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Precariedade, deemprego e proteção ocial: caminho para a deigualdade?, por Renato Miguel do Carmo e Frederico Cantante (http://oervatorio-da-
deigualdade.com/2014/06/19/precariedade-deemprego-e-protecao-ocial-caminho-para-a-deigualdade-por-renato-miguel-do-carmo-e-frederico-
cantante/)
PULICADO M 19/06/2014 (HTTP://ORVATORIO-DA-DIGUALDAD.COM/2014/06/19/PRCARIDAD-DMPRGO--PROTCAO-OCIAL-CAMINHO-PARA-A-
DIGUALDAD-POR-RNATO-MIGUL-DO-CARMO--FRDRICO-CANTANT/) ATUALIZADO M 19/06/2014 (HTTP://ORVATORIO-DA-
DIGUALDAD.COM/2014/06/19/PRCARIDAD-DMPRGO--PROTCAO-OCIAL-CAMINHO-PARA-A-DIGUALDAD-POR-RNATO-MIGUL-DO-CARMO--
FRDRICO-CANTANT/)
Por: Renato Miguel do Carmo (http://www.cie.icte.pt/invetigadore/ficha.jp?pkid=295) e Frederico Cantante (http://www.cie.icte.pt/invetigadore/ficha.jp?pkid=303)
Pretende-e nete texto promover um olhar ore a evolução da dinâmica de emprego no paíe da União uropeia num paado recente, com epecial atenção ore a
tendência regitada em Portugal dede o período anterior ao deflagrar da crie económica e financeira até ao final de 2013. Atravé da articulação entre um nível
europeu e nacional de análie deater-e-ão o proceo de precarização do emprego, de aumento do deemprego e do deemprego deprotegido e do efeito que alguma
deta dinâmica poderão etar a exercer na etrutura de ditriuição do rendimento.
Na primeira parte dete texto iremo aordar, por intermédio de dado em média anual, a evolução da dinâmica de emprego e deemprego, em como da incidência da
precariedade laoral, em Portugal e na U-27. eguidamente, analiaremo a evolução do deemprego etimado e regitado em Portugal no último ano, do fenómeno da
inatividade deencorajada e da deproteção do deempregado. Na terceira parte, eoçamo uma análie exploratória em torno da correlação exitente entre a deigualdade de
rendimento e indicadore de precariedade laoral e deemprego.
mprego, deemprego e precariedade
ntre 2008 e 2012 a economia portuguea perdeu 522,8 mil emprego, o que ignifica uma redução de 10,7%[1]. No que diz repeito à taxa de emprego verifica-e que Portugal
apreenta até 2008 um valor que e cifra muito próximo do 70%, ituando-e empre acima da média europeia (U-27). A partir dete ano a percentagem dece conecutivamente
até 61,8% em 2012. Tem de e recuar até 1987 para e encontrar um valor imilar (62,8%). É claro que, em parte, eta detruição de emprego etá relacionada com o aumento
ignificativo da taxa de deemprego em Portugal para valore verdadeiramente excecionai, atingindo em 2012 a média anual de 16,4%, egundo o cálculo do urotat[2].
Apear do valor médio do deemprego ter ofrido um aumento muito ignificativo, eta ituação teve impacto redorado na população mai jovem, onde e verifica uma inverão
completa do valore e tendência anteriore. A Figura 2 é a ete nível muito intomática. m 2000 o deemprego jovem etava aaixo do 10% e a taxa de emprego ituava-e acima
do 40%, no último ano eta percentagen invertem-e quae completamente, atingindo o 37,7% de deemprego e o 23,6% na taxa de emprego. Trata-e de uma reconfiguração
tremenda que ocorre em pouco meno de uma década e que repreenta uma da conequência ociai mai vincada da atual crie económico-financeira, ma que tamém advém
do facto de etarem mai joven a etudar.
Para além do cuto ociai aociado ao deemprego, exitem outra dimenõe relacionada com a precariedade laoral que contriuem deciivamente para a intenificação da
vulnerailidade ocial. A precariedade é um fenómeno complexo difícil de medir a partir de un pouco indicadore etatítico produzido pelo intituto de etatítica nacionai
e internacionai. De qualquer modo, apear de coniderar que e trata de uma aordagem muito incompleta, iremo analiar doi indicadore reveladore da ituaçõe mai
periclitante do ponto de vita da etailidade laoral.
O primeiro tem a ver com a ituação contratual. m Portugal a contratação a termo arange cerca de 20,7% do empregado, rondando a média europeia o 13,7%. Outro dado
preocupante em relação à precariedade laoral advém do facto de em cerca de 87,2% do traalhadore a contração a termo não reulta de uma opção voluntária, valor muito acima
da média europeia (60,8%). Nete entido, uma larga maioria do traalhadore contratado a termo em Portugal encontram-e involuntariamente nea ituação.
A outra dimenão que iremo aordar relaciona-e com o carácter involuntário do traalho a tempo parcial. ó por i o traalho a tempo parcial pode não ignificar uma ituação de
precariedade laoral e eta for reultado de uma decião voluntária, como acontece em muito itema e mercado de traalho onde tal é atante comum, deignadamente no
paíe do centro e do norte da uropa. m Portugal o nível de traalho a tempo parcial não ó empre foi relativamente aixo (apena 12 % em 2012, enquanto a média da U-27 e
cifra no 19%[3]), como etá normalmente aociado a ituaçõe laorai mai vulnerávei.
m Portugal cerca de 47,9% do empregado que exercem traalho a tempo parcial fazem-no involuntariamente, enquanto na média na uropa a percentagem é de 27,6% (em 2012).
Ito é, metade dete empregado gotaria de traalhar a tempo inteiro.
É comum falar-e na upota rigidez de mercado de traalho em Portugal. No entanto eta tee é em parte dementida pelo nível de contratação a termo verificada no noo paí, a
qual ultrapaa largamente a média europeia. Contata-e, imultaneamente, que é tamém em Portugal que a proporção de empregado a termo e/ou a tempo parcial de forma
involuntária atinge uma maior expreão.
Deemprego e deproteção ocial
Uma da conequência ociai mai pungente que reultou da crie financeira e económica atual é o deemprego e a detruição de emprego. A crie financeira e económica que
teve como epicentro o tado Unido e encontrou na falência do Lehman rother, em etemro de 2008, o eu ímolo emlemático, traduziu-e rapidamente no crecimento do
deemprego em Portugal e noutro paíe europeu. A conequência ociai do aumento dete indicador dependem em grande medida da forma como o itema de proteção
ocial o enquadram, do alcance do denominado “etailizadore automático”. Tal como e demontrará a eguir, o rato de detruição de emprego que ocorreu no último ano
em Portugal foi compenado de forma inuficiente pelo canai de proteção ocial previto no itema, o que ignifica que uma parte utancial da população deempregada
enfrentou e continua a enfrentar ituaçõe de precariedade laoral e provaçõe materiai aguda. Procurar-e-á fazer a eguir uma íntee da evolução trimetral do deemprego em
Portugal e evidenciar a dimenão crecente do número de deempregado deprotegido e da neceária vulnerailização de condiçõe de exitência que ea realidade implica para
centena de milhare de traalhadore.
O deemprego em Portugal no pó-crie
A Figura 4 apreenta informação para o número de deempregado etimado pelo IN atravé do Inquérito ao mprego e do deempregado regitado no IFP, entre o 1º
trimetre de 2007 e o 4º trimetre de 2013. Como o dado do Inquérito ao mprego ão referente ao trimetre e o do IFP ão contailizado menalmente, utilizaram-e o
valore do deemprego regitado pelo IFP referente ao último mê de cada trimetre (Março, Junho, etemro e Dezemro). Uma primeira concluão que é poível retirar da
oervação da figura prende-e com a diminuição do deemprego etimado e regitado ao longo do ano de 2007 e na primeira metade de 2008. A partir daí até ao primeiro trimetre
de 2010, aitiu-e a um aumento continuado do número de deempregado: de cerca de 410 mil para 592 mil no cao do deemprego etimado (taxa de variação de 44,5%) e de cerca
de 382 mil para 572 mil, no que concerne ao deemprego regitado (taxa de variação de 49,5%). Uma da hipótee que e poderiam avançar para explicar a contenção do aumento
dete indicadore verificada no egundo trimetre de 2010 prende-e com o etímulo económico do tado à atividade económica levado a cao a partir de 2009, no quadro
daquilo que eram na época a orientaçõe europeia para comater o poível alatramento da crie financeira a toda a economia. No trimetre eguinte a tendência de
evolução do deemprego etimado e do regitado não confluíram: aquele aumentou no 3º trimetre de 2010, enquanto ete manteve-e relativamente etailizado até ao 2º trimetre
de 2011. É nee período que e introduzem o primeiro pacote de auteridade em Portugal (PC’), enquanto que, no plano europeu, a crie da dívida do ector privado alarga-e
e tranmuta-e na crie da dívida oerana, em particular a crie da dívida do tado grego e poteriormente do irlandê. O 3º trimetre de 2011 marca o início do aumento agudo
do número de deempregado em Portugal e coincide com a entrada da Troika no paí em como com a aplicação do denominado plano de ajutamento ao ector púlico e privado.
ntre o 2º trimetre de 2011 e o 1º trimetre de 2013, o deemprego etimado e regitado aumentou cerca de 41% – mai 277 mil e 216 mil deempregado. Até ao final do ano de 2013
o dado do IN apontam para uma diminuição do número de deempregado exitente em Portugal, enquanto que no dado do IFP ea tendência não encontra
correpondência no último mee do ano – entre etemro de Dezemro o número de incrito aumentou 5%.
O aumento do número de deempregado traduziu-e numa uida utancial da taxa de deemprego no período em análie: de 7,3% no egundo trimetre de 2008 para 17,7% no
primerio trimetre de 2013, diminuindo para 15,3% no final dee ano. ta decida é atante ignificativa, ma não encontra ae de utentação no indicadore de performance
macroeconómica do paí e de emprego: o PI anual diminui 1,4% em volume face a 2012 (apear do aumento homólogo de 1,7% verificado no 4º trimetre) (IN, 2014a) e a população
empregada regitou um recuo médio anual de 2,6% (meno 121,2 mil peoa empregada) (IN, 2014).
A explicação para eta diminuição decorre de outro factore, em particular da emigração, do aumento do uemprego e do número de deempregado que deixaram de procurar
traalho – e que, por io, ão coniderado inactivo. O IN diponiilizou até 2012 informação acerca do “inactivo deencorajado”, ito é, traalhadore que emora etiveem
diponívei para traalhar conideravam que não tinham idade apropriada, intrução uficiente, não aiam como procurar, achavam que não valia a pena procurar e que não havia
emprego diponívei. Apear do fundamento do deencorajamento erem variado, a aunção da inexitência de traalho diponível ou do cariz infrutífero da procura de
traalho ão o apecto fundamentai dete fenómeno. A Figura 5 permite viualizar a evolução da proporção de deencorajado face à população deempregada. Até ao 4º
trimetre de 2010 o valor dete indicador ocila, ma não ó a amplitude dea variação é aixa como o valor do indicador tende a diminuir. Nee período o número de inactivo
deencorajado repreentava 5,5% do número de deempregado em Portugal. A partir daí verificou-e um aumento acentuado do valor dete indicador, que no final do ano de 2012
atingiu o 13%, ou eja, 121 mil indivíduo.
O facto de a categoria etatítica de “inactivo deencorajado” ignificar, quae empre, uma ituação de deemprego de facto encoraja a curioidade analítica a calcular uma taxa de
deemprego ajutada a ee fenómeno. O indivíduo que integram eta categoria paam, nete cálculo, a integrar a população activa e deempregada. Até 2010 a diferença entre a
taxa de deemprego formal e a ajutada é no máximo de 0,6 ponto percentuai. A partir daí ee hiato aprofunda-e devido ao aumento ignificativo do número de deencorajado.
No 3º trimetre de 2011 ea diferença é já uperior a um ponto percentual e no final de 2012 é de quae doi ponto percentuai – nete último período a população deempregada e
deencorajada é já uperior a um milhão de indivíduo.
De paí com taxa de deemprego comparativamente aixa no univero do paíe europeu no ano 90 do éculo paado e no início de 2000, Portugal urge agora como um do
que apreenta para ee indicador valore mai elevado. O fenómeno do deemprego é particularmente inteno junto da camada mai joven da população, ultrapaando o 35%,
e tende a ter uma incidência temporal atante longa. Veja-e a ete propóito que mai de metade da população deempregada em Portugal encontra-e nea ituação há mai de
um ano. Apear de a incidência do deemprego er uperior na camada etária mai joven, o deemprego de longa duração tende a aumentar com a idade: no 4º trimetre de 2013,
38,1% do deempregado com idade entre o 15-24 encontravam-e nea ituação há mai de 12 mee, endo que o valor dee indicador é de 57,8%, 69,9% e 73,5% no grupo
etário do 25-49 ano, 40-59 ano e 50-64 ano, repetivamente. O deemprego jovem e o peo relativo do deemprego de longa duração (em epecial no grupo etário mai velho)
ão dua concretizaçõe particularmente gravoa do fenómeno mai geral do deemprego em Portugal. Um terceiro apeto que importa ulinhar, e que e articula com a
tendência mencionada, prende-e com o deemprego deprotegido.
O aumento do deemprego deprotegido
O itema de proteção ocial no deempego em Portugal aeia-e em vária pretaçõe monetária: o uídio de deemprego, o uídio ocial de deemprego inicial, o uídio
ocial de deemprego uequente e o rendimento ocial de inerção – ete último vocacionado para outro eneficiário que não apena o deempregado[4]. O uídio de
deemprego tem uma natureza contriutiva, de eguro, enquanto que o uídio ocial de deemprego inicial e o uequente tem uma natureza mita: dependem ao memo tempo
de contriuiçõe (ma com prazo de garantia mai reduzido do que o uídio de deemprego), ma tamém de condiçõe de recuro. O RI, por eu lado, é uma pretação ocial
cuja elegiilidade do eu eneficiário depende de condiçõe de recuro.
Uma análie atenta ore a evolução do número de deempregado que não receem qualquer uídio de deemprego demontra que o nível de deproteção no deemprego
aumentou de forma rutal no último ano. No doi primeiro ano da érie apreentada na Figura 7, ete indicador tem uma evolução etável: o número de deempregado que
não receiam qualquer uídio de deemprego era, nee período, de cerca de 175 mil (deemprego etimado) e um pouco meno de acordo com o dado referente ao deemprego
regitado. A partir daí, e com o aumento do número de deempregado, a deproteção no deemprego conheceu um crecimento ignificativo. No final de 2013, o número de
deempregado que não eneficiavam de qualquer pretação de deemprego era de cerca 450 mil (dado do IN) e de 358 mil (dado do IFP). Comparando a evolução dete
indicador entre o 4º trimetre de 2008 (início da crie) e o período homólogo de 2013, verifica-e que o número de deempregado etimado pelo IN que não receem qualquer
uídio de deemprego aumentou cerca de 157%, enquanto o número referente ao deemprego regitado apontam para um aumento de cerca de 133%.
O fenómeno de aumento do número de deempregado que não receem qualquer uídio de deemprego pode tamém er analiado a partir da proporção de deempregado que
e encontram nea ituação. Tal como é indicado por Pedro Adão e ilva e Mariana Trigo Pereira (2012), o deemprego deprotegido era atante elevado no início da década de
1990, ma no início da década de 2000 o “rácio de proteção” atingia já valore acima do 80% – ou eja, meno de 20% do deempregado não eneficiavam de uídio de
deemprego. O dado apreentado na Figura 8 demontram que no período anterior ao início da crie, o rácio de deprotecção da população deempregada era já atante mai
elevado face ao verificado no início da década. Contudo, é a partir de meado de 2010 que ete fenómeno aumenta de forma mai vincada. A partir do último trimetre dee ano até
ao final de 2013, verifica-e que mai de metade do número de deempregado etimado pelo IN não recee qualquer uídio de deemprego, fixando-e ete indicador no último
período em 54,4%. m relação ao valor dete rácio a partir do dado para o deemprego regitado, contata-e que no final do ano de 2013 é próximo de 50%.
A explicação para o aumento do deemprego deprotegido deve er procurada não ó na análie da política púlica de proteção no deemprego, ma oretudo na própria
dinâmica do mercado de traalho. m relação a eta egunda quetão, o deemprego jovem e de longa duração, atrá ulinhado, ajudam a compreender, pelo meno em parte, a
evolução crecente do deemprego deprotegido. No cao do joven, o aceo à pretaçõe de deemprego é dificultado pela incapacidade para e preencher o prazo de garantia
neceário. Tal como é indicado por Adão e ilva e Trigo Pereira (2012), o aumento da precarização da relaçõe laorai, que afeta oretudo (ma não ó) ete grupo etário, tem-
e traduzido em trajeto de emprego decontínuo e informai que impoiilitam, muita veze, que o prazo de garantia de aceo ao uídio de deemprego poam er
cumprido. Quanto ao deemprego de longa duração, o efeito óvio que exerce ore a deproteção no deemprego decorre da expiração do direito à pretaçõe de deemprego.
A diminuição do rácio de deempregado com aceo a uídio de deemprego num contexto de aumento do deemprego apó o epoletar da crie em 2008, poderia, em tee,
implicar que outro “etailizadore automático” foem ativado – em particular o RI. A figura eguinte indicam, contudo, que eta hipótee não encontra utentação na
evidência empírica. A Figura 9 demontra que o número de eneficiário de RI tem vindo a diminuir dede o início de 2010, período no qual (nomeadamente até ao 1º trimetre de
2013) houve um aumento acentuado do deemprego deprotegido.
A figura eguinte complementa a evidência apreentada. Nela é poível oervar que o número de eneficiário de RI começou a diminuir enivelmente no memo período que
marca o início do aumento da proporção de deempregado deprotegido (em particular, o 2º trimetre de 2010). Apó 2011, enquanto a proporção de deempregado deprotegido
conheceu uma relativa etailização (acima do 50%, tal como foi mencionado), o número de eneficiário de RI tendeu a decrecer.
O facto de o número de eneficiário de RI não ter acompanhado a tendência de aumento do deemprego deprotegido decorrerá do facto de grande parte do deempregado que
não receem qualquer uídio de deemprego integrarem agregado domético cujo rendimento agregado etá acima do valor máximo previto para a atriuição dea pretação.
No cao do joven ea realidade implicará uma protelação da etadia em caa do pai e o adiamento de um conjunto de projeto peoai, nomeadamente familiare (Alve e
outro, 2011). m relação à populaçõe mai velha, que têm muita veze de fazer face a ituaçõe de deemprego ou precaridade laoral do eu filho, o deemprego de um do
cônjuge ou adulto do agregado aproxima o eu elemento do limiar de poreza – memo que tal não poiilite o aceo a uma pretação como o RI, tipicamente calirada para
fazer face a ituaçõe de rico de poreza intena.
Precariedade, deemprego e deigualdade de rendimento
A precaridade laoral e o deemprego ão prolema ociai em i memo, no entido em que condicionam a condiçõe materiai de exitência do indivíduo que a experienciam
e o eu em-etar ujetivo. Ma até que ponto ee fenómeno poderão ter conequência mai vata, nomeadamente ao nível do proceo de produção de deigualdade
económica? Levar-e-á a cao nete ponto uma análie exploratória deta hipotética correlaçõe. Para tal, utilizaremo uma medida de deigualdade que etaelece um rácio
entre o rendimento diponível do 20% mai rico e o do 20% mai pore (80/20)[5]. Por intermédio de regreõe imple iremo tetar a exitência ou não de correlaçõe
etatiticamente ignificativa entre a deigualdade de rendimento exitente no paíe da U-28, Noruega e Ilândia, indicadore de precariedade laoral e a taxa de deemprego
anual, tendo o ano de 2011 como referência.
ta análie é meramente exploratória e aume a limitaçõe metodológica em que e aeia. Por um lado, a correlação entre doi indicadore ou medida etatítica pode, e
muita veze é, influenciada por facto e proceo ociai “exteriore” à variávei convocada para a regreão. A correlação entre dua variávei nunca é, portanto, linear, poi cada
uma dela é produzida num quadro ocial, político e intitucional mai vato e multidimenional. Por outro lado, eta correlação aocia indicadore que têm unidade de análie
diferente. mora o dado ore deigualdade de rendimento e refiram à ditriuição dee recuro entre indivíduo, o agregado domético erve como unidade de referência a
partir da qual e calcula o rendimento individual (por adulto equivalente). Por eu lado, o indicadore de precariedade laoral dizem apena repeito ao indivíduo.
m relação à precariedade laoral, utilizaram-e trê indicadore ditinto: a percentagem de traalhadore contratado a termo, a percentagem de contratado a termo
involuntário (traalhadore que gotariam de ter outro tipo de contrato) e a percentagem de traalhadore que traalham involuntariamente a tempo parcial (gotariam de
traalhar mai hora). Curioamente em cada uma dea correlaçõe deparamo-no com configuraçõe muito ditinta. No que diz repeito à contratação a termo, oerva-e a
inexitência de qualquer correlação ignificativa, ou eja, não exite uma relação linear entre a incidência da contratação a termo e a deigualdade de rendimento (não e inclui a
figura no texto). No entanto, e atentarmo no traalhadore que e encontram numa ituação a termo de forma involuntária (por não coneguirem traalho em termo),
oervamo uma alteração relevante face à configuração da regreão. Na verdade, emergem entre o paíe da uropa pelo meno dua realidade em ditinta: no paíe mai
deiguai a relação entre a deigualdade e a não voluntariedade da contratação a termo apreenta-e de forma vincada; já no paíe meno deiguai ea correlação parece er
inexitente.
Quando e convoca para a análie a incidência do traalho a tempo parcial involuntário, o nível de correlação com a deigualdade económica aumenta ignificativamente. Ou eja, o
paíe no quai o emprego a tempo parcial involuntário etá comparativamente mai generalizado tendem a er o que apreentam nívei de deigualdade de rendimento mai
elevada. A Figura 12 é a ete nível atante ilutrativa.
Quanto à correlação exitente entre a taxa de deemprego e a deigualdade de rendimento, verifica-e que a ua intenidade é tamém elevada. Paíe como a panha, a Grécia, a
Letónia, a Lituânia e Portugal, que apreentam nívei de deemprego atante acima do verificado em termo médio no paíe da U, ão tamém o que têm nívei de
deigualdade de rendimento interna mai elevado. Inveramente, o paíe que têm taxa de deemprego mai aixa tendem a apreentar o menore nívei de deigualdade de
rendimento.
Concluão
Apear do cariz exploratório da aordagem realizada na ecção anterior, importará não negligenciar o efeito que o deemprego e a precariedade laoral podem exercer ore a
etrutura de ditriuição interna do rendimento. Carlo Farinha Rodrigue, Rita Figueira e Vítor Junqueira (2012) demontraram que o mercado de traalho em Portugal tem
funcionado como um cataliador do aumento da deigualdade na última década. O hiato entre o mai em remunerado e o traalhadore que ocupam a ae da ditriuição
acentuou-e até 2009. Tal decorreu em grande medida do aumento acentuado da parte do rendimento do traalhadore que e poicionam na parte uperior da hierarquia do
alário. Ma até que ponto a crie económica e de emprego do último ano poderá etar a aumir-e como um novo polo de agravamento da deigualdade económica? m
Portugal, o aumento do deemprego, nomeadamente do deemprego deprotegido, ma tamém de ituaçõe mai ou meno próxima de uemprego, parece etar a aumir-e
como um canal gerador de deigualdade de rendimento pela excluão da participação (plena) no mercado de traalho. No cao portuguê, ea excluão laoral tem vindo a
acumular-e com a excluão do itema de proteção ocial de uma parte crecente da população deempregada, o que implica uma pauperização aguda da ua condiçõe materiai
e ujetiva de exitência.
O dado da mai recente vaga do Inquérito à Condiçõe de Vida e Rendimento apontam para um aumento da deigualdade exitente entre a parte uperior e a parte inferior da
ditriuição do rendimento, entre 2011 e 2012, tendência já verificada em 2010 (IN, 2014c). Tal deve-e, em grande medida, à perda de rendimento do grupo que formam a ae
da ditriuição do recuro económico. A incidência da poreza aumentou e o limiar de poreza pauperizou-e.
Cerca de 40% da população deempregada etava, nee ano, numa ituação de rico de poreza relativa (mai 1,9 p.p. face a 2011). A análie do efeito da política de auteridade
ore a ditriuição do rendimento diponível não pode alhear-e da conequência que a mema exercem ore o mercado de traalho. Ao etimar que Portugal foi um do
ore a ditriuição do rendimento diponível não pode alhear-e da conequência que a mema exercem ore o mercado de traalho. Ao etimar que Portugal foi um do
paíe em que a política de auteridade foram mai progreiva, o etudo do FMI “Fical polic and income inequalit” (IMF, 2014) ignora ete memo facto. parece ignorar
tamém que o aumento da depea ociai foi inuficiente em relação à dimenão da neceidade de proteção ocial decorrente da crie económica e do aumento rutal do
deemprego. nquanto o deemprego aumentou dua veze mai em Portugal do que na média do paíe da OCD, o recuro adicionai alocada à depea ociai
repreentaram apena 1/3 da média regitada no paíe dea organização (OCD, 2014).
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iliografia
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Texto ae apreentado no colóquio “Convera ore a Oficina de egurança ocial no âmito do Oervatório ore Crie e Alternativa / C”, realizado a 25 de Março de 2014,
na Fundação Caloute Gulenkian.
[1] Conidera-e a população empregada com idade compreendida entre o 15 e o 64 ano.
[2] A taxa deemprego mede o peo da população deempregada ore o total da população ativa; a taxa de emprego permite definir a relação entre a população empregada e a
população entre o 15 e 64 ano.
[3] Referimo-no a empregado entre o 15 e o 64 ano.
[4] xite ainda o prolongamento do uídio ocial de deemprego, cujo número de eneficiário é irrelevante.
[5] Rácio 80/20 é um indicador de deigualdade na ditriuição do rendimento, definido como o rácio entre a proporção do rendimento total receido pelo 20% da população com
maiore rendimento (quintil 5) e a parte do rendimento auferido pelo 20% de menore rendimento (quintil 1). O indicadore de deigualdade e de poreza ão produzido a partir
do reultado do Inquérito à Condiçõe de Vida e Rendimento da Família (U-ILC). Apear de er aplicado anualmente, o dado recolhido referem-e ao ano tranato à
aplicação (ou eja, nete cao referem-e a 2011).
_______________
Como citar ete artigo:
Carmo, Renato Miguel, Frederico Cantante (2014), “Precariedade, deemprego e proteção ocial: caminho para a deigualdade?”, Oervatório da Deigualdade, ICT-IUL, CI-
IUL. http://wp.me/p4h6tu-m3
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