Nessas circunstâncias tenebrosas, não conheço nada melhor do que esta certeza.

CAPÍTULO 9

Torne Seu Casamento Invulnerável a "Casos"


Não há salvaguarda melhor contra a infidelidade do que um casamento vital, interessante.
Dr. Norman M. Lobenz
EM UMA viagem ao Alaska, Evelyn e eu ganhamos umas férias de uma semana, com todas as despesas
pagas, no fabuloso Parque Nacional de Monte Mc-Kinley. Voamos para o parque em um pequeno avião, sobre
profundos vales entre montanhas, bonitos lagos e entre picos magnificentes. Que cenário maravilhoso! Em
seguida transferimo-nos para um ônibus de turismo, para a viagem de cinco horas através das montanhas, até o
remoto Camp Denali, com o nosso hospedeiro, Wally Cole.
Como acontece às crianças, em sua primeira viagem à Disneylândia, tudo para nós era motivo para
admiração. Era o paraíso dos fotógrafos. Ursos pardos, caribus, alces, ovelhas selvagens, pássaros raros —
vimos todos eles. E o ponto culminante da América do Norte, o Monte McKinley, era espetacular, solene,
majestoso, imponente!
Mas, nessa viagem inesquecível, havia também muitos sinais comuns, ao longo do caminho, sinais de
advertência: Cuidado com Rochas Soltas. Não Saia da Estrada. Não Acampar Aqui. E também sinais
indicadores: Parada Panorâmica de Descanso. Estação Científica. Monumento Histórico.
O casamento é assim — uma viagem longa e memorável. E ele torna-se mais significativo quando você
presta bem atenção aos sinais. E mais seguro — seguro de um "caso" de infidelidade conjugal. Primeiramente,
vejamos os sinais de advertência.
NÃO COMPARE O INCOMPARÂVEL
Não há dois casamentos iguais, de forma alguma. Portanto, compará-los é uma atitude negativa,
produzindo resultados negativos. Se você comparar o seu casamento com muitos outros ao seu redor, que estão
se desmoronando ou são apenas concurso de resistência, ficará desanimado, sentir-se-á fora de sincronismo com
os tempos atuais. Ou se tornará complacente, pensando que não tem por que se preocupar. Se você se focalizar
em casamentos que acha que realmente tiveram sucesso, você se menosprezará, ampliará as suas próprias
incapacidades e irá desesperar. Você nunca poderá alcançar o padrão.
A verdade é que não existe casamento-padrão. As comparações são como uma porta giratória, que não
leva a gente a lugar nenhum. Você fica dando voltas, e termina no mesmo lugar. Você só confirma a sua
convicção de que seu casamento é de segunda classe, ou aumenta o seu temor de que não conseguirá ter um
casamento de primeira classe. Estas duas atitudes matam a iniciativa pessoal, que é necessária para se obter êxito
no casamento. Não nos admiremos de a Bíblia dizer: "Os que se comparam entre si não são sábios."
O seu casamento é único — e, por isso, incomparável. Você não compara um Volkswagem com um
Mercedes Benz, embora ambos sejam automóveis, e ambos possam levar você aonde você quiser ir. Tudo a
respeito desses dois carros é diferente, embora ambos tenham as mesmas peças essenciais e operem segundo o
mesmo princípio básico. As personalidades e temperamentos dos cônjuges, as características herdadas das
famílias, as oportunidades, a instrução e a experiência — tudo isso difere amplamente em cada situação. É fácil
imaginar que outros casamentos são muito melhores do que o seu, mas, na verdade, você não sabe a verdadeira
situação do casamento de ninguém. A comparação de seu casamento com o de qualquer outra pessoa jamais pode
ser válida ou positiva. As sementes do sucesso no casamento já se encontram em seu casamento. Você precisa
regá-las e fertilizá-las.
O seu cônjuge é especial. Você não precisa de um outro cônjuge. Entre vocês, ambos têm os recursos para
edificar i.m grande relacionamento, se realmente estiverem empenhados nisso. Ninguém mais tem o mesmo
potencial que vocês têm — a combinação especial de forças e doçura que Deus lhes deu. Todos os elementos
para um casamento que satisfaça já estão aí, se você quiser usá-los. Você não precisa de um novo emprego, uma
nova amante, lá fora, ou de uma cirurgia plástica. Tudo está bem ao seu alcance, se cada um de vocês dois
assumir uma nova atitude. Essas riquezas estão ao seu alcance. Mas você precisa procurá-las e continuar
procurando.
Isto não será fácil. Nenhum casamento maravilhoso acontece automaticamente. Tudo o que tem valor vale
o esforço que se faz para alcançá-lo. Se você está tendo dificuldades, a tendência é focalizar-se nos problemas, e
não em encontrar soluções. A situação exige coragem, bem como persistência, determinação e dedicação. Ao
invés de comparar o seu casamento com outros, compare-o com o potencial que Deus deu a vocês dois e com os
eternos princípios de Deus, que funcionam. Esquecemo-nos, quando dizemos que a grama do vizinho é mais
verde, que ela precisa ser aparada, fertilizada e regada, da mesma forma como a. de nosso jardim. Os esforços
para cultivar o seu gramado darão resultados mais recompensadores e permanentes do que a excitação passageira
de escapar para uma aventura.
Não olhe para fora, para ver o que os outros estão fazendo. Aproveite qualquer idéia prática que você
puder, provinda de fontes confiáveis, e aplique-a criativamente ao seu relacionamento. Copie todas as boas
idéias que puder, e faça experiências com elas. Pratique-as. Copie, mas não compare. Olhe para dentro. Você
está, agora mesmo, pisando em sua mina de ouro — a sua jazida de diamantes. Russell Conwell conta uma
história incomparável:
Era uma vez um idoso persa que se chamava Ali Hafed. Ele era possuidor de uma grande fazenda, pomar,
campos de cereais, hortas. Fizera muitos investimentos, e estava rico e contente. Um dia recebeu a visita de um
velho sacerdote budista, um homem de elevada estirpe. Eles se assentaram perto do fogo, e o sacerdote contou-
lhe a minuciosa história da criação. E concluiu dizendo que os diamantes eram as pedras preciosas mais raras e
valiosas que haviam sido criadas, "gotas congeladas de luz solar", e, se Ali tivesse diamantes, ele poderia obter o
que quisesse para si e para a sua família.
Ali Hafed começou a sonhar com diamantes — acerca de quanto eles valiam. E tornou-se pobre. Ele não
perdera nada, mas sentia-se pobre, porque tornou-se confuso e descontente porque temia que fosse pobre. Ele
disse: "Quero uma mina de diamantes", e ficava acordado durante a noite.
Certa manhã, ele decidiu vender a sua fazenda e tudo o que tinha, e viajar pelo mundo, em busca de
diamantes. Juntou o dinheiro que tinha, deixou a família aos cuidados de um vizinho, e começou a sua busca.
Viajou pela Palestina e pela Europa extensivamente, e nada encontrou. Por fim, depois que o seu dinheiro já fora
todo gasto e ele estava em farrapos, em miséria e pobreza, chegou a uma praia em Barcelona, Espanha. Uma
grande onda veio quebrando, e esse homem pobre, desanimado, sofrendo, quase moribundo, não pôde resistir à
terrível tentação de se lançar nessa onda tremenda. E afundou, para nunca mais emergir.
O homem que comprou a fazenda de Ali Hafed, certo dia levou o seu camelo para o regato que havia em
sua horta. Quando o camelo colocou o focinho naquele ribeiro raso, o novo proprietário notou um brilho curioso
de luz, que provinha de uma pedra nas areias brancas da torrente. Ao esgravatar com os dedos a areia, ele
encontrou um monte das mais belas pedras preciosas: diamantes. Esta foi a descoberta da mais magnífica mina
de diamantes na história da humanidade: a Golconda. Os maiores diamantes que enfeitam as coroas reais do
mundo vieram dessa mina.1
Os diamantes de Ali Hafed estavam debaixo de seus próprios pés, mas ele não o percebeu.
Os diamantes de seu casamento estão em seu quintal. Não os deixe passar despercebidos. Não os
menospreze. Garimpe os.

NÃO ARME AS SUAS PRÓPRIAS ARMADILHAS


Muitos "casos" são o resultado da queda nas armadilhas auto-armadas, com iscas para si próprio.
Bisonhamente passamos graxa em nossos próprios escorregadores, e, inconscientemente, fazemos as coisas que
nos preparam para cair.
Considere primeiramente os seus amigos {as). Numa sociedade em que o flerte é a norma, e a
infidelidade, comportamento aceito, você precisa escolher e cultivar as amizades com muito cuidado. Os amigos
que tratam levianamente a infidelidade conjugal ou que contam piadas sugestivas e histórias picantes são, na
verdade, inimigos de seu casamento. Evite-os. Visto que muitos "casos" acontecem entre amigos íntimos —
casais que tiveram muita amizade — uma conversa desbragada a respeito de sexo derruba os muros protetores,
espicaça a curiosidade e suscita fantasias. Quanto mais franca e aproximada for a amizade, mais necessário é
manter a conversa em alto nível. Muitas mulheres se defrontaram com a tragédia dupla da infidelidade de seu
marido com a sua melhor amiga. Sem querer bancar o "santo", você sempre pode encontrar maneiras de fazer os
seus amigos perceberam que você considera que a infidelidade é algo muito sério. E, indubitavelmente, com
ações positivas, precisa confirmar o seu ponto de vista, de forma que os seus amigos vejam e ouçam que você
admira, aprecia e ama o seu cônjuge. Quando, na conversa, se mencionar algo que, de alguma forma, demonstre
pouco caso do casamento, você deve reagir com algo positivo a respeito de seu casamento. Não deixe o ambiente
continuar envenenado pelas dúvidas e negativismo, que dão ao casamento uma má fama. Seja mais do que uma
testemunha silenciosa. Fale a favor do casamento — de seu casamento.
Outra armadilha que armamos para nós mesmos é no escritório, no trabalho. Não é segredo que muitos
"casos" são gerados no escritório, e que os favores sexuais muitas vezes influenciam contratos e promoções.
Uma secretária atraente e muito competente contou-me como ela se protege: "Recuso todos os convites para
almoços ou jantares privados com homens de nosso escritório — e recebo muitos — porque me conheço e sei
que seria difícil não reagir à admiração dos outros homens. Eu dou muito valor ao meu casamento, para me
expor a esses riscos."
Evite as revistas e as diversões que diminuem as inibições. Considere as novelas da TV, por exemplo. É
impossível edificar um casamento sólido e ser "gamada" em novelas. Os seus dramas distorcidos, de romance,
sexualidade, infidelidade, "casos" e abortos, induzem a comparações, insatisfações. Inconscientemente, você
começa a pensar por que sua esposa não é igual à "outra mulher de João" ou por que o seu esposo não é igual ao
"marido secreto de Maria". Essas comparações com a ficção inevitavelmente resultarão em um sentimento de
que o seu casamento lhe está roubando algo, e que um "caso" libertaria você dessa chateação. Esta fantasia irreal
aumenta qualquer desapontamento conjugal que você possa ter. As expectativas frustradas levam você a culpar o
seu cônjuge por estar restringindo você. O fato de culpar o seu cônjuge leva-o a tornar-se inativo em seus
esforços para edificar um casamento sadio. O resultado dessa dedicação e desse esforço decrescentes é
deterioração conjugal ainda maior. Isto, por seu turno, alimenta ainda mais a fantasia e prepara você para um
"caso". É um círculo vicioso. Você não pode edificar um casamento sadio baseando-se em uma fantasia, com
personagens imaginários.
Margaret Hess, esposa de um pastor de Detroit, tem algumas sugestões práticas para você evitar as suas
próprias armadilhas: Trace limites nos relacionamentos com o sexo oposto. Um psiquiatra disse que evita
marcar a última consulta do dia com uma mulher. Um pastor mantém a pessoa que está sendo aconselhada do
outro lado da escrivaninha, e conserva as cortinas abertas. Um médico chama a enfermeira para a sala,
quando precisa examinar uma paciente. Um patrão e sua secretária podem evitar irem jantar sozinhos ou
trabalhar à noite sozinhos. Uma dona-de-casa pode evitar situações tentadoras com vizinhos, quando o marido
está viajando. Uma esposa de bom senso não ficará três meses numa casa de campo ou de praia, deixando o
marido entregue a si mesmo. Da mesma forma, ela não procurará o marido de alguma outra mulher que foi
passar o verão fora. Não há necessidade de um marido mostrar solicitude indevida por uma mulher cujo marido
tem de estar ausente, a negócios. Ela precisa sentir uma lacuna que só o marido pode preencher.
A Sra. Hess continua:
Será que esses limites significam o impedimento de relacionamentos calorosos entre homens e mulheres?
Claro que não. A Bíblia nos dá o modelo. Paulo aconselhou Timóteo a considerar "um velho... como a um pai;
aos moços, como a irmãos; às mulheres idosas, como a mães; às moças, como a irmãs, com toda a pureza".2
Você pode desfrutar de amizades maravilhosas com o sexo oposto. A relação entre irmão e irmã inclui
identificação. Expressa interesse e mostra amor. Inclui o carinho verbal, e mesmo o toque físico, sob certas
circunstâncias. Um caloroso aperto de mão pode expressar apoio. Mas evite qualquer contato físico que
contenha insinuações de atração sexual. Os limites que você estabelecer dependerão do potencial de
eletricidade.3
"Abstei-vos de toda espécie de mal. "4
O Dr. Carlfred B. Broderick resume isso de outra maneira: "Se você se encontrar em uma situação que
expresse deliciosa intimidade com um membro atraente do sexo oposto, você deve começar a procurar maneiras
de reestruturar a situação."5 Se você não o fizer, o seu pé será preso em sua própria rede.

RECUSE-SE A SERRAR PÕ-DE-SERRA


O pó-de-serra não pode ser serrado de novo. O chiclete velho não pode ser mastigado interminavelmente.
O passado agora é história, e não pode ser vivido outra vez. Você não pode fazer nada a respeito do
comportamento do passado, mas pode aprender dele. Você pode viver apenas o momento presente; quaisquer
recordações pessoais ou de outras pessoas a respeito dos erros do passado só o ferirão e o tornarão incapaz de
agir agora. Recuse-se a permitir que o seu casamento hoje seja ferido pelo que existiu no passado.
Todo mundo tem um passado imperfeito. Ninguém tem uma história imaculada, podendo olhar para trás e
ver uma sucessão de vitórias sem solução de continuidade. O passado de cada um de nós foi pontilhado de
dificuldades, desenganos, fracassos e pecados. Nenhuma vida, nenhum casamento foi todo ensolarado, sem
tempestade, perigo ou crise.
Algumas pessoas se detêm em uma falha, em sua criação. De fato, todos foram vítimas dessas falhas,
porque não há pais perfeitos. Ninguém recebe carinho suficiente de seu pai, carinho suficiente de sua mãe,
carinho suficiente do resto da família. Nenhum casamento, até hoje, foi um modelo perfeito para os filhos.
Alguns de nós fomos privados, ensinados de maneira errada, viemos de um lar desfeito, aprendemos muito
pouco acerca do que é amor. Alguns experimentaram o sentimento de culpa por causa de fracasso pessoal. O
fracasso nos negócios, na escola, na vida moral, no casamento.
Todos temos um passado irrevogável. O que está feito está feito. Isso nunca pode ser mudado ou
revogado. Lord Byron, o poeta inglês, escreveu: "Nenhuma mão pode fazer o relógio bater para mim as horas
que passaram."
Nem todo o esforço do mundo pode trazer de volta a pedra já atirada.
Nem todo o remorso do mundo pode desdizer as palavras contundentes uma vez ditas.
Nem toda a tristeza do mundo pode desfazer o dano que um "caso" inflige ao seu casamento.
Nem todas as lágrimas do mundo podem transformar o adultério em um ato de pureza.
Nem todas as desculpas do mundo consertarão o ato de negligência.
Nenhuma pena pode anular o que já foi escrito.
Não há maneira de se colocar o leite derramado de volta na leiteira ou de recolher novamente a água
perdida no solo.
Ninguém pode reunir de novo as penas que foram sopradas pelo vento, para onde só Deus sabe.
Não há quantidade de orações ou de vida piedosa que desfaça o dano causado por atos indisciplinados e
indulgência.
O seu passado pode beneficiar o seu casamento, ou pode ser que o arruine. Você pode aprender com ele,
edificar sobre ele, e entregá-lo a Deus — ou você pode estacionar ao lado dele, vivê-lo novamente, e ser
seduzido por ele. O passado é um tirano que o manterá amedrontado, e o tornará incapaz diante das
oportunidades de seu casamento hoje. Ou se tornará um bode expiatório, de forma que sempre haverá algum
lugar onde colocar a culpa pela sua indisposição para transformar-se e edificar o seu matrimônio agora. Você
pode desenvolver, dentro de si, uma percepção para examinar o seu passado. Mas essa percepção por si mesma
não mudará o passado nem o presente.
Quando você se desculpa, por causa de seu passado, está se consignando à mediocridade para sempre —
para de contínuo fazer-se de vítima. Como sugere sucintamente o Dr. Wayne W. Dyer: "Se o meu passado é o
culpado pelo que sou hoje, e o passado não pode ser mudado, estou condenado a permanecer como sou." 6 Há um
sinal diante do seu passado que diz: NÃO ESTACIONAR AQUI. Se você ignorar esse sinal, permanecer no
passado, recapitulá-lo minuciosamente, estará indicando: "O meu futuro está atrás de mim." Conseqüentemente,
isto solapará o desenvolvimento de seu casamento hoje e amanhã.
A bagagem de ontem é fardo demasiadamente pesado para hoje. Tenho viajado constantemente durante
trinta e oito anos. Se insistisse em incluir em minha bagagem hoje todos os ternos e camisas, todos os pares de
sapatos e meias, todas as malas de todo esse período, não seria capaz de carregá-la. Não me deixariam entrar no
ônibus ou avião. E também, não teria nenhum objetivo útil. Eu me livrei de tudo o que não pode me servir hoje.
Paulo, o apóstolo, expressou bem isso para todos os casamentos: "...uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das
coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão adiante..."7 Cada cônjuge precisa tomar exatamente esta
decisão: "Nunca mais suscitarei o passado. Não podemos deixar que nada do que ficou para trás controle o
futuro de nosso casamento. Jamais tirarei do armário qualquer esqueleto, para fazer você se lembrar de um erro
passado, nem apresentarei contra você qualquer coisa para prejudicá-lo e continuar o sofrimento que nós dois
passamos. Os melhores dias de nosso casamento estão à nossa frente, e nós avançaremos para eles e os
gozaremos juntos."
O amor não guarda nenhum" registro de injustiças sofridas. Você joga fora o livro de registros e se livra de
suas armas de manipulação. Entregue o seu último trunfo.
Desta maneira, cada dia é um novo começo, e não apenas uma recapitulação do passado. Vocês decidem
perdoar, aprender com os erros cometidos, para crescerem juntos. Deus, mediante a nossa confissão, enterra os
nossos pecados no mar de seu esquecimento, e nunca mais os apresenta novamente contra nós: Ele '...irá atrás de
vocês, para protegê-los,"8 Cada um dos cônjuges precisa assumir um compromisso sério de "ser a retaguarda" do
outro, de protegê-lo contra as recordações automutiladoras do passado. Lembre-se: o ontem acabou a noite
passada.

OLHE ATRAVÉS DOS ÕCULOS DE SEU CÔNJUGE


Devido às muitas diferenças temperamentais e emocionais entre homens e mulheres, é natural que eles
julguem de maneira diferente o seu casamento. Um cônjuge pode estar recebendo grande parte do que deseja,
enquanto o outro se sente frustrado. O arranjo que pode ser ideal para um pode ser maçante para o outro.
Portanto, ao considerar o estado de seu casamento, você precisa perguntar-se corajosamente como o seu cônjuge
se sente, e não apenas como você se sente. Visto que o casamento é uma sociedade, as suas condições e sucesso
precisam ser julgados por ambos os sócios. Você não pode presumir que ambos têm a mesma opinião, e que,
porque as suas necessidades são supridas, as de seu cônjuge também estão sendo supridas.
Tom e Jan são meus amigos especiais, no Texas. Recentemente, quando nos assentamos ao redor da mesa
da cozinha, eles me contaram a sua experiência. Certa noite, eles tinham acabado de ir para a cama. Tom estava
deitado de costas, enquanto eles contavam as suas experiências do dia. Com as mãos na nuca, ele exclamou com
grande satisfação: "Estou muito feliz. Temos um casamento e uma família maravilhosos, estou indo bem nos
negócios, estamos em uma igreja abençoada. Não sei como poderíamos estar mais contentes." Enquanto ele
estava gozando dessa euforia, dessa alegria, percebeu que Jan permanecia muito quieta, e então a cama começou
a ser sacudida. Soluços abafados vinham do outro lado da cama. Jan rompera em choro. Tom ficou chocado, e
então quase morreu de surpresa quando ela disse: "Como é que você pode dizer isso? Eu nunca estive tão infeliz
e desiludida. Nada está indo direito. Tudo é uma bagunça." Tom me disse: "Eu não podia crer no que estava
ouvindo. Não podia entender aquilo."
Muitas vezes os homens são obtusos. Os maridos, em geral, acham que, se não há conflitos frontais por
várias semanas, nenhuma discussão, ninguém atirou pratos, as coisas estão indo muito bem, e o casamento está
sendo um sucesso. A sua esposa pode estar sofrendo sozinha, por sentir que não é reconhecida, não é entendida,
e que o romance entre eles se desfez.
Certa mulher, que estava visitando um conselheiro conjugal havia várias semanas, finalmente reuniu
coragem suficiente para contar isso ao marido. Ele ficou boquiaberto, como se dissesse: "O que é que há de
errado com você?" Uma junta de cavalos não conseguiria levá-lo arrastado ao conselheiro. O casamento ia às mil
maravilhas — para ele.
Os casais muitas vezes acham, inconscientemente, que discutir as necessidades do casamento abertamente
criará tensões e aumentará os problemas, e que é melhor não mexer com eles. Deixe sossegado o cão que dorme.
Não traga à luz o que não é bom. Mas o oposto é verdadeiro. Enquanto presumimos que tudo está otimamente
bem, se não sabemos onde estão as falhas potenciais, um terremoto pode estar se formando, e de repente pode
abalar tudo, para nunca mais se recuperar. Precisamos conhecer as forças e as fraquezas de nossa vida em
comum. Precisamos saber como o nosso cônjuge se sente a respeito da qualidade de nosso casamento. Os
segredos precisam ser compartilhados enquanto somos capazes de enfrentá-los positivamente e juntos.
Recentemente, discuti, com um casal que estava casado havia quarenta anos, os problemas de seu
casamento. Embora fossem conhecidos em sua igreja, eles, durante todos aqueles anos, ainda não se haviam
nivelado um com o outro, e cada um presumia que tudo ia bem com o outro. Ambos desempenhavam certos
papéis, e apoiavam um ao outro publicamente, mas, em seu íntimo, a esposa achava que não tinha identidade
própria e fora negligenciada todo aquele tempo. Agora tudo veio para fora como uma explosão, e os pedaços
estão espalhados por toda parte. Ela diz: "O nosso casamento está condenado."
Pergunte ao seu cônjuge agora: "Como você realmente se sente em relação ao nosso casamento? Onde
você vê áreas de necessidade?" Aliás, enquanto estou escrevendo este capítulo, em casa, saí do escritório, fui até
a cozinha, e fiz à minha esposa estas perguntas. Se ela está chateada, eu preciso ficar sabendo. Se ela sente-se
ferida, preciso saber por quê. Se ela se sente negligenciada fisicamente, socialmente, sexualmente, preciso ficar
sabendo, porque senão não haverá progresso em nosso casamento.
Assim sendo, faça estas perguntas, e fale a verdade ao respondê-las ao seu cônjuge. Fale a verdade em
amor a respeito de si mesmo, e não a respeito de seu cônjuge. Não aponte o dedo nem faça acusações. Somente
diga como se sente. Troquem de óculos só por um pouquinho, de forma que cada cônjuge possa ver exata e
equilibradamente os pontos de vista do outro. "Em vez disso, seguiremos com amor a verdade em todo o tempo
— falando com verdade, tratando com verdade, vivendo em verdade — e assim nos tornaremos cada vez mais, e
de todas as maneiras, semelhantes a Cristo, que é o Cabeça."9
Em um casamento que está se desenvolvendo nenhum dos cônjuges deve dizer, surpreso: "Mas eu não
sabia que você estava se sentindo assim."

MANTENHA AS MÃOS VAZIAS, MAS A CAIXA CHEIA


Visto que dirijo grandes conferências sobre o casamento e a vida familiar, estou sempre procurando novos
títulos para as palestras, de modo a conterem um apelo e serem atraentes para o público. O que você acha deste:
"Dez Maneiras Secretas de Segurar o Seu Cônjuge"? Estou certo de que este tópico será muito atraente, e
ajudará a aumentar o número de ouvintes. Mas isso seria trágico. Como seria incorreto alguém tentar segurar
outra pessoa. Pelo contrário, precisamos aprender dez maneiras de abrir a mão fechada com que cada um está
segurando o outro.
Nós agarramos possessivamente o nosso cônjuge, porque sempre deixamos a caixa vazia. O Dr. Willard
Beecher conta como a maioria das pessoas chega ao casamento crendo que ele é uma caixa cheia de coisas boas,
da qual tiramos tudo o de que precisamos para nos tornarmos felizes. Que a certidão de casamento é também a
chave dessa caixa. Que podemos tirar dela tanto quanto desejamos, e ela, de alguma forma misteriosa, continuará
cheia. E, mesmo quando essa caixa fica vazia, e o casamento se desmorona, ainda não aprendemos a nossa lição.
Ainda continuaremos a procurar um segundo casamento, que traga uma outra caixa sem fundo, de forma que a
possamos esvaziar.10
O casamento é uma caixa vazia. Não há nada nela. Ele é uma oportunidade de colocar algo nela, de se
fazer algo por ele. Nunca se pretendeu que o casamento fizesse algo por alguém. Espera-se que as pessoas façam
algo por ele. Se você não puser na caixa mais do que tirou dela, ela ficará vazia. O amor não está no casamento,
está nas pessoas, e as pessoas o colocam no casamento. Romance, consideração, generosidade, não estão no
casamento, estão nas pessoas, e elas os colocam na caixa do casamento. Quando essa caixa fica vazia, tornamo-
nos vulneráveis, susceptíveis a ter um "caso".
Se você pretende conservar cheia essa caixa, deve abrir as mãos e afrouxar o aperto com que tenta
controlar o seu cônjuge. O fato de segurar o seu cônjuge muitas vezes significa oprimi-lo. Segurar o seu cônjuge,
na verdade, significa controlá-lo. Isto é feito de várias maneiras, por exemplo: sendo autoritário, mandão,
dominador. Essa espécie de marido ou esposa geralmente se casou com uma pessoa "fraca", com alguém que
tem de si mesmo idéia muito negativa. Um fraco — alguém que tem medo e fará o que o outro diz. Um homem
que conheço trata a esposa como a um cão. Não, ele trata o cão melhor. Ele conversa com o cão mais do que com
a mulher, e não engana o cão da maneira como engana a esposa, com os seus "casos". Pelo fato de ela estar
amedrontada, sentir-se insegura, perseguida, ela pensa que é seu dever cristão não dizer nada e não fazer nada.
Assim, ele continua intimidando-a, oprimindo-a ainda mais, e ela se sujeita. Por medo de um futuro incerto, ela
se apega a ele covardemente. Ambos se agarram um ao outro por diferentes razões. Com os punhos cerrados.
Dois fracos.
Esta possessividade de mãos fechadas se manifesta também em uma incapacidade de realçar os dons,
talentos e qualidades de nosso cônjuge. As esposas cujos maridos não as incentivam a progredirem e a
desenvolverem os seus talentos, dados por Deus, estão à mercê das vozes extremistas do movimento feminista,
ou coisa semelhante. Algumas vezes o marido é estimulado pelo seu trabalho e pelos seus contatos, enquanto a
mente de sua esposa está virando geléia, pois só se relaciona com as crianças em casa. Ele controla e limita o
desenvolvimento dela, e depois, anos mais tarde, volta-se para uma mulher mais faceira, porque a sua esposa não
evoluiu. Esta semana mesmo, em Oklahoma, uma filha me falou a respeito de seus pais. O pai, um pastor,
negligenciou a mãe dela completamente durante anos, oprimindo-a e favorecendo a filha. A esposa raramente era
vista, era sempre o cônjuge silencioso. E ele estava sempre citando versículos bíblicos distorcidos para provar a
sua política de punhos fechados. Com o tempo, tanto a esposa como a filha descobriram que estavam sendo
vitimadas e manipuladas uma contra a outra. Ambas encontraram a sua identidade em Cristo, foram libertas, e
agora estão desenvolvendo de maneira útil suas capacidades dadas por Deus. Quando ele viu que o seu jogo fora
descoberto, saiu de casa, e ainda continua a citar os seus versículos.
Conservar a mão aberta significa que você vive para o seu cônjuge, mas não através dele. David
Wilkerson diz para as donas-de-casa:
Saia da escravidão de viver a sua vida apenas através dos outros. Deus nunca pretendeu que você
encontrasse felicidade só através de seu marido ou de seus filhos. Não estou sugerindo que você os abandone —
mas que tão-somente abandone a sua degradante escravidão à idéia de que a sua felicidade depende apenas de
outras pessoas. Deus quer que você descubra uma vida de verdadeira felicidade e contentamento, baseada
apenas no que você é como pessoa, e não nos caprichos das pessoas que estão ao seu redor.''
Deus quer que você encontre a sua identidade pessoal no fato de ele o ter criado e redimido. Você tem
valor desde o nascimento, e, além disso, tem uma posição correta para com Deus e sua justiça, quando recebe a
Cristo como Salvador e Senhor. Assim, seja você marido ou mulher, precisa ter um relacionamento pessoal e
crescente com Deus, que não dependa de seu cônjuge ou de seu papel na família. Assim, vocês dois são livres
para viver um para o outro, em vez de viver um através do outro. Viver um através do outro encoraja um apego
doentio, e punhos cerrados, para não ficar opresso ou desiludido. Viver um pelo outro libera vocês dois para
relaxarem o aperto com que prendem um ao outro, e juntos trabalharem produtivamente para conservarem a
caixa cheia.
Existe um pequeno restaurante holandês na Pensilvânia, em um subúrbio, onde Evelyn e eu gostamos de
tomar refeições. Não há nada como ele em toda a região de Chicago. A comida é maravilhosa — havendo
variedade incomum, deliciosamente temperada, o seu preparo constituindo uma tentação, sendo em porções
grandes. Quando temos hóspedes em casa, este é o primeiro lugar em que pensamos em levá-los. E eles sempre
falam de lá, lembrando-o com entusiasmo. Não há decoração luxuosa; na realidade, ele é bem simples, o
refeitório apertado, as mesas cobertas de linóleo. Não fazem reservas antecipadas, por isso geralmente
precisamos esperar até que haja mesa desocupada. Nenhuma vez os donos nos apertaram num canto e nos
fizeram prometer que voltaríamos. Nenhuma vez eles nos acorrentaram às mesas para terem a certeza de que não
os deixaríamos. Nenhuma vez eles gritaram e se lamentaram:
"O que faremos se vocês não voltarem mais? Vocês não vêem o que estão fazendo por nós? Como
podemos viver sem vocês?" Nenhuma vez eles enviaram piquetes de valentões para arrastar fregueses para
dentro. E eles não dão descontos. Simplesmente mantém a sua caixa apetitosamente cheia, e as suas mãos
generosas sempre vazias. Todo freguês está disposto a esperar pacientemente uma mesa vazia, e a se arrumar
como puder no aperto da sala. Ele sabe que não poderá encontrar nada melhor em qualquer outro lugar.
Para dizê-lo de outra maneira, abra a gaiola, mas mantenha o cocho cheio de alpiste da melhor qualidade.

TORNE-SE O HOSPEDEIRO, E NÃO O HÓSPEDE


Não deviam permitir que as crianças casassem. Se essa fosse a lei, ela eliminaria todos os casamentos,
visto que nós todos agimos como crianças egoístas, grande parte do tempo. O fato de realizarmos o ato adulto de
nos casarmos não nos torna adultos. E este é o verdadeiro problema que está subjacente a qualquer outra
dificuldade no casamento. A criança desempenha um papel passivo/receptivo. Ela espera ser servida. Tudo é
feito para ela. Ela não tem nenhum senso de responsabilidade ou nenhuma iniciativa. É tratada como hóspede.
As crianças não sabem como serem hospedeiras.
Qualquer marido ou esposa com um pouquinho de sinceridade admitirá que é mais gostoso ser hóspede,
ser mimado, que se "faça sala" para a gente. Não ter nenhum senso de responsabilidade, não assumir nenhuma
despesa, não sacrificar nenhum tempo para nos prepararmos — só descansar, gozar a vida, ser servido. Se cada
um dos cônjuges está esperando ser um hóspede, esperando que o outro exerça iniciativa em seu benefício,
haverá problemas. Ambos ficarão desapontados. O casamento chegará a um ponto insuportável, e a infidelidade
se tornará atraente. Ambos começam a pensar que em algum outro lugar há outra pessoa que dará o "show" e
deixará que eles sejam os espectadores.
Isto é bem o contrário do que Jesus disse e demonstrou. "Mas entre vós não será assim; antes, qualquer
que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva; e qualquer que entre vós quiser ser o primeiro,
será servo de todos. Pois também o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua
vida em resgate de muitos."12
Nenhum casamento pode acomodar dois hóspedes — nem mesmo um. Um casamento que satisfaz precisa
ter dois hospedeiros, cada um dedicado pessoalmente ao papel ativo/comunicador de adulto maduro, e não ao
papel passivo/receptor de criança mimada. Evelyn e eu temos recebido muitas centenas de hóspedes em nossa
casa, através dos anos. Minha esposa ama as pessoas, e durante trinta anos dificilmente tem se passado uma
semana sem hóspedes em casa. Se passamos alguns dias tendo em casa apenas a nossa família, um de nossos
filhos pergunta: "Quando é que vamos ter visitas?" Temos hospedado ricos e pobres, personalidades
mundialmente conhecidas e viúvas solitárias, famosos líderes cristãos e o casal lutador que mora no fim da rua,
que não tem igreja. Houve dezenas de lanches, jantares, festas, pequenas e grandes. Algumas vezes uma
começava quando outra mal estava terminando. Ser um hospedeiro gentil e bem-sucedido exige exatamente o
que é necessário para edificar um casamento que propicie satisfação.

O Hospedeiro Inicia e Edifica Amizades


Geralmente, quando hóspedes são convidados para uma refeição ou para passar uma noite com a gente,
são amigos do hospedeiro. Pessoas totalmente estranhas, ou inimigas, não fazem parte de nossa lista de
hóspedes, geralmente. Um dos objetivos da hospitalidade é desenvolver novas amizades e aprofundar as antigas.
De fato, amigos e amizade perfazem o elemento central e mais importante, como diz Salomão: "O homem que
tem amigos precisa mostrar-se amável."
Cada cônjuge deve desejar dizer: "O meu cônjuge é o meu melhor amigo." Em uma festa recente, um líder
crente e sua esposa estavam celebrando suas bodas de prata. Perguntei-lhes qual era a principal característica de
seu casamento. A esposa, respondeu imediatamente: "Nós nos tornamos muito bons amigos." Isto é significativo.
Vocês podem ter um relacionamento sexual compatível, e não ser amigos íntimos. Vocês podem estar associados
em suas responsabilidades de pais, e não gozar de intimidade e franqueza como amigos. Vocês podem
desempenhar os seus papéis biblicamente prescritos, e não aceitar um ao outro como iguais, que é a base da
verdadeira amizade.
A própria palavra amizade (no inglês), diz o Dr. Allan Fromme, originou-se de um verbo da antiga
linguagem tribal teutônica, e significa amar. Da maneira sutil que a linguagem é capaz de ligar experiências
humanas afins, "amigos" e "amor" parece terem uma origem comum.13 Em uma pesquisa feita com mais de
quarenta mil americanos, dirigida pela revista Psychology Today, estas qualidades foram muito apreciadas em
um amigo: a capacidade de guardar confidencias, lealdade, calor humano e afeição. Em seu livro Love Life, o
meu amigo Dr. Ed. Wheat inclui um ótimo capítulo a respeito de como nos tornarmos melhores amigos. Eu o
recomendo profusamente. O começo do amor fraternal (philéo), diz ele, é: "Passamos tempo juntos, nos
divertimos juntos, participamos juntos de atividades e interesses, gostamos um do outro, mesmo depois de nos
conhecermos, comentamos sobre diversos assuntos, temos confiança um no outro, pedimos ajuda um do outro,
contamos com a lealdade um do outro. Tempo compartilhado, atividades compartilhadas, interesses
compartilhados e experiências compartilhadas." "Isto foi a essência de nosso casamento", disse Jan Struther.
"Essa exposição e compartilhamento da bolsa de recordações do dia que passou, a cada noite."14
Assumindo o papel de hospedeiro, trataremos o nosso cônjuge da maneira como tratamos os nossos
hóspedes. Suponha que um hóspede acidentalmente derrame café em sua toalha de linho. Como você reage?
"Não foi nada. Nós também fazemos isso constantemente. Olhe, deixe-me ajudá-lo a enxugar isso, para que não
pingue em sua roupa." Se seu marido faz o mesmo, será esta a sua reação: "Você é um desastrado. Não pode ser
mais cuidadoso? Você sujou a minha melhor toalha! Você não tem consideração pelo tempo que gasto limpando
tudo o que você suja"?
Muitas vezes não demonstramos amabilidade de amigos nem consideração e cortesia. Isto suscita uma
pergunta importante: "Como eu agiria se isso acontecesse com um hóspede em minha casa?" Faça-se esta
pergunta quando a sua esposa produzir um arranhão no carro, quando o seu marido manchar o tapete ou derrubar
aquela xícara de porcelana, quando o seu vaso favorito for quebrado, e acontecer toda uma série de coisas como
essas. Veja o seu cônjuge como o hóspede de honra, e fale com ele como tal. Quanto melhor for o seu amigo,
mais necessários se tornarão o tato e a cortesia.

O Hospedeiro E Também um Planejador Cuidadoso


Hospedeiros e hospedeiras de sucesso não chegam a sê-lo por acidente. Eles planejam os eventos festivos
até o último detalhe. Nada é considerado sem importância. A festa que acontece tão naturalmente e
eficientemente, na verdade, é o resultado de muito mútuos? Para compartilharem os alvos e sonhos pessoais?
Certa mãe cochichou ao ouvido de sua filha, pouco antes de ela entrar na igreja, para o casamento: "Agora você
vai ficar sabendo o que é a verdadeira solidão."
O que dizer a respeito das necessidades sexuais"! Como você vai fazer para suprir as necessidades sexuais
de seu cônjuge, se você for o hospedeiro? Você será mais sensível? Mais generoso? Mais criativo? Apresentará
menos desculpas? Culpará menos? Procurará aprender tudo o que puder a respeito da natureza sexual de seu
cônjuge? Ou continuará na ignorância? O cônjuge que se recusa a ser hospedeiro e a propiciar a satisfação sexual
de seu parceiro está simplesmente pedindo que outra pessoa entre em cena e satisfaça essa necessidade.
Necessidades espirituais? Se você assumiu a responsabilidade do desenvolvimento espiritual de seu
cônjuge, vai se familiarizar mais com a Bíblia? Estar mais cônscio de como orarem juntos e se incentivarem
mutuamente?
O jantar terminara. Os seus corpos suados estavam descansando, e os seus pés cansados ainda falavam das
estradas quentes e poeirentas que haviam palmilhado. Os discípulos estavam pensativos, recordando o que
haviam visto e ouvido naquele feriado judaico, chamado de Páscoa. Jesus havia, naquele dia, ensinado algumas
coisas surpreendentes, coisas de fazer pensar, como: "Quem me recebe, recebe aquele que me enviou." Fizera
dezenas de declarações como esta.
Durante uma pausa na conversa, Jesus levantou-se e tirou a capa. Movido por um profundo senso de quem
ele era, de onde viera, e o que tinha, colocou uma toalha ao redor da cintura, derramou um pouco de água em
uma bacia e começou a lavar os pés dos discípulos. O líder deles tornara-se seu servo. Chocante! Ele era o
hospedeiro. Eles eram os hóspedes. Ele havia suprido as suas necessidades humanas de comida e camaradagem,
e agora estava lhes falando de parceria, serviço e amor. João 13:1 diz: "Jesus... havendo amado os seus que
estavam no mundo, amou-os até o fim." E então, no versículo 15, Jesus disse: "Porque eu vos dei exemplo, para
que, como eu vos fiz, façais vós também." Isto é o que é necessário para ser um bom hospedeiro, diz ele: grande
amor e serviço humilde.
Outra vez, na penumbra da madrugada, após a sua ressurreição, Jesus apareceu à margem do Mar de
Tiberíades, esperando sete de seus discípulos. Quando o barco deles chegou ao alcance de sua voz, ele os
convidou para comerem. "Sejam meus hóspedes", disse ele. Eles estavam cansados e desanimados, depois de
trabalharem a noite toda e não terem pescado nada. Ele sugeriu que eles lançassem a rede do outro lado do barco,
e as suas redes repentinamente se viram cheias. Ele havia preparado um fogo para aquecê-los, comida para
alimentá-los e incentivo para o seu trabalho. E ele falou com eles acerca de amizade, amor e de segui-lo. Quando
a refeição terminou, eles saíram com alegria e esperança, com suas necessidades supridas. Ele era o hospedeiro
perfeito.

ATIVE O AMOR MEDIANTE AS SUAS AÇÕES


"O amor é a única emoção que não é espontânea. A única que precisa ser aprendida e a única que
realmente interessa. O verdadeiro amor é uma habilidade raramente aprendida antes dos trinta e cinco anos de
idade. Nenhum amor, nem mesmo o amor maternal, é instintivo ou inato. Muita gente consegue amar apenas; de
maneira miserável, suspeitando; quando fala de amor, dá a entender recebimento, e não doação." 15 A autora
canadense, June Callwood, acertou bem o alvo. O amor precisa ser aprendido. O amor é uma especialidade. O
amor implica em doação. Embora o amor seja a coisa mais desejada do mundo e incontáveis volumes tenham
sido escritos, exaltando-o e explicando-o, ainda assim temos tão pouco dele e tão pouco entendimento de como
ele funciona! William Penn reconheceu que ele era a lição mais difícil do cristianismo.
Um triste comentário a respeito de toda a nossa sociedade é que estamos mais familiarizados com o tipo
romântico de amor, que é expresso, de maneira mascarada, em música ao luar de verão, em pasta dental e em
sutiãs almofadados. E continuamos a exaltá-lo, sem expressar o que ele na verdade é: um mundo de pensamentos
anelantes de criança. André Maurois o expressa mais abertamente quando reflete com tristeza: "Devemos à Idade
Média as duas piores invenções da humanidade: o amor romântico e a pólvora."
As concepções erradas a respeito do amor persistem. Para muitas pessoas, ele é o direito de ser mimado.
Uma dívida que os outros precisam nos pagar — uma garantia. Você apaixonou-se, e, agora que está casado,
pode cruzar os braços e esperar que o casamento lhe entregue a felicidade, que é sua por contrato. Não é assim.
Você adquire amor dando-o, não exigindo-o. É um mito que o amor está presente automaticamente e que,
de alguma forma, virá à tona, mais cedo ou mais tarde. Se você crê nisso, o desapontamento será inevitável.
Relacionada com isto, existe a noção de que o amor acontece a você. A sua decisão ou ação é secundária,
e você torna-se uma vítima maravilhosa do amor. Ou que o amor é uma espécie de depósito, que você recebe ao
nascer, que forma um reservatório, do qual você pode sacar à vontade, para satisfazer as suas necessidades e as
dos outros. Ou que já vimos equipados com uma capacidade fixa e finita de amar — um talento especial.
Freqüentemente nos consideramos como compreensivos, doadores e geralmente amorosos, embora os fatos
deixem de confirmar esse quadro tão simpático, que pintamos de nós mesmos. Mas cremos que o amor é uma
emoção passiva, que vive e morre dentro de nós, e que surge e desaparece, dependendo de providência ou
circunstâncias favoráveis.
Nas palavras de Katherine Ann Porter: "O amor precisa ser aprendido, e aprendido novamente, e sempre
novamente; não há fim para esse processo." June Callwood concorda: "Uma vida sem amor, de acordo com os
psicólogos modernos, é uma vida de destruição e insanidade. E, enquanto ira, ódio e culpa desabrocham em
qualquer canto, amor, simpatia e tato requerem décadas de cuidados e carinho."16
Para aprender, precisamos estudar. E a Bíblia, por falar nisso, é o único livro que serve de fonte
inteiramente exata e de autoridade confiável acerca do amor, que se possa encontrar. Há três passagens principais
na Bíblia que tratam do amor, seus elementos e sua prática. O Cântico dos Cânticos de Salomão é uma história
detalhada e cândida de amor conjugal. I Coríntios 13 é um capítulo que mostra do que o amor é feito, e como ele
se comporta. I João 3 e 4 enfatiza as verdades gêmeas de que o amor precisa ser primeiramente recebido de Deus
e depois ministrado ativamente aos outros. Nesses dois capítulos, os verbos fazer, praticar, dar, agir e amar são
usados repetidamente. Visto que o amor é ordenado por Deus — maridos, amai as vossas mulheres, praticai o
amor — isto mostra que o amor é uma decisão. Uma escolha. Deus não pode comandar os nossos sentimentos ou
emoções. Nós também não podemos. As injunções de Deus podem ser obedecidas somente se amar é uma
decisão que tomamos, uma ação que iniciamos. De fato, é uma escolha expressa em ação e confirmada pela
ação. E por isso que Deus diz: "Vamos parar de dizer que amamos os outros; vamos realmente amá-los, e
mostrá-lo com as nossas ações." Portanto, como já dissemos em capítulo anterior, o amor é algo que fazemos.
Isto tira dele o mistério e o mito que o envolvem — o sentimentalismo barato e o emocionalismo irracional. O
amor é uma arte que é aprendida e uma disciplina que é praticada. A atenção e os esforços que são necessários
para se adquirir qualquer arte, perícia, vocação, precisam ser empenhados para se aprender a amar. Isto inclui
disciplina, concentração, paciência e dedicação. Visto que esses atos de amor são uma questão de escolha ou
decisão, eles não são dependentes de nossos sentimentos. De fato, eles podem ser contrários aos nossos
sentimentos. Ainda ontem uma esposa me disse: "Eu não sinto mais nada pelo meu marido. Não posso tocá-lo e
não quero que ele me toque. E o senhor quer que eu reaja positivamente a ele, quando é isso que sinto?"
Exatamente! As ações positivas repetidas podem ter um efeito positivo em seus sentimentos.
Repetindo os princípios do capítulo quatro: "Não fazemos o que fazemos porque sentimos da maneira
como sentimos. Sentimos da maneira como sentimos porque fazemos o que fazemos." Isso é hipocrisia, dirá
você! "Você quer que eu expresse amor, fale palavras de amor, demonstre amor, quando não sinto vontade de
fazê-lo?", interrogou um marido. Claro. Aja "como se..." Seria hipocrisia apenas se as suas motivações fossem
enganar ou manipular o seu companheiro. Se o seu desejo é edificar uma relação e praticar a verdade de Deus,
Deus o honrará e os sentimentos corretos se seguirão.
O colunista de vários jornais e pastor Dr. George Crane conta esta experiência elucidadora: Uma esposa
entrou em seu escritório cheia de ódio contra o marido e decidida a requerer o divórcio. "Eu não quero apenas
me ver livre dele; quero me vingar dele. Antes de me divorciar dele, ,quero feri-lo tanto quanto puder, pelo que
ele fez comigo." O Dr. Crane sugeriu um plano engenhoso: "Vá para casa e pense e aja como se, na verdade,
você amasse o seu marido. Diga-lhe o quanto ele significa para você. Expresse admiração por todas as suas boas
qualidades; louve-o por todas as características positivas. Esforce-se para ser tão amável, atenciosa e generosa
quanto possível. Não poupe esforços para se dedicar a ele de todas as formas, para agradá-lo, para estar com ele
sempre. Faça tudo o que você puder para levá-lo a crer que você o ama mesmo. Depois que você o convencer de
seu amor infindo e de que você não pode viver sem ele, então solte a bomba. Diga-lhe o quanto você o odeia, e
que você está requerendo o divórcio. Isso realmente vai feri-lo profundamente."
Com expressão de vingança em seus olhos, ela sorriu e exclamou: "Ótimo, ótimo. Não é que ele vai ficar
surpreso?"
E ela o fez com entusiasmo. Agindo "como se". Durante dois meses, ela iniciou atos de amor,
amabilidade, ouviu, deu, reanimou, compartilhou, "fazendo o melhor pelo objeto de seu amor".
Como ela não voltou, o Dr. Crane telefonou-lhe: "Agora você está pronta para iniciar o divórcio?"
"Divórcio?" — exclamou ela. "Nunca! Descobri que realmente o amo."
Os atos dela haviam mudado os seus próprios sentimentos. Movimento resultou em emoção. O
experimento tornou-se uma experiência.
O Dr. Ed Wheat resume isto nestes quatro princípios: "Um, eu posso aprender o que é amor na Palavra de
Deus e crescer no meu entendimento dele.Dois, amor não é fácil ou simples — ele é uma arte que preciso
aprender e à qual preciso me dedicar. Três, amor é um poder ativo, que controlo pela minha vontade. Eu posso
decidir amar. Quatro, amor é o poder que produzirá amor à medida que aprendo a dá-lo, em vez de fazer força
para atraí-lo."17
A sua capacidade de amar é estabelecida não tanto por promessas fervorosas quanto por atos repetidos. "E,
quando nos amamos uns aos outros, Deus vive em nós e o seu amor em nós cresce ainda mais." A verdade
emocionante é que, quanto mais você dá amor aos outros, mais Deus lhe dá amor. Você torna-se uma tubulação,
e não uma cisterna. O seu suprimento do amor de Deus aumenta à medida que você aciona o amor pelas suas
ações. Quando pára de amar, você se engana a si mesmo. A fonte seca. Henry Drummond, famoso autor, que
escreveu sobre o amor, resume tudo isso:
A vida não é cheia de oportunidades de aprendermos a amar? Todo homem, toda mulher, todos os dias,
têm milhares delas. O mundo não é um parque de diversões; é uma classe escolar. A vida não é um feriado, mas
um curso difícil. E a única lição eterna para nós todos é de que maneira podemos amar melhor. O que torna um
homem um bom artista, um bom escultor, um bom músico?
O treinamento. O que faz de um homem um bom homem? O treinamento. O amor não é produto de
emoção entusiástica. Ele ê uma expressão rica, forte, vigorosa, viril de todo o caráter cristão — a natureza que
se assemelha a Cristo na mais ampla acepção da palavra. E os fatores constituintes desse grande caráter só
podem ser edificados por treinamento incessante.18

COMECE O SEU PRÓPRIO "CASO" EM CASA


"Os 'casos' existem, e sempre existirão, porque as pessoas desejam relacionamentos conjugais de
qualidade, que satisfaçam; e, se elas não os encontram em seu casamento, os procurarão em outros lugares. Os
anseios que estão por detrás dos 'casos' são profundamente humanos e ativos em todos nós." Essa declaração foi
feita pelo Dr. Tom McGinnis, psicólogo e conselheiro em Fair Lawn, New Jersey.
Se existe alguma verdade nessa afirmação, segue-se que, propiciando em casa aquilo que o "caso"
promete, a tentação para o "caso" fica impotente. Quais são os elementos de um "caso" que o tornam atraente? O
que é que ele oferece? Quais são os seus segredos e mistérios não revelados? Qual é o desafio que ele faz a um
casamento cansado? Quais são as qualidades que você pode adicionar ao seu casamento, que lhe darão as
"sensações" que um "caso" propicia, sem a traição, a destruição e o sentimento de culpa, que um "caso"
inevitavelmente produz?
O texto mais descritivo que li a respeito das características que um casamento precisa ter para contra-
atacar os apelos da infidelidade conjugal foi escrito pelo Dr. Ginnis, mencionado acima. É citado por Nicky
McWhirter, do Serviço de Notícias Knigth-Ridder.
As pessoas casadas procuram "casos" ou sucumbem diante deles quando se acham desvalorizadas e não
estão vivendo plenamente. Quando estão chateadas. Sobrecarregadas. Isso aumenta quando se sentem muito
solitárias, o que pode acontecer em uma casa cheia de crianças e com um cônjuge palrador, em que haja um
programa estafante de coisas "divertidas" para fazer.
As pessoas que procuram ter um "caso" sofrem do anseio infantil mais profundo de serem tocadas,
acariciadas, apoiadas, abraçadas e beijadas, quero admitam, quer não. Elas querem surpresas felizes. Isto pode
significar um presente sentimental e inesperado de vez em quando. Mais importante do que isto, é o presente
fidedigno de tempo e carinho, a dádiva de idéias, experiências, histórias, disparates e jogos compartilhados,
inclusive os jogos sexuais. Elas querem viver.
Elas querem um amigo ou amiga amorosos, um companheiro que não as julgue. Desejam alguém que as
convença de que ainda são amadas, dignas de amor e muito especiais. Por um pouco de tempo, de vez em
quando, elas querem escapar das responsabilidades de adultos, que se tornaram inevitáveis, monótonas e
difíceis.
Há pelo menos dezesseis pensamentos, qualidades e características mencionadas aqui. Relacionei essas
idéias importantes, e propus três perguntas a respeito de cada uma. Repasse essas perguntas cuidadosamente.
Considere-as sem pressa. Responda-as com sinceridade. As suas respostas sinceras podem prognosticar um novo
começo — podem ser o início da mudança. Elas indicarão onde você poderá começar a mudar o clima de seu
casamento, e criar as situações que lhe darão e ao seu cônjuge os sentimentos bons de que vocês necessitam.
(Também incluí essas perguntas em páginas separadas, no fim deste capítulo, de forma que você pode arrancá-
las e conservá-las diante de si enquanto esses hábitos novos estão sendo formados.)
Uma pergunta importante, final. É realmente possível construir e manter um casamento vibrante?
Podemos enfrentar os inevitáveis desapontamentos e conflitos com coragem, e crescer em amor e intimidade? A
resposta é sim — um enfático SIM. Outro triângulo é formado: você, o seu cônjuge e Deus. Cada parte é
indispensável para o sucesso do casamento. Deus não fará a sua parte — e você não pode fazer a dele. Ê uma
sociedade. Um relacionamento pessoal com Deus capacita-o a contribuir com o que você tem de melhor para o
casamento. E então ele acrescenta a dimensão extra, de amor, paz, alegria, força e perdão, que você não pode
criar por si mesmo.
Deus é quem ele diz que é. Você é quem ele diz que é. Deus fará o que ele diz que fará. Você pode fazer o
que ele diz que você pode fazer.
Sei passar falta, e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas as coisas estou
experimentado, tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância, como em padecer
necessidade.
Posso todas as coisas naquele que me fortalece.19

TRÊS PENSAMENTOS FINAIS


"Uma coisa continua imutável através dos séculos: nada é mais excelente, mais completo, de fato, mais
santificado, do que o leito matrimonial imaculado, particularmente quando a decisão de que ele permaneça
imaculado é um ato consciente das duas pessoas que o compartilham."20
"Há uma enorme diferença entre querer algo quando não o temos, e continuar a querê-lo quando o temos.
Continuar a desejar e a querer o que temos significa que estabelecemos um relacionamento, que formamos uma
conexão — que, de fato, amamos."21
Há mais de um século, Henry David Thoreau disse esta verdade sucintamente: "Simplifique, simplifique,
simplifique." Focalize-se e permaneça fiel ao que está no centro, e, como planetas ao redor do sol de nosso
casamento, os outros elementos da vida encontrarão o seu lugar apropriado. Seja fiel, permaneça fiel, tenha fé —
e a felicidade acontecerá.

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