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Direito Penal e
Processual Penal
Aulas complementares
Olá, Alunos!
Bons estudos,
SUMÁRIO
Princípios constitucionais........................................................................................................... 9
1.1 Introdução............................................................................................................................. 9
1.2 Princípio da legalidade....................................................................................................... 10
1.3 Demais princípios............................................................................................................... 16
Da conduta ............................................................................................................................... 61
5.1. Introdução.......................................................................................................................... 61
5.2. Conceito............................................................................................................................. 61
5.3. Ausência de conduta ........................................................................................................ 62
5.4. Dos crimes omissivos....................................................................................................... 64
Princípio da insignificância....................................................................................................... 94
8.1 Introdução........................................................................................................................... 94
8.2 Princípio da insignificância no crime de descaminho ...................................................... 95
Descriminante putativa ............................................................................................................ 98
9.1 Conceito.............................................................................................................................. 98
9.2 Espécies ............................................................................................................................. 98
9.3 Consequências ................................................................................................................ 100
Crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo ............. 197
Embargos infringentes e de nulidade ................................................................................... 198
17.1 Conceito ......................................................................................................................... 198
17.2 Identificação ................................................................................................................... 199
17.3 Base Legal ..................................................................................................................... 199
17.4 Legitimidade ................................................................................................................... 200
17.5 Cabimento ...................................................................................................................... 200
17.6 Prazo............................................................................................................................... 200
17.7 Forma e competência para o julgamento......................................................................201
17.8 Estruturação ................................................................................................................... 202
Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para
a 2ª Fase do 35º Exame da OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas.
Além disso, recomenda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente.
1.1 Introdução
Princípios são valores fundamentais que direcionam a criação do sistema normativo,
indicando os critérios para a compreensão da norma, bem como servindo de base para limitar a
atuação do legislador ordinário e, até mesmo, do órgão julgador e, assim, preservar os direitos e
garantias fundamentais do cidadão.
O principal objetivo dessa fonte é limitar o poder punitivo estatal, razão pela qual os
princípios penais são verdadeiros instrumentos do Estado Democrático de Direito.
O Código Penal tem idêntica previsão no art. 1º: “Não há crime sem lei anterior que o defina.
Não há pena sem prévia cominação legal.”
Cabe, portanto, à lei a tarefa de definir e não proibir o crime, propiciando ao agente
prévio e integral conhecimento das consequências penais da prática delituosa e evitando,
assim, qualquer invasão arbitrária em seu direito de liberdade.
OBSERVAÇÕES
1) Como só há crime quando presente a perfeita correspondência entre o fato e a
descrição legal, torna-se impossível sua existência sem lei que o descreva. Conclui-se
que só há crime nas hipóteses taxativamente previstas em lei (PRÍNCÍPIO DA
TAXATIVIDADE).
2) Vale destacar que sanção penal é gênero, do qual são espécies as penas e as medidas
de segurança. Entretanto, em que pese as medidas de segurança não sejam penas,
possuem um caráter aflitivo, eis, que na prática, restringem a liberdade de locomoção dos
inimputáveis em razão de doença mental (artigo 26 do CP), constituindo uma verdadeira
forma de controle social, razão pela qual para a maioria da doutrina também se sujeitam
ao princípio da legalidade.
1.2.1 Vertentes do princípio da legalidade
O princípio da legalidade, tendo em vista o seu conteúdo limitador do direito punitivo estatal,
apresenta algumas vertentes, que surgem como decorrência de sua aplicação:
A) 1° VERTENTE – EXIGÊNCIA DE UMA LEI PRÉVIA (praevia): NÃO HÁ CRIME SEM LEI
ANTERIOR QUE O DEFINA NEM PENA SEM PRÉVIA COMINAÇÃO LEGAL.
Essa vertente nada mais é do que o princípio da proibição da retroatividade da lei penal
insculpido no artigo 5°, inciso XL da Constituição da República, o qual dispõe que a lei penal não
retroagirá, salvo para beneficiar o acusado.
Desta feita, a lei penal mais grave (seja a lei incriminadora ou a novatio legis in pejus) para
incidir a determinado fato tem que ser anterior a ele, justamente para evitar a surpresa e garantir
a segurança jurídico aos cidadãos.
Neste sentido, podemos elencar a súmula 471 do STJ, a qual dispõe que os condenados
por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da lei 11.464/2007
sujeitam-se ao disposto no artigo 112 da LEP.
Essa vertente proíbe a criação de crimes e a imposição de penas por meios dos costumes,
tendo em vista que todo o crime e toda a pena devem estar escritos na lei.
Desta feita, proíbe-se o costume incriminador, não devendo de forma alguma um costume
criar uma infração penal.
Neste sentido, o STF já decidiu que não cabe a revogação do crime previsto no artigo 229
do CP pelo princípio da adequação social, tendo em vista que não cabe ao órgão julgador
descriminalizar uma conduta tipificada formal e materialmente pela legislação penal (HC
104.467/ Julgado em 08/02/2011, 1º Turma do STF, Informativo 615).
Também já decidiu o STJ no sentido de se reconhecer a impossibilidade de absolvição da
contravenção penal de jogo do bicho pelo costume em razão do Princípio da Supremacia da Lei
Escrita ( RESP 30705/SP).
Tendo em vista que os costumes não podem criar nem revogar uma infração penal,
podemos destacar que tais fontes servem como vetor interpretativo das normas jurídicas
(por exemplo para interpretar o conceito de repouso noturno como majorante do furto
prevista no artigo 155, parágrafo 1° do CP) bem como para fundamentar uma futura lei
penal abolicionista (como por exemplo no caso do adultério que era tipificado como crime
no artigo 240 do CP e foi revogado posteriormente pela lei 11.106/2005).
Desta feita, como uma das consequências dessa exigência, podemos elencar a proibição
da Analogia in malam partem no Direito Penal.
A analogia é uma forma de suprir uma lacuna legislativa, na qual diante de um caso de
omissão legislativa o intérprete se utiliza de uma norma aplicada a um caso semelhante. No
direito penal, diante do princípio da legalidade, há a proibição da analogia em prejuízo ao réu, só
podendo ser utilizada para benefício do acusado.
OBSERVAÇÃO
A medida provisória não é uma lei formal oriunda do Poder Legislativo da União, razão
pela qual, nos termos do artigo 62, parágrafo 1°, inciso II da Constituição da República é
vedada a edição de medida provisória em matéria penal. Neste sentido podemos afirmar
que:
i) Uma medida provisória não é lei em sentido estrito, razão pela qual jamais poderá
veicular matéria atinente a uma norma penal incriminadora, ou seja, não pode criar crime
em hipótese nenhuma.
Ademais, o STJ já admitiu medida provisória em favor do acusado (MP 2.187-12 – desconto
direto do Fundo de Participação dos Municípios e repasse mensal ao INSS das parcelas devidas,
equiparando-se ao pagamento do acusado) na PET no Inquérito 512 AC 2004/0177711-8,
Publicado em 08/02/2017).
OBSERVAÇÃO
Competência da União para legislar sobre Direito Penal: Segundo o artigo 22, inciso I
compete privativamente a União legislar sobre direito penal. Entretanto, o artigo 22,
parágrafo único admite que lei complementar federal pode autorizar os Estados a
legislarem sobre direito penal em questões específicas. Entretanto, adverte a doutrina que
essa delegação não pode abranger assuntos referentes à missão fundamental do direito
de penal.
A Lei penal deve ser certa, clara, precisa, proibindo-se a incriminação através de conceitos vagos
e imprecisos, justamente para evitar a insegurança jurídica.
Exemplo: Artigo 5° da Lei 13260/16 – realizar atos preparatórios de terrorismo com o propósito
inequívoco de consumar tal delito.
O Princípio da Determinação exige que a lei penal seja precisa e certa, incriminando a conduta
com precisão, razão pela qual discute-se se a norma penal em branco viola esse princípio.
Norma Penal em Branco é aquela que para ter aplicabilidade necessita de um complemento
normativo:
quando se origina da mesma instância legislativa, como por exemplo, no caso dos crimes
funcionais contra a administração pública (312 a 326 do CP) precisamos buscar o conceito
de funcionário público que também se encontra no CP – artigo 327.
Pode ser heterovitelina
quando se origina de uma estrutura legislativa diversa, como por exemplo, no crime de
bigamia previsto no artigo 235 do CP precisamos ir ao Código Civil para entender o
conceito jurídico de casamento.
Desta feita, podemos destacar que a maioria da doutrina entende pela constitucionalidade da
norma penal em branco, inclusive no caso da norma penal em branco heterogênea cujo
complemento se origina de órgão sem competência legislativa diversa.
Somente a lei, sem seu sentido estrito, pode definir crimes e cominar penalidades, uma vez
que “a matéria penal deve ser expressamente disciplinada por uma manifestação de vontade
daquele poder estatal a que, por força da Constituição, compete a faculdade de legislar, isto é,
poder legislativo”. (BETTIOL, 1974, p. 108).
B) PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
Aqui, “para que haja crime e seja imposta pena é preciso que o fato tenha sido cometido
depois de a lei entrar em vigor” (JESUS, 2013, pp. 51-52).
II) PRINCÍPIO DA DETERMINAÇÃO – a lei penal deve ser precisa e determinada, não se
admitindo a edição de tipos penais abstratos e genéricos.
1.3 Demais princípios
A) PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA
O art. 5º, XLVI, da Constituição Federal dispõe que “a lei regulará a individualização da
pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição de liberdade; b) perda de
bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos.”
Segundo Queiroz (2013, p. 448), “individualizar a pena significa assim tornar individual uma
situação, algo ou alguém, isto é, particularizar o que antes era geral, a evitar a estandardização.”
I - 1º Fase: Cominação – é realizada pelo legislador ao estipular uma pena mínima e uma pena
máxima em abstrato na lei penal incriminadora;
II – 2° Fase: Aplicação da pena – é realizada pelo julgador do processo criminal ao proferir uma
sentença condenatória, devendo fixar a pena definitiva (critério trifásico – 68 do CP), estabelecer
o regime inicial de cumprimento de pena (artigo 33, parágrafo 2° do CP), a possibilidade ou não
de substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos (artigo 44 do CP) e se há a
possibilidade de suspender a execução da pena privativa de liberdade (artigo 77 do CP);
III – 3° Fase: Execução da pena – é realizada pelo juízo da VEC que irá acompanhar e decidir
sobre o cumprimento da pena.
OBSERVAÇÃO
O princípio da individualização da pena já foi utilizado pelo STF inúmeras vezes para se
reconhecer a inconstitucionalidade de uma lei, dentre as quais podemos citar, em
especial:
Acerca deste importante princípio, o art. 5º, XLV, da Constituição Federal dispõe que
“nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra
eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.”
Esse princípio representou um verdadeiro marco no Direito Penal, impondo que a
responsabilização penal é individual e intransferível, não podendo passar da pessoa do
condenado.
Assim, a sanção penal não é transmitida de uma pessoa para a outra, mas as obrigações
cíveis oriundas do ilícito penal podem transferida aos sucessores.
Consiste na expressão do senso comum de que cada um responde pelos seus próprios
atos. Nas palavras de SALIM (2008, p. 224), tal princípio significa, em outras palavras, que só o
autor da infração penal pode ser responsabilizado criminalmente, ou seja, ninguém pode ser
punido por delito cometido por outra pessoa.”
Consequências jurídicas:
C) PRINCÍPIO DA HUMANIDADE
Fruto da humanização do Direito Penal, o agente (suspeito/indiciado/réu/condenado) deve
ser tratado como pessoa humana e sujeito de direitos fundamentais.
Decorre do art. 1º, III, da Constituição Federal, que especifica a dignidade da pessoa
humana como fundamento do Estado Democrático.
Podemos citar a influência desse princípio com a edição da súmula vinculante 56 do STF,
a qual dispõe que a falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do
condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os
parâmetros fixados no RE 641.320/RS:
Teses de Repercussão Geral: Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema
normativo, manter em seus presídios os padrões mínimos de humanidade previstos no
ordenamento jurídico, é de sua responsabilidade, nos termos do art. 37, § 6º, da Constituição, a
obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos detentos em
decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de encarceramento.
Ademais, podemos falar que a súmula vinculante 56 também se fundamenta nos princípios
da legalidade e da individualização da pena:
Por este princípio teorizado por Claus Roxin, “a prática criminosa pressupõe uma conduta
que transcenda a esfera individual do agente, sendo capaz de atingir interesse alheio” (SALIM,
2008, p. 226).
Nesse esteio, a conduta puramente interna, ou seja, que não sai da esfera do agente, não
tem lesividade, não devendo ser objeto do Direito Penal.
Como efeito prático desse princípios, o suicídio e a autolesão não são puníveis.
Vale lembrar que induzimento ao suicídio (art. 122 do CP) é crime, pois o agente pratica
uma conduta que ofende direito de outrem. Da mesma forma, a autolesão para fraudar seguro
(art. 171, §2º, inciso V, do CP) é crime, uma vez que o indivíduo estará, ao gerar lesão em si
mesmo, objetivando receber vantagem ilícita em prejuízo da seguradora.
Por fim, esse princípio é um argumento utilizados por aqueles que entendem pela
inadmissibilidade do delito de posse de drogas para uso próprio (art. 28 da Lei de Drogas),
porquanto o usuário não causaria lesão aos direitos de outras pessoas, mas apenas a si próprio.
Neste sentido, o STF está para concluir o julgamento do RE 635.559/SP (com repercussão
geral reconhecida), o qual visa o reconhecimento da inconstitucionalidade do delito previsto no
artigo 28, sendo que até agora três ministros já votaram e a tese que está prevalecendo até o
momento é a de reconhecer a inconstitucionalidade da posse de maconha para uso pessoal (o
relator, ministro Gilmar Mendes, votou pela inconstitucionalidade do artigo 28 da Lei de Drogas
(Lei 11.343/2006), que define como crime o porte de drogas para uso pessoal, enquanto o
ministro Edson Fachin e Roberto Barroso votaram para descriminalizar apenas o porte de
maconha para consumo próprio).
F) PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Também idealizado por Claus Roxin, é assim definido por Queiroz (2013, p. 91):
O principal exemplo seria o furto de 10 reais praticado contra uma pessoa de boas
condições financeiras.
O relator do recurso no STJ, ministro Nefi Cordeiro, ressaltou que o réu era primário, tinha
83 anos na época dos fatos e o cone avariado custava menos de R$ 20, ou seja, menos
de 3% do salário-mínimo vigente à época. “A despeito do teor do enunciado 599, as
peculiaridades do caso concreto justificam a mitigação da referida súmula, haja vista que
nenhum interesse social existe na onerosa intervenção estatal diante da inexpressiva
lesão jurídica provocada”, entendeu o ministro. (RHC 85.272, 6° TURMA DO STJ,
31/08/2018)
O juízo da 1º Vara de Bariri (SP) condenou a mulher à pena de seis anos e nove meses de
reclusão, em regime inicial fechado, pelo crime de tráfico, previsto no artigo 33 da Lei de Drogas
(Lei 11.343/2006). A sentença foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-
SP). A Defensoria Pública paulista então impetrou habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça
(STJ) alegando a desproporção da pena aplicada e buscando a incidência do princípio da
insignificância. Negado o pedido por decisão monocrática daquela corte, a defensoria impetrou
o habeas corpus no Supremo.
Em seu voto, o relator destacou que a resposta do Estado não foi adequada nem necessária
para repelir o tráfico de 1g de maconha. Segundo Gilmar Mendes, esse é um exemplo
emblemático de flagrante desproporcionalidade na aplicação da pena em hipóteses de
quantidade irrisória de entorpecentes, e não houve indícios de que a mulher teria anteriormente
comercializado quantidade maior de droga. De acordo com o ministro, no âmbito dos crimes de
tráfico de drogas, a solução para a desproporcionalidade entre a lesividade da conduta e a
reprimenda estatal é a adoção do princípio da insignificância.
O relator observou que o STF tem entendido que o princípio da insignificância não se aplica
ao delito de tráfico, ainda que a quantidade de droga apreendida seja ínfima. Porém, considerou
que a jurisprudência deve avançar na criação de critérios objetivos para separar o traficante de
grande porte do traficante de pequenas quantidades, que vende drogas apenas em razão de seu
próprio vício.
Para ele, se não houver uma clara comprovação da possibilidade de risco de dano da
conduta, o comportamento não deverá constituir crime, ainda que o ato praticado se adeque à
definição legal. “Em verdade, não haverá crime quando o comportamento não for suficiente para
causar um dano ou um perigo efetivo de dano ao bem jurídico, diante da mínima ofensividade
da conduta”, explicou.
Seu voto foi seguido pelos ministros Celso de Mello e Ricardo Lewandowski. Ficaram
vencidos os ministros Edson Fachin e Cármen Lúcia.
OBSERVAÇÃO
5) Crimes patrimoniais cometidos sem violência ou grave ameaça: O STJ vem
reconhecendo a possibilidade de se reconhecer a insignificância se o valor da res é até
10% do valor do salário-mínimo vigente na época dos fatos.
No conceito de Damásio de Jesus , tal princípio significa que a “criação de tipos delituosos
deve obedecer a imprescindibilidade, só devendo intervir o Estado, por intermédio do Direito
Penal, quando os outros ramos do Direito não conseguirem prevenir a conduta ilícita.”
Logo, o Direito Penal é subsidiário, sendo a ultima ratio, ou seja, o último meio de
regulamentação a ser utilizado.
Há na doutrina quem defenda que o princípio da intervenção mínima possui dois princípios
decorrentes, quais sejam o princípio da subsidiariedade e o princípio da fragmentariedade, os
quais serão explorados a seguir de maneira específica.
H) PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE
Pelo princípio da subsidiariedade, o Direito Penal deverá incidir somente em último caso,
quando os demais ramos do direito falharam na tutela do bem jurídico. Busca-se, primeiro, adotar
medidas mais brandas, menos invasivas à liberdade do agente que praticou um ilícito. Se
necessário, o Direito Penal é chamado a atuar como último recurso para a proteção do bem
jurídico violado.
I) PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE
Em razão do princípio da fragmentariedade, o Direito Penal protege apenas um fragmento
dos interesses jurídicos, que são os casos de maior gravidade e de bens jurídicos mais
relevantes. É uma decorrência dos princípios da reserva legal e da intervenção mínima (JESUS,
2013, p. 52).
Trata-se de um princípio mais abstrato e referente a forma de legislar. Assim, as leis penais
devem ser feitas de forma fragmentária, tutelando os bens jurídicos mais importantes.
Entretanto, vale destacar que em determinados bens jurídicos há uma proteção ampla do
direito penal, por exemplo, no caso da vida, na qual o legislador protege a vida humana
extrauterina ou intrauterina.
J) PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE
No Direito Penal o termo culpabilidade pode ter diferentes acepções:
i) Culpabilidade como elemento integrante do conceito analítico de crime (fato típico, antijurídico
e culpável);
ii) Culpabilidade como elemento medidor da aplicação da pena (artigo 59 do CP: O juiz,
atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos
motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime);
iii) Culpabilidade como elemento que visa afastar a responsabilidade penal objetiva – Princípio
da Responsabilidade Penal Subjetiva, o qual será analisado neste item.
É a base do direito penal moderno, o qual não admite a responsabilização penal objetiva,
ou seja, o agente só pode ser responsabilizado penalmente se tiver agido com dolo ou culpa.
Desta feita, podemos dizer que se não há dolo ou culpa no caso em questão não haverá
conduta penalmente relevante para o direito penal, razão pela qual o fato será atípico, uma vez
que com o finalismo penal tanto o dolo como a culpa fazem parte do conceito de conduta.
Logo, além da necessidade de demonstrar que a conduta foi praticada pelo agente, em
consonância com o princípio da responsabilidade pessoal, deve-se ainda comprovar ter ele agido
com dolo ou culpa, conforme o princípio da responsabilidade penal subjetiva. Neste sentido, por
exemplo, nos crimes de trânsito, não basta que o Ministério Público descreva na denúncia que o
acusado estava na direção do veículo automotor e causou a lesão corporal ou a morte de alguém,
devendo o MP descrever em que consistiu a conduta culposa do agente, ou seja, qual foi a
violação do dever de cuidado em que este agente incorreu (se foi negligente, imperito ou
imprudente), sob pena de inépcia e responsabilidade penal objetiva (Informativo 553, 6° Turma
do STJ, HC 305194, 01/12/2014).
Trata-se de princípio oriundo de Hans Welzel, consistindo na ideia de que, mesmo que
uma conduta esteja prevista na lei como infração, não será considerada típica se for socialmente
adequada ou reconhecida, isto é, se a sociedade aceitar a conduta. Gera, portanto, a exclusão
da tipicidade.
Vale destacar que, consoante informado no princípio da legalidade, o STF não aplica o
princípio da adequação social, tendo em vista o princípio da simetria, uma vez que se há a
exigência de lei para criar crimes, também deve existir lei para revogar essa infração penal.
Em matéria penal ninguém pode ser punido duas vezes pelo mesmo fato. Assim, não pode
sofrer duas penas em face do mesmo crime, tampouco ser processado e julgado duas vezes
pelo mesmo fato.
É pacífico que a reincidência, ao ser utilizada como agravante (art. 61, I, do CP), não é bis
in idem. Logo, pode ser aplicada como agravante.
2.1 Conceito
O processo penal não serve apenas para que o Estado aplique o seu direito de punir, mas
também para que o indivíduo possa defender-se deste Estado.
O caminho a ser percorrido pelo Estado para exercer seu direito de punir:
Art. 4º - CPP - A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de
suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua
autoria.
Parágrafo único: A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades
administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.
“O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, e por
prazo razoável, investigações de natureza penal, desde que respeitados os direitos e
garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do
Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as hipóteses de reserva constitucional de
jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos, em nosso
País, os Advogados (Lei 8.906/94, artigo 7º, notadamente os incisos I, II, III, XI, XIII, XIV
e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático de Direito
– do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados (Súmula
Vinculante 14), praticados pelos membros dessa instituição”.
STF. Plenário. RE 593727/MG, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/5/2015.
2.5 Destinatários
Imediatos
Ofendido ou
Representante legal
(Ação Penal Privada)
Destinatários
Juiz – para
Mediatos fundamentar decisões
cautelares (prisão
preventiva, busca e
apreensão, etc...)
2.6 Finalidade
Fornecer elementos de convicção para que o titular da ação penal (Ministério Público ou
Ofendido) ingresse em juízo.
Art. 5o: Nos crimes de ação pública (incondicionada) o inquérito policial será iniciado:
I - de ofício;
II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a
requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
§ 1o O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível:
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de
convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou nomeação das
testemunhas motivos de impossibilidade de o fazer;
c) a, com indicação de sua profissão e residência.
§ 2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso
para o chefe de Polícia.
§ 3o Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal
em que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade
policial, e esta, verificada a procedência das informações, mandará instaurar inquérito.
§ 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação
(condicionada a representação), não poderá sem ela ser iniciado.
§ 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a
inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.
→ Requerimento da vítima ou do seu representante legal – Art. 5º, inciso II, do CPP. A
peça inaugural pode ser a petição da vítima, ou o delegado inaugura por portaria, trata-se de
uma cognição mediata.
Art. 5º, § 1º, CPP: O requerimento a que se refere o no II conterá sempre que possível:
a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de
convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou nomeação das
testemunhas motivos de impossibilidade de o fazer;
c) a, com indicação de sua profissão e residência.
→ Flagrante – pode ser instaurado mediante prisão em flagrante. A peça inaugural auto de
prisão em flagrante, trata-se de uma cognição coercitiva.
Instrumental
Obrigatório
Discricionário
Dispensável
Informativo
Características
Escrito
Sigiloso
Inquisitivo
Indisponível
Temporário
Art. 14: O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer
diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.
Art. 155: O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas.
Exclusivamente com base no Inquérito Policial não cabe condenação, mas junto com
outras provas cabe – Art. 155 do CPP – o Inquérito Policial não pode ser a única fonte para a
condenação.
f) Escrito: Art. 9o: Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado,
reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.
g) Sigiloso: Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à
elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
1) Juiz;
2) Ministério Público: pode acompanhar o inquérito e ser o mesmo promotor na ação penal –
Súmula 234 STJ.
Súmula 234: A participação de membro do ministério público na fase investigatória criminal não
acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.
Art. 7 XXI (EAOB): assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações,
sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e,
subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes
ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva
apuração:
a) apresentar razões e quesitos; (perguntas...)
Art. 7, XIV da Lei 8.906/94 (EOAB): examinar, em qualquer instituição responsável por
conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações de
qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo
copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital;
Súmula Vinculante 14: É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo
aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito
de defesa.
Art. 7º, § 11 do EOAB: No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá
delimitar o acesso do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em
andamento e ainda não documentados nos autos, quando houver risco de
comprometimento da eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências.
Não. Art. 107 do CPP: Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos
do inquérito, mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal.
i) Indisponível: Art. 17 do CPP: A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos
de inquérito.
j) Temporário: é uma garantia constitucional. Art. 5º, inciso LXXVIII, da CF/88 – duração
razoável do processo.
Art. 5º, inciso LXXVIII: a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a
razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
O Inquérito Policial, estando o investigado solto, pode ser prorrogável enquanto for
necessário, devendo se comprovar a justa necessidade em cada prorrogação.
Regra geral:
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em
flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do
dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto,
mediante fiança ou sem ela.
§ 3º Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá
requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas
no prazo marcado pelo juiz.
Lei nº 5.010/66: prazo de conclusão do Inquérito Policial na Justiça Federal – Art. 66:
Segundo o artigo 66, o preso deverá ser apresentado ao Juiz para a prorrogação.
Não sendo o Inquérito Policial um ato do Poder Judiciário, mas sim um procedimento
administrativo, os vícios que existam nesta fase da persecução penal não acarretam
nulidade processual.
2.11 Procedimentos
Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial
deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação
das coisas, até a chegada dos peritos criminais;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos
criminais;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstâncias;
IV - ouvir o ofendido;
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III
do Título VII, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas
que Ihe tenham ouvido a leitura;
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; VII - determinar, se
for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e
fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e
social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e
durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu
temperamento e caráter.
a) Local dos fatos: Exceção – Lei nº 5.970/73 – no seu artigo 1º, diz que no caso de
acidente de trânsito, que esteja colocando em perigo pessoas ou atrapalhando o trânsito,
não precisa manter o estado de conservação;
b) O interrogatório policial, primeiro, se houver defensor, é possível entrevista
reservada, mas no interrogatório policial é dispensável a presença do defensor (prerrogativa do
advogado); primeiro o delegado pergunta sobre o suspeito, depois pergunta sobre o fato, mas
não há contraditório, não existe reperguntas, pois o Inquérito Policial é inquisitivo; tem
delegado que autoriza as reperguntas;
d) Identificação criminal: Parece que todo o indiciado deve “tocar piano”, mas não é
assim, mudou com a Constituição Federal/88. Até a Constituição Federal/88 – o artigo 6º, inciso
VIII, do Código de Processo Penal – qualquer indiciado tocava piano; com a Constituição
Federal/88, no artigo 5º, inciso LVIII – diz que: “o civilmente identificado não será submetido a
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei”. Previu como regra a identificação
civil, sendo a exceção a identificação datiloscópica; casos expressos em lei – Lei nº 12.037/09.
Com a Constituição Federal/88 a regra é a identificação civil, por documento hábil; a
exceção é a identificação datiloscópica.
Art. 7º, CPP: Para verificar a possibilidade de haver a infração sido praticada de
determinado modo, a autoridade policial poderá (discricionariedade) proceder à
reprodução simulada dos fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a ordem
pública.
Art. 13-A: Nos crimes previstos nos arts. 148, 149 e 149-A, no § 3º do art. 158 e no art.
159 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), e no art. 239 da
Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o membro
do Ministério Público ou o delegado de polícia poderá requisitar, de quaisquer órgãos do
poder público ou de empresas da iniciativa privada, dados e informações cadastrais da
vítima ou de suspeitos.
Parágrafo único. A requisição, que será atendida no prazo de 24 (vinte e quatro) horas,
conterá:
I - o nome da autoridade requisitante;
II - o número do inquérito policial; e
III - a identificação da unidade de polícia judiciária responsável pela investigação.
§ 1o: Para os efeitos deste artigo, sinal significa posicionamento da estação de cobertura,
setorização e intensidade de radiofrequência.
§ 3o: Na hipótese prevista neste artigo, o inquérito policial deverá ser instaurado no prazo
máximo de 72 (setenta e duas) horas, contado do registro da respectiva ocorrência
policial.
Conceito: é o ato pelo qual o delegado atribui a alguém a prática de uma infração penal,
baseado em indícios da autoria e prova da materialidade.
Lei 12.830/13:
STF. 2ª Turma. HC 115015/SP, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/8/2013 (Info 717).
O indiciamento é ato privativo da autoridade policial, segundo sua análise técnico-
jurídica do fato. O juiz não pode determinar que o Delegado de Polícia faça o
indiciamento de alguém.
Previsão legal:
Art. 10, §1º: A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará
autos ao juiz competente.
Art. 19: Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão
remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu
representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado.
2) Ação Penal Privada (art. 19, CPP), deixar os autos em cartório aguardando
manifestação.
1) Requerer diligências: “Art. 16. O Ministério Público não poderá requerer a devolução do
inquérito à autoridade policial, senão para novas diligências, imprescindíveis ao oferecimento da
denúncia.”
3) Requer o arquivamento;
O STF (Min. Luiz Fux) suspendeu o trecho que modificou o Artigo 28 do Código de
Processo Penal (CPP) e estabeleceu regras para o arquivamento de inquéritos policiais.
Com a norma, o Ministério Público (MP) deveria comunicar a vítima, o investigado e a
polícia no caso de arquivamento do inquérito, além de encaminhar os "autos para a
instância de revisão ministerial para fins de homologação, na forma da lei". Para Fux, a
medida desconsiderou os impactos financeiros no âmbito do MP em todo o país.
Fundamento legal:
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por
falta de base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas,
se de outras provas tiver notícia
3.1 Conceito
3.2 Requisitos
Nos termos do artigo 28-A do Código de Processo Penal, o acordo de não persecução
penal poderá ser celebrado desde que preenchidos os seguintes requisitos:
3.3 Infração penal com pena mínima cominada inferior a quatro anos
Aqui um especial cuidado. O requisito leva em conta a pena mínima e não a máxima
cominada ao delito.
A expressão “infração penal” constitui gênero das espécies crime e contravenção. Logo,
o acordo de não persecução penal poderá ser celebrado no contexto de crimes e contravenções
penais.
Além disso, a violência deve ser considerada na conduta e não em relação ao resultado.
Logo, a exigência de crime praticado sem violência ou grave ameaça está relacionada aos crimes
dolosos, não alcançando os crimes culposos.
Assim, seria possível, desde que preenchidos os demais requisitos, o acordo de não
persecução penal em relação a crime de homicídio culposo (Art. 121, § 3º, do CP), já que não
há dolo no resultado.
1Súmula 723 STF: "Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena
mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano."
2Súmula 243 STJ "O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas
em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo
somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.”
3.6 Condições
Nos termos do artigo 28-A do Código de Processo Penal, as condições são as seguintes:
V - cumprir, por prazo determinado, outra condição indicada pelo Ministério Público, desde
que proporcional e compatível com a infração penal imputada.
Nos termos do artigo 28-A, § 2º, do Código de Processo Penal, o acordo de não
persecução penal não se aplica nas seguintes hipóteses:
I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, nos
termos da lei;
Todavia, adotando posição contrária, Renato Brasileiro entende que não se trata de direito
subjetivo do indiciado, já que se trata de instituto que deve resultar da convergência de vontades,
com necessidade ativa das partes.4
Além disso, nos termos do artigo 28-A, § 14, do Código de Processo Penal,
No caso de recusa, por parte do Ministério Público, em propor o acordo de não persecução
penal, o investigado poderá requerer a remessa dos autos a órgão superior, na forma do art. 28
deste Código.
3 LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. São Paulo: Saraiva. 2020, p. 221.
4 LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed. Salvador: Editora JusPodivm, 2020, p. 276
Assim, a consequência do descumprimento do acordo de não persecução penal será o
oferecimento da denúncia pelo Ministério Público, que poderá utilizar essa circunstância para o
não oferecimento da proposta de suspensão condicional do processo (Art. 28-A, § 11, do CPP).
O acordo de não persecução penal não gera maus antecedentes e muito menos
reincidência, e não constará na certidão de antecedentes criminais do imputado, salvo para
verificação da possibilidade de novo acordo por fato distinto (Art. 28-A, § 12, do CPP).
Cadeia de Custódia
4.1 Da prova
4.2 Do exame de corpo de delito, da cadeia de custódia e das perícias em geral
Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial,
que dará o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for
necessária a realização de exames complementares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
§ 1º Todos os vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem ser tratados
como descrito nesta Lei, ficando órgão central de perícia oficial de natureza criminal
responsável por detalhar a forma do seu cumprimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
§ 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer vestígios
de locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável, sendo tipificada
como fraude processual a sua realização. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central de
custódia, devendo nela permanecer. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de
armazenar determinado material, deverá a autoridade policial ou judiciária determinar as
condições de depósito do referido material em local diverso, mediante requerimento do
diretor do órgão central de perícia oficial de natureza criminal. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
A) NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
Como se sabe a lei 13.964/19 (pacote anticrime) foi publicada no dia 24/12/2019 e entrou
em vigor 30 dias após a sua publicação, alterando inúmeros dispositivos do Código Penal, do
Código de Processo Penal e da legislação penal especial, dentre os quais analisaremos neste
tópico as modificações inerentes à prova pericial.
B) CADEIA DE CUSTÓDIA
O conceito de cadeia de custódia possui natureza legal e está elencado no artigo 158-A
do CPP:
Vale destacar que a cadeia de custódia não se trata de uma novidade doutrinária, nem
jurisprudencial, bem como o legislador, de forma esparsa, prevê, de certa maneira, a cadeia de
custódia em alguns dispositivos no CPP:
Art. 6º Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial
deverá:
I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das
coisas, até a chegada dos peritos criminais;
Art. 245. As buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo se o morador consentir
que se realizem à noite, e, antes de penetrarem na casa, os executores mostrarão e lerão
o mandado ao morador, ou a quem o represente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta.
§ 6º Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, será imediatamente apreendida e
posta sob custódia da autoridade ou de seus agentes.
Entretanto, vale destacar que com a inclusão dos artigos 158-A e seguintes do CPP houve
uma profissionalização dessa cadeia de custódia, havendo um grande avanço normativo,
devendo destacar que o legislador teve a preocupação de pormenorizar o procedimento da
preservação dessa prova, como podemos notar pela leitura dos seguintes parágrafos do artigo
158 -A do CPP:
Art. 158-C. A coleta dos vestígios deverá ser realizada preferencialmente por perito oficial,
que dará o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for
necessária a realização de exames complementares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
§ 1º Todos os vestígios coletados no decurso do inquérito ou processo devem ser tratados
como descrito nesta Lei, ficando órgão central de perícia oficial de natureza criminal
responsável por detalhar a forma do seu cumprimento. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
§ 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer vestígios
de locais de crime antes da liberação por parte do perito responsável, sendo tipificada
como fraude processual a sua realização. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Art. 158-D. O recipiente para acondicionamento do vestígio será determinado pela
natureza do material. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º Todos os recipientes deverão ser selados com lacres, com numeração individualizada,
de forma a garantir a inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º O recipiente deverá individualizar o vestígio, preservar suas características, impedir
contaminação e vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço para registro de
informações sobre seu conteúdo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder à análise e,
motivadamente, por pessoa autorizada. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 4º Após cada rompimento de lacre, deve se fazer constar na ficha de acompanhamento
de vestígio o nome e a matrícula do responsável, a data, o local, a finalidade, bem como
as informações referentes ao novo lacre utilizado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 5º O lacre rompido deverá ser acondicionado no interior do novo recipiente.
Art. 158-F. Após a realização da perícia, o material deverá ser devolvido à central de
custódia, devendo nela permanecer. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Parágrafo único. Caso a central de custódia não possua espaço ou condições de
armazenar determinado material, deverá a autoridade policial ou judiciária determinar as
condições de depósito do referido material em local diverso, mediante requerimento do
diretor do órgão central de perícia oficial de natureza criminal.
Por último, vale destacar a imposição aos Institutos de Criminalística de criarem uma
central de custódia, bem como a preocupação do legislador com o protocolo de entrada e saída
dos vestígios e o seu competente registro:
Art. 158-E. Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia
destinada à guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente
ao órgão central de perícia oficial de natureza criminal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
§ 1º Toda central de custódia deve possuir os serviços de protocolo, com local para
conferência, recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a seleção, a
classificação e a distribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro e apresentar
condições ambientais que não interfiram nas características do vestígio. (Incluído pela
Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Na central de custódia, a entrada e a saída de vestígio deverão ser protocoladas,
consignando-se informações sobre a ocorrência no inquérito que a eles se relacionam.
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º Todas as pessoas que tiverem acesso ao vestígio armazenado deverão ser
identificadas e deverão ser registradas a data e a hora do acesso. (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019)
§ 4º Por ocasião da tramitação do vestígio armazenado, todas as ações deverão ser
registradas, consignando-se a identificação do responsável pela tramitação, a destinação,
a data e horário da ação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Neste aspecto, a título de comparação, vamos dar o exemplo da produção de uma prova
testemunhal em juízo: esse depoimento, ao ser colhido, se submete prontamente ao contraditório
(real), uma vez que a acusação, defesa e o órgão julgador de fato controlaram a higidez do
conteúdo deste documento. Entretanto, com relação à algumas provas periciais e de natureza
técnica, normalmente a produção ocorre sem a presença dos atores do sistema processual e o
controle do conteúdo ocorrerá a posteriori, havendo o contraditório diferido.
Neste sentido é de suma importância que essa prova seja íntegra, que esse material
probatório seja autêntico, razão pela qual se justifica a existência de um procedimento (cadeia
de custódia) destinado a conferir essa legitimidade/autenticidade ao conteúdo desta prova, sob
pena de tal acervo ser considerado imprestável:
5.1. Introdução
Fato típico é o que se amolda ao modelo legal da conduta proibida. É o fato que se
enquadra no conjunto de elementos descritivos do delito contidos na lei penal. Se não se
enquadrar rigorosamente na descrição que consta no tipo penal, o fato será atípico.
CONDUTA
ELEMENTOS DO
TIPICIDADE RESULTADO
FATO TÍPICO
NEXO DE
CAUSALIDADE
Ausente um dos elementos do fato típico a conduta passa a constituir um indiferente penal.
É um fato atípico
5.2. Conceito
VONTADE é o querer ativo, apto a levar o ser humano a praticar um ato livremente. O ato
voluntário deve ser espontâneo, isto é, mediante um proceder por vontade própria; caso
contrário, será ato coagido e forçado, levando à exclusão do crime.
Ausente vontade ou consciência, não haverá conduta punível. Não havendo conduta
punível, o fato será atípico.
Pode-se dizer que há ausência de conduta nos seguintes casos, por exemplo:
Assim, não havendo vontade, não há conduta. Não havendo conduta, não há fato típico.
Não havendo fato típico, não há crime. Logo, o fato praticado pelo fisicamente coagido é atípico.
Não responde por nenhum crime.
Na coação moral, não há aplicação da força física, mas de ameaça ou intimidação, feita
através da promessa de um mal, para que se determine o coato à realização do fato criminoso.
O coagido poderá optar.
No caso da coação moral, o fato é revestido de tipicidade, mas não é culpável, em face
da inexigibilidade de conduta diversa.
Portanto, existe o fato típico, pois a ação é juridicamente relevante, mas não há que se
falar em culpabilidade, aplicando-se a regra do art. 22, 1ª parte, do Código Penal (causa de
exclusão da culpabilidade). A coação moral irresistível será estudada no tema culpabilidade.
EM SÍNTESE:
b) Movimentos reflexos
Os atos reflexos não dependem da vontade, uma vez que são reações motoras,
secretórias ou fisiológicas, produzidas pela excitação de órgãos do corpo humano.
EXEMPLO
Quando essas funções mentais não funcionam adequadamente se diz que há estado de
inconsciência, que é incompatível com a vontade, e sem vontade não há ação.
EXEMPLO
A conduta delitiva não se limita a uma atividade positiva, ou seja, a uma ação, podendo,
ainda, o agente praticar delito por meio de uma conduta omissiva, por um não fazer, por uma
abstenção de um movimento corpóreo.
Os crimes omissivos podem ser próprios ou impróprios (ou comissivos por omissão).
Art. 135 do CP. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao
desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da
autoridade pública:
CONDUTA
OMISSIVA ART. 13, §2º CP RESULTADO
Nos crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão são aqueles em que o tipo
penal descreve uma conduta ativa, ou seja, o verbo nuclear do tipo descreve uma ação. Nesse
caso, o agente será responsabilizado por ter deixado de agir quando estava juridicamente
obrigado a desenvolver uma conduta para evitar o resultado.
Nos crimes omissivos impróprios, o agente não tem simplesmente a obrigação de agir,
mas a OBRIGAÇÃO DE AGIR PARA EVITAR UM RESULTADO, isto é, deve agir com a
finalidade de impedir a ocorrência de determinado evento. Nos crimes comissivos por omissão
há, na verdade, um crime material, isto é, um crime de resultado.
Ou seja, se o agente que tinha o dever de agir para evitar o resultado mantém-se inerte,
omisso, responderá pelo resultado gerado.
Ressalta-se, no entanto, que somente será atribuído ao agente a responsabilidade por
sua conduta omissiva se, nas circunstâncias, era possível agir para evitar o resultado.
EXEMPLO
De fato, para que alguém responda por crime comissivo por omissão é preciso que
tenha o dever jurídico de impedir o resultado, previsto no artigo 13, § 2º, do Código Penal:
Nesse caso, por expressa imposição da lei, o agente estará obrigado a agir para evitar o
resultado. Assim, se o agente se omitir, ou seja, deixar de agir, quando lhe era possível,
responderá pelo resultado gerado.
É o caso, por exemplo, dos pais em relação aos filhos (art. 1634 e 1566, IV, ambos do
Código Civil) e do dever de mútua assistência entre os cônjuges (art. 1566 do Código Civil).
EXEMPLO
Mãe que deixa de alimentar o filho, que, por conta da sua negligência, acaba
morrendo por inanição. Essa mãe deverá responder pelo resultado gerado, qual
seja, homicídio culposo. Se, de outro lado, a mãe desejou a morte do filho ou
assumiu o risco de produzi-la, responderá por homicídio doloso.
b) De outra forma, assumir a responsabilidade de impedir o resultado
A doutrina não fala mais em dever contratual, uma vez que a posição de garantidor pode
advir de situações em que não existe relação jurídica entre as partes. O importante é que o
sujeito se coloque em posição de garante no sentido de que o resultado não ocorrerá.
Aqui a obrigação de agir para evitar o resultado não decorre de lei, mas do fato de o agente
ter assumido a responsabilidade de impedi-lo.
EXEMPLO
Babá que, por negligência, deixa de cumprir corretamente sua obrigação de cuidar
da criança, que acaba caindo na piscina e, por isso, morre afogada. Nesse caso,
responderá pelo resultado gerado, qual seja, homicídio culposo. Se, de outro lado,
desejou a morte da criança ou assumiu o risco de produzi-la, responderá por
homicídio doloso.
EXEMPLO
Salva-vidas Carlos que presta em clube social, que, com várias crianças brincando
na piscina, fica observando a beleza física da mãe de uma das crianças e, ao mesmo
tempo, falando no celular com um amigo, ficando de costas para a piscina. Se,
nesse momento, uma criança vem a falecer por afogamento, o salva-vidas
responderá por homicídio culposo, diante da sua omissão culposa, já que violou o
seu dever de garantidor.
Nesta hipótese, o sujeito, com o comportamento anterior, cria situação de perigo para
bens jurídicos alheios penalmente tutelados, de sorte que, tendo criado o risco, fica obrigado
a evitar que ele se degenere ou desenvolva para o dano ou lesão.
Aluno veterano, por ocasião de um trote acadêmico, sabendo que a vítima não sabe
nadar, joga o incauto calouro na piscina. Nesse caso, contrai o dever jurídico de
agir para evitar o resultado, sob pena de responder por homicídio.
1) (QUESTÃO 2 - V EXAME)
Joaquina, ao chegar à casa de sua filha, Esmeralda, deparou-se com seu genro, Adaílton,
mantendo relações sexuais com sua neta, a menor F.M., de 12 anos de idade, fato ocorrido no
dia 2 de janeiro de 2011. Transtornada com a situação, Joaquina foi à delegacia de polícia, onde
registrou ocorrência do fato criminoso. Ao término do Inquérito Policial instaurado para apurar os
fatos narrados, descobriu-se que Adaílton vinha mantendo relações sexuais com a referida
menor desde novembro de 2010. Apurou-se, ainda, que Esmeralda, mãe de F.M., sabia de toda
a situação e, apesar de ficar enojada, não comunicava o fato à polícia com receio de perder o
marido que muito amava.
2) (QUESTÃO 04 – X EXAME)
Erika e Ana Paula, jovens universitárias, resolvem passar o dia em uma praia paradisíaca e, de
difícil acesso (feito através de uma trilha), bastante deserta e isolada, tão isolada que não há
qualquer estabelecimento comercial no local e nem mesmo sinal de telefonia celular. As jovens
chegam bastante cedo e, ao chegarem, percebem que além delas há somente um salva-vidas
na praia. Ana Paula decide dar um mergulho no mar, que estava bastante calmo naquele dia.
Erika, por sua vez, sem saber nadar, decide puxar assunto com o salva-vidas, Wilson, pois o
achou muito bonito. Durante a conversa, Erika e Wilson percebem que têm vários interesses em
comum e ficam encantados um pelo outro. Ocorre que, nesse intervalo de tempo, Wilson percebe
que Ana Paula está se afogando. Instigado por Erika, Wilson decide não efetuar o salvamento,
que era perfeitamente possível. Ana Paula, então, acaba morrendo afogada.
Nesse sentido, atento(a) apenas ao caso narrado, indique a responsabilidade jurídico-
penal de Erika e Wilson. (Valor: 1,25)
O examinando deve fundamentar corretamente sua resposta. A simples menção ou transcrição
do dispositivo legal não pontua.
Da relação de causalidade
6.1. Introdução
Pela própria denominação (nexo causal) é possível perceber que consiste no vínculo ou
liame de causa e efeito entre a ação e o resultado do crime.
Via de regra, a conduta do agente produz o resultado criminoso de forma direta. Trata-se
de relação de causa (conduta) e efeito (resultado): Nexo de causalidade.
Todavia, pode ocorrer que, aliada à conduta do agente, outra causa contribua para o
resultado. É a chamada concausa.
São aquelas que não tem origem na conduta do agente. A expressão “absolutamente”
serve para designar que a outra causa independente por si só produziu o resultado. São causas
que não se inserem na linha do desdobramento natural da conduta do agente, ou seja, causas
inusitadas, desvinculadas da ação do agente, surgindo de fonte distinta.
Em síntese, por serem independentes, tais causas atuam como se tivessem por si sós
produzido o resultado, situando-se fora da linha de desdobramento causal da conduta.
a) Preexistentes
EXEMPLO
Nesse caso, há a conduta do agente (efetuar o disparo), mas o que gerou o resultado
morte foi outra causa (o veneno). Essa outra causa é independente da conduta do agente
(porque por si só produziu o resultado). É absolutamente independente (porque não teve origem
na conduta do agente, pois tendo ou não efetuado o disparo o resultado ainda assim se
produziria). É preexistente porque essa outra causa (veneno) já existia antes da ação do agente.
b) Concomitantes
São as causas que não têm nenhuma relação com a conduta e produzem o resultado
independentemente desta, no entanto, por coincidência, atuam exatamente no instante em que
a ação é realizada.
EXEMPLO
“A” desfere golpe de faca contra “B” no exato momento em que este vem a falecer
exclusivamente por força de uma queda de um lustre sobre sua cabeça.
Nesse caso, há a conduta do agente (desferir o golpe de faca), mas o que gerou o
resultado morte foi outra causa (lustre na cabeça). O lustre na cabeça se trata de causa
independente da conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É absolutamente
independente (porque não teve origem na conduta do agente, pois tendo ou não efetuado
desferido o golpe o resultado ainda assim se produziria). É concomitante porque essa outra
causa (queda do lustre na cabeça) ocorreu exatamente no momento da ação do agente.
c) Supervenientes
São causas que atuam após a conduta. Ou seja, que surgem depois da conduta
desenvolvida pelo agente.
EXEMPLO
Nesse caso, há a conduta do agente (ministrar veneno), mas o que gerou o resultado
morte foi outra causa (lustre na cabeça). O lustre na cabeça é uma causa independente da
conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É absolutamente independente
(porque não teve origem na conduta do agente, pois tendo ou não ministrado o veneno o
resultado ainda assim se produziria). É superveniente porque essa outra causa (queda do lustre
na cabeça) ocorreu depois da conduta do agente.
Nos exemplos, a causa da morte não tem ligação alguma com o comportamento do
agente. Em face disso, ele não responde pelo resultado morte, mas sim pelos atos praticados
antes de sua produção. Isso porque ocorreu quebra do nexo causal. Assim, se o dolo era de
matar, o agente responderia por tentativa de homicídio.
CUIDADO: Se o enunciado apontar dolo de lesão corporal, por exemplo,
o agente responderá por aquilo que deu causa: lesão corporal (leve,
grave ou gravíssima).
Como são causas independentes, produzem por si sós o resultado, não se situando dentro
da linha de desdobramento causal da conduta. Por serem, no entanto, apenas relativamente
independentes, encontram sua origem na própria conduta praticada pelo agente.
Aqui não há, de regra, uma quebra do nexo causal, mas uma soma entre as causas, que,
ao final, conduzem ao resultado lesivo.
a) Preexistentes
EXEMPLO
Nesse caso, como há uma soma de causas e não quebra do nexo causal, o agente
responde pelo resultado pretendido. No caso, homicídio consumado, a menos que não tenha
concorrido para ele com dolo ou culpa.
Isso, porque, segundo doutrina majoritária, a imputação do resultado ao agente exige que
ele tenha conhecimento do estado de saúde do agente (que denota dolo) ou que, pelo menos,
que lhe fosse previsível (indicativo de culpa).
Assim, se, por exemplo, o agente não sabia do estado de saúde da vítima ou não lhe era
previsível, não poderia lhe ser atribuído o resultado morte, responderia, pois, pelo delito de
tentativa de homicídio (se agiu com a intenção de matar).
Se, no entanto, pretendia ferir a vítima, agredindo-a com um soco e, esta em razão da
hemofilia, desconhecida pelo agente, vem a falecer em razão da eclosão de uma hemorragia, o
agente somente será responsabilizado pelo delito de lesão corporal.
b) Concomitantes
EXEMPLO
Considera-se o ataque à vítima, por meio de disparo de arma de fogo, que, no exato
momento da agressão, sofre ataque cardíaco, vindo a falecer, apurando-se que a
soma desses fatores (causas) produziu a morte, já que a agressão e o ataque
cardíaco, considerados isoladamente, não teriam o condão do produzir o resultado
morte.
Nesse caso, há a conduta do agente (disparo de arma de fogo), mas o que desencadeou
efetivamente o resultado morte foi outra causa (ataque cardíaco). Essa outra causa é
independente da conduta do agente (porque por si só produziu o resultado). É relativamente
independente (porque teve origem na conduta do agente, pois, se não tivesse desferido a facada,
essa outra causa não seria desencadeada e o resultado não ocorreria). É concomitante porque
essa outra causa (ataque cardíaco) foi potencializada no exato momento da conduta do agente.
Nesse caso, como há uma soma de causas e não quebra do nexo causal, o agente
responde pelo resultado pretendido. No caso, homicídio consumado, a menos que não tenha
concorrido para ele com dolo ou culpa.
c) Supervenientes
A causa que efetivamente produziu o resultado ocorre depois da conduta praticada pelo
agente.
EXEMPLO
Assim, o agente não responde pelo resultado ocorrido, mas somente pelos atos
anteriores, que, no caso, foi tentativa de homicídio.
CUIDADO
Se o enunciado apontar dolo de lesão corporal, por exemplo, o agente responderá
pelos atos anteriores praticados, no caso, lesão corporal (leve, grave ou
gravíssima).
Assim, para que o agente responda pelo resultado morte e, portanto, a concausa
relativamente independente preexistente e concomitante deve ser conhecida do agente ou ao
menos existir possibilidade de conhecimento, sob pena de responsabilidade penal objetiva. Foi
o que caiu no XXI exame da OAB. O agente não foi responsabilizado pela morte, porque não
tinha conhecimento da causa preexistente, nem lhe era previsível. Responderia apenas por lesão
corporal.
Exemplo de questão
A) É competente o juízo perante o qual Júlio foi denunciado? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Qual tese de direito material poderia ser alegada em favor de Júlio? Justifique. (Valor:
0.60)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo
legal não confere pontuação.
GABARITO COMENTADO
A) O(A) examinando(a) deve concluir pela incompetência do Juízo, tendo em vista que o
crime praticado não é doloso contra a vida. Nos termos do Art. 74, § 1º, do Código de
Processo Penal (ou Art. 5º, inciso XXXVIII, alínea d, da CRFB), ao Tribunal do Júri cabe
apenas o julgamento dos crimes dolosos contra a vida e os conexos. No caso, mesmo de
acordo com a imputação contida na denúncia, o resultado de morte foi culposo; logo, a
competência é do juízo singular.
B) O(A) examinando(a) deve defender que não poderia Júlio responder pelo crime de
lesão corporal seguida de morte, porque aquele resultado não foi causado a título de dolo
nem culpa. O crime de lesão corporal seguida de morte é chamado de preterdoloso. A
ação é dirigida à produção de lesão corporal, sendo o resultado morte produzido a título
de culpa. Costuma-se dizer que há dolo no antecedente e culpa no consequente. Um dos
elementos da culpa é a previsibilidade objetiva, somente devendo alguém ser punido na
forma culposa quando o resultado não querido pudesse ser previsto por um homem médio,
sendo que a ausência de previsibilidade subjetiva, capacidade do agente, no caso
concreto, de prever o resultado, repercute na culpabilidade. Na hipótese, não havia
previsibilidade objetiva, o que impede a tipificação do delito de lesão corporal seguida de
morte. Também poderia o candidato responder que havia uma concausa preexistente,
relativamente independente, desconhecida, impedindo Júlio de responder pelo resultado
causado. Em princípio, a concausa relativamente independente preexistente não impede
a punição do agente pelo crime consumado. Contudo, deve ela ser conhecida do agente
ou ao menos existir possibilidade de conhecimento, sob pena de responsabilidade penal
objetiva.
Agora, se, por exemplo, a intenção fosse de lesionar e resultou morte, tendo ciência da
hemofilia, responde por lesão corporal seguida de morte. Isso já caiu na prova da OAB.
Exemplo de questão
Wallace, hemofílico, foi atingido por um golpe de faca em uma região não letal do corpo.
Júlio, autor da facada, que não tinha dolo de matar, mas sabia da condição de saúde
específica de Wallace, sai da cena do crime sem desferir outros golpes, estando
Wallace ainda vivo. No entanto, algumas horas depois, Wallace morre, pois, apesar de
a lesão ser em local não letal, sua condição fisiológica agravou o seu estado de saúde.
Acerca do estudo da relação de causalidade, assinale a opção correta.
A) O fato de Wallace ser hemofílico é uma causa relativamente independente
preexistente, e Júlio não deve responder por homicídio culposo, mas, sim, por
lesão corporal seguida de morte.
B) O fato de Wallace ser hemofílico é uma causa absolutamente independente
preexistente, e Júlio não deve responder por homicídio culposo, mas, sim, por lesão
corporal seguida de morte.
C) O fato de Wallace ser hemofílico é uma causa absolutamente independente
concomitante, e Júlio deve responder por homicídio culposo.
D) O fato de Wallace ser hemofílico é uma causa relativamente independente
concomitante, e Júlio não deve responder pela lesão corporal seguida de morte, mas,
sim, por homicídio culposo.
Exemplo de questão
José subtrai o carro de um jovem que lhe era totalmente desconhecido, chamado João.
Tal subtração deu-se mediante o emprego de grave ameaça exercida pela utilização
de arma de fogo. João, entretanto, rapaz jovem e de boa saúde, sem qualquer histórico
de doença cardiovascular, assusta-se de tal forma com a arma, que vem a óbito em
virtude de ataque cardíaco. Com base no cenário acima, assinale a afirmativa correta.
A) José responde por latrocínio.
B) José não responde pela morte de João.
C) José responde em concurso material pelos crimes de roubo e de homicídio culposo.
D) José praticou crime preterdoloso.
3) (QUESTÃO 03 – EXAME 2010-02)
Pedro, almejando a morte de José, contra ele efetua disparo de arma de fogo, acertando-o na
região toráxica. José vem a falecer, entretanto, não em razão do disparo recebido, mas porque,
com intenção suicida, havia ingerido dose letal de veneno momentos antes de sofrer a agressão,
o que foi comprovado durante instrução processual. Ainda assim, Pedro foi pronunciado nos
termos do previsto no artigo 121, caput, do Código Penal.
Na condição de Advogado de Pedro:
I. Indique o recurso cabível;
II. O prazo de interposição;
III. A argumentação visando à melhoria da situação jurídica do defendido.
Indique, ainda, para todas as respostas, os respectivos dispositivos legais.
4) (QUESTÃO 1 – XXI EXAME)
Paulo e Júlio, colegas de faculdade, comemoravam juntos, na cidade de São Gonçalo, o título
obtido pelo clube de futebol para o qual o primeiro torce. Não obstante o clima de
confraternização, em determinado momento, surgiu um entrevero entre eles, tendo Júlio
desferido um tapa no rosto de Paulo. Apesar da pouca intensidade do golpe, Paulo vem a falecer
no hospital da cidade, tendo a perícia constatado que a morte decorreu de uma fatalidade,
porquanto, sem que fosse do conhecimento de qualquer pessoa, Paulo tinha uma lesão pretérita
em uma artéria, que foi violada com aquele tapa desferido por Júlio e causou sua morte. O órgão
do Ministério Público, em atuação exclusivamente perante o Tribunal do Júri da Comarca de São
Gonçalo, denunciou Júlio pelo crime de lesão corporal seguida de morte (Art. 129, § 3º, do CP).
Considerando a situação narrada e não havendo dúvidas em relação à questão fática,
responda, na condição de advogado(a) de Júlio:
A) É competente o juízo perante o qual Júlio foi denunciado? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Qual tese de direito material poderia ser alegada em favor de Júlio? Justifique. (Valor:
0.60)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar as respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.
5) Durante uma grave discussão, ocorrida no serviço, Licurgo Moicano agrediu Coitinho Lelo com
uma paulada na cabeça, com a intenção de matá-lo. Atendido com rapidez, Coitinho Lelo foi
colocado dentro de uma ambulância que rumou para o Pronto Socorro Municipal. No trajeto, a
ambulância capotou, vindo Coitinho Lelo a falecer em razão do acidente. Diante do fato e à luz
do ordenamento jurídico penal, responda se Licurgo Moicano deve ser responsabilizado
penalmente? Em caso afirmativo, indique qual o crime, empregando os argumentos
jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.
Exemplo: o agente desfere golpes de faca na vítima com intenção de matá-la. O dolo se
projeta de forma direta no resultado morte.
Ocorre o dolo eventual quando o sujeito assume o risco de produzir o resultado, isto é,
admite e aceita o risco de produzi-lo. No dolo eventual, o agente não quer o resultado (se
desejasse, seria dolo direto), mas, mesmo prevendo a realização do resultado, segue em diante
na sua conduta assumindo o risco de produzi-lo. No dolo eventual, o agente representa como
possível o resultado não desejado, mas assume o risco de provocar lesão a um bem jurídico,
seguindo em diante com a sua conduta, revelando, assim, conformismo com a produção do
evento.
Tomemos como exemplo a conduta do agente que, pretendendo a morte do seu desafeto,
efetua um disparo em sua direção, mesmo visualizando que se encontrava conversando com
uma pessoa bem próxima a ele. O agente prevê que também pode atingir a outra pessoa, mas
segue em diante na sua conduta, assumindo o risco de errar o disparo contra o seu desafeto e
atingir a outra pessoa, sendo-lhe indiferente quanto ao resultado que possa ser produzido em
relação ao terceiro. Se efetuar disparos matando o seu desafeto e também a outra pessoa, o
agente responderá por dois crimes de homicídio: o primeiro, a título de dolo direto; o segundo, a
título de dolo eventual.
Assim, no dolo eventual, o agente, embora não deseje diretamente o resultado, age com
indiferença e desprezo na sua produção, aceitando a sua ocorrência. Prefere arriscar-se a
produzi-lo a se abster e cessar a sua conduta. Age, pois, com dolo eventual, o agente que ofende
a integridade física de mulher grávida, ciente do seu adiantado estado gravídico, causando-lhe
o aborto. Note-se que o agente não quer o resultado, pois se desejasse, agiria com dolo direto,
mas prevê como possível o aborto e mesmo assim segue em diante com a sua conduta,
assumindo o risco de interromper a gravidez com a morte do feto.
Via de regra, os tipos penais culposos não descrevem a conduta, limitando-se a apontar
que determinado delito é culposo. Trata-se de um tipo penal aberto, sendo, por isso, necessário
empregar um juízo de valor acerca da conduta do agente. Ex: homicídio culposo, previsto no
artigo 121, § 3º, CP.
Nesse sentido, se determinado delito não prevê a modalidade culposa, o fato praticado
será atípico.
Exemplo: O crime de dano (art. 163 do Código Penal) não prevê a modalidade culposa.
Logo, causar, por negligência ou imprudência, dano a patrimônio alheio constitui fato atípico.
7.2.2 Elementos do crime culposo
E São elementos do fato típico culposo: a) Conduta humana voluntária; b) Inobservância
do dever de cuidado objetivo c) Resultado involuntário; d) Nexo de causalidade; e) Previsibilidade
objetiva; f) Ausência de previsão; g) Tipicidade.
No crime culposo, o agente desenvolve uma conduta voluntária, agindo, porém, sem o
dever de cuidado objetivo. O resultado produzido é involuntário.
Tomemos como exemplo alguém que, atrasado para realizar uma prova na faculdade,
imprime velocidade excessiva em seu veículo, vindo, em razão disso, a atropelar uma pessoa,
causando-lhe a morte. A finalidade do agente, sem dúvida, era lícita (chegar no local da prova).
Contudo, os meios utilizados para alcançar essa finalidade foram inadequados, uma vez que,
para chegar ao local da prova, imprimindo alta velocidade na condução de veículo automotor,
não observou o dever de cuidado objetivo, atropelando e causando a morte de uma pessoa.
Note-se que a conduta voluntária do agente foi desenvolvida para alcançar uma finalidade
lícita, gerando, no entanto, um resultado involuntário.
De fato, as regras de convívio social impõem às pessoas o dever de cautela para não
atingir bem jurídico alheio. Por isso, quem se arriscar a realizar, por exemplo, conduta
imprudente, sobrevindo um resultado típico, incorrerá na prática de crime culposo.
• Modalidades de culpa:
A inobservância do dever objetivo de cuidado, que é a quebra do dever de cuidado imposto
a todos, é manifestada por meio de três modalidades de culpa, todas previstas no artigo 18, II,
do Código Penal: imprudência, negligência e imperícia.
• Imprudência
A conduta imprudente se caracteriza por agir um positivo, sem a observância do dever de
cuidado objetivo. Ocorre quando o agente pratica fato perigoso, de forma intempestiva e
precipitada.
Da mesma forma, age com imprudência o agente que limpa arma de fogo carregada
próximo a pessoas e, de forma descuidada, aciona o gatilho, matando alguém que estava ao seu
lado.
• Negligência
Trata-se de modalidade negativa de culpa, em que a inobservância do dever de cuidado
do agente é retratada pela ausência de cautela e precaução. É a face omissiva ou negativa da
culpa. Trata-se da culpa in omitendo.
A negligência é, portanto, um não fazer algo, deixando, por isso, de observar o dever de
cuidado objetivo.
Tomemos como exemplo o condutor de veículo que, antes de sair de viagem, deixa de
reparar os pneus e verificar os freios. Da mesma forma, age com negligência o pai que deixa
arma de fogo ao alcance de uma criança. Agem, ainda, com negligência os pais, por culpa in
vigilando, que deixam a criança de tenra idade, sem noção do perigo, caminhar vários metros à
sua frente, em acostamento de rodovia de intenso tráfego, culminando o episódio com o trágico
desfecho de um atropelamento, a atravessar o infante, repentina e abruptamente, a pista
asfáltica.
• Imperícia
A imperícia se caracteriza pela falta de capacidade, preparo ou de conhecimentos técnicos
suficientes de agente autorizado a desempenhar determinada arte, profissão ou ofício.
c) Resultado involuntário
Como nos crimes culposos a conduta voluntária é dotada de finalidade lícita, afigura-se
imprescindível a produção de um resultado naturalístico. Isso porque, se é voltada a uma
finalidade lícita, a conduta do agente constitui um indiferente penal, razão pela qual se mostra
necessário a produção de um resultado involuntário para caracterizar o crime culposo.
d) Nexo de causalidade
e) Previsibilidade objetiva
Assim, se realizar uma conduta sem prever o resultado, mas uma pessoa comum, com
prudência e inteligência mediana, inerente à generalidade dos indivíduos, teria a possibilidade
de prever, o agente terá agido, se presentes os demais elementos, com culpa, uma vez que, nas
circunstâncias, desenvolveu uma conduta sem prever o resultado que era previsível.
Esse juízo de valor deve ser realizado considerando as circunstâncias do caso concreto,
considerando a postura de um homem médio nas mesmas condições em que o agente se
encontrava. Ou seja, a análise não deve levar em conta qualquer homem médio, mas a
possibilidade de antever o resultado nas mesmas circunstâncias e condições em que o agente
estava inserido.
Assim, se o contexto fático envolve acidente de trânsito, deve-se realizar um juízo de valor
acerca da conduta do agente levando-se em conta a generalidade dos motoristas de veículo
automotor. Se a situação fática envolve uma intervenção cirúrgica, o juízo de valor e a
possibilidade de antever o resultado deve ser realizado considerando um cirurgião com diligência
e perspicácia normais à generalidade dos cirurgiões.
f) Ausência de previsão
Para caracterizar o fato típico culposo, é necessário, ainda, que o agente não tenha
previsto o resultado, embora previsível. Se o previu, não há culpa, mas, via de regra, dolo.
Não se vislumbra, pois, previsibilidade do agente que, conduzindo o veículo dentro das
normas de trânsito, atropela uma pessoa, que, de forma inesperada e repentina, se joga em
frente ao veículo com desejo suicida.
Para caracterizar o crime culposo, o fato praticado pelo agente deve encontrar
correspondência num tipo penal que prevê a modalidade culposa da conduta.
De fato, quando o tipo penal descreve um modelo legal de conduta proibida, silenciando
a respeito da modalidade culposa, significa que o crime existe somente na forma dolosa.
Tomemos como exemplo o crime de furto (CP, art. 155). O tipo penal descreve a conduta
proibida (Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel), silenciando quanto à modalidade
culposa dessa conduta. Logo, forçoso concluir que não existe furto culposo, incidindo, pois,
somente na modalidade dolosa.
Assim, para se aferir a tipicidade, deve-se verificar se o fato praticado pelo agente
encontra correspondência numa norma penal incriminadora que prevê a modalidade culposa.
Imaginemos que um motorista, imprimindo velocidade excessiva no seu veículo, dirigindo, pois,
de forma imprudente, perde o controle da direção e atropela uma pessoa, causando-lhe a morte.
Essa conduta imprudente encontra correspondência no tipo penal que define o crime de
homicídio culposo na condução de veículo automotor (Lei 9.503/97, art. 302), havendo, pois,
tipicidade.
Imaginemos que Felipe e Rogério estejam praticando uma caçada. Em certo momento,
Felipe visualiza um animal próximo a Rogério, e, confiando na sua habilidade no manuseio de
uma arma, refutando a possibilidade de atingir o amigo, faz a mira em direção do animal, aciona
o gatilho, mas acaba acertando Rogério, causando-lhe a morte. Nesse caso, Felipe responderá
pelo crime de homicídio culposo, já que confiou convictamente que atingiria o animal, e não a
vítima.
Tomemos como exemplo a conduta de Leonardo que, após uma noite inteira ingerindo
bebida alcoólica, estando, portanto, absolutamente embriagado, conduz seu veículo em altíssima
velocidade, arriscando manobras ousadas numa via de intenso fluxo de veículos e pedestres,
quando, ao ultrapassar sinal vermelho, atropela uma pessoa que cruzava a via. Há,
evidentemente, a previsão do resultado e, analisando-se todos os elementos que envolveram a
circunstâncias do caso concreto (embriaguez ao volante, excesso de velocidade em via
movimentada, ultrapassar sinal vermelho), forçoso concluir que o condutor do veículo assumiu o
risco de produzir o resultado, sendo indiferente quanto à sua incidência. Logo, nesse caso,
Leonardo deveria responder por homicídio doloso, na modalidade dolo eventual.
Em síntese, incide a culpa consciente quando o agente prevê o resultado, mas espera,
sinceramente, que não ocorrerá; configura- se o dolo eventual quando a vontade do agente não
está dirigida para a obtenção do resultado, mas, prevendo que o evento possa ocorrer, assume
assim mesmo a possibilidade de sua produção, conformando-se com a sua ocorrência.
7) (QUESTÃO 1 – XIX EXAME)
João estava dirigindo seu automóvel a uma velocidade de 100 km/h em uma rodovia em que o
limite máximo de velocidade é de 80 km/h. Nesse momento, foi surpreendido por uma bicicleta
que atravessou a rodovia de maneira inesperada, vindo a atropelar Juan, condutor dessa
bicicleta, que faleceu no local em virtude do acidente. Diante disso, João foi denunciado pela
prática do crime previsto no Art. 302 da Lei nº 9.503/97. As perícias realizadas no cadáver da
vítima, no automóvel de João, bem como no local do fato, indicaram que João estava acima da
velocidade permitida, mas que, ainda que a velocidade do veículo do acusado fosse de 80 km/h,
não seria possível evitar o acidente e Juan teria falecido. Diante da prova pericial constatando a
violação do dever objetivo de cuidado pela velocidade acima da permitida, João foi condenado à
pena de detenção no patamar mínimo previsto no dispositivo legal. Considerando apenas os
fatos narrados no enunciado, responda aos itens a seguir.
A) Qual o recurso cabível da decisão do magistrado, indicando seu prazo e fundamento
legal? (Valor: 0,60)
B) Qual a principal tese jurídica de direito material a ser alegada nas razões recursais?
(Valor: 0,65)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
C) Caso Caio fosse pronunciado, qual recurso poderia ser interposto e a quem a peça de
interposição deveria ser dirigida? (Valor: 0,3)
Princípio da insignificância
8.1 Introdução
Muitas vezes, condutas que coincidem com o tipo, do ponto de vista formal, não
apresentam a menor relevância material. São condutas de pouco ou escasso significado lesivo,
de forma que, nesses casos, tem aplicação o princípio da insignificância, pelo qual se permite
excluir, de pronto, a tipicidade material.
Exemplo: furto de produtos de higiene pessoal avaliados em R$ 2,65. Tentar subtrair uma
caixinha de ovos. Subtrair apenas uma lata de sardinha, ou, ainda, na subtração, em
supermercado, de simples escova de dentes ou de um pano de prato, balas, doces, bombons ou
pequenos enfeites de Natal.
Com efeito, o STF e o STJ apontam quatro requisitos objetivos para a incidência do
princípio da insignificância: a) mínima ofensividade da conduta; b) ausência de periculosidade
social da ação; c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; d) inexpressividade da
lesão jurídica.
E, na verdade, parece-nos que não seria realmente adequado estabelecer critérios rígidos
e absolutos para cada requisito, já que os parâmetros estabelecidos para aferição da incidência
do princípio da insignificância podem variar a depender das circunstâncias do caso concreto,
como, por exemplo, o valor do bem atingido, a situação econômica da vítima, as condições
pessoais do autor do fato, bem como as peculiaridades da prática delituosa.
Em outras palavras, a valoração conjunta desses requisitos pode variar de caso a caso, o
que pode parecer insignifi cante num caso, pode não ser em outro semelhante, ou seja, furtar
um objeto no valor de R$ 100,00 (cem reais) pertencente a uma pessoa com situação fi nanceira
confortável pode ensejar a incidência do princípio da insignifi cância, ao passo que subtrair uma
velha bicicleta, avaliada em R$ 100,00 (cem reais), pertencente a um modesto trabalhador que
a utiliza como meio de transporte para se deslocar até o local de trabalho, pode não incidir tal
princípio.
9) (QUESTÃO 4 – XI EXAME)
A) O que o magistrado deve fazer? Após indicar a solução, dê o correto fundamento legal.
(Valor: 0,65)
Maria foi denunciada pela suposta prática do crime de descaminho, tendo em vista que teria
deixado de recolher impostos que totalizavam R$ 500,00 (quinhentos reais) pela saída de
mercadoria, fato constatado graças ao lançamento definitivo realizado pela Administração
Pública. Considerando que constava da Folha de Antecedentes Criminais de Maria outro
processo pela suposta prática de crime de roubo, inclusive estando Maria atualmente presa em
razão dessa outra ação penal, o Ministério Público deixou de oferecer proposta de suspensão
condicional do processo. Após a instrução criminal em que foram observadas as formalidades
legais, sendo Maria assistida pela Defensoria Pública, foi a ré condenada nos termos da
denúncia. A pena aplicada foi a mínima prevista para o delito, a ser cumprida em regime inicial
aberto, substituída por restritiva de direitos. Maria foi intimada da sentença através de edital, pois
não localizada no endereço constante do processo. A família de Maria, ao tomar conhecimento
do teor da sentença, procura você, na condição de advogado(a) para prestar esclarecimentos
técnicos. Informa estar preocupada com o prazo recursal, já que Maria ainda não tinha
conhecimento da condenação, pois permanecia presa. Na condição de advogado(a),
esclareça os seguintes questionamentos formulados pela família da ré.
9.1 Conceito
É a causa excludente da ilicitude erroneamente imaginada pelo agente. Ela não existe
na realidade, mas o sujeito pensa que sim, porque está errado. Só existe, portanto, na mente,
na imaginação do agente. Por essa razão, é também conhecida como descriminante imaginária
ou erroneamente suposta.
Logo, é possível que o sujeito, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias do
caso concreto, suponha encontrar-se em estado de necessidade, legítima defesa, estrito
cumprimento do dever legal ou em exercício regular do direito. Quando isso ocorre, aplica-se o
disposto no art. 20, § 1º, 1ª parte.
9.2 Espécies
Legítima defesa
Estado de necessidade
Assim, por exemplo, se o agente praticar uma conduta supondo estar diante de uma
agressão injusta, mas, que na verdade, não existe. Trata-se de legítima defesa putativa.
O agente pratica uma conduta supondo estar numa situação de perigo, que, na verdade,
não existe. Trata-se de estado de necessidade putativo.
Os efeitos são os mesmos do erro de tipo, já que a descriminante putativa por erro de tipo
não é outra coisa senão erro de tipo essencial incidente sobre tipo permissivo.
Assim, se o erro for vencível, o agente responde por crime culposo, já que o dolo será
excluído, da mesma forma como sucede com o erro de tipo propriamente dito; se o erro for
inevitável, excluir-se-ão o dolo e a culpa e não haverá crime.
O agente tem perfeita noção de tudo o que está ocorrendo. Não há qualquer engano
acerca da realidade. Não há erro sobre a situação de fato. Ele supõe que está diante da causa
que exclui o crime, porque avalia equivocadamente a norma: pensa que esta permite, quando,
na verdade, ela proíbe; imagina que age certo, quando está errado; supõe que o injusto é justo.
O sujeito imagina estar em legítima defesa, estado de necessidade etc., porque supõe
estar autorizado e legitimado pela norma a agir em determinada situação.
Exemplo: uma pessoa de idade avançada recebe um violento tapa em seu rosto, desferido
por um jovem atrevido. O idoso tem perfeita noção do que está acontecendo, sabe que seu
agressor está desarmado e que o ataque cessou. Não existe, portanto, qualquer equívoco sobre
a realidade concreta. Nessa situação, no entanto, imagina-se equivocadamente autorizado pelo
ordenamento jurídico a matar aquele que o humilhou, atuando, assim, em legítima defesa de sua
honra.
O dolo não pode ser excluído, porque o engano incide sobre a culpabilidade e não sobre
a conduta (por isso, erro de proibição). Se o erro for inevitável, o agente terá cometido um crime
doloso, mas não responderá por ele; se evitável, responderá pelo crime doloso com pena
diminuída de 1/6 a 1/3.
9.3 Consequências
10.1. Introdução
Há um fato, em tese, punível, mas que sobre ele podem incidir, aparentemente, duas ou
mais normas penais. Todavia, tendo em vista ser vedada a incidência de mais de uma norma
penal sobre fato único, apenas uma das normas possíveis deverá ser aplicada ao caso concreto.
Imaginemos o caso de uma mãe matar, sob influência do estado puerperal, o próprio filho,
logo após o parto. Há um único fato sobre o qual, aparentemente, pode incidir o crime de
homicídio, previsto no art. 121 do CP, ou infanticídio, previsto no art. 123 do CP. Eis o conflito de
normas estabelecido, já que apenas uma delas deverá incidir sobre o fato.
O conflito de normas é aparente, pois será sanado com a aplicação do princípio adequado
ao caso. Em outras palavras, o conflito que se estabelece entre as normas é apenas aparente,
porque, na realidade, somente uma delas acaba regulamentando o fato, ficando afastadas as
demais.
No conflito aparente de normas há um único fato, retratado por única conduta, devendo
sobre ela incidir apenas uma das normas vigentes. No concurso de crimes há pluralidade de
condutas, ensejando a incidência de dois ou mais fatos delituosos. Nesse caso de pluralidade
de crimes, evidentemente será possível a aplicação de mais de uma norma penal, uma para
cada fato praticado, resultando na soma ou exasperação da pena final.
Trata-se da aplicação da regra de que a lei especial afasta a aplicação da lei geral.
E, nos termos do art. 12 do CP, a lei especial prevalece sobre a lei geral.
Tomemos, novamente, como exemplo o caso de uma mãe matar, sob influência do estado
puerperal, o próprio filho, durante ou logo após o parto. Há um único fato sobre o qual,
aparentemente, pode incidir o crime de homicídio, previsto no art. 121 do CP, ou infanticídio,
previsto no art. 123 do CP. O crime de infanticídio possui núcleo idêntico ao do crime de
homicídio, ou seja, reúne todos os elementos descritos no art. 121 do CP, consistentes em “matar
alguém”. Todavia, além dos elementos da norma geral, prevista no art. 121 do CP, o art. 123 do
CP contém elementos que o especializa e o diferencia do crime de homicídio, quais sejam: autora
do fato ser a própria genitora da vítima; vítima nascente ou neonato; crime praticado sob
influência do estado puerperal.
Note-se que se estabeleceu um conflito entre as normas dos arts. 121 e 123 do CP, mas
que é aparente, pois será solucionado pelo princípio da especialidade, prevalecendo, no caso, a
norma penal que define o crime de infanticídio, já que as elementares contidas neste crime o
torna especial em relação à norma geral que define o homicídio.
É o que ocorre, por exemplo, entre os crimes de contrabando, previsto no art. 334-A do
CP, e o crime de tráfico de drogas, previsto no art. 33, caput, da Lei no 11.343/2006. Sobre a
conduta de importar cocaína pode, aparentemente, incidir duas normas: a que define o crime de
contrabando e a que prevê o crime de tráfico de drogas. Todavia, esse conflito é resolvido pelo
princípio da especialidade. O art. 33, caput, da Lei no 11.343/2006 reúne todos os elementos
contidos no tipo penal que descreve o crime de contrabando, acrescido de elementares que o
especializa, qual seja, importar droga, prevalecendo, assim, sobre a norma geral.
A comparação não recai sobre o fato, mas entre as normas penais que aparentemente
podem incidir sobre o delito praticado. Assim, deve-se buscar adequar o fato praticado às normas
possíveis. Se, além de se enquadrar na norma geral, o fato praticado apresentar algum elemento
que o especialize, que o destaque, que o especifique em relação à conduta descrita na norma
geral, prevalecerá a incidência da lei especial. Em outras palavras, se, além de abrigar todos os
elementos da lei geral, conter ainda elementos que a especifiquem, a lei especial prevalece sobre
a geral.
A norma primária ou principal é aquela que descreve a conduta de forma mais abrangente,
contemplando, inclusive, aquela descrita na norma subsidiária. Trata-se, pois, de norma que
descreve conduta de forma mais abrangente, que atinge com maior gravidade determinado bem
jurídico.
Considera-se subsidiária a norma que descreve uma conduta que atinge em menor grau
um determinado bem jurídico, sendo, pois, menos grave do que a norma principal. A norma
subsidiária, portanto, além de ser menos grave, descreve conduta que representa parte da
execução do delito previsto na norma principal. A norma subsidiária está abarcada pela norma
principal.
Tomemos como exemplo o tipo penal que define o crime de constrangimento ilegal (CP,
art. 146) em consonância com o crime de estupro (CP, art. 213). O delito de constrangimento
ilegal é menos grave que o de estupro. Além disso, o tipo penal que define o crime de
constrangimento ilegal descreve uma parte da execução do crime de estupro, consistente em
“constranger”. Logo, a norma que define o crime de constrangimento ilegal é subsidiária,
enquanto a que define o crime de estupro é a principal.
Isso porque a norma principal ou primária absorve a norma subsidiária, que incidirá
somente na impossibilidade de aplicação da norma principal mais grave. Primeiro, verifica-se,
considerando as circunstâncias do caso concreto, se não incide a norma primária. Se a conduta
não se enquadrar perfeitamente no tipo penal mais grave, passa-se então a cogitar da incidência
da norma subsidiária. É como, perdoe-nos a analogia, se o jogador titular do grande grêmio
imortal não puder entrar em campo, jogará o reserva.
O crime de expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente constitui exemplo
de subsidiariedade expressa, porquanto o próprio art. 132 do CP prevê que incidirá a pena de
detenção, de três meses a um ano pela prática de tal delito, “se o fato não constitui crime mais
grave”. Assim, se não restar caracterizada a prática, por exemplo, de tentativa de homicídio
(norma primária), poderá, conforme o caso, incidir o delito previsto no art. 132 do CP (norma
subsidiária).
A norma subsidiária que define o crime de subtração de incapaz, previsto no art. 249 do
CP, somente incidirá “se o fato não constitui elemento de outro crime”. Assim, se, por exemplo,
o agente subtraiu/sequestrou o menor de 18 anos como condição ou preço de resgate, incorrerá
no crime de extorsão mediante sequestro, previsto no art. 159 do CP (norma principal).
O crime de importunação sexual, previsto no art. 215-A do CP, incluído pela Lei no
13.718/2018, incidirá “se o ato não constitui crime mais grave”, conforme expressamente prevê
o referido dispositivo legal. Logo, o delito de importunação sexual somente incidirá se a conduta
do agente não caracterizar crime mais grave, como, por exemplo, estupro (CP, art. 213) ou
estupro de vulnerável (CP, art. 217-A).
Assim, como já decidiu o STJ, a conduta do agente que surpreendeu a vítima, puxando-a
pelo braço, para fazê-la tocar em seu órgão genital, não obtendo êxito porque a vítima conseguiu
dele se desvencilhar, enquadra-se no art. 213 c/c art. 14, II, ambos do CP, já que se trata de ato
mais grave do que aquele previsto no art. 215-A do CP. Poder-se-ia cogitar da incidência do art.
215-A do CP (norma subsidiária), se a ação atentatória contra o pudor praticada com propósito
lascivo contra a vítima tivesse ocorrido sem violência ou grave ameaça.5
A subsidiariedade tácita ou implícita ocorre quando a norma penal não ressalva, de modo
expresso, a sua incidência na hipótese de outra norma de maior gravidade punitiva não ser
aplicável ao caso concreto.
5 STJ, AgRg no REsp no 1767968/MG, rel. Min. Nefi Cordeiro, 6a T., j. 5-5-2020.
Logo, a conduta do agente que aponta uma arma em direção à vítima maior de idade,
determinando que fique nua, sem o dolo lascivo, mas tão somente para constrangê-la, não se
enquadra no crime de estupro, porque não foi compelida a praticar ou permitir que com ela se
pratique ato sexual. Todavia, porque a vítima foi constrangida a fazer algo contra sua vontade,
incide a norma subsidiária, prevista no art. 146 do CP.
Prevalece, nessa hipótese, a norma penal que define o crime mais abrangente, que
absorverá a norma que prevê conduta de menor amplitude, evitando-se a incidência do bis in
idem.
A aplicação do princípio da consunção se justifica, porque o bem jurídico protegido pela
norma menos abrangente já está tutelado pela norma mais abrangente. Além disso, a violação
da norma menos abrangente constitui meio necessário para atingir o bem jurídico tutelado pela
norma mais abrangente.
Assim, considerando o exemplo acima, a integridade corporal (bem jurídico tutelado pelo
art. 129 do CP) também está protegido pela norma mais abrangente prevista no art. 121 do
CP. E, ainda, como a ofensa à integridade corporal constitui meio necessário para alcançar o
crime de homicídio, as lesões corporais previamente praticadas serão absorvidas pelo crime de
homicídio. Em síntese, o agente responderá unicamente pelo crime de homicídio (CP, art. 121).
a) Crime progressivo
Tomemos como exemplo o agente que pretende desde o início produzir a morte da vítima.
Para tanto, utiliza-se de uma faca, golpeando a vítima em várias partes do corpo, vindo ao final
a aplicar o golpe fatal, causando-lhe a morte. Há um único elemento subjetivo, sendo a conduta
composta por vários atos praticados de forma progressiva até atingir o resultado mais grave.
Surge, assim, o conflito aparente de normas: o agente responderá pelos delitos de lesão corporal
(CP, art. 129) e homicídio (CP, art. 121) ou apenas pelo crime de homicídio (CP, art. 121)??
Nesse caso, aplicando-se o princípio da consunção, o agente responderá apenas pelo crime de
homicídio (CP, art. 121), pois as várias lesões corporais produzidas pelos golpes de faca
constituíram meio necessário para a execução do delito pretendido, sendo, por isso, absorvidas
pelo crime de homicídio.
b) Progressão criminosa
Assim, se o dolo inicial era o de praticar apenas lesão corporal, mas, ao longo da
execução, o agente decidir matar a vítima, haverá pluralidade de desígnios, com modificação do
dolo (primeiro, pretendia lesionar; após, deliberou por matar a vítima) e pluralidade de condutas,
6 STJ, AgRg no AgREsp no 1186399/MS, rel. Min. Nefi Cordeiro, 6a T., j. 3-5-2018.
praticadas em progressividade delitiva. Nesse caso, o agente responderá apenas pelo crime de
homicídio, restando absorvidas as lesões corporais praticadas.
c) Fatos impuníveis
Pode ocorrer de o agente realizar uma conduta anterior ou posterior, previstos como
delitos autônomos, mas que, ao final, são impuníveis. Trata-se das hipóteses dos chamados ante
factum impunível e pos factum impunível.
O ante factum não punível ocorre quando um fato anterior menos grave constitui meio
necessário para a prática de outro fato, mais grave, ficando, por conseguinte, o primeiro
absorvido, sendo o fato antecedente mero indiferente penal.
O post factum impunível ocorre quando, após realizada a conduta, o agente pratica nova
conduta voltada a ofender o mesmo bem jurídico, visando apenas tirar proveito da prática
anterior. Trata-se, pois, de mero exaurimento. Assim, se após o furto o agente destrói a coisa
subtraída, só responde pelo furto (CP, art. 155), que absorverá o crime de dano (CP, art. 163).
Neste caso, a lesão ao interesse jurídico causada pela conduta precedente torna indiferente o
crime de dano.
Se o agente adquirir, guardar e vender determinada droga, praticando, assim, três das
condutas previstas no art. 33 da Lei no 11.343/2006, deverá ser imputado a ele a prática de um
crime de tráfico de drogas, não incidindo, no caso, concurso de três infrações.
7 STJ, AgRg no RHC no 112730/SP, rel. Min. Ribeiro Dantas, 5a T., j. 3-3-2020.
13) (XXV EXAME – REAPLICAÇÃO EM PORTO ALEGRE – TESE PRINCIPAL DA PEÇA)
Breno, nascido em 07 de junho de 1945, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, falsifica
uma assinatura em uma folha de cheque e a apresenta em loja de eletrodomésticos localizada
no bairro de sua residência, com a intenção de realizar compras no valor de R$ 5.000,00 (cinco
mil reais). Após a apresentação do cheque, apesar de a falsificação não ser grosseira e ser apta
a enganar, o gerente do estabelecimento comercial percebe que aquele cheque não fora
assinado pelo verdadeiro correntista do banco, já que o nome que constava do título de crédito
era de um grande amigo seu. Descoberta a fraude, o referido gerente aciona a polícia, e Breno
é preso em flagrante antes de obter a vantagem pretendida. Com o recebimento dos autos, o
Ministério Público opina pela liberdade de Breno e oferece denúncia pela prática dos crimes do
Art. 171, caput, e Art. 297, § 2º, na forma do Art. 69, todos do Código Penal. Após concessão da
liberdade provisória e recebimento da denúncia, houve juntada do laudo pericial do cheque,
constatando a falsidade e a capacidade para iludir terceiros, bem como da Folha de
Antecedentes Criminais, no qual consta uma condenação definitiva pela prática, no ano anterior,
do crime de homicídio culposo na direção de veículo automotor, além de uma ação em curso
pela suposta prática de crime de furto. Durante a instrução, todos os fatos acima descritos são
confirmados pelas testemunhas, não tendo sido o réu interrogado, já que, apesar de intimado,
apresentou problemas de saúde no dia e não pôde comparecer à audiência. Ainda durante a
audiência de instrução e julgamento, após a instrução, as partes apresentaram suas alegações,
sendo consignado pela defesa o inconformismo com a ausência do réu, já que foi apresentado
atestado médico, e, em seguida, o juiz proferiu sentença condenatória nos termos da denúncia,
condenando o agente pela prática dos dois delitos em suas modalidades consumadas. No
momento de fixar a pena-base, aumentou o magistrado a pena do estelionato em 02 meses,
destacando que o comportamento de Breno não deixa qualquer dúvida de que agiu com dolo. Já
a pena do uso de documento falso foi aplicada em seu patamar mínimo. Na segunda fase, não
foram reconhecidas atenuantes, mas foi reconhecida a agravante da reincidência, aumentando
a pena de cada um dos delitos em mais 02 meses de reclusão. No terceiro momento, não foram
reconhecidas causas de aumento ou de diminuição. Assim, foi fixada a pena de 01 ano e 04
meses de reclusão e 14 dias-multa, no que tange ao crime de estelionato, e 02 anos e 02 meses
de reclusão e 12 dias-multa para o crime de falsificação de documento equiparado ao público,
restando a pena final em 03 anos e 06 meses de reclusão e 26 dias-multa. O regime inicial de
cumprimento de pena aplicado pelo magistrado foi o semiaberto e não houve substituição da
pena privativa de liberdade por restritiva de direito, tudo fundamentado na reincidência do agente.
Intimado da decisão, o Ministério Público apenas tomou ciência de seu teor, não apresentando
qualquer medida. Já a defesa técnica de Breno foi intimada de seu teor em 06 de dezembro de
2017, quarta-feira, sendo quinta-feira dia útil em todo o país. Considerando apenas as
informações narradas, na condição de advogado(a) de Breno, redija a peça jurídica
cabível, diferente de habeas corpus e embargos de declaração, apresentando todas as
teses jurídicas pertinentes. A peça deverá ser datada no último dia do prazo para
interposição. (Valor: 5,00)
Concurso de pessoas
Trata-se de contribuição entre dois ou mais agentes para o cometimento de uma infração
penal. Ocorre quando duas ou mais pessoas, em conjugação de esforços, reúnem-se para a
prática de um ou mais delitos.
11.2. Requisitos
Não basta a contribuição de duas ou mais pessoas na prática delituosa para caracterizar
o concurso de pessoas. É necessária, ainda, a presença de determinados requisitos, sem os
quais não há como configurar o concurso de pessoas.
Assim, para que haja concurso de pessoas, exige-se que cada um dos agentes tenha
realizado ao menos uma conduta relevante. Pode ser autoria e participação, em que há uma
conduta principal e outra acessória, praticadas, respectivamente, por autor e partícipe, bem como
em coautoria, em que há duas condutas principais.
11.2.2. Relevância causal das condutas
Nos termos do art. 29, caput, do CP, quem, de qualquer modo, contribuir para a prática
de um delito incide nas penas a este cominadas. A expressão de “qualquer modo” revela a
amplitude da forma de atuação do agente na empreitada delituosa, seja na forma de contribuição
pessoal, direta ou indireta, física ou moral.
Extrai-se, ainda, do art. 29, caput, do CP, que, para incidir a hipótese de concurso de
pessoas, a conduta do agente deve concorrer para o crime, contribuindo, ainda que
minimamente, para a produção do resultado. É imprescindível, pois, que a conduta do agente
tenha sido relevante para a infração penal, a ponto de, se excluída do curso causal, o resultado
não teria ocorrido da forma como ocorreu.
Em outras palavras, se a conduta não tem qualquer relevância causal, isto é, se não
contribuiu em nada para a produção do resultado, não há que se falar em concurso de pessoas.
Os agentes devem atuar conscientes de que participam de crime comum, ainda que não
tenha havido acordo prévio de vontades. A ausência desse elemento psicológico inviabiliza o
concurso de pessoas, ensejando condutas isoladas e autônomas.
A atuação de cada um dos agentes deve ser voltada para a produção do mesmo resultado.
Trata-se do princípio da convergência de vontades dos agentes voltados para a prática do
mesmo crime, ainda que não haja combinação prévia, ou seja, que um dos agentes não saiba
da contribuição do outro.
No vínculo subjetivo, que caracteriza o concurso de pessoas, basta que um dos agentes
tenha conhecimento que está contribuindo para prática delituosa, ainda que não tenha havido
combinação prévia com o outro agente envolvido no delito. Basta, em síntese, um dos agentes
aderir à conduta ou à vontade de outrem, e concorrer, ainda que sem o conhecimento do outro,
para a produção do resultado.
Nos termos do art. 29, caput, do CP: “Quem, de qualquer modo, concorre para o crime
incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”. Significa que, via de regra,
todos aqueles que contribuem para a prática de delito responderão pelo mesmo crime.
É a aplicação da teoria unitária ou monista, segundo a qual haverá um único crime para
os diversos agentes. Assim, o agente que anuncia o assalto e realiza a subtração responderá
pelo mesmo crime daquele que o conduziu até o local do roubo, aguardando-o para empreender
fuga, e daquele que planejou toda a atividade criminosa. Os três agentes responderão pelo crime
de roubo majorado.
Dentre essas teorias, merecem destaque: a) teoria objetiva (na qual está alojada a
vertente restritiva); b) teoria do domínio do fato.
Com efeito, ao contrário da teoria extensiva, que tratava a autoria como figura única,
ampliando sobremaneira seu conceito, a teoria restritiva limita o conceito de autor à determinada
forma de atuação, estabelecendo nítida distinção em relação à figura do partícipe.
Agora, com a teoria objetiva, na vertente restritiva, não há só a figura do autor, mas a
figura do autor e do partícipe.
Para a teoria objetivo-formal, autor é aquele que realiza a ação ou omissão descrita no
verbo nuclear do tipo penal que define o crime ou contravenção. É, em síntese, aquele que
pratica a conduta descrita no tipo penal incriminador. É aquele que pratica, por exemplo, a ação
de “matar” (CP, art. 121); de subtrair (CP, arts. 155 e 157); de constranger (CP, arts. 146, 158 e
213).
Partícipe é aquele que contribui, de qualquer modo, para a empreitada delituosa, mas sem
realizar a ação ou omissão descrita no verbo nuclear do tipo. É aquele que induz, instiga ou
auxilia o autor a executar a conduta descrita no tipo penal.
Assim, o agente que efetua disparos contra a vítima, atuará no crime de homicídio na
condição de autor, ao passo que aquele que induziu a matá-la atuará na condição de partícipe.
Quem ingressa numa agência bancária e, portando uma arma de fogo, anuncia o assalto
e realiza a subtração do dinheiro, atuará no crime de roubo majorado na condição de autor,
enquanto o agente que se posta no lado externo do prédio e aguarda, com o motor do veículo
acionado, o comparsa para empreenderem fuga, atua no delito na condição de partícipe.
Por meio dessa norma de extensão, que serve como verdadeira ponte, é possível
adequar, ainda que de forma indireta, a conduta do partícipe ao tipo penal que descreve a
conduta criminosa.
Assim, por exemplo, a conduta do autor intelectual ou do mandante do crime será típica,
por força da norma de extensão (ou ponte de ouro) do art. 29, caput, CP, que estabelece a
ligação entre a sua conduta e o tipo penal correspondente.
De acordo com a teoria do domínio do fato, autor é quem tem o controle final do fato. É
quem domina o decurso do crime e decide sobre sua prática, interrupção e circunstâncias. O
partícipe não tem o domínio do fato, pois apenas coopera, induz e incita a prática do delito.
O partícipe é aquele que contribui para o delito alheio, sem realizar a figura típica, nem
tampouco comandar a ação. É quem não domina a realização do fato, mas contribui de qualquer
modo para ele.
EXEMPLO 1:
Clodoaldo, Alan e Patrícia, todos maiores e capazes, deliberaram para assaltar uma
empresa local. Em data e hora combinadas, no período noturno e após o
fechamento, Clodoaldo e Alan arrombaram a porta dos fundos da empresa, na qual
entraram e ficaram vigiando enquanto Patrícia subtraía objetos valiosos, que seriam
divididos igualmente entre os três. Como se vê, a rigor somente Patrícia praticou a
ação nuclear do tipo penal que define o crime de furto, já que somente ela praticou
o ato de subtrair. Não há dúvida que Patrícia atuou no delito na condição de autora.
Clodoaldo e Alan não realizaram a ação descrita no tipo penal, mas, sem dúvida,
tinham o controle de toda a ação delituosa, o domínio final do fato, sendo, portanto,
também autores do delito.
EXEMPLO 2:
11.3.2. Coautoria
A coautoria parcial (ou funcional) é aquela em que há divisão de tarefas entre os agentes,
que, somadas, produzem o resultado desejado por todos.
EXEMPLO:
Um dos agentes segura a vítima, enquanto o outro desfere nela golpes de faca.
A coautoria direta (ou material) é aquela em que todos os agentes executam atos iguais,
voltados à produção do resultado.
EXEMPLO:
Mauro e Arnaldo, ambos portando faca, desferem golpes de faca contra a vítima
até levá-la à morte.
11.3.3. Participação
Conforme a teoria restritiva de autoria, partícipe é quem contribui para que o autor ou
coautores realizem a conduta principal, ou seja, aquele que, sem praticar o verbo nuclear do tipo,
concorre de algum modo para a produção do resultado. De acordo com a teoria do domínio do
fato, participação é a contribuição dolosa de menor relevância, em que o agente contribui para o
fato de outrem, sem ter o domínio do fato.
Assim, considerando a teoria restritiva, adotada pelo Código Penal, autor seria o agente
que pratica a conduta descrita no verbo nuclear do tipo incriminador, ao passo que partícipe seria
aquele que contribui, de qualquer modo, para a atividade delituosa, mas sem realizar a conduta
descrita no tipo penal.
EXEMPLO:
O art. 29, caput, do CP não delimitou a forma de atuação dos agentes, estabelecendo,
apenas, que quem, de qualquer modo, concorre para o crime responderá nas penas a este
cominadas.
a) Induzir
No induzimento, o agente introduz na mente do autor a ideia criminosa. O autor não tinha
a representação mental da prática delituosa, sendo induzido pelo partícipe a cogitar a execução
do delito. Em síntese, na indução, o partícipe faz surgir na mente do agente a intenção delituosa.
EXEMPLO:
b) Instigar
EXEMPLO:
Suponha-se que tenha ocorrido um desentendimento entre Marcelo e João. Marcelo
conta o ocorrido a Fernando, manifestando, ainda, a vontade de matar João.
Fernando, então, passa a instigá-lo, reforçando a ideia criminosa, encorajando
Marcelo a levar adiante a conduta delituosa e consumar o seu desejo de matar João.
Se efetivamente matar João, Marcelo atuará na condição de autor do homicídio, ao
passo que Fernando responderá pelo mesmo delito na condição de partícipe.
Para a participação ser punível, afigura-se imprescindível que o ato executório do crime
tenha sido iniciado. Com efeito, o ajuste, a determinação, a indução, instigação e o auxílio
somente serão punidos se o autor der início à execução do delito. Se o crime nem sequer chegar
a ser tentado, a conduta do partícipe não será punível (CP, art. 31).
Imaginemos que Fabrício contrata Félix para matar Mafalda. Félix sai em busca de
Mafalda e, ao avistá-la, apiedado, nem sequer dá início aos atos executórios. Nesse caso, tanto
Fabrício quanto Félix não sofrerão qualquer tipo de punição, uma vez que o delito nem sequer
chegou a ser tentado.
Trata-se de decorrência lógica do caráter de acessoriedade da participação, uma vez que,
para existir participação punível, afigura-se imprescindível que o autor ao menos tenha dado
início à prática de um fato típico e ilícito.
Essa regra, no entanto, comporta exceção, insculpida na expressão “salvo disposição em
contrário”, que consta no art. 31 do CP.
Com efeito, há situações expressamente previstas em lei em que o ajuste, a determinação,
instigação ou auxílio são tipificados como crimes autônomos, como, por exemplo, nos crimes de
incitação ao crime (CP, art. 286) e de associação criminosa (CP, art. 288). Nesses casos, basta,
respectivamente, a incitação ao crime e a associação de três ou mais pessoas com a finalidade
de praticarem crimes para a tipificação da conduta, independentemente se os crimes objeto da
incitação ou da associação vierem a ser praticados.
FIQUE LIGADO
Formas
Material Auxiliar
11.4. Punibilidade do concurso de pessoas
11.4.1. Participação de menor importância – Art. 29, §1º
A participação aqui referida diz respeito exclusivamente ao partícipe. Isso porque, ainda
que tenha sido pequena, a contribuição do coautor não pode ser considerada de menor
importância, uma vez que atuou diretamente na execução do crime. A sua culpabilidade,
naturalmente superior à de um simples partícipe, será avaliada nos termos do art. 29, caput, do
CP, e a pena a ser fixada obedecerá aos limites abstratos previstos pelo tipo penal infringido.
O partícipe que houver tido “participação de menor importância” poderá ter sua pena
reduzida de um sexto a um terço, nos termos do art. 29, § 1º.
Esse dispositivo cuida da hipótese de o autor principal cometer delito mais grave que o
pretendido pelo partícipe ou coautor.
EXEMPLO:
“A” determina “B” a espancar “C”. “B” mata “C”. Segundo o art. 29, § 2º, “A”
responde por crime de lesão corporal, cuja pena deve ser aumentada até metade se
a morte da vítima lhe era previsível.
De fato, a solução dada pelo CP leva à punição de “A” pelo delito de lesões corporais, que
foi o crime desejado, cuja pena será elevada até a metade se o homicídio for previsível.
PARTICIPAÇÃO DE COOPERAÇÃO
MENOR DOLOSAMENTE
IMPORTÂNCIA DISTINTA
Aumenta-se até a
metade, na hipótese
Causa de diminuição de ter sido previsível
de pena de 1/6 a 1/3 o resultado mais
grave.
EXEMPLO:
“A”, funcionário público, comete um crime de peculato (art. 312), com a participação
de “B”, não funcionário público. A condição pessoal (funcionário público) é
elementar do crime de peculato, comunicando-se, portanto, ao agente que não é
funcionário público. Logo, os dois respondem por crime de peculato.
De outro lado, as circunstâncias objetivas alcançam o partícipe ou coautor se, sem haver
praticado o fato que as constitui, houveram integrado o dolo ou culpa.
EXEMPLO:
“A” instiga “B” a praticar homicídio contra “C”. “B”, para a execução do crime,
emprega asfixia. O partícipe não responde por homicídio qualificado (art. 121, § 2º,
III, 4ª figura), a não ser que o meio de execução empregado pelo autor principal
tenha ingressado na esfera de seu conhecimento.
EXEMPLO:
O motivo egoístico, que qualifica o crime de dano (CP, art. 163, parágrafo único, IV,
primeira figura), não se comunica aos demais concorrentes que tenham colaborado
com o fato por outros motivos.
14) (QUESTÃO 01 – IX EXAME)
Raimundo, já de posse de veículo automotor furtado de concessionária, percebe que não tem
onde guardá-lo antes de vendê-lo para a pessoa que o encomendara. Assim, resolve ligar para
um grande amigo seu, Henrique, e após contar toda sua empreitada, pede-lhe que ceda a
garagem de sua casa para que possa guardar o veículo, ao menos por aquela noite. Como
Henrique aceita ajudá-lo, Raimundo estaciona o carro na casa do amigo. Ao raiar do dia,
Raimundo parte com o veículo, que seria levado para o comprador.
Considerando as informações contidas no texto responda, justificadamente, aos itens a
seguir.
A) Raimundo e Henrique agiram em concurso de agentes? (Valor: 0,75)
B) Qual o delito praticado por Henrique? (Valor: 0,50)
15) (QUESTÃO 01 – XXIX EXAME)
Caio e Bruno são irmãos e estão em dificuldades financeiras. Caio, que estava sozinho em seu
quarto, verifica que a janela da casa dos vizinhos está aberta; então, ingressa no local e subtrai
um telefone celular avaliado em R$500,00. Ao mesmo tempo, apesar de não saber da conduta
de seu irmão, Bruno percebe que a porta da residência dos vizinhos também ficou aberta. Tendo
conhecimento que os proprietários eram um casal de empresários muito rico, ingressa no local
e subtrai uma bolsa, avaliada em R$ 450,00.
Os fatos são descobertos dois dias depois, e Bruno e Caio são denunciados pelo crime de furto
qualificado (Art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal), sendo acostadas as Folhas de
Antecedentes Criminais (FAC), contendo, cada uma delas, outra anotação pela suposta prática
de crime de estelionato, sem, contudo, haver condenação com trânsito em julgado em ambas.
Após instrução, a pretensão punitiva do Estado é julgada procedente, sendo aplicada pena
mínima de 02 anos de reclusão e 10 dias-multa, em regime inicial aberto, devidamente
substituída por restritiva de direitos.
Com base nas informações expostas, intimado(a) para apresentação de recurso,
responda, na condição de advogado(a) de Caio e Bruno, aos itens a seguir.
A) Existe argumento de direito material a ser apresentado para questionar a capitulação
jurídica apresentada pelo Ministério Público e acolhida na sentença? (Valor: 0,60)
B) Mantida a capitulação acolhida na sentença (Art. 155, § 4º, inciso IV, do Código Penal),
existe argumento em busca da redução da pena aplicada? (Valor: 0,65)
O(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
16) (QUESTÃO 3 – XIX EXAME)
Sabendo que Vanessa, uma vizinha com quem nunca tinha conversado, praticava diversos furtos
no bairro em que morava, João resolve convidá-la para juntos subtraírem R$ 1.000,00 de um
cartório do Tribunal de Justiça, não contando para ela, contudo, que era funcionário público e
nem que exercia suas funções nesse cartório. Praticam, então, o delito, e Vanessa fica surpresa
com a facilidade que tiveram para chegar ao cofre do cartório. Descoberto o fato pelas câmeras
de segurança, são os dois agentes denunciados, em 10 de março de 2015, pela prática do crime
de peculato. João foi notificado e citado pessoalmente, enquanto Vanessa foi notificada e citada
por edital, pois não foi localizada em sua residência. A família de Vanessa constituiu advogado
e o processo prosseguiu, mas dele a ré não tomou conhecimento. Foi decretada a revelia de
Vanessa, que não compareceu aos atos processuais. Ao final, os acusados foram condenados
pela prática do crime previsto no Art. 312 do Código Penal à pena de 02 anos de reclusão. Ocorre
que, na verdade, Vanessa estava presa naquela mesma Comarca, desde 05 de março de 2015,
em razão de prisão preventiva decretada em outros dois processos. Ao ser intimada da
sentença, ela procura você na condição de advogado(a). Considerando a hipótese
narrada, responda aos itens a seguir.
A) Qual argumento de direito processual poderia ser apresentado em favor de Vanessa
em sede de apelação? Justifique. (Valor: 0,65)
B) No mérito, foi Vanessa corretamente condenada pela prática do crime de peculato?
Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: o mero “sim” ou “não”, desprovido de justificativa ou mesmo com a indicação de justificativa
inaplicável ao caso, não será pontuado.
Concurso de crimes
12.1. Introdução
As regras do concurso de crimes não repercutem somente na pena definitiva, mas também
influenciam em outros institutos jurídicos, como, por exemplo, na determinação do procedimento,
na concessão da suspensão condicional do processo, na prescrição.
Nos termos do art. 394 do CPP, para determinar o procedimento a ser seguido, deve-se
verificar o máximo da pena cominada ao delito, considerando os critérios do concurso de crimes.
Assim, para definir o procedimento no contexto de concurso material de crimes ou de concurso
formal imperfeito, as penas deverão ser somadas. Tratando-se de concurso formal perfeito e
crime continuado, considera-se a pena mais grave, com a elevação da fração que mais aumenta
a pena (1/2, se concurso formal perfeito; 2/3, se crime continuado).
Para a concessão da suspensão condicional do processo, um dos requisitos é que a pena
mínima cominada ao delito não seja superior a um ano (Lei no 9.099/1995, art. 89), devendo ser
considerado nesse limite o concurso de crimes. No contexto de concurso material de crimes, as
penas mínimas cominadas devem ser somadas. Se as penas mínimas somadas superarem um
ano, o réu não poderá ser beneficiado pela suspensão condicional do processo.
No contexto de concurso de crimes, o prazo prescricional deve ser verificado com base
na pena máxima cominada ou na pena imposta na sentença em relação a cada um dos crimes,
ou seja, isoladamente. É o que se extrai do art. 119 do CP e da Súmula no 497 do STF: “Quando
se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena imposta na sentença, não se
computando o acréscimo decorrente da continuação”.
12.3. Concurso material de crimes
12.3.1. Conceito
Ocorre o concurso material, também chamado de real, quando o agente, mediante mais
de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não (CP, art. 69, caput), não
sendo necessário que tenham sido praticados no mesmo contexto fático. Há, pois, pluralidade
de condutas e pluralidade de crimes.
Conforme dispõe o art. 69, § 1º, do CP, no caso de concurso material, se o agente sofrer
pena privativa de liberdade por um dos delitos, não sendo concedido o sursis, não seria possível
atribuir, em relação ao outro, pena restritiva de direitos, porque, em tese, seria incompatível o
cumprimento simultâneo das penas.
Imaginemos, por exemplo, que o réu tenha sido condenado pelo crime de lesão corporal
grave (CP, art.129, § 1o), com pena aplicada de um ano e oito meses de reclusão, sendo
concedida suspensão condicional da pena, e, no mesmo processo, em concurso material de
crimes, pelo crime de furto (CP, art. 155), com pena aplicada em um ano. Logo, como foi
concedida a suspensão condicional da pena em relação ao crime de lesão corporal grave, pode
o magistrado substituir a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, em relação ao delito
de furto.
Nos termos do art. 69, § 2º, do CP, quando forem aplicadas na sentença duas ou mais
penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis
entre si e sucessivamente as demais.
Assim, o condenado pode, por exemplo, cumprir simultaneamente uma pena de prestação
de serviço à comunidade e uma prestação pecuniária. Por outro lado, diante da incompatibilidade
de cumprimento simultâneo, o cumprimento de duas penas de prestação de serviços à
comunidade deverá ser de forma sucessiva.
Imaginemos, por exemplo, que o agente tenha sido condenado pelo crime de furto simples
(CP, art. 155), em concurso material com o crime de estelionato (CP, art. 171). Em relação ao
crime de furto foi aplicada a pena privativa de liberdade de um ano, substituída por prestação de
serviços à comunidade; em relação ao crime de estelionato, foi aplicada pena privativa de
liberdade de dois anos, também substituição por prestação de serviço à comunidade. Nesse
caso, não há possibilidade de cumprimento simultâneo das penas restritivas de direitos, devendo
o condenado cumprir as prestações de serviços à comunidade de forma sucessiva: Assim, por
exemplo, após cumprir a pena do crime de furto, passará a cumprir a prestação de serviços à
comunidade em relação ao crime de estelionato.
Nos termos do art. 69, caput, do CP, quando o agente realiza o concurso real de crimes,
“aplicam-se cumulativamente as penas em que haja incorrido”. Portanto, no concurso material
as penas são cumuladas, somadas.
Na hipótese de crimes conexos apurados na mesma ação penal, a soma das penas, pelo
concurso material, será realizada na própria sentença, após a adoção do critério trifásico para
cada um dos delitos.
Exemplo: O agente pratica o crime de estupro (CP, art. 213) e, para assegurar a sua
impunidade, desfere golpes de faca na vítima, matando-a, praticando o crime de homicídio
qualificado (CP, art. 121, § 2º, V). Imaginemos que o juiz fixe, em relação ao delito de estupro, a
pena de 8 anos de reclusão. Em relação ao crime de homicídio qualificado, a pena de 20 anos.
Ao final, considerando se tratar de concurso material de crimes, o Magistrado deverá aplicar o
sistema do cúmulo material, mediante o somatório das penas. Logo, no caso, a pena definitiva
do réu será de 28 anos de reclusão.
De outro lado, na hipótese de não haver conexão entre os crimes, sendo, por isso,
julgados em processos distintos, a soma das penas será realizada perante o juízo da execução
criminal, por força do disposto no art. 66, III, a, da LEP.
Ocorre o concurso formal (ou ideal) quando o agente, mediante uma só ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes (CP, art. 70, caput). Há unidade de conduta e pluralidade de crimes.
Para incidir o concurso formal de crimes, a única conduta deve produzir duas ou mais
infrações penais, atingindo mais de um bem penalmente tutelado, causando, pois, pluralidade
de resultados.
Assim, quem efetua disparos em direção a uma pessoa, atingindo a vítima pretendida e
também pessoa diversa, terá praticado, mediante uma única ação, dois crimes, uma vez que
violou mais de um bem penalmente tutelado.
Do mesmo modo, o motorista que conduz seu veículo de modo imprudente, vindo a matar
várias pessoas, desenvolveu um único comportamento, do qual resultaram vários crimes.
Assim, se, por exemplo, o agente, na condução de veículo automotor, atropela e causa a
morte de uma pessoa e lesão corporal em outra, praticará o crime de homicídio culposo na
condução de veículo automotor (CTB, art. 302) e o crime de lesão corporal culposa na condução
de veículo automotor (CTB, art. 303), em concurso formal perfeito, já que não tinha desígnios
autônomos em relação a cada um dos resultados.
Desígnio autônomo se caracteriza pelo fato de o agente pretender, mediante uma única
conduta, atingir dois ou mais resultados. Ou seja, o agente, mediante uma ação ou omissão, age
com consciência e vontade em relação a cada um deles, considerados isoladamente.
EXEMPLO 1:
O agente provoca fogo em uma residência com a intenção de matar todos os
moradores. O agente tem desígnios autônomos (intenção de matar) em relação a
cada um dos moradores da residência.
EXEMPLO 2:
Wilson, maior, capaz, na saída de um estádio de futebol, tendo avistado diversos
torcedores do time adversário embarcados em um veículo de transporte regular,
aproveitou-se da oportunidade e lançou uma única bomba incendiária contra o
automóvel, causando graves lesões em diversas vítimas e a morte de uma delas.
Nesse caso, Wilson será apenado com base no concurso formal imperfeito ou
impróprio.
A expressão “desígnios autônomos” abrange tanto o dolo direto quanto o dolo eventual.
Assim, haverá concurso formal imperfeito, por exemplo, entre o delito de homicídio doloso com
dolo direto e outro com dolo eventual.
Por esse motivo, em relação ao concurso formal perfeito, ou próprio, o Código Penal
adotou o sistema de exasperação da pena. Aplica-se a pena do crime a mais grave ou, se iguais,
somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade.
O concurso formal próprio ou perfeito (CP, art. 70, primeira parte), cuja regra para a
aplicação da pena é a da exasperação, foi criado com intuito de favorecer o réu nas hipóteses
de pluralidade de resultados não derivados de desígnios autônomos, afastando-se, pois, os
rigores do concurso material (CP, art. 69). Nesse diapasão, o parágrafo único do art. 70 do CP
impõe o afastamento da regra da exasperação, se esta se mostrar prejudicial ao réu, em
comparação com o cúmulo material. Nos termos da jurisprudência deste STJ, o aumento da pena
decorrente do concurso formal próprio é calculada com base no número de infrações penais
cometidas, que concretizará a fração de aumento abstratamente prevista (1/6 a 1/2),
exasperando-se a pena do crime de maior reprimenda. Nesses termos, aplica-se a fração de
aumento de 1/6 pela prática de 2 infrações; 1/5, para 3 infrações; 1/4 para 4 infrações; 1/3 para
5 infrações e 1/2 para 6 ou mais infrações.8
Por isso, no concurso formal imperfeito, o critério adotado é o cúmulo material, devendo
ser somadas as penas aplicadas em relação a cada um dos crimes praticados pelo agente, nos
termos do art. 70, caput, 2ª parte, do CP.
Imaginemos que Wilson, pretendendo matar dois colegas de trabalho que exerciam suas
atividades em uma sala ao lado da dele, inseriu substância tóxica no sistema de ventilação dessa
sala, o que causou o óbito de ambos em poucos minutos. Nessa situação, Wilson, com uma
Há, no entanto, determinadas situações em que, num primeiro momento, poderia ensejar
a percepção da prática de dois ou mais crimes, quando, na verdade, se trata de crime único.
Quando, por exemplo, há o emprego de violência ou grave ameaça contra várias pessoas, mas
subtração de patrimônio pertencente a apenas uma delas, estaremos diante de crime único de
roubo, já que ocorreu crime contra apenas um patrimônio.
Todavia, se, num mesmo contexto fático, são subtraídos bens pertencentes a vítimas
distintas, não haverá crime único, mas concurso formal, já que com uma conduta, o agente
atingiu patrimônios distintos. caracterizando concurso formal, por terem sido atingidos
patrimônios diversos, nos moldes do art. 70 do CP.9
O STJ tem entendido que a prática do crime de roubo contra vítimas diversas, no mesmo
contexto fático, configura uma única ação, incidindo, por isso, as regras do concurso formal de
crimes.10
Ocorre o crime continuado quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão,
pratica dois ou mais crimes da mesma espécie, devendo os subsequentes, pelas condições de
tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, ser havidos como continuação do
primeiro.
12.5.2. Requisitos
Nos termos do art. 71 do CP, o crime continuado se caracteriza pelo fato de o agente
praticar crimes mediante mais de uma ação ou omissão, exigindo, pois, pluralidade de condutas.
Distingue-se do concurso material, que também exige pluralidade de condutas, por força
da incidência dos demais requisitos, consistentes na prática de crimes de mesma espécie, nas
mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução.
Crimes da mesma espécie são os que estão previstos no mesmo tipo penal, considerando-
se, inclusive, as figuras simples ou qualificadas, dolosas ou culposas, tentadas ou consumadas.
Além disso, para caracterizar crimes da mesma espécie, é necessário que os crimes
parcelares devem tutelar os mesmos bens jurídicos e possuem a mesma estrutura jurídica. Por
isso, a teor da jurisprudência do STJ, não há como reconhecer a continuidade delitiva entre os
crimes de roubo e o de latrocínio, porquanto são delitos de espécies diversas, já que tutelam
bens jurídicos diferentes, uma vez que o roubo tutela o patrimônio e a integridade física
(violência) ou o patrimônio e a liberdade individual (grave ameaça); o latrocínio, por outro lado,
tutela o patrimônio e a vida.
A jurisprudência tem admitido crime continuado quando entre as infrações penais não
houver decorrido período superior a 30 dias.
Além dos demais requisitos, para que seja possível reconhecer a continuidade delitiva,
deve, ainda, estar presente a conexão espacial.
A lei exige que a forma de execução das infrações continuadas seja semelhante,
traduzindo-se no modo, forma e os meios empregados para a prática dos delitos.
Exemplo: Empregado de um estabelecimento comercial que subtrai, diariamente, objetos
da empresa.
Por outro lado, um crime de furto qualificado pela escalada e outro furto qualificado pela
destreza, conquanto crimes da mesma espécie, inviabilizam a incidência do crime continuado, já
que empregaram modos de execução distintos.
Com efeito, o próprio Código Penal, ao dispor que os crimes subsequentes devem ser
havidos como continuação do primeiro, sinaliza pela necessidade da ligação subjetiva entre os
diversos crimes praticados pelo agente. Não há como considerar um crime subsequente ao
primeiro sem a presença de liame ou vínculo subjetivo entre eles. Logo, deve restar demonstrado
que o agente agiu com consciência e vontade em praticar crimes da mesma espécie em
sequência, nas mesmas condições de tempo, lugar e modo de execução.
Além dos requisitos previstos no art. 71, caput, do CP, o crime continuado específico prevê
a necessidade de três requisitos, que devem ocorrer simultaneamente:
Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave
ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a
conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave,
se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art.
75 deste Código.
Assim, admite o Código Penal nexo de continuidade entre homicídios, lesões corporais ou
roubos contra vítimas diversas, podendo o juiz, de acordo com as circunstâncias judiciais do art.
59, caput, do CP, aumentar a pena de um dos delitos até o triplo, desde que a pena não seja
superior à que seria imposta se o caso fosse de concurso material.
O parâmetro para o aumento da pena entre 1/6 e 2/3 deve ser proporcional ao número de
infrações praticadas. Ou seja, “em se tratando de aumento de pena referente à continuidade
delitiva, aplica-se a fração de aumento de 1/6 pela prática de 2 infrações; 1/5, para 3 infrações;
1/4 para 4 infrações; 1/3 para 5 infrações; 1/2 para 6 infrações e 2/3 para 7 ou mais infrações”. 12
Tratando-se de crime continuado específico, previsto no art. 71, parágrafo único, do CP,
aplica-se a pena do crime mais grave aumentada até o triplo. Todavia, segundo o entendimento
do STF, no crime continuado qualificado, a majoração da pena não está adstrita ao número de
infrações praticadas, uma vez que o art. 71, parágrafo único, do CP, determina que poderá o
juiz, “considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se
idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo”. Logo, a fração de aumento de pena no crime
continuado qualificado lastreia-se nos vetores em questão, e não apenas no número de infrações
praticadas.13
12 STJ, AgRg no EDcl-AgREsp no 1629001/SP, rel. Min. Laurita Vaz, 3a Seção, j. 28-10-2020.
13 STF, HC no 131871/PR, rel. Min. Dias Toffoli, 2a T., j. 31-5-2016.
Se, da aplicação da regra do crime continuado, a pena resultar superior à que restaria se
somadas as penas, aplica-se a regra do concurso material benéfico (CP, art. 71, parágrafo único,
parte final).
As cinco vítimas descreveram que Eduardo, simulando portar arma de fogo, anunciava o assalto
e subtraía os bens, empreendendo fuga em uma bicicleta. Eduardo foi denunciado pela prática
do crime do Art. 157, caput, por cinco vezes, na forma do Art. 69, ambos do Código Penal, e, em
sede de audiência, as vítimas confirmaram a versão fornecida em sede policial.
Assistido por seu advogado Pedro, Eduardo confessou os crimes, esclarecendo que pretendia
subtrair bens de seis vítimas para conseguir dinheiro suficiente para comprar uma motocicleta.
Disse, ainda, que apenas simulou portar arma de fogo, mas não utilizou efetivamente material
bélico ou simulacro de arma. O juiz, no momento da sentença, condenou o réu nos termos da
denúncia, sendo aplicada a pena mínima de 04 anos para cada um dos delitos, totalizando 20
anos de pena privativa de liberdade a ser cumprida em regime inicial fechado, além da multa. Ao
ser intimado do teor da sentença, pessoalmente, já que se encontrava preso, Eduardo tomou
conhecimento que Pedro havia falecido, mas que foram apresentadas alegações finais pela
Defensoria Pública por determinação do magistrado logo em seguida à informação do
falecimento do patrono. A família de Eduardo, então, procura você, na condição de advogado(a),
para defendê-lo.
B) Diante da confirmação dos fatos pelo réu, qual argumento de direito material poderá
ser apresentado, em sede de apelação, em busca da redução da sanção penal aplicada?
Justifique. (Valor: 0,60)
FIQUE LIGADO!
Edição 23 STJ – CONCURSO DE CRIMES
4) Não há crime único, podendo haver concurso formal, quando, no mesmo contexto
fático, o agente incide nas condutas dos arts. 14 (porte ilegal de arma de fogo de
uso permitido) e 16 (posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito) da Lei n.
10.826/2003.
ATENÇÃO:
ATENÇÃO:
ATENÇÃO:
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ATENÇÃO:
ATENÇÃO:
Após a prática de um fato típico, ilícito e sendo o agente culpável, em tese, instaura-se
uma ação penal, que pode ser pública ou privada. Observando as garantias constitucionais do
contraditório, ampla defesa e do devido processo legal, objetiva-se chegar ao final e, se
comprovada a materialidade e a autoria, o Estado, por meio do Poder Judiciário, aplicar uma
sentença ou acórdão condenatório, com a fixação de uma pena.
Essa sentença condenatória, ao transitar em julgado, naturalmente gera efeitos que, direta
ou indiretamente, atingem o condenado. Os efeitos não são apenas na esfera penal, mas
também em outras áreas do direito, como cível, administrativa, eleitoral, por exemplo.
Além dos efeitos principais, a sentença condenatória gera efeitos secundários, também
denominados efeitos mediatos, acessórios, reflexos ou indiretos, de natureza penal e extrapenal.
13.3.1 Efeitos secundários de natureza penal
Além de gerar efeitos penais, a sentença penal condenatória transitada em julgado gera
efeitos extrapenais, ou seja, em outras áreas do direito, como na esfera cível, administrativa,
trabalhista, eleitoral, etc.
Os efeitos específicos são aqueles previstos no artigo 92 do Código Penal. Nos termos
do artigo 92, parágrafo único, do Código Penal, esses efeitos não incidem de forma automática,
devendo o juiz declará-los motivadamente na sentença.
Nos termos do artigo 91, inciso I, do Código Penal, constitui efeito da sentença penal
condenatória “tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime”. Trata-se de
efeito automático decorrente da sentença penal condenatória, já que meramente declaratória no
tocante à indenização civil, não sendo necessário mandamento expresso no sentido de o réu
reparar o dano resultante do crime.
Assim, transitada em julgado a sentença penal condenatória a sua execução no juízo cível
visa tão somente estabelecer o quantum da reparação do dano, não sendo, portanto, objeto de
discussão o mérito da causa.
É a hipótese do confisco como efeito da condenação, previsto no artigo 91, inciso II, do
Código Penal. Trata-se da perda em favor da União de bens de origem ilícita, decorrente do
delito praticado.
Nos termos do artigo 91-A do Código Penal, na hipótese de condenação por infrações às
quais a lei comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, poderá ser decretada a
perda, como produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes à diferença entre o valor
do patrimônio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito.
Para efeito da perda prevista no caput do referido artigo, entende-se por patrimônio do
condenado todos os bens:
I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o domínio e o benefício direto ou
indireto, na data da infração penal ou recebidos posteriormente; e
A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expressamente pelo Ministério Público,
por ocasião do oferecimento da denúncia, com indicação da diferença apurada.
O artigo 92, inciso I, do Código Penal, prevê duas hipóteses de perda de cargo, função ou
mandato eletivo como efeito da sentença penal condenatória:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos
crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos
nos demais casos.
A primeira hipótese pode incidir quando o funcionário público praticar o delito no exercício
das suas funções ou em razão dela, e a pena privativa de liberdade seja aplicada por tempo igual
ou superior a um ano.
Não se tratando de crime funcional, a perda do cargo, função pública ou mandato eletivo
poderá incidir quando a pena aplicada for igual ou superior a quatro anos.
Esse efeito, no entanto, não é automático, ou seja, exige para sua incidência que o juiz
declare expressamente em decisão motivada (Art. 92, parágrafo único, do CP).
Além do vínculo entre autor do fato e a vítima, a incidência do efeito específico consistente
na incapacidade para o exercício do poder familiar, tutela ou curatela, depende de duas
condições: a) que o crime seja doloso; b) que seja cominada pena de reclusão.
Esse efeito não é automático, devendo ser declarado na sentença em decisão motivada,
conforme se extrai do artigo 92, parágrafo único, do Código Penal. Assim, cumpre ao Magistrado,
no caso concreto, avaliar a necessidade da imposição da incapacidade para o exercício do poder
familiar, tutela ou curatela. Exemplo: pai condenado pela prática do crime estupro de vulnerável
(Art. 217-A do CP) contra filha de tenra idade.
c) A inabilitação para dirigir veículo, quando utilizado como meio para a prática de
crime doloso.
A aplicação desse efeito específico depende de dois requisitos: a) que o crime seja doloso;
b) que o veículo tenha sido utilizado “como meio” para a sua prática. Logo, não incide esse efeito
no caso de crime culposo.
Extinção da punibilidade
14.1 Introdução
Exemplo: art. 312, §3º, art. 342, § 2º, art. 168-A, § 2º, todos do Código Penal.
• Morte do agente
Essa extinção da punibilidade incide sobre todas as espécies de penas, inclusive a pena
de multa. Assim, se, no curso da execução da pena de multa convertida em dívida ativa, o réu
vier a falecer, deve ser declarada extinta a punibilidade do agente pela sua morte, não sendo
possível, assim, direcionar a execução da pena de multa aos seus sucessores.
Isso porque, em sendo personalíssima a responsabilidade penal, a morte do agente faz
com que o Estado perca o jus puniendi, não se transmitindo a seus herdeiros qualquer obrigação
de natureza penal.
São benefícios concedidos por órgãos diversos do Poder Judiciário, mas que somente
ensejam a extinção da punibilidade após decisão judicial.
a) Anistia
Não se aplica aos delitos referentes a “prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes
e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos” (CF/88, art. 5º, XLIII; Lei
8.072/90, art. 2º, I).
b) Graça
Nos termos do art. 5º, XLIII, da Constituição Federal, a graça não pode ser aplicada em
relação a delitos referentes à prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins,
terrorismo e aos definidos como crimes hediondos.
A Constituição Federal não faz expressa referência à graça, sendo esse instituto tratado
pela Lei de Execução Penal como indulto individual (LEP, art. 188).
c) Indulto
Os requisitos para a concessão do indulto variam de acordo com cada decreto publicado,
considerando, invariavelmente, requisitos subjetivos (primariedade e bom comportamento
carcerário, sem registro de falta grave ao longo do ano) e objetivos (tempo de cumprimento de
pena).
O indulto pode ser total, quando ensejar a extinção da pena, ou parcial, na hipótese de
diminuição ou comutação da pena, bem como incondicionado ou condicionado.
Nos termos do art. 2º, I, da Lei 8072/90, o indulto não pode ser aplicado em relação a
delitos referentes à prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, terrorismo e
aos definidos como crimes hediondos. O artigo 44 da Lei 11.343/2006 também veda a concessão
do indulto aos condenados pelo crime de tráfico de drogas.
A lei penal retroage, atingindo fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor, sempre que
beneficiar o agente de qualquer modo (CF, art. 5º, XL; CP, art. 2º). Assim, se a lei posterior deixar
de considerar o fato como criminoso, excluindo da seara penal a conduta como sendo delituosa,
retroagirá para alcançar os fatos praticados antes da sua vigência, com a consequente extinção
da punibilidade dos responsáveis.
A Lei nº 11.106/2005, por exemplo, revogou os artigos 217 e 240, ambos do Código Penal,
deixando de considerar como condutas criminosas a sedução e o adultério. Logo, se, por
exemplo, o agente estava cumprindo pena pela prática do crime de sedução (CP, art. 240), o juiz
da execução penal terá de declarar a extinção da punibilidade do condenado, já que o fato não
mais constitui crime.
Nos termos do artigo 2º do Código Penal, a abolitio criminis gera o efeito de fazer cessar
a execução e os efeitos penais da sentença condenatória, como, por exemplo, a reincidência,
maus antecedentes, lançamento do nome do réu no rol dos culpados. Assim, se, após extinta a
punibilidade pela abolitio criminis, o agente praticar novo crime, não será considerado
reincidente.
Todavia, não apaga os efeitos civis da prática delituosa, já que a lei fala em cessação dos
efeitos “penais” da sentença.
Se o fato abolido como crime estiver sendo apurado ainda na fase de inquérito policial ou
na fase judicial em sede de juízo de primeiro grau, cumpre ao juiz competente para conduzir a
persecução penal declarar a extinção da punibilidade. No caso de se encontrar na fase recursal,
ou na hipótese de competência originária dos Tribunais, a competência para declaração de
extinção da punibilidade será do respectivo Tribunal.
O artigo 107, IV, do Código Penal prevê como causas de extinção da punibilidade a
prescrição, decadência e perempção.
Nos termos do artigo 103 do Código Penal e 38 do Código de Processo Penal, o ofendido
ou seu representante legal decai do direito de queixa ou de representação se não o exerce dentro
do prazo de seis meses, contados a partir do dia em que veio a saber quem é o autor do crime,
ou, no caso da ação penal privada subsidiária da pública, do dia em que se esgotou o prazo para
o oferecimento da denúncia.
Como se trata de prazo penal, a contagem segue as regras do artigo 10 do Código Penal,
incluindo-se o dia do começo, excluindo-se o último dia, considerando o calendário comum.
Assim, se, por exemplo, o ofendido tomou ciência da autoria do fato no dia 03/03/2012, terá até
o dia 02/09/2020 para oferecer a representação ou ajuizar a queixa-crime. A partir do dia
03/09/2020 já terá incidido a decadência do direito, com a consequente extinção da punibilidade.
O prazo penal não se suspende e não se interrompe, não podendo, ainda, ser prorrogado
para o primeiro dia útil, se cair no sábado, domingo ou feriado. A partir do momento em que o
ofendido tomou conhecimento da ciência da autoria do fato, começa a correr o prazo
decadencial, não havendo suspensão ou interrupção.
b) Perempção
A perempção é uma causa de extinção da punibilidade que incide por conta da inércia
processual do querelante.
Nos termos do artigo 60, inciso I, do Código de Processo Penal, haverá perempção
quando, iniciada a ação penal, o querelante deixar de promover o andamento do processo
durante 30 dias seguidos. Nesse caso, se, após regular intimação, o querelante não se
manifestar no prazo legal de 30 dias, será decretada a extinção da punibilidade pela perempção.
Tomemos como exemplo o querelante deixar de nomear novo advogado, depois de devidamente
intimado a renúncia do advogado que o representava na ação penal.
A falta de pedido de condenação e não apresentação das alegações finais no prazo legal,
se devidamente intimado para tanto, também geram a incidência da perempção (CPP, art. 60,
III, 2ª parte). Assim, ao final da audiência de instrução, nos debates orais o querelante não
formular pedido de condenação ou de procedência do pedido, haverá perempção e, por
conseguinte, a extinção da punibilidade do querelado. Da mesma forma, se os debates orais
foram substituídos por memoriais escritos, por força do artigo 403, § 3º, do Código de Processo
Penal, e o querelante não apresentar essa peça no prazo legal, também incidirá a perempção.
Também gera a perempção quando, sendo querelante pessoa jurídica, esta se extinguir
sem deixar sucessor (CPP, art. 60, IV).
• Da renúncia ao direito de queixa ou perdão aceito nos crimes de ação penal
privada
Nos termos do art. 104, caput, do Código Penal: “o direito de queixa não pode ser exercido
quando renunciado”.
A renúncia ao direito de queixa somente pode ser exercida na ação penal exclusivamente
privada, não sendo possível na ação penal privada subsidiária da pública, uma vez que, se o
ofendido não oferecer a queixa-crime, o Ministério Público poderá oferecer a denúncia enquanto
não incidir outra causa de extinção da punibilidade do agente, como, por exemplo, pela
prescrição.
O fato de o ofendido receber a indenização do dano causado pelo crime não implica
renúncia ao direito de queixa, conforme se extrai do artigo 104, parágrafo único, 2ª parte, do
Código Penal. Todavia, em se tratando de crime de ação penal privada de menor potencial
ofensivo, seguindo o procedimento da Lei nº 9.099/95, a composição civil homologada acarreta
a renúncia ao direito de queixa (Lei 9.099/95, art. 74, parágrafo único).
Nos termos do art. 50 do Código de Processo Penal, a renúncia do ofendido não impede
que seu representante legal inicie a ação penal privada, nem a renúncia do último excluirá o
direito do primeiro.
Havendo duas ou mais vítimas, a renúncia de uma delas não impede o exercício do direito
de queixa pelas demais.
b) Perdão do ofendido
O perdão aceito do ofendido é causa extintiva de punibilidade que incide somente na ação
penal exclusivamente privada.
Tratando-se de ação penal privada subsidiária da pública (CP, art. 100, § 3º), a desistência
do ofendido de prosseguir com o processo não determina a extinção da punibilidade, mesmo que
o réu aceite o perdão, pois se trata de ação penal pública, devendo o Ministério Público assumi-
la como parte principal (CPP, art. 29).
Depois de iniciada a ação penal privada, o perdão do ofendido pode ser manifestado até
o trânsito em julgado da sentença penal condenatória (CPP, art. 106, § 2º).
No caso de haver dois ofendidos, o perdão concedido por um não prejudica o direito do
outro (CP, art. 106, II).
O perdão é um ato bilateral, dependendo, pois, da aceitação do querelado, já que poderá
recusar o perdão (CP, art. 106, III), optando pelo prosseguimento da ação penal, a fim de provar
sua inocência.
Assim, havendo dois réus, o perdão aceito por um produz efeito de extinguir a punibilidade
também em relação ao outro, salvo se ocorre recusa. Neste caso, a ação penal continua em
relação ao querelado que o recusou.
• Da retratação do agente
A retratação significa desdizer-se, retirar o que foi dito, confessar que errou.
Em regra, a retratação do agente não tem relevância jurídica, funcionando somente como
circunstância judicial na aplicação da pena. Excepcionalmente, o estatuto penal lhe empresta
força extintiva da punibilidade (CP, art. 107, VI).
• Perdão judicial
Perdão judicial é o instituto pelo qual o juiz, não obstante a incidência da infração penal
praticada por agente culpável, deixa de aplicar a pena nos casos expressamente previstos em
lei.
O perdão judicial pode ser concedido, por exemplo, aos seguintes crimes:
a) art. 121, § 5º, do Código Penal: “Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar
de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave
que a sanção penal se torne desnecessária”;
b) art. 129, § 8º, do Código Penal: “aplica-se à lesão culposa o disposto no §5º do art.
121”;
c) art. 140, § 1º, do Código Penal: em relação ao crime de injúria, “o juiz pode deixar de
aplicar a pena: I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria; II - no
caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria;
d) art. 180, § 5º, do Código Penal, em relação à receptação culposa, “Na hipótese do §3º,
se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar
a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no §2º do art. 155.”;
e) art. 242, parágrafo único, do Código Penal, “Dar parto alheio como próprio; registrar
como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito
inerente ao estado civil: Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza”
20) (QUESTÃO 4 - XXIX EXAME)
Em processo no qual se imputava a Antônio a prática do crime de constituição de milícia privada,
foi designada audiência de instrução e julgamento para oitiva das testemunhas arroladas pela
acusação e pela defesa. No dia da audiência, as testemunhas de acusação não compareceram,
determinando o magistrado, por economia processual, a oitiva das testemunhas de defesa
presentes, apesar de o advogado de Antônio se insurgir contra esse fato. Na ocasião, foram
ouvidas três testemunhas de defesa, dentre as quais Pablo, que prestou declarações falsas para
auxiliar o colega nesse processo criminal. Identificada sua conduta, porém, houve extração de
peças ao Ministério Público, que, em 09 de abril de 2019, ofereceu denúncia em face de Pablo,
imputando-lhe a prática do crime de falso testemunho na forma majorada. No processo de
Antônio, foi designada nova audiência de
instrução e julgamento, ocasião em que foram
ouvidas as testemunhas de acusação;
novamente, Pablo, a seu pedido, prestou
declarações, confirmando que havia mentido
na audiência anterior, mas que agora contava
a verdade, o que veio a prejudicar a própria
defesa do réu. Com base nas declarações das
testemunhas de acusação e nas novas
declarações de Pablo, Antônio veio a ser
condenado. Pablo, por sua vez, em seu
processo pelo crime de falso testemunho,
também veio a ser condenado, reconhecendo
o magistrado a atenuante do Art. 65, inciso III,
alínea b, do Código Penal. Considerando as
informações narradas, responda, na condição de advogado(a) de Antônio e Pablo.
A) Qual argumento de direito processual poderá ser apresentado por você para
desconstituir a sentença condenatória do réu? Justifique. (Valor: 0,65)
B) Qual o argumento de direito material a ser apresentado pela defesa técnica de Pablo
para questionar a sentença condenatória? Justifique. (Valor: 0,60)
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.
Emendatio Libelli e Mutatio Libelli
15.1 Introdução
No processo penal, o réu se defende dos fatos, sendo secundário a classificação jurídica
constante na denúncia ou queixa.
O princípio da correlação está regulamentado nos arts. 383 e 384 do CPP, que dispõem,
respectivamente, dos institutos da emendatio libelli e mutatio libelli.
● Conceito
Desse modo, sem que tenha surgido ao longo da instrução nenhum elemento novo ou
circunstância capaz de modificar a descrição do fato contido na denúncia ou queixa, o juiz poderá
dar aos eventos delituosos descritos explícita ou implicitamente na denúncia ou queixa a
classificação jurídica que considerar correta, ainda que, em consequência, venha a aplicar pena
mais grave, sem necessidade de prévia vista à defesa, a qual não poderá alegar surpresa, uma
vez que não se defendia da classificação legal, mas da descrição fática da infração penal.
Exemplo: A denúncia narra que fulano subtraiu, mediante o emprego de fraude para
diminuir ou burlar a vigilância da vítima sobre o objeto subtraído, classificando, no entanto, tal
conduta como sendo estelionato, previsto no artigo 171 do Código Penal, deixando de propor a
suspensão condicional do processo pelo fato de o agente ter sido condenado pela prática de
outro crime. No caso, deve o Juiz dar definição jurídica diversa à atribuída pelo Ministério Público,
condenando o acusado pela prática do crime de furto qualificado pelo emprego de fraude (art.
155, § 4º, inciso II, do CP), sem ofensa ao contraditório ou ampla defesa, nem tampouco do
princípio da correlação entre acusação ou sentença, já que o acusado se defendia do fato de ter
subtraído objeto mediante fraude, conforme narrado na denúncia.
Se a nova definição jurídica do fato é viável inclusive para a aplicação de pena mais grave,
naturalmente, o mesmo se dá para a aplicação de benefícios anteriormente não concedidos por
falta de condições.
Em outras palavras, pode ocorrer (o que é mais comum, inclusive) de com a emendatio
libelli o fato atribuído ao agente se enquadrar em crime menos grave, cuja pena mínima não seja
superior a um ano.
Assim, nesse caso, ao receber os autos conclusos para sentença, vislumbrando hipótese
de definição jurídica diversa da contida na exordial, que, por sua vez, poderá ensejar a
suspensão condicional do processo, o Magistrado deverá operar a desclassificação do delito,
limitando-se exclusivamente à correta tipificação da conduta, sem emitir, portanto, qualquer juízo
de valor acerca do mérito (condenação ou absolvição). Em seguida, deverá determinar vista dos
autos ao Ministério Público para que se manifeste acerca da possibilidade da proposta da
suspensão condicional do processo.
Aqui não ocorre simples emenda na acusação, mediante correção na tipificação legal,
mas verdadeira mudança, com alteração na narrativa acusatória. Assim, a mutatio libelli implica
o surgimento de uma prova nova, desconhecida ao tempo do oferecimento da ação penal,
levando a uma readequação dos episódios delituosos relatados na denúncia ou queixa.
Conforme o artigo 384, § 4º, ao sentenciar o feito, o juiz ficará adstrito aos termos do
aditamento recebido, ou seja, não poderá condenar o réu além dos limites do aditamento.
Veda a lei que o juiz tome qualquer iniciativa para o aditamento da queixa, em ação
exclusivamente privada, pois a iniciativa é sempre da parte ofendida, além de não viger, nesse
caso, o princípio da obrigatoriedade da ação penal, cujo controle é de ser feito tanto pelo
promotor, quanto pelo magistrado.
A mutatio libelli se aplica somente em 1ª instância, não sendo possível aplicar tal procedimento
em 2ª instância (Tribunal de Justiça). É o que diz a Súmula 453 do STF:
Súmula 453 STF: “Não se aplicam à segunda instância o Art. 384 e parágrafo único do Código
de Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de
circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa.”
Jânio foi denunciado pela prática de roubo tentado (Código Penal, art. 157, caput, c/c art. 14, II),
cometido em dezembro de 2009, tendo sido demonstrado, durante a instrução processual, que
o réu praticara, de fato, delito de dano (Código Penal, art. 163, caput). Considerando essa
situação hipotética, responda, de forma fundamentada, às seguintes indagações.
A) Em face da nova definição jurídica do fato, que procedimento deve ser adotado pelo
juiz?
B) Caso a nova capitulação jurídica do fato fosse verificada apenas em segunda instância,
seria possível a aplicação do instituto da emendatio libelli?
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
Jorge, com 21 anos de idade, reincidente, natural de São Gonçalo/RJ, entrou em uma briga com
seus pais, razão pela qual foi morar na casa de sua tia Marta, irmã de seu pai, na cidade de
Maricá/RJ, já que esta tinha apenas 40 anos e “o entenderia melhor”. Após 06 meses residindo
no mesmo local que sua tia, Jorge subtraiu o carro de Marta, levando-o para uma favela em
Niterói, onde pretendia morar no futuro. No começo, Marta não desconfiou da autoria, porém
após alguns dias, teve certeza de que o autor do crime era seu sobrinho, mas nada fez para vê-
lo responsabilizado criminalmente, em razão do afeto que tinha por ele. Apenas, então,
comunicou à seguradora que seu veículo fora furtado. Jorge, 01 ano após esses fatos, estava
na direção do veículo que havia subtraído quando foi abordado por policiais militares que,
constatando que aquele bem era produto de crime pretérito, realizaram sua prisão em flagrante.
Jorge foi denunciado pela prática do crime de receptação, mas, no curso da instrução, foi
descoberto que, na verdade, o acusado era o autor do crime de furto. O Ministério Público aditou
a denúncia para adequá-la às novas descobertas e, após manifestação da Defensoria Pública,
foi o aditamento recebido. Não houve requerimento de novas provas. Jorge o(a) procura para,
na condição de advogado(a), apresentar as Alegações Finais.
A) Qual a principal tese defensiva a ser formulada nas Alegações Finais para evitar a
condenação de Jorge? (Valor: 0,65)
B) Na condição de advogado(a) do acusado, o que você alegaria, no campo processual,
caso o juiz viesse a condenar Jorge, após o aditamento, de acordo com a imputação
original de receptação? (Valor: 0,60)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
João e José foram denunciados pela prática da conduta descrita no art. 316 do CP (concussão).
Durante a instrução, percebeu-se que os fatos narrados na denúncia não corresponderiam àquilo
que efetivamente teria ocorrido, razão pela qual, ao cabo da instrução criminal e após a
respectiva apresentação de memoriais pelas partes, apurou-se que a conduta típica adequada
seria aquela descrita no art. 317 do CP (corrupção passiva). O magistrado, então, fez remessa
dos autos ao Ministério Público para fins de aditamento da denúncia, com a nova capitulação
dos fatos. Nesse sentido, atento(a) ao caso narrado e considerando apenas as informações
contidas no texto, responda fundamentadamente, aos itens a seguir.
B) Por que o próprio juiz, na sentença, não poderia dar a nova capitulação e, com base
nela, condenar os réus? (Valor: 0,50)
Júlio foi denunciado pela prática do delito de furto cometido em fevereiro de 2010. Encerrada a
instrução probatória, constatou-se, pelas provas testemunhais produzidas pela acusação, que
Júlio praticara roubo, dado o emprego de grave ameaça contra a vítima.
C) Caso Júlio tivesse cometido crime de ação penal exclusivamente privada, dada a nova
definição jurídica do fato narrado na queixa após o fim da instrução probatória, seria
aplicável o instituto da mutatio libelli?
Reformatio In Pejus
16.1 Introdução
Imaginemos que após ser proferida sentença absolutória o MP tenha interposto recurso
buscando exclusivamente a condenação do réu, sem arguir qualquer anulação. Nesse caso, não
poderá o Tribunal reconhecer qualquer nulidade, sob pena de haver reforma da decisão
prejudicial ao réu. Isso porque, com a declaração da nulidade, a sentença absolutória (que
favoreceu o réu) também será nula, gerando a possibilidade de ser proferida outra sentença,
agora condenatória. Eis a razão do teor da Súmula 160 do STF, ao considerar nula a decisão do
Tribunal que reconheceu nulidade não arguida pelo réu.
Neste caso, a devolução que se opera pelo recurso defensivo é, em regra, integral, podendo
ser decididas em seu favor, no juízo ad quem, temas não enfrentados na impugnação.
Art. 617, CPP: O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos
arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser gravada a pena,
quando somente o réu houver apelado da sentença.
Ocorre a reformatio in pejus quando o Tribunal agrava a situação do réu em face de recurso
interposto exclusivamente pela defesa. A reformatio in pejus pode ser direta ou indireta.
Ocorre quando o próprio Tribunal profere decisão agravando a situação jurídica do réu ao
julgar recurso exclusivo da defesa.
Recorrendo apenas o réu, não é possível haver reforma da sentença para agravar sua
situação; recorrendo a acusação em caráter limitado, não pode o tribunal dar provimento em
maior extensão contra o apelado.
Imaginemos que o réu foi condenado à pena de 2 anos de reclusão, sendo interposto
recurso exclusivamente pela defesa (MP não recorreu). Não pode o Tribunal proferir acórdão
elevando a pena do réu, a pretexto de que o juiz de 1º grau não observou a existência de uma
agravante.
Trata-se da anulação da sentença, por recurso exclusivo do réu, vindo outra a ser
proferida, devendo respeitar os limites da primeira, sem poder agravar a situação do acusado.
Assim, caso o réu seja condenado a 5 anos de reclusão, mas obtenha a defesa a anulação
dessa decisão, quando o magistrado – ainda que seja outro – venha a proferir outra sentença,
está adstrito a uma condenação máxima de 5 anos.
Se pudesse elevar a pena, ao proferir nova decisão, estaria havendo uma autêntica reforma
em prejuízo da parte que recorreu.
Em tese, seria melhor ter mantido a sentença, ainda que padecendo de nulidade, pois a
pena seria menor.
Em síntese: Imagine-se que o réu, condenado a cinco anos de reclusão, recorra invocando
nulidade do processo. Considere-se, outrossim, que o Ministério Público não tenha apelado da
decisão para aumentar a pena. Se o tribunal, acolhendo o inconformismo da defesa, dar-lhe
provimento e determinar a renovação dos atos processuais, não poderá a nova sentença, como
regra, agravar a situação em que já se encontrava o réu por força da sentença, sob pena de
incorrer em reformatio in pejus indireta, ou seja, o juiz, na nova sentença, estaria limitado a cinco
anos. Se fixar pena superior a cinco anos, poderá ser alegado, em preliminar de apelação,
nulidade da sentença.
Gustavo está sendo regularmente processado, perante o Tribunal do Júri da Comarca de Niterói-
RJ, pela prática do crime de homicídio simples, conexo ao delito de sequestro e cárcere privado.
Os jurados consideraram-no inocente em relação ao delito de homicídio, mas culpado em relação
ao delito de sequestro e cárcere privado. O juiz presidente, então, proferiu a respectiva sentença.
Irresignado, o Ministério Público interpôs apelação, sustentando que a decisão dos jurados fora
manifestamente contrária à prova dos autos. A defesa, de igual modo, apelou, objetivando
também a absolvição em relação ao delito de sequestro e cárcere privado. O Tribunal de Justiça,
no julgamento, negou provimento aos apelos, mas determinou a anulação do processo (desde o
ato viciado, inclusive) com base no Art. 564, III, i, do CPP, porque restou verificado que, para a
constituição do Júri, somente estavam presentes 14 jurados. Nesse sentido, tendo como base
apenas as informações contidas no enunciado, responda justificadamente às questões a
seguir.
Daniel foi denunciado, processado e condenado pela prática do delito de roubo simples em sua
modalidade tentada. A pena fixada pelo magistrado foi de dois anos de reclusão em regime
aberto. Todavia, atento às particularidades do caso concreto, o referido magistrado concedeu-
lhe o benefício da suspensão condicional da execução da pena, sendo certo que, na sentença,
não fixou nenhuma condição. Somente a defesa interpôs recurso de apelação, pleiteando a
absolvição de Daniel com base na tese de negativa de autoria e, subsidiariamente, a substituição
do benefício concedido por uma pena restritiva de direitos. O Tribunal de Justiça, por sua vez,
no julgamento da apelação, de forma unânime, negou provimento aos dois pedidos da defesa e,
no acórdão, fixou as condições do sursis, haja vista o fato de que o magistrado a quo deixou de
fazê-lo na sentença condenatória. Nesse sentido, atento apenas às informações contidas no
texto, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir.
ATENÇÃO:
ATENÇÃO:
ATENÇÃO:
ATENÇÃO:
O conteúdo referente à Lei dos Crimes Hediondos contra a honra está disposto no “E-
book: Leis Especiais”, no módulo “Curso Regular – 2ª Fase Penal”. Para acessar o
módulo, clique aqui.
Crimes de trânsito
ATENÇÃO:
ATENÇÃO:
17.1 Conceito
Assim, o recurso obriga que órgão do Tribunal seja chamado a decidir por completo e não
apenas com os votos dos Desembargadores que participaram do julgamento da apelação,
recurso em sentido estrito e agravo em execução.
Em determinados Tribunais de Justiça, por exemplo, as Câmaras são compostas por cinco
Desembargadores, participando da turma julgadora apenas três deles. Dessa forma, caso a
decisão proferida contra os interesses do réu constituir-se de maioria (dois a um) de votos, cabe
a oposição de embargos infringentes, chamando-se os demais desembargadores a participarem
do julgamento da matéria divergente.
Palavras mágicas!
Decisão favorável
Maioria dos votos
Desfavorável ao réu
Apelação
Peça de
interposição
Recurso em
Sentido Embargos
Estrito Decisão não infringentes
Tribunal
unânime / nulidade
Razões de
Agravo em embargos
Execução infringentes ou
de nulidade
17.5 Cabimento
Não cabe recurso de embargos infringentes nos julgamentos realizados pelas turmas
recursais, porque não possuem natureza de tribunais.
Também não cabem embargos infringentes contra acórdãos de primeiro grau, ou seja,
aqueles proferidos no julgamento de crimes de sua competência originária (nos casos de foro
com prerrogativa de função). Isso porque o próprio artigo 609, parágrafo único, do Código de
Processo Penal, faz expressa alusão às decisões de segunda instância.
Por ocasião da interposição, deve o recurso ser devidamente instruído com as razões,
pois não será aberta vista para essa finalidade
Prazo: 10 dias
A contar da publicação do acórdão
Os embargos infringentes somente poderão ser opostos por petição, sendo inadmissível
por termo nos autos, já que as razões devem acompanhar a peça de interposição no momento
do protocolo do recurso.
2) razões de recurso.
Parte final: (Nesses termos, requer o processamento do presente recurso. Pede deferimento,
data, advogado e OAB).
2) Razões recursais
Tribunal de Justiça (se da competência da Justiça Estadual); Tribunal Regional Federal (se da
competência da Justiça Federal);
Saudação:
Justiça Estadual: Egrégio Tribunal de Justiça – Colendo Grupo Criminal – Eméritos Julgadores;
Justiça Federal: Egrégio Tribunal Regional Federal – Colenda Seção – Eméritos Julgadores
Corpo da peça: I. DOS FATOS: breve relato; II. DO DIREITO: Buscar no enunciado informações
voltadas a prevalecer o voto vencido (favorável ao réu).
Pedido: reforma da decisão + provimento do recurso + pedido específico parte final: termos em
que pede deferimento, local, data e OAB...
14No Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul a competência para julgamento é atribuída ao Grupo
Criminal. Já no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo a competência para julgamento é das Câmaras
Criminais. Portanto, a matéria depende da situação local, conforme Art. 35 do Assento Regimental nº 560/2017.
Art. 35: As Câmaras julgam os recursos das decisões de primeiro grau, os embargos declaratórios opostos a seus
acórdãos, as ações rescisórias, as reclamações por descumprimento de seus julgados, os agravos internos e
regimentais, “habeas corpus”, mandados de segurança e demais feitos de competência originária.”
28) (QUESTÃO 04 - XVIII EXAME)
John, primário e de bons antecedentes, foi denunciado pela prática do crime de tráfico de drogas.
Após a instrução, inclusive com realização do interrogatório, ocasião em que o acusado
confessou os fatos, John foi condenado, na forma do Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06, à pena
de 1 ano e 08 meses de reclusão, a ser cumprido em regime inicial aberto. O advogado de John
interpôs o recurso cabível da sentença condenatória. Em julgamento pela Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça, a sentença foi integralmente mantida por maioria de votos. O Desembargador
revisor, por sua vez, votou no sentido de manter a pena de 01 ano e 08 meses de reclusão,
assim como o regime, mas foi favorável à substituição da pena privativa de liberdade por duas
restritivas de direitos, no que restou vencido. O advogado de John é intimado do acórdão.
A) Qual medida processual, diferente de habeas corpus, deverá ser formulada pelo
advogado de John para combater a decisão da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça?
(Valor: 0,65)
B) Qual fundamento de direito material deverá ser apresentado para fazer prevalecer o
voto vencido? (Valor: 0,60)
Peça de interposição:
Processo nº...
FULANO DE TAL (não inventar dados), já qualificado nos autos, por seu
procurador infra-assinado, com procuração em anexo, vem, respeitosamente, a
presença de Vossa Excelência, inconformado com a decisão de fls., opor o presente
EMBARGOS INFRINGENTES E/ OU NULIDADE com base no artigo 609, parágrafo
único, do Código de Processo Penal, requerendo seja recebido e processado o presente
recurso, pelos fatos e fundamentos expostos nas razões inclusas.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Local..., data...
ADVOGADO...
OAB...
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO... (se da competência da Justiça
Estadual);
EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA ... REGIÃO (se da competência da Justiça
Federal).
Embargante: FULANO DE TAL
Embargado: MINISTÉRIO PÚBLICO
Processo nº...
I) DOS FATOS
II) DO DIREITO
Deverá ser exposto os motivos que deverá prevalecer o voto vencido.
Por exemplo: O acórdão ora recorrido não merece prosperar, devendo prevalecer os
fundamentos do voto vencido, senão vejamos.
III) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer seja CONHECIDO e PROVIDO o presente, acolhendo o voto vencido,
reformando o acórdão recorrido, para o fim de...:
Local..., data...
Advogado... OAB...
Observações:
Ver competência da Justiça Federal no art. 109 da CF/88;
Nos “fatos”, fazer breve relato dos fatos ocorridos, conforme os dados do enunciado (não inventar
nada nem simplesmente transcrever o enunciado). Importante: Justificar o cabimento e
admissibilidade do recurso de embargos infringentes;
O mérito deve guardar relação com o voto vencido (basicamente o que poderia ser alegado em
sede de apelação, recurso em sentido estrito e agravo em execução);
18.1 Cabimento/conteúdo
Contradição: trata-se de uma incoerência entre uma afirmação anterior e outra posterior,
referentes ao mesmo tema e no mesmo contexto, gerando a impossibilidade de
compreensão do julgado.
Peça:
Expressão mágica:
PAROU!
18.4 Prazo
Os embargos devem opostos no prazo de 02 (dois) dias perante o próprio juiz prolator da
sentença (art. 382, CPP), ou, no caso dos tribunais (art. 619, CPP), endereçados ao próprio
relator do acórdão embargado.
02 dias
02 dias 05 dias
Com a redação do artigo 83, § 2º, da Lei nº 9.099/95, dada alterada pelo Código de
Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), os embargos de declaração no âmbito do Juizado
Especial Criminal passaram também a ter efeito interruptivo.
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara Criminal da Comarca ... (se crime da
competência da Justiça Estadual);
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da Vara Criminal da Seção Judiciária de ... (se crime
da competência da Justiça Federal);
II) Preâmbulo: nome (desnecessário qualificar, pois já qualificado nos autos), capacidade
postulatória (por seu procurador infra-assinado), fundamento legal (arts. 382 ou 619 e 620,
todos do Código de Processo Penal), nome da peça (Recurso de Embargos de Declaração),
frase final (pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos...);
III) Corpo da peça: I) DOS FATOS: breve relatório; II) DO DIREITO: apontar a contradição,
obscuridade, ambiguidade ou omissão – demonstrar o vício da decisão;
FULANO DE TAL (não inventar dados), já qualificado nos autos, por seu procurador infra-
assinado, com procuração em anexo, vem, respeitosamente, a presença de Vossa
Excelência opor o presente EMBARGOS DE DECLARAÇÃO, com base no artigo 382 ou
619 e 620, todos do Código de Processo Penal, pelos fatos e fundamentos jurídicos a
seguir expostos.
I) DOS FATOS
II) DO MÉRITO
Nestes termos,
Pede deferimento.
Local..., data...
Advogado...
OAB...
Observação:
No mérito, demonstrar a obscuridade, contradição, omissão ou ambiguidade.
Recurso Especial
19.1 Conceito
19.2 Identificação
Enquanto couber algum recurso, não cabe recurso especial. Esse pressupõe o
exaurimento das vias recursais. Essa regra inclui, também, os embargos infringentes. Em
síntese, somente depois de esgotados os recursos perante o Tribunal dos Estados e do Tribunal
Regional Federal terá cabimento o recurso especial, quando, basicamente, envolver matéria de
direito prevista em lei federal.
Peça de
Apelação interposição
Recurso em
Sentido Estrito Esgotados os Recurso
recursos no Especial
Agravo em Tribunal
Execução Lei Federal Razões de
Recurso
Embargos Especial
Infringentes/Nulidade
19.3 Base legal
19.4 Cabimento/conteúdo
Conforme dispõe o artigo 105, inciso III, da Constituição Federal/88, o recurso especial
será cabível contra as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais
Federais ou pelos Tribunais dos Estados e do Distrito Federal.
C) Decisão que der à lei federal interpretação divergente da que lhe tenha atribuído
outro tribunal
Trata-se da hipótese de recurso especial fundado na divergência jurisprudencial entre
tribunais diversos. Não cabe recurso especial se a divergência ocorrer entre órgãos
do mesmo tribunal, conforme a Súmula 13 do STJ: “A divergência entre julgados do
mesmo tribunal não enseja recurso especial”.
Trata-se da hipótese de recurso especial fundado na divergência jurisprudencial entre
tribunais diversos. Não cabe recurso especial se a divergência ocorrer entre órgãos
do mesmo tribunal, conforme a Súmula 13 do STJ: “A divergência entre julgados do
mesmo tribunal não enseja recurso especial”.
A petição, que deve ser dirigida ao presidente do tribunal que proferiu a decisão recorrida,
deve ser fundamentada e conter a exposição do fato e do direito, a demonstração do cabimento
do recurso e as razões do pedido de reforma da decisão. Simultaneamente com a petição de
interposição, apresentam-se as razões, que devem ser dirigidas ao Superior Tribunal de Justiça.
Recebida a petição pela Secretaria do Tribunal, o recorrido será intimado para apresentar
as contrarrazões no prazo de 15 dias, nos termos do artigo 1030 do Código de Processo Civil.
19.6 Prequestionamento
A) INTERPOSIÇÃO
c) parte final (Nesses termos, requer o processamento do presente recurso. Pede deferimento,
data, advogado e OAB)
B) RAZÕES
c) saudação:
7 a 10 linhas
Nestes termos
Pede deferimento
Local..., data...
Advogado...
OAB...
Razões de Recurso Especial
COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
I) DOS FATOS
II) DO DIREITO
Lembrar que a matéria discutida envolve questão de direito. Não
se discute matéria de fato, que reclama análise de provas.
III) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer seja conhecido e provido o presente recurso
especial, para o fim de que seja reformado o acórdão e, consequentemente, ... (pedido
específico).
Nestes termos,
Pede deferimento.
Local..., data...
ADVOGADO...
OAB...
Recurso Extraordinário
20.1 Conceito
Entende-se por decisão final, para fins aqui propostos, aquela proferida após esgotadas,
por quem a impugna, todas as vias recursais ordinárias. Desta forma, não se conhece de recurso
extraordinário contra acórdão em recurso de apelação do qual ainda caibam embargos de
declaração, ou embargos infringentes.
20.2 Identificação
Enquanto couber algum recurso, não cabe recurso extraordinário. Esse pressupõe o
exaurimento das vias recursais. Essa regra inclui, também, os embargos infringentes. Em
síntese, somente depois de esgotados os recursos perante o Tribunal dos Estados e do Tribunal
Regional Federal terá cabimento o recurso extraordinário, quando, basicamente, envolver
matéria de direito prevista na Constituição Federal.
20.3 Base legal
20.4 Cabimento/Conteúdo
Para que o recurso extraordinário possa ser conhecido pelo STF, é preciso que a causa
decidida em única ou última instância suscite questão federal de natureza constitucional. A
própria Constituição Federal/88, no artigo 102, inciso III, cuida de arrolar as questões que
ensejam o julgamento do recurso em tela. São as chamadas hipóteses de cabimento do recurso
extraordinário, que, para fins de OAB, merecem destaque as hipóteses das alíneas “a” e “b”, do
artigo 102, inciso III, da Constituição Federal/88.
A) contrariar dispositivo desta Constituição
A decisão de instância inferior contraria dispositivo constitucional sempre que afrontar
regra ou princípio, implícito ou explícito, de natureza constitucional.
Recebida a petição pela Secretaria do Tribunal, o recorrido será intimado para apresentar
as contrarrazões no prazo de 15 dias.
20.6 Prequestionamento
A) INTERPOSIÇÃO
c) parte final (Nesses termos, requer o processamento do presente recurso. Pede deferimento,
data, advogado e OAB)
B) RAZÕES
c) saudação:
7 a 10 linhas
Nestes termos,
Pede deferimento.
Local..., data...
Advogado...
OAB...
Razões do Recurso Extraordinário
COLENDO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
II) DO DIREITO
1º parágrafo: Indicar a tese
2º parágrafo: fundamentar a tese
Lembrar que a matéria discutida envolve questão de direito. Não
se discute matéria de fato, que reclama análise de provas.
III) DO PEDIDO
Ante o exposto, requer seja conhecido e provido o presente
recurso, para o fim de que seja reformado o acórdão e, consequentemente, ... (pedido
específico).
Nestes termos,
Pede deferimento.
Local..., data...
ADVOGADO...
OAB...
PADRÃO DE RESPOSTAS
1) (QUESTÃO 2 - V EXAME)
Joaquina, ao chegar à casa de sua filha, Esmeralda, deparou-se com seu genro, Adaílton,
mantendo relações sexuais com sua neta, a menor F.M., de 12 anos de idade, fato ocorrido no
dia 2 de janeiro de 2011. Transtornada com a situação, Joaquina foi à delegacia de polícia, onde
registrou ocorrência do fato criminoso. Ao término do Inquérito Policial instaurado para apurar os
fatos narrados, descobriu-se que Adaílton vinha mantendo relações sexuais com a referida
menor desde novembro de 2010. Apurou-se, ainda, que Esmeralda, mãe de F.M., sabia de toda
a situação e, apesar de ficar enojada, não comunicava o fato à polícia com receio de perder o
marido que muito amava.
Na condição de advogado(a) consultado(a) por Joaquina, avó da menor, responda aos
itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal
pertinente ao caso.
A) Adaílton praticou crime? Em caso afirmativo, qual? (Valor: 0,3)
B) Esmeralda praticou crime? Em caso afirmativo, qual? (Valor: 0,5)
C) Considerando que o Inquérito Policial já foi finalizado, deve a avó da menor oferecer
queixa-crime? (Valor: 0,45)
GABARITO COMENTADO
A) Sim. Estupro de vulnerável, conduta descrita no art. 217-A do CP.
B) Sim. Esmeralda também praticou estupro de vulnerável (artigo 217-A do CP c/c artigo 13, §2º,
“a”, do CP), uma vez que tinha a obrigação legal de impedir o resultado, sendo garantidora da
menor.
C) Não, pois se trata de ação penal pública incondicionada, nos termos do art. 225, parágrafo
único, do CP.
2) (QUESTÃO 04 – X EXAME)
Erika e Ana Paula, jovens universitárias, resolvem passar o dia em uma praia paradisíaca e, de
difícil acesso (feito através de uma trilha), bastante deserta e isolada, tão isolada que não há
qualquer estabelecimento comercial no local e nem mesmo sinal de telefonia celular. As jovens
chegam bastante cedo e, ao chegarem, percebem que além delas há somente um salva-vidas
na praia. Ana Paula decide dar um mergulho no mar, que estava bastante calmo naquele dia.
Erika, por sua vez, sem saber nadar, decide puxar assunto com o salva-vidas, Wilson, pois o
achou muito bonito. Durante a conversa, Erika e Wilson percebem que têm vários interesses em
comum e ficam encantados um pelo outro. Ocorre que, nesse intervalo de tempo, Wilson percebe
que Ana Paula está se afogando. Instigado por Erika, Wilson decide não efetuar o salvamento,
que era perfeitamente possível. Ana Paula, então, acaba morrendo afogada.
Nesse sentido, atento(a) apenas ao caso narrado, indique a responsabilidade jurídico-
penal de Erika e Wilson. (Valor: 1,25)
O examinando deve fundamentar corretamente sua resposta. A simples menção ou transcrição
do dispositivo legal não pontua.
GABARITO COMENTADO
Segundo os dados narrados na questão, Wilson, por ser salva-vidas, tem o dever legal de agir
para evitar o resultado e, naquele momento, podia perfeitamente agir. Assim, trata-se de agente
garantidor. Nesse caso, responde por delito comissivo por omissão, qual seja, homicídio doloso
praticado via omissão imprópria: art. 121 c/c art. 13, § 2º, alínea 'a', ambos do CP. Erika, por sua
vez, por ter instigado Wilson a não realizar o salvamento de Ana Paula, responde como partícipe
de tal homicídio, nos termos do art. 29 do CP. Não há que se falar em omissão de socorro por
parte de Erika, pois, conforme dados expressos no enunciado, ela não sabia nadar e nem tinha
como chamar por ajuda.
GABARITO COMENTADO
I – Recurso em sentido estrito, nos termos do artigo 581, IV, do Código de Processo Penal. (0,2)
II – 5 dias, nos termos do artigo 586, do Código de Processo Penal. (0,2)
III – deveria ser requerida a desclassificação do crime consumado para tentado, já que a ação
de Pedro não deu origem a morte de José. Trata-se de hipótese de concausa absolutamente
independente pré-existente. (0,4)
Artigo 13 do Código Penal. (0,2)
GABARITO COMENTADO
A) O(A) examinando(a) deve concluir pela incompetência do Juízo, tendo em vista que o crime
praticado não é doloso contra a vida. Nos termos do Art. 74, § 1º, do Código de Processo Penal
(ou Art. 5º, inciso XXXVIII, alínea d, da CRFB), ao Tribunal do Júri cabe apenas o julgamento
dos crimes dolosos contra a vida e os conexos. No caso, mesmo de acordo com a imputação
contida na denúncia, o resultado de morte foi culposo; logo, a competência é do juízo singular.
B) O(A) examinando(a) deve defender que não poderia Júlio responder pelo crime de lesão
corporal seguida de morte, porque aquele resultado não foi causado a título de dolo nem culpa.
O crime de lesão corporal seguida de morte é chamado de preterdoloso. A ação é dirigida à
produção de lesão corporal, sendo o resultado morte produzido a título de culpa. Costuma-se
dizer que há dolo no antecedente e culpa no consequente. Um dos elementos da culpa é a
previsibilidade objetiva, somente devendo alguém ser punido na forma culposa quando o
resultado não querido pudesse ser previsto por um homem médio, sendo que a ausência de
previsibilidade subjetiva, capacidade do agente, no caso concreto, de prever o resultado,
repercute na culpabilidade.
Na hipótese, não havia previsibilidade objetiva, o que impede a tipificação do delito de lesão
corporal seguida de morte. Também poderia o candidato responder que havia uma concausa
preexistente, relativamente independente, desconhecida, impedindo Júlio de responder pelo
resultado causado. Em princípio, a concausa relativamente independente preexistente não
impede a punição do agente pelo crime consumado. Contudo, deve ela ser conhecida do agente
ou ao menos existir possibilidade de conhecimento, sob pena de responsabilidade penal objetiva.
5) Durante uma grave discussão, ocorrida no serviço, Licurgo Moicano agrediu Coitinho Lelo com
uma paulada na cabeça, com a intenção de matá-lo. Atendido com rapidez, Coitinho Lelo foi
colocado dentro de uma ambulância que rumou para o Pronto Socorro Municipal. No trajeto, a
ambulância capotou, vindo Coitinho Lelo a falecer em razão do acidente. Diante do fato e à luz
do ordenamento jurídico penal, responda se Licurgo Moicano deve ser responsabilizado
penalmente? Em caso afirmativo, indique qual o crime, empregando os argumentos
jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.
GABARITO COMENTADO
O estudante deverá indicar que o crime praticado foi o de tentativa de homicídio, ressaltando que
o caso trata de hipótese de causa superveniente relativamente independente, enfatizando, ainda,
o artigo 13, § 1º, do Código Penal.
João estava dirigindo seu automóvel a uma velocidade de 100 km/h em uma rodovia em que o
limite máximo de velocidade é de 80 km/h. Nesse momento, foi surpreendido por uma bicicleta
que atravessou a rodovia de maneira inesperada, vindo a atropelar Juan, condutor dessa
bicicleta, que faleceu no local em virtude do acidente. Diante disso, João foi denunciado pela
prática do crime previsto no Art. 302 da Lei nº 9.503/97. As perícias realizadas no cadáver da
vítima, no automóvel de João, bem como no local do fato, indicaram que João estava acima da
velocidade permitida, mas que, ainda que a velocidade do veículo do acusado fosse de 80 km/h,
não seria possível evitar o acidente e Juan teria falecido. Diante da prova pericial constatando a
violação do dever objetivo de cuidado pela velocidade acima da permitida, João foi condenado à
pena de detenção no patamar mínimo previsto no dispositivo legal. Considerando apenas os
fatos narrados no enunciado, responda aos itens a seguir.
B) Qual a principal tese jurídica de direito material a ser alegada nas razões recursais?
(Valor: 0,65)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
GABARITO COMENTADO
A Banca também considerou como correta a resposta que indicava a inexistência de culpa,
apesar da violação do dever objetivo de cuidado, em razão da ausência do elemento
previsibilidade, sob a alegação de que João não poderia prever que uma bicicleta atravessaria
seu caminho em uma rodovia de tráfego intenso, em local inadequado.
ITEM PONTUAÇÃO
B) Não foi praticado crime OU deveria João ser absolvido (0,15), razão da
aplicação da Teoria da Imputação Objetiva, pois ainda que não houvesse
violação do dever objetivo de cuidado, o resultado teria ocorrido da mesma 0,00/0,15/0,50/0,65
maneira que ocorreu, não havendo incremento do risco realizado no resultado
OU porque não havia culpa em razão da ausência do elemento previsibilidade
(0,50).
C) Caso Caio fosse pronunciado, qual recurso poderia ser interposto e a quem a peça de
interposição deveria ser dirigida? (Valor: 0,3)
GABARITO COMENTADO
A) Incompetência do juízo, uma vez que Caio praticou homicídio culposo, pois agiu com culpa
consciente, na medida em que, embora tenha previsto o resultado, acreditou que o evento não
fosse ocorrer em razão de sua perícia.
C) Recurso em sentido estrito, conforme previsão do artigo 581, IV, do CPP. A peça de
interposição deveria ser dirigida ao juiz de direito da vara criminal vinculada ao tribunal do júri,
prolator da decisão atacada.
ITEM PONTUAÇÃO
A) Incompetência do juízo, uma vez que Caio praticou homicídio culposo (0,2), pois
agiu com culpa consciente, na medida em que, embora tenha previsto o resultado, 0 / 0,2 / 0,4
acreditou que o evento não fosse ocorrer em razão de sua perícia (0,2)
B) Desclassificação da imputação para homicídio culposo OU declínio de
0 / 0,15 / 0,3
competência (0,15), conforme previsão do artigo 419 do CPP (0,15).
C) Recurso em sentido estrito (0,15), conforme previsão do artigo 581, IV, do CPP. A
peça de interposição deveria ser dirigida ao juiz de direito da vara criminal vinculada 0 / 0,15 / 0,3
ao tribunal do júri (0,15), prolator da decisão atacada.
9) (QUESTÃO 4 – XI EXAME)
A) O que o magistrado deve fazer? Após indicar a solução, dê o correto fundamento legal.
(Valor: 0,65)
GABARITO COMENTADO
A) O juiz deve absolver sumariamente a ré, devendo fundamentar sua decisão no Art. 397, III do
CPP.
B) Está ausente a tipicidade material. Isso porque, pela moderna doutrina, somente haverá
tipicidade se, além da tipicidade formal (subsunção do fato à norma), estiver presente, também,
a tipicidade material, assim entendida como efetiva lesão relevante ou ameaça de lesão ao bem
jurídico tutelado.
Maria foi denunciada pela suposta prática do crime de descaminho, tendo em vista que teria
deixado de recolher impostos que totalizavam R$ 500,00 (quinhentos reais) pela saída de
mercadoria, fato constatado graças ao lançamento definitivo realizado pela Administração
Pública. Considerando que constava da Folha de Antecedentes Criminais de Maria outro
processo pela suposta prática de crime de roubo, inclusive estando Maria atualmente presa em
razão dessa outra ação penal, o Ministério Público deixou de oferecer proposta de suspensão
condicional do processo. Após a instrução criminal em que foram observadas as formalidades
legais, sendo Maria assistida pela Defensoria Pública, foi a ré condenada nos termos da
denúncia. A pena aplicada foi a mínima prevista para o delito, a ser cumprida em regime inicial
aberto, substituída por restritiva de direitos. Maria foi intimada da sentença através de edital, pois
não localizada no endereço constante do processo. A família de Maria, ao tomar conhecimento
do teor da sentença, procura você, na condição de advogado(a) para prestar esclarecimentos
técnicos. Informa estar preocupada com o prazo recursal, já que Maria ainda não tinha
conhecimento da condenação, pois permanecia presa. Na condição de advogado(a),
esclareça os seguintes questionamentos formulados pela família da ré.
Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal
não confere pontuação.
GABARITO COMENTADO
A questão exige do examinando conhecimento sobre uma pluralidade de temas, mas em especial
sobre os elementos do fato típico e sobre as formas de intimação das sentenças condenatórias.
Narra o enunciado que Maria foi denunciada pela suposta prática de crime de descaminho, crime
esse que teria gerado um prejuízo aos cofres públicos no valor de aproximadamente R$500,00
(quinhentos reais), estando incursa nas sanções do Art. 334 do CP.
A) O advogado, ao ser procurado pela família de Maria, deveria esclarecer que a intimação de
Maria do teor da sentença condenatória não foi correta, tendo em vista que ela encontrava-se
presa por outro crime, fato do conhecimento do Ministério Público. De acordo com o Art. 392 do
CPP, a intimação da sentença deverá ser pessoal se o réu estiver preso, ainda que a prisão seja
decorrente de outro processo. A intimação por edital deve ocorrer quando o réu estiver em local
incerto e não sabido, quando não for possível sua localização, ou em alguma das situações
previstas no Art. 392, incisos IV, V e V, do CPP, o que não foi o caso. A intimação por edital,
como forma de intimação ficta, prejudicou Maria, que ainda não tinha conhecimento do teor da
sentença condenatória.
B) O argumento seria de que a conduta praticada por Maria é atípica em razão da aplicação do
princípio da insignificância. O conceito de crime envolve um fato típico, ilícito e culpável. Dentro
da tipicidade, está a tipicidade material, que é a lesão relevante ao bem jurídico protegido. Em
relação aos crimes tributários, a jurisprudência é tranquila no sentido de que haveria atipicidade
material sempre que o valor do imposto sonegado não ultrapassar aquele que a Fazenda Pública
considera baixo o suficiente para não justificar uma cobrança através de execução fiscal. Ainda
que exista controvérsia se tal valor seria de R$ 10.000,00 ou R$ 20.000,00, fato é que, na
presente hipótese, considerando que o valor do tributo não ultrapassaria R$ 500,00, o princípio
da insignificância deveria ser aplicado. A lesão constatada não é grave o suficiente para justificar
a intervenção do Direito Penal, diante de sua característica de subsidiariedade/última ratio.
ITEM PONTUAÇÃO
A) Sim. Existe, tendo em vista que Maria deveria ter sido intimada pessoalmente
por estar presa (0,50), na forma do Art. 392, inciso I, do CPP (0,10). 0,00/0,50/0,60
GABARITO COMENTADO
A) A questão narra que Maria foi pronunciada pela suposta prática de crime de homicídio
qualificado, sendo que, ao final da primeira fase do procedimento do Tribunal do Júri, entendeu
o magistrado por pronunciar Maria nos termos da denúncia. Da decisão de pronúncia caberá
recurso em sentido estrito, nos termos do Art. 581, inciso IV, do CPP. Caso a decisão proferida
pelo magistrado fosse de impronúncia, não haveria que se falar em recurso em sentido estrito.
Antes da edição da 11.689/08, a decisão de impronúncia também era combatida através de
recurso em sentido estrito. Todavia, houve alteração legislativa e, desde então, da decisão de
impronúncia, por ser terminativa, caberá recurso de apelação, assim como ocorreria na
absolvição sumária, conforme previsão do Art. 416 do CPP.
B) A tese de direito material seria que Maria agiu em legítima defesa putativa, nos termos do Art.
20, §1º do Código Penal (erro de tipo permissivo), tendo em vista que acreditava estar atuando
em legítima defesa. Isso porque Clara havia ameaçado Maria de morte caso essa realizasse um
xingamento, o que foi feito por Maria.
Ainda que diante de eventual injúria, se verídica, a conduta de Clara de efetuar disparo de arma
de fogo configuraria uma injusta agressão, pois, no mínimo, haveria excesso em sua conduta.
Caso, de fato, Clara tivesse pego, em sua bolsa, sua arma de fogo, configurada estaria a legítima
defesa e, consequentemente, a conduta de Maria seria legítima. Todavia, na verdade Maria
supôs situação que não existia, já que Clara apenas pegou seu celular para realizar uma ligação.
Diante disso, a atuação em legítima defesa foi apenas putativa
GABARITO COMENTADO
A) Não, pois atuou sob o manto de descriminante putativa, instituto previsto no art. 20, parágrafo
1º do CP, uma vez que supôs, com base em fundado receio, estar em situação de legítima
defesa. Como se limitou a dar uma facada, a sua reação foi moderada, não havendo que se falar
em punição por excesso.
B) Ainda que tenha procurado se defender de agressão que imaginou estar em vias de ocorrer,
Caio agiu em excesso doloso, devendo, portanto, responder por homicídio doloso, na forma do
artigo 23, parágrafo único, do CP.
DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS
ITEM PONTUAÇÃO
A) Não, pois atuou sob o manto de descriminante putativa, uma vez que supôs estar em
situação de legítima defesa, (0,5) nos termos do artigo 20, §1º, do CP (0,15). 0,00/0,50/0,65
Obs.: A mera indicação do artigo não é pontuada.
B) Ainda que tenha procurado se defender de agressão que imaginou estar em vias de
ocorrer, Caio agiu em excesso doloso (0,45), na forma do artigo 23, parágrafo único, do 0,00/0,45/0,60
CP (0,15).
GABARITO COMENTADO
Considerando as informações expostas na questão, deveria o candidato formular um Recurso
de Apelação, na forma do Art. 593, inciso I, do CPP, com elaboração da petição de interposição
acompanhada das respectivas razões recursais. A peça de interposição deveria ser direcionada
para o Juízo da Vara Criminal da Comarca de Porto Alegre/RS, enquanto que as razões recursais
deveriam ser endereçadas para o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. A data
indicada deveria ser o dia 11 de dezembro de 2017, tendo em vista o prazo de 05 dias para
interposição da apelação.
Em suas razões recursais, inicialmente deveria o advogado buscar o reconhecimento da
nulidade dos atos praticados a partir da audiência de instrução e julgamento e da sentença, tendo
em vista que o ato foi realizado na ausência do réu, que não pode comparecer justificadamente,
inclusive sendo apresentado atestado médico pela defesa técnica. Dessa forma, houve violação
ao princípio da ampla defesa, em seu elemento autodefesa (direito de presença), de modo que
configurado cerceamento de defesa, pois o réu não foi interrogado.
Em seguida, como tese principal de mérito, deveria o examinando defender a impossibilidade de
condenação do agente pela prática de dois crimes autônomos, tendo em vista que a falsificação
do cheque foi apenas um meio para prática do crime de estelionato, de modo que o delito previsto
no Art. 297, §2º do Código Penal deveria ser absorvido pelo delito do Art. 171, caput, do Código
Penal.
Em princípio, quando um delito é praticado apenas como meio para a prática de outro delito,
aquele deve ficar absorvido por este, em respeito ao princípio da consunção. Trata-se de um dos
princípios que soluciona o conflito aparente de normas.
Uma das elementares do crime de estelionato é exatamente a fraude, a intenção de enganar.
Quando a fraude é utilizada através da falsificação de um documento cuja falsidade se exaure
no estelionato, o delito autônomo de falsificação ficará absorvido pelo estelionato, pois aquele foi
apenas um crime meio para a prática do mesmo e o potencial lesivo do crime meio foi exaurido.
Consagrando tal entendimento, o Superior Tribunal de Justiça editou o Enunciado 17 de sua
Súmula de Jurisprudência, prevendo que “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais
potencialidade lesiva, é por este absorvido”.
Na hipótese apresentada, não há dúvidas de que a intenção do agente era praticar um crime de
estelionato. Ademais, o falso no caso (folha de cheque com assinatura falsificada) se exaure no
estelionato, não mais tendo potencialidade lesiva, de modo que o crime do Art. 297, §2º do
Código Penal deveria ser absorvido, restando apenas o crime de estelionato.
Ressalta-se ser desnecessário encaminhamento dos autos para análise de proposta de
suspensão condicional do processo, tendo em vista que o réu responde a outros processos, não
preenchendo os requisitos do Art. 89 da Lei nº 9.099/90, não havendo prejuízo, porém, caso o
examinando elabore tal requerimento.
Após, deveria o examinando questionar a pena aplicada em relação ao crime de estelionato,
especialmente.
No momento de fixar a pena base do delito, o magistrado entendeu por aumentá-la, de acordo
com as circunstâncias do Art. 59 do Código Penal, sob o fundamento de que o denunciado agiu
com dolo. Ocorre que o delito de estelionato somente é punido em razão de comportamento
doloso, não havendo previsão de punição em caso de conduta culposa, de modo que o elemento
subjetivo dolo já é inerente ao tipo, não podendo o magistrado incrementar a pena sob esse
fundamento.
Na segunda fase, deveria ter sido reconhecida a atenuante em razão da idade do autor do fato,
tendo em vista que o agente era maior de 70 anos na data da sentença, pois nascido em 07 de
junho de 1945 e a sentença foi proferida no ano de 2017.
Já na terceira fase, deveria ser reconhecida a causa de diminuição de pena da tentativa. Isso
porque o crime de estelionato é delito classificado pela doutrina como sendo de natureza
material, ou seja, existe um resultado naturalístico previsto no tipo e ele precisa ocorrer para a
consumação do crime. Na hipótese apresentada, Breno pretendia pagar suas compras através
de cheque de terceiro, falsificando a assinatura do mesmo. Diante disso, pretendia obter
vantagem patrimonial em prejuízo alheio. Todavia, quando buscava realizar, mediante fraude,
compras no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), o gerente do estabelecimento descobriu o
ocorrido e acionou a polícia, permitindo a prisão em flagrante de Breno e impedindo a
consumação do delito. Assim, necessária a aplicação do Art. 14, inciso II, do Código Penal, com
redução da pena aplicada.
Após a dosimetria da pena, deveria o examinando defender a possibilidade de substituição da
pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. Isso porque a condenação anterior do
agente, em que pese, de fato, configure reincidência, não impede a substituição, uma vez que o
Art. 44 do Código Penal apenas veda a medida para o condenado reincidente na prática de crime
doloso. Na hipótese, a pena aplicada foi inferior a 04 anos e o agente apenas tinha uma
condenação anterior pela prática de crime culposo, logo possível a substituição.
Caso não acolhido o pleito de substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos,
mesmo que mantida a pena aplicada em primeira instância, caberia o pedido de suspensão
condicional da pena, nos termos do Art. 77, § 2º, do Código Penal, tendo em vista que a sanção
aplicada foi inferior a 04 anos e o réu é maior de 70 anos, logo aplicável o sursis etário.
Em razão do exposto, deveria o examinando formular o pedido de conhecimento e provimento
do recurso, com os seguintes fundamentos:
a) Reconhecimento de nulidade em razão da ausência do réu em audiência e não realização de
interrogatório;
b) Afastamento do delito autônomo de falsificação de documento equiparado ao público;
c) Aplicação da pena base no mínimo legal, tendo em vista que o dolo é elemento inerente ao
tipo penal;
d) Reconhecimento da atenuante pelo fato de o réu ser maior de 70 anos na data da sentença;
e) Reconhecimento da causa de diminuição de pena da tentativa;
f) Substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, tendo em vista que a
condenação anterior era por crime culposo.
g) Subsidiariamente, aplicação da suspensão condicional da pena.
O prazo a ser indicado na petição de interposição da apelação era o dia 11 de dezembro de
2017, já que o prazo previsto para a interposição do recurso de apelação é de 05 dias.
No fechamento, deveria o examinando indicar local, data, advogado e OAB.
GABARITO COMENTADO
A) Não há concurso de agentes, pois o auxílio foi proposto após a consumação do crime de furto.
Assim, não estão presentes os requisitos necessários à configuração do concurso de agentes,
mormente liame subjetivo e identidade da infração penal.
B) Favorecimento real (Art. 349, do CP).
GABARITO COMENTADO
A) Sim, a capitulação jurídica realizada pelo Ministério Público e acolhida na sentença poderá
ser questionada, tendo em vista que não deveria ter sido imputada a qualificadora do concurso
de agentes. O Art. 155, § 4º, inciso IV, do CP prevê qualificadora do furto quando este for
praticado mediante concurso de duas ou mais pessoas.
Ocorre que, apesar de Caio e Bruno serem irmãos e terem praticado crimes de furto no mesmo
local, data e horário, não houve concurso de agentes. Dentre os requisitos para configuração do
concurso de agentes está o liame subjetivo, que não restou configurado na hipótese
apresentada. A todo momento o enunciado deixa claro que Caio e Bruno sequer sabiam da
conduta um do outro, não havendo que se falar, então, em comunhão de ações e desígnios e,
consequentemente, concurso de agentes, apesar de configurado o crime de furto simples em
relação a ambos.
B) Mesmo em caso de manutenção da capitulação apresentada, ou seja, de furto qualificado,
seria possível a redução da pena aplicada em razão do privilégio previsto no Art. 155, § 2º, do
CP. Apesar de os agentes responderem a outras ações penais, nos termos da Súmula 444 do
STJ, não havendo sentença condenatória anterior com trânsito em julgado, são considerados
tecnicamente primários e de bons antecedentes. Ademais, as coisas furtadas podem ser
consideradas de pequeno valor, não havendo que se falar em insignificância, na hipótese, seja
pelo valor dos bens seja porque o enunciado indaga sobre a redução da pena aplicada e não
afastamento da tipicidade da conduta.
É preciso, ainda, ressaltar que os Tribunais Superiores pacificaram o entendimento de que a
figura do furto privilegiado poderá ser reconhecida ainda que o crime em questão seja de furto
qualificado, topograficamente localizado após a disciplina do privilégio, nos termos da Súmula
511 do Superior Tribunal de Justiça.
GABARITO COMENTADO
A) A defesa de Marcos deverá formular requerimento de relaxamento da prisão, tendo em vista
que não havia situação de flagrante a justificar a formalização do Auto de Prisão em Flagrante.
Narra o enunciado que, de fato, Marcos, mediante grave ameaça, inclusive com emprego de
simulacro de arma de fogo, subtraiu coisas alheias móveis de Diego e Julio, logo praticou dois
crimes de roubo.
As vítimas reconheceram o acusado, de modo que há justa causa para o oferecimento de
denúncia. Todavia, não havia situação de flagrante a justificar a prisão do acusado. Isso porque
o reconhecimento e prisão de Marcos ocorreram mais de 07 horas após o fato, sendo certo que
não houve perseguição e nem com o agente foram encontrados instrumentos ou produtos do
crime. Dessa forma, nenhuma das situações previstas no Art. 302 do Código de Processo Penal
restou configurada. Em sendo a prisão ilegal, o requerimento a ser formulado é de relaxamento
da prisão. Insuficiente, no caso, o examinando apresentar requerimento de liberdade provisória.
Primeiro porque, em sendo a prisão ilegal, sequer deveriam ser analisados os pressupostos dos
Artigos 312 e 313 do Código de Processo Penal nesse momento. Além disso, a princípio, não
seria caso de reconhecimento de ausência dos motivos da preventiva, já que foi praticado crime
com circunstâncias graves e o agente é triplamente reincidente.
B) O equívoco a ser alegado em relação à capitulação delitiva refere-se ao concurso de crimes.
Sem dúvidas, confirmados os fatos, houve crime de roubo, já que foram subtraídas coisas alheias
móveis e houve emprego de grave ameaça, ainda que apenas através de palavras de ordem e
emprego de simulacro de arma de fogo. Da mesma forma, dois foram os crimes patrimoniais
praticados. Isso porque dois patrimônios foram atingidos e presente o elemento subjetivo, tendo
em vista que Marcos sabia que estava subtraindo pertences de duas pessoas diversas. Todavia,
com uma só ação, mediante uma ameaça, foram subtraídos bens de dois patrimônios diferentes.
Assim, deverá ser reconhecido o concurso formal de delitos, aplicando-se a regra da
exasperação da pena, e não o concurso material, com aplicação do cúmulo material de sanções.
DISTRIBUIÇÃO DE PONTOS
ITEM PONTUAÇÃO
A) O requerimento a ser formulado é de relaxamento da prisão (0,35), tendo em vista
que não está presente nenhuma das situações de flagrante elencadas no Art. 302 do 0,00/0,30/0,35/0,65
CPP (0,30).
B) O argumento é que houve concurso formal de crimes (0,35), tendo em vista que,
0,00/0,15/0,25/0,35/
com uma só ação, foram praticados dois delitos (0,15), nos termos do Art. 70 do CP
0,45/ 0,50/0,60
(0,10).
GABARITO COMENTADO
A) O advogado de Antônio poderá buscar o reconhecimento da nulidade da sentença
condenatória em razão da violação ao devido processo legal. Isso porque, de acordo com o Art.
400 do CPP, na audiência, primeiro devem ser ouvidas as testemunhas da acusação. Somente
após a produção de provas pela acusação poderiam ser ouvidas as testemunhas de defesa e
interrogado o acusado. Violando a ordem da oitiva das testemunhas, tendo a defesa se insurgido
contra tal inversão e ficando claro o prejuízo com a condenação e alteração dos fatos por parte
de Pablo, deverá ser reconhecida a nulidade do processo desde a primeira audiência de
instrução e julgamento.
B) A conduta de Pablo de, em audiência de instrução e julgamento de processo criminal, fazer
afirmação falsa como testemunha, a princípio, configura o crime realmente imputado: Art. 342, §
1º, do CP. Ocorre que, até como forma de incentivar a retratação e minorar os prejuízos causados
em processos, previu o legislador, no Art.342, § 2º, do CP, que se o agente se retrata ou declara
a verdade antes da sentença ser proferida no processo em que ocorreu o ilícito, o fato deixa de
ser punível. No caso, Pablo se retratou, narrou a verdade, antes mesmo de ser proferida a
sentença condenatória de Antônio. Dessa forma, não poderia o magistrado reconhecer que tal
retratação funcionaria apenas como atenuante do Art. 65, inciso III, alínea b, do CP, ou
arrependimento posterior, devendo reconhecer a extinção da punibilidade do agente, já que o
fato deixa de ser punível.
Jânio foi denunciado pela prática de roubo tentado (Código Penal, art. 157, caput, c/c art. 14, II),
cometido em dezembro de 2009, tendo sido demonstrado, durante a instrução processual, que
o réu praticara, de fato, delito de dano (Código Penal, art. 163, caput). Considerando essa
situação hipotética, responda, de forma fundamentada, às seguintes indagações.
A) Em face da nova definição jurídica do fato, que procedimento deve ser adotado pelo
juiz?
B) Caso a nova capitulação jurídica do fato fosse verificada apenas em segunda instância,
seria possível a aplicação do instituto da emendatio libelli?
GABARITO COMENTADO
No caso, o juiz deverá remeter os autos para o juizado especial competente. Isso porque o delito
de dano (CP, art. 163, caput) é considerado de menor potencial ofensivo (Lei n.º 9.099/1995, art.
61), razão pela qual é aplicável, então, o comando do § 2.º do art. 383 do CPP.
Não existe qualquer impedimento legal para a aplicação do instituto da emendatio libelli em
segunda instância (CPP, art. 383), pois não há que se falar em surpresa para as partes, na
medida em que não há alteração do contexto fático narrado na inicial acusatória (Nesse sentido:
Fernando Capez. Curso de processo penal. 16 ed., São Paulo: Saraiva, p. 466).
GABARITO COMENTADO
A) O argumento de direito processual a ser apresentado é o de que houve violação ao princípio
da correlação, o que gera a nulidade da sentença por violação ao princípio da ampla defesa e
ao princípio do contraditório. Isso porque a denúncia narrou que Lucas guardava, em seu local
de trabalho, duas armas de fogo de calibre restrito.
Sem que houvesse aditamento da denúncia, o magistrado condenou o réu pela prática de dois
crimes de posse de arma de fogo de numeração suprimida, previsto no Art. 16, parágrafo único,
inciso IV, da Lei 10.826/03. Apesar do crime imputado na denúncia e o reconhecido na sentença
estarem previsto no mesmo dispositivo legal, eles não se confundem e a narrativa dos fatos é
diferente. O réu somente se defendeu sobre as armas apreendidas como sendo de uso restrito,
não podendo, então, o magistrado modificar os fatos para dar nova capitulação jurídica, nos
termos do Art. 384 do CPP. Se não houvesse alteração dos fatos, poderia o juiz aplicar o Art.
383 do CPP, mas não foi isso que ocorreu na hipótese narrada. Dessa forma, deve ser
reconhecida a nulidade da sentença.
B) Em busca de questionar o mérito da decisão, o advogado deveria argumentar que a conduta
de Lucas de guardar, em seu local de trabalho, duas armas de fogo com numeração suprimida
configura crime único previsto no Art. 16, parágrafo único, inciso IV, da Lei 10.826/03 e não dois
crimes autônomos, seja em concurso material ou formal. As armas estavam sendo guardadas
em um mesmo contexto, logo a violação ao bem jurídico protegido foi única, podendo, porém, a
quantidade de armas ser considerada no momento da aplicação da pena.
Jorge, com 21 anos de idade, reincidente, natural de São Gonçalo/RJ, entrou em uma briga com
seus pais, razão pela qual foi morar na casa de sua tia Marta, irmã de seu pai, na cidade de
Maricá/RJ, já que esta tinha apenas 40 anos e “o entenderia melhor”. Após 06 meses residindo
no mesmo local que sua tia, Jorge subtraiu o carro de Marta, levando-o para uma favela em
Niterói, onde pretendia morar no futuro. No começo, Marta não desconfiou da autoria, porém
após alguns dias, teve certeza de que o autor do crime era seu sobrinho, mas nada fez para vê-
lo responsabilizado criminalmente, em razão do afeto que tinha por ele. Apenas, então,
comunicou à seguradora que seu veículo fora furtado. Jorge, 01 ano após esses fatos, estava
na direção do veículo que havia subtraído quando foi abordado por policiais militares que,
constatando que aquele bem era produto de crime pretérito, realizaram sua prisão em flagrante.
Jorge foi denunciado pela prática do crime de receptação, mas, no curso da instrução, foi
descoberto que, na verdade, o acusado era o autor do crime de furto. O Ministério Público aditou
a denúncia para adequá-la às novas descobertas e, após manifestação da Defensoria Pública,
foi o aditamento recebido. Não houve requerimento de novas provas. Jorge o(a) procura para,
na condição de advogado(a), apresentar as Alegações Finais.
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação do dispositivo legal não
confere pontuação.
GABARITO COMENTADO
A) O enunciado narra a prática de um crime de furto simples consumado, praticado por Jorge
contra sua tia Marta, com quem ele coabitava. Diante dessa relação de coabitação e parentesco,
a ação penal pela prática de tal delito tem natureza de ação pública condicionada à
representação. Isso porque o Art. 182, inciso III, do Código Penal prevê que somente se procede
mediante representação a ação penal pela prática de crime contra o patrimônio em desfavor de
tio, com quem o agente coabita. Não houve violência ou grave ameaça e a vítima não era maior
de 60 anos, logo inaplicável o Art. 183 do Código Penal. Sendo a ação condicionada à
representação, e não tendo ocorrido no prazo de 06 meses, ocorreu a decadência, de modo que
a punibilidade de Jorge deve ser extinta (Art. 107, inciso IV, do Código Penal).
B) Não poderia o magistrado condenar o denunciado nos termos da imputação original, pois tal
conduta violaria os princípios da ampla defesa e do contraditório, além, do princípio da
correlação. Ademais, de acordo com Art. 384, §4º, do Código de Processo Penal, o juiz ficará
adstrito aos termos do aditamento.
ITEM PONTUAÇÃO
João e José foram denunciados pela prática da conduta descrita no art. 316 do CP (concussão).
Durante a instrução, percebeu-se que os fatos narrados na denúncia não corresponderiam àquilo
que efetivamente teria ocorrido, razão pela qual, ao cabo da instrução criminal e após a
respectiva apresentação de memoriais pelas partes, apurou-se que a conduta típica adequada
seria aquela descrita no art. 317 do CP (corrupção passiva). O magistrado, então, fez remessa
dos autos ao Ministério Público para fins de aditamento da denúncia, com a nova capitulação
dos fatos. Nesse sentido, atento(a) ao caso narrado e considerando apenas as informações
contidas no texto, responda fundamentadamente, aos itens a seguir.
B) Por que o próprio juiz, na sentença, não poderia dar a nova capitulação e, com base
nela, condenar os réus? (Valor: 0,50)
GABARITO COMENTADO
Para garantir pontuação à questão, o examinando deverá, no item “A”, responder, nos termos do
questionado, que a hipótese tratada é de mutatio libelli, instituto descrito no art. 384 do CPP.
Não serão admitidas respostas que tragam emendatio libelli, tendo em vista que o enunciado da
questão é claro ao dispor que “os fatos narrados na denúncia não corresponderiam àquilo que
efetivamente teria ocorrido”. Tal expressão, por si só, ainda afastaria a incidência do disposto no
art. 383, do CPP, uma vez que aquele dispositivo legal traz explicitamente restrição à sua
utilização para hipóteses em que não ocorra modificação na “descrição do fato contida na
denúncia ou queixa”.
Quanto ao item “B”, para garantir a pontuação pertinente, o examinando deverá responder que
o juiz não poderia, na sentença, dar nova capitulação (e com base nela condenar os réus) porque
deve obediência aos princípios da imparcialidade e inércia da jurisdição.
Ressalte-se que no tocante ao item “B” a questão solicita análise acerca da conduta do
magistrado que, na sentença, daria nova capitulação aos fatos em decorrência de elemento ou
circunstância da infração penal não contida na acusação.
Nesse sentido, cabe destacar que à luz do sistema acusatório adotado pela Constituição da
República Federativa do Brasil, o julgador deve ser imparcial e, por isso, suas decisões devem
estar balizadas pelo contexto fático descrito na peça acusatória (princípio da correlação entre
acusação e sentença).
Assim, caso o magistrado viesse a condenar os réus com fundamento em fatos não narrados na
denúncia – tal como descrito no enunciado - não só estaria substituindo-se ao acusador (a quem
pertence a atribuição de determinar quais fatos serão imputados aos acusados), mas também
estaria violando as garantias do contraditório e ampla defesa dos réus, uma vez que lhes teria
subtraído a possibilidade de debater as eventuais provas de tais fatos.
Por fim, para garantir a pontuação relativa ao item “C”, o examinando deverá responder que NÃO
é possível que o Tribunal de Justiça, ao analisar o recurso de apelação, proceda à mutatio libelli
pois, nos termos do verbete 453 da Súmula do STF, verbis: “não se aplicam à segunda instância
o art. 384 (...).”.
Tal conclusão, no item “C”, decorre do reconhecimento de que, advindo inovação no contexto
fático que envolve a conduta imputada ao réu no curso da instrução, não pode haver julgamento
com base nesse novo contexto fático antes que as partes possam exercer o contraditório em sua
plenitude.
Nessa esteira, cabe destacar que a sede própria do contraditório acerca dos fatos e das provas
é o primeiro grau de jurisdição, sob pena de supressão de instância. Tomadas essas duas
premissas, alcança-se a conclusão de que eventual modificação da definição jurídica do fato
decorrente de elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação não pode
ser realizada diretamente pelo segundo grau de jurisdição.
A) A hipótese é de mutatio libelli (0,35), instituto descrito no art. 384 do CPP (0,15). 0,00/0,15/
0,35/0,50
Júlio foi denunciado pela prática do delito de furto cometido em fevereiro de 2010. Encerrada a
instrução probatória, constatou-se, pelas provas testemunhais produzidas pela acusação, que
Júlio praticara roubo, dado o emprego de grave ameaça contra a vítima.
A) Dada a nova definição jurídica do fato, que procedimento deve ser adotado pela
autoridade judicial, sem que se fira o princípio da ampla defesa?
C) Caso Júlio tivesse cometido crime de ação penal exclusivamente privada, dada a nova
definição jurídica do fato narrado na queixa após o fim da instrução probatória, seria
aplicável o instituto da mutatio libelli?
GABARITO COMENTADO
A primeira indagação deve ser respondida com base no art. 384 do CPP, que assim dispõe:
“Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição jurídica do fato, em
consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não
contida na acusação, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5
(cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública,
reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito oralmente. (...) § 4.º Havendo aditamento,
cada parte poderá arrolar até 3 (três) testemunhas, no prazo de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na
sentença, adstrito aos termos do aditamento.” (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008)
Dessa forma, deverá o juiz dar aplicabilidade ao comando do art. 384, e parágrafos, do CPP,
para encaminhar os autos ao Ministério Público, a fim de que haja o aditamento da denúncia,
propiciando ao réu a oportunidade de se defender da nova capitulação do fato.
A resposta à terceira indagação deve ser negativa. O procedimento previsto no art. 384 do
Código de Processo Penal somente se aplica na hipótese de ação penal pública e ação penal
privada subsidiária da pública, sendo inadmissível o juiz determinar abertura de vista para o
Ministério Público aditar a queixa e ampliar a imputação, na ação penal exclusivamente privada,
conforme clara redação do dispositivo:
“(...) o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 (cinco) dias, se em
virtude desta houver sido instaurado o processo em crime de ação pública (...).”
GABARITO COMENTADO
A questão objetiva extrair do examinando conhecimento acerca da teoria geral das nulidades no
Processo Penal. Nesse sentido, para garantir os pontos relativos à questão, o examinando deve,
na alternativa "A", indicar que a hipótese é de nulidade absoluta, nos termos do artigo 564, III,
alínea "i" c/c 572, ambos do CPP. Em relação à alternativa "B", o examinando deve lastrear sua
resposta no sentido de que não foi correta a atitude do Tribunal de Justiça. Isso porque, de
acordo com o Verbete 160 da Súmula do STF, o Tribunal de Justiça não pode acolher, contra o
réu, nulidade não aventada pela acusação em seu recurso. Assim agir significaria desrespeito
ao princípio da vedação a reformatio in pejus indireta.
O enunciado da questão foi claro ao informar que o recurso do Ministério Público não alegou
nenhuma nulidade. Destarte, levando em conta que o réu foi absolvido em relação ao delito de
homicídio, o reconhecimento de nulidade implicar-lhe-á em prejuízo.
A) Nulidade Absoluta (0,30), nos termos do artigo 564, III, alínea "i" c/c 572,
ambos do CPP (0,10). 0,00/0,30/0,40
Obs: A mera indicação de artigo não pontua.
B) Não foi correta a decisão do Tribunal de Justiça, pois o Tribunal não pode
acolher, contra o réu, nulidade não arguida pela acusação em seu recurso
(0,85). OU Não foi correta a decisão, nos termos do Verbete 160 ou 713
0,00/0,85
da Súmula do STF (0,85). OU Não foi correta a decisão, com base no princípio
que veda a reformatio in pejus indireta (0,85).
Daniel foi denunciado, processado e condenado pela prática do delito de roubo simples em sua
modalidade tentada. A pena fixada pelo magistrado foi de dois anos de reclusão em regime
aberto. Todavia, atento às particularidades do caso concreto, o referido magistrado concedeu-
lhe o benefício da suspensão condicional da execução da pena, sendo certo que, na sentença,
não fixou nenhuma condição. Somente a defesa interpôs recurso de apelação, pleiteando a
absolvição de Daniel com base na tese de negativa de autoria e, subsidiariamente, a substituição
do benefício concedido por uma pena restritiva de direitos. O Tribunal de Justiça, por sua vez,
no julgamento da apelação, de forma unânime, negou provimento aos dois pedidos da defesa e,
no acórdão, fixou as condições do sursis, haja vista o fato de que o magistrado a quo deixou de
fazê-lo na sentença condenatória. Nesse sentido, atento apenas às informações contidas no
texto, responda, fundamentadamente, aos itens a seguir.
GABARITO COMENTADO
A) Cabível a interposição de recurso especial, com fulcro no Art. 105, III, a, da CRFB/88.
B) Deve ser salientado que não agiu corretamente o Tribunal de Justiça ao fixar as condições do
sursis, pois tal tarefa cabia ao juiz a quo e, como ele não o fez, bem como não houve impugnação
por parte do Ministério Público acerca de tal omissão, a atitude do Tribunal configura verdadeira
reformatio in pejus, vedada pelo Art. 617, do CPP.
John, primário e de bons antecedentes, foi denunciado pela prática do crime de tráfico de drogas.
Após a instrução, inclusive com realização do interrogatório, ocasião em que o acusado
confessou os fatos, John foi condenado, na forma do Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06, à pena
de 1 ano e 08 meses de reclusão, a ser cumprido em regime inicial aberto. O advogado de John
interpôs o recurso cabível da sentença condenatória. Em julgamento pela Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça, a sentença foi integralmente mantida por maioria de votos. O
Desembargador revisor, por sua vez, votou no sentido de manter a pena de 01 ano e 08 meses
de reclusão, assim como o regime, mas foi favorável à substituição da pena privativa de liberdade
por duas restritivas de direitos, no que restou vencido. O advogado de John é intimado do
acórdão. Considerando a situação narrada, responda aos itens a seguir.
A) Qual medida processual, diferente de habeas corpus, deverá ser formulada pelo
advogado de John para combater a decisão da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça?
(Valor: 0,65)
B) Qual fundamento de direito material deverá ser apresentado para fazer prevalecer o
voto vencido? (Valor: 0,60)
GABARITO COMENTADO
B) Para fazer prevalecer o voto vencido, deverá o examinando demonstrar a possibilidade de ser
substituída a pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, tendo em vista que foi
reconhecido que o acusado é primário, de bons antecedentes e que não se dedica ao crime e
nem integra organização criminosa. Em que pese o Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06, vedar a
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, o Supremo Tribunal Federal,
em sede de controle difuso de inconstitucionalidade, entendeu que tal vedação viola o princípio
da individualização da pena. Ademais, diante dessa decisão o Senado Federal editou a
Resolução nº 05, suspendendo a eficácia da parte da redação do Art. 33, § 4º, da Lei nº
11.343/06, que veda a substituição.
A) A medida processual é de embargos infringentes (0,55), na forma do Art. 609, 0,00 / 0,55 / 0,65
parágrafo único, do CPP (0,10).
B) O fundamento seria a possibilidade de substituição da pena privativa de 0,00 / 0,60
liberdade por restritiva de direitos, tendo em vista que o STF considerou
inconstitucional a vedação trazida pelo Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06 OU porque
a vedação do Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06, viola o princípio da individualização
da pena OU porque a Resolução 5 do Senado suspendeu a eficácia de parte da
redação do Art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/06. (0,60)