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Precariedade, deemprego e proteção ocial: caminho para a deigualdade?, por Renato Miguel do Carmo e Frederico Cantante (http://oervatorio-da-
deigualdade.com/2014/06/19/precariedade-deemprego-e-protecao-ocial-caminho-para-a-deigualdade-por-renato-miguel-do-carmo-e-frederico-
cantante/)
PULICADO M 19/06/2014 (HTTP://ORVATORIO-DA-DIGUALDAD.COM/2014/06/19/PRCARIDAD-DMPRGO--PROTCAO-OCIAL-CAMINHO-PARA-A-
DIGUALDAD-POR-RNATO-MIGUL-DO-CARMO--FRDRICO-CANTANT/)   ATUALIZADO M 19/06/2014 (HTTP://ORVATORIO-DA-
DIGUALDAD.COM/2014/06/19/PRCARIDAD-DMPRGO--PROTCAO-OCIAL-CAMINHO-PARA-A-DIGUALDAD-POR-RNATO-MIGUL-DO-CARMO--
FRDRICO-CANTANT/)

Por: Renato Miguel do Carmo (http://www.cie.icte.pt/invetigadore/ficha.jp?pkid=295) e Frederico Cantante (http://www.cie.icte.pt/invetigadore/ficha.jp?pkid=303) 

Pretende-e nete texto promover um olhar ore a evolução da dinâmica de emprego no paíe da União uropeia num paado recente, com epecial atenção ore a
tendência  regitada  em  Portugal  dede  o  período  anterior  ao  deflagrar  da  crie  económica  e  financeira  até  ao  final  de  2013.  Atravé  da  articulação  entre  um  nível
europeu e nacional de análie deater-e-ão o proceo de precarização do emprego, de aumento do deemprego e do deemprego deprotegido e do efeito que alguma
deta dinâmica poderão etar a exercer na etrutura de ditriuição do rendimento.

Na  primeira  parte  dete  texto  iremo  aordar,  por  intermédio  de  dado  em  média  anual,  a  evolução  da  dinâmica  de  emprego  e  deemprego,  em  como  da  incidência  da
precariedade  laoral,  em  Portugal  e  na  U-27.  eguidamente,  analiaremo  a  evolução  do  deemprego  etimado  e  regitado  em  Portugal  no  último  ano,  do  fenómeno  da
inatividade deencorajada e da deproteção do deempregado. Na terceira parte, eoçamo uma análie exploratória em torno da correlação exitente entre a deigualdade de
rendimento e indicadore de precariedade laoral e deemprego.   

mprego, deemprego e precariedade

ntre  2008  e  2012  a  economia  portuguea  perdeu  522,8  mil  emprego,  o  que  ignifica  uma  redução  de  10,7%[1].  No  que  diz  repeito  à  taxa  de  emprego  verifica-e  que  Portugal
apreenta até 2008 um valor que e cifra muito próximo do 70%, ituando-e empre acima da média europeia (U-27). A partir dete ano a percentagem dece conecutivamente
até  61,8%  em  2012.  Tem  de  e  recuar  até  1987  para  e  encontrar  um  valor  imilar  (62,8%).  É  claro  que,  em  parte,  eta  detruição  de  emprego  etá  relacionada  com  o  aumento
ignificativo da taxa de deemprego em Portugal para valore verdadeiramente excecionai, atingindo em 2012 a média anual de 16,4%, egundo o cálculo do urotat[2].

Apear do valor médio do deemprego ter ofrido um aumento muito ignificativo, eta ituação teve impacto redorado na população mai jovem, onde e verifica uma inverão
completa do valore e tendência anteriore. A Figura 2 é a ete nível muito intomática. m 2000 o deemprego jovem etava aaixo do 10% e a taxa de emprego ituava-e acima
do 40%, no último ano eta percentagen invertem-e quae completamente, atingindo o 37,7% de deemprego e o 23,6% na taxa de emprego. Trata-e de uma reconfiguração
tremenda que ocorre em pouco meno de uma década e que repreenta uma da conequência ociai mai vincada da atual crie económico-financeira, ma que tamém advém
do facto de etarem mai joven a etudar. 

 
Para além do cuto ociai aociado ao deemprego, exitem outra dimenõe relacionada com a precariedade laoral que contriuem deciivamente para a intenificação da
vulnerailidade ocial. A precariedade é um fenómeno complexo difícil de medir a partir de un pouco indicadore etatítico produzido pelo intituto de etatítica nacionai
e  internacionai.  De  qualquer  modo,  apear  de  coniderar  que  e  trata  de  uma  aordagem  muito  incompleta,  iremo  analiar  doi  indicadore  reveladore  da  ituaçõe  mai
periclitante do ponto de vita da etailidade laoral. 

O  primeiro  tem  a  ver  com  a  ituação  contratual.  m  Portugal  a  contratação  a  termo  arange  cerca  de  20,7%  do  empregado,  rondando  a  média  europeia  o  13,7%.  Outro  dado
preocupante em relação à precariedade laoral advém do facto de em cerca de 87,2% do traalhadore a contração a termo não reulta de uma opção voluntária, valor muito acima
da média europeia (60,8%). Nete entido, uma larga maioria do traalhadore contratado a termo em Portugal encontram-e involuntariamente nea ituação.  

A outra dimenão que iremo aordar relaciona-e com o carácter involuntário do traalho a tempo parcial. ó por i o traalho a tempo parcial pode não ignificar uma ituação de
precariedade laoral e eta for reultado de uma decião voluntária, como acontece em muito itema e mercado de traalho onde tal é atante comum, deignadamente no
paíe do centro e do norte da uropa. m Portugal o nível de traalho a tempo parcial não ó empre foi relativamente aixo (apena 12 % em 2012, enquanto a média da U-27 e
cifra no 19%[3]), como etá normalmente aociado a ituaçõe laorai mai vulnerávei.

m Portugal cerca de 47,9% do empregado que exercem traalho a tempo parcial fazem-no involuntariamente, enquanto na média na uropa a percentagem é de 27,6% (em 2012).
Ito é, metade dete empregado gotaria de traalhar a tempo inteiro.

É comum falar-e na upota rigidez de mercado de traalho em Portugal. No entanto eta tee é em parte dementida pelo nível de contratação a termo verificada no noo paí,  a
qual ultrapaa largamente a média europeia. Contata-e, imultaneamente, que é tamém em Portugal que a proporção de empregado a termo e/ou a tempo parcial de forma
involuntária atinge uma maior expreão. 

Deemprego e deproteção ocial

Uma da conequência ociai mai pungente que reultou da crie financeira e económica atual é o deemprego e a detruição de emprego. A crie financeira e económica que
teve como epicentro o tado Unido e encontrou na falência do Lehman rother, em etemro de 2008, o eu ímolo emlemático, traduziu-e rapidamente no crecimento do
deemprego em Portugal e noutro paíe europeu. A conequência ociai do aumento dete indicador dependem em grande medida da forma como o itema de proteção
ocial o enquadram, do alcance do denominado “etailizadore automático”. Tal como e demontrará a eguir, o rato de detruição de emprego que ocorreu no último ano
em  Portugal  foi  compenado  de  forma  inuficiente  pelo  canai  de  proteção  ocial  previto  no  itema,  o  que  ignifica  que  uma  parte  utancial  da  população  deempregada
enfrentou e continua a enfrentar ituaçõe de precariedade laoral e provaçõe materiai aguda. Procurar-e-á fazer a eguir uma íntee da evolução trimetral do deemprego em
Portugal e evidenciar a dimenão crecente do número de deempregado deprotegido e da neceária vulnerailização de condiçõe de exitência que ea realidade implica para
centena de milhare de traalhadore.

O deemprego em Portugal no pó-crie

A  Figura  4  apreenta  informação  para  o  número  de  deempregado  etimado  pelo  IN  atravé  do  Inquérito  ao  mprego  e  do  deempregado  regitado  no  IFP,  entre  o  1º
trimetre  de  2007  e  o  4º  trimetre  de  2013.  Como  o  dado  do  Inquérito  ao  mprego  ão  referente  ao  trimetre  e  o  do  IFP  ão  contailizado  menalmente,  utilizaram-e  o
valore do deemprego regitado pelo IFP referente ao último mê de cada trimetre (Março, Junho, etemro e Dezemro). Uma primeira concluão que é poível retirar da
oervação da figura prende-e com a diminuição do deemprego etimado e regitado ao longo do ano de 2007 e na primeira metade de 2008. A partir daí até ao primeiro trimetre
de 2010, aitiu-e a um aumento continuado do número de deempregado: de cerca de 410 mil para 592 mil no cao do deemprego etimado (taxa de variação de 44,5%) e de cerca
de 382 mil para 572 mil, no que concerne ao deemprego regitado (taxa de variação de 49,5%). Uma da hipótee que e poderiam avançar para explicar a contenção do aumento
dete indicadore verificada no egundo trimetre de 2010 prende-e com o etímulo económico do tado à atividade económica levado a cao a partir de 2009, no quadro
daquilo  que  eram  na  época  a  orientaçõe  europeia  para  comater  o  poível  alatramento  da  crie  financeira  a  toda  a  economia.  No  trimetre  eguinte  a  tendência  de
evolução do deemprego etimado e do regitado não confluíram: aquele aumentou no 3º trimetre de 2010, enquanto ete manteve-e relativamente etailizado até ao 2º trimetre
de 2011. É nee período que e introduzem o primeiro pacote de auteridade em Portugal (PC’), enquanto que, no plano europeu, a crie da dívida do ector privado alarga-e
e tranmuta-e na crie da dívida oerana, em particular a crie da dívida do tado grego e poteriormente do irlandê. O 3º trimetre de 2011 marca o início do aumento agudo
do número de deempregado em Portugal e coincide com a entrada da Troika no paí em como com a aplicação do denominado plano de ajutamento ao ector púlico e privado.
ntre o 2º trimetre de 2011 e o 1º trimetre de 2013, o deemprego etimado e regitado aumentou cerca de 41% – mai 277 mil e 216 mil deempregado. Até ao final do ano de 2013
o  dado  do  IN  apontam  para  uma  diminuição  do  número  de  deempregado  exitente  em  Portugal,  enquanto  que  no  dado  do  IFP  ea  tendência  não  encontra
correpondência no último mee do ano – entre etemro de Dezemro o número de incrito aumentou 5%.
O aumento do número de deempregado traduziu-e numa uida utancial da taxa de deemprego no período em análie: de 7,3% no egundo trimetre de 2008 para 17,7% no
primerio trimetre de 2013, diminuindo para 15,3% no final dee ano. ta decida é atante ignificativa, ma não encontra ae de utentação no indicadore de performance
macroeconómica do paí e de emprego: o PI anual diminui 1,4% em volume face a 2012 (apear do aumento homólogo de 1,7% verificado no 4º trimetre) (IN, 2014a) e a população
empregada regitou um recuo médio anual de 2,6% (meno 121,2 mil peoa empregada) (IN, 2014).

A explicação para eta diminuição decorre de outro factore, em particular da emigração, do aumento do uemprego e do número de deempregado que deixaram de procurar
traalho – e que, por io, ão coniderado inactivo. O IN diponiilizou até 2012 informação acerca do “inactivo deencorajado”, ito é, traalhadore que emora etiveem
diponívei para traalhar conideravam que não tinham idade apropriada, intrução uficiente, não aiam como procurar, achavam que não valia a pena procurar e que não havia
emprego  diponívei.  Apear  do  fundamento  do  deencorajamento  erem  variado,  a  aunção  da  inexitência  de  traalho  diponível  ou  do  cariz  infrutífero  da  procura  de
traalho  ão  o  apecto  fundamentai  dete  fenómeno.  A  Figura  5  permite  viualizar  a  evolução  da  proporção  de  deencorajado  face  à  população  deempregada.  Até  ao  4º
trimetre de 2010 o valor dete indicador ocila, ma não ó a amplitude dea variação é aixa como o valor do indicador tende a diminuir. Nee período o número de inactivo
deencorajado repreentava 5,5% do número de deempregado em Portugal. A partir daí verificou-e um aumento acentuado do valor dete indicador, que no final do ano de 2012
atingiu o 13%, ou eja, 121 mil indivíduo.

O facto de a categoria etatítica de “inactivo deencorajado” ignificar, quae empre, uma ituação de deemprego de facto encoraja a curioidade analítica a calcular uma taxa de
deemprego ajutada a ee fenómeno. O indivíduo que integram eta categoria paam, nete cálculo, a integrar a população activa e deempregada. Até 2010 a diferença entre a
taxa de deemprego formal e a ajutada é no máximo de 0,6 ponto percentuai. A partir daí ee hiato aprofunda-e devido ao aumento ignificativo do número de deencorajado.
No 3º trimetre de 2011 ea diferença é já uperior a um ponto percentual e no final de 2012 é de quae doi ponto percentuai – nete último período a população deempregada e
deencorajada é já uperior a um milhão de indivíduo.   

De paí com taxa de deemprego comparativamente aixa no univero do paíe europeu no ano 90 do éculo paado e no início de 2000, Portugal urge agora como um do
que apreenta para ee indicador valore mai elevado. O fenómeno do deemprego é particularmente inteno junto da camada mai joven da população, ultrapaando o 35%,
e tende a ter uma incidência temporal atante longa. Veja-e a ete propóito que mai de metade da população deempregada em Portugal encontra-e nea ituação há mai de
um ano. Apear de a incidência do deemprego er uperior na camada etária mai joven, o deemprego de longa duração tende a aumentar com a idade: no 4º trimetre de 2013,
38,1%  do  deempregado  com  idade  entre  o  15-24  encontravam-e  nea  ituação  há  mai  de  12  mee,  endo  que  o  valor  dee  indicador  é  de  57,8%,  69,9%  e  73,5%  no  grupo
etário do 25-49 ano, 40-59 ano e 50-64 ano, repetivamente. O deemprego jovem e o peo relativo do deemprego de longa duração (em epecial no grupo etário mai velho)
ão  dua  concretizaçõe  particularmente  gravoa  do  fenómeno  mai  geral  do  deemprego  em  Portugal.  Um  terceiro  apeto  que  importa  ulinhar,  e  que  e  articula  com  a
tendência mencionada, prende-e com o deemprego deprotegido.   

O aumento do deemprego deprotegido

O itema de proteção ocial no deempego em Portugal aeia-e em vária pretaçõe monetária: o uídio de deemprego, o uídio ocial de deemprego inicial, o uídio
ocial  de  deemprego  uequente  e  o  rendimento  ocial  de  inerção  –  ete  último  vocacionado  para  outro  eneficiário  que  não  apena  o  deempregado[4].  O  uídio  de
deemprego tem uma natureza contriutiva, de eguro, enquanto que o uídio ocial de deemprego inicial e o uequente tem uma natureza mita: dependem ao memo tempo
de contriuiçõe (ma com prazo de garantia mai reduzido do que o uídio de deemprego), ma tamém de condiçõe de recuro. O RI, por eu lado, é uma pretação ocial
cuja elegiilidade do eu eneficiário depende de condiçõe de recuro.

Uma  análie  atenta  ore  a  evolução  do  número  de  deempregado  que  não  receem  qualquer  uídio  de  deemprego  demontra  que  o  nível  de  deproteção  no  deemprego
aumentou de forma rutal no último ano. No doi primeiro ano da érie apreentada na Figura 7, ete indicador tem uma evolução etável: o número de deempregado que
não receiam qualquer uídio de deemprego era, nee período, de cerca de 175 mil (deemprego etimado) e um pouco meno de acordo com o dado referente ao deemprego
regitado.  A  partir  daí,  e  com  o  aumento  do  número  de  deempregado,  a  deproteção  no  deemprego  conheceu  um  crecimento  ignificativo.  No  final  de  2013,  o  número  de
deempregado  que  não  eneficiavam  de  qualquer  pretação  de  deemprego  era  de  cerca  450  mil  (dado  do  IN)  e  de  358  mil  (dado  do  IFP).  Comparando  a  evolução  dete
indicador entre o 4º trimetre de 2008 (início da crie) e o período homólogo de 2013, verifica-e que o número de deempregado etimado pelo IN que não receem qualquer
uídio de deemprego aumentou cerca de 157%, enquanto o número referente ao deemprego regitado apontam para um aumento de cerca de 133%.

O fenómeno de aumento do número de deempregado que não receem qualquer uídio de deemprego pode tamém er analiado a partir da proporção de deempregado que
e encontram nea ituação. Tal como é indicado por Pedro Adão e ilva e Mariana Trigo Pereira (2012), o deemprego deprotegido era atante elevado no início da década de
1990,  ma  no  início  da  década  de  2000  o  “rácio  de  proteção”  atingia  já  valore  acima  do  80%  –  ou  eja,  meno  de  20%  do  deempregado  não  eneficiavam  de  uídio  de
deemprego. O dado apreentado na Figura 8 demontram que no período anterior ao início da crie, o rácio de deprotecção da população deempregada era já atante mai
elevado face ao verificado no início da década. Contudo, é a partir de meado de 2010 que ete fenómeno aumenta de forma mai vincada. A partir do último trimetre dee ano até
ao final de 2013, verifica-e que mai de metade do número de deempregado etimado pelo IN não recee qualquer uídio de deemprego, fixando-e ete indicador no último
período em 54,4%. m relação ao valor dete rácio a partir do dado para o deemprego regitado, contata-e que no final do ano de 2013 é próximo de 50%. 

A  explicação  para  o  aumento  do  deemprego  deprotegido  deve  er  procurada  não  ó  na  análie  da  política  púlica  de  proteção  no  deemprego,  ma  oretudo  na  própria
dinâmica do mercado de traalho. m relação a eta egunda quetão, o deemprego jovem e de longa duração, atrá ulinhado, ajudam a compreender, pelo meno em parte, a
evolução crecente do deemprego deprotegido. No cao do joven, o aceo à pretaçõe de deemprego é dificultado pela incapacidade para e preencher o prazo de garantia
neceário. Tal como é indicado por Adão e ilva e Trigo Pereira (2012), o aumento da precarização da relaçõe laorai, que afeta oretudo (ma não ó) ete grupo etário, tem-
e  traduzido  em  trajeto  de  emprego  decontínuo  e  informai  que  impoiilitam,  muita  veze,  que  o  prazo  de  garantia  de  aceo  ao  uídio  de  deemprego  poam  er
cumprido. Quanto ao deemprego de longa duração, o efeito óvio que exerce ore a deproteção no deemprego decorre da expiração do direito à pretaçõe de deemprego.  

A diminuição do rácio de deempregado com aceo a uídio de deemprego num contexto de aumento do deemprego apó o epoletar da crie em 2008, poderia, em tee,
implicar  que  outro  “etailizadore  automático”  foem  ativado  –  em  particular  o  RI.  A  figura  eguinte  indicam,  contudo,  que  eta  hipótee  não  encontra  utentação  na
evidência empírica. A Figura 9 demontra que o número de eneficiário de RI tem vindo a diminuir dede o início de 2010, período no qual (nomeadamente até ao 1º trimetre de
2013) houve um aumento acentuado do deemprego deprotegido.

 
A figura eguinte complementa a evidência apreentada. Nela é poível oervar que o número de eneficiário de RI começou a diminuir enivelmente no memo período que
marca o início do aumento da proporção de deempregado deprotegido (em particular, o 2º trimetre de 2010). Apó 2011, enquanto a proporção de deempregado deprotegido
conheceu uma relativa etailização (acima do 50%, tal como foi mencionado), o número de eneficiário de RI tendeu a decrecer. 

O facto de o número de eneficiário de RI não ter acompanhado a tendência de aumento do deemprego deprotegido decorrerá do facto de grande parte do deempregado que
não receem qualquer uídio de deemprego integrarem agregado domético cujo rendimento agregado etá acima do valor máximo previto para a atriuição dea pretação.
No  cao  do  joven  ea  realidade  implicará  uma  protelação  da  etadia  em  caa  do  pai  e  o  adiamento  de  um  conjunto  de  projeto  peoai,  nomeadamente  familiare  (Alve  e
outro, 2011). m relação à populaçõe mai velha, que têm muita veze de fazer face a ituaçõe de deemprego ou precaridade laoral do eu filho, o deemprego de um do
cônjuge ou adulto do agregado aproxima o eu elemento do limiar de poreza – memo que tal não poiilite o aceo a uma pretação como o RI, tipicamente calirada para
fazer face a ituaçõe de rico de poreza intena.

Precariedade, deemprego e deigualdade de rendimento

A precaridade laoral e o deemprego ão prolema ociai em i memo, no entido em que condicionam a condiçõe materiai de exitência do indivíduo que a experienciam
e  o  eu  em-etar  ujetivo.  Ma  até  que  ponto  ee  fenómeno  poderão  ter  conequência  mai  vata,  nomeadamente  ao  nível  do  proceo  de  produção  de  deigualdade
económica? Levar-e-á a cao nete ponto uma análie exploratória deta hipotética correlaçõe. Para tal, utilizaremo uma medida de deigualdade que etaelece um rácio
entre  o  rendimento  diponível  do  20%  mai  rico  e  o  do  20%  mai  pore  (80/20)[5].  Por  intermédio  de  regreõe  imple  iremo  tetar  a  exitência  ou  não  de  correlaçõe
etatiticamente ignificativa entre a deigualdade de rendimento exitente no paíe da U-28, Noruega e Ilândia, indicadore de precariedade laoral e a taxa de deemprego
anual, tendo o ano de 2011 como referência. 

ta  análie  é  meramente  exploratória  e  aume  a  limitaçõe  metodológica  em  que  e  aeia.  Por  um  lado,  a  correlação  entre  doi  indicadore  ou  medida  etatítica  pode,  e
muita veze é, influenciada por facto e proceo ociai “exteriore” à variávei convocada para a regreão. A correlação entre dua variávei nunca é, portanto, linear, poi cada
uma dela é produzida num quadro ocial, político e intitucional mai vato e multidimenional. Por outro lado, eta correlação aocia indicadore que têm unidade de análie
diferente. mora o dado ore deigualdade de rendimento e refiram à ditriuição dee recuro entre indivíduo, o agregado domético erve como unidade de referência a
partir da qual e calcula o rendimento individual (por adulto equivalente). Por eu lado, o indicadore de precariedade laoral dizem apena repeito ao indivíduo.   

m  relação  à  precariedade  laoral,  utilizaram-e  trê  indicadore  ditinto:  a  percentagem  de  traalhadore  contratado  a  termo,  a  percentagem  de  contratado  a  termo
involuntário  (traalhadore  que  gotariam  de  ter  outro  tipo  de  contrato)  e  a  percentagem  de  traalhadore  que  traalham  involuntariamente  a  tempo  parcial  (gotariam  de
traalhar mai hora). Curioamente em cada uma dea correlaçõe deparamo-no com configuraçõe muito ditinta. No que diz repeito à contratação a termo, oerva-e a
inexitência de qualquer correlação ignificativa, ou eja, não exite uma relação linear entre a incidência da contratação a termo e a deigualdade de rendimento (não e inclui a
figura  no  texto).  No  entanto,  e  atentarmo  no  traalhadore  que  e  encontram  numa  ituação  a  termo  de  forma  involuntária  (por  não  coneguirem  traalho  em  termo),
oervamo uma alteração relevante face à configuração da regreão. Na verdade, emergem entre o paíe da uropa pelo meno dua realidade em ditinta: no paíe mai
deiguai a relação entre a deigualdade e a não voluntariedade da contratação a termo apreenta-e de forma vincada; já no paíe meno deiguai ea correlação parece er
inexitente.
Quando e convoca para a análie a incidência do traalho a tempo parcial involuntário, o nível de correlação com a deigualdade económica aumenta ignificativamente. Ou eja, o
paíe  no  quai  o  emprego  a  tempo  parcial  involuntário  etá  comparativamente  mai  generalizado  tendem  a  er  o  que  apreentam  nívei  de  deigualdade  de  rendimento  mai
elevada. A Figura 12 é a ete nível atante ilutrativa.

Quanto à correlação exitente entre a taxa de deemprego e a deigualdade de rendimento, verifica-e que a ua intenidade é tamém elevada. Paíe como a panha, a Grécia, a
Letónia,  a  Lituânia  e  Portugal,  que  apreentam  nívei  de  deemprego  atante  acima  do  verificado  em  termo  médio  no  paíe  da  U,  ão  tamém  o  que  têm  nívei  de
deigualdade de rendimento interna mai elevado. Inveramente, o paíe que têm taxa de deemprego mai aixa tendem a apreentar o menore nívei de deigualdade de
rendimento. 

Concluão

Apear do cariz exploratório da aordagem realizada na ecção anterior, importará não negligenciar o efeito que o deemprego e a precariedade laoral podem exercer ore a
etrutura de ditriuição interna do rendimento. Carlo Farinha Rodrigue, Rita Figueira e Vítor Junqueira (2012) demontraram que o mercado de traalho em Portugal tem
funcionado como um cataliador do aumento da deigualdade na última década. O hiato entre o mai em remunerado e o traalhadore que ocupam a ae da ditriuição
acentuou-e até 2009. Tal decorreu em grande medida do aumento acentuado da parte do rendimento do traalhadore que e poicionam na parte uperior da hierarquia do
alário. Ma até que ponto a crie económica e de emprego do último ano poderá etar a aumir-e como um novo polo de agravamento da deigualdade económica? m
Portugal, o aumento do deemprego, nomeadamente do deemprego deprotegido, ma tamém de ituaçõe mai ou meno próxima de uemprego, parece etar a aumir-e
como  um  canal  gerador  de  deigualdade  de  rendimento  pela  excluão  da  participação  (plena)  no  mercado  de  traalho.  No  cao  portuguê,  ea  excluão  laoral  tem  vindo  a
acumular-e com a excluão do itema de proteção ocial de uma parte crecente da população deempregada, o que implica uma pauperização aguda da ua condiçõe materiai
e ujetiva de exitência.

O dado da mai recente vaga do Inquérito à Condiçõe de Vida e Rendimento apontam para um aumento da deigualdade exitente entre a parte uperior e a parte inferior da
ditriuição do rendimento, entre 2011 e 2012, tendência já verificada em 2010 (IN, 2014c). Tal deve-e, em grande medida, à perda de rendimento do grupo que formam a ae
da ditriuição do recuro económico. A incidência da poreza aumentou e o limiar de poreza pauperizou-e.

Cerca de 40% da população deempregada etava, nee ano, numa ituação de rico de poreza relativa (mai 1,9 p.p. face a 2011). A análie do efeito da política de auteridade
ore  a  ditriuição  do  rendimento  diponível  não  pode  alhear-e  da  conequência  que  a  mema  exercem  ore  o  mercado  de  traalho.  Ao  etimar  que  Portugal  foi  um  do
ore  a  ditriuição  do  rendimento  diponível  não  pode  alhear-e  da  conequência  que  a  mema  exercem  ore  o  mercado  de  traalho.  Ao  etimar  que  Portugal  foi  um  do
paíe  em  que  a  política  de  auteridade  foram  mai  progreiva,  o  etudo  do  FMI  “Fical  polic  and  income  inequalit”  (IMF,  2014)  ignora  ete  memo  facto.    parece  ignorar
tamém que o aumento da depea ociai foi inuficiente em relação à dimenão da neceidade de proteção ocial decorrente da crie económica e do aumento rutal do
deemprego.  nquanto  o  deemprego  aumentou  dua  veze  mai  em  Portugal  do  que  na  média  do  paíe  da  OCD,  o  recuro  adicionai  alocada  à  depea  ociai
repreentaram apena 1/3 da média regitada no paíe dea organização (OCD, 2014).    

 _______________

iliografia

Alve, Nuno de Almeida, Frederico Cantante, Inê aptita e Renato Miguel do Carmo (2011), Joven em Traniçõe Precária. Traalho, Quotidiano e Futuro, Lioa, ditora Mundo
ociai/CI-IUL.

IMF  (2014),  “Fical  polic  and  income  inequalit”,  IMF  Polic  Paper,  diponível  em    http://www.imf.org/external/np/peeche/2014/031314.htm
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ilva, Pedro Adão e, e Mariana Trigo Pereira (2012), “A política de proteção no deemprego em Portugal”, ociologia Prolema e Prática, 70, pp. 133-150.

 _______________

Texto ae apreentado no colóquio “Convera ore a Oficina de egurança ocial no âmito do Oervatório ore Crie e Alternativa / C”,  realizado a 25 de Março de 2014,
na Fundação Caloute Gulenkian.

[1] Conidera-e a população empregada com idade compreendida entre o 15 e o 64 ano.

[2]  A  taxa  deemprego  mede  o  peo  da  população  deempregada  ore  o  total  da  população  ativa;  a  taxa  de  emprego  permite  definir  a  relação  entre  a  população  empregada  e  a
população entre o 15 e 64 ano.

[3] Referimo-no a empregado entre o 15 e o 64 ano.

[4] xite ainda o prolongamento do uídio ocial de deemprego, cujo número de eneficiário é irrelevante.

[5] Rácio 80/20 é um indicador de deigualdade na ditriuição do rendimento, definido como o rácio entre a proporção do rendimento total receido pelo 20% da população com
maiore rendimento (quintil 5) e a parte do rendimento auferido pelo 20% de menore rendimento (quintil 1). O indicadore de deigualdade e de poreza ão produzido a partir
do  reultado  do  Inquérito  à  Condiçõe  de  Vida  e  Rendimento  da  Família  (U-ILC).  Apear  de  er  aplicado  anualmente,  o  dado  recolhido  referem-e  ao  ano  tranato  à
aplicação (ou eja, nete cao referem-e a 2011).

 _______________

Conultar  etudo  (http://oervatoriodadeigualdade.file.wordpre.com/2014/06/deemprego-precariedade-e-protec3a7c3a3o_renato-carmo_frederico-


cantante_20141.pdf)

Como citar ete artigo:

Carmo, Renato Miguel, Frederico Cantante (2014), “Precariedade, deemprego e proteção ocial: caminho para a deigualdade?”, Oervatório da Deigualdade, ICT-IUL, CI-
IUL. http://wp.me/p4h6tu-m3  

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[Detaque] "Relatório do Oervatório da "Deigualdade, reditriuição e o impacto do Doiê temático: O deemprego Jovem em Portugal e


Deigualdade revela paí precário" no Precário deemprego: Tendência recente e efeito da crie na uropa (http://oervatorio-da-
Inflexívei - http://www.precario.net/?p=10626 económico-financeira", Renato Miguel do Carmo e deigualdade.com/2016/12/20/doie-tematico-o-
(http://oervatorio-da- Frederico Cantante (http://oervatorio-da- deemprego-jovem-em-portugal-e-na-europa/)
deigualdade.com/2014/06/23/detaque-relatorio- deigualdade.com/2014/12/17/deigualdade- In "tudo"
do-oervatorio-da-deigualdade-revela-pai- reditriuicao-e-o-impacto-do-deemprego-
precario-no-precario-inflexivei-httpwww- tendencia-recente-e-efeito-da-crie-economico-
precario-netp10626/) financeira-renato-miguel-do-carmo-e-frederico-
cantante/)
In "Artigo"

ta entrada foi pulicada em tudo (http://oervatorio-da-deigualdade.com/categor/etudo/) e marcada Condiçõe de vida e rendimento (http://oervatorio-da-
deigualdade.com/tag/condicoe-de-vida-e-rendimento/), Mercado de traalho (http://oervatorio-da-deigualdade.com/tag/mercado-de-traalho/).

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ULioa (http://oervatorio-da-deigualdade.com/2014/06/19/eminario-la-formacion-de-la-clae-ociale-a-partir-del-matrimonio--el-parenteco-en-lo-
iglo-xvii-xix-com-francico-chacon-jimenez-23-junho-ic-ulioa/)
iglo-xvii-xix-com-francico-chacon-jimenez-23-junho-ic-ulioa/)

[Detaque] “Relatório do Oervatório da Deigualdade revela paí precário” no Precário Inflexívei – http://www.precario.net/?p=10626 →

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