Você está na página 1de 2

Teoria do domínio do fato

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A teoria do domínio do fato afirma que é autor - e não mero partícipe - a pessoa que,
mesmo não tendo praticado diretamente a infração penal, decidiu e ordenou sua prática
a subordinado seu, o qual foi o agente que diretamente a praticou em obediência ao
primeiro. O mentor da infração não é mero partícipe, pois seu ato não se restringe a
induzir ou instigar o agente infrator, pois havia relação de hierarquia e subordinação
entre ambos, não de mera influência resistível.

A teoria do domínio do fato foi criada por Hans Welzel em 1939,[1] e desenvolvida
pelo jurista Claus Roxin, em sua obra Täterschaft und Tatherrschaft de 1963, fazendo
com que ganhasse a projeção na Europa e na América Latina.[2][3]

Como desdobramento dessa teoria, entende-se que uma pessoa que tenha autoridade
direta e imediata sobre um agente ou grupo de agentes que pratica ilicitude, em situação
ou contexto de que tenha conhecimento ou necessariamente devesse tê-lo, essa
autoridade pode ser responsabilizada pela infração do mesmo modo que os autores
imediatos. Tal entendimento se choca com o princípio da presunção da inocência,
segundo o qual, todos são inocentes, até que se prove sua culpabilidade. Isto porque,
segundo a teoria do domínio do fato, para que a autoria seja comprovada, basta a
dedução lógica e a responsabilização objetiva, supervalorizando-se os indícios.

Para que seja aplicada a teoria do domínio do fato, é necessário que o ocupante do topo
de uma organização emita a ordem de execução da infração e comande os agentes
diretos e o fato.[3][4]

Na Argentina, a teoria foi utilizada para julgar a Junta Militar da Argentina,


considerando os comandantes da junta culpados pelos desaparecimentos de várias
pessoas durante a Ditadura Militar Argentina. Também foi utilizada pela Suprema Corte
do Peru ao culpar Alberto Fujimori pelos crimes ocorridos durante seu governo,
provando que ele controlou sequestros e homicídios. Foi também utilizada em um
tribunal equivalente ao Superior Tribunal de Justiça na Alemanha, para julgar crimes
cometidos na Alemanha Oriental.[3]

Foi utilizada pela primeira vez no Brasil, no julgamento do Escândalo do Mensalão,


para condenar José Dirceu, alegando-se que ele deveria ter conhecimento dos fatos
criminosos devido ao alto cargo que ocupava no momento do escândalo, além de os
crimes terem sido aparentemente perpetrados por subordinados diretos seus. A
utilização da teoria do domínio do fato para responsabilizar, incriminar e condenar José
Dirceu, indo de encontro ao princípio da presunção da inocência, gerou muita polêmica
e debates entre juristas brasileiros, com destaque para os votos contrários dos ministros
do STF Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli.[5] Efetivamente, conforme declarou o
próprio jurista Claus Roxin, a decisão de praticar o crime "precisa ser provada, não
basta que haja indícios de que ela possa ter ocorrido".[3]
Segundo Roxin, para que a pessoa que ocupa o topo de uma organização tenha a
corresponsabilidade pelos atos de seus subordinados, "o mero ter que saber não basta.
Essa construção ["dever de saber"] é do direito anglo-saxão e não a considero correta.
No caso Fujimori, por exemplo, foi importante ter provas de que ele controlou os
sequestros e homicídios realizados".[3]

De acordo com a teoria do domínio do fato, "autor, é aquele que tem o controle
subjetivo do fato, e atua no exercício desse controle; é quem tem o poder de decisão
sobre a realização do fato. Por outras palavras, autor é quem possui o domínio final da
ação, e por isso pode decidir sobre a consumação do fato típico, ainda que não tome
parte na sua execução material."[1]

Ainda sobre a aplicabilidade da teoria do domínio do fato, discorrem os advogados


Paulo Quezado e Alex Santiago:

“ É importante, todavia, que sejam reconhecidos, também, os fundamentos


probatórios de percepção das situações sobre as quais incidem esta doutrina, uma vez
que, apesar do notório esforço de Roxin, no sentido de criar critérios/requisitos básicos
de sua aplicação, a Teoria do Domínio do Fato pode tornar-se lógica inquisitória,
quando desprovida de coerência para com o contexto probatório dos autos, distorcendo
a nobre finalidade de seu mentor.[1] ”

Referências

↑ Ir para: a b c Paulo Quezado; Alex Santiago (12-03-2013). «A teoria do domínio do


fato à luz da nova jurisprudência do STF». Consultado em 06-09-2014.

Ir para cima ↑ Gabriel Mendes Abdalla. A Teoria do Domínio do Fato - Evolução


dogmática e principais características. Jus Brasil

↑ Ir para: a b c d e Cristina Grillo; Denise Menchen (11-11-2012). Folha de S. Paulo, : .


«Participação no comando de esquema tem de ser provada, diz jurista». Consultado em
06-09-2014.

Ir para cima ↑ Cezar Roberto Bitencourt (18 de novembro de 2012). «A teoria do


domínio do fato e a autoria colateral». Consultor Jurídico. Consultado em 27 de
dezembro de 2012.

Ir para cima ↑ «Ministros do STF defendem Teoria do Domínio do Fato».

Ver também[editar | editar código-fonte]

Você também pode gostar