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Falência múltipla

October 31, 2022

(Por: Mariano Andrade)

Em medicina, a falência múltipla de órgãos caracteriza um quadro clínico em


que mais de um sistema vital para de funcionar adequadamente. Muitas vezes,
a própria defesa do organismo torna o processo mais instável, dificultando o
tratamento eficaz. Pacientes com falência múltipla de órgãos muitas vezes não
têm prognóstico, é uma questão de tempo até virem a óbito.

Quando um paciente morre de falência múltipla de órgãos, não se pode ao


certo afirmar qual sistema ou órgão foi responsável pelo desfecho final.
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A eleição de Lula é a falência múltipla do Brasil.

Para combater um governo que não agradava a diversos setores da sociedade


– vários deles alijados das benesses polpudas e imorais de outrora – o Brasil
testemunhou uma subversão da realidade e uma relativização de conceitos que
certamente atacará o país em diversos flancos. Quem se ilude quanto a isso
nada mais é do que um tolo.
O país não tem prognóstico.
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Falência moral.

Somos a primeira nação do mundo a eleger um condenado e preso por


corrupção para um cargo executivo. A honestidade deixou de ser uma condição
essencial para o tratamento da coisa pública. O texto poderia parar aqui – trata-
se de uma disfunção que leva à falência de outros valores. Quem aceita votar
em Lula, aceita votar novamente em Sérgio Cabral e – dada nossa nova
(des)ordem moral – provavelmente terá a chance de fazê-lo.

Várias gerações cresceram ouvindo a máxima de que “no Brasil, só pobre vai
preso”, ou “no Brasil, a única coisa que dá cadeia é deixar de pagar pensão”.
Tivemos o privilégio de ver isso mudar: cidadãos poderosos, ricos e influentes
foram encarcerados, verdadeiras fortunas desviadas dos cofres públicos foram
devolvidas. O país, finalmente, estava se tornando um império da lei.

Conseguimos a infeliz proeza de não só soltar os corruptos presos, para agora


elegemos o chefe da quadrilha que, certamente, colocará em cargos
estratégicos seus companheiros de crime. Ou os tolinhos acham que Lula virou
um político probo ou que fará indicações técnicas e apartidárias?

Lula jamais se desculpou pela corrupção da era PT – desculpas essas devidas


mesmo com a fantasiosa narrativa do “eu não sabia” (lembram?). Os eleitores
de Lula, quando indagados sobre corrupção invariavelmente respondem com
os “51 apartamentos de Bolsonaro” ou “as rachadinhas”. Esquivam-se do tema,
preferindo relativizar os malfeitos. Há uma diferença, porém – Lula foi
condenado por 20 juízes, Bolsonaro não. Ainda há a presunção da inocência
no Brasil?
A moral da sociedade brasileira parou de funcionar. Aqui, o crime compensa.
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Falência política.

Lula elegeu-se aliando-se a pessoas que ele odeia (e que o odeiam), a


começar pelo vice Geraldo Alckmin, eterno antagonista ao PT.
Lula aliou-se a Tebet, uma oportunista descarada e cuja companheira de chapa
o acusou de mandante de assassinato. A que ponto chegamos? Vale qualquer
sujeira ou associação pelo poder.
Lula não apresentou nenhuma proposta – elegeu-se pela sua persona. Culto à
personalidade historicamente termina em fracasso. Bolsonaro, por outro lado,
perdeu a eleição devido à sua persona. A política brasileira se resume a isso:
gosto ou não gosto do candidato. Pouco importa o que ele pretende fazer e o
legado que deixará ao final do mandato. O eleitor se esquece de que personas
mudam, mas o legado fica.
O país elegeu um corrupto condenado e deu a ele um cheque em branco. Que
legado esperar?
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Falência institucional.

"Eleição não se ganha, se toma". Essa fala de um ministro do STF já esgotaria


o tema – a mais alta corte do país entende que as eleições não precisam ser
limpas.
A autoridade eleitoral, por sua vez, é contrária ao aumento de transparência,
vendendo a ideia esdrúxula que temos a melhor tecnologia do mundo em
sistemas de votação. Incrível não termos empresas tão grandes e poderosas
como Apple, Samsung, Google, não? Num país onde tudo demora (apesar da
auspiciosa digitalização da economia promovida nos últimos anos), somos
capazes de "apurar" 120 milhões de votos em 3 horas. A eleição poderia
passar a acontecer no dia 1º de abril.
A cruzada contra Jair Bolsonaro destruiu a separação de poderes – vimos o
judiciário legislar livremente, sem qualquer questionamento do parlamento. Que
democracia é essa? Com um parlamento de centro-direita, alguém tem dúvida
de que o STF seguirá interferindo no processo legislativo?
Lula indicará dois ministros do STF nesse mandato. Alguma dúvida de que
serão amigos, com os quais volta e meia Lula troca tapinhas no rosto? Gente
da pior espécie, gente que coloca favores, persona e lealdade política acima
dos valores institucionais.
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Falência da ordem.

A pauta de Lula e seus aliados contém temas como descriminalizar pequenos


delitos e outros afins. Claro, a chapa contou com apoio maciço e explícito de
organizações criminosas.
A Califórnia, estado mais rico dos EUA, descriminalizou shoplifting (pequenos
furtos no varejo) há alguns anos. Resultado – várias empresas fecharam suas
lojas e demitiram funcionários. É exatamente o que nos espera, uma "violência
do bem" destruindo a economia e o emprego.
Isso sem falar na "violência do mal", aquela que vem por atacado.
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Falência sucessória.

Em 40 anos de política, Lula não formou nenhum líder para sucedê-lo. Quem
pensa que, depois de 4 anos, passará o bastão a Alckmin deve morar em outra
galáxia. Se sua saúde lhe permitir, Lula concorrerá à reeleição em 2026 e,
provavelmente, sem Alckmin na chapa.
E, assim sendo, não escaparemos de mais uma campanha lamentável,
dominada pelas personas e pelo populismo. Para um povo de pouca instrução
como o nosso, não há chance de um candidato técnico (Tarcísio ou Zema)
competir com uma figura como Lula. Lula é capaz de mentir fragorosamente
em campanha, de prometer picanha, cerveja, pão e circo – a receita para atrair
um adversário também populista.
No mínimo, há que se admitir que Bolsonaro seria o “waze eleitoral”, o caminho
mais rápido para termos alguma chance de, em 2026, escapar da polarização
que tanto emburrece. Carisma não se transmite, e os líderes forjados por
Bolsonaro não gozam do mesmo carisma que ele. Portanto, só uma persona
(Bolsonaro de novo?) poderá fazer frente a Lula da Silva.
Por segurança, Lula tratará de manter o “nós contra eles”, de infernizar a vida
dos estados governados por opositores e de tentar poluir a agenda política com
caças às bruxas. Tudo para evitar o surgimento ou consolidação de novas
lideranças.
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Falência jurídica.

O sistema judiciário do Brasil foi desmontado para que Lula pudesse concorrer
à presidência. Os processos, julgamentos e decisões de um sem-número de
juízes foram simplesmente rasgados. Como podemos esperar doravante uma
sociedade onde todos são iguais perante a lei?
Há alguns anos, Lula já havia afirmado que Sarney não era um homem comum
perante a lei. Lula não acredita no império da lei, nunca foi um conceito que lhe
agradasse, afinal é um ególatra (e alcóolatra) que espera que a lei se molde à
sua conveniência. Agora, powered by STF, Lula é a lei, e assim será.
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Falência administrativa.

A eleição de Lula vai custar caro para a sociedade brasileira. Lula deve favor
para muita gente – TSE, STF, partidos, políticos, banqueiros, e outros
“democratas”. Quem espera que o governo Lula seja pautado por indicações
técnicas pode voltar para Marte.
A cartilha petista é indicar para cargos importantes os “companheiros”
derrotados nas urnas. Então, teremos que engolir figuras como Fernando
Haddad, Olívio Dutra e outras tantas que causam náuseas e para as quais o
eleitor já disse "não!". Exagero? Quem foi o primeiro presidente da Petrobrás
da era Lula? José Eduardo Dutra, então recém-derrotado na eleição para o
governo do Sergipe.
Com indicações políticas, a chance de termos melhoria nos serviços públicos é
nula. Também não esperem um ambiente acolhedor para investimentos
privados, teremos gente medíocre em todos os escalões, incapazes de inovar e
promover as alavancas do crescimento.
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Falência federativa.

O Nordeste elegeu Lula. Trata-se de uma região pobre justamente por ser
governada majoritariamente por partidos de esquerda desde a
redemocratização. A região produz pouco e tem muitos eleitores, uma receita
perfeita para o clientelismo e a servidão – a perfeita experiência para provar
empiricamente as teorias de Hayek.
O Nordeste jamais terá progresso com Lula ou outro governo de esquerda, pois
ali reside sua possibilidade de se perpetuar no poder, não sem custar aos
cofres públicos obras populistas, transferências de renda eleitoreiras e outros
movimentos bem conhecidos. Ocorre que os estados que geram mais riqueza
têm legitimidade para questionar essa equação: afinal, para que trabalhar e
produzir, se os tributos são revertidos para benefício de outrem?
A União Europeia está sendo desmantelada justamente pela disparidade dos
países-membros. Os alemães não querem mais financiar a Grécia, tal qual SP
em algum momento não concordará em bancar o clientelismo nordestino.
Alguns preferem o caminho do progresso, outros trilham o caminho da
servidão. Essas agendas são incompatíveis numa união federativa.
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Falência informacional.

Lula acredita no controle da mídia – falou sobre o assunto sem nenhuma


censura (oops) durante a campanha. A grande mídia espera voltar a mamar
nas tetas do estado e, claro, dará a contrapartida de noticiário favorável ao
governo.
É daí para pior. Durante o processo eleitoral, testemunhamos uma censura
descarada, inclusive com prerrogativas censoras ex-ante, virou minority report.
Para tanto, contou-se com o voto lamentável de uma ministra do STF, “eu sei
que está errado, eu sei que é ilegal, mas vou aprovar”, um momento
singularmente trágico para nossa história.
Durante o governo "fascista" de Bolsonaro, os “artistas” puderam postar
imagens do presidente num caixão com flores, ou montagem de um jogo de
futebol onde a bola era a cabeça do presidente. Um jornalista desejou
publicamente a morte de Bolsonaro quando o presidente contraiu covid-19.
Bolsonaro é o fascista mais incompetente da História, pois deixou a sociedade
falar mal à vontade. Pior: deixou haver eleições livres, vejam só!
Já os “democratas” do STF pensam diferente. Prendem quem posta
comentários negativos sobre eles, invadem contas de celular e por aí vai.
Abusam do poder que têm e do que não têm, não tendo nenhuma censura
(oops) em legislar amiúde. Ah, e nada de eleições justas.
Essa será a tônica do governo Lula: adeus informação, adeus contraditório,
adeus liberdade de expressão. Virá aos poucos, para ninguém perceber.
Quando a sociedade perceber, a água já estará fervendo.
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Falência internacional.

Os fanfarrões Macron, Di Caprio, Mark Ruffalo e outros dementes hipócritas


vão comemorar a vitória de Lula. O senil Biden, se lograr compreender o que
se passa, também. Porém confundir confete e serpentina com respeito e
relevância internacionais é uma infantilidade descomunal.
Lula é um idiota que declara que a guerra da Ucrânia se resolve com cerveja
(precisa da picanha acompanhando?). Só isso já bastaria para desacreditá-lo
internacionalmente – desrespeita interlocutores que buscaram a paz antes de o
conflito ser deflagrado, desrespeita jovens que vão lutar na guerra, desrespeita
os mortos e seus familiares. Um nojo.
Mas Lula é mais idiota ainda: é o idiota útil "modelo exportação". Lula jamais
admitiu o erro de apoiar o chavismo, regime ditatorial que destruiu o país
outrora mais rico da América do Sul. Lula jamais se furtou a enaltecer Cuba,
algo incompatível com prezar pela democracia. Nos mandatos anteriores, Lula
simpatizava com o Irã e o Estado Islâmico, aquele que decapitava jornalistas
ocidentais.

"Ah, mas teremos Meirelles". Irrelevante – pode ser Dilma ou Mantega também,
o destino é o mesmo, só muda a velocidade. O investidor internacional vai
capturar o relief rally, se houver, e depois vai destinar o capital para jurisdições
onde a propriedade privada e a lei sejam respeitadas.
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A lista é longa, há outras tantas falências que contratamos para a sociedade


brasileira ao eleger Lula da Silva. Quando o País finalmente morrer, não
saberemos qual “órgão” foi responsável pelo último suspiro, mas saberemos
qual foi o molusco causador.

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