Você está na página 1de 1

 

O alarmante estado das coisas


Marília Mattos

Tenho um forte palpite de que – a curto, médio e longo prazo – as


criminosas bravatas do Presidente da República contra Barroso e as
urnas atuais são bem menos letais à nossa capenga democracia que o
mega golpe, em curso na Câmara, contra a lisura de nossas
eleições. Basta dizer que uma das inúmeras e absurdas alterações
na lei eleitoral propõe nada menos que a descriminalização da
compra de votos. Sei bem que a lei jamais conseguiu impedir
totalmente tal afronta ao Estado de Direito, mas torná-la legal é
levar a cara de pau política a dimensões inéditas em qualquer
outro lugar do planeta. E digo mais: suspeito que esses (já
enfadonhos) chiliques diários de Bolsonaro têm um duplo objetivo:
obviamente, tumultuar as eleições e, de lambuja, desviar nossa
atenção de mais esse sinistro golpe parlamentar.
Urdido por Lira e Centrão, esse projeto nefasto conta com a
(infelizmente, previsível) adesão da maioria dos deputados. Tudo
com o providencial apoio de Bolsonaro. O mesmo que se gaba de ter
dado fim a Lava Jato. E é sobre isso que quero falar.
Cabe notar que o total e escancarado desmonte da incipiente luta –
que, recentemente, nos deu tanta esperança contra a tradicional
impunidade de nossa “Toda-Poderosa” oligarquia cleptocrata – foi
assistido passivamente (em alguns casos, euforicamente) por uma
população que, de tanto ser humilhada e espoliada por seus
governantes, sente-se exaurida e impotente.
Todavia, estou convencida que, se as mal-intencionadas acusações a
Moro e Deltan (símbolos da Lava Jato) não tivessem sido
comemoradas por uma parte (minoritária, mas barulhenta) da
população – seja por ingenuidade, fanatismo ou interesses pouco
republicanos –o conchavo para perpetuar a roubalheira insaciável,
que sofremos há séculos, não teria tido tanto sucesso.
Ocorre que, após esses psicopatas criminosos testemunharem suas
próprias vítimas os defendendo e, além disso, atacando os agentes
da lei que ousaram puni-los, os corruptos não têm mais a mínima
dúvida de que suportaremos silenciosa e eternamente seus
malfeitos, por mais hediondos que estes sejam.
Inevitável concluir que a relação entre os brasileiros e seus
políticos faria Sade e Masoch morrerem de inveja. Certamente,
somos o mais grave caso de “Síndrome de Estocolmo” da história
humana!
Uma prova cabal disto é o fato de Bolsonaro – mesmo após todo o
horror que o vimos cometer – ainda permanecer no poder.

Você também pode gostar