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DE TCHUTCHUCA DO CENTRÃO A CAFETÃO DO STF.

Este é o grande sonho de Bolsonaro: deixar de ser Tchutchuca e passar a ser Cafetão, ou seja, sair
da submissa e degradante posição que a ele foi imposta pelo Congresso, mais especificamente pelo
Centrão; para uma posição de dominador assedioso da Suprema Corte da Justiça Brasileira - O STF.

Para ele conseguir isto, basta apenas uma coisa: ganhar a eleição de 2022.

Só para relembrar, o termo Tchutchuca do Centrão, como todos sabem, surgiu em decorrência do
fato que, após mais de 100 pedidos de impeachment contra Bolsonaro, e a perda do seu partido aliado - o
PSL, para ele se manter no poder precisou se entregar ao Centrão, pois havia o risco real de perda do
mandato, caso o congresso formasse maioria e acatasse uma das dezenas de denúncias que pediam
impeachment.

Porém, abraçar o Congresso para não perder o mandato, teve um preço. Teve que entregar o
orçamento do governo federal ao Centrão. Daí a origem do termo tchutchuca (que no linguajar popular
representa uma espécie de escrava sexual).

Desta prostituída relação entre Bolsonaro e Congresso, surgiu a maior aberração orçamentária do
país - o orçamento secreto. Mecanismo ilegal que permite ao relator do orçamento fazer indicação de
recursos a grupos escolhidos de parlamentares (em regra, aos puxa sacos de quem está no poder), ou seja,
o deputado federal é servido com recursos federais e em troca disso não vota nada que seja contra a
vontade do presidente. Fato vergonhoso, nada alinhado com o interesse e as necessidades da população e
totalmente contrário ao princípio da moralidade e publicidade, ambos previstos no artigo 37 da
Constituição Federal.

Diante dessa subserviência de Bolsonaro ao Congresso, repisando a história geral, o que se passa
no Brasil ocorreu com o Rei João Sem Terra na Inglaterra do século 12. Tal como aquele fraco Rei,
Bolsonaro se colocou submisso aos caprichos do legislativo, do orçamento secreto e entregou toda a
dotação orçamentária para um grupo político, fazendo do legislativo um balcão de negócio, em que valia
até mesmo propinas em barras de ouro entregues a pastores, dentro de bíblias; afinal "deus acima de
tudo" e "corrupção em cima de todos".

Porém, pouco desse submundo da Tchutchuca a população enxerga, e muito menos entende o
plano de Bolsonaro em se tornar o Cafetão do STF. Nesta segunda fase da estratégia de Bolsonaro está as
eleições para Presidente, pois, caso ele ganhe, o objetivo será contaminar e dominar a Suprema Corte,
pois dos atuais 11 ministros, 4 se aposentarão nos próximos 4 anos, e por consequência, o próximo
presidente irá indicar mais 4 Ministros para repor estas vagas no STF. E caso seja Bolsonaro o presidente,
somados aos dois ministros que ele já indicou neste pleito, fará a maioria na Corte Suprema da Justiça
Brasileira.

E qual o risco disso?

Como todos já sabem, Bolsonaro já domina a cúpula da Polícia Federal e do Ministério Público
Federal, desmontou a lava jato, e tem na cúpula desta instituição, Augusto Aras, um Procurador Geral
indicado por ele. Procurador este que é omisso em investigar os atos potencialmente criminosos
praticados pelo presidente, tais como:

- A omissão e a corrupção na compra da Vacina Contra Covid-19 - que resultou em mais de meio
milhão de mortos;

- Os atos antidemocráticos de ataque às urnas eletrônicas;

- Os ataques constantes às decisões dos Ministros da Suprema Corte - inclusive com declaração
de que não cumpriria ordem judicial, conforme o que foi falado no 07 de setembro de 2021;

E somam-se a tudo isto, mais de 100 pedidos de impeachment que não foram investigados, nem
pelo Congresso, nem pelo Ministério Público Federal - Tudo engavetado, por seu procurador indicado
Augusto Aras - que faz todas estas aberrações em favor de Bolsonaro, porque tem interesse numa
das cadeiras do STF.

Porém cabe anotar que, ao contrário dos incessantes ataques ao STF e à impressa, a única
Institução que Bolsonaro nunca atacou foi o próprio Ministério Público Federal, onde está na cúpula um
serviçal seu - Augusto Aras (vergonha nacional), que pela Constituição seria a autoridade com
competência para fiscalizar e oferecer denúncias contra o presidente da República, porém ele tem servido
apenas para engavetar denúncias; uma pessoa que tem agido de forma desprezível dentro da arquitetura
criada pela Constritutição Federal de 1988.

Diante desse quadro de horrores, como Bolsonaro pretente dominar o Brasil?

Se reelegendo e se tornando o Cafetão do STF, ou seja, fazendo dos ministros por ele indicado,
suas tchutchucas, direcionado para o interesse pessoal de Bolsonaro decisões importantes do judiciário
brasileiro e o mais perigoso, o isentando de grande e graves crimes, posto que é o STF o Tribunal
competente para julgar o Presidente da República..

É previsível que, num eventual segundo mandato, os 4 ministros a serem indicados, seguirão a
mesma linha submissa dos dois atuais que estão empossados, e também do Procurador Geral, ou seja,
pessoas subservientes ao "Capitão" e omissos na defesa da Democracia e votando e decidindo conforme a
vontade do Bolsonaro e não conforme a legislação e o interese público.

É previsível que a Suprema Corte vire um "cercadinho de Bolsonaro", "a casa da mãe Joana",
assim como já é a PGR.

É previsível que ao se tornar o Cafetão do STF, com sua meia duzia de Ministros submissos, já
não tenha interesse em ser a Tchutchuca do Centrão, posto que estará no comando da Suprema Corte, que
tem poder de rever atos do Legislativo.

Diante disso, é necessário entender o que está por trás do projeto de poder do Bolsonaro. Um ser
que se acovarda oportunamente tal como fez ao se entregar como tchutchuca ao Congresso, porém tem
tentáculos e ambições que suplantarão a suposta condição submissa atual.

Bolsonaro não quer apenas ganhar estas eleições, não quer apenas mais 4 anos de poder, ele quer
implantar um modelo ditatorial de poder, que visa controlar o Congresso, o STF, Ministério
Público, Polícia Federal, AGU, CGU, ABIN, COAF; ele quer desmontar tudo que foi construído
democraticamente ao longo dos anos de redemocratização.

É previsível que após uma suposta vitória de Bolsonaro, ele queira mudar a Constituição,
trazendo a possibilidade de um terceiro mandato, quem sabe um quarto, e talvez a indicação de filhos
como sucessores, e podemos estar entrando num ciclo de dominação indeterminada - e aí sim, seremos a
tão falada Venezuela. Lá o Governante tem poder total sobre o Congresso, a Suprema Corte e os Estados.
Curioso que este é o verdadeiro sonho de Bolsonaro, porém num discurso demagógico indica que é da
esquerda este ideal de dominação, muito embora a esquerda já tenha ficado por 14 anos no poder, e não
atentou contra a democracia.

É necessário uma reflexão sobre o voto. O que está em jogo é uma real ameaça ao modelo
democrático criado na Constitução Federal de 1988, que respeita e preserva o poder das instituições. É
necessário que o chefe de estado entenda que o poder deve ser compartilhado em três dimensões: o
executivo, o legislativo e o judiciário, respeitando as autonomias dos entes federados : Estados e
Municípios.

Infelizmente, esta estrutura democrática não é aceita por Bolsonaro - que critica os poderes e
ofende Governadores e prefeitos - pois Bolsonaro quer ser o único mandante da nação, idealiza um país
sem prefeito, sem governadores; quer se livrar do controle do Judicário, da Polícia Federal e do
Ministério Publico. E almeja que tenha ao seu lado a conivência do Legislativo, assim como já tem hoje.

Porém, o brasileiro não quer um presidente tchutchuca do legislativo, mas também não suportará
um Cafetão no STF, com ministros submissos, prostituídos pelo favor do cargo, tal como está sendo visto
na PGR.

Rogamos pelo equilíbrio, e que as instituções tenham liberdade para atuar sempre com o ideal da
preservação do estado democrático de direito. Nem Tchutchuca do Legislativo nem Cafetão no STF, o que
se pede é o respeito à democracia e à harmonia de poderes. E o seu voto pode ser decisivo para
determinar qual rumo seguiremos.

ALDAY MACHADO DE OLIVEIRA

ADVOGADO

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