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Casos práticos

(Princípios)

A. Aurora, após a propositura da ação, se apercebeu de que podia ter acrescentado mais
um pedido e uma causa de pedir à sua petição inicial. Por isso, apressou-se a
apresentar, através do seu advogado, um requerimento em tribunal com um
aditamento ao seu articulado inicial. Aurora, aflita, pergunta ao seu sobrinho, que
também é aluno do curso de Direito, e, por acaso, está agora a estudar a matéria dos
princípios, se o seu requerimento poderá ser atendido. O sobrinho lembra que os
princípios do dispositivo, da autorresponsabilidade das partes e da preclusão podem
ser convocados.

1. É verdade? Em que medida?

2. O requerimento poderá ser acolhido?

B. Aurora, que é portuguesa mas, por acaso, tem ascendência cigana, é proprietária de
uma franquia de uma loja de chocolates e, no âmbito de uma determinada campanha
promovida por um fornecedor, comprou 100 quilos de cacau. Aurora, que faz parte de
um grupo de whatsapp formado pelos proprietários de outras franquias desta mesma
rede de lojas, descobriu que alguns deles beneficiaram de um desconto especial no
âmbito de uma promoção destinada aos clientes “genuinamente” portugueses. Aurora
promove uma ação judicial, afirmando, na sua petição inicial, que, tal como os colegas,
também é portuguesa, pelo que pretende a devolução do valor que foi pago a mais. A
empresa, no entanto, afirma que as partes, no âmbito de um contrato civil, têm
liberdade para estipular os termos contratuais e, naquele caso concreto, não tinha
havido qualquer estipulação contratual que concedesse o desconto pretendido pela
autora. O juiz considera os factos e os argumentos jurídicos das partes, mas, no curso
da ação judicial, e depois da produção de prova testemunhal, se apercebe de que
houve claramente uma violação do princípio constitucional da igualdade, houve
discriminação, até porque ficou provado que o fornecedor não deixava propriamente
de celebrar contratos com ciganos, porque não podia propriamente deixar de “ganhar
dinheiro”, mas, como não apreciava as tradições ciganas, tinha como princípio não
lhes facilitar a vida.
Pergunta-se:

1) Poderá o juiz proceder desta maneira utilizando, para fundamentar a sua decisão,
factos que não foram articulados pelas partes?

2) Não estará ele adstrito às alegações de facto e de direito constantes da petição


inicial e da defesa?

3) Uma vez que o fundamento jurídico utilizado para decidir nunca chegou a ser
aventado por qualquer uma das partes no curso da ação judicial e o juiz nunca
chegou a referir a possibilidade, em abstrato, de estar-se diante da violação do
princípio da igualdade constitucional, estes argumentos (que revelam a “supresa
da decisão”) podem servir para impugnar a ação judicial?

C. Berardo teve os seus bens apreendidos judicialmente, sem ter recebido qualquer
notificação prévia. Ficou depois a saber que Constantino, o seu credor, tinha movido
uma providência cautelar especificada de arresto, por receio de perder a garantia
patrimonial do seu crédito. Soube, também, que a providência solicitada havia sido
concedida. Berardo, imediatamente, peticionou nos autos do processo alegando que o
princípio do contraditório não foi observado no seu caso concreto, uma vez que não
podia ser despojado dos seus bens sem ter a oportunidade de ser ouvido previamente,
e pede a anulação de todo o processo. Berardo tem razão?

D. Dionísio, um advogado diligente e muito atarefado, mandatado por Érica, ajuizou uma
ação. O juiz, finda a fase dos articulados, e após ter tido o primeiro contato com a peça
processual, verifica que o advogado fez a exposição dos factos (isto é, a exposição das
suas alegações de factos que enformam a sua causa de pedir) com algumas
imprecisões e insuficiências.

Um aluno do curso de Direito, que por acaso tem particular interesse nas nulidades do
processo, encontrou, ao folhear o Código de Processo Civil, o art. 186º, segundo o
qual: “1. É nulo todo o processo quando for inepta a petição inicial. 2. Diz-se, inepta a
petição quando falte ou seja ininteligível a indicação do pedido ou da causa de pedir”.
E, desta forma, é da opinião de que o processo deve ser considerado nulo.

1. Tendo em vista os princípios que orientam o impulsionamento e a dinâmica da


instância, indique como o juiz deverá posicionar-se.

2. Admitindo que o aluno não tem razão, e que o processo deva seguir, o juiz
concede a oportunidade para a parte corrigir a petição, mas, inspirado pelo
princípio da celeridade processual, atento à duração razoável do processo, e
considerando que a correção da peça processual foi muito pequena, entende, o
juiz, que a parte contrária não deverá ter oportunidade de se pronunciar sobre a
correção. Enquanto advogado da parte contrária, como fundamentaria a sua
impugnação?

E. Filomena, advogada da parte Ré num determinado processo, decide não apresentar


todos os documentos de que dispõe para fundamentar as suas alegações juntamente
com a sua peça de defesa. Trata-se de uma estratégia processual que decidiu adotar
para surpreender a outra parte e tentar obter, com isso, alguma vantagem. A ideia é
ter uma “carta na manga” a ser utilizada no futuro e numa fase mais avançada do
processo, especialmente, durante a audiência final. Pergunta-se: uma tal estratégia, do
ponto de vista processual, é admissível?

F. Felisberto, um advogado muito preocupado em defender adequadamente os


interesses do seu cliente, num processo em que se discute a posse de um determinado
imóvel, junta a escritura pública de compra e venda que lhe foi facultada pelo seu
cliente para fazer prova da propriedade. Felisberto sabe que este tipo de documento
prova a validade do contrato, nos termos do art. 875º do Código Civil. No entanto, e
por cautela, pretende que uma testemunha seja ouvida sobre a matéria para que não
restem dúvidas sobre o direito de propriedade, até porque a testemunha presenciou a
celebração do contrato e, por isso, tem conhecimento direto do facto. O juiz deverá
admitir a produção desta prova?

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