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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

JOÃO PAULO BORGES THOMAZ

FERRAMENTAS LIVRES COMO NORTEADORA NA DEFINIÇÃO DE PROJETOS


SUSTENTÁVEIS DE EDIFÍCIOS PÚBLICOS NO ESPÍRITO SANTO – APLICAÇÃO
DA FERRAMENTA ASUS EM UMA UNIDADE PADRÃO DO CORPO DE
BOMBEIROS MILITAR DO ES.

Vitória
2020
JOÃO PAULO BORGES THOMAZ

FERRAMENTAS LIVRES COMO NORTEADORA NA DEFINIÇÃO DE PROJETOS


SUSTENTÁVEIS DE EDIFÍCIOS PÚBLICOS NO ESPÍRITO SANTO – APLICAÇÃO
DA FERRAMENTA ASUS EM UMA UNIDADE PADRÃO DO CORPO DE
BOMBEIROS MILITAR DO ES.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós


Graduação em Eficiência Energética Instituto Federal
do Espírito Santo, Campus Vitória, como requisito
parcial para a obtenção do título de Especialista em
Eficiência Energética.
Orientador: Prof. Dr. Márcio Có Almeida.

Vitória
2020
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)

T465f Thomaz, João Paulo Borges.


Ferramentas livres como norteadora na definição de projetos sustentáveis
de edifícios públicos no Espírito Santo: aplicação da ferramenta ASUS em
uma unidade padrão do Corpo de Bombeiros Militar do ES / João Paulo
Borges Thomaz. – 2020.
39 f. : il. ; 30 cm.

Orientador: Márcio Có Almeida.

Monografia (especialização) – Instituto Federal do Espírito Santo,


Coordenadoria do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Eficiência
Energética, Vitória, 2020.

1. Edifícios públicos. 2. Arquitetura sustentável. 3. Construção civil


– Aspectos ambientais. 4. Sustentabilidade. 5. Desenvolvimento
sustentável. 6. Espírito Santo (ES) – Corpo de Bombeiros. I. Almeida,
Márcio Có. II. Instituto Federal do Espírito Santo. III. Título.
CDD 21 – 725
JOÃO PAULO BORGES THOMAZ

FERRAMENTAS LIVRES COMO NORTEADORA NA DEFINIÇÃO DE PROJETOS


SUSTENTÁVEIS DE EDIFÍCIOS PÚBLICOS NO ESPÍRITO SANTO – APLICAÇÃO
DA FERRAMENTA ASUS EM UMA UNIDADE PADRÃO DO CORPO DE
BOMBEIROS MILITAR DO ES.

Trabalho Final de Curso apresentado ao Curso de Pós-


Graduação Lato Sensu em Eficiência Energética, como
requisito parcial para obtenção do título de Especialista
em Eficiência Energética.

Aprovado em 29 de julho de 2020

COMISSÃO EXAMINADORA
MARCIO ALMEIDA Assinado de forma digital por
MARCIO ALMEIDA CO:00095759794
CO:00095759794 Dados: 2020.10.26 13:46:41 -03'00'

Doutor Márcio Almeida Có


Instituto Federal do Espírito Santo - Ifes
Orientador
(Telepresença: Portaria Nº 205 de 19/03/2020 - Campus Vitória)

MARCIO ALMEIDA Assinado de forma digital por


MARCIO ALMEIDA CO:00095759794
CO:00095759794 Dados: 2020.10.26 13:47:06 -03'00'
Mestra Janaina Carneiro Marques
Instituto Federal do Espírito Santo - Ifes
Coorientadora
(Telepresença: Portaria Nº 205 de 19/03/2020 - Campus Vitória)

MARCIO ALMEIDA Assinado de forma digital por


MARCIO ALMEIDA CO:00095759794
CO:00095759794 Dados: 2020.10.26 13:47:24 -03'00'

Mestre Ralf Majevski Santos


Instituto Federal do Espírito Santo - Ifes
Membro Interno
(Telepresença: Portaria Nº 205 de 19/03/2020 - Campus Vitória)

MARCIO ALMEIDA Assinado de forma digital por


MARCIO ALMEIDA CO:00095759794
CO:00095759794 Dados: 2020.10.26 13:47:37 -03'00'

Doutor Fábio Almeida Có


Instituto Federal do Espírito Santo - Ifes
Membro Externo
(Telepresença: Portaria Nº 205 de 19/03/2020 - Campus Vitória)
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus primeiramente que me deu sabedoria e paciência para a produção deste
trabalho. A minha família que soubera compreender os momentos difíceis da minha jornada e
sempre me apoiaram nestas horas.

Aos meus colegas do curso que sempre adicionaram conhecimentos e me ajudaram nas
interpretações do tema do meu trabalho. Ainda agradeço a todos os professores que
contribuíram com seus conhecimentos durante todo o curso, sendo essencial nesta caminhada.

Agradeço aos professores orientadores deste trabalho, pelo empenho e dedicação no decorrer
da elaboração da dissertação.
RESUMO

A recente crise econômica de estados e municípios com severos cortes e contenções de gastos
públicos faz com que se busquem alternativas de redução de gastos que requerem soluções
eficientes no uso do dinheiro público. Nesse contexto, este trabalho aborda a temática eficiência
energética na solução de projetos sustentáveis nas edificações públicas utilizando ferramentas
de avaliação de sustentabilidade livres, sendo para este trabalho foi definido uso da ferramenta
ASUS – Avaliação da Sustentabilidade, desenvolvida pelo Laboratório de Planejamento e
Projetos (Souza, 2008), em uma unidade do Corpo de Bombeiros. A ASUS foi desenvolvida
no Estado do Espírito Santo (ES) usando características locais para avaliação da
sustentabilidade de edificações. O estudo de caso foi desenvolvido usando como base um
projeto padrão de uma unidade de atendimento do Corpo de Bombeiros Militar do ES com
características construtivas tradicionais e para contrapor, este autor realizou a mesma avaliação
considerando a aplicação dos índices de maior pontuação, presentando soluções dentro da
proposta que façam elevar e melhorar os resultados alcançados na avaliação original. O
resultado esperado da pesquisa é a difusão do uso de ferramentas livres para a avaliação de
sustentabilidade de projetos e edificações, além da busca de métodos construtivos mais
eficientes e de menor custo financeiro na execução para projetos públicos do Estado do ES.

Palavras-chave: eficiência energética. edificações públicas. sustentabilidade. certificado


ambiental.
ABSTRACT

The recent economic crisis of states and municipalities with severe cuts and restraints on public
spending has led to the search for alternatives to reduce spending that require efficient solutions
in the use of public money. In this context, this work addresses the theme of energy efficiency
in the solution of sustainable projects in public buildings using free sustainability assessment
tools, being for this work the use of the ASUS - Sustainability Assessment tool, developed by
the Planning and Projects Laboratory (Souza, 2008), in a unit of the Fire Department. ASUS
was developed in the State of Espírito Santo (ES) using local characteristics to assess the
sustainability of buildings. The case study was developed based on a standard design of a
service unit of the Military Fire Brigade of ES with traditional constructive characteristics and
to counteract, this author carried out the same assessment considering the application of the
highest scoring indexes, presenting solutions within of the proposal that elevate and improve
the results achieved in the original evaluation. The expected result of the research is the
dissemination of the use of free tools for assessing the sustainability of projects and buildings,
in addition to the search for more efficient and less costly construction methods in the execution
of public projects in the State of ES.

Keywords: energy efficiency. public buildings. sustainability. environmental certificates.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 7
2 FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO DE SUSTENTABILIDADE ............................. 9
3 DIRETRIZES DE SUSTENTABILIDADE ................................................................... 9
4 FERRAMENTAS DE CERTIFICAÇÕES INTERNACIONAIS ................................ 12
4.1 BREEAM ...................................................................................................................... 12
4.2 AQUA-HQE ................................................................................................................. 12
4.3 LEED ............................................................................................................................ 13
5 FERRAMENTAS DE CERTIFICAÇÃO NACIONAL ............................................... 13
5.1 PROCEL EDIFICA ...................................................................................................... 13
6 FERRAMENTAS DE APOIO LIVRES ...................................................................... 14
6.1 SBTOOL ....................................................................................................................... 14
6.2 PROJETEEE ................................................................................................................. 15
6.3 ASUS ............................................................................................................................ 16
7 METODOLOGIA ......................................................................................................... 18
7.1 UNIDADE PADRÃO DO CORPO DE BOMBEIROS DO ES – CBMES ................. 18
7.1 análise comparativa com base nos critérios do tema “b” – consumo de recursos ........ 22
7.2 APLICAÇÃO DA FERRAMENTA ASUS ................................................................. 23
8 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................ 24
8.1 PROPOSTA DE MELHORIA DOS INDICES ALCANÇADOS NO ESTUDO ........ 24
8.1.1 energia .......................................................................................................................... 24
8.1.2 materiais ........................................................................................................................ 26
8.1.3 água ............................................................................................................................... 30
9 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 35
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 38
7

1 INTRODUÇÃO
Desde a crise energética da década de 1970 vem sendo desenvolvidas muitas pesquisas para
propor diretrizes que contribuam para a idealização de projetos e construções que gerem menos
impactos ambientais, econômicos e sociais. Nesse contexto, já na década de 1990, surgiram as
ferramentas de avaliação da sustentabilidade. Elas começaram a ser desenvolvidas por duas
razões principais: para verificar o real desempenho ambiental dos esquemas de certificação e
poderia configurar-se um meio eficiente de se melhorar o desempenho ambiental dos edifícios,
sejam eles novos ou existentes (Silva et al. 2003; Souza, 2008).

No Brasil as ferramentas de avaliação de sustentabilidade vêm ganhando notoriedade, porém


ainda com pouca adesão nas organizações governamentais. Os métodos de avaliação no geral
são derivações de indicadores internacionais de sustentabilidade desenvolvidos em outro
contexto, dentro de uma especificidade da região ou país.

Atualmente as edificações públicas construídas pelo estado do Espírito Santo não utilizam
nenhum critério para avaliação da sustentabilidade do edifício, o que eleva o custo da edificação
pós-ocupação. Em geral, são utilizados “projetos padrão” que são inseridos em terrenos de
orientações solares distintas e climas diversos, que acaba por prejudicar o conforto térmico
destas construções e por consequência elevar os custos de refrigeração, principal agente no
consumo energético das edificações.

A eficiência energética em edifícios pode ser entendida como a obtenção de um serviço com
baixo consumo de energia, proporcionando as mesmas condições ambientais que outro
empreendimento, porém com menor gasto de energia (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA,
1997). Essa eficiência na construção civil pode ser obtida, por exemplo, por meio da concepção
arquitetônica e pela utilização de equipamentos eficientes. Na concepção arquitetônica, ou seja,
na determinação da configuração volumétrica dos edifícios, bem como na especificação dos
materiais e sistemas instalados, os projetistas possuem papel importante, tendo em vista que o
consumo de energia elétrica está diretamente relacionado ao desempenho dos edifícios
projetados. (LABORATÓRIO DE PLANEJAMENTO E PROJETOS, 2011).

É possível observar um esforço em propor políticas públicas relacionadas com a gestão eficiente
dos recursos. Um decreto recente, 4519-R de 14 de outubro de 2019, assinado pelo Governo do
Estado do Espírito Santo, por exemplo, obriga o uso de energia solar em novas edificações no
âmbito estadual. Esse decreto é um avanço para minimizar os impactos de consumo energético
nas edificações públicas, porém há necessidade de tratar o tema de forma mais ampla e trazer a
8

proposta sustentável desde a concepção do projeto, fato que reduz os custos inclusive com
sistemas de energias renováveis possibilitando maior eficiência energética na edificação.

A ferramenta ASUS – Avaliação de Sustentabilidade – objeto de estudo deste trabalho, foi


desenvolvida com base em informações locais e especificas do ES o que facilita e aproxima
mais da realidade local, diferente de outras ferramentas de avaliação de sustentabilidade que na
sua grande maioria tem sua origem em outros países desenvolvidos, fator que dificulta a
aplicação dentro da realidade local.

A ASUS – Avaliação da Sustentabilidade – desenvolvida pelo Laboratório de Planejamento e


Projetos (Souza, 2008), busca nortear projetos de edificações a fim de promover
sustentabilidade no ambiente construído utilizando de temáticas como o planejamento do
empreendimento; consumo de recursos; qualidade do ambiente interno; qualidade dos serviços;
cargas ambientais; aspectos sociais, culturais e econômicos. Estes são ainda divididos em outras
subcategorias que norteiam esse sistema adequado ao contexto do Espírito Santo e suas
especificidades. Por ser uma ferramenta livre ainda não é possível obter certificação através do
seu uso, porém se adequa as necessidades de orientação e validação de pesquisas de prática de
projeto. Esse sistema pode ser inserido na concepção de projetos arquitetônicos a nível estadual,
servindo como base para inserção da sustentabilidade nas edificações públicas no estado do ES.

O Corpo de Bombeiros Militar do Espírito Santo (CBMES) tem data de fundação de 1912 na
cidade de Vitória com intuito de atender a sociedade capixaba, foi ao longo do tempo
expandindo sua atuação para que outros municípios pudessem contar com os serviços prestados
pela corporação. Hoje atua em 17 cidades no estado do Espírito Santo e busca ampliar a área
de atendimento e consequentemente diminuir o tempo resposta, dando mais segurança para a
sociedade capixaba. Atualmente o CBMES replica um projeto padrão de base de atendimento
de bombeiros em regiões de Norte a Sul do Estado sem que haja parâmetro de avaliação da
implantação da edificação, tais como condições climáticas, culturais e sociais da localidade a
receber a unidade do CBMES. Tal atitude pode ser visto em outros órgãos da administração
pública que replicam edificação sem que haja um estudo técnico para sua implantação. Como
consequência, foi identificado a oportunidade de aplicar ferramentas de avaliação de
sustentabilidade a um desses projetos, usando a ASUS como ferramenta avaliativa.

Concluindo, este trabalho tem os seguintes objetivos geral e específicos:

Objetivo Geral: Propor alterações ao projeto padrão de uma unidade de atendimento do Corpo
de Bombeiros com vista a melhorar seus indicadores de sustentabilidade avaliando a edificação
com auxílio da aplicação da ferramenta ASUS.
9

Objetivos Específicos:

- Levantar e difundir o uso de ferramentas livres de avaliação de sustentabilidade em projetos


e construções;

- Estudar e aplicar a ferramenta ASUS em uma base de atendimento do Corpo de Bombeiros


Militar do ES;

- Avaliar alternativas para melhoria de indicadores de sustentabilidade relacionada ao consumo


de recursos de materiais, energia e água.

2 FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO DE SUSTENTABILIDADE


Este capítulo busca apresentar o conceito de sustentabilidade dos edifícios e apresentar as
principais ferramentas de avaliação de sustentabilidade em uso em diversas partes do mundo.
Foram pesquisadas diversas certificações e ferramentas livres analisando suas características
gerais e aplicabilidades.

A pesquisa foi feita a partir de livros, dissertações, artigos científicos e sites dos sistemas de
avaliação de sustentabilidade e ferramentas, que seguem:
 BREEAM – http://www.breeam.org/index.jsp
 AQUA – http://www.geaconstruction.com/
 LEED – http://www.gbcbrasil.org.br/pt/index.php
 PROCEL – http://www.procelinfo.com.br/main.asp
 SBTool – http://www.iisbe.org/
 PROJETEEE - http://projeteee.mma.gov.br/
 ASUS - http://asus.lpp.ufes.br/

3 DIRETRIZES DE SUSTENTABILIDADE
A norma internacional ASTM E2114-01 Standard Terminology for Sustainability Relative t o
the Performance of Buildings – define edifício sustentável como aquele que oferece os
requisitos de desempenho próprios tanto para diminuir impactos ambientais quanto para
aprimorar o funcionamento local, regional e global dos ecossistemas, durante e após a
construção e vida útil. O uso de ferramentas de avaliação de sustentabilidade ajuda a fomentar
e propagar conceitos verdes que quando aplicados a edificações públicas promovem ganhos no
que tange economicidade do dinheiro público além de criar uma imagem positiva de
responsabilidade ambiental e social.
10

Segundo Lamberts (2014), a arquitetura pode ser entendida como um atributo inerente a
edificação representante do seu potencial e possibilitar conforto térmico, visual e acústico aos
usuários com baixo consumo de energia. A questão é desmontar que a aplicabilidade de
conceitos sustentáveis tem maiores custos que os convencionais, pois considerando o pós-
ocupação a edificação verde tem custos operacionais mais baixos, consumo menor de energia
e água e consequentemente traz rapidamente vantagens aos usuários e tem valorização no
mercado. Nesse sentido, Gebrim (2013) afirma que em uma edificação sustentável, o retorno
financeiro está na durabilidade e conforto que edificação proporcionará aos usuários, bem como
na economia de recursos para o governo com a adoção de critérios que economizem e
racionalizem o consumo de recursos.

A busca do conforto na edificação utilizando os conceitos de Arquitetura Bioclimática é bem


explicada por Corbella (2011), a Arquitetura Bioclimática preocupa-se com a adequação da
construção ao clima, visando ao conforto térmico, acústico e visual do usuário. Ele trata o
envelope da construção como uma membrana reguladora (permeável e controladora) entre o
ambiente externo e interno. Essa “membrana” é utilizada para conseguir um ambiente interno
e confortável e, para isso, o arquiteto deve ser hábil em utilizar recursos de projeto e escolher
materiais convenientes, levando em conta as variáveis climáticas externas.

Corbela (2011) ainda cita que a edificação a ser construída deve prever medidas eficazes que
garantam o conforto ambiental da edificação que incluem os confortos térmicos, visual e
acústico sendo que esses três devem ser atendidos na sua totalidade ou o conceito de conforto
se perde na edificação.

Os sistemas de avaliação de sustentabilidade e os programas de certificação de edifícios são


instrumentos que vêm, desde o final da década de 80 do século passado, despertando
gradativamente a atenção dos atores envolvidos no processo de produção de edifícios. Esses
sistemas vêm sendo utilizados como métodos de análise do desempenho de edificações e
objetivam refletir a significância do conceito de sustentabilidade presente no projeto e na
construção dos edifícios, ao fornecerem uma análise abrangente das suas características e dos
impactos que produzem em seus ocupantes, no entorno, e no ambiente.

Para definir o potencial de energia economizada em um edifício é preciso conhecer os fatores


que afetam o desempenho térmico da edificação. Essas características estão relacionadas às
zonas bioclimáticas. A NBR 15220 - 2003 que apresenta recomendações quanto ao desempenho
térmico de habitações unifamiliares de interesse social aplicáveis na fase de projeto. Ao mesmo
tempo em que estabelece um Zoneamento Bioclimático Brasileiro, são feitas recomendações
11

de diretrizes construtivas e detalhamento de estratégias de condicionamento térmico passivo,


com base em parâmetros e condições de contorno fixados.

Propôs-se, então, a divisão do território brasileiro em oito zonas relativamente homogêneas


quanto ao clima e, para cada uma destas zonas, formulou-se um conjunto de recomendações
técnico-construtivas que otimizam o desempenho térmico das edificações, através de sua
melhor adequação climática.
Figura 01: Zonas Bioclimáticas Brasileiras

Fonte: NBR 15220 (2003)


Para a edificação estudada, será adotado a cidade de Vitória que se encontra na zona
bioclimática 8 e tem as diretrizes construtivas detalhadas abaixo.

Tabela 01 - Abertura para ventilação e sombreamento das aberturas para Zona Bioclimatica 8.

Aberturas para ventilação e sombreamento das aberturas


Aberturas para ventilação Sombreamento das aberturas
Grandes Sombrear aberturas
Fonte: NBR 15220-2003.

Tabela 02 - Tipos de vedações externas para a Zona Bioclimática 8

Tipos de Vedação externas


Vedações externas
Parede Leve refletora
Cobertura Leve refletora
Fonte: NBR 15220-2003.

Tabela 03 - Estratégias de condicionamento térmico passivo para a Zona Bioclimática 8


12

Estação Estratégias de condicionamento térmico passivo


Verão Ventilação cruzada permanente
Fonte: NBR 15220-2003.

Como estratégia de manutenção do condicionamento térmico a NBR 15220 criou grupos para
indicar as medidas que cada local pode adotar para minimizar os efeitos do calor.

4 FERRAMENTAS DE CERTIFICAÇÕES INTERNACIONAIS

4.1 BREEAM
O primeiro e mais conhecido dos métodos de avaliação é o Building Research Establishment
Environmental Assessment Method (BREEAM). Lançado no Reino Unido em 1990, este
método, orientado ao mercado, atribui certificação de desempenho direcionada ao marketing
de edifícios e, por consequência, de projetistas e empreendedores (BALDWIN et al., 1998). Foi
a base para os diversos métodos orientados ao mercado que surgiram posteriormente, como o
HK-Beam e o Green Star. (SOUZA, 2008).

O BREEAM é um esquema internacional que fornece certificação independente de terceiros


para a avaliação do desempenho da sustentabilidade de edifícios individuais, comunidades e
projetos de infraestrutura. A avaliação e a certificação podem ocorrer em vários estágios do
ciclo de vida do ambiente construído, desde o projeto e construção até a operação e reforma.
No caso do BREEAM, a certificação de terceiros envolve a verificação - da avaliação de um
edifício ou projeto por um Assessor qualificado e licenciado do BREEAM para garantir que ele
atenda aos padrões de qualidade e desempenho do esquema. No centro desse processo estão os
organismos de certificação, organizações com aprovação do governo (através dos organismos
nacionais de acreditação), para certificar produtos, sistemas e serviços. (BREEAM.COM...,
acessado em 04 jan. 2020).

No site é possível escolher dentre de grupos de edificações novas, adaptadas ou em uso,


infraestrutura e cidades. A partir daí usa a ferramenta técnica para avaliação do objeto de estudo
onde se obtém uma pontuação que define o quão está edificação é sustentável dentro dos
parâmetros da ferramenta.

4.2 AQUA-HQE
A certificação AQUA-HQE deriva da HQE™ de origem francesa a certificação HQE ™ cobre
todo o ciclo de vida de um edifício (construção, reforma e operação): edifícios não residenciais,
edifícios residenciais e casas isoladas, bem como planejamento e desenvolvimento urbano.

No Brasil o processo AQUA-HQE é aplicado no Brasil por instituições credenciadas, sendo a


única disponível até o momento a Fundação Vanzolini. Em 2013 os organismos de certificação
13

residencial-QUALITEL e não-residencial-CERTIVEA se juntam para criar a Rede


Internacional de certificação HQE™, uma unificação de critérios e indicadores para todo o
mundo, que cria uma identidade de marca única global, cujo órgão certificador passa a ser a
Cerway, sempre fundamentado nas premissas da certificação HQE francesa. Todos os
referenciais de certificação terão um alinhamento de parâmetros para permitir a comparação
dos valores avaliados, porém os níveis de exigência respeitarão sempre as especificidades e
diferenças de cada país. Desde seu lançamento em 2008 o Processo AQUA-HQE propõe um
novo olhar para sustentabilidade nas construções brasileiras; seus referenciais técnicos foram
desenvolvidos considerando a cultura, o clima, as normas técnicas e a regulamentação presentes
no Brasil, mas buscando sempre uma melhoria contínua de seus desempenhos. Mantendo a base
conceitual francesa, o reconhecimento dessa proposta é agora reforçado pela sua efetiva atuação
na rede de certificação internacional HQE™. (VANZOLINI..., acessado em 04 de jan. 2020).

4.3 LEED
A certificação LEED (Leadership in Energy & Environmental Design) foi desenvolvida em
1994 por um conselho aberto e voluntário em escala mundial, o USGBC (U.S. Green Building
Council), instituição composta por vários profissionais ligados ao setor da construção civil que
buscam promover edifícios sustentáveis, bem como lugares saudáveis para se viver e trabalhar.

O sistema LEED é baseado em um programa de adesão voluntária que visa avaliar o


desempenho ambiental de um empreendimento. Leva em consideração o ciclo de vida de um
edifício e pode ser aplicado em qualquer tipo de empreendimento. Os aspectos avaliados pelo
LEED referem-se ao impacto gerado ao meio ambiente em consequência dos processos
relacionados ao edifício, ou seja, projeto, construção e operação, contemplando aspectos
relativos ao local do empreendimento, o consumo de água e de energia, o aproveitamento de
materiais locais, a gestão de resíduos e o conforto e qualidade do ambiente interno da edificação
(USGBC, 2016).

5 FERRAMENTAS DE CERTIFICAÇÃO NACIONAL

5.1 PROCEL EDIFICA


O Procel - Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica é um programa de governo,
coordenado pelo Ministério de Minas e Energia – MME e executado pela Eletrobrás. Foi
instituído em 30 de dezembro de 1985, pela Portaria Interministerial n° 1.877, para promover
o uso eficiente da energia elétrica e combater o seu desperdício. Por isso, o Procel busca
incentivar a conservação e o uso eficiente dos recursos naturais (água, luz, ventilação etc.) nas
edificações brasileiras, reduzindo o desperdício e os impactos sobre o meio ambiente. Para
14

tanto, atua na capacitação de profissionais, promoção de novas tecnologias, disseminação de


boas práticas, regulamentação e critérios de eficiência energética para edificações e etiquetagem
de edificações novas e existentes. Também são capacitados laboratórios de universidades
brasileiras para atuarem na área de conforto ambiental. (PROCELINFO..., acessado em 07 de
fev. 2020).

O Selo Procel Edificações, estabelecido em novembro de 2014, é um instrumento de adesão


voluntária que tem por objetivo principal identificar as edificações que apresentem as melhores
classificações de eficiência energética em uma dada categoria, motivando o mercado
consumidor a adquirir e utilizar imóveis mais eficientes. Este é um setor de extrema importância
no mercado de energia elétrica, representando cerca de 50% do consumo de eletricidade do
País. Para obter o Selo Procel Edificações, recomenda-se que a edificação seja concebida de
forma eficiente desde a etapa de projeto, ocasião em que é possível obter melhores resultados
com menores investimentos, podendo chegar a 50% de economia. A metodologia de avaliação
da conformidade está descrita no Regulamento para Concessão do Selo Procel de Economia de
Energia para Edificações, bem como nos Critérios Técnicos específicos e baseiam-se no
Regulamento Técnico da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética em Edifícios
Comerciais, de Serviços e Públicos (RTQ-C) e no Regulamento Técnico da Qualidade para o
Nível de Eficiência Energética em Edificações Residenciais (RTQ-R) do Programa Brasileiro
de Edificações – PBE Edifica. (PROCELINFO..., acessado em 07 de fev. 2020).

A Procel Edifica vem em busca de implantar um sistema de avaliação de edificações a fim de


institucionalizar o programa nas edificações brasileiras, tanto em fase de projeto como na fase
construída. Nas edificações públicas e comerciais o sistema busca avaliar três vertentes da
edificação: envoltória, iluminação e condicionamento de ar. Nas edificações residenciais são
avaliados os sistemas de aquecimento de água e envoltória da edificação, além disso, são
analisados os sistemas comuns das edificações em áreas de uso coletivo das residências
multifamiliares como elevadores, iluminação, bombas, etc.

6 FERRAMENTAS DE APOIO LIVRES

6.1 SBTOOL
Desenvolvida pelo Sustainable Building Challenge (SBC), um consórcio internacional que teve
princípio em 1996, sendo financiado inicialmente pelo governo do Canadá, a ferramenta
SBTool possui a função primária de atuar como base metodológica e científica para que órgãos
e instituições locais de diversas partes do mundo desenvolvam sistemas de avaliação de
edifícios adaptados ao contexto de sua região. (SOUZA, 2008)
15

O sistema SBTool Generic é uma ferramenta genérica para avaliação de desempenho de


edifícios que pode ser utilizada como base para desenvolver um sistema de classificação
adequado para uma variedade de locais, condições e tipos de construção. Pode ser aplicado em
grandes projetos ou em edifícios individuais, de uso residencial, comercial ou misto, novos, em
construção, ou renovações. A ferramenta abrange uma ampla gama de questões de construção
sustentável, e não apenas o Green Building. O número de critérios que podem ser ativados varia
de 14 à 120. Entretanto, a ferramenta possui quatro opções de escopo genéricas, que
determinam um número de critérios ativos, mas que podem ser modificados.

Para esta pesquisa considerou-se o Maximum scope, que contém todos os critérios que foram
totalmente desenvolvidos com benchmarks e que podem ser efetivamente utilizados para
avaliações (Internacional..., 2012).

Atualmente o SBTool é gerido pela iiSBE – International Initiative for a Sustainable Built
Environment - é uma organização internacional sem fins lucrativos cujo objetivo geral é
facilitar e promover ativamente a adoção de políticas, métodos e ferramentas para acelerar o
movimento em direção a um ambiente construído sustentável global. O iiSBE possui uma
diretoria internacional de quase todos os continentes e um pequeno secretariado localizado em
Ottawa, Canadá. (IISBE..., acessado em 04 de jan. 2020).

O SBTool avalia o desempenho em relação à sustentabilidade através das seguintes categorias:


A- Regeneração e desenvolvimento do sítio, projeto urbano e infraestrutura; B -Energia e
consumo de recursos; C- Cargas ambientais; D -Qualidade do ambiente interior; E- Qualidade
de serviços; F- Aspectos de percepção, sociais e culturais; e G- Aspectos econômicos e de
custos (Internacional..., 2012).

SBTool por sua flexibilidade, abrangência, reconhecimento a nível internacional e por ser
considerada a base de outras ferramentas, como por exemplo a ASUS Avaliação da
Sustentabilidade desenvolvida pelo Laboratório de Planejamento e Projetos (Souza, 2008).

6.2 PROJETEEE
O Projeteee foi a primeira plataforma nacional que agrupa soluções para um projeto de edifício
eficiente, com intuito de dar continuidade ao trabalho desenvolvido pelo PROCEL/Eletrobrás
e a Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. O Projeteee é uma ferramenta pública com
uma interface de fácil uso e possui mensalmente cerca de 20 mil acessos. Além de servir como
suporte didático a alunos dos cursos de Arquitetura, a plataforma possibilita que os profissionais
da construção civil integrem a seus projetos a variável da eficiência energética especialmente
através de elementos bioclimáticos, garantindo, além da redução da demanda energética, o
16

conforto dos usuários no interior das edificações. Com a iniciativa de fomentar melhorias nas
práticas de uso dos recursos energéticos junto à sociedade, o Ministério do Meio Ambiente
(MMA), em cooperação com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),
executa o projeto “Transformação do Mercado de Eficiência Energética no Brasil”, apelidado
de Projeto 3E (Eficiência Energética em Edificações). O objetivo principal do projeto é
influenciar e desenvolver o mercado de eficiência energética em edificações comerciais e
públicas. (PROJETEEE..., acessado em 07 de fev. 2020).

O sistema apresenta uma interface simples e intuitiva que apresenta dados de mais de 400
cidades brasileiras o Projeteee que é uma parceria entre entes públicos e privados incluindo
Ministério do Meio Ambiente, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
e a UFSC. O programa aborda temas relacionados a aquecimento solar passivo, inercia térmica
resfriamento evaporativo sombreamento e ventilação natural.

Atualmente o sistema é aplicado em edificações públicas e privadas através de parcerias para


implementar a ferramenta em forma de estudo de caso, treinamentos de gestores do setor
público e privado a fim de expandir o uso da ferramenta e sua aplicabilidade.

6.3 ASUS
Nesse sentido, apresenta-se a Ferramenta ASUS, que tem por objetivo propor um sistema
adequado ao contexto do Espírito Santo – em seus aspectos ambiental, social, econômico e
cultural – para avaliação da sustentabilidade de edifícios de escritórios em fase de projeto,
servindo como instrumento de auxílio aos projetistas que visam à proposição de edificações
mais sustentáveis.

A Ferramenta tem como base conceitual o SBTool, entretanto, também contém fundamentos
de outras ferramentas como Casbee, Breeam, Leed, Aqua, Hong Kong Building Assessment
Tool (HK-BEAM), Greenstar, entre outras (FERRAMENTA ASUS..., 2011).

Sendo a pesquisa financiada pelo Governo Estadual, por meio da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Espírito Santo – FAPES, a Ferramenta foi desenvolvida tendo como alicerce
conceitual a revisão de outras ferramentas e no esforço em adaptá-las às condições regionais
particulares, com ênfase para projetos de edifícios públicos e institucionais do Espírito Santo.
Dessa forma, vê-se neste instrumento o potencial para vir a fazer parte dos termos de referência
de licitação de projetos elaborados especialmente por órgãos públicos, com o intuito de projetar
edifícios mais eficientes e, a partir do uso público de tais edificações, incentivar práticas dessa
natureza (ASUS, 2011).
17

Ressalta-se que a proposta da ASUS é de ser uma ferramenta livre, ou seja, cujo conteúdo deve
ser público e gratuito. Ainda cabe destacar que sua adoção não pressupõe uma certificação.

A ASUS foi formulada para ser adotada, principalmente, enquanto instrumento de orientação a
projetistas, passível de ser inserido na prática de projeto. Dessa forma, vê-se como principal
contribuição o fato de se alcançar, com a ASUS, um exequível método de avaliação de edifícios,
voltado inicialmente para o uso por projetistas e adequado à realidade nacional com ênfase para
as questões regionais, sem necessariamente estabelecer uma relação de dependência com os
idealizadores da ferramenta (ASUS, 2011).

A Asus adota o sistema de pontuação utilizado pelo SBTool, ou seja, o desempenho do edifício
é avaliado segundo uma escala com os níveis -1, 0, +3 ou +5, conforme mostra o quadro 1.
Quadro 1: Escala de graduação de desempenho ASUS.
Pontuação Desempenho Associado
-1 Prática negativa. Não atende ao desempenho mínimo esperado
Desempenho mínimo. Corresponde às normas, à legislação ou à prática
0 convencional
+3 Desempenho bom
+5 Prática de excelência
Fonte: Ferramenta ASUS (2011)

No final do processo, é apresentado um quadro resumo da avaliação com os níveis de


desempenho alcançados em cada tema, as suas respectivas ponderações e a média final. Além
disso, o resultado é apresentado graficamente de duas maneiras: 1. um gráfico do tipo radar que
demonstra o nível de desempenho alcançado em cada tema; e 2. um gráfico em colunas, onde
as 6 primeiras representam a contribuição efetiva de cada tema na avaliação final, com seus
respectivos resultados ponderados, e a última coluna demonstra o resultado da avaliação. A
partir da escala de graduação de desempenho da ferramenta, foram definidos níveis
intermediários para o resultado da avaliação do edifício (ASUS, 2011). No quadro 2 abaixo
podemos verificar os índices finais da apurados da Asus.
Quadro 2: Escala de graduação de desempenho final da ASUS.
Índice Obtido Desempenho
-1 a 0 Desempenho ruim
0a1 Desempenho mínimo esperado
1a2 Desempenho bom
3a4 Desempenho superior
4a5 Prática de excelência
Fonte: Ferramenta ASUS (2011)

A estrutura geral da Ferramenta ASUS é dividida em seis temas. Cada tema é subdivido em
categorias, num total de dezoito, sendo algumas dessas divididas em subcategorias, de acordo
18

com a complexidade da temática. As categorias e subcategorias organizam os grupos de


critérios, que são um total de setenta e nove, conforme Quadro 3.
Quadro 3 : Estrutura e hierarquia da Ferramenta ASUS

Fonte: http://asus.lpp.ufes.br/instrucoes. Acessado em 24 de fev. 2020.


O uso da Ferramenta ASUS pode servir de base para busca de certificações de sustentabilidade
tais como SBTooL, LEED, Aqua e Procel, sendo que estas foram usadas de base para
elaboração da ASUS.

7 METODOLOGIA

7.1 UNIDADE PADRÃO DO CORPO DE BOMBEIROS DO ES – CBMES


Considerando a aplicabilidade da ferramenta em edificações públicas, tema central deste
trabalho, será proposto o uso da ASUS em uma edificação do Corpo de Bombeiros Militar do
Espírito Santo, órgão da administração direta do Estado do Espírito Santo. Diante disso foi
apresentada a proposta de uma edificação construída com aproximadamente 1230 m² que vem
sendo replicada ao longo de 10 anos em diversas cidades do Espírito Santo. A unidade padrão,
19

como é chamada se trata de uma edificação com dois pavimentos onde tem um uso misto, com
serviços administrativos e operacionais no atendimento às ocorrências. Atualmente são cerca
de 10 unidades já executadas e outras em fase de ajustes de projeto.

O projeto foi desenvolvido a partir de demandas coletadas pelo militar do Corpo de Bombeiros
Capitão Maria Cláudia Aquino Alcoforado Trindade, arquiteta e urbanista que já trabalha no
setor há mais de 10 anos, que definiu as condições básicas de funcionamento da Unidade
conforme proposta e anseios do alto comando da corporação. Na figura 02 temos a planta do
térreo que contempla parte destinada a garagem, academia e almoxarifado para as viaturas de
serviço operacional e do lado esquerdo a edificação se destina a parte de atendimento, serviços
administrativos. O pavimento superior, figura 03, pode ser dividido em duas partes também,
uma parte destina-se ao uso do serviço operacional de atendimento a ocorrências com
alojamentos, vestiários, cozinha, refeitórios e a outras 4 salas administrativas de comando.
Como pode ser visto grande parte da edificação é destinada ao uso do serviço operacional, que
configura escala de 24 horas de serviço no formato de prontidão.
20

Figura 02: Pavimento térreo.

Fonte: Seção de projetos CBMES. Adaptado pelo autor.


21

Figura 03: Pavimento superior.

Fonte: Seção de projetos CBMES. Adaptado pelo autor.

A proposta da edificação feita pelo setor de Projetos do CBMES contempla no seu escopo
algumas diretrizes sustentáveis desde a sua concepção em meados 2009. Entre elas a utilização
de vidros na fachada principal do tipo “insulado e laminado” que contam com um sistema duplo
de envidraçamento, os vidros insulados permitem a combinação de dois tipos de materiais
aproveitando as propriedades técnicas de cada um. Recebem dupla selagem: os vidros são
colocados a um perfil de alumínio, o que forma uma câmara de ar hermeticamente vedada.
Dessa forma, garantem conforto térmico e acústico nas áreas de aplicação. Outra aplicação na
edificação foi a de “brises metálicos”, que na figura 04 pode ser visto que sua aplicabilidade
promove ganhos no conforto ambiental, pois bloqueia parte dos raios solares evitando a
incidência direta na edificação sem interferir na ventilação e luminosidade do ambiente. Além
22

disso, desde o início já havia previsão de instalação de placas fotovoltaicas, porém esbarrou na
burocracia e na redução de custos visto que o investimento era alto para a instalação e
manutenção do equipamento.
Figura 04: Detalhe brise metálico.

Fonte: Seção de projetos CBMES.

Como o objetivo do trabalho é tornar a edificação mais eficiente, busca-se na aplicação da


ferramenta ASUS identificar os pontos deficientes e propor melhorias pontuais com base no
“Item B” da ferramenta ASUS que avalia o Consumo de Recursos que inclui as seguintes
disciplinas: Energia; Materiais; Água. A escolha deste item se deve a junção de elementos que
se bem estudados e aplicados desde a fase de projeto podem trazer ganhos para os índices de
eficiência energética da edificação reduzindo custos operacionais desde a fase de projeto até o
uso efetivo dela. Com o resultado será possível mensurar a eficiência da edificação e promover
redução dos gastos energéticos da edificação.

7.1.1 análise comparativa com base nos critérios do tema “b” – consumo de recursos

Tendo como referência os critérios discriminados do tema B – Consumo de Recursos, o projeto


original foi analisado e avaliado. Seguindo os mesmos critérios e a partir das orientações
23

estabelecidas pela ferramenta ASUS foram levantadas possibilidades de modificação na


proposta original. A partir dessas análises e propostas, segue-se para a aplicação da ferramenta.

7.2 APLICAÇÃO DA FERRAMENTA ASUS

Seguindo os parâmetros adotados pela ASUS será aplicada a ferramenta desenvolvida por
(ALVAREZ, 2011) e equipe do Laboratório de Planejamento de Projetos da UFES a fim de
verificar os índices alcançados na edificação proposta pelo trabalho.

O problema em questão é buscar alternativa na concepção, construção e implantação da


edificação a fim de torná-la mais sustentável desde a primeira fase, ainda em projeto, e assim
tornar habitual o uso de ferramentas de avaliação de sustentabilidade nas edificações públicas
do estado do Espírito Santo.

A avaliação em si é realizada por meio desta plataforma online onde os critérios são
apresentados sucintamente, com seus objetivos, recomendações e marcas de referência. Para
cada critério, com base nas marcas de referências definidas, o usuário/avaliador marca a opção
correspondente ao nível de desempenho alcançado no projeto e o próprio sistema realiza os
cálculos e ponderações para apresentação do resultado final. (LPP.UFES..., acessado em 24 de
fev. 2020).

Ressalta-se, entretanto, que o preenchimento da plataforma online disponibilizada no site http://


http://asus.lpp.ufes.br/ferramenta.php# é um processo relativamente longo e deve ser executado
em uma única etapa, ou seja, sem o encerramento da plataforma, pois não há possibilidade de
salvamento para posterior continuidade. Como ferramenta de auxílio ao desenvolvimento de
projetos, o preenchimento da plataforma poderá ser efetuado a qualquer momento, e enquanto
a plataforma estiver aberta, é possível preencher as diferentes temáticas, além de modificar as
respostas. Observa-se que, muitas vezes, mudanças relativamente simples de projeto podem
refletir significativamente na melhoria do desempenho, sendo o sistema idealizado para facilitar
o procedimento de escolhas inerente à atividade projetual. (LPP.UFES..., acessado em 24 de
fev. 2020).

Os dados avaliados da edificação geram dois formatos de gráficos, um radar e outro em barras
que indicam a pontuação de cada item e a pontuação geral da edificação de forma global. Esse
resultado facilita onde são os pontos de intervenção e suas particularidades quanto à aplicação
de medidas que visem aumentar a eficiência da edificação. Vale ressaltar que o trabalho propõe
a aplicação e avaliação da dimensão “b” da metodologia ASUS, que avalia as condições da
edificação no quesito materiais, energia e água.
24

8 RESULTADOS E DISCUSSÕES

8.1 PROPOSTA DE MELHORIA DOS INDICES ALCANÇADOS NO ESTUDO

Como parte da proposta para melhoria dos índices da edificação com base nos índices
alcançados no item B – Consumo de Recursos – da ferramenta ASUS será proposto melhorias
no processo de concepção do projeto a fim de se alcançar índices desejáveis em matéria de
energia, uso de materiais e água.

Para melhor entendimento das propostas realizadas pelo autor cada subitem dos temas
ENERGIA, MATERIAIS E ÁGUA e apresentará propostas para implantação de ações que
visem atender os subitens do tema para que assim haja promoção da sustentabilidade na
edificação.

Os quadros são divididos em 5 colunas, sendo a coluna: 1) itens de cada tema; 2) critério
avaliado pela ASUS; 3) o que foi apresentado na proposta original; 4) proposta modificada para
alcance da pontuação mais alta; 5) ação a ser tomada para efetivação da pontuação máxima de
acordo com as diretrizes aplicadas pela ferramenta. Na coluna 3 – Proposta original – cada
item é avaliado se foi atendido, parcialmente atendido ou não atendido o critério máximo de
pontuação definido pela ASUS. Os critérios informados nos quadros a seguir são referenciais
da própria ferramenta ASUS que os usa para obtenção dos pontos da edificação.

8.1.1 energia

Para obter melhoria do indicador do tema energia, a própria ASUS estabelece orientações que
serão convertidas em propostas de melhorias para o projeto, descritas a seguir.
Quadro 4 : Análise critério Energia - ASUS

Item Critério Proposta Original Proposta modificada Ação


ESTUDO DE Não atendido Elaboração de um Na fase de
VIABILIDADE DE Sem previsão de Estudo de projeto
IMPLANTAÇÃO DE elaboração do Viabilidade. elaborar estudo
01 UM SISTEMA DE estudo. de viabilidade.
ENERGIA
RENOVÁVEL NO
EDIFÍCIO.
USO DE ENERGIA Não atendido Uso da fonte Conforme
PROVENIENTE DE Sem previsão de renovável a partir do projeto existe
FONTE implantação por estudo realizado. possibilidade
02
RENOVÁVEL falta de estudo de de uso de
GERADA NO viabilidade. energia
LOCAL fotovoltaica na
25

cobertura da
edificação.
EFICIENCIA Parcialmente Uso de Iluminação Na fase de
03 ENERGETICA atendido zenital na cobertura. projeto é
DETERMINADA Uso de brises possível prever
PELA solares, janelas o uso de
ENVOLTÓRIA com vidro iluminação
insulado, zenital na
iluminação zenital cobertura a fim
nas fachadas e de aumentar
uso de cores com distribuição da
níveis baixos de iluminação no
absortância. edifício.

EFICIÊNCIA Não atendido Elaboração de A disciplina


ENERGÉTICA DO Não é previsto a projeto de conforto Conforto
SISTEMA DE AR- concepção de ambiental prevendo ambiental deve
CONDICIONADO projeto de o uso de ser aplicada na
climatização e equipamentos fase de projeto
conforto eficientes. através de um
04 ambiental. projeto de
climatização
que
especifique
equipamentos
eficientes e
definição de
locais
sombreados
para instalação
das
condensadoras.
DENSIDADE DE Parcialmente Especificar lâmpadas Elaboração de
POTÊNCIA DE atendido eficientes (maior projeto elétrico
05 ILUMINAÇÃO Utilização de relação lm/W), para e
LIMITE cores claras em que a densidade de luminotécnico
pisos, paredes e potência de em conjunto
teto; iluminação não com o
especificação de ultrapasse arquitetônico,
luminárias os limites, relativos aplicando os
eficientes; ao uso de cada três quesitos da
ambiente. ASUS.

USO DE Não atendido Verificação da Com a


EQUIPAMENTOS Não existe eficiência dos implantação
EFICIENTES NO sistema de equipamentos que dos itens 01 e
SISTEMA DE energia renovável compõem o sistema 02, o uso de
ENERGIA na edificação. projetado de geração equipamentos
RENOVÁVEL DO de energia eficientes deve
06 EDIFÍCIO renovável. estar previsto
ainda no
26

estudo de
viabilidade.

Para o item relacionado a energia pode-se concluir que a elaboração de um estudo de viabilidade
que norteia as melhores ações pode ajudar a edificação nos índices na plataforma ASUS,
posterior ao estudo de viabilidade, as medidas podem ser aplicadas baseada no estudo e estas
medidas vão variar de acordo com o terreno escolhido, uso da edificação, entre outros critérios
definidos pela plataforma ASUS. O uso de medidas eficientes “padrão” para qualquer
edificação se torna inviável devido as especificidades de cada caso.

8.1.2 materiais

O tema de materiais deve ser tratado de forma singular, sendo esse essencial desde o processo
de preparo até o uso final. Este processo ainda pode ser incluído a destinação dos resíduos que
possam gerar este material. A análise do ciclo de vida da edificação se torna essencial para a
manutenção deste e minimizar intervenções que gerem resíduos que possam impactar no
ambiente.

Ao se tratar de construções sustentáveis, a questão dos materiais empregados é essencial, pois


a eles estão associados fatores de características físicas e de processos de produção, que causam
impactos nas esferas ambiental, social e econômica, tanto na etapa de construção como,
posteriormente, no uso/operação da edificação e no desmonte final. (ASUS, 2011)

Portanto, nesta categoria são apresentados alguns critérios que visam a auxiliar essa seleção de
materiais, de forma a buscar a minimização do consumo de recursos naturais ou o uso racional
deles, e suscitar a responsabilidade técnica, ambiental e socioeconômica dos projetistas na
especificação dos materiais. (ASUS, 2011)

Sabe-se que o atendimento das condições e materiais a serem utilizados na execução da obra já
devem ser inseridos durante a fase de concepção de projeto, onde já deve haver uma
preocupação com certificações ambientais e econômicas na especificação dos materiais.

A Plataforma ASUS ao especificar, direcionar por exemplo compras de materiais de regiões


onde será implantada a edificação contribui não só apenas para a economia local, mas também
para a redução do gasto energético para entrega desses insumos e a redução de emissões de
poluentes advindos do transporte destes materiais.

Para atender a condição máxima para eficiência nessa dimensão as condições estão relacionadas
a algumas garantias que em geral não são simples de se alcançar nos processos de contratação
27

pública, tais como materiais certificados ambientalmente, oriundos de reuso ou com adição de
resíduos, adquiridos na região entre outras. Serão apresentadas as possibilidades relacionadas
aos materiais.
Quadro 5 : Análise critério Materiais - ASUS

Item Critério Proposta Original Proposta modificada Ação


01 SITUAÇÃO Atendido Sem alteração. Sem alteração.
REGULAR DAS Por se tratar de
EMPRESAS obra pública, as
FORNECEDORAS empresas
DE MATERIAIS E fornecedoras
COMPONENTES devem estar
JUNTO AO regulares junto
GOVERNO aos órgãos
FEDERAL. públicos.

02 ESPECIFICAÇÃO Atendido Sem alteração. Sem alteração.


DE MATERIAIS E Em consoante
COMPONENTES com o item
NORMATIZADOS. anterior a
proposta atende
aos requisitos por
se tratar de obra
pública que
necessita atender
aos critérios da
legislação de
compras e
serviços.
03 ESPECIFICAÇÃO Não atendido Para atendimento do Condicionar o
DE MATERIAIS E Não houve critério proposto caderno de
COMPONENTES possibilidade de pela ferramenta especificações
NORMATIZADOS mensurar item por existe a necessidade e planilha
COM não haver de criar parâmetros orçamentária
CERTIFICAÇÃO informações a no memorial ao uso mínimo
AMBIENTAL / respeito no descritivo da de 10% de
SOCIAL caderno de edificação, materiais com
especificação. condicionando os certificação
itens certificados por social ou
órgão reconhecidos ambiental.
em no mínimo 10%
do total utilizado na
edificação.
04 REÚSO DE Não atendido Especificação do Condicionar o
MATERIAIS E Não houve memorial descritivo caderno de
COMPONENTES. possibilidade de e caderno de especificações
mensurar item por especificações o uso e planilha
não haver oçamentária a
utilização de
28

informações a de materiais de materiais de


respeito no reuso. reúso em, no
caderno de mínimo, 15%
especificação. do custo total
de materiais e
componentes
especificados
para a
edificação.
05 ESPECIFICAÇÃO Não atendido Especificação do Condicionar o
DE MATERIAIS E Não houve memorial descritivo caderno de
COMPONENTES possibilidade de e caderno de especificações
NORMATIZADOS mensurar item por especificações o uso e planilha
RECICLADOS. não haver de materiais orçamentária a
informações a reciclados. utilização de
respeito no materiais e
caderno de componentes
especificação. reciclados em,
no mínimo,
20% do custo
total de
materiais e
componentes
especificados
para a
edificação.
06 USO DE Não atendido Especificação do Condicionar o
MATERIAIS E Uso do cimento memorial descritivo caderno de
COMPONENTES tipo CPIII não e caderno de especificações
COM ADIÇÃO DE atende ao nível especificações o uso e planilha
RESÍDUOS. mínimo de de materiais com orçamentária a
exigência da adição de resíduos. utilização de
ASUS, sendo que cimento CP
não houve III , além de
possibilidade de especificação
mensurar item por de materiais
não haver e componentes
informações a com adição de
respeito no resíduos em,
caderno de no mínimo,
especificação. 10% do custo
total de
materiais e
componentes
especificados
para a
edificação.
07 USO DE Não atendido Especificação do Condicionar o
MATERIAIS E memorial descritivo caderno de
COMPONENTES e caderno de especificações
29

PRODUZIDOS NA Não houve especificações o uso e planilha


REGIÃO. possibilidade de preferencial de orçamentária a
mensurar item por materiais produzidos especificação
não haver nos limites da de materiais e
informações a região. componentes
respeito no produzidos na
caderno de região em, no
especificação. mínimo, 40%
do custo total
de
materiais e
componentes
especificados
para a
edificação.
08 USO DE Não atendido Especificação do O projeto,
MATERIAIS E Não houve memorial descritivo planilha e
COMPONENTES possibilidade de e caderno de caderno de
COM ALTA mensurar item por especificações dos especificações
DURABILIDADE. não haver materiais deve atender
informações a empregados e as todos os
respeito no devidas sistemas do
caderno de durabilidades de edifício,
especificação. acordo com os materiais e
critérios adotados componentes
pela NBR 15575. no quesito vida
útil
de projeto
superior (VUP
superior)
estabelecida
pela NBR
15575.
09 SOLUÇÃO DE Parcialmente Adoção de no Uso de
PROJETO PARA atendido mínimo seis medidas elementos
ECONOMIA DE Apresentou dois projetuais que autoportantes,
MATERIAIS E itens de cada economizem o uso diminuição da
COMPONENTES. grupo: 1) de materiais na previsão de
especificação de edificação de acordo revestimentos,
materiais – uso de com a diretriz para o desenvolver
vidro insulado na item da ASUS. projetos
fachada; 2) modulares que
Soluções de se adaptam ao
desenho – uso de local e
brises nas microclima da
fachadas da região, redução
edificação. de áreas de
circulação ao
mínimo
estabelecidos,
adoção de
30

técnicas
construtivas
eficientes.
10 USO DE Não atendido Especificação do A utilização de
MATERIAIS Não houve memorial descritivo materiais de
RENOVÁVEIS OU possibilidade de e caderno de baixo impacto
DE BAIXO mensurar item por especificações o uso energético,
IMPACTO. não haver preferencial de aqueles
informações a materiais produzidos produzidos nas
respeito no nos limites da localidades
caderno de região. próximas ou de
especificação. baixo impacto
ambiental.

O resultado para o item materiais podemos verificar a importância de haver uma composição
completa na planilha com os objetivos de prever o uso de materiais reciclados, reutilizados e
certificados, garantindo assim o atendimento aos critérios da ASUS. Desde a concepção do
projeto estes materiais devem estar presentes visando a redução da carga térmica oriundas dos
materiais de construção, esquadrias, equipamentos e outros que venham a fazer parte da
construção da edificação.

8.1.3 água

Este tema se destaca pela busca de medidas que favoreçam o uso racional da água em tempos
de alterações climáticas que interferem distribuição de água para a população. As edificações
devem adotar medidas que levem em conta o aproveitamento da água, reuso e outros métodos
que visam a economia, devendo prever o uso de tecnologias que favoreçam o sistema da
edificação.

Existem várias possibilidades alternativas de abastecimento além do promovido pela


concessionária, como a captação direta, o uso de águas subterrâneas, a reservação de água de
chuva, o reuso de determinados efluentes gerados pelo próprio empreendimento, entre outras.
Contudo é importante garantir que todas as soluções aplicadas estejam em conformidade com
as leis e normas específicas, adequações tecnológicas e adaptação aos respectivos tratamentos
necessários, de acordo tanto com as características da água como do uso a que será destinada.
Desta forma, busca-se incentivar que na escolha do sítio sejam priorizadas áreas que possuam
abastecimento de água potável pela rede municipal com baixos índices de interrupções do
abastecimento, assim como disponibilidade de fontes alternativas de água, no caso da não
existência de um sistema de distribuição contínuo de água potável local. Assim, mesmo que a
fonte secundária de água não seja potável, contribui-se para que na ocorrência de falha no
abastecimento de água pela concessionária, a água potável armazenada seja poupada para o
31

consumo que depende desta qualidade e o abastecimento geral não seja prejudicado. (ASUS,
2011).

Ainda não é prática comum em edifícios públicos o uso de fontes alternativas de água, sendo
que diante das condições climáticas cada dia mais adversas essa alternativa deve ser repensada
para reduzir custos e consumo de água advindas da rede pública e consequentemente de fontes
naturais. O tema busca essa interação através de medidas simples como estudos de viabilidade
que muitas das vezes não é considerado para implantação de um sistema de reuso de água. A
seguir será demonstrado de acordo com as diretrizes da ASUS as medidas no tema ÁGUA que
podem ser modificadas a fim de se obter pontuação máxima na ferramenta.
Quadro 6 : Análise critério Água - ASUS

Item Critério Proposta Proposta modificada Ação


Original
01 ESTUDO DA Não atendido Elaboração de estudo Na fase de
VIABILIDADE DE Sem previsão de de viabilidade. projeto
ABASTECIMENTO elaboração do elaborar
DA EDIFICAÇÃO estudo. estudo de
POR MEIO DE viabilidade.
FONTES
ALTERNATIVAS
DE ÁGUA.

02 USO DE FONTES Não atendido Elaboração de estudo Com estudo


ALTERNATIVAS Sem previsão de de viabilidade. elaborado
DE ÁGUA. uso devido à aproveitar a
. falta de um cobertura da
estudo de edificação
viabilidade para para
o tema. captação de
água de
chuva,
captação de
águas
oriundas do
sistema de
refrigeração
e outros que
promovam a
redução
superior a
30% do
consumo de
água.
03 USO RACIONAL Parcialmente Projeto O estudo de
DA ÁGUA. atendido hidrossanitário e viabilidade
caderno de deve prever
32

Apesar de especificações com as ações de


indicar alguns todas as uso racional
equipamentos especificações dos da água,
sanitários de equipamentos entre eles a
baixo consumo, visando redução no previsão de
a proposta não consumo de água. tecnologias
atende ao de
requisito médio monitorame
da ferramenta. nto da perda
de água, uso
de
automação
nos
equipament
os sanitários
e previsão
de
tubulação
para
diversos
sistemas de
água
(potável,
reuso, cinza,
etc.),
direcionar
cada uma a
fim de zerar
perdas de
água
potável

Para o item Água aplica-se a mesma ação que foi encontrada no item Energia, ou seja, a
realização de estudos de viabilidade para que seja mensurado as melhores propostas que
atendam a edificação a ser construída.

As análises comparativas de modo geral no item B, feitas anteriormente mostram que os


problemas para implantação das medidas indicadas pela plataforma ASUS podem ser
facilmente resolvidos e aplicados nos projetos de edificações públicas. É notório que os entraves
administrativos em alguns pontos são mais complexos, mas não inviabilizam o uso da
ferramenta na busca de práticas sustentáveis em arquitetura. O projeto padrão utilizado no
momento pelo CB por hora tenta de forma inconclusiva e sem estudos de viabilidade aplicar
algumas medidas que promovam a eficiência energética na edificação, porem há necessidade
de se “profissionalizar”, usando ferramentas de avaliação e de certificação para aplicação
correta destas medidas que visem redução de consumo energético. A fase inicial da elaboração
de projetos deve sempre ser iniciadas por estudos que envolvam desde a escolha do terreno
33

onde será implantado a edificação até a manutenção da edificação pós ocupação, onde a escolha
dos materiais a serem implantados farão a diferença para que haja uma reciclagem destes em
caso de substituição, que tenham múltiplas funções na edificação e que possam ser adquiridos
nas proximidades reduzindo assim a carga energética da edificação.

No final do processo, é apresentado um quadro resumo da avaliação com os níveis de


desempenho alcançados em cada tema, as suas respectivas ponderações e a média final. Além
disso, o resultado é apresentado graficamente de duas maneiras: 1. um gráfico do tipo radar que
demonstra o nível de desempenho alcançado em cada tema; e 2. um gráfico em colunas, onde
as 6 primeiras representam a contribuição efetiva de cada tema na avaliação final, com seus
respectivos resultados ponderados, e a última coluna demonstra o resultado final da avaliação.
A partir da escala de graduação de desempenho da ferramenta, foram definidos níveis
intermediários para o resultado da avaliação do edifício. (LPP.UFES..., acessado em 05 de jul.
2020).
Figura 05: Gráfico de resultados analise do projeto original.

Fonte: Ferramenta ASUS.


Figura 06: Gráfico Radar de resultados após interferencia no Tema B.
34

Fonte: Ferramenta ASUS.

Com as aplicações da proposta modificada, foi feito uma nova análise da edificação onde estas
medidas foram pontuadas e é possível verificar nas figuras 05 e 06 esses resultados como
interferem no resultado da avaliação da edificação. A pontuação obtida pelo tema B no projeto
original foi de 0,38 (figura 05) na escala da ASUS que confere a pontuação na escala de
graduação de desempenho (quadro 1) como “Desempenho mínimo. Corresponde às normas, à
legislação ou à prática convencional” e após a aplicação das melhores práticas sustentáveis a
pontuação foi para 4,82 que aproxima da “Prática de Excelência” na escala da ASUS, como
mostra a figura 06.

As figuras 07 e 08 mostram o resultado global, onde é possível verificar que na proposta


original, figura 07, o índice obtido ficou na escala de “1 a 2” na escala de graduação,
considerado pela plataforma como um Desempenho Bom na análise da edificação. A figura 8,
após aplicação das medidas de melhoria tem uma melhora significativa no índice passando para
o resultado próximo de 3 que aproxima a edificação na escala de “Desempenho Superior”
segundo os critérios de avaliação da ASUS.
35

Figura 07: Gráfico Geral de resultados projeto original.

Fonte: Ferramenta ASUS.

Figura 08: Gráfico Geral de resultados após interferencia no Tema B.

Fonte: Ferramenta ASUS.

9 CONCLUSÃO
Os resultados encontrados na avaliação deste trabalho comprovam a eficiência do uso de
ferramentas de avaliação de sustentabilidade em edificações, sendo mais favorável na fase de
projeto que estas sejam aplicadas. Os índices obtidos pela edificação no projeto original ainda
sim configuraram a edificação em uma escala razoável e após aplicação foi verificado uma
melhora nos resultados. Algumas ações podem interferir na eficiência da edificação, como o
uso ou não dos brises a depender do local de implantação da edificação, a possibilidade de
ajustes das fachadas, invertendo quando necessário a posição da edificação ou até pensar em
ambientes modulares que podem ser alocados de acordo com o conforto ambiental que mais for
favorável.

No item Energia exposto no quadro 4 a conclusão que chegamos é que a implantação dos
estudos técnicos de viabilidade de implantação de sistemas de energia renovável já faz com a
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edificação já obtenha as melhores pontuações da tabela e a posterior aplicação configura quase


que 100% das medidas necessárias no quesito.

Para item Materiais, o quadro 5 mostra que a busca de fornecedores que trabalham com
materiais certificados e a especificação destes ainda na fase de projeto fazem com que este
quesito tenha bons índices quando avaliados na ferramenta e a posterior aplicação das medidas
conferem a edificação os melhores índices como podemos ver na figura 5 e 6.

Por fim a avaliação do quesito água segue o mesmo objetivo do item energia, dando ênfase no
uso de estudos de viabilidade na aplicação dos sistemas que poderão promover economia no
uso da água na edificação, aumento assim sua eficiência.

Diante dos resultados fica comprovado que não basta legislar a favor da obrigatoriedade de uso
de sistemas eficientes, sem que haja estudos de viabilidade que comprovem que a aplicação
pode trazer benefícios para a edificação. Apenas instalar um sistema de placas fotovoltaicas ou
de reuso de água pode trazer muitos custos e pouco retorno se não for avaliado tecnicamente
caso a caso.

A busca de eficiência energética através de práticas sustentáveis e de conservação do meio


ambiente garantem vantagens econômicas, redução nos custos de manutenção, redução dos
custos de energia e água da edificação, garantindo assim a conservação destes recursos para
gerações futuras.

Já não é de hoje que existem recursos que visam aumentar a eficiência energética na construção
civil, já que normativas começam a ser inseridas já a partir dos anos 90, porém ganharam força
na ultima década com as alterações climáticas causadas em grande parte pela ação do homem
que faz com que recursos naturais passem a torna-se escassos e insuficientes para abastecimento
da população global.

A ferramenta ASUS, desenvolvida com as condicionantes locais passa a ser uma ferramenta
importante na avaliação da sustentabilidade das edificações públicas, que mesmo não
conferindo certificação reconhecida pode ser um elemento de fomentação e busca de
certificações ambientais em nível nacional como a Procel Edifica e até internacionais como a
LEED, AQUA e outras citadas neste trabalho.

Ainda sim há necessidade de investimentos na formação de equipes técnicas e administrativas


que atuam no serviço público para que sejam estabelecidos termos de referência, contratos e
fiscalização para que possam ser alcançados resultados positivos para os indicadores de
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sustentabilidade quando se trata do tema de consumo de recursos, especialmente quando se


trada de especificação e aquisição de materiais.

Nesse contexto a ferramenta ASUS se torna uma grande aliada na busca da promoção da
sustentabilidade em edificações públicas, num cenário econômico de crise e num cenário
ambiental de aumento da emissão de poluentes e escassez de recursos hídricos que pede cada
dia mais por medidas que atenuem essas interferências causados pelo inquilino do planeta Terra.
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