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Carlos Biasotti

Da Pena
(Doutrina e Jurisprudência)

2020
São Paulo, Brasil
O Autor

Carlos Biasotti foi advogado criminalista, presidente da


Acrimesp (Associação dos Advogados Criminalistas do Estado
de São Paulo) e membro efetivo de diversas entidades (OAB,
AASP, IASP, ADESG, UBE, IBCCrim, Sociedade Brasileira de
Criminologia, Associação Americana de Juristas, Academia
Brasileira de Direito Criminal, Academia Brasileira de Arte,
Cultura e História, etc.).

Premiado pelo Instituto dos Advogados de São Paulo, no


concurso O Melhor Arrazoado Forense, realizado em 1982, é autor
de Lições Práticas de Processo Penal, O Crime da Pedra, Tributo aos
Advogados Criminalistas, Advocacia Criminal (Teoria e Prática), além
de numerosos artigos jurídicos publicados em jornais e revistas.

Juiz do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo


(nomeado pelo critério do quinto constitucional, classe dos
advogados), desde 30.8.1996, foi promovido, por merecimento, em
14.4.2004, ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça.

Condecorações e títulos honorícos: Colar do Mérito


Judiciário (instituído e conferido pelo Poder Judiciário do Estado
de São Paulo); medalha cívica da Ordem dos Nobres Cavaleiros de
São Paulo; medalha cultural “ Brasil 500 anos”; medalha “ Prof. Dr.
Antonio Chaves”, etc.
Da Pena
(Doutrina e Jurisprudência)
Carlos Biasotti

Da Pena
(Doutrina e Jurisprudência)

2020
São Paulo, Brasil
Índice

Introito........................................................................11

Dedicatória..................................................................13

I. Pena: Critério de Aplicação e Finalidade; Ementas


(Doutrina e Jusrisprudência).......................................17

II. Pena: “Bis in Idem”: Hipóteses..................................63

III. Pena: Redução. Casos................................................78

IV. Pena: Conversão......................................................120

V. Casos Especiais.......................................................147

VI. Lei, Justiça e Bom-Senso.........................................261

VII. Crime, Rigor da Lei e Clemência.............................273

VIII. Crime, Castigo e Erro Judiciário..............................281

IX. Pena: Pecúlio de Máximas, Aforismos e


Doutrina Jurídica........................................................285

X. Damásio E. de Jesus:
Honra e Glória do Dieito Penal.................................311
Introito

1. Convicto de crime, cai o réu na sanção do Direito


Penal. Sua pena, estipêndio da violação do bem jurídico
protegido, serve a dois propósitos capitais: expiação da
falta cometida e advertência que não torne a delinquir.
A lição de Nélson Hungria a tal respeito escusa
outras mais que se possam arrolar: “A pena traduz
primacialmente um princípio humano por excelência, que é o
da justa recompensa: cada um deve ter o que merece” (Novas
Questões Jurídico-Penais, p. 131).
A faltar o justo castigo nos casos de ofensa à lei,
a própria ordem social estava ameaçada; em verdade,
unicamente com medidas eficazes de prevenção e de
repressão é que a criminalidade cessa ou diminui.

2. Na boa formação da personalidade do indivíduo,


com preponderância dos sadios princípios e valores
morais e cívicos, é que a política de prevenção dos
12

fatores criminógenos haverá deparar o seu verdadeiro e


sólido fundamento; donde a máxima da experiência:
Abrir escolas é fechar cadeias.
Mas, falhando os outros meios de contenção do
crime – e desde que superior a toda a dúvida a
culpabilidade do réu –, tem lugar a repressão: tocará
ao Estado, por direito e dever indeclinável, fulminar-lhe
punição.
A esperança da impunidade, com efeito, já o
advertia o eloquente Cícero, passa pelo maior incentivo
das práticas criminosas(1).
Ao infligir pena ao culpado, no entanto, será bem
não desconsidere o Juiz a bela parêmia do clássico
Manuel Bernardes: “Deve o rigor do castigo temperar-se
sempre com a moderação da clemência” (Nova Floresta,
1728, t. V, p. 466).
Breves subsídios de doutrina e de jurisprudência
relativos à pena, extraídos de votos que proferi na 2a.
Instância da Justiça Criminal do Estado de São Paulo:
eis a matéria do livrinho que deponho a seus pés,
benévolo e amigo leitor, na persuasão de que lhe não
seja a leitura imerecido castigo. Honra-me apertar-lhe a
mão! Cordiais saudações!

(1) “Quis ignorat maximam illecebram esse peccandi impunitatis spem?”


(“Pro Milone”, 16, 43).
Dedicatória

Defender da injúria do esquecimento os nomes


de certos juízes, que por atributos singulares e altos
merecimentos levaram primazia sobre os mais, é
tradição observada sem quebra nas províncias do Poder
Judiciário.
Aferida pela conformidade de muitas opiniões, essa
praxe antiga arma a dois fins muito de louvar: fazer
justiça – que se resume e aperfeiçoa em dar a cada um
o que lhe pertence – a alguns sujeitos, chamados
outrora “vasos de honra” ou “varões de Plutarco”, e sagrar-
-lhes o devido preito pelos benefícios que dispensaram à
coletividade: pretexto justo, eficaz e urbano de propô-
-los aos contemporâneos e vindouros por modelos
acabados de vida, dignidade e trabalho.
14

Nesta prestigiosa escola, que inflama o culto dos


legítimos valores e talentos nacionais, foram ensinados
os povos em todos os tempos. Apenas os “abissínios
passam por apedrejadores do Sol no ocaso” !(2)
Entre os usos e costumes da Justiça brasileira
figura, de muito, com efeito, a preocupação de
perpetuar a lembrança de seus vultos eminentes(3).
Ora, está no caso, porque da mais alta fidalguia
intelectual, a personagem a quem dedico este livrinho
– modesto e fraco tributo –, que entretanto se tornará
valioso, apenas nele escreva e declare um nome:
Mohamed Amaro.

(2) Antenor Nascentes, Tesouro da Fraseologia Brasileira, 1945, p. 11.

(3) Assim, no átrio do Palácio da Justiça de São Paulo (como em todos


os fóruns do Brasil), pode-se reverenciar, em herma de bronze, o maior
de nossos jurisconsultos, com a epígrafe: “Ruy Barbosa / Estremeceu a
Pátria, viveu no trabalho e não perdeu o ideal”. Também os insignes
Ministros Manoel Costa Manso, Laudo de Camargo, Mário Guimarães e
Nélson Hungria, soberbos paradigmas da Magistratura brasileira, têm
seus nomes nos frontões e dependências de muitos edifícios da Justiça.
No recinto do Tribunal do Júri da Capital, arena de seus memoráveis
certames oratórios em defesa da justiça e da liberdade, estão as efígies dos
lendários tribunos J.A. César Salgado, Ibrahim Nobre, Antônio Covello,
Brasílio Machado, José Adriano Marrey Jr., Américo Marco Antônio,
Dante Delmanto, Waldir Troncoso Peres e J.B. Viana de Moraes.
15

Os que, nas últimas cinco décadas, peregrinaram


pela “via crucis” da Justiça de São Paulo, esses puderam
admirá-lo, porque o conheceram. (Deveras, conhecê-lo
e estimá-lo tudo fora um!).
Além do rútilo percurso de sua judicatura e dos
relevantes serviços que prestou à sociedade bandeirante
(e ainda, voluntariamente, continua a prestá-los como
Ouvidor do Tribunal de Justiça), nos quais se abalizou
pela dedicação plena à causa da Justiça, prudência no
deliberar e fiel exação no desempenho do cargo de
Vice-Presidente do Tribunal de Justiça do Estado
de São Paulo, o Desembargador Mohamed Amaro
alcançou também o capitólio na república das letras
jurídicas, já que escritor e penalista de tomo.
De suas obras, duas já lhe conferiram a coroa de
louros: O Código Penal na Expressão dos Tribunais e o
Código de Processo Penal na Expressão dos Tribunais.
Aos cultores do Direito estes dois monumentos
literários demonstraram, de vez, os prodígios que a
inteligência humana costuma operar quando animada
de saber profundo, férrea disciplina da vontade e
ambição nobre de bem servir!
Eis algumas das razões por que me lembrou
dedicar este opúsculo ao douto Desembargador
Mohamed Amaro.
16

Ao mesmo tempo que lhe peço vênia para


imprimir aqui seu honrado nome, à guisa de timbre de
amizade, admiração e respeito, saúdo-o com a fórmula
que encerra sempre nossos reencontros: Que Alá o cubra
com o lado direito do manto!

O Autor
Ementário Forense
(Votos que, em matéria criminal, proferiu o Desembargador
Carlos Biasotti, do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo. Veja a íntegra dos votos no Portal do Tribunal de
Justiça: http://www.tjsp.jus.br).

I. Pena: Critério de Aplicação e Finalidade; Ementas


(Doutrina e Jusrisprudência)

Voto nº 62
Apelação Criminal nº 1.033.139/6
Arts. 157, “caput”, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 78, 1a. parte, do Cód. Penal

— Ainda que a história da pena seja a de sua constante abolição, como


geralmente discursam os penitenciarisas, não padece dúvida que ela
representa o salário do crime. Sua existência, portanto, depara
fundamento na incoercível necessidade social. Donde a advertência
de grave autor, que tinha voz no capítulo: “Suprima-se a pena (quod
Deus avertat) e o crime seria, talvez, a lei da maioria” (Nélson
Hungria, Comentários ao Código Penal, 1978, vol. I, t. II, p. 196).
— Não deve, contudo, a pena ter caráter só retributivo, ou de expiação,
pelo mal praticado; há de ser também medida salutar de defesa
social e meio de reeducação do infrator. Na frase original
de Platão, deve ser “a medicina da alma” (cf. Revista da Faculdade de
Direito de São Paulo, 1894, vol. 11, p. 99).
—“O sursis é instituto de estímulo à recuperação do primário não-perigoso e
tem como finalidade reintegrá-lo na ordem social” (Rev. Tribs., vol. 419,
p. 96).
18

Voto nº 4623
Apelação Criminal nº 1.364.007/1
Art. 155, “caput”, do Cód. Penal;
art. 621 do Cód. Proc. Penal

— Não há que reparar na sentença que, à conta dos maus antecedentes


do réu, fixa-lhe a pena-base acima do mínimo legal. A razão é que,
na aplicação da pena, deve o Juiz atender juntamente às
circunstâncias do crime, à personalidade do infrator e à defesa da
sociedade (art. 59 do Cód. Penal).
—“A pena é força de reserva na defesa da ordem jurídica” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII, p. 182).

Voto nº 488
Apelação Criminal nº 1.060.249/5
Art. 155, § 2º, do Cód. Penal

— A nímia liberalidade na aplicação do texto legal pode desfechar em


impunidade, mas a moderação em impor as penas ao réu passa por
pedra de toque do verdadeiro julgador.
— A ausência de prejuízo equipara-se ao pequeno valor da “res furtiva”
e possibilita o reconhecimento do “privilegium” (art. 155, § 2º, do
Cód. Penal).
19

Voto nº 530
Apelação Criminal nº 1.063.255/4
Art. 171 do Cód. Penal

— Comete o crime do art. 171 do Cód. Penal quem adquire bens com
cheque falso, ante a manifesta intenção de locupletamento ilícito.
—“A pena traduz, primacialmente, um princípio humano por excelência,
que é o da justa recompensa: cada um deve ter o que merece” (Nélson
Hungria, Novas Questões Jurídico-Penais, p. 131).
— Lei nº 9.099/95: “(…) no concurso de crimes devem as penas ser
consideradas isoladamente” (Ada Pellegrini Grinover, Juizados Especiais
Criminais, 2a. ed., p. 241).

Voto nº 1012
Apelação Criminal nº 1.087.991/2
Arts. 155, § 4º, nº IV, e 14, nº II, do Cód. Penal

— Não há estigmatizar sentença com o ferrete em brasa da nulidade,


por simples vício de individualização da pena, que a Superior
Instância pode suprir em via recursal ordinária, como assentou
a jurisprudência do Pretório Excelso (cf. Damásio E. de Jesus, Código
de Processo Penal Anotado, 13a. ed., p. 266).
—“A pena-retributiva jamais corrigiu alguém” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1980, 6a. ed., vol. I, t. I, p. 14).
— O cárcere: o pior lugar do mundo, antes do cemitério!
20

Voto nº 1067
Apelação Criminal nº 1.099.193/1
Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 77 do Cód. Penal

— Aquele que, arguido acerca do fato criminoso, cerra os lábios e nada


responde, nisso mesmo dá a conhecer sua grande culpa, uma vez
que a razão natural ensina não ser próprio do inocente suportar em
silêncio injusta acusação, podendo falar e defender--se. Afora os
casos de exceção (que merecem comprovados sempre), calado só
permanece quem admite a veracidade da imputação.
—“A prisão é crime pior que o cometido pelo sentenciado, seja qual for”
(Bernard Shaw; apud Ataliba Nogueira, Pena sem Prisão, 1956,
p. 9). O cárcere: “la scuola normale del delitto” (Colajanni; apud
Valdemar César da Silveira, Sentenças Criminais, 1941, p. 79).
21

Voto nº 1084
Apelação Criminal nº 1.105.949/7
Art. 157, § 2º, ns. I, II e V, do Cód. Penal

— As provas do processo em que a vítima indicou, sem hesitar, como


autor de roubo aquele mesmo que a Polícia deteve ainda na posse
da “res furtiva”, essas pertencem ao número das que Beccaria
denominou perfeitas: “demonstram de maneira positiva, que é
impossível ser o acusado inocente” (Dos Delitos e das Penas, § VII;
trad. Torrieri Guimarães).
— O aumento de metade da pena-base, à conta de tríplice
qualificadora do roubo, é medida de indeclinável necessidade social
(reprimir com eficácia a criminalidade violenta) e traço de justiça
retributiva: a exemplaridade da pena há de atender à intensidade da
culpa do agente.
— Fechado é o regime prisional próprio de autor de roubo, pois
somente esse responde à natureza do crime, gravíssimo, que
atemoriza a sociedade e revela vasta deformidade moral em quem o
pratica.
22

Voto nº 1239
Apelação Criminal nº 1.113.745/9
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

— A circunstância de só as vítimas terem presenciado o roubo não


enfraquece a imputação. É ponto vitorioso na Jurisprudência,
deveras, que basta a palavra da vítima para provar o fato e sua
autoria. A menos se demonstre que incidiu em erro ou faltou
com a verdade (ônus de que se deve desempenhar o réu),
as declarações da vítima têm carta de crença e autorizam
condenação.
— Isto de não ter sido apreendida a arma empregada na prática do
roubo não impede o reconhecimento da causa de aumento, se
pessoas idôneas lhe atestaram a existência (art. 157, § 2º, nº I, do Cód.
Penal).
— Naqueles casos em que os agentes se houveram com extremado
arrojo na prática de crime grave, como é o roubo – que inquieta e
indigna a sociedade –, o regime prisional fechado é o que
unicamente responde ao espírito e à letra da legislação penal. Em
verdade, além de corretivo para o infrator, “a pena é cominada e
aplicada para aterrar e afastar do crime os espíritos tendentes ao mal”
(Filangieri; apud Fernando Nery, Lições de Direito Criminal, 3a. ed.,
p. 350).
23

Voto nº 1421
Agravo em Execução nº 1.145.713/2
Art. 127 da Lei de Execução Penal (remição)

— Matéria de grande peso é a de que trata o art. 127 da Lei de Execução


Penal – “O condenado que for punido por falta grave perderá o direito ao
tempo remido…” –, pois obriga o Juiz a decidir contra a própria
consciência, se quiser atender à letra da lei.
— Palavras do magistrado francês Osvaldo Bardot: “Consultai o bom-
-senso, a equidade, o amor do próximo, antes da autoridade e da tradição.
A lei se interpreta. Ela dirá o que quiserdes que ela diga. Sem mudar um
til, pode-se, com os mais sólidos considerandos do mundo, dar razão a uma
parte ou a outra, absolver ou condenar à pena máxima. Desse modo, que a
lei não vos sirva de álibi” (apud Jucid Peixoto do Amaral, Manual do
Magistrado, 4a. ed., p. 42).
— A decisão que concede remição de penas é imutável após seu
trânsito em julgado. Portanto, desconstituí-la, salvo mediante
revisão criminal, fora violar a autoridade da “res judicata”, um dos
principais dogmas em que assenta a ordem jurídica (art. 5º, nº
XXXVI, da Const. Fed.).
—“É inadmissível a perda dos dias remidos por decisão judicial, em virtude de
falta grave cometida pelo sentenciado” (RJTACrimSP, vol. 39, p. 416).
24

Voto nº 1486
Apelação Criminal nº 1.029.109/0
Art. 171 do Cód. Penal;
art. 89, § 6º, da Lei nº 9.099/95

—“A pena traduz, primacialmente, um princípio humano por excelência, que


é o da justa recompensa: cada um deve ter o que merece” (Nélson
Hungria, Novas Questões Jurídico-Penais, p. 131).
— A norma do art. 89, § 6º, da Lei nº 9.099/95 (“não correrá prescrição
durante o prazo de suspensão condicional do processo”) não impede a
decretação da prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal),
se o cômputo do tempo decorrido da última causa interruptiva e
daquele posterior à data da revogação do benefício perfizer o lapso
prescricional (cf. Julio Fabbrini Mirabete, Juizados Especiais
Criminais, 2a. ed., p. 165).

Voto nº 1527
Apelação Criminal nº 1.152.683/0
Art. 171 do Cód. Penal

— Pratica estelionato em seu tipo fundamental o agente que, em


proveito próprio e mediante falsificação, emite cheque de terceiro,
causando-lhe prejuízo (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).
— Se primário o réu e cometida a infração penal sem violência nem
ameaça à pessoa, é obra de louvável política criminal substituir-lhe
pela pena restritiva de direito a privativa de liberdade não superior a
4 anos (art. 44 do Cód. Penal).
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Voto nº 1590
Agravo em Execução nº 1.159.493/7
Art. 49, § 2º, do Cód. Penal

— À luz da exegese dominante no Colendo Superior Tribunal de


Justiça, o termo inicial da correção monetária da pena de multa é a
data do fato delituoso.
— A TR (taxa referencial) pode servir-lhe de estalão, pois constitui o
índice oficial para a atualização das dívidas de valor (art. 49, § 2º, do
Cód. Penal).

Voto nº 2108
Apelação Criminal nº 1.181.999/6
Arts. 155, § 4º, nº I, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 44, § 2º, do Cód. Penal

— Há tentativa de furto se o agente, logo após a subtração, é


perseguido e preso, sem haja logrado a posse tranquila da coisa,
apreendida e entregue à vítima.
— Ainda que satisfaça aos requisitos objetivos da lei, não faz jus ao
privilégio (art. 155, § 2º, do Cód. Penal) o condenado que ostenta
maus antecedentes. É de Damásio E. de Jesus a lição: “O privilégio
tem por fundamento princípios de política criminal, visando à
individualização da pena, e, assim, evitando que o sujeito que envereda
pela primeira vez no campo do atentado ao patrimônio alheio encontre
sérios obstáculos à sua recuperação social” (Código Penal Anotado, 9a. ed.,
p. 514).
— Maus antecedentes não impedem a substituição da pena privativa
de liberdade por restritiva de direito, benefício aplicável até a
reincidentes, nos termos do art. 44, § 3º, do Cód. Penal.
26

Voto nº 2629
Revisão Criminal nº 350.274/1
Art. 157, § 2º, nº II, do Cód. Penal;
art. 621, nº I, do Cód. Proc. Penal

— É princípio assente na Doutrina e na Jurisprudência que, no Juízo


da revisão criminal, toca exclusivamente ao peticionário provar que
a sentença condenatória vulnerou o Direito ou perpetrou injustiça.
— A exasperação da pena pelos maus antecedentes do réu e pela nota
de reincidência não configura violação do preceito do “Non bis in
idem”, o que unicamente ocorre quando a mesma condenação é a
causa do duplo aumento.

Voto nº 4196
Apelação Criminal nº1.338.733/9
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

—“A confissão do delito vale não pelo lugar em que é prestada, mas pela força
de convencimento que nela se contém” (STF; Rev. Trim. Jurisp., vol. 95,
p. 564; rel. Min. Cordeiro Guerra).
— A palavra da vítima é fundamental na identificação do roubo e de
suas circunstâncias. Exceto se obra de erro ou mentira, que
à Defesa incumbe demonstrar, seu depoimento autoriza
condenação.
— Ainda que não submetido à perícia o revólver utilizado para a
prática de roubo, tem-se por configurada a causa de aumento de
pena, se não lhe comprovou o agente a ausência de capacidade
vulnerante, pois de regra, na prática dos crimes violentos contra o
patrimônio, ninguém emprega arma fictícia por verdadeira (art. 157,
§ 2º, nº I, do Cód. Penal).
—“A pena traduz, primacialmente, um princípio humano por excelência, que
é o da justa recompensa: cada um deve ter o que merece” (Nélson
Hungria, Novas Questões Jurídico-Penais, p. 131).
27

Voto nº 4252
Revisão Criminal nº 409.680/1
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 65, nº I, do Cód. Penal;
art. 156 do Cód. Proc. Penal

— É questão vencida que, em sede de revisão criminal, toca ao


peticionário provar, com firmeza, que a sentença condenatória
contraveio à realidade dos autos. Na forma do art. 156 do Cód. Proc.
Penal, pertence-lhe o ônus da prova.
— Contrária à evidência é só aquela decisão que de todo se afasta das
provas coligidas nos autos.
— Diz-se consumado o roubo, se o agente, ainda que por breve lapso
de tempo, teve a posse tranquila e desvigiada da coisa subtraída.
—“A menoridade deve prevalecer sobre todas as demais circunstâncias
subjetivas e até mesmo em relação à reincidência” (Celso Delmanto et
alii, Código Penal Comentado, 5a. ed., p. 123).
— Não há advogar em prol do réu a circunstância do art. 29, § 1º, do
Cód. Penal (participação de menor importância) se teve, no crime,
atuação relevante e praticou atos de execução direta.
28

Voto nº 4332
Apelação Criminal nº 1.348.065/1
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 59 do Cód. Penal

— Nos crimes de roubo, assume a palavra da vítima notável relevo e, se


em harmonia com a mais prova dos autos, serve de carta credencial
para a condenação do réu.
— Diz-se consumado o roubo se o agente, ainda que por breve lapso
de tempo, teve a posse desvigiada da coisa subtraída à vítima
mediante violência ou grave ameaça.
— Preconiza a jurisprudência dos Tribunais que, em se tratando de réu
primário, “a regra é partir da pena-base no grau mínimo” (cf. Celso
Delmanto et alii, Código Penal Comentado, 5a. ed., p. 107).
— A só presença de duas ou mais qualificadoras não obriga ao aumento
da pena do roubo além do mínimo legal de 1/3, o que apenas se
justifica nos casos em que praticado por grupo numeroso de
agentes, mediante emprego de armas de extraordinário poder
vulnerante.

Voto nº 4366
Apelação Criminal nº 1.342.331/9
Art. 159 do Cód. Penal;
art. 44, § 3º, do Cód. Penal

— Consequência forçosa do delito, é a pena “o meio de garantia social de


reduzir o criminoso à impossibilidade de prejudicar, ou de torná-lo
inofensivo, tendo como fim principal a segurança pública” (João Vieira;
apud Fernando Nery, Lições de Direito Criminal, 1933, p. 356).
29

Voto nº 167
Apelação Criminal nº 1.031.991/8
Art. 168, § 1º, nº III, do Cód. Penal

— Quando o apelante deliberou entre si não proceder à entrega da


mercadoria à empresa-vítima, como lhe cumpria, nesse mesmo
ponto cometeu o crime de apropriação indébita, porque aí inverteu
o título de posse: de mero detentor da coisa alheia (“detentor alieno
nomine”) passou a possuidor “animo domini”, ou seu proprietário
aparente.
— Peculiar às hipóteses nas quais existe reciprocidade de créditos e
débitos compensáveis, o confronto de contas não tem lugar em
simples relações empregatícias. Ainda nos casos de exceção, não
cabe a prestação de contas, se patente a indevida apropriação.
A doutrina não é menos que do perínclito Nélson Hungria (cf.
Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII, p. 168).
—“Não é necessária prévia prestação de contas para apurar-se a
responsabilidade da apropriação indébita, se outros meios de prova
repontam idôneos” (STF; in JTACrSP, vol. 93, p. 393; rel. Min.
Francisco Rezek).
— Tendo confessado seu delito, é certo que o apelante fazia jus à
mitigação de sua pena; esta, no entanto, já lhe fora fixada no
mínimo legal; incabível, pois, sua redução: “As atenuantes não
permitem a redução da pena abaixo do mínimo previsto na lei para o
crime” (STF; in Rev. Tribs., vol. 644, p. 379).
— O haver o apelante reconhecido e publicado sua falta, batendo no
peito, compungido, não deixa de edificar a quem quer lhe conheça
um dia o episódio que o trouxe à barra da Justiça. Nos autos ficará o
registro de que o sangue ainda lhe não esqueceu o caminho do
rosto! E isto não será pouco de louvar!
30

Voto nº 4615
Apelação Criminal nº 1.288.257/4
Art. 157, § 2º, nº I, do Código Penal;
art. 59 do Cód. Penal

— Não cabe reparo à sentença que, atendendo à personalidade do réu,


sujeito de infame biografia social, fixa-lhe a pena-base alguma coisa
acima do mínimo (art. 59 do Cód. Penal).
— O regime prisional fechado é o que, de regra, convém ao condenado
pela prática de roubo, ainda que primário e de bons antecedentes. A
natureza do crime (que a sociedade ostensivamente aborrece) e a
índole de quem o comete (infensa aos padrões éticos normais) são as
que o recomendam.

Voto nº 4516
Agravo em Execução nº 1.350.041/7
Art. 171, “caput”, do Cód. Penal;
art. 45, § 2º, do Cód. Penal

— Incensurável – porque não apenas legítima e justa, senão sábia – é


a decisão que substitui por prestação pecuniária, consistente em
doação de cesta básica, a prestação de serviços à comunidade
imposta a autor de estelionato que, trabalhador rural, não podia
cumprir as determinações da Justiça sem notável prejuízo de suas
atividades.
— Não esqueça aos aplicadores do Direito a advertência de Anatole
France: “Se a lei é morta, deve-lhe o Juiz dar vida”.
— Isto de não constar no elenco das penas restritivas de direito (art. 43
do Cód. Penal) a espécie “doação de cestas básicas”, não vale
a obstar-lhe a aplicação. É que a Lei nº 9.714/98 pôs termo à
controvérsia, ao assentar que “a prestação pecuniária pode consistir em
prestação de outra natureza” (art. 45, § 2º, do Cód. Penal).
31

Voto nº 965
Apelação Criminal nº 1.099.953/0
Art. 129 do Cód. Penal

— Não há subtrair ao rigor da lei aquele que, por incapaz de refrear os


ímpetos da cólera e resolver sensatamente os conflitos e problemas,
desmanda-se em agressividade contra pessoas de seu convívio.
— A pena, em tal caso, atuará com a finalidade que já lhe reconhecia o
divino Platão: medicina da depravação moral (Górgias, cap. XXIV).
— É o “sursis” instituto de incentivo à recuperação do infrator
primário, com o escopo de reintegrá-lo na comunhão social.
32

Voto nº 4654
“Habeas Corpus” nº 439.676/5
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
arts. 310, parág. único, e 312 do Cód. Proc. Penal

— É verdade que, em obséquio ao princípio da presunção de inocência


(art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.), ninguém será havido na conta de
culpado senão após o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória. Esse mandamento, contudo, não importa a concessão
indiscriminada de liberdade provisória a réu preso em flagrante. Tal
sucede apenas naqueles casos em que se não achem presentes os
requisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 310,
parág. único, do Cód. Proc. Penal).
— Todo o acusado de roubo tem contra si a presunção de
periculosidade. É que, delito que repugna fortemente à consciência
popular, somente o pratica sujeito cuja personalidade se deformou
no atrito com a vida infamante de crimes. A sociedade mesma,
portanto, como forma de defesa legítima, é a que exige a segregação
daqueles que não trepidam em cometer roubos.
— A decretação da prisão preventiva, por amor da ordem pública, não
arma ao efeito somente de prevenir a reiteração da prática de
crimes, mas também acautelar o organismo social e a própria
credibilidade da Justiça, agravados pela exacerbação da delinquência.
33

Voto nº 4849
Agravo em Execução nº 1.361.681/0
Art. 16 da Lei nº 6.368/76;
art. 66, nº II, da Lei de Execução Penal

— Nenhum reparo merece a decisão do Juízo das Execuções que


declara extinta a punibilidade do sentenciado pelo cumprimento da
pena sob o regime aberto, se não revogado, visto se conforma com
o preceito da lei (art. 66, nº II, da Lei de Execução Penal).

Voto nº 6174
Agravo em Execução nº 459.566-3/6-00
Arts. 111, 126 e 128 da Lei de Execução Penal

— Não merece o ferrete de ilegal nem errônea a decisão que, no


cálculo de liquidação das penas do condenado, computa-lhe, como
de pena cumprida, o tempo de remição pelo trabalho (art. 126 da
Lei de Exec. Penal). Dado que a Lei de Execução Penal é a tal
respeito omissa, pode o Juiz guiar-se pelo princípio comum que
rege a solução dos casos controversos e optar pela parcialidade mais
favorável ao sentenciado: “Semper in dubiis benigniora praeferenda
sunt”.
34

Voto nº 5368
Apelação Criminal nº 1.369.717/1
Art. 155, § 4º, nº I, do Cód. Penal;
art. 68 do Cód. Penal

— A exasperação da pena, por amor da reincidência, não depende de


requerimento do Ministério Público, pois muita vez falta ainda nos
autos, por ocasião da denúncia, a biografia penal do réu; ao
Magistrado, destarte, é que importa metê-la em conta, na 2a. fase da
aplicação da pena (art. 68 do Cód. Penal).
— A confissão, máxime a prestada em Juízo, vale como prova do fato e
de sua autoria, se não ilidida por elementos de convicção firmes e
idôneos. Donde a antiga parêmia: “A confissão judicial é das melhores
provas; quem confessa, contra si profere a sentença” (apud Cândido
Mendes de Almeida, Auxiliar Jurídico, 1985, t. II, p. 530).

Voto nº 5081
Apelação Criminal nº 1.401.441/5
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 59 do Cód. Penal

— Mesmo que duas as agravantes do roubo, o aumento de pena


deve corresponder ao mínimo legal (1/3), que só em casos
excepcionais (v.g., número copioso de agentes, o tipo de armamento
empregado, etc.) é lícito ultrapassar, porque extremada já a sanção
corporal cominada ao tipo qualificado.
— Advertidamente escreveu o Marquês de Beccaria: Para ser justa, não
deve a pena ter senão o grau de rigor que baste a afastar os homens
da senda do crime (Dos Delitos e das Penas, § XVI).
35

Voto nº 6069
“Habeas Corpus” nº 476.936-3/0-00
Arts. 121, § 2º, e 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 75, § 1º, do Cód. Penal

— A via judicial do “habeas corpus” não é apropriada para apressar


pedido de benefícios nem obter unificação de penas. Pequena
demora na apreciação de requerimentos do condenado deve
interpretar-se como efeito das invencíveis dificuldades que gravam a
atividade judiciária e das contingências a que estarão sujeitos sempre
os que violarem a ordem jurídica.
— Questões relativas à unificação de penas e a outros incidentes de
execução competem originariamente ao Juízo das Execuções
Criminais (art. 66, nº III, alíneas a e f, da Lei de Execução Penal); ao
Tribunal, apenas em grau de recurso, cabe o reexame do ponto ali
decidido, sendo-lhe defeso deferi-lo na via sumaríssima e estreita do
“habeas corpus”.
— Expressão de equidade e bom aviso, não há que reparar na sentença
que, ao fixar a pena do réu, compensa-lhe os maus antecedentes
com a confissão espontânea. “Aquele que se acusa a si mesmo escusa
acusador, e faz leve o seu delito”, escreveu o elegante Manuel
Bernardes (Nova Floresta, 1711, t.. III, p. 259).
36

Voto nº 4967
Apelação Criminal nº 1.397.647/3
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

— A só presença de duas qualificadoras não obriga ao aumento da pena


do roubo além do mínimo legal de 1/3, o que apenas se justifica nos
casos em que praticado por grupo numeroso de agentes e mediante
emprego de armas de extraordinário poder vulnerante.
37

Voto nº 6558
Agravo em Execução nº 492.795-3/2-00
Art. 126 da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal)

— Não merece o ferrete de ilegal nem errônea a decisão que, no


cálculo de liquidação das penas do condenado, computa-lhe, como
de pena cumprida, o tempo de remição pelo trabalho (art. 126 da
Lei de Exec. Penal). Dado que a Lei de Execução Penal é a tal
respeito omissa, pode o Juiz guiar-se pelo princípio comum que
rege a solução dos casos controversos e optar pela parcialidade mais
favorável ao sentenciado: “Semper in dubiis benigniora praeferenda
sunt”.
—“O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, no processo
MJ-8.926/94, por unanimidade, entendeu que o tempo remido deve ser
abatido da pena não só para livramento condicional como também para
indulto e progressão de regime (DJU 2.12.94, p. 18.352)” (apud
Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed.,
p. 663).
38

Voto nº 6261
Embargos Infringentes nº 471.939-3/9-01
Arts. 195 e 197 da Lei nº 7.661/45 (Lei de Falência);
arts. 181, § 1º, e 186, ns. VI e VII, da Lei nº 11.101/2005

— Ao cominar o legislador a pena acessória de interdição do exercício


do comércio “até cinco anos” (art. 181, § 1º, da Lei nº 11.102/05),
admitiu a fixação de prazo menor, se favoráveis as circunstâncias
pessoais dos sentenciados.
— As normas de caráter processual, conforme o comum sentir dos
doutores, são aplicáveis desde sua vigência a todos os casos em
curso, enquanto não definitivamente julgados; as de cunho material
sujeitam-se ao princípio constitucional da aplicação da lei penal
favorável (art. 5º, nº XL, da Const. Fed.).
— A inabilitação para o comércio representa sério gravame para os
réus, já que lhes obsta o “livre exercício do trabalho, ofício ou profissão”,
que a Carta Magna expressamente protege e estimula (art. 5º, nº
XIII, da Const. Fed.). Pelo que, é aplicável ao caso a nova legislação
falimentar.
— Vem aqui a ponto o velho aforismo, de grande influência em
matéria penal: as disposições odiosas devem ser restringidas e as
favoráveis ampliadas (“Odiosa restringenda, favorabilia amplianda”).
39

Voto nº 6821

Apelação Criminal nº 309.002-3/3-00


Arts. 107, nº IV, e 110, § 1º, do Cód. Penal;
art. 41 do Cód. Proc. Penal;
arts. 1º, ns. II e IV, e 11 da Lei nº 8.137/90

—“Não é inepta a denúncia que proporciona ao acusado a plena defesa


assegurada pela Constituição Federal” (STF; Rev. Trim. Jurisp., vol. 85,
p. 70).
— Muita vez é mister dar de mão a certo escrúpulo e suprir pelo
raciocínio lógico o toque da evidência: à falta de prova plena,
bastam indícios veementes, múltiplos e concordes, para demonstrar
a autoria do fato incriminado.
— Na apuração da autoria de crime adotavam os romanos o judicioso
critério: “Cui prodest scelus, is fecit”. Aquele a quem o crime aproveita,
esse o cometeu. É a lógica a melhor das provas.
— A pena, para ser justa, há mister do rigor somente que baste a
desviar os homens da senda do crime: “Perchè una pena sia giusta, non
deve avere che quei soli gradi d’intensione che bastano a rimuovere gli
uomini dai delitti” (Cesare Beccaria, Dei Delitti e delle Pene, cap. XVI).
—“Quando se tratar de crime continuado, a prescrição regula-se pela pena
imposta na sentença, não se computando o acréscimo decorrente da
continuação” (Súmula nº 497 do STF).
— A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui
forma de prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria
sentença condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado,
17a. ed., p. 358).
40

Voto nº 6847
Apelação Criminal nº 399.022-3/8-00
Art. 107, nº I, do Cód. Penal;
art. 61 do Cód. Proc. Penal;
art. 16 da Lei nº 6.368/76

— Comprovada a morte do agente, é força julgar-lhe extinta a


punibilidade (art. 107, nº I, do Cód. Penal e art. 61 do Cód. Proc.
Penal). A morte é o termo de todas as coisas. “Mors omnia solvit”,
reza velho aforismo jurídico.
—“Sendo pessoal a responsabilidade penal, a morte do agente faz com que o
Estado perca o jus puniendi, não se transmitindo a seus herdeiros qualquer
obrigação de natureza penal: mors omnia solvit” (Damásio E. de Jesus,
Código Penal Anotado, 17a. ed., p. 336).

Voto nº 8396
Agravo em Execução nº 1.023.034-3/6-00
Art. 168, § 1º, nº III, do Cód. Penal;
art. 169, “caput”, da Lei de Execução Penal

— Nada mais temerário que incumbir de tarefas e serviços relevantes, à


maneira de pena alternativa, pessoa de cuja saúde mental se não
tenha clara notícia (art. 43, nº IV, do Cód. Penal).
— Embora não possa o Juiz da execução cancelar a multa, nem isentar
o condenado de seu pagamento (cf. Rev. Tribs., vol. 591, p. 359),
faculta a lei que este “se realize em parcelas mensais” (art. 50 do Cód.
Penal, 2a. parte).
41

Voto nº 8397
Agravo em Execução nº 1.001.851-3/3-00
Arts. 98 e 157, “caput”, do Cód. Penal

— De presente, vigora entre nós, para as medidas de segurança, o


sistema vicariante ou unitário, em que é defesa a aplicação
cumulativa de pena e medida de segurança (art. 98 do Cód. Penal).
—“No regime da reforma penal de 1984, o juiz, diante das circunstâncias do
caso concreto, deve impor ao condenado só pena (reduzida) ou medida de
segurança” (Damásio E. Jesus, Código Penal Anotado, 17a. ed., p. 318).
—“Com o advento da Parte Geral do Código Penal, tornou-se juridicamente
impossível a imposição de medida de segurança, por periculosidade real ou
presumida, aos agentes plenamente imputáveis” (STF; HC nº 68.571-SP;
1a. T.; rel. Min. Celso de Mello; Rev. Trim. Jurisp., vol. 140,
p. 514).
42

Voto nº 8506
Agravo em Execução nº 1.046.757-3/3-00
Art. 121, § 2º, nº I, do Cód. Penal;
art. 2º, §§ 1º e 2º, da Lei nº 8.072/90;
arts. 112 e 118, nº I, da Lei de Execução Penal;
art. 2º, § 2º, da Lei nº 11.464/07

— Sob pena de violação da coisa julgada material, instituto


capitalíssimo em que assenta a ordem jurídica, o Juízo de Execução
não pode alterar o regime prisional fechado, imposto pela sentença
condenatória a autor de homicídio qualificado (art. 121, § 2º, nº I, do
Código Penal), crime da classe dos hediondos, sem atender ao requisito
do lapso temporal: 2/5 para o condenado primário, 3/5 para o
reincidente (art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90, Lei dos Crimes
Hediondos).
— Se o sentenciado atende aos requisitos do art. 112 da Lei de Execução
Penal, isto é, “tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime
anterior e ostentar bom comportamento carcerário”, faz jus à progressão
ao regime semiaberto. Somente fato grave, indicativo de
personalidade anômala e refratária aos estímulos da recuperação,
poderá obstar-lhe a mudança para regime prisional mais brando.
—“O cometimento de falta grave interrompe a contagem do prazo exigido
para a concessão do benefício da progressão de regime prisional” (STJ; HC
nº 12.453-SP; rel. Min. Gilson Dipp; DJU 23.4.2001, p. 171).
— Deve o sentenciado atender, sem quebra, às instâncias da disciplina
do estabelecimento penal para poder, no tempo oportuno,
credenciar-se à outorga de benefícios (art. 112 da Lei de Execução
Penal).
— Tendo-se evadido o sentenciado do estabelecimento penal, já na
condição de beneficiário do regime prisional semiaberto, não entra
em dúvida que incorreu na sanção da lei: regressará, por força, ao
regime da última severidade (art. 118, nº I, da Lei de Execução Penal).
43

Voto nº 8528
Apelação Criminal nº 887.178-3/1-00
Art. 107, nº I, do Cód. Penal;
art. 61 do Cód. Proc. Penal;
art. 12 da Lei nº 10.826/03

— Como, no âmbito do processo penal, tudo acaba com a morte do


agente (“mors omnia solvit”), é força declarar, na forma do art. 107,
nº I, do Cód. Penal, a extinção da punibilidade do réu, que certidão
fidedigna atesta haver rendido a alma ao Criador.
—“Sendo pessoal a responsabilidade penal, a morte do agente faz com que o
Estado perca o jus puniendi, não se transmitindo a seus herdeiros qualquer
obrigação de natureza penal: mors omnia solvit” (Damásio E. de Jesus,
Código Penal Anotado, 17a. ed., p. 336).

Voto nº 8529
Agravo em Execução nº 966.044-3/6-00
Art. 42 do Cód. Penal;
art. 12 da Lei nº 6.368/76;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— Ainda que se possa computar, na pena privativa de liberdade, “o


tempo de prisão provisória” (art. 42 do Cód. Penal), não é admissível
dele deduzir o lapso temporal referente a outro processo a que o
sentenciado tenha respondido.
—“Admite-se a detração da pena por prisão preventiva em outro processo,
onde o réu foi absolvido, desde que o crime pelo qual o sentenciado cumpre
pena tenha sido praticado anteriormente à absolvição” (Rev. Tribs., vol.
751, p. 625; rel. Silveira Lima).
44

Voto nº 8805
Agravo em Execução nº 984.875-3/0-00
Arts. 312, “caput”, e 327, § 2º, do Cód. Penal;
art. 27, § 2º, da Lei nº 8.038/90;
art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.

—“É legítima a execução provisória do julgado condenatório na pendência de


recursos sem efeito suspensivo” (STJ; Rev. Tribs., vol. 753, p. 511; rel.
Min. Maurício Corrêa).
—“A interposição de recurso, sem efeito suspensivo, contra decisão
condenatória não obsta a expedição de mandado de prisão” (Súmula nº
267 do STJ).

Voto nº 9236
Agravo em Execução nº 1.106.401-3/6-00
Arts. 39, nº II, e 52 da Lei de Execução Penal

— Comete falta grave e sujeita-se a sanção disciplinar o preso que


profere ameaças contra funcionário de estabelecimento penal. Com
efeito, reza o art. 52 da Lei de Execução Penal que “a prática de fato
previsto como crime doloso constitui falta grave”.
— Dado que a lei se refere à “prática de fato previsto como crime”, e não à
condenação, entende-se que, para a aplicação da sanção disciplinar
ao infrator, não é necessário o trânsito em julgado de decisão
condenatória (art. 52 da Lei de Execução Penal).
— Dentre os deveres do condenado inscreve-se o da “obediência ao
servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se” (art.
39, nº II, da Lei de Execução Penal).
45

Voto nº 9638
Apelação Criminal nº 409.048-3/1-00
Arts. 109, nº IV, 110, § 1º, e 115 do Cód. Penal;
arts. 202 e 386, nº II, do Cód. Proc. Penal;
art. 12 da Lei nº 6.368/76; art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90;
art. 5º, nº LXIII, da Const. Fed.

— Nenhum homem inocente, podendo falar, prefere o silêncio para


defender-se de injusta acusação. Se permaneceu calado, ainda que
direito seu garantido pela Constituição da República (art. 5º, nº
LXIII), dificilmente se eximirá de juízo desfavorável.
— A apreensão de grande quantidade de tóxico em poder do acusado
argui para logo a ideia de tráfico (art. 12 da Lei nº 6.368/76).
— A inidoneidade das testemunhas não se presume; ao arguente
impõe-se demonstrar, além de toda a controvérsia, que faltaram à
verdade ou caíram em erro de informação. É que, na busca da
verdade real – alma e escopo do processo –, “toda pessoa poderá ser
testemunha” (art. 202 do Cód. Proc. Penal).
— Para que seja a pena justa, segundo a memorável lição do Marquês
de Beccaria, não deve ter senão o grau de rigor suficiente para
afastar os homens da senda do crime (Dos Delitos e das Penas, § XVI).
— A Lei nº 11.464, de 28.3.2007, atenuou o rigor da Lei dos Crimes
Hediondos (Lei nº 8.072/90) no que respeita à progressão no regime
prisional de cumprimento de pena. Se o sentenciado primário tiver
dela descontado já 2/5 – ou 3/5, se reincidente – e conspiram os
mais requisitos legais, faz jus ao benefício (art. 2º, § 2º).
— A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui
forma de prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria
sentença condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado,
18a. ed., p. 358).
— Decretada a extinção da punibilidade do apelante pela prescrição da
pretensão punitiva estatal, já nenhuma outra matéria poderá ser
objeto de exame ou deliberação.
46

Voto nº 10.594
Agravo em Execução nº 993.08.041362-2
Arts. 126, § 3º, e 127 da Lei de Execução Penal;
art. 5º, nº XXXVI, da Const. Fed.

— Justiça excessiva não é senão injustiça, proclamou com assaz de


razão o eloquente Cícero: “Summum jus, summa injuria” (De Officiis,
I, 10).
— A decisão que concede remição de penas é imutável após seu
trânsito em julgado. Portanto, desconstituí-la, salvo mediante
revisão criminal, fora violar a autoridade da “res judicata”, um dos
princípios em que assenta a ordem jurídica (art. 5º, nº XXXVI, da
Const. Fed.).
— Frutos de seu trabalho e, pois, estipêndio do suor, os dias remidos
do preso têm alguma coisa de sagrado que os guarda do rigor do
Juízo da execução penal.
—“É inadmissível a perda dos dias remidos por decisão judicial, em virtude de
falta grave cometida pelo sentenciado” (RJTACrimSP, vol. 39, p. 416).
— De presente, já não é lícito ao Juiz dar ao art. 127 da Lei de Execução
Penal outra interpretação que a literal restrita, por força da Súmula
Vinculante nº 9, editada pelo Colendo Supremo Tribunal Federal,
que mandou inscrever entre os dogmas jurídicos a perda, para o
condenado “que for punido por falta grave”, do direito ao tempo
remido pelo trabalho.
47

Voto nº 10.234
Apelação Criminal nº 1.180.497-3/4-00
Arts. 77 e 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 111 da Lei de Execução Penal

— A sentença que, fundada em prova idônea (confissão,


reconhecimento do réu pela vítima, apreensão da “res furtiva”, etc.),
decreta a condenação de autor de roubo, não rende ensejo a crítica,
antes merece confirmada, por ser expressão de bom Direito (art.
157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal)
— No Juízo das Execuções Criminais, o regime prisional do
sentenciado, em caso de nova condenação, será determinado pela
soma da última pena com o restante da que está cumprindo (art.
111 da Lei de Execução Penal).
— Se ultrapassar 4 anos a soma das penas, não pode ser imposto ao
sentenciado o regime aberto (cf. Julio Fabbrini Mirabete, Execução
Penal, 5a. ed., p. 279).
— Há repugnância lógica e jurídica entre o regime aberto e a pena
superior a 4 anos; pedido de “sursis” e pena privativa de liberdade
superior a 2 anos também são ideias que se implicam (art. 77 do Cód.
Penal).
48

Voto nº 10.246
Apelação Criminal nº 993.08.027858-0
Arts. 157, § 2º, nº I, 14, nº II, e 33, § 2º, do Cód. Penal;
art. 202 do Cód. Proc. Penal

— A confissão, máxime a prestada em Juízo, vale como prova do fato e


de sua autoria, se não ilidida por elementos de convicção firmes e
idôneos. Donde a antiga parêmia: “A confissão judicial é das melhores
provas; quem confessa, contra si profere a sentença” (apud Cândido
Mendes de Almeida, Auxiliar Jurídico, 1985, t. II, p. 530).
— A palavra da vítima, nos crimes de roubo, tem inquestionável
importância e pode ensejar decreto condenatório, se em harmonia
com as mais provas dos autos. Sua força está na circunstância de ter
saído dos lábios da pessoa que sofreu a violência ou grave ameaça e,
pois, está em melhor condição de identificar seu ofensor.
— Impossível capitular de furto a subtração de coisa alheia móvel
mediante grave ameaça ou violência a pessoa, pois são estas
elementares do roubo (art. 157, “caput”, do Cód. Penal).
— Não há proibição legal de o Juiz conceder ao condenado não-
reincidente a pena inferior a 8 anos o benefício do regime
semiaberto; o Código Penal, o que veda às expressas é que se
conceda ele ao réu condenado a pena superior a 8 anos (não
importando se primário), ou ao reincidente, cuja pena seja superior
a 4 anos (art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal).
— Embora seja o regime fechado o que, em linha de princípio,
verdadeiramente condiz com a gravidade do roubo e com o caráter
maligno de quem o pratica, a Lei não proíbe que o Magistrado
defira ao condenado primário e menor de 21 anos o benefício do
regime semiaberto (art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal).
49

Voto nº 10.497
Apelação Criminal nº 993.08.038697-8
Art. 155, § 4º, nº II, do Cód. Penal

—“Post confessionem rei, nihil amplius quaeritur” (Ulpiano). Em


linguagem: após a confissão do réu, tudo o mais é escusado.
— Comete furto com abuso de confiança e mediante fraude o
funcionário encarregado do departamento de pessoal de empresa
que, após adulterar a folha de pagamento, subtrai-lhe vultosas
quantias, que deposita na conta bancária do corréu (art. 155, § 4º,
nº II, do Cód. Penal).
— Dois requisitos integram a qualificadora do abuso de confiança: haja
o sujeito abusado da confiança nele depositada pelo ofendido; tenha
estado a coisa na esfera de disponibilidade do sujeito ativo em razão
dessa confiança (cf. Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a.
ed., p. 570).
— Entre os direitos do assistente do Ministério Público não se inscreve
o de recorrer com o só fito de obter a exasperação da pena corporal
do réu.
50

Voto nº 10.019
Apelação Criminal nº 1.180.753-3/3-00
Art. 202 do Cód. Proc. Penal;
art. 12 da Lei nº 6.368/76;
art. 33, “caput”, da Lei nº 11.343/06;
art. 5º, nº LXIII, da Const. Fed.

— Nenhum homem inocente, podendo falar, prefere o silêncio para


defender-se de injusta acusação. Se permaneceu calado, ainda que
direito seu garantido pela Constituição da República (art. 5º, nº
LXIII), dificilmente se eximirá de juízo adverso.
— A apreensão de grande quantidade de tóxico em poder do acusado
argui para logo a ideia de tráfico (art. 12 da Lei nº 6.368/76).
— A inidoneidade das testemunhas não se presume; ao arguente
impõe-se demonstrar, além de toda a controvérsia, que faltaram à
verdade ou caíram em erro de informação. É que, na busca da
verdade real – alma e escopo do processo –, “toda pessoa poderá ser
testemunha” (art. 202 do Cód. Proc. Penal).
— Com respeito aos policiais, há decisão histórica do Pretório Excelso:
“A simples condição de policial não torna a testemunha impedida ou
suspeita” (HC nº 51.577; DJU 7.12.73, p. 9.372; apud Damásio E. de
Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 185).
— Uma pena, para ser justa – escreveu o profundo Marquês de
Beccaria –, deve ter somente o grau de rigor que baste a afastar os
homens da senda do crime. “Perchè una pena sia giusta, non deve avere
che quei soli gradi d’intensione che bastano a rimuovere gli uomini dai
delitti” (Dei Delitti e delle Pene, § XVI).
— A Lei nº 11.464, de 28.3.2007, atenuou o rigor da Lei dos Crimes
Hediondos (Lei nº 8.072/90) no que respeita à progressão no regime
prisional de cumprimento de pena. Se o sentenciado primário tiver
dela descontado já 2/5 – ou 3/5, se reincidente – e conspiram os
mais requisitos legais, faz jus ao benefício (art. 2º, § 2º).
51

Voto nº 10.784
Apelação Criminal nº 993.06.003710-2
Arts. 214 e 224, alínea a, do Cód. Penal

— A confissão, máxime se feita perante o Magistrado, tem o caráter de


prova ilustríssima; segundo o famoso Ulpiano, equipara-se não
menos que à coisa julgada: “Confessio habet vim rei judicatae”.
—“A confissão judicial tem valor absoluto e, ainda que seja o único elemento
de prova, serve como base à condenação” (Rev. Tribs., vol. 744, p. 573).
— Tem a palavra da vítima importância capital nos crimes contra a
liberdade sexual. Se ajustada ao conjunto probatório dos autos,
enseja condenação: ao cabo de contas, ninguém se reputa mais apto
a discorrer das circunstâncias e autoria do crime que a pessoa que
lhe padeceu diretamente os agravos físicos e morais (art. 214 do Cód.
Penal).
— No geral consenso dos doutos, a punição deve medir-se pelo delito.
— A Lei nº 11.464, de 28.3.2007, atenuou o rigor da Lei dos Crimes
Hediondos (Lei nº 8.072/90) no que respeita à progressão no regime
prisional de cumprimento de pena. Se o sentenciado primário tiver
dela descontado já 2/5 – ou 3/5, se reincidente – e conspiram os
mais requisitos legais, faz jus ao benefício (art. 2º, § 2º).
52

Voto nº 11.189
“Habeas Corpus” nº 990.08.139320-4
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
arts. 310, parág. único, 798, § 4º, e 806 do Cód. Proc. Penal;
art. 5º, nº LV, da Const. Fed.

— Como lhe compete presidir as audiências e prover à instrução dos


processos, não será decerto o Juiz um conviva de pedra ou um
espectador inerte. Fatos existem, no entanto, que lhe excedem a
jurisdição; denomina-os a tradição jurídica motivos de força maior,
a cujo número pertence a necessidade de expedição de carta
precatória para o interrogatório do réu, termo essencial do processo
e franca oportunidade de obtenção de prova, imprescindível à busca
da verdade real.
— Ainda que exaspere a sorte do preso, tal fato não caracteriza
constrangimento ilegítimo por excesso de prazo no encerramento
da instrução criminal, uma vez que nem sempre o pode o Juiz
dispensar ou prevenir. Eis a razão por que, no caso de força maior,
dispõe a lei que “não correrão os prazos” (art. 798, § 4º, do Cód. Proc.
Penal).
— Salvo casos especiais (ao prudente arbítrio do juiz), primariedade,
bons antecedentes, prova de ocupação lícita e de residência no foro
da culpa não valem a autorizar a concessão de liberdade provisória
(art. 310, parág. único, do Cód. Proc. Penal) àquele que, acusado de
crime grave – como é o roubo –, tem contra si a presunção de
periculosidade.
— O Colendo Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de
que a disposição do art. 806 do Código de Processo Penal não se aplica
“aos casos de processos criminais de ação penal pública” (HC nº 31.899;
rel. Min. Orosimbo Nonato). Nos processos penais, portanto, é
contra o espírito da lei condicionar a realização de diligências ao
prévio pagamento das custas.
—“Falta de inquirição das testemunhas da defesa, por não terem sido pagas
previamente as custas do oficial de justiça: exigência descabida em ação
penal pública” (STF; HC nº 61.215; rel. Min. Soares Muñoz).
53

Voto nº 11.205
Apelação Criminal nº 993.06.012794-2
Arts. 157, § 3º, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90

— A palavra da vítima é a pedra angular do edifício probatório: se em


harmonia com os mais elementos dos autos justifica a procedência
da pretensão punitiva e a condenação do réu.
— Em se tratando de réu primário, a “regra é partir da pena base no grau
mínimo” (TRF da 1a. R; Ap. nº 22.082; DJU 5.3.90, p. 3.233).
— Para que seja a pena justa, segundo a memorável lição do Marquês
de Beccaria, não deve ter senão o grau de rigor suficiente para
afastar os homens da senda do crime (Dos Delitos e das Penas, § XVI).
— O regime fechado, no início, para autor de tentativa de latrocínio
(arts. 157, § 3º, e 14, nº II, do Cód. Penal), crime da classe dos
hediondos, decorre da vontade expressa da lei (art. 2º, § 1º, da Lei nº
8.072/90).
54

Voto nº 11.278
Apelação Criminal nº 990.08.042290-1
Art. 66 do Cód. Penal; art. 202 do Cód. Proc. Penal;
art. 12 da Lei nº 6.368/76;
art. 33, “caput”, da Lei nº 11.343/06

— A apreensão de grande quantidade de tóxico em poder do acusado


argui para logo a ideia de tráfico (art. 33, “caput”, da Lei nº 11.343/06
— Lei de Drogas).
— Vale o depoimento pelo grau de veracidade que encerra. Com
respeito aos policiais, há decisão histórica do Pretório Excelso: “A
simples condição de policial não torna a testemunha impedida ou suspeita”
(HC nº 51.577; DJU 7.12.73, p. 9.372; apud Damásio E. de Jesus,
Código de Processo Penal Anotado, 23a. ed., p. 185).
— Não cabem críticas, senão altos louvores, à sentença que,
reconhecendo em favor de réu de tráfico de entorpecentes (art. 33
da Lei nº 11.343/06) a circunstância atenuante genérica prevista no
art. 66 do Cód. Penal, reduz-lhe a sexta parte da pena, debaixo do
argumento de que – jovem de 23 anos de idade, amasiado, pai de
três crianças, residente em alojamento coletivo e desempregado –
era “mais um brasileiro sem oportunidade de inserção social digna”, que
(ainda mal!) recorria ao comércio nefando das drogas para prover ao
sustento próprio e da família. Não andam de todo errados os que
reputam a miséria a mãe do crime!
—“A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante,
anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei”
(art. 66 do Cód. Penal).
— Uma pena, para ser justa – escreveu o profundo Marquês de
Beccaria –, deve ter somente o grau de rigor que baste a afastar os
homens da senda do crime. “Perchè una pena sia giusta, non deve avere
che quei soli gradi d’intensione che bastano a rimuovere gli uomini dai
delitti” (Dei Delitti e delle Pene, § XVI).
—“Amparando os mais fracos, não fazemos favor, senão justiça” (Teodomiro
Dias, apud Odilon da Costa Manso, Letras Jurídicas, 1971, p. 111).
55

— Não esqueçam nunca aos Magistrados aquelas sublimes palavras de


nosso Rui:“Não estejais com os que agravam o rigor das leis, para se
acreditar com o nome de austeros e ilibados. Porque não há nada menos
nobre e aplausível que agenciar uma reputação malignamente obtida em
prejuízo da verdadeira inteligência dos textos legais” (Oração aos Moços,
1a. ed., p. 43).

Voto nº 11.597
Apelação Criminal nº 990.08.170021-2
Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 61, nº II, alínea h, do Cód. Penal;
art. 1.196 do Cód. Civil

— Palavras de quem foi protagonista do fato delituoso, as da vítima


são, pelo comum, dignas de crédito; servem, pois, a lastrear
condenação, máxime se a roborarem outros elementos do processo.
— No geral, a palavra da vítima é a primeira luz que afugenta as
sombras sob que se pretende abrigar a impunidade.
— Diz-se consumado o roubo se o agente, ainda que por breve lapso
de tempo, teve a posse desvigiada da coisa subtraída à vítima
mediante violência ou grave ameaça.
— O regime prisional fechado é o que, em princípio, convém ao autor
de roubo, por sua natural periculosidade, como sujeito infenso à
ordem legal e destituído de sentimento ético, sobretudo se
reincidente, e pela notória gravidade do crime, que intranquiliza e
comove a população honrada.
56

Voto nº 11.599
Agravo em Execução nº 990.08.196961-0
Arts. 224, alínea a, e 226, nº II, do Cód. Penal;
art. 654, § 2º, do Cód. Proc. Penal;
art. 2º, §§ 1º e 2º, da Lei nº 8.072/90;
arts. 66, nº III, alínea d, e 112 da Lei de Execução Penal;
art. 52, nº X, da Const. Fed.

— Escólio de Damásio E. de Jesus ao § 2º do art. 2º da Lei nº 8.072/90:


“Progressão de regime para reincidentes. (…). Não é preciso que o
sentenciado seja reincidente específico em crimes hediondos ou equiparados.
O conceito de reincidência referido no art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90,
com redação dada pela Lei nº 11.464/2007, é o do art. 63 do CP
(reincidência genérica)” (Código de Processo Penal Anotado, 23a. ed.,
p. 729).
— Declarada pelo Colendo Supremo Tribunal Federal, em sessão de
23.1.06, a inconstitucionalidade do art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90 (Lei
dos Crimes Hediondos), é o art. 112 da Lei de Execução Penal que
serve de fundamento ao pedido de progressão de regime do
condenado por crime hediondo cometido antes da promulgação da
Lei nº 11.464, de 28.3.07, pois, segundo princípio basilar de Direito
Penal, a lei posterior mais severa não pode retroagir.
— A decisão da Suprema Corte, conforme o sentimento comum dos
melhores intérpretes, “é autoaplicável, dispensando a atuação do Senado
Federal para suspender a sua execução (CF/88, art. 52, X)” (René Ariel
Dotti, in Rev. Tribs., vol. 400, p. 415).
— Na conformidade do que têm proclamado nossos Tribunais
Superiores, os condenados por crimes hediondos cometidos antes da
Lei nº 11.464/07, para efeito de progressão, caem sob o regime do
art. 112 da Lei da Execução Penal: cumprimento de 1/6 da pena e
bom comportamento carcerário.
57

—“O requisito objetivo necessário para a progressão de regime prisional dos


crimes hediondos e equiparados cometidos antes da entrada em vigor da Lei
nº 11.464, em 29 de março de 2007, é aquele previsto no art. 112 da Lei
de Execução Penal” (HC nº 88.037/SP; 5a. Turma; relª. Minª. Laurita
Vaz; DJU 19.11.07, p. 264).
—“Fazer justiça não é, em muitos casos, obedecer à lei e, sim, obedecer ao
direito que é a fonte da lei” (Eliézer Rosa, A Voz da Toga, 1a. ed.,
p. 41).
—“Não trepidei em mudar de voto, pública e declaradamente, toda vez que
novos argumentos ou provas concludentes me convenceram do desacerto do
veredictum anterior: acima do melindre pessoal de cada um está a
sacrossanta causa da Justiça” (Carlos Maximiliano, Hermenêutica e
Aplicação do Direito, 16a. ed., p. 377).
— Se o sentenciado atende aos requisitos do art. 112 da Lei de Execução
Penal, isto é, “tiver cumprido ao menos um sexto da pena no regime
anterior e ostentar bom comportamento carcerário”, faz jus à progressão
ao regime semiaberto. Somente fato grave, indicativo de
personalidade anômala e refratária aos estímulos da recuperação,
poderá obstar-lhe a mudança para regime prisional mais brando.

Voto nº 11.840
Agravo em Execução nº 990.09.041696-3
Art. 112 da Lei de Execução Penal;
Dec. Presidencial nº 5.620/05

—“O cometimento de falta grave interrompe a contagem do prazo exigido


para a concessão do benefício da progressão de regime prisional” (STJ; HC
nº 12.453-SP; rel. Min. Gilson Dipp; DJU 23.4.2001, p. 171).
— Deve o sentenciado atender, sem quebra, às instâncias da disciplina
do estabelecimento penal para poder, no tempo oportuno,
credenciar-se à outorga de benefícios (art. 112 da Lei de Execução
Penal).
58

Voto nº 11.930
Apelação Criminal nº 993.03.058924-7
Arts. 180, 109, nº V, e 110, § 1º, do Cód. Penal;
art. 61 do Cód. Proc. Penal

— Nos crimes de receptação dolosa, porque mui difícil apurar o


elemento subjetivo do tipo, cumpre recorrer às circunstâncias
mesmas do fato e à personalidade do agente (art. 180 do Cód. Penal).
— É apotegma de Direito Penal que o castigo deve responder à culpa,
em igual medida.
— Suposto mereça todo o infrator a proteção da lei, não é de bom
exemplo dispensar mercês, em detrimento da ordem social, àqueles
que fazem do crime profissão.
— O decurso do tempo apaga a memória do fato punível e a
necessidade do exemplo desaparece (Abel do Vale; apud Ribeiro
Pontes, Código Penal Brasileiro, 8a. ed., p. 154).
— Forma que é de prescrição da pretensão punitiva, a prescrição
intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) rescinde a própria
sentença condenatória, fulminando-lhe os efeitos (cf. Damásio E. de
Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed., p. 358).
59

Voto nº 12.049
Agravo em Execução nº 990.09.120660-1
Art. 50 da Lei de Execução Penal;
Dec. Presidencial nº 6.294/07

— Uma vez conspirem todos os requisitos legais para sua concessão,


denegar ao sentenciado o benefício da comutação de penas fora o
mesmo que frustrar, em seu espírito e forma, o Decreto do
Presidente da República e, sobre isso, mentir ao ideal de justiça.
— Ao condenado que satisfaz o requisito objetivo (lapso temporal) é
bem se conceda comutação de pena. Pequenas deficiências de cunho
íntimo ou subjetivo, que acaso apresente, deve supri-las o Juiz com o
espírito mesmo que preside à outorga do benefício do indulto: o
nobre e generoso sentimento de compreensão humana, com que,
pelo Natal, o chefe de Estado sói amercear-se de todo
o encarcerado, “o mais pobre de todos os pobres”, na pungente expressão
de Carnelutti (As Misérias do Processo Penal, 1995, p. 21; trad. José
Antonio Cardinalli).
— Quando claro, o texto legal escusa interpretação e, sobretudo,
desautoriza aquela que prejudique o condenado: “In dubio pro
libertate. Libertas omnibus rebus favorabilior est. Na dúvida, pela
liberdade! Em todos os assuntos e circunstâncias, é a liberdade que merece
maior favor” (apud Carlos Maximiliano, Hermenêutica e Aplicação do
Direito, 16a. ed., p. 261).
60

Voto nº 12.110
Apelação Criminal nº 993.03.000035-9
Arts. 107, nº IV, e 110, § 1º, do Cód. Penal;
art. 61 do Cód. Proc. Penal;
art. 302 do Cód. Trânsito

— Obra com extraordinária imprudência o motorista que, trafegando


com seu veículo em alta velocidade e sem as cautelas usuais, perde-
-lhe o controle e, após invadir a pista de rolamento de rodovia de
duplo sentido de direção, colide-o com outro, provocando a morte
de seus ocupantes (art. 302 do Cód. Trânsito).
— Na teoria da culpa tem validade perene a definição do insigne
Carrara: “É a voluntária omissão de diligência no calcular as
consequências possíveis e previsíveis do próprio fato” (apud Costa e Silva,
Comentários ao Código Penal, 1967, p. 94).
— A pena, segundo Garófalo, é o remédio para a falta de adaptação do réu
(apud Fernando Nery, Lições de Direito Criminal, 1933, p. 355). A
punição do infrator, portanto, não é outra coisa que a legítima
reação da ordem social contra o crime.
— O decurso do tempo apaga a memória do fato punível e a
necessidade do exemplo desaparece (Abel do Vale; apud Ribeiro
Pontes, Código Penal Brasileiro, 8a. ed., p. 154).
— A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui
forma de prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria
sentença condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado,
18a. ed., p. 358).
— Decretada a extinção da punibilidade do apelante pela prescrição da
pretensão punitiva estatal, já nenhuma outra matéria poderá ser
objeto de exame ou deliberação.
61

Voto nº 12.271
Apelação Criminal nº 993.03.061197-8
Arts. 107, nº IV, e 110, § 1º, do Cód. Penal;
art. 61 do Cód. Proc. Penal;
art. 50, parág. único, ns. I e II, da Lei nº 6.766/79

—“Esta Corte Federal Superior e o Excelso Supremo Tribunal Federal


firmaram já entendimento no sentido da impossibilidade de se considerar
como maus antecedentes, quando na fixação da pena-base, o fato de o réu
responder a outros processos criminais” (STJ; REsp nº 281.450-0-RO; 6a.
T.; j. 21.9.2004; Boletim do Superior Tribunal de Justiça, nº 1, p. 74).
— A pena, segundo Garófalo, é o remédio para a falta de adaptação do réu
(apud Fernando Nery, Lições de Direito Criminal, 1933, p. 355). A
punição do infrator, portanto, não é outra coisa que a legítima
reação da ordem social contra o crime.
— O decurso do tempo apaga a memória do fato punível e a
necessidade do exemplo desaparece (Abel do Vale; apud Ribeiro
Pontes, Código Penal Brasileiro, 8a. ed., p. 154).
— A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui
forma de prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria
sentença condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado,
18a. ed., p. 358).
— Decretada a extinção da punibilidade do apelante pela prescrição da
pretensão punitiva estatal, já nenhuma outra matéria poderá ser
objeto de exame ou deliberação.
62

Voto nº 12.413
Apelação Criminal nº 990.09.026868-9
Art. 61, inc. II, alínea h, do Cód. Penal

— A agravação da pena de autor de roubo, em razão da gravidez da


vítima, depara fundamento em bom direito (art. 61, inc. II, alínea h,
do Cód. Penal).
— A lição de Damásio E. de Jesus faz ao caso: “a circunstância –
prevista no art. 61, nº II, alínea h, do Cód. Penal – deve ser abrangida
pelo conhecimento do sujeito, admitindo-se dolo direto e eventual. Direto:
quando tem plena consciência da gravidez da vítima. Eventual: quando,
não tendo pleno conhecimento, tolera e lhe é de pouca importância a
circunstância (pouco me importo se está grávida ou não)” (Código Penal
Anotado, 8a. ed., p. 183).
II. Pena: “Bis in Idem”. Hipóteses

Voto nº 539
Apelação Criminal nº 1.064.251/1
Arts 157, § 2º, ns. I e II, e 61, nº II, alínea h, do Cód. Penal

— Nos crimes de roubo, o seguro reconhecimento do réu pela vítima,


na Polícia, ainda que não renovado em Juízo, é prova que basta à
decretação de edito condenatório.
— Configura “bis in idem”, que importa evitar, a exasperação da pena
do réu pelos maus antecedentes e de igual passo pela reincidência; é
que todo reincidente por força tem maus antecedentes.
64

Voto nº 562

Apelação Criminal nº 1.070.033/0

Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 61, nº II, alínea h, do Cód. Penal

—“A verdade é mais frequente na boca dos homens que a mentira” (Antônio
Dellepiane, Nova Teoria da Prova, 1958, p. 140; trad. Érico Maciel).
— A palavra da vítima de roubo é geralmente digna de crédito porque,
referindo-se às circunstâncias em que ele ocorreu e à pessoa de seu
autor, só a expressão da verdade lhe haverá de interessar; obrar o
contrário, o mesmo fora que cometer o delito de denunciação
caluniosa.
— Quando natural e plausível era falar, não estranha se tome por
confissão o proceder de quem, apartando-se da linguagem e estilos
da inocência, prefere permanecer calado, indiferente à advertência
do aforismo “Qui tacet, consentire videtur” (em vulgar: Quem cala,
consente).
— Em caso de roubo, é desnecessária a apreensão da arma para o
reconhecimento da qualificadora; basta a prova, ainda que oral (mas
idônea), de que, ao cometer o crime, foi com ela que o sujeito
intimidou a vítima.
— Inexiste quebra do preceito do “Non bis in idem” se o Magistrado
fixa ao réu a pena-base além do mínimo legal, à conta de
seus antecedentes desabonadores e defeituosa personalidade,
exasperando-a depois pela nota da reincidência: que são diversas as
causas dos aumentos.
65

Voto nº 2629
Revisão Criminal nº 350.274/1
Art. 157, § 2º, nº II, do Cód. Penal;
art. 621, nº I, do Cód. Proc. Penal

— É princípio assente na Doutrina e na Jurisprudência que, no Juízo


da revisão criminal, toca exclusivamente ao peticionário provar que
a sentença condenatória vulnerou o Direito ou perpetrou injustiça.
— A exasperação da pena pelos maus antecedentes do réu e pela nota
de reincidência não configura violação do preceito do “Non bis in
idem”, o que unicamente ocorre quando a mesma condenação é a
causa do duplo aumento.

Voto nº 2710
Apelação Criminal nº 1.235.655/4
Art. 157, “caput”, do Cód. Penal;
art. 68 do Cód. Penal

— A palavra da vítima, porque protagonista do fato delituoso, não se


recebe geralmente com reservas, senão como expressão da verdade,
que só a prova do erro ou da má-fé pode abalar.
— Diz-se consumado o roubo se o agente, ainda que por breve lapso
de tempo, teve a posse desvigiada da coisa subtraída à vítima
mediante violência ou grave ameaça.
— Não constitui violação do princípio jurídico do “Non bis in idem”
(não duas vezes pela mesma causa) o aumento da pena do réu pelos
maus antecedentes e pela reincidência; salvo se referentes a um só
processo.
66

Voto nº 3666
Apelação Criminal nº 1.297.039/6
Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 61, nº II, alíneas c e d, do Cód. Penal

— Nos casos de roubo, a palavra da vítima, como de quem teve papel


precípuo no evento delituoso, é de especial relevância para a
identificação de seu autor; destarte, exceto lhe prove alguém tenha
obrado com erro ou malícia ao indicar o culpado, já a vítima lhe
está antecipando juízo de condenação, pois nela se presume o
interesse de não querer incriminar outrem que seu malfeitor.
— Sob pena de violação do princípio do “Ne bis in idem”, não há
reconhecer a incidência das circunstâncias agravantes do art. 61, nº
II, alíneas c (utilização de recurso que impossibilitou a defesa do
ofendido) e d (emprego de meio cruel), no caso em que, para a
prática do roubo, os agentes imobilizam a vítima, amarrando-a a
uma árvore. Ainda que desmarcada, tal violência integra o tipo
penal, que a prevê, em ordem a reduzir a vítima à impossibilidade
de resistência (art. 157 do Cód. Penal).
— Incensurável é a sentença que, atendendo à gravidade do crime
praticado com violência e à personalidade do agente, sujeito
refratário ao estímulo do bem e contumaz infrator da lei, fixa-lhe o
regime prisional fechado (art. 33, § 1º, alínea a, do Cód. Penal).
67

Voto nº 3693
Apelação Criminal nº 1.299.873/4
Art. 155, § 4º, nº II, do Cód. Penal

— Achado na posse de coisa alheia, sem que o saiba justificar, dá o réu


a conhecer que a houvera por meio criminoso, pois o detentor
legítimo nenhuma dificuldade encontra para explicar a origem de
tudo que lhe vem às mãos.
— Salvo se decorrente do mesmo processo, a exasperação das penas do
réu por seus maus antecedentes e por sua reincidência não
caracteriza afronta ao princípio “Ne bis in idem”. Há casos, com
efeito, em que o infrator, mesmo abstraída a nota de recidiva,
ostenta maus antecedentes.

Voto nº 3775
Apelação Criminal nº 1.308.773/3
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
arts. 59 e 61, nº I, do Cód. Penal

— As declarações firmes e seguras do corréu, se coincidentes com os


mais elementos do processo, têm grande peso e força na aferição da
autoria do crime e podem justificar edito condenatório, pois
repugna à razão lógica discorra alguém, com precisão, daquilo que
não conhece.
— Por evitar afronta ao princípio “Ne bis in idem”, é de bom exemplo
cancelar o excesso punitivo decorrente da dupla valoração do fato da
reincidência também como agravante e circunstância judicial
desfavorável ao réu (art. 59 e 61, nº I, do Cód. Penal).
68

Voto nº 4148
Revisão Criminal nº 417.586/4
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
arts. 59 e 61, nº I, do Cód. Penal

— Por amor do princípio da razoabilidade – “lógica do razoável”


(Recaséns Siches) ou do justo meio – e para atalhar anatocismo na
aplicação da pena (à maneira da usura dobrada nos mútuos
feneratícios), urge proceder, no Juízo da revisão criminal, à redução
da pena-base fixada ao réu, sem motivação plausível, com o
aumento de metade do mínimo legal cominado ao crime (art. 626 do
Cód. Proc. Penal.
— Configura violação do preceito “Ne bis in idem”, que o Direito Penal
coíbe irrestritamente, meter em conta os antecedentes do réu como
circunstância judicial e como circunstância legal (reincidência).
— A só presença de duas ou mais qualificadoras não obriga ao aumento
da pena do roubo além do mínimo legal de 1/3, o que apenas se
justifica nos casos em que praticado por grupo numeroso de
agentes, mediante emprego de armas de extraordinário poder
vulnerante.
69

Voto nº 4623
Apelação Criminal nº 1.364.007/1
Art. 155, “caput”, do Cód. Penal;
art. 621 do Cód. Proc. Penal

— Não há que reparar na sentença que, à conta dos maus antecedentes


do réu, fixa-lhe a pena-base acima do mínimo legal. A razão é
que, na aplicação da pena, deve o Juiz atender juntamente às
circunstâncias do crime, à personalidade do infrator e à defesa da
sociedade (art. 59 do Cód. Penal).
—“A pena é força de reserva na defesa da ordem jurídica” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII, p. 182).

Voto nº 4627
Revisão Criminal nº 432.082/7
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 621 do Cód. Proc. Penal

— É princípio assente na Doutrina e na Jurisprudência que, no Juízo


da revisão criminal, cabe exclusivamente ao peticionário provar que
a sentença condenatória vulnerou o Direito ou perpetrou injustiça.
— A exasperação da pena pelos maus antecedentes do réu e pela nota
de reincidência não configura violação do preceito do “Non bis in
idem”, o que unicamente ocorre quando a mesma condenação é a
causa do duplo aumento.
70

Voto nº 6836
Apelação Criminal nº 331.056-3/5-00
Arts. 59 e 65, nº III, alínea d, do Cód. Penal;
arts. 12 e 18, nº IV, da Lei nº 6.368/76;
art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90

— Para autorizar decreto condenatório basta a confissão judicial do


réu. Deveras, é axioma de Direito que “a confissão da parte releva de
outra prova” (cf. Cândido Mendes de Almeida, Auxiliar Jurídico,
1985, t. II, p. 530).
—“Para a existência do delito (do art. 12 da Lei nº 6.368/76) não há
necessidade de ocorrência de dano. O próprio perigo é presumido em caráter
absoluto, bastando para a configuração do crime que a conduta seja
subsumida num dos verbos previstos” (Vicente Greco Filho, Tóxicos,
1995, p. 83).
— As circunstâncias gerais e abstratas do crime foram já consideradas
no momento da elaboração legislativa, pelo que não há encarecê-las
de novo o Juiz ao estabelecer a pena do réu (art. 59 do Cód. Penal),
senão incorrerá em “bis in idem”.
—“A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da
pena abaixo do mínimo legal” (Súmula nº 231 do STJ).
— A estipulação do regime integralmente fechado para o réu de tráfico
de entorpecentes, crime do número dos hediondos, decorre da
vontade da lei (art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90).
71

Voto nº 9792
Apelação Criminal nº 841.390-3/2-00
Arts. 107, nº IV, 110, § 1º, e 119 do Cód. Penal;
arts. 202 e 580 do Cod. Proc. Penal;
arts. 12 e 18, nº III, da Lei nº 6.368/76;
art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97;
arts. 12, “caput”, e 35 da Lei nº 10.826/03

— Desde que acorde com os mais elementos de prova dos autos, a


confissão policial constitui prova idônea de autoria delituosa e
justifica edição de decreto condenatório.
— A apreensão de grande quantidade de tóxico em poder do acusado
argui para logo a ideia de tráfico (art. 12 da Lei nº 6.368/76).
— A inidoneidade das testemunhas não se presume; ao arguente
impõe-se demonstrar, além de toda a controvérsia, que faltaram à
verdade ou caíram em erro de informação. É que, na busca da
verdade real – alma e escopo do processo –, “toda pessoa poderá ser
testemunha” (art. 202 do Cód. Proc. Penal).
— A causa de aumento de pena do art. 18, nº III, da Lei nº 6.368/76
(“decorrer de associação”), já não subsiste e, pois, não pode ser
reconhecida à luz da nova Lei de Drogas (Lei nº 11.343/06), que
previu a circunstância apenas como crime autônomo (art. 35).
— A Lei nº 11.464, de 28.3.2007, atenuou o rigor da Lei dos Crimes
Hediondos (Lei nº 8.072/90) no que respeita à progressão no regime
prisional de cumprimento de pena. Se o sentenciado primário tiver
dela descontado já 2/5 – ou 3/5, se reincidente – e conspiram os
mais requisitos legais, faz jus ao benefício (art. 2º, § 2º).
— A posse irregular de arma de fogo de uso permitido tipifica a
infração do art. 12, “caput”, da Lei nº 10.826/03 (Estatuto do
Desarmamento), independentemente de perigo concreto.
72

— Não incorre em censura a decisão que, por evitar “bis in idem” (que
a consciência jurídica impugna a todo transe), considera a
receptação crime-meio em respeito do porte ilegal de arma de fogo,
crime-fim (art. 180, “caput”, do Cód. Penal e art. 10, “caput”, da Lei nº
9.437/97).
— A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui
forma de prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria
sentença condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado,
18a. ed., p. 358).
— É escusado lembrar que, segundo o teor literal do art. 119 do Código
Penal, “no caso de concurso de crimes, a extinção da punibilidade incidirá
sobre a pena de cada um, isoladamente”.
73

Voto nº 10.021
Apelação Criminal nº 1.157.586-3/7-00
Arts. 33, § 1º, alínea a, 64, nº I, e 157 do Cód. Penal

— O réu inocente já o declara no inquérito policial, quando arguido


pela autoridade a respeito da imputação; o que se mantém em
silêncio (bem que direito seu), nisso mesmo dá a conhecer sua culpa.
É que repugna ao bom-senso nada responda o inocente a grave e
injusta acusação.
— Se arrimada a outros elementos de convicção, constitui a fotografia
prova idônea para justificar edito condenatório porque, em
princípio, reproduz os caracteres fundamentais extrínsecos do
indivíduo, sendo-lhe não raro a cópia fiel.
— A vítima do roubo, por ter sofrido diretamente os efeitos da ação
criminosa, é quem está em melhores condições de descrevê-la;
daqui o subido valor de sua palavra, na qual, se acorde com as mais
provas dos autos, pode o Juiz assentar o decreto de condenação.
— Embora inaptas para configurar a agravante da reincidência (art. 64,
nº I, do Cód. Penal), condenações pretéritas do sujeito sempre lhe
caracterizam maus antecedentes, que o cálculo da pena-base não
pode relegar à sombra.
— O regime prisional fechado é, pelo comum, o que mais convém à
personalidade do autor de roubo, de seu natural violento e refratário
à disciplina social. (cf. art. 33, § 1º, alínea a, do Cód. Penal).
74

Voto nº 10.979
Agravo em Execução nº 993.08.035930-0
Art. 44, § 4º, do Cód. Penal;
arts. 181, § 1º, alínea e, 197 da Lei de Execução Penal;
art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro

—“A imposição de serviços à comunidade como condição da pena em regime


aberto implica inaceitável bis in idem, pois a restrição de direitos possui
caráter substitutivo da pena privativa de liberdade, não podendo ser
cumulada com esta, como condição especial daquele regime” (Rev. Tribs.,
vol. 753, p. 730).
—“Conversão de pena restritiva de direito em privativa de liberdade, porque
o sentenciado não foi localizado para dar cumprimento – Regime aberto,
sem fixação de condição especial consistente em prestação de serviços à
comunidade – Possibilidade – O descumprimento injustificado da pena
restritiva de direitos acarreta, obrigatoriamente, a conversão em pena
privativa de liberdade – Inteligência dos arts. 44, § 4º, do Código Penal e
181, § 1º, alínea a, da Lei de Execução Penal – Decisão mantida –
Recurso improvido” (TJSP; Ag. Exec. nº 990.08.056459-5, 16a. Câm.
Criminal; rel. Newton Neves).
— Se o sentenciado cumpriu inteiramente sua pena, carece de legítimo
interesse o pedido de reforma da decisão. Em consequência, agravo
em execução interposto com essa finalidade está prejudicado, visto
perdeu o objeto (art. 197 da Lei de Execução Penal).
75

Voto nº 11.370
Agravo em Execução nº 990.08.027222-5
Arts. 155, § 4º, nº IV, e 44, § 4º, do Cód. Penal;
arts. 115 e 181, § 1º, alínea a, da Lei de Execução Penal

—“A imposição de serviços à comunidade como condição da pena em regime


aberto implica inaceitável bis in idem, pois a restrição de direitos possui
caráter substitutivo da pena privativa de liberdade, não podendo ser
cumulada com esta, como condição especial daquele regime” (Rev. Tribs.,
vol. 753, p. 730).
—“Conversão de pena restritiva de direito em privativa de liberdade, porque
o sentenciado não foi localizado para dar cumprimento —— Regime aberto,
sem fixação de condição especial consistente em prestação de serviços à
comunidade —— Possibilidade – O descumprimento injustificado da pena
restritiva de direitos acarreta, obrigatoriamente, a conversão em pena
privativa de liberdade —— Inteligência dos arts. 44, § 4º, do Código Penal e
181, § 1º, alínea a, da Lei de Execução Penal —— Decisão mantida ——
Recurso improvido” (TJSP; Ag. Exec. nº 990.08.056459-5, 16a. Câm.
Crim.; rel. Newton Neves).
76

Voto nº 11.423
Apelação Criminal nº 993.06.110738-4
Arts. 157, § 2º, ns. I e II, 307, 61, nº I, e 83, parág. único, do Cód. Penal;
art. 386, ns. III e VI, do Cód. Proc. Penal

— Quando natural e plausível era falar, não estranha se tome por


confissão o proceder de quem, apartando-se da linguagem e estilos
da inocência, prefere permanecer calado, indiferente à advertência
do aforismo “Qui tacet, consentire videtur” (em vulgar: Quem cala,
consente).
— Palavras de quem foi protagonista do fato delituoso, as da vítima
são, pelo comum, dignas de crédito; servem, pois, a lastrear
condenação, máxime se a roboram outros elementos do processo.
— Até à mentira tem o réu licença de recorrer, como meio de defesa;
não lhe é lícito, entretanto, atribuir-se falsa identidade, que isto a lei
define e pune como crime (art. 307 do Cód. Penal).
— Inexiste quebra do preceito do “Non bis in idem” se o Magistrado
fixa ao réu a pena-base além do mínimo legal, à conta de
seus antecedentes desabonadores e defeituosa personalidade,
exasperando-a depois pela nota da reincidência: que são diversas as
causas dos aumentos.
— É, por força, o regime prisional fechado o mais compatível com o
autor de roubo, sobretudo se indivíduo que ostenta copiosos traços
negativos de personalidade e disposto abertamente à vida fora da lei,
de todo infenso às regras que disciplinam a convivência humana.
77

Voto nº 12.217
Apelação Criminal nº 993.06.096928-5
Art. 155, § 4º, nº II, do Cód. Penal

—“A palavra da vítima é a viga-mestra da estrutura probatória, e a sua


acusação, firme e segura, em consonância com as demais provas, autoriza a
condenação” (Rev. Tribs., vol. 750, p. 682).
— A confissão, máxime a prestada em Juízo, vale como prova do fato e
de sua autoria, se não ilidida por elementos de convicção firmes e
idôneos. Donde a antiga parêmia: “A confissão judicial é das melhores
provas; quem confessa, contra si profere a sentença” (apud Cândido
Mendes de Almeida, Auxiliar Jurídico, 1985, t. II, p. 530).
— Diz-se consumado o furto se o agente, ainda que por breve lapso de
tempo, teve a posse desvigiada da coisa subtraída.
— O regime fechado, ainda que da última severidade, é o que
unicamente se ajusta à personalidade do réu que faz do crime
profissão e desafia sempre o gládio da Justiça.
III. Pena: Redução. Casos

Voto nº 10.553
Apelação Criminal nº 993.07.070541-8
Art. 202 do Cód. Proc. Penal;
art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90;
art. 33, nº IV, da Lei nº 11.343/06

— O inocente, quando vítima de infâmia, brada logo por justiça, com


todas as forças e incessantemente. O silêncio do réu, na Polícia,
ainda que se não tenha por documento formal de culpa, entende-se
por estultícia desmarcada, pois era sua primeira e melhor
oportunidade de proclamar a inocência, e deitou-a a perder!
— A apreensão de grande quantidade de tóxico em poder do acusado
argui para logo a ideia de tráfico (art. 33, “caput”, da Lei nº
11.343/06, Lei de Drogas).
— A inidoneidade das testemunhas não se presume; ao arguente
impõe-se demonstrar, além de toda a controvérsia, que faltaram à
verdade ou caíram em erro de informação. É que, na busca da
verdade real – alma e escopo do processo –, “toda pessoa poderá ser
testemunha” (art. 202 do Cód. Proc. Penal).
— Vale o depoimento pelo grau de veracidade que encerra. Com
respeito aos policiais, há decisão histórica do Pretório Excelso: “A
simples condição de policial não torna a testemunha impedida ou suspeita”
(HC nº 51.577; DJU 7.12.73, p. 9.372; apud Damásio E. de Jesus,
Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed., p. 187).
— Em se tratando de réu primário, a “regra é partir da pena base no grau
mínimo” (TRF da 1a. R; Ap.nº 22.082; DJU 5.3.90, p. 3.233).
—“A justiça deve ser equânime; concilie, sempre que for possível, a retidão
com a bondade em toda a acepção da palavra” (Carlos Maximiliano,
Hermenêutica a Aplicação do Direito, 16a. ed., p. 170).
79

— A Lei nº 11.464, de 28.3.2007, atenuou o rigor da Lei dos Crimes


Hediondos (Lei nº 8.072/90) no que respeita à progressão no regime
prisional de cumprimento de pena. Se o sentenciado primário tiver
dela descontado já 2/5 – ou 3/5, se reincidente – e conspiram os
mais requisitos legais, faz jus ao benefício (art. 2º, § 2º).

Voto nº 1105
Apelação Criminal nº 1.115.453/6
Art. 157, “caput”, do Cód. Penal

— Bem hajam os que, no terrível e grave ofício de dispensar justiça,


trazem sempre diante dos olhos aquela alta sentença de Salomão, o
mais sábio dos homens: “Noli esse justus multum”, que em linguagem
significa: Não sejas por demasiado justo (Ecl 7,17). E aqueloutra do
imortal Cícero: “Summum jus, summa injuria” (De Officiis, I, 10). Em
vulgar: A suma justiça converte-se em suma iniquidade.
— Não há proibição legal de que o Juiz conceda ao condenado não-
-reincidente a pena inferior a 8 anos o benefício do regime
semiaberto; o Código Penal, o que veda às expressas é que se
conceda ele ao réu condenado a pena superior a 8 anos (não
importando se primário), ou ao reincidente, cuja pena seja superior
a 4 anos.
—“A pena-retributiva jamais corrigiu alguém” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1980, 6a. ed., vol. I, t. I, p. 14).
— O cárcere: o pior lugar do mundo, antes do cemitério!
80

Voto nº 104
Revisão Criminal nº 294.520/4
Art. 155, § 4º, nº I, do Cód. Penal;
art. 65, nº I, do Cód. Penal

— A menoridade do réu é circunstância que sempre lhe atenua a pena,


conforme a regra do art. 65, nº I, do Cód. Penal. Justificou-o Basileu
Garcia com estas memoráveis palavras: “Entre os 18 e os 21 anos
responde (o menor) perante a lei penal, mas tem direito ao reconhecimento
da atenuante decorrente de sua pouca idade. Falta-lhe, ainda, o pleno uso
da reflexão. Não se operou o amadurecimento de seu espírito. (…) A
relativa benevolência da ação da Justiça, que se fará sentir sem todo o peso
das suas mais rudes sanções, pode, mesmo, concorrer para que o transviado
se reabilite” (Instituições de Direito Penal, 1975, vol. I, t. II, p. 483).
— De tanta monta é a circunstância da menoridade que, desprezando-a
o Magistrado na fixação da pena, induzirá eiva mortal à sua decisão.
Foi o que proclamou o Pretório Excelso: “A consideração da
circunstância atenuante é indeclinável na individualização da pena, sendo
causa nulificante da sentença a sua desconsideração” (Rev.Tribs., vol. 610,
p. 419).

Voto nº 117
“Habeas Corpus” nº 297.056/9
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 65, nº I, do Cód. Penal

—“As atenuantes não permitem a redução da pena abaixo do mínimo previsto


na lei para o crime” (Rev. Tribs., vol. 644, p. 379).
—“O regime de prisão aberta, por depender de aprofundado exame de provas,
não poderá ser apreciado através do remédio heroico” (RJDTACrimSP,
vol. 2º, p. 193; rel. Lustosa Goulart).
81

Voto nº 4413
Apelação Criminal nº 1.351.049/6
Art. 157, § 2º, ns. I, II e V, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

— A confissão judicial, por seu valor absoluto – visto se presume feita


espontaneamente –, basta à fundamentação do edito condenatório.
— Protagonista do episódio criminoso, a palavra da vítima, em caso de
roubo, é a pedra angular do edifício da Acusação e justifica sentença
condenatória se em harmonia com os mais elementos dos autos.
— É consumado o roubo se o agente, embora por breve lapso de
tempo, logrou a posse mansa e tranquila da coisa, longe da esfera de
vigilância da vítima.
— A só presença de duas qualificadoras não obriga ao aumento da pena
do roubo além do mínimo legal de 1/3, o que apenas se justifica nos
casos em que praticado por grupo numeroso de agentes e mediante
emprego de armas de extraordinário poder vulnerante.
— Não há proibição legal de o Juiz conceder regime semiaberto a
condenado não-reincidente a pena inferior a 8 anos (art. 33, § 2º,
alínea b, do Cód. Penal); a concessão de tal benefício unicamente é
defesa ao réu condenado a pena que exceda a 8 anos (não
importando se primário), ou ao reincidente, cuja pena seja superior
a 4 anos
.
82

Voto nº 180
Apelação Criminal nº 1.035.159/1
Art. 3º, alínea i, da Lei nº 4.898/65 (abuso de autoridade)

— Se o órgão do Ministério Público, ao qual toca a titularidade da


ação penal, não requereu explicitamente, em sua denúncia, a
aplicação de pena acessória ao réu, não poderá fazê-lo a sentença,
sob pena de afronta ao princípio da congruência (“Sententia debet
esse conformis libello”).
— Arguindo o texto legal ideia de mera possibilidade – “poderá ser
cominada a pena autônoma ou acessória” (art. 6º, § 5º, da Lei nº
4.898/65) –, fica ao prudente arbítrio do Juiz sua aplicação.

Voto nº 186
Embargos de Declaração nº 1.035.313/6
Arts. 157, § 2º, nº II, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alinea a, do Cód. Penal

—“Quanto mais o sujeito se aproxima da consumação, menor deve ser a


diminuição da pena (um terço); quanto menos se aproxima da consumação,
maior deve ser a atenuação (dois terços)” (Damásio E. de Jesus, Código
Penal Anotado, 1995, p. 42).
— Se o réu transpôs o último padrão miliário do “iter criminis”, a
quantidade da redução de sua pena será, por força, 1/3 (art. 14, nº II,
do Cód. Penal).
83

Voto nº 697
Apelação Criminal nº 1.081.053/5
Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 65, nº I, do Cód. Penal

— Recebida geralmente “cum grano salis”, a palavra do menor merece


entretanto gasalhado, se verossímil e em conformidade com as mais
provas dos autos.
— Circunstância atenuante obrigatória, a menoridade prevalece até
sobre a reincidência.
— O regime prisional fechado é o que unicamente convém ao sujeito
que, pelas circunstâncias do crime que perpetrou e por sua biografia
penal (verdadeiro cardume de gravibundas infrações), revela
personalidade em extremo antissocial, infensa aos valores éticos e
inclinada à delinquência de grosso calibre.

Voto nº 836
Apelação Criminal nº 1.077.453/1
Art. 129 do Cód. Penal

— Nisto de representação, notadamente sob o regime da Lei nº


9.099/95 (art. 91), importa atender primeiro a seu fim que à sua
forma. Desde que encerre a expressão inequívoca da vontade de
representar contra o autor do fato, entende-se válida e em forma
legal.
— Não cai sob as circunstâncias atenuantes (art. 65 do Cód. Penal) a
confissão, quando desacompanhada de arrependimento sincero e
propósito inabalável de emenda. Passa o mesmo com a confissão
qualificada, na qual o agente admite a autoria do fato incriminado,
tão só para poder invocar em seu prol alguma causa excludente de
ilicitude jurídica e, destarte, subtrair-se ao rigor da lei.
84

Voto nº 982
Apelação Criminal nº 1.090.275/2
Art. 155, § 4º, ns. III e IV, do Cód. Penal

— Desde que acorde com os mais elementos de prova dos autos, a


confissão policial constitui prova idônea de autoria delituosa e
justifica edição de decreto condenatório.
— Não se reputa de menor importância, antes é decisiva para a
perpetração do crime, a participação de quem dá cobertura ao
comparsa e ainda o auxilia na venda da “res furtiva”.

Voto nº 1019
Revisão Criminal nº 322.332/2
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

— Para que a confissão opere como circunstância atenuante da pena


(art. 65, nº III, letra d, do Cód. Penal), há de ser sincera e irrestrita,
porque apenas esta revela o propósito de emenda e arrependimento
do que violou a ordem jurídica. Não está nesse caso, logo, a
confissão qualificada, em que o sujeito admite a autoria do fato com
o só escopo de invocar em prol de sua defesa causa de exclusão de
culpabilidade.
85

Voto nº 1097
Apelação Criminal nº 1.106.619/2
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

— Se o recurso fere o ponto da dosimetria das penas, ao Tribunal é


lícito emendá-las, sem haja mister fulminar de nulidade a decisão
que as impôs, conforme a jurisprudência do Pretório Excelso: “A
sentença não é nula, cumprindo ao Tribunal reduzir a pena” (Rev. Trim.
Jurisp., vol. 109, p. 102; apud Damásio E. de Jesus, Código de Processo
Penal Anotado, 13a. ed., p. 265).
— A sentença, ao demais, é a vontade da lei tornada certa no caso concreto
(Chiovenda; apud Hélio Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980, vol.
II, p. 148), não só ato de inteligência do Juiz; não parece bem,
portanto, decretar-lhe a nulidade por falha de pequeno alcance,
possível de reparar na esfera recursal.
— Nos crimes de roubo, a palavra da vítima, que incrimina o réu e o
indigita por seu autor, basta à edição de decreto condenatório,
sobretudo quando em harmonia com as mais provas dos autos. (Não
esquecer que repugna à razão humana queira alguém acusar de
crime grave pessoa diversa da que o praticou).
— É o regime prisional fechado o que unicamente convém ao autor de
roubo (crime grave e abjeto), máxime se reincidente, circunstância
que revela personalidade desajustada e antissocial.
86

Voto nº 1156
Apelação Criminal nº 1.110.009/6
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

— A confissão é a melhor das provas, como reza o aforismo jurídico:


“Confessio est probatio omnibus melior”.
— A pena mínima cominada ao roubo é já extremada; exasperá-la,
quase passa por iniquidade porque, no sentir do preclaro Beccaria,
para ser justa, a pena deve ter só o grau de rigor suficiente a afastar
os homens da senda do crime (Dos Delitos e das Penas, § XVI).

Voto nº 1225
Apelação Criminal nº 1.114.357/5
Arts. 155, § 4º, ns. I e II, e 14, nº II, do Cód. Penal

— De tanto vulto é a circunstância atenuante da menoridade do agente


(art. 65, nº I, do Cód. Penal), que se sobrepõe à mesma reincidência.
— Inexiste impedimento legal a que se defira a autor de furto, ainda
que reincidente, o regime prisional semiaberto, salvo se condenado
a pena superior a 4 anos de reclusão (cf. art. 33, § 2º, alínea c, do Cód.
Penal).
87

Voto nº 1286
Apelação Criminal nº 1.118.553/3
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

— Segundo a doutrina comum e a jurisprudência dos Tribunais, não se


decreta a nulidade de sentença quando, sem quebra do rigor da
Justiça, possa emendá-la a Superior Instância.
— O art. 68 do Cód. Penal encerra, porque se diga, a carta de marear da
escorreita fixação da pena; em seu teor literal é que o Magistrado
deve fitar os olhos, não delire do caminho da legalidade ao estipular
a sanção ao infrator; mas, ainda quando ocorra subversão da ordem
das diretrizes ali traçadas, não há pronunciar a ineficácia da sentença
condenatória, se a sua conclusão não violou os preceitos da Justiça.
— No roubo, o aumento superior ao mínimo legal (1/3), à conta
da incidência de mais de uma qualificadora (art. 157, § 2º, do
Cód. Penal), somente se justifica se conspirarem circunstâncias
excepcionais, v.g.: número extraordinário de agentes e insigne
potencialidade ofensiva da arma empregada.

Voto nº 1385
Apelação Criminal nº 1.135.015/5
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

— Parêmia de Ulpiano: após a confissão do réu, já não há que


perquirir. “Post confessionem rei, nihil amplius quaeritur” (apud Cons.
Vicente Alves de Paula Pessoa, Processo Criminal de Primeira
Instância, 1882, p. 157).
— É consumado o roubo (art. 157 do Cód. Penal), se o agente, ainda
que por breve lapso de tempo, teve a posse tranquila e desvigiada da
coisa subtraída.
—“As atenuantes não permitem a redução da pena abaixo do mínimo previsto
na lei para o crime” (Rev. Trim. Jurisp., vol. 104, p. 736).
88

Voto nº 2597
Apelação Criminal nº 1.232.507/7
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

— O que é inocente já o proclama na primeira oportunidade que tem


de justificar-se; aquele que se reduz ao silêncio quando arguido de
crime, esse dá a conhecer a própria culpa: é que ninguém se omite
ao dever natural de repelir, com todas as forças, injusta acusação.
— Só porque duas as qualificadoras, não se justifica a majoração da
pena além do mínimo legal de 1/3, o que tem lugar apenas nos
casos em que praticado o roubo por numeroso grupo de agentes,
mediante emprego de armas de fogo de alto poder ofensivo, etc.
— Não há óbice legal a que o Juiz conceda ao condenado não-
-reincidente a pena inferior a 8 anos o benefício do regime
semiaberto (cf. art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal); proibição
unicamente existe de que o defira ao réu condenado a pena superior
a 8 anos (ainda que primário), ou ao reincidente, cuja pena seja
superior a 4 anos.
89

Voto nº 1643
Apelação Criminal nº 1.158.867/6
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

— Nos casos de roubo, é a palavra da vítima a principal e mais segura


fonte de informação do Magistrado, pois manteve contacto com o
seu autor e não se propõe senão submetê-lo à Justiça. Pelo que,
exceto lhe prove o réu que mentiu ou se equivocou, suas declarações
bastam a acreditar um decreto condenatório.
— A sanção cominada ao roubo, ainda em seu mínimo legal, é já
extremada; por isso, respeitabilíssima corrente jurisprudencial, de
que é tributária a colenda 15a. Câmara do TACrim-SP, tem por
mais conforme aos preceitos da Equidade proceder a aumento
superior ao mínimo legal de 1/3 unicamente em circunstâncias
excepcionais como, v.g.: número copioso de agentes, armas de
extraordinária potencialidade lesiva, etc.

Voto nº 1704
Apelação Criminal nº 1.170.179/1
Art. 157, “caput”, do Cód. Penal

— Diz-se consumado o roubo se o agente, ainda que por breve espaço


de tempo, teve a posse tranquila e desvigiada da coisa subtraída.
— Segundo princípio de razão lógica e de justiça, a confissão do réu,
ainda que dela se haja retratado, é circunstância que lhe assegura,
nos termos do art. 65, nº III, alínea d, do Cód. Penal, o direito ao
benefício da redução da pena, sobretudo se a tomou em conta o
Magistrado para fundamentar o decreto condenatório.
90

Voto nº 2040
Revisão Criminal nº 355.448/0
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

— A só presença de duas qualificadoras não obriga ao aumento da pena


do roubo além do mínimo legal de 1/3, o que apenas se justifica nos
casos em que praticado por grupo numeroso de agentes, mediante
emprego de armas de extraordinário poder vulnerante.

Voto nº 2067
Apelação Criminal nº 1.176.933/6
Arts. 157, “caput”, e 14, nº II, do Cód. Penal

— A confissão do réu autoriza o desfecho condenatório da causa, se em


harmonia com as mais provas dos autos.
— O critério para a redução da pena, em obséquio à tentativa, é o do
“iter criminis” percorrido: “(…) quanto mais o sujeito se aproxima da
consumação, menor deve ser a diminuição da pena (1/3)” (cf. Damásio E.
de Jesus, Código Penal Anotado, 5a. ed., p. 42).
91

Voto nº 1452
Apelação Criminal nº 1.147.557/2
Art. 157, § 2º, nº I, do Cód. Penal

—“As atenuantes não permitem a redução da pena abaixo do mínimo previsto


na lei para o crime” (Rev. Trim. Jurisp., vol. 104, p. 736).
— Isto de alguém confessar a autoria de crime, sem expor juntamente
cabais razões que o justifiquem, o mesmo é que fechar atrás de si a
porta que deita para o interior do cárcere.
— Se, perante o Magistrado, o réu assumiu francamente sua culpa, é
bem que dele se amerceie a Justiça. Essa, a que se pudera chamar
coragem moral, é digna sempre de galardão, não só de louvores.
— Não repugna à Lei conceda o Juiz regime semiaberto ao condenado
não-reincidente, cuja pena não ultrapasse 8 anos (cf. art. 33, § 2º,
alínea b, do Cód. Penal); somente lhe é defeso concedê-lo a réu
condenado a pena superior a 8 anos (ainda que primário), ou ao
reincidente, cuja pena exceda a 4 anos.
— De quantos males afligem de presente a Humanidade, nenhum
disputa primazia à terrível Aids, que arrebata ao indivíduo aquilo
que tem em maior preço: a vida.
— Uma casta de pessoas existe que merece, por mui particulares
circunstâncias, especial atenção dos espíritos bem formados,
notadamente dos constituídos em dignidade. Compõe-se daqueles
que, havendo decaído (ainda mal!) de seu estado de liberdade, foram
por isso excluídos do convívio social: os encarcerados!
92

Voto nº 2628
Apelação Criminal nº 1.230.265/0
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 24 do Cód. Penal

— A palavra da vítima de roubo, sobretudo quando em harmonia com


outros elementos de convicção do processo, pode justificar decreto
condenatório. Protagonista do fato criminoso, é pessoa a mais
capacitada para dele discorrer e indicar seu autor.
—“A alegação de estado de necessidade não é admissível em face da prática de
roubo, principalmente quando o sujeito emprega arma” (Damásio E. de
Jesus, Código Penal Anotado, 1998, p. 512).
— Só porque duas as qualificadoras, não se justifica a majoração da
pena além do mínimo legal de 1/3, o que tem lugar apenas nos
casos em que praticado o roubo por numeroso grupo de agentes,
mediante emprego de armas de fogo de alto poder ofensivo, etc.
— Naqueles casos em que os agentes se houveram com extremado
arrojo na prática de crime grave, como é o roubo – que inquieta e
indigna a sociedade –, o regime prisional fechado é o que
unicamente responde ao espírito e à letra da legislação penal. Em
verdade, além de corretivo para o infrator, “a pena é cominada e
aplicada para aterrar e afastar do crime os espíritos tendentes ao mal”
(Filangieri; apud Fernando Nery, Lições de Direito Criminal, 3a. ed.,
p. 350).
93

Voto nº 2751
Apelação Criminal nº 1.240.147/0
Art. 157, § 2º, nº I, do Cód. Penal;
art. 65, nº III, letra d, do Cód. Penal

— A palavra da vítima, nos crimes de roubo, é suficiente para


fundamentar condenação, máxime se em conformidade com outros
elementos de prova. São as seguintes as razões em que se apoia esse
entendimento: a) repugna à condição humana que alguém incrimine
inocentes; b) a vítima tem interesse em acusar aquele unicamente
que a roubou, porque desse apenas poderá reaver a “res furtiva”.
— Não se beneficia da causa de diminuição obrigatória de pena
(prevista no art. 65, nº III, letra d, do Cód. Penal) autor de roubo que,
sem base alguma na prova, afirma perante o Magistrado haver
cometido apenas furto, pois nesse caso terá ocorrido, unicamente,
simulacro de confissão (ou pseudoconfissão), no claro e malicioso
intento de alcançar vantagem processual, embora com sacrifício da
verdade.

Voto nº 2886
Apelação Criminal nº 1.245.041/8
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 63 do Cód. Penal

— A só presença de duas qualificadoras não obriga ao aumento da pena


do roubo além do mínimo legal de 1/3, o que apenas se justifica nos
casos em que praticado por grupo numeroso de agentes, mediante
emprego de arma de extraordinário poder vulnerante.
— Exceto se decretada em processo por contravenção penal,
condenação anterior a pena de multa induz reincidência (art. 63 do
Cód. Penal).
94

Voto nº 2937
Apelação Criminal nº 1.256.491/6
Art. 157, § 2º, ns. I, II e V, do Cód. Penal;
art. 6º da Lei nº 9.034/95

— A confissão judicial, por seu valor absoluto – visto se presume feita


espontaneamente –, basta à fundamentação do edito condenatório.
— A redução da pena pela colaboração espontânea do agente (delação)
não aproveita aos casos de simples concurso de pessoas, mas
unicamente às ações praticadas por organizações criminosas (art. 6º
da Lei nº 9.034/95).
— O regime prisional fechado, no início, mostra-se compatível com a
natureza do crime de roubo e a personalidade de réus que, embora
jovens, evidenciem grau assinalado de periculosidade e arrojo,
indiferentes às regras que disciplinam o convívio social.

Voto nº 3131
Apelação Criminal nº 1.268.485/5
Art. 155, §§ 1º e 4º, nº IV, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea c, do Cód. Penal

— Exime-se de censura a sentença que, olhando pela recuperação do


infrator (fim último da política criminal) e à sã doutrina que, desde
tempos imemoriais, verbera o excesso punitivo – “Summum jus,
summa injuria” (Cícero, De Officiis, I, 10) –, atenua a severidade da
lei.
— Uma pena, para ser justa, deve ter somente o grau de rigor que
baste a afastar os homens da senda do crime (César Beccaria, Dos
Delitos e das Penas, § XVI).
— Ao réu condenado a pena que não exceda a 4 anos, ainda que
reincidente, não é defeso conceder regime semiaberto; o que a lei
proíbe, em casos que tais, é a concessão de regime aberto (cf. art.
33, § 2º, alínea c, do Cód. Penal).
95

Voto nº 3528
Apelação Criminal nº 1.281.771/5
Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea c, do Cód. Penal

— Ainda que feita no inquérito policial, pode a confissão ensejar a


condenação do réu se em harmonia com outros elementos
informativos do processo.
— A só presença de duas qualificadoras não obriga ao aumento da pena
do roubo além do mínimo legal de 1/3, o que apenas se justifica nos
casos em que praticado por grupo numeroso de agentes, mediante
emprego de armas de extraordinário poder vulnerante.
— Tratando-se de réu primário, condenado a pena de curta duração,
não só é legal, mas justa e sábia a decisão que lhe concede “sursis” e
regime prisional aberto (art. 33, § 2º, alínea c, do Cód. Penal).

Voto nº 3782
Revisão Criminal nº 376.512/0
Arts. 157, § 2º, ns. I e V, e 14, nº II, do Cód. Penal

— Nos casos de roubo, a palavra da vítima tem extraordinário valor e


peso, pois manteve contacto direto com seu autor, cuja punição
unicamente lhe interessa, não a de pessoa inocente.
— É razoável a diminuição da pena em 1/3 (e não 2/3), pela tentativa,
se o autor do roubo se adiantou tanto no “iter criminis”, que pouco
faltou para consumá-lo.
96

Voto nº 3857
Embargos Infringentes nº 1.251.999/6 1
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

— A só presença de duas qualificadoras não obriga ao aumento da pena


do roubo além do mínimo legal de 1/3, o que apenas se justifica nos
casos em que praticado por grupo numeroso de agentes, mediante
emprego de armas de extraordinário poder vulnerante.
— Não há proibição legal de o Juiz conceder regime semiaberto a
condenado não-reincidente a pena inferior a 8 anos (art. 33, § 2º,
alínea b, do Cód. Penal); a concessão de tal benefício unicamente
é defesa ao réu condenado a pena que exceda a 8 anos (não
importando se primário), ou ao reincidente, cuja pena seja superior
a 4 anos.

Voto nº 3912
Apelação Criminal nº 1.312.643/0
Art. 180, “caput”, do Cód. Penal;
art. 48 do Cód. Penal

— A renúncia do réu ao direito de recurso vale por pedra de toque da


boa fundamentação e justiça da sentença que o condenou.
—“Quando não for possível, pelas condições materiais da Comarca, a execução
da pena de limitação de fim de semana, o juiz deverá proceder à concessão
do sursis (Lei nº 7.290, de 11.7.1984, que instituiu a nova Parte Geral do
CP, art. 3º, parágrafo único)” (Damásio E. de Jesus, Código Penal
Anotado, 9a. ed., p. 168).
—“Nessa quadra da vida (até aos 21 anos) o crime costuma ser episódio
isolado, para o qual não há necessidade, nem conveniência, de excessivo
rigor” (Basileu Garcia, Instituições de Direito Penal, 1975, vol. I, t. II,
p. 482).
97

Voto nº 3948
Apelação Criminal nº 1.317.055/7
Arts. 155, § 4º, ns. I e IV, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 44 do Cód. Penal

— Incensurável se mostra a decisão que condena, por tentativa de furto


em coautoria, indivíduos que, após iniciar a execução do crime,
desatam a fugir ante a aproximação da Polícia, a qual, detendo-os,
apreende na sua posse a “res furtiva” (arts. 155, § 4º, ns. I e IV, e 14,
nº II, do Cód. Penal).
— A substituição da pena privativa de liberdade por medida alternativa
é providência de efeito salutar, uma vez que, sobre cooperar na
reeducação do infrator, importa benefícios para a comunidade. Não
tenha dúvida o Juiz em adotá-la generosamente (art. 44 do Cód.
Penal).

Voto nº 3964
Agravo em Execução nº 1.315.873/9
Art. 42 do Cód. Penal

— Ainda que a Jurisprudência, ante a omissão do Cód. Penal (art. 42),


admita a detração no caso de o sujeito, “preso por outro processo em que
se vê absolvido, passa, sem solução de continuidade, da prisão injustificada
ao cumprimento da pena” (Rev. Trim. Jurisp., vol. 65, p. 276), e
naqueles em relação aos quais o fato que ensejou a decretação de
prisão provisória tenha precessão de tempo (cf. Damásio E. de Jesus,
Código Penal Anotado, 9a. ed. p. 145), não há conhecer do pedido, se
o não instruiu a Defesa com documentos hábeis à comprovação do
alegado.
98

Voto nº 3965
Apelação Criminal nº 1.304.813/2
Art. 157, § 2º, ns. I, II e V, do Cód. Penal;
art. 26, parág. único, do Cód. Penal

— A só presença de duas ou mais qualificadoras não obriga ao aumento


da pena do roubo além do mínimo legal de 1/3, o que apenas se
justifica nos casos em que praticado por grupo numeroso de
agentes, mediante emprego de armas de grosso calibre e alto
impacto.
— Se a perícia médica revelou ser o réu semi-imputável, porque
portador de epilepsia, mostra-se-lhe atendível o pedido de redução
de 1/3 da pena, com base no art. 26, parág. único, do Cód. Penal.
— Não há proibição legal de o Juiz conceder regime semiaberto a
condenado não-reincidente a pena inferior a 8 anos (art. 33, § 2º,
alínea b, do Cód. Penal); a concessão de tal benefício unicamente é
defesa ao réu condenado a pena que exceda a 8 anos (não
importando se primário), ou ao reincidente, cuja pena seja superior
a 4 anos.
99

Voto nº 4019
Apelação Criminal nº 1.323.727/5
Arts. 171, “caput”, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 65, nº III, alínea d, do Cód. Penal

— É réu de tentativa de estelionato o sujeito que, para obter vantagem


ilícita, adquire mercadorias a terceiro e, ao pretender pagá-las
mediante cartão de crédito adulterado, recebe voz de prisão da
Polícia, que lhe descobrira a fraude e o intuito criminoso.
— Não há falar em crime impossível (art. 17 do Cód. Penal), se o réu
empregou meio apto e eficaz para a prática do delito, somente o não
consumando por circunstâncias alheias à sua vontade, como foram a
diligência da vítima e a intervenção da Polícia, que lhe puseram
termo à ação criminosa.
— Prêmio de sinceridade, tem direito a especial redução de pena o réu
que, espontaneamente, confessa perante a autoridade pública o
crime que cometeu (art. 65, nº III, alínea d, do Cód. Penal).

Voto nº 4167
Apelação Criminal nº 1.323.715/9
Art. 180, “caput”, do Cód. Penal;
art. 44, nº III, do Cód. Penal

— Ainda que feita na Polícia, é a confissão prova de alto valor, apta a


justificar edito condenatório se em harmonia com os mais elementos
do processo, máxime se presente ao ato o curador do réu, pela
presunção de haver-lhe prevenido maus tratos e sevícias.
— No crime de receptação dolosa, é das circunstâncias mesmas do fato
e da personalidade do agente que se deve aferir o elemento subjetivo
do tipo, de sorte que nenhum valor têm os protestos de inocência
do réu que adquire a estranho, sem documentação regular, aparelho
eletrônico. Aquele que assim procede, por força que não pode
ignorar se trata de coisa de origem ilícita, máxime se possui
tormentosa biografia penal (art. 180, “caput”, do Cód. Penal).
100

Voto nº 4267
Apelação Criminal nº 1.342.045/8
Arts. 157, § 2º, ns. I e II, e 14, nº II, do Cód. Penal;
arts. 65, nº I, e 68 do Cód. Penal

— Equipara-se a confissão do réu à própria coisa julgada: “Confessio


habet vim rei judicatae” (Farinácio).
— A só presença de duas qualificadoras não obriga ao aumento da pena
do roubo além do mínimo legal de 1/3, o que apenas se justifica nos
casos em que praticado por grupo numeroso de agentes, mediante
emprego de armas de extraordinário poder vulnerante.
— Lesão corporal que o agente padeça na execução do crime, o direito
reconhece como circunstância atenuante inominada (art. 66 do Cód.
Penal), porque, além de guardar relação com o fato delituoso, traduz
um infortúnio com vezes de castigo, o que, pois justifica o
abrandamento do rigor da lei, por evitar excesso punitivo.
— O regime prisional fechado é, pelo comum, o que mais convém à
personalidade do autor de roubo, de seu natural violento e refratário
à disciplina social. Mas, desde que primário e de bons antecedentes,
não é defeso ao Juiz, tendo consideração aos graves e notórios
malefícios do regime recluso, deferir-lhe o benefício do semiaberto
(cf. art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal).
101

Voto nº 4274
Apelação Criminal nº 1.341.033/7
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
arts. 16 e 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

— Como prova do crime e de sua autoria tem a palavra da vítima


grande peso e alcance: pode justificar solução condenatória da lide
penal, se em harmonia com os mais elementos do processo.
— Não há invocar a causa obrigatória de diminuição de pena do
arrependimento eficaz, senão nas hipóteses em que o crime foi
cometido “sem violência ou grave ameaça à pessoa” (art. 16 do Cód.
Penal).
— A só presença de duas qualificadoras não obriga ao aumento da pena
do roubo além do mínimo legal de 1/3, o que apenas se justifica nos
casos em que praticado por grupo numeroso de agentes, mediante
emprego de armas de extraordinário poder vulnerante.
— O regime prisional fechado é, pelo comum, o que mais convém à
personalidade do autor de roubo, de seu natural violento e refratário
à disciplina social. Mas, desde que primário e de bons antecedentes,
não é defeso ao Juiz, tendo consideração aos graves e notórios
malefícios do regime recluso, deferir-lhe o benefício do semiaberto
(cf. art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal).
102

Voto nº 4599
Apelação Criminal nº 1.362.999/2
Art. 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal;
art. 70 do Cód. Penal

— O reconhecimento seguro do réu pela vítima de roubo é prova


suficiente à decretação do veredicto condenatório, pois repugna à
boa razão tenha querido acusar inocente.
— Diz-se consumado o roubo se o agente, ainda que por breve lapso
de tempo, teve a posse desvigiada da coisa subtraída à vítima
mediante violência ou grave ameaça.
—“Responde por roubos em concurso formal o sujeito que, num só contexto de
fato, pratica violência ou grave ameaça contra várias pessoas, produzindo
multiplicidade de violações possessórias” (Damásio E. de Jesus, Código
Penal Anotado, 9a. ed., p. 538).
— A só presença de duas ou mais qualificadoras não obriga ao aumento
da pena do roubo além do mínimo legal de 1/3, o que apenas se
justifica nos casos em que praticado por grupo numeroso de
agentes, mediante emprego de armas de extraordinário poder
vulnerante.
103

Voto nº 5326
Agravo em Execução nº 1.411.525/6
Art. 126 da Lei de Execução Penal

— Não merece o ferrete de ilegal nem errônea a decisão que, no


cálculo de liquidação das penas do condenado, computa-lhe, como
de pena cumprida, o tempo de remição pelo trabalho (art. 126 da
Lei de Exec. Penal). Dado que a Lei de Execução Penal é a tal respeito
omissa, pode o Juiz guiar-se pelo princípio comum que rege a
solução dos casos controversos e optar pela parcialidade mais
favorável ao sentenciado: “Semper in dubiis benigniora praeferenda
sunt”.

Voto nº 5433
Apelação Criminal nº 1.434.387/3
Art. 157, § 2º, nº I, do Cód. Penal;
art. 65, nº III, alínea d, do Cód. Penal

— Desde que acorde com os mais elementos de prova dos autos, a


confissão policial constitui prova idônea de autoria delituosa e
justifica edição de decreto condenatório.
— Prêmio de sinceridade, tem direito a especial redução de pena o réu
que, espontaneamente, confessa perante a autoridade pública o
crime que cometeu (art. 65, nº III, alínea d, do Cód. Penal).
104

Voto nº 5452
Apelação Criminal nº 1.431.547/6
Art. 155, § 4º, nº I, do Cód. Penal;
art. 65, nº III, alínea d, do Cód. Penal

— Àquele que tem consigo coisas alheias incumbe provar-lhes


exaustiva e convincentemente a posse legítima, sob pena de incorrer
na letra da lei.
— É hipótese de furto consumado (e não tentado), se o réu teve, ainda
que por breve trecho, a posse desvigiada das coisas subtraídas à
vítima.
— Não tem direito ao favor legal da atenuação da pena, previsto no
art. 65, nº III, alínea d, do Código Penal, o agente que, acusado de
crimes, confessa apenas a prática de um deles, negando os mais.
Aquele que assim procede em rigor não confessa, antes quer
escusar-se, falando a linguagem da mentira.

Voto nº 9860
Apelação Criminal nº 1.152.206-3/8-00
Arts. 33, § 2º, letra c, § 3º, e 59 do Cód. Penal;
art. 12 da Lei nº 6.368/76

— Em se tratando de réu primário, a “regra é partir da pena base no grau


mínimo” (TRF da 1a. R; Ap. nº 22.082; DJU 5.3.90, p. 3.233).
—“Nos termos do art. 33, § 2º, letra c, do Cód. Penal, o condenado não-
-reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá,
desde o início, cumpri-la em regime aberto” (STJ; HC nº 65.275/SC;
Min. Arnaldo Esteves Lima; 5a. T.; DJU 5.2.07).
105

Voto nº 6392
Agravo em Execução nº 487.213-3/6-00
Art. 126 de Execução Penal

— À luz da lógica e por princípio de justiça, a escorreita exegese do


art. 126 da Lei de Execução Penal deve compreender também, no
conceito de trabalho, a atividade escolar do preso, por sua
transcendental importância como fator de promoção humana e
poderoso instrumento de reforma de vida e costumes. Destarte,
comprovando que frequentou aulas em curso patrocinado pelo
sistema penitenciário, tem jus o condenado à remição de penas, na
proporção de um dia para cada 12 horas de efetiva atividade escolar.
— O argumento expendido no agravo (e que tira ao fim de prestigiar,
no âmbito carcerário, só o trabalho físico, em detrimento da atividade
intelectual) encerra crasso equívoco, pois justamente abate o que
devera exaltar: o labor intelectual, notabilíssimo instrumento de
promoção humana.
— Se “o estudo é a luz da vida”, como, pelo comum, entendem e
proclamam os pedagogos, como pretender, sem injúria da razão,
que o trabalho intelectual represente um “minus” em respeito do
trabalho físico?! Falou avisadamente quem disse: “Abrir escolas é
fechar prisões”; daqui se mostra bem a suma importância que o
convívio escolar tem na formação do caráter do indivíduo.
106

Voto nº 6940
Apelação Criminal nº 424.923-3/5-00
Arts. 44, § 2º, 60, § 2º, 107, nº IV e 110, § 1º, do Cód. Penal;
art. 16 da Lei nº 6.368/76

— Não admite crítica a sentença que, nos termos do art. 60, § 2º, do
Cód. Penal, substitui por multa pena privativa de liberdade igual ou
inferior a um ano. A razão é que, segundo a melhor doutrina, a Lei
nº 9.714/98, em seu § 2º, derrogou o § 2º do art. 60 do Cód. Penal
(cf. Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 17a. ed., p. 215).
—“Não há incompatibilidade na substituição da pena privativa de liberdade
de até 6 meses por pena pecuniária, mesmo quando a condenação envolve
também a pena de multa nos termos do art. 60, § 2º, do Cód. Penal”
(Rev. Tribs., vol. 752, p. 507; Min. Marco Aurélio).
— Vinte séculos nada puderam contra o esplendor da verdade destas
palavras de Cícero: “Summum jus, summa injuria” (De Officiis, I, 10),
que, em nosso vulgar, respondem assim: Justiça excessiva o mesmo é
que injustiça.
—“Só a sua consciência (do Juiz) lhe atestará se a sua sentença foi justa. E se
ela confirmar no íntimo de sua alma a confiança de ter acertado, entre
tremores e angústias, não tema as críticas, não valorize os dissabores,
porque eles serão seu pão de cada dia” (Eliézer Rosa, A Voz da Toga, 1a.
ed., p. 52).
107

Voto nº 6984
Agravo em Execução nº 885.666-3/4-00
Art. 126 da Lei de Execução Penal

— À luz da lógica e por princípio de justiça, a escorreita exegese do


art. 126 da Lei de Execução Penal deve compreender também, no
conceito de trabalho, a atividade escolar do preso, por sua
transcendental importância como fator de promoção humana e
poderoso instrumento de reforma de vida e costumes. Destarte,
comprovando que frequentou aulas em curso patrocinado pelo
sistema penitenciário, tem jus o condenado à remição de penas, na
proporção de um dia para cada 12 horas de efetiva atividade escolar.
— O argumento expendido no agravo (e que tira ao fim de prestigiar,
no âmbito carcerário, só o trabalho físico, em detrimento da atividade
intelectual) encerra crasso equívoco, pois justamente abate o que
devera exaltar: o labor intelectual, notabilíssimo instrumento de
promoção humana.
— Se “o estudo é a luz da vida”, como, pelo comum, entendem e
proclamam os pedagogos, como pretender, sem injúria da razão,
que o trabalho intelectual represente um “minus” em respeito do
trabalho físico?! Falou avisadamente quem disse: “Abrir escolas é
fechar prisões”; daqui se mostra bem a suma importância que o
convívio escolar tem na formação do caráter do indivíduo.
—“A interpretação extensiva do vocábulo trabalho, para alcançar também a
atividade estudantil, não afronta o art. 126 da Lei de Execução Penal. É
que a mens legislatoris, com o objetivo de ressocializar o condenado para o
fim de remição da pena, abrange o estudo, em face de sua inegável
relevância para a recuperação social dos encarcerados” (STJ; REsp nº
256.273/PR; 5a. T.; Min. Laurita Vaz; j. 22.3.2005; DJU 6.6.2005,
p. 359).
108

Voto nº 7392
“Habeas Corpus” nº 988.702-3/0-00
Arts. 312 e 327, § 2º, do Cód. Penal;
art. 105, nº I, alíneas a e c, da Const. Fed.

— É ao Colendo Superior Tribunal de Justiça que compete julgar


“habeas corpus” impetrado contra ato do Tribunal de Justiça,
conforme o preceito do art. 105, nº I, alíneas a e c, da Constituição
Federal, explicitado pela Emenda Constitucional nº 22, de 18.3.99 (cf.
HC nº 78.069-9/MG; 2a. T; rel. Min. Marco Aurélio; DJU 14.5.99).
— Comprovada a precária situação financeira do réu, será bem lhe
faculte a Justiça o pagamento parcelado da pena de prestação
pecuniária, na conformidade de precedente judiciário (cf. STJ; HC
nº 17.583-MS; rel. Min. José Arnaldo da Fonseca; DJU 4.2.2001,
p. 439).
109

Voto nº 7531
Apelação Criminal nº 869.285-3/8-00
Arts. 33, § 2º, alínea b, e 61, nº II, alínea h, do Cód. Penal;
Arts. 65, nº I, e 157, § 2º, ns. I e II, do Cód. Penal

— Desde que acorde com os mais elementos de prova dos autos, a


confissão policial constitui prova idônea de autoria delituosa e
justifica edição de decreto condenatório.
— Prevalece a menoridade do réu contra as mais circunstâncias
subjetivas, não excetuada a reincidência.
— Ainda que duas as qualificadoras de um mesmo crime, só uma se
considera como causa especial de aumento de pena; a outra valerá
por circunstância agravante.
— Vinte séculos nada puderam contra o esplendor da verdade destas
palavras de Cícero: “Summum jus, summa injuria” (De Officiis, I, 10),
que, em nosso vulgar, respondem assim: Justiça excessiva o mesmo é
que injustiça.
— Embora seja o regime fechado o que, em linha de princípio,
verdadeiramente condiz com a gravidade do roubo e com o caráter
maligno de quem o pratica, a Lei não proíbe que o Magistrado
defira ao condenado primário e menor de 21 anos o benefício do
regime semiaberto (art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal).
110

Voto nº 8529
Agravo em Execução nº 966.044-3/6-00
Art. 42 do Cód. Penal;
art. 12 da Lei nº 6.368/76;
art. 112 da Lei de Execução Penal

— Ainda que se possa computar, na pena privativa de liberdade, “o


tempo de prisão provisória” (art. 42 do Cód. Penal), não é admissível
dele deduzir o lapso temporal referente a outro processo a que o
sentenciado tenha respondido.
—“Admite-se a detração da pena por prisão preventiva em outro processo,
onde o réu foi absolvido, desde que o crime pelo qual o sentenciado cumpre
pena tenha sido praticado anteriormente à absolvição” (Rev. Tribs., vol.
751, p. 625; rel. Silveira Lima).

Voto nº 9022
Apelação Criminal nº 484.604-3/9-00
Arts. 43, nº IV, e 180, “caput”, do Cód. Penal

— Viola o art. 180, “caput”, do Cód. Penal aquele que adquire veículo
automotor sem documentação, pois ainda o sujeito de siso vulgar
sabe que é essa a principal característica da coisa de origem
criminosa.
— Para autorizar decisão condenatória não é mister prova perfeita e
exuberante, bastando a que dê ao Juiz o fundamento lógico
suficiente para não cair em erro crasso.
— Segundo velha máxima de jurisprudência, aquele a quem o crime
aproveita, esse o praticou: “Cui prodest scelus, is fecit”.
— Uma pena, para ser justa – escreveu o profundo Marquês de
Beccaria –, deve ter somente o grau de rigor que baste a afastar os
homens da senda do crime. “Perchè una pena sia giusta, non deve avere
che quei soli gradi d’intensione che bastano a rimuovere gli uomini dai
delitti” (Dei delitti e delle Pene, § XVI).
111

Voto nº 5319
Agravo em Execução nº 1.408.073/4
Art. 126 da Lei de Execução Penal

— Não merece o ferrete de ilegal nem errônea a decisão que, no


cálculo de liquidação das penas do condenado, computa-lhe, como
de pena cumprida, o tempo de remição pelo trabalho (art. 126 da
Lei de Exec. Penal). Dado que a Lei de Execução Penal é a tal
respeito omissa, pode o Juiz guiar-se pelo princípio comum que
rege a solução dos casos controversos e optar pela parcialidade mais
favorável ao sentenciado: “Semper in dubiis benigniora praeferenda
sunt”.
112

Voto nº 9943
“Habeas Corpus” nº 1.179.349-3/7-00
Art. 126 da Lei de Execução Penal;
art. 5º, nº LXVIII, da Const. Fed.

— Contra o parecer de notáveis juristas, que sustentam não ser o


“habeas corpus” meio apropriado a impugnar decisão de que caiba
recurso ordinário, mostra-se de bom exemplo conhecer da
impetração, porque, em tese, passa pelo remédio jurídico-processual
mais célere e eficaz para conjurar abusos e ilegalidades contra o
direito à liberdade de locomoção do indivíduo (art. 5º, nº LXVIII,
da Const. Fed.).
— É razoável computar, no cálculo de liquidação das penas do
condenado, como de pena cumprida, o tempo de remição pelo
trabalho (art. 126 da Lei de Exec. Penal). Dado que a Lei de Execução
Penal é a tal respeito omissa, pode o Juiz guiar-se pelo princípio
comum que rege a solução dos casos controversos e optar pela
parcialidade mais favorável ao sentenciado: “Semper in dubiis
benigniora praeferenda sunt”.
—“O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, no processo
MJ-8.926/94, por unanimidade, entendeu que o tempo remido deve ser
abatido da pena não só para livramento condicional como também
para indulto e progressão de regime (DJU 2.12.94, p. 18.352)” (apud
Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed.,
p. 663).
113

Voto nº 10.308
Agravo em Execução nº 993.08.034703-4
Arts. 45, § 3º, e 57 da Lei de Execução Penal;
art. 5º, nº XLV, da Const. Fed.

—“São vedadas pela lei as sanções coletivas (art. 45, § 3º). Esse princípio
decorre do preceito constitucional segundo o qual nenhuma pena passará da
pessoa do delinquente (art. 5º, nº XLV, da Const. Fed.)” (Julio Fabbrini
Mirabete, Execução Penal, 11a. ed., p. 136).
— De toda a sanção é pressuposto a culpa.
—“Condenar um possível delinquente é condenar um possível inocente”
(Nélson Hungria, Comentários ao Código Penal, 1981, vol. V, p. 65).

Voto nº 10.536
Apelação Criminal nº 993.08.010069-6
Arts. 109 e 155, “caput”, do Cód. Penal;
art. 12 da Lei nº 1.060/50

—“A parte beneficiada pela isenção do pagamento das custas ficará obrigada a
pagá-las, desde que possa fazê-lo sem prejuízo do sustento próprio ou da
família” (art. 12 da Lei nº 1.060/50).
— A confissão judicial, por seu valor absoluto – visto se presume feita
espontaneamente –, basta à fundamentação do edito condenatório.
— É certo que não se ocupa de bagatelas o Direito Penal; na esfera dos
crimes contra o patrimônio, cometidos sem violência a pessoa, só
tem relevância a lesão jurídica de valor econômico. “De minimis non
curat praetor”, já o proclamavam os romanos, como a significar que
se não devia dar peso à fumaça. Mas, aplicado inconsideradamente,
o princípio da insignificância é motivo e ocasião de afronta grave à
lei, que prevê a punição do infrator.
114

Voto nº 11.204
Embargos Infringentes nº 993.07.109972-4
Arts. 157, § 2º, ns. I e IV, e 14, nº II, do Cód. Penal;
arts. 126, § 3º, e 127 da Lei de Execução Penal;
art. 5º, nº XXXVI, da Const. Fed.

— Justiça excessiva não é senão injustiça, proclamou com assaz de


razão o eloquente Cícero: “Summum jus, summa injuria” (De Officiis,
I, 10).
— A decisão que concede remição de penas é imutável após seu
trânsito em julgado. Portanto, desconstituí-la, salvo mediante
revisão criminal, fora violar a autoridade da “res judicata”, um dos
principais dogmas em que assenta a ordem jurídica (art. 5º, nº
XXXVI, da Const. Fed.).
— Frutos de seu trabalho e, pois, estipêndio do suor, os dias remidos
do preso têm alguma coisa de sagrado que os guarda do rigor do
Juízo da execução penal.
—“É inadmissível a perda dos dias remidos por decisão judicial, em virtude de
falta grave cometida pelo sentenciado” (RJTACrimSP, vol. 39, p. 416).
— De presente, já não é lícito ao Juiz dar ao art. 127 da Lei de Execução
Penal outra interpretação que a literal restrita, por força da Súmula
Vinculante nº 9, editada pelo Colendo Supremo Tribunal Federal,
que mandou inscrever entre os dogmas jurídicos a perda, para o
condenado “que for punido por falta grave”, do direito ao tempo
remido pelo trabalho.
115

Voto nº 11.278
Apelação Criminal nº 990.08.042290-1
Art. 66 do Cód. Penal;
art. 202 do Cód. Proc. Penal;
art. 12 da Lei nº 6.368/76;
art. 33, “caput”, da Lei nº 11.343/06

— A apreensão de grande quantidade de tóxico em poder do acusado


argui para logo a ideia de tráfico (art. 33, “caput”, da Lei nº 11.343/06
— Lei de Drogas).
— Vale o depoimento pelo grau de veracidade que encerra. Com
respeito aos policiais, há decisão histórica do Pretório Excelso: “A
simples condição de policial não torna a testemunha impedida ou suspeita”
(HC nº 51.577; DJU 7.12.73, p. 9.372; apud Damásio E. de Jesus,
Código de Processo Penal Anotado, 23a. ed., p. 185).
— Não cabem críticas, senão altos louvores, à sentença que,
reconhecendo em favor de réu de tráfico de entorpecentes (art. 33
da Lei nº 11.343/06), a circunstância atenuante genérica prevista no
art. 66 do Cód. Penal, reduz-lhe a sexta parte da pena, debaixo do
argumento de que – jovem de 23 anos de idade, amasiado, pai de
três crianças, residente em alojamento coletivo e desempregado –
era “mais um brasileiro sem oportunidade de inserção social digna”, que
(ainda mal!) recorria ao comércio nefando das drogas para prover a
seu próprio sustento e da família. Não andam de todo errados os
que reputam a miséria a mãe do crime!
—“A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante,
anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei”
(art. 66 do Cód. Penal).
— Uma pena, para ser justa – escreveu o profundo Marquês de
Beccaria –, deve ter somente o grau de rigor que baste a afastar os
homens da senda do crime. “Perchè una pena sia giusta, non deve avere
che quei soli gradi d’intensione che bastano a rimuovere gli uomini dai
delitti” (Dei Delitti e delle Pene, § XVI).
—“Amparando os mais fracos, não fazemos favor, senão justiça” (Teodomiro
Dias, apud Odilon da Costa Manso, Letras Jurídicas, 1971, p. 111).
116

— Não esqueçam nunca aos Magistrados aquelas sublimes palavras de


nosso Rui: “Não estejais com os que agravam o rigor das leis, para se
acreditar com o nome de austeros e ilibados. Porque não há nada menos
nobre e aplausível que agenciar uma reputação malignamente obtida em
prejuízo da verdadeira inteligência dos textos legais” (Oração aos Moços,
1a. ed., p. 43).
117

Voto nº 11.530
Apelação Criminal nº 993.08.026871-1
Arts. 157, § 2º, nº II, 14, nº II, e 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal

— A vítima, atenta sua relevante posição no episódio criminoso, é a


pessoa mais capacitada a depor das circunstâncias em que ocorreu e
apontar-lhe o verdadeiro autor.
— Não realiza ato de simples acompanhamento físico, mas de
execução do tipo penal, o sujeito que agride a vítima para tentar
roubar-lhe o veículo (art. 157, § 2º, e art. 14, nº II, do Cód. Penal).
— Ainda que o assunto seja pábulo de controvérsias, adquiriu mais
prestígio entre os juristas de boa nota a opinião de que “o art. 65,
nº I, do Código Penal não foi alterado pelo art. 5º do novo Código Civil.
Subsiste” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a. ed.,
p. 243). A menoridade, “atualmente, continua sendo a principal das
atenuantes, por tradição (…)” (Guilherme de Souza Nucci, Código
Penal Comentado, 5a. ed., p. 355).
—“É certo que a menoridade civil cessa aos dezoito anos completos, no entanto
a norma civil não alterou a norma penal, cujo significado encontra razões
na imaturidade da pessoa” (STJ; HC nº 40.041-0-MS; 6a. T.; rel.
Nilson Naves; j. 17.3.2005; apud Mohamed Amaro, Código Penal na
Expressão dos Tribunais, 2007, p. 367).
— Não há proibição legal de que o Juiz conceda ao condenado não-
-reincidente a pena inferior a 8 anos o benefício do regime
semiaberto; o Código Penal, o que veda às expressas é que se
conceda ele ao réu condenado a pena superior a 8 anos (não
importando se primário), ou ao reincidente, cuja pena seja superior
a 4 anos (art. 33, § 2º, alínea b, do Cód. Penal).
118

Voto nº 11.819
Apelação Criminal nº 993.06.072180-1
Arts. 33, 57 e 65, nº III, alínea d, do Cód. Penal;
art. 16, parág. único, nº IV, da Lei nº 10.826/03

— Pela confissão espontânea do crime, é certo que o réu lavra contra si


a própria sentença condenatória, porém dá exemplo de grandeza
moral: demonstra que aborrece o vício da mentira e talvez se haja
arrependido da transgressão à lei. Não há ilegalidade, pois, em
compensar-lhe a nota de reincidência com a circunstância atenuante
obrigatória prevista no art. 65, nº III, alínea d, do Cód. Penal.
—“Quem se acusa a si mesmo escusa acusador, e faz leve o seu delito”
(Manuel Bernardes, Nova Floresta, 1711, t. III, p. 259).
119

Voto nº 12.250
“Habeas Corpus” nº 990.09.168428-7
Art. 126 da Lei de Exec. Penal;
art. 5º, nº LXVIII, da Const. Fed.

— Contra o parecer de notáveis juristas, que sustentam não ser o


“habeas corpus” meio apropriado a impugnar decisão de que caiba
recurso ordinário, mostra-se de bom exemplo conhecer da
impetração, porque, em tese, passa pelo remédio jurídico-processual
mais célere e eficaz para conjurar abusos e ilegalidades contra o
direito à liberdade de locomoção do indivíduo (art. 5º, nº LXVIII, da
Const. Fed.).
— É razoável computar, no cálculo de liquidação das penas do
condenado, como de pena cumprida, o tempo de remição pelo
trabalho (art. 126 da Lei de Exec. Penal). Dado que a Lei de
Execução Penal é a tal respeito omissa, pode o Juiz guiar-se pelo
princípio comum que rege a solução dos casos controversos e optar
pela parcialidade mais favorável ao sentenciado: “Semper in dubiis
benigniora praeferenda sunt”.
—“O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, no processo
MJ-8.926/94, por unanimidade, entendeu que o tempo remido deve ser
abatido da pena não só para livramento condicional como também para
indulto e progressão de regime (DJU 2.12.94, p. 18.352)” (apud
Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, 22a. ed.,
p. 663).
IV. Pena. Conversão

Voto nº 943
“Habeas Corpus” nº 322.892/7
Art. 32 da Lei das Contravenções Penais;
art. 85 da Lei nº 9.099/95

— Embora defesa (“ex vi” da Lei nº 9.268/96, que deu nova redação ao
art. 51 do Cód. Penal) a conversão da multa em pena privativa de
liberdade, nada obsta que a transforme o Juiz em restritiva de
direitos, por evitar a impunidade de quem descumpriu a obrigação
pecuniária contraída segundo os termos do art. 76 da Lei nº
9.099/95 e servir-lhe de escarmento.

Voto nº 9738
Agravo em Execução nº 1.158.436-3/0-00
Arts. 76 e 116, parág. único, do Cód. Penal;
art. 181, § 1º, alínea e, da Lei de Execução Penal

— É maior de toda crítica a decisão que, por amor do princípio que


rege o cumprimento de penas nos casos de concurso de infrações
(art. 76 do Cód. Penal), somente suspende a pena restritiva de direitos
(prestação de serviços à comunidade), sem convertê-la em privativa
de liberdade, a fim de que se execute primeiro “a pena mais grave”.
—“Assim, o executado cumprirá a pena privativa de liberdade para, somente
depois, ter a possibilidade de prestar serviços à comunidade, devendo esta ser
suspensa enquanto cumpre aquela, em respeito ao art. 116, parág. único,
do Cód. Penal” (STJ; REsp nº 662.066-SC; 5a. T.; rel. Min. José
Arnaldo da Fonseca; DJU 1.8.2005; v.u.).
121

Voto nº 2689
“Habeas Corpus” nº 375.636/1
Art. 309 do Cód. Trânsito;
art. 45 do Cód. Penal;
art. 181 da Lei de Execução Penal

— A doutrina comum e a jurisprudência dos Tribunais têm professado


o entendimento de que, se a não cumprir o réu, a pena restritiva de
direitos converte-se em privativa de liberdade pelo tempo da pena
original (cf. Damásio E. de Jesus, Lei dos Juizados Especiais Criminais
Anotada, 4a. ed., p. 85; Julio Fabbrini Mirabete, Juizados Especiais
Criminais, 2a. ed., p. 133; Rev. Tribs., vol. 755, p. 674, etc.).
— A conversão da pena restritiva de direitos em privativa de liberdade
é providência legítima, demais de pedagógica e salutar, pois traduz
sanção do direito pela inadimplência da obrigação contraída perante
a Justiça (art. 181, § 1º, alínea c, da Lei de Execução Penal).
122

Voto nº 11.370
Agravo em Execução nº 990.08.027222-5
Arts. 155, § 4º, nº IV, 43, nº V, e 44, § 4º, do Cód. Penal;
arts. 115 e 181, § 1º, alínea a, da Lei de Execução Penal

—“A imposição de serviços à comunidade como condição da pena em regime


aberto implica inaceitável bis in idem, pois a restrição de direitos possui
caráter substitutivo da pena privativa de liberdade, não podendo ser
cumulada com esta, como condição especial daquele regime” (Rev. Tribs.,
vol. 753, p. 730).
—“Conversão de pena restritiva de direito em privativa de liberdade, porque
o sentenciado não foi localizado para dar cumprimento —— Regime aberto,
sem fixação de condição especial consistente em prestação de serviços à
comunidade —— Possibilidade – O descumprimento injustificado da pena
restritiva de direitos acarreta, obrigatoriamente, a conversão em pena
privativa de liberdade —— Inteligência dos arts. 44, § 4º, do Código Penal e
181, § 1º, alínea a, da Lei de Execução Penal —— Decisão mantida ——
Recurso improvido” (TJSP; Ag. Exec. nº 990.08.056459-5, 16a. Câm.
Crim.; rel. Newton Neves).
123

Voto nº 6886
Mandado de Segurança nº 878.581-3/0-00
Arts. 42 e 51 do Cód. Penal;
arts. 168 e 182 da Lei de Execução Penal;
art. 5º, ns. LXIX e LXXV, da Const. Fed.

— A Lei nº 9.268/96 alterou a redação do art. 51 do Cód. Penal para


atribuir à pena de multa a natureza de dívida de valor, vedando,
assim, a possibilidade de sua conversão em pena privativa de
liberdade.
— Revogado o art. 182 da Lei de Execução Penal – cujo § 1º dispunha
acerca da conversão da pena de multa em detenção: “a cada dia-
-multa corresponderá um dia de detenção” –, é forçosa a consequência
de que já não há substrato jurídico nem critério legal que autorizem
a aplicação de detração analógica, ou de pena de multa (art. 42 do
Cód. Penal).
—“Somente a violação de direito líquido e certo, pedra angular do instituto,
autoriza a impetração de mandado de segurança (art. 5º, nº LXIX, da
Const. Fed.). A expressão direito líquido e certo tem o alcance próprio de
direito manifesto, evidente, que exsurge da lei com claridade” (Carlos
Alberto Menezes Direito, Manual do Mandado de Segurança, 4a. ed.,
p. 66).
124

Voto nº 7685
Agravo em Execução nº 919.057-3/6-00
Arts. 43, nº I, 45, § 2º, e 168, § 1º, do Cód. Penal;
art. 5º, nº XXXIX, da Const. Fed.

— É incensurável – porque não apenas legítima e justa, senão sábia


– a decisão que substitui por prestação pecuniária (consistente em
doação de cesta básica) a prestação de serviços à comunidade
imposta a autor de apropriação indébita, que não podia cumprir as
determinações da Justiça sem notável prejuízo de suas atividades.
— Não esqueça aos aplicadores do Direito a advertência de Anatole
France: “Se a lei é morta, deve-lhe o Juiz dar vida”.
125

Voto nº 8899
Apelação Criminal nº 889.470-3/9-00
Arts. 43, nº I, e 45, §§ 1º e 2º, do Cód. Penal;
art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil;
art. 66, nº III, alíneas b e f, da Lei de Execução Penal;
arts. 14, 16, nº IV, e 44, § 3º, da Lei nº 10.826/03

— É de bom exemplo e atende ao princípio da equidade a decisão que


substitui por prestação pecuniária – consistente em doação de cesta
básica – a prestação de serviços à comunidade imposta a autor de
crime de porte ilegal de arma de fogo (art. 14 da Lei nº 10.826/03),
que, homem de condição humilde, não a podia cumprir sem
notável prejuízo de suas atividades e meios de subsistência.
— Aquele que postula em Juízo “tem o dever processual de instruir
adequadamente o pedido que dirige ao órgão jurisdicional competente” (cf.
STF; HC nº 70.141-9; rel. Min. Celso de Mello; DJU 24.2.95, p.
3.676).
— Questões relativas à progressão de regime prisional e a outros
incidentes de execução da pena são da competência originária do
Juízo das Execuções Criminais (art. 66, nº III, alíneas b e f, da Lei de
Execução Penal); ao Tribunal, apenas em grau de recurso, cabe o
reexame do ponto ali decidido, sendo-lhe defeso deferi-lo na via
sumaríssima e estreita do “habeas corpus”.
126

Voto nº 4113
“Habeas Corpus” nº 421.356/7
Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97;
art. 44, § 4º, do Cód. Penal

— Sob pena de geral descrédito da ordem jurídica, impossível é


subtrair ao gládio inflamado da Justiça Criminal aquele que não
atendeu à sanção imposta; pelo que, é força converter em privativa
de liberdade a pena restritiva de direitos do réu que, sem relevante
motivo, deixou de cumpri-la (art. 44, § 4º, do Cód. Penal).

Voto nº 1584
Apelação Criminal nº 1.150.765/2
Arts. 157 e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 44, nº I, do Cód. Penal

— O condenado à pena de 1 ano e 4 meses de reclusão, por tentativa


de roubo simples (arts. 157, “caput”, e 14, nº II, do Cód. Penal) não
pode beneficiar-se da conversão de sua pena em restritiva de direitos
porque cometido o crime “com violência à pessoa”(cf. art. 44, nº I, do
Cód. Penal, com a nova redação da Lei nº 9.714, de 25.11.98); tem
direito, contudo, ao “sursis”, desde que primário e de bons
antecedentes (art. 44).
— O regime prisional fechado é, pelo comum, o que mais convém à
personalidade do autor de roubo, de seu natural violento e refratário
à disciplina social. Mas, se primário e de bons antecedentes, não é
defeso ao Juiz, tendo consideração aos graves e notórios malefícios
do regime recluso, deferir-lhe o benefício do aberto (cf. art. 33, § 2º,
alínea c, do Cód. Penal).
— As prisões “não ressocializam ninguém, ao contrário, corrompem,
aviltam, degradam, embrutecem” (Evandro Lins e Silva, Arca de
Guardados, 1995, p. 62).
127

Voto nº 2127
Agravo em Execução nº 1.194.713/5
Art. 155 do Cód. Penal;
Lei nº 9.714/98

— O Ministério Público, segundo princípio consagrado, é o guardião


da lei e o fiscal de sua execução (art. 257 do Cód. Proc. Penal). Sua
intervenção nos incidentes de execução de sentença traduz, pois,
dever institucional.
— Há casos, no entanto, em que ao Magistrado, sem fazer tábua rasa
das atribuições do Ministério Público, é lícito proceder de modo
que atenda, com superior exação, ao preceito da rapidez e eficiência
na prestação jurisdicional.
— A restrição da liberdade do indivíduo, ainda quando necessária, é
sempre um mal e causa sofrimento. Difícil coisa é unir a dor à
paciência: ao que padece repugna esperar. Donde o haver
proclamado um alto espírito: “Não há maior tormento no mundo que o
esperar” (Vieira, Sermões, 1959, t. V, p. 210). Por amor da cessação
do constrangimento, pode o Juiz (se é que o não deva) abreviar, com
prudente arbítrio, ritos procedimentais e fórmulas que se lhe
afigurem escusadas.
— Não esquecer nunca ao Juiz o duro anátema de Rui: “Justiça
atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta” (Oração aos
Moços, 1a. ed., p. 42).
128

Voto nº 2313
Apelação Criminal nº 1.197.767/0
Arts. 155, “caput”, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 44, § 2º, do Cód. Penal

— Em vista da certeza da prática do crime, os protestos de inocência


do réu passam por estéreis e desarrazoados. É que ninguém pode
negar o que a evidência mostra!
— A “mens legis” da substituição da pena corporal por restritiva de
direitos é impedir que réus condenados a pena de curta duração, por
delitos praticados sem violência nem ameaça à pessoa, sejam
submetidos ao rigor do cárcere, que não reeduca nem recupera,
senão que perverte e despersonaliza o infrator (art. 44, § 2º, do Cód.
Penal).
—“A promiscuidade engendra maus caracteres. É grande o influxo de
nocividade que sofrem os condenados primários nas prisões. Por isso, é
precisa a frase de Mirabeau: o amontoamento de homens, como o de maçãs,
gera a podridão” (Hoeppner Dutra, O Furto e o Roubo, 1955, p. 163).
—“Nas declarações de vontade se atenderá mais à sua intenção que ao sentido
literal da linguagem” (art. 85 do Cód. Civil).
129

Voto nº 3135
Apelação Criminal nº 1.256.519/2
Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97;
art. 44, nº III, do Cód. Penal

— O simples porte de arma de fogo sem autorização legal tipifica a


infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, independentemente
da existência de perigo concreto.
— O sistema vicariante, ou das penas substitutivas, adotado pelo
Código Penal, pressupõe, além dos requisitos objetivos, méritos
pessoais do sentenciado (art. 44, nº III).

Voto nº 3290
Agravo em Execução nº 1.267.285/3
Art. 51 do Cód. Penal;
art. 164 da Lei de Execução Penal

— Com o advento da Lei nº 9.268/96 (que alterou o art. 51 do Cód.


Penal), a multa não perdeu o caráter eminentemente penal; apenas
lhe conferiu o legislador o tratamento comum e peculiar à dívida
ativa da Fazenda Pública, sem contudo expungir-lhe o cunho
intrínseco de sanção penal.
— Competente para processar a execução da pena de multa é o Juízo
da condenação (quando isoladamente aplicada) ou a Vara das
Execuções Criminais, quando cominada cumulativamente com pena
privativa de liberdade.
130

Voto nº 3800
Apelação Criminal nº 1.294.949/8
Art. 155, “caput”, do Cód. Penal;
arts. 44, nº III, e 78 do Cód. Penal

— Conforma-se ao Direito e, portanto, exime-se de crítica a sentença


que, à conta da desabonadora biografia penal do réu e de sua
defectiva personalidade, deixa de substituir-lhe a pena privativa de
liberdade por medidas alternativas, pois a própria lei dispõe que
somente se aplicam se indicadas, cabíveis e suficientes para
reprovação e prevenção do crime (art. 44, nº III, do Cód. Penal).

Voto nº 3928
Embargos de Declaração nº 1.279.311/5 1
Art. 163, parág. único, nº III, do Cód. Penal;
art. 43, nº IV, do Cód. Penal

— Tem voga desembaraçada na Doutrina e na Jurisprudência o


entendimento de que a substituição da pena privativa de liberdade
por multa não é automática, senão que depende de condições legais
e das circunstâncias do caso. As condições a que deve atender o Juiz,
primeiro que aplique ao réu a multa vicária, são as do art. 44, ns. I,
II e III, do Cód. Penal.
— A prestação de serviços é medida alternativa benemérita e salutar,
pois aproveita juntamente ao infrator e à coletividade, cujos direitos
lesou com seu ato reprovável (art. 43, nº IV, do Cód. Penal).
131

Voto nº 3940
Apelação Criminal nº 1.314.835/7
Art. 180, “caput”, do Cód. Penal;
art. 60, § 2º, do Cód. Penal;
art. 164 da Lei de Execução Penal

— A alegação de boa-fé é incompatível com o teor de proceder de


quem adquire veículo sem a respectiva documentação legal ou não
lhe possui formal recibo de compra. Tal circunstância, por sua
anormalidade, induz à conclusão lógica de que o agente sabia se
tratava de negócio ilícito, e pois lhe justifica a condenação pelo
crime de receptação dolosa (art. 180, “caput”, do Cód. Penal).
— Não admite crítica a sentença que, nos termos do art. 60, § 2º, do
Cód. Penal, substitui por multa pena privativa de liberdade igual ou
inferior a um ano. A razão é que, segundo a melhor doutrina, a Lei
nº 9.714/98, em seu § 2º, derrogou o § 2º do art. 60 do Cód. Penal (cf.
Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado, 9a. ed., p. 188).
— Se o Juiz operou a substituição da pena corporal por multa,
escusado é fixar regime prisional ao réu, pois a Lei nº 9.268/96 (que
deu nova redação ao art. 51 do Cód. Penal) proíbe, na falta de
pagamento, sua conversão em pena detentiva; nesse caso, tocará ao
Ministério Público promover-lhe a execução (art. 164 da Lei de
Execução Penal).
132

Voto nº 4516
Agravo em Execução nº 1.350.041/7
Arts. 171, “caput, e 71 do Cód. Penal:
art. 45, § 2º, do Cód. Penal

— Incensurável – porque, sobre legítima e justa, é sábia – a decisão


que substitui por prestação pecuniária (consistente em doação de
cesta básica) a prestação de serviços à comunidade imposta a autor
de estelionato que, trabalhador rural, não a podia cumprir sem
notável prejuízo de suas atividades.
— Não esqueça aos aplicadores do Direito a advertência de Anatole
France: “Se a lei é morta, deve-lhe o Juiz dar vida”.
— Isto de não constar no elenco das penas restritivas de direito (art. 43
do Cód. Penal) a espécie “doação de cestas básicas”, não vale a obstar-lhe
a aplicação. É que a Lei nº 9.714/98 pôs termo à controvérsia, ao
assentar que “a prestação pecuniária pode consistir em prestação de outra
natureza” (art. 45, § 2º, do Cód. Penal).
133

Voto nº 4546
Apelação Criminal nº 1.353.197/9
Art. 147 do Cód. Penal;
art. 46 do Cód. Penal

— É passível do rigor da lei o sujeito que, detido por policial militar –


porque condenado pela Justiça –, entra a ameaçá-lo de morte e à
sua família.
— A ameaça, crime formal, consuma-se com o prenúncio do mal
injusto e grave a alguém, capaz de causar-lhe fundado temor (art.
147 do Cód. Penal).
— Nos crimes de ameaça, pelo geral cometidos ocultamente e sem
testemunhas, tem a palavra da vítima valor extraordinário, que se
não deve subestimar nem desmerecer, salvo hipótese de má-fé, que
não se presume, antes requer prova plena e cabal.
— Outro tanto em relação ao testemunho policial: não merece a nota
universal de tendencioso e suspeito; unicamente em face de
contradição aberta e inverossímil com o conjunto probatório é que
se lhe deve dar de mão.
— À luz do art. 46 do Cód. Penal, não tem lugar a substituição da pena
corporal inferior a 6 meses por prestação de serviço à comunidade,
mas somente por multa ou outra restritiva de direitos.
134

Voto nº 4810
Apelação Criminal nº 1.346.747/5
Art. 180, “caput”, do Cód. Penal;
art. 44, § 2º, do Cód. Penal

— A confissão do réu, na Polícia, corroborada por outros valiosos


elementos de convicção (dentre os quais, a prisão em flagrante e o
depoimento de testemunha presencial), autoriza a edição de decreto
condenatório. Com efeito, exceto se comprovado ter sido obra de
violência, a confissão do réu passa por prova excelente, “pois que é
contrário à natureza alguém afirmar contra si fato que não seja
verdadeiro” (Mário Guimarães, O Juiz e a Função Jurisdicional, 1958,
p. 309).
— No crime de receptação dolosa, é das circunstâncias mesmas do fato
e da personalidade do agente que se deve aferir o elemento subjetivo
do tipo, de sorte que nenhum valor têm os protestos de inocência
do réu que adquire a estranho, sem documentação regular, veículo
automotor. Aquele que assim procede, por força que não pode
ignorar se trata de coisa de origem ilícita, máxime se possui
tormentosa biografia penal (art. 180, “caput”, do Cód. Penal).
— Se primário o réu, pode o Juiz substituir-lhe por restritiva de
direitos (v.g., prestação pecuniária) a pena de uma ano de reclusão a
que foi condenado, por infração do art. 180, “caput”, do Cód. Penal,
pois conta com o beneplácito da lei (art. 44, § 2º, 1a. parte, do Cód.
Penal).
135

Voto nº 4887
Apelação Criminal nº 1.387.179/1
Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97

— A confissão judicial, por seu valor absoluto – visto se presume feita


espontaneamente –, basta à fundamentação do edito condenatório.
— O simples porte de arma de fogo sem autorização legal tipifica a
infração do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, independentemente da
existência de perigo concreto.
— Ao cominar pena àquele que, sem licença da autoridade, traz arma
consigo, pôs a mira o legislador em “evitar a posse indiscriminada de
armas de fogo e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade
armada sem que existam controles ou regras gerais estabelecidas” (Luiz
Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo, 1998, p. 107).
— Ainda que desmuniciada a arma de fogo, incorre o agente na letra
do art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97, se apta a produzir disparos,
pois que eventualmente poderá utilizá-la e ofender a integridade
física de outrem.
— A aplicação de medida restritiva de direitos (prestação de serviços à
comunidade) a autor de delito de porte ilegal de arma de fogo
prefere à concessão do “sursis”, por mais recomendável à luz
do princípio cautelar da prevenção e reprovação do crime, e
expressamente indicada em texto legal (art. 77, nº III, do Cód. Penal).
136

Voto nº 4935
Apelação Criminal nº 1.391.437/6
Arts. 157, “caput”, e 14, nº II, do Cód. Penal;
art. 44, nº I , do Cód. Penal;
art. 89 da Lei nº 9.099/95 e Lei nº 10.259/01

— A palavra da vítima, que o incrimine com segurança, é prova que


basta à condenação de autor de roubo, sobretudo se apreendida em
seu poder a “res furtiva”, pois não pode enganar-se alguém acerca
do sujeito que o roubou, se o reconhece de pronto e ainda tem entre
mãos o produto do crime (art. 157 do Cód. Penal).
— Autor de roubo, mesmo na forma tentada simples, não faz jus à
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos,
benefício de que estão excluídos os que praticarem crime “com
violência ou grave ameaça à pessoa” (art. 44, nº I, do Cód. Penal).
— De aplicação exclusiva no Juizado Especial Federal, a Lei nº
10.259/01 não compreende os ilícitos penais de menor potencial
ofensivo da competência da Justiça Criminal do Estado, nem lhes
alterou o conceito. Pelo que, na esfera estadual, não tem jus ao
benefício da transação penal o autor de crime a que é cominada
pena superior a um ano (arts. 61 e 76 da Lei nº 9.099/95).
— Porque não revogado pela Lei nº 10.259/01, o art. 61 da Lei nº
9.099/95 – que define as infrações penais de menor potencial
ofensivo – é o que serve de estalão para a proposta de transação
penal (art. 76).
— Em caso de tentativa de roubo, se primário e de bons antecedentes
o réu, não é defeso ao Juiz, tendo consideração aos graves e notórios
malefícios do regime recluso, deferir-lhe o benefício do regime
aberto (cf. art. 33, § 2º, alínea c, do Cód. Penal).
137

Voto nº 5118
Apelação Criminal nº 1.378.551/5
Art. 171, “caput”, do Cód. Penal

— A confissão, os juristas sempre a reputaram a rainha das provas


(“regina probationum”); se produzida em Juízo, é absoluto seu valor,
visto se presume livre dos vícios de inteligência e vontade, e pode
justificar edito condenatório.
— Pratica estelionato em seu tipo fundamental o agente que, em
proveito próprio e mediante falsificação, emite cheque de terceiro,
causando-lhe prejuízo (art. 171, “caput”, do Cód. Penal).
— Ao renitente e empedernido autor de estelionatos, que se atira sem
freios à estrada tortuosa dos ilícitos penais, só o regime prisional
fechado serve a conter-lhe o impulso criminoso e a reparar o mal
que causou à sociedade.
138

Voto nº 5292
Apelação Criminal nº 1.370.009/1
Art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97;
art. 44 do Cód. Penal

— A confissão judicial, por seu valor absoluto – visto se presume feita


espontaneamente –, basta à fundamentação do edito condenatório.
— A decisão condenatória, baseada na confissão do réu em Juízo e na
apreensão do objeto material do crime em seu poder, não admite
censura, antes se mostra digna de confirmação por fundar-se em
prova excelente.
— Não deve o Juiz negar o benefício da lei ainda ao mais vil dos
homens, se atende aos requisitos para sua concessão.

Voto nº 7396
“Habeas Corpus” nº 986.643-3/6-00
Arts. 312 e 327, § 2º, do Cód. Penal;
art. 147 da Lei de Execução Penal;
art. 5º, inc. LVII, da Const. Fed.

— É superior a toda controvérsia que o trânsito em julgado da decisão


condenatória constitui requisito objetivo do processo de execução da
“pena restritiva de direitos” (art. 147 da Lei de Execução Penal).
“Interpretatio cessat in claris”.
—“A sentença condenatória à pena restritiva de direito não comporta execução
provisória (Constituição da República, art. 5º, inc. LVII, e Lei de Execução
Penal, art. 147)” (STJ; HC nº 28.290/RS; 6a. T.; rel. Min. Hamilton
Carvalhido; DJU 13.12.2004).
139

Voto nº 8396
Agravo em Execução nº 1.023.034-3/6-00
Arts. 43, nº IV, 50, 2a. parte, e 168, § 1º, nº III, do Cód. Penal;
art. 169, “caput”, da Lei de Execução Penal

— Nada mais temerário que incumbir de tarefas e serviços relevantes, à


maneira de pena alternativa, pessoa de cuja saúde mental se não
tenha clara notícia (art. 43, nº IV, do Cód. Penal).
— Embora não possa o Juiz da execução cancelar a multa, nem isentar
o condenado de seu pagamento (cf. Rev. Tribs., vol. 591, p. 359),
faculta a lei que este “se realize em parcelas mensais” (art. 50 do Cód.
Penal, 2a. parte).

Voto nº 10.439
Agravo em Execução nº 993.08.039287-0
Arts. 76 e 116, parág. único, do Cód. Penal;
art. 181, § 1º, alínea e, da Lei de Execução Penal

— É maior de toda crítica a decisão que, por amor do princípio que


rege o cumprimento de penas nos casos de concurso de infrações
(art. 76 do Cód. Penal), somente suspende a pena restritiva de direitos
(prestação de serviços à comunidade), sem convertê-la em privativa
de liberdade, a fim de que se execute primeiro “a pena mais grave”.
—“Assim, o executado cumprirá a pena privativa de liberdade para, somente
depois, ter a possibilidade de prestar serviços à comunidade, devendo esta ser
suspensa enquanto cumpre aquela, em respeito ao art. 116, parág. único,
do Cód. Penal” (STJ; REsp nº 662.066-SC; 5a. T.; rel. Min. José
Arnaldo da Fonseca; DJU 1.8.2005; v.u.).
140

Voto nº 10.269
Apelação Criminal nº 993.08.028930-1
Arts. 44, §§ 2º e 3º, e 155, “caput”, do Cód. Penal;
art. 5º, nº LXIII, da Const. Fed.

— Repugna à razão isto de alguém aguardar, com resignação de Jó, o


momento do interrogatório judicial, para só então lavrar seu
eloquente protesto de inocência. O que prefere o silêncio – aliás,
direito que a Constituição da República assegura a todo o acusado
(art. 5º, nº LXIII) – é certo que não confessa a autoria do delito,
mas também não a nega.
— Postergar a autodefesa é risco tão grande, que somente correm
aqueles que, bem cientes de sua culpa, nada ou pouco se lhes dá que
a própria liberdade se deite a perder. O homem inocente e que se
acha em seu acordo e razão, esse não espera pela undécima hora:
apenas o acusem injustamente, logo se defende com todo o vigor
da palavra. Donde o haverem os romanos cunhado a
sentenciúncula: “Qui tacet, consentire videtur” (o que, vertido em
vulgar, soa: Quem cala, consente).
— Palavra de vítima, não há desprezá-la em princípio. Deveras, quem
mais abalizado para discorrer de um fato senão aquele que lhe foi o
protagonista?! Exceto na hipótese (mui rara) de mentira ou erro,
suas declarações bastam a acreditar um termo de condenação.
— Outro tanto em relação ao testemunho policial: não merece a nota
universal de tendencioso e suspeito; unicamente em face de
contradição aberta e inverossímil com o conjunto probatório é que
se lhe deve dar de mão.
— Não desacredita a Justiça nem recomenda mal o Juiz substituir a
pena privativa de liberdade de autor de furto mínimo, ainda que
reincidente, por restritiva de direitos, socialmente recomendáveis
(art. 44, § 3º, do Cód. Penal).
141

Voto nº 10.480
Apelação Criminal nº 993.08.037871-1
Arts. 28, nº II, 44, § 2º, 46, § 3º, e 47, nº IV, do Cód. Penal;
art. 155, § 4º, nº IV, do Cód. Penal:
art. 156 do Cód. Proc. Penal

— Não se exime da tacha de larápio (e, pois, cai sob o rigor da lei) o
sujeito que, tendo-se enfrascado em bebidas alcoólicas, entra em
propriedade alheia, subtrai animal (boi), que abate, e da carne faz
churrasco para amigos e vizinhos.
— O argumento da embriaguez não aproveita ao infrator, exceto se
completa e involuntária. A embriaguez voluntária, dispõe a lei que
não elide a responsabilidade criminal do agente, porque não lhe
exclui a imputabilidade (art. 28, nº II, do Cód. Penal).
— Ainda que do fato criminoso praticado na calada da noite não haja
outras testemunhas mais que as estrelas do céu, incensurável é a
sentença que, baseada em confissões extrajudiciais harmônicas e
verossímeis, condena sujeitos acusados de abigeato, ou furto de
gado.
—“A confissão atendível é raio de luz que ilumina de jato todos os escaninhos
dos crimes ocultos, dissipa as dúvidas, orienta as ulteriores investigações e
conforta de um só passo os escrúpulos do juiz e as preocupações de justiça dos
homens de bem” (Hélio Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980, vol. I,
p. 382).
— Em obséquio ao espírito da lei – que previne todo prejuízo à
jornada normal de trabalho do condenado (art. 46, § 3º, do Cód.
Penal) –, é de bom exemplo, nos casos urgentes, alterar medida
substitutiva penal aplicada ao réu (prestação de serviços à
comunidade) para duas restritivas de direitos: interdição temporária
de direitos (proibição de frequentar determinados lugares) e
multa (arts. 44, § 2º, 43, nº V, e 47, nº IV, do Cód. Penal). Seria
desarrazoado, com efeito, obrigá-lo a prestar serviços gratuitos à
comunidade em detrimento de sua própria subsistência e da família.
142

Voto nº 10.979
Agravo em Execução nº 993.08.035930-0
Art. 44, § 4º, do Cód. Penal;
arts. 181, § 1º, alínea a, e 197 da Lei de Execução Penal;
art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro

—“A imposição de serviços à comunidade como condição da pena em regime


aberto implica inaceitável bis in idem, pois a restrição de direitos possui
caráter substitutivo da pena privativa de liberdade, não podendo ser
cumulada com esta, como condição especial daquele regime” (Rev. Tribs.,
vol. 753, p. 730).
—“Conversão de pena restritiva de direito em privativa de liberdade, porque
o sentenciado não foi localizado para dar cumprimento —— Regime aberto,
sem fixação de condição especial consistente em prestação de serviços à
comunidade —— Possibilidade – O descumprimento injustificado da pena
restritiva de direitos acarreta, obrigatoriamente, a conversão em pena
privativa de liberdade —— Inteligência dos arts. 44, § 4º, do Código Penal e
181, § 1º, alínea a, da Lei de Execução Penal —— Decisão mantida ——
Recurso improvido” (TJSP; Ag. Exec. nº 990.08.056459-5, 16a. Câm.
Criminal; rel. Newton Neves).
— Se o sentenciado cumpriu inteiramente sua pena, carece de legítimo
interesse o pedido de reforma da decisão. Em consequência, agravo
em execução interposto com essa finalidade está prejudicado, visto
perdeu o objeto (art. 197 da Lei de Execução Penal).
143

Voto nº 11.458
Agravo em Execução nº 990.08.158527-8
Art. 181, § 1º, alínea e, da Lei de Execução Penal;
arts. 76 e 116, parág. único, do Cód. Penal

— É maior de toda crítica a decisão que, por amor do princípio que


rege o cumprimento de penas nos casos de concurso de infrações
(art. 76 do Cód. Penal), somente suspende a pena restritiva de direitos
(prestação de serviços à comunidade), sem convertê-la em privativa
de liberdade, a fim de que se execute primeiro “a pena mais grave”.
—“Assim, o executado cumprirá a pena privativa de liberdade para, somente
depois, ter a possibilidade de prestar serviços à comunidade, devendo esta ser
suspensa enquanto cumpre aquela, em respeito ao art. 116, parág. único,
do Cód. Penal” (STJ; REsp nº 662.066-SC; 5a. T.; rel. Min. José
Arnaldo da Fonseca; DJU 1.8. 2005; v.u.).
144

Voto nº 11.860
Apelação Criminal nº 993.02.010568-9
Arts. 342, § 1º, do Cód. Penal;
arts. 44, § 2º, 107, nº IV, e 110, § 1º, nº V, do Cód. Penal;
art. 61 do Cód. Proc. Penal

— A substituição da pena privativa de liberdade por medida alternativa


é providência de efeito salutar, uma vez que, sobre cooperar na
reeducação do infrator, importa benefícios para a comunidade. Não
tenha dúvida o Juiz em adotá-la generosamente (art. 44 do Cód.
Penal).
— Se superior a um ano a pena privativa de liberdade aplicada ao réu,
somente a poderá substituir o Juiz por uma restritiva de direitos e
multa, ou por duas restritivas de direitos, conforme a disposição do
art. 44, § 2º, do Cód. Penal.
— O decurso do tempo apaga a memória do fato punível e a
necessidade do exemplo desaparece (Abel do Vale; apud Ribeiro
Pontes, Código Penal Brasileiro, 8a. ed., p. 154).
— A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui
forma de prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria
sentença condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado,
18a. ed., p. 358).
145

Voto nº 12.203
Agravo em Execução nº 990.09.145619-5
Arts. 181, § 1º, alínea a, e 197 da Lei de Execução Penal;
arts. 180, “caput”, e 44, § 4º, do Cód. Penal

—“A imposição de serviços à comunidade como condição da pena em regime


aberto implica inaceitável bis in idem, pois a restrição de direitos possui
caráter substitutivo da pena privativa de liberdade, não podendo ser
cumulada com esta, como condição especial daquele regime” (Rev. Tribs.,
vol. 753, p. 730).
—“Conversão de pena restritiva de direito em privativa de liberdade, porque
o sentenciado não foi localizado para dar cumprimento —— Regime aberto,
sem fixação de condição especial consistente em prestação de serviços à
comunidade —— Possibilidade.
—“O descumprimento injustificado da pena restritiva de direitos acarreta,
obrigatoriamente, a conversão em pena privativa de liberdade ——
Inteligência dos arts. 44, § 4º, do Código Penal e 181, § 1º, alínea a, da
Lei de Execução Penal —— Decisão mantida —— Recurso improvido”
(TJSP; Ag. Exec. nº 990.08.056459-5, 16a. Câm. Criminal; rel.
Newton Neves).
— Se o sentenciado cumpriu inteiramente sua pena, carece de legítimo
interesse o pedido de reforma da decisão. Em consequência, agravo
em execução interposto com essa finalidade está prejudicado, visto
perdeu o objeto (art. 197 da Lei de Execução Penal).
146

Voto nº 12.416
Apelação Criminal nº 993.04.008432-6
Art. 16 da Lei nº 6.368/76; art. 333, “caput”, do Cód. Penal;
arts. 44, 107, nº IV, 109, nº V, e 110, § 1º, do Cód. Penal;
art. 61 do Cód. Proc. Penal

— Exemplo típico de infração do art. 333 do Cód. Penal (corrupção


ativa), incorre na sanção da lei o sujeito que oferece dinheiro a
policial para que não lhe efetue a prisão.
— A substituição da pena privativa de liberdade por medida alternativa
é providência de efeito salutar, uma vez que, sobre cooperar na
reeducação do infrator, importa benefícios para a comunidade. Não
tenha dúvida o Juiz em adotá-la generosamente (art. 44 do Cód.
Penal).
— Se superior a um ano a pena privativa de liberdade aplicada ao réu,
somente a poderá substituir o Juiz por uma restritiva de direitos e
multa, ou por duas restritivas de direitos, conforme a disposição do
art. 44, § 2º, do Cód. Penal.
— O decurso do tempo apaga a memória do fato punível e a
necessidade do exemplo desaparece (Abel do Vale; apud Ribeiro
Pontes, Código Penal Brasileiro, 8a. ed., p. 154).
— A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º, do Cód. Penal) “constitui
forma de prescrição da pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria
sentença condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código Penal Anotado,
18a. ed., p. 358).
V. Casos Especiais
(Reprodução integral do voto)
PODER JUDICIÁRIO

1
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.031.991/8


Comarca: São Pedro
Apelante: JHGO
Apelado: Ministério Público

Voto nº 167
Relator

— Quando o apelante deliberou entre si


não proceder à entrega da mercadoria à
empresa-vítima, como lhe cumpria,
nesse mesmo ponto cometeu o crime de
apropriação indébita, porque aí inverteu
o título de posse: de mero detentor da
coisa alheia (“detentor alieno nomine”)
passou a possuidor “animo domini”, ou
seu proprietário aparente.
150

- Peculiar às hipóteses nas quais existe


reciprocidade de créditos e débitos
compensáveis, o confronto de contas
não tem lugar em simples relações
empregatícias. Ainda nos casos de
exceção, não cabe a prestação de contas,
se patente a indevida apropriação. A
doutrina não é menos que do perínclito
Nélson Hungria (cf. Comentários ao
Código Penal, 1980, vol. VII, p. 168).
-“Não é necessária prévia prestação de contas
para apurar-se a responsabilidade da
apropriação indébita, se outros meios de
prova repontam idôneos” (STF; in
JTACrSP, vol. 93, p. 393; rel. Min.
Francisco Rezek).
- Tendo confessado seu delito, é certo que
o apelante fazia jus à mitigação de sua
pena; esta, no entanto, já lhe fora fixada
no mínimo legal; incabível, pois, sua
redução: “As atenuantes não permitem a
redução da pena abaixo do mínimo previsto
na lei para o crime” (STF; in Rev. Tribs.,
vol. 644, p. 379).
- O haver o apelante reconhecido e
publicado sua falta, batendo no peito,
compungido, não deixa de edificar a
quem quer lhe conheça um dia o
episódio que o trouxe à barra da Justiça.
Nos autos ficará o registro de que o
sangue ainda lhe não esqueceu o
caminho do rosto! E isto não será pouco
de louvar!

1. Irresignado com a r. sentença de fls. 115/118,


proferida pelo MM. Juízo de Direito da Comarca de
São Pedro, que o condenou a cumprir, em regime
151

aberto, a pena de 1 ano e 4 meses de reclusão, por


infração do art. 168, § 1º, nº III, do Código Penal, com
“sursis”, dela recorre JHGO, levando a mira na
absolvição, visto não tipificado o delito, à falta de prévia
prestação de contas.

A dar-se o caso, porém, que se mantenha o edito


condenatório, seja reduzida ao apelante sua pena, em
vista da circunstância atenuante do art. 65, nº I, alínea d,
do Código Penal (confissão espontânea da autoria do
crime), e substituída por multa, na conformidade do art.
170 do mencionado estatuto (fls. 127/128).

O órgão do Ministério Público de Primeira


Instância contrariou o apelo, e o de Segunda, em claro e
escorreito parecer do Dr. Luiz Cláudio Pastina, opinou
pelo seu improvimento (fls. 137/140).

É o relatório.

2. Foi posta ação contra o réu porque se apropriara


de 100 jogos de lençóis bordados da empresa Benevides
Têxtil - Imp. e Exp. Ltda., dos quais tinha a posse, como
seu funcionário.
152

Os elementos informativos e probatórios


entranhados nos autos, dentre esses notadamente o
interrogatório do réu, demonstraram à saciedade a
procedência da imputação.

De feito, assim na Polícia como em Juízo,


confessou o réu, sem ambages nem rebuços, a autoria
do delito que lhe foi imputado.

Motorista que era da empresa-vítima, foi


incumbido de promover o transporte de tais peças de
roupa. Mas, “em um momento de fraqueza” (que assim
qualificou seu ato), reteve-as em seu poder; depois
determinou vendê-las nesta Capital, sem o conseguir,
porém.

Desalentado e receoso de que alguém lhe


descobrisse o indigno proceder, assentou a traça de dar
cabo dos malsinados lençóis. Primeiro, ateou fogo a
alguns deles; todavia, como a fumaça espertasse geral
atenção, decidiu enterrá-los; e foi o que fez.

Telefonema anônimo, no entanto, deu a conhecer


à Polícia que o réu se apropriara das roupas. Instado por
seus agentes, informou-lhes onde as ocultara, e assim
foram apreendidas e entregues à vítima.
153

3. Quando o apelante entre si deliberou não proceder


à entrega das roupas à empresa-vítima, como lhe
cumpria, nesse mesmo ponto cometeu o crime de
apropriação indébita, porque aí inverteu o título da
posse, convolando de mero detentor da coisa alheia
(“detentor alieno nomine”) para possuidor “animo domini”,
ou seu proprietário aparente.

Visto era empregado da vítima, configurou-se a


forma qualificada do tipo. O confronto de contas –
argumento de que fez grande cabedal o douto patrono
do apelante – era no particular de todo despiciendo.
Peculiar às hipóteses nas quais exista reciprocidade de
créditos e débitos compensáveis, não tem lugar em
simples relações empregatícias. Ainda naqueles casos
que passam por exceções, a prestação de contas não tem
lugar, se patente a indevida apropriação. A doutrina é
não menos que do perínclito Nélson Hungria (cf.
Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII, pág. 168).
Esta, por igual, é a jurisprudência dos Tribunais, como
o persuade o venerando aresto citado no parecer da
ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, do teor
seguinte:
154

“Não é necessária prévia prestação de contas para


apurar-se a realidade da apropriação indébita, se outros
meios de prova repontam idôneos” (STF; rel. Min.
Francisco Rezek; apud JTACrSP, vol. 93, p. 393).

Tendo confessado seu delito, é certo que o


apelante faria jus à mitigação de sua pena; esta, no
entanto, já lhe fora fixada no mínimo legal; incabível,
pois, sua redução: “As atenuantes não permitem a redução
da pena abaixo do mínimo previsto na lei para o crime”
(STF, in Rev. Tribs., vol. 644, p. 379; apud Celso
Delmanto, Código Penal Comentado, 1991, p. 108).

Contudo, o haver o apelante reconhecido e


publicado sua falta, batendo no peito, compungido, não
deixa de edificar a quem quer lhe conheça um dia o
episódio que o trouxe à barra da Justiça. Nos autos
ficará o registro de que o sangue ainda lhe não esqueceu
o caminho do rosto! E isto não será pouco de louvar!

A pena mínima prevista para a modalidade


criminosa do art. 168, § 1º, nº III, do Código Penal (1 ano
e 4 meses de reclusão e 13 dias-multa) obsta a aplicação
ao réu do benefício do art. 89 da Lei nº 9.099/95 (Lei
dos Juizados Criminais).
155

Decisão que se apoia em elementos de certeza da


materialidade do fato delituoso (v.g.: boletim de
ocorrência de fl. 3, auto de apreensão de fl. 4, de
avaliação de fl. 8, de entrega e reconhecimento de fl. 9)
e de sua autoria (confessa pelo réu e confirmada
convincentemente pelo representante legal da firma-
vítima e por testemunhas acima de toda a exceção) e
que aplicou à espécie o Direito positivo com critério
seguro, não é passível de reforma, senão confirmação.

4. Daqui as razões por que, a despeito da exemplar


dedicação e talentos revelados pela defesa do apelante,
nego provimento ao recurso.

São Paulo, 27 de dezembro de 1996


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

2
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.070.033/0


Comarca: São Paulo
Apelante: GMSP
Apelado: Ministério Público

Voto nº 562
Relator

— “A verdade é mais frequente na boca


dos homens que a mentira” (Antônio
Dellepiane, Nova Teoria da Prova, 1950,
p. 140; trad. Érico Maciel).
— A palavra da vítima de roubo é
geralmente digna de crédito porque,
referindo-se às circunstâncias em que
ele ocorreu e à pessoa de seu autor, só
a expressão da verdade lhe haverá
de interessar; obrar o contrário, o
mesmo fora que cometer o delito de
denunciação caluniosa.
157

— Quando natural e plausível era falar, não


estranha se tome por confissão o
proceder de quem, apartando-se da
linguagem e estilos da inocência, prefere
permanecer calado, indiferente à
advertência do aforismo “Qui tacet,
consentire videtur” (em vulgar: Quem cala,
consente).
— Em caso de roubo, é desnecessária a
apreensão da arma para o reconhecimento
da qualificadora; basta a prova, ainda
que oral (mas idônea), de que, ao
cometer o crime, foi com ela que o
sujeito intimidou a vítima.
— Inexiste quebra do preceito do “Non bis
in idem” se o Magistrado fixa ao réu a
pena-base além do mínimo legal, à conta
de seus antecedentes desabonadores e
defeituosa personalidade, exasperando-a
depois pela nota da reincidência: que são
diversas as causas dos aumentos.

1. Da r. sentença proferida pelo MM. Juízo de


Direito da 3a. Vara Criminal da Capital, que o
condenou a cumprir, em regime fechado, a pena de 7
anos, 4 meses e 6 dias de reclusão e 14 dias-multa, por
infração do art. 157, § 2º, ns. I e II, combinado com o
art. 61, do Código Penal, apela GMSP para este Egrégio
Tribunal com o intuito de reformá-la.

Alega que é frágil a prova, pois se baseara


unicamente nas declarações da vítima. Sua absolvição,
destarte, era de rigor. Mas, a manter-se o decreto
158

condenatório, fora de afastar a majorante prevista no


inciso I do § 2º do art. 157 do Código Penal, porque não
apreendida a arma nem comprovada, mediante perícia,
sua capacidade nocente; requer, por último, seja
cancelado o aumento decorrente da reincidência, a qual
já influíra na fixação da pena-base; se não, estar-se-á
ofendendo de frente o preceito do “Non bis in idem” (fls.
97/101).

A digna Promotoria de Justiça, em vigorosas


contrarrazões, impugnou a pretensão do réu e pleiteou
a manutenção do edito condenatório (fls. 103/109).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


correto parecer exarado pelo Dr. Roberto Gomes dos
Reis Ramalho, opina pelo improvimento do recurso (fls.
114/116).

É o relatório.

2. Foi instaurado processo-crime contra o réu


porque, no dia 13 de fevereiro de 1996, cerca de 11h30,
na Avenida Politécnica, no interior da USP, obrando
em concurso com outro indivíduo, subtraiu para si,
mediante grave ameaça exercida com emprego de arma
159

de fogo, o veículo da marca Volkswagen/Parati, de placas


CBE-8416, de propriedade de John Fitzgerald Junior.

Condenou-o, afinal, a r. decisão recorrida.

Inconformado, o réu apelou.

No entanto, em que pese aos talentos e esforços da


advogada que o assiste, não é digno de acolhimento o
recurso, cujas razões não lograram derruir os sólidos
fundamentos da r. decisão apelada.

Afirmou a vítima que estava na Cidade


Universitária, quando dela se acercaram dois indivíduos,
um dos quais armado de revólver. Após anunciarem-lhe
que se tratava de roubo, ordenaram ficasse no carro,
com o que a vítima concordou. No veículo entraram
também os malfeitores; exigiram da vítima a carteira de
dinheiro; a seguir, determinaram que lhes revelasse a
senha do cartão magnético. Em tudo prontamente
atendidos, os rapinadores deixaram a vítima perto da
Ponte do Jaguaré e fugiram com seu carro e demais
bens e pertences, não mais recuperados. Utilizando-se
indevidamente do cartão dela, efetuaram saques
bancários no valor de R$ 1.100,00.
160

Tudo isto declarou o ofendido em Juízo e, ainda,


reconheceu o réu presente à audiência. Fê-lo
enfaticamente: reconhecia-o sem qualquer dúvida
(fl. 60).

Esse réu era Picanço, o apelante.

3. Isto de terem sido as palavras da vítima a base


principal de sustentação da denúncia não constitui
matéria para estranheza nem escrúpulos. De feito,
protagonista do infeliz evento, quem, senão a vítima,
poderia dele discorrer com mais propriedade e exação?!

É possível que, movida por baixas preocupações,


alguma vítima haja mentido em Juízo. Trata-se, porém,
de fenômeno excepcional, que se não presume, antes
reclama prova cabal e perfeita. É que as pessoas de vida
pregressa ilibada ordinariamente falam verdade. Para
elas foi que a Filosofia cunhou a parêmia: A verdade é
mais frequente na boca dos homens que a mentira (apud
Antonio Dellepiane, Nova Teoria da Prova, 1958, p. 140;
trad. Érico Maciel).

Sobretudo na espécie sujeita, não pode ser


menoscabado o valor das declarações da vítima.
Deveras, no dia mesmo do roubo, ela o comunicou à
161

Polícia, com a descrição das características de seu autor


(fl. 6). Um mês após, no 93º Distrito Policial,
reconheceu, com certeza absoluta (fl. 9), o apelante
como a um dos autores do roubo.

Os caracteres que lhe atribuiu a vítima, esses


mesmos reproduziu o Boletim de Identificação
Criminal de fl. 18 (altura, acidentes de cor, etc.)

Faz ao intento, pois, venerando aresto deste


Egrégio Tribunal:

“Em sede do delito de roubo a palavra da vítima merece


crédito porquanto, incidindo sobre o proceder de
desconhecido, não teria ela proveito em mentir e até
poderia incorrer no crime de denunciação caluniosa”
(RJTACrimSP, vol. 32, p. 282; rel. Penteado
Navarro).

4. Demais das palavras da vítima – sempre firmes,


coerentes e verossímeis –, onde os autos deparam forte
argumento em prol da tese da culpabilidade do réu é no
pesado silêncio que guardou, na Polícia, quando
arguido acerca dos fatos.
162

Ninguém ignora, em verdade, que, entre as


sublimes conquistas do indivíduo no Estado
Democrático, inscreve-se a de permanecer calado no
instante de seu interrogatório, conforme o disposto no
art. 5º, nº LXIII, da Constituição da República.

De igual passo, não há sujeito que, salvo se fora de


sua razão e acordo, não tome o silêncio por confissão,
quando natural e plausível era que falasse, e ainda
clamasse com todas as forças de sua alma contra a
injusta acusação, pois estes são os estilos da inocência!

O apelante, podendo repelir, desde logo, a


gravíssima imputação, preferiu, no entanto, manter-se
calado, e assim não pôde elidir as consequências do
antiquíssimo brocardo: “Qui tacet, consentire videtur”, o
que, em vulgar, quer dizer: Quem cala, consente.

5. O conjunto probatório não é manco ou frouxo,


como ao apelante pudera acaso parecer; ao revés,
apresenta-se convincente e seguro quanto à sua
responsabilidade penal.

O decreto de condenação exarado contra o réu,


portanto, não fora somente justo, mas também
necessário.
163

A absolvição, que ardorosamente sua defensora


propugna, não cabe, assim, no particular.

Não colhe, outro tanto, a crítica ao julgado, no


ponto em que, a despeito da falta de apreensão da arma,
reconheceu a causa especial de aumento de pena.

É que, para autorizar a exasperação da pena, basta


a prova, ainda que oral (mas idônea), de que, no roubo,
houve ameaça com arma.

Esta é a lição da Jurisprudência:

“Em sede do delito de roubo, para o reconhecimento da


qualificadora de uso de arma, é desnecessária a sua
apreensão, sendo suficiente que a sua utilização encontre
fundamento nos informes da vítima” (RJTACrimSP,
vol. 33, p. 290; rel. Cláudio Caldeira).

Por outra parte, inexistiu quebra do preceito do


“Non bis in idem”.

Na verdade, a pena-base do apelante fixou-a a r.


sentença acima do mínimo legal por motivos outros que
a reincidência: “…antecedentes, a conduta voltada à prática
criminosa, a personalidade demonstrada, no que diz respeito
à sua índole, maneira de agir e sentir (…)” (fl. 77).
164

Portanto, não foram uma só e a mesma as causas


determinantes da fixação da pena-base além do mínimo
legal e as da agravação (art. 61, nº I, do Cód. Penal).

À derradeira, a majoração máxima (2/5) pela dupla


qualificadora não sofre censura, pois tem assento legal.
Não há que opor-lhe, se o justificar a personalidade do
réu, como no caso (cf. RJTACrimSP), vol. 30, p. 254).

Em suma: proferida por um dos mais insignes


Magistrados paulistas – que o é o Dr. Marco Antonio
Marques da Silva, justamente louvado pelo saber e
entendimento –, merece confirmada em sua inteireza a
r. sentença recorrida.

6. Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 25 de setembro de 1997


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

3
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.099.953/0


Comarca: Jacareí
Apelante: DHBA
Apelado: Ministério Público

Voto nº 965
Relator

— Não há subtrair ao rigor da lei aquele


que, por incapaz de refrear os ímpetos
da cólera e resolver sensatamente os
conflitos e problemas, desmanda-se em
vias de fato e agressão contra pessoas de
seu convívio.
— A pena, em tal caso, atuará com a
finalidade que já lhe reconhecia o divino
Platão: medicina da depravação moral
(Górgias, cap. XXIV).
— É o “sursis” instituto de incentivo à
recuperação do infrator primário, com o
escopo de reintegrá-lo na comunhão
social.
166

1. Contra a r. sentença proferida pelo MM. Juízo de


Direito da 3a. Vara Criminal da Comarca de Jacareí,
que o condenou à pena de 3 meses de detenção, em
regime aberto, com “sursis”, por infração do art. 129 do
Código Penal, apela DHBA para este Egrégio Tribunal,
com o intuito de obter absolvição por insuficiência de
prova (fls. 69/70).

Apresentou contrarrazões de apelação a douta


Promotoria de Justiça, nas quais refuta a pretensão da
defesa e encarece os predicados da r. sentença recorrida,
que a seu aviso devia permanecer incólume (fls. 72/73).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


firme e escorreito parecer do Dr. Pedro Falabella
Tavares de Lima, opina pelo improvimento do recurso
(fls. 78/80).

É o relatório.

2. Evidencia-se do presente feito criminal que o


apelante, no dia 20 de janeiro de 1997, na cidade de
Jacareí, ofendeu a integridade física de Maria de Fátima
dos Santos, provocando-lhe as lesões corporais de
natureza leve descritas no laudo de exame de corpo de
delito de fl. 21.
167

O acusado é companheiro da filha da vítima.


Como já houvera, em outra ocasião, agredido a vítima,
recebeu intimação judicial referente àquele caso.

Inconformado, procurou pela vítima para tomar-


-lhe satisfações, e passou a agredi-la com socos e
pontapés.

Regularmente instaurada a ação penal, sem


proposta de suspensão condicional do processo, à conta
de seus maus antecedentes (fl. 36), foi o réu, ao final,
condenado.

Alegando porém inocência, vem bater às portas


deste Colendo Tribunal, em busca de absolvição.

3. Mau grado os bons esforços de seu patrono,


mostra-se indigna de acolhimento, no entanto, “data
venia”, a pretensão do réu, por ferir de frente a prova
dos autos.

Deveras, conquanto negasse a acusação, incrimina-


-o duramente a vítima: no dia dos fatos, ao chegar o réu
a casa, onde se achava a ofendida a conversar com uma
amiga, exaltado, entrou a agredi-la, desferindo-lhe socos
e pontapés (fl. 11).
168

A filha da vítima e amásia do réu (Josiane Paula


dos Santos) confirmou a agressão (fls. 9/39), o que fez
também sua irmã (Rosimere), testemunha presencial
dos fatos (fl. 40).

O laudo de exame de corpo de delito comprova a


existência de ofensas físicas que, por sua natureza e
sede, coincidem com as que a vítima disse ter recebido:
“na perna direita e na cabeça” (fl. 37).

Ao demais, consta dos autos ser o réu de natural


violento. Assegurou-o quem estava em condições de
poder informá-lo: sua companheira Josiane (fl. 9).

Destarte, porque demonstradas a materialidade e a


autoria da infração penal, o douto Magistrado havia
mesmo de acabar pela procedência da denúncia.

Em verdade, não podia subtrair-se à sanção da lei


aquele que, por incapaz de refrear os ímpetos da cólera
e resolver sensatamente os conflitos e problemas,
desmanda-se em agressividade contra pessoas de seu
convívio.

A pena, em tais casos, atuará com aquela finalidade


que já lhe reconhecia o divino Platão: medicina da
depravação moral (Górgias, cap. XXIV).
169

Obrou com aviso o digno Magistrado substituindo


a pena privativa de liberdade do réu por “sursis”,
instituto de incentivo à recuperação do infrator
primário, com o escopo de reintegrá-lo na comunhão
social.

Mantenho, destarte, por seus jurídicos fundamentos,


a r. sentença que proferiu o insigne Magistrado Dr.
Luís Gustavo da Silva Pires.

4. Isto posto, nego provimento ao apelo.

São Paulo, 15 de junho de 1998


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

4
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.106.619/2


Comarca: São Paulo
Apelante: CSB
Apelado: Ministério Público

Voto nº 1097
Relator

— Se o recurso fere o ponto da dosimetria


das penas, ao Tribunal é lícito emendá-
-las, sem haja mister fulminar de
nulidade a decisão que as impôs,
conforme a jurisprudência do Pretório
Excelso. “A sentença não é nula, cumprindo
ao Tribunal reduzir a pena” (Rev. Trim.
Jurisp., vol. 109, p. 102; apud Damásio
E. de Jesus, Código de Processo Penal
Anotado, 13a. ed., p. 265).
171

— A sentença, ao demais, é a vontade da lei


tornada certa no caso concreto (Chiovenda;
apud Hélio Tornaghi, Curso de Processo
Penal, 1980, vol. II, p. 148), não só ato
de inteligência do Juiz; não parece bem,
portanto, decretar-lhe a nulidade por
falha de pequeno alcance, possível de
reparar na esfera recursal.
— Nos crimes de roubo, a palavra da
vítima, que incrimina o réu e o indigita
por seu autor, basta à edição de decreto
condenatório, sobretudo quando em
harmonia com as mais provas dos autos.
(Não esquecer que repugna à razão
humana queira alguém acusar de crime
grave pessoa diversa da que o praticou).
— É o regime prisional fechado o que
unicamente convém ao autor de roubo
(crime grave e abjeto), máxime se
reincidente, circunstância que revela
personalidade desajustada e antissocial.

1. Da r. sentença proferida pelo MM. Juízo de


Direito da 26a. Vara Criminal da Capital, que o
condenou a cumprir, no regime fechado, a pena de 8
anos de reclusão, além de 50 dias-multa, por infração do
art. 157, § 2º, ns. I e II, combinado com os arts. 29 e 61,
nº I, do Código Penal, apela CSB para este Egrégio
Tribunal, com o fito em reformá-la.

Argui nulidade da sentença, por inobservância do


sistema trifásico de fixação das penas; no mérito, pleiteia
172

a absolvição, por insuficiência de prova; se não, a


redução das penas (fls. 82/85).

A digna Promotoria de Justiça ilidiu, com


veemência, a pretensão da Defesa e propugnou a
manutenção da r. sentença apelada (fls. 87/92).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


esmerado, preciso e judicioso parecer do Dr. José
Roberto Garcia Durand, opina pelo acolhimento da
preliminar; no mérito, pugna pelo provimento parcial
do recurso para reduzir ao réu suas penas (fls. 97/99).

É o relatório.

2. Foi condenado o apelante porque, no dia 10 de


dezembro de 1997, pela tarde, na Av. Dr. Vieira de
Carvalho (Centro), nesta Capital, obrando em concurso
com mais dois outros indivíduos não-identificados,
previamente ajustados e induzidos pela mesma intenção
criminosa, subtraíra para si, mediante grave ameaça
exercida com emprego de arma de fogo, a quantia de
R$ 2.000,00, pertencente à vítima Rambert Cadima
Tomelin.
173

Perpetrado o roubo, o trio sinistro deu a correr.


Um de seus integrantes, porém, escondera-se num
prédio, nas adjacências. A esse tal réu a Polícia deteve,
deu voz de prisão e meteu em ferros, após a lavratura do
auto de flagrante delito.

Procedeu-se a regular sumário de culpa.

Ao cabo, a Justiça Criminal infligiu-lhe


condenação, de que ora se pretende livrar por meio de
recurso de apelação distribuído a esta colenda Câmara.

Suscitou prejudicial de nulidade da sentença, visto


se desabraçara, a seu aviso, dos cânones que entendem
com a individualização da pena.

3. Não há averbar de nula, “data venia”, a r. sentença


apelada. Tendo a crítica do apelante ferido o ponto da
dosimetria das penas, é lícito ao Tribunal emendá-las,
sem haja mister fulminar de nulidade o decreto judicial
que as impôs.

Esse é o ditame que tem inspirado nossos


Tribunais:
174

“Conforme a jurisprudência do STF, se, no corpo da


sentença, estão enunciadas expressamente circunstâncias
de incontestável significância para a aplicação da pena, é
inexigível que a menção a essas circunstâncias seja
repetida na parte dispositiva do decisum especificamente
destinada à dosimetria da pena: a base empírica do
juízo de valor que induziu à exasperação da pena pode
resultar do contexto da motivação global da sentença
condenatória” (Rev. Tribs., vol. 741, p. 540; rel. Min.
Sepúlveda Pertence).

Ainda:

“A sentença não é nula, cumprindo ao Tribunal reduzir


a pena” (RTJ 109/102 e 113/77; RT 584/434,
592/382 e 610/397; JTACrimSP 69/39, 79/447 e
86/382; apud Damásio E. de Jesus, Código de
Processo Penal Anotado, 13a. ed., p. 265).

Demais, a sentença é a vontade da lei tornada certa


no caso concreto, como a definiu Chiovenda (apud Hélio
Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980, vol. II, p. 148),
não só ato de inteligência do Juiz; não parece bem,
portanto, pronunciar-lhe a nulidade por falha de
pequeno alcance, possível de reparar na esfera recursal.

Daqui por que rejeito a preliminar.


175

4. No âmbito do mérito, nenhuma outra solução era


possível senão a condenatória, uma vez que a prova
demonstrou, acima de todo o engano, que o réu
cometeu o roubo descrito na denúncia.

A vítima Rambert Cadim Fomelin esclareceu, com


efeito, que, após sacar R$ 2.000,00 numa das agências
do Bradesco, retornava à sua empresa, acompanhado
da testemunha Robson de Aguiar, quando, na Av. Dr.
Vieira de Carvalho, ao entrar num prédio, o réu e seus
comparsas, dentre os quais, uma mulher, os acometeram
e lhes roubaram a aludida quantia (fls. 6 e 37).

Isto mesmo afirmou a testemunha (fls. 6 e 38).

Ambas reconheceram, com firmeza, o réu como ao


autor do roubo. Ele, é certo, repeliu em Juízo a
acusação (fl. 33). Suas declarações, todavia, não se
mostram fidedignas: acham-se em clara oposição ao
conjunto probatório, coeso e verossímil.

Além de que, havendo confessado na Polícia a


prática do roubo, o réu como que fechara atrás de si a
porta que dava para a inocência.
176

Destarte, ainda que em seu poder não tenha sido


apreendido o produto do roubo (que os dois outros
malfeitores levaram consigo), evidenciam os elementos
de prova que o réu foi um de seus autores, porquanto
repugna à razão humana quisesse a vítima acusar de
crime grave pessoa diversa da que o praticara.

De feito:

“Nos crimes contra o patrimônio, como o roubo, muitas


vezes praticados na clandestinidade, crucial a palavra do
ofendido na elucidação dos fatos e na identificação do
autor” (Rev. Tribs.; rel. Wilson Barreira).

Era força, pois, condená-lo.

As penas, contudo, essas a r. sentença fixou ao réu


com acentuado e desnecessário rigor, que importa
mitigar. Pelo que, na conformidade do preceito do art.
59 do Código Penal, fixo-lhe a pena-base um pouco além
do mínimo (em razão de seus maus antecedentes), em 4
anos e 8 meses de reclusão, a qual exaspero em 1/6, pela
reincidência, de que resultam 5 anos, 5 meses e 10 dias
de reclusão, que aumento ainda de 1/3, à conta das
qualificadoras, o que tudo perfaz 7 anos, 2 meses e 20
dias de reclusão.
177

A pena pecuniária, respeitado o mesmo critério


dosimétrico, estipulo-a ao réu em 16 dias-multa.

O regime prisional para o cumprimento da pena


privativa de liberdade não podia ser outro que o
fechado, pois somente este convém ao autor de crime
grave e abjeto (qual o roubo), máxime se reincidente,
circunstância que revela personalidade desajustada e
antissocial.

5. Pelo exposto, rejeitada a preliminar, dou provimento


parcial ao recurso do réu para reduzir-lhe as penas a 7
anos, 2 meses e 20 dias de reclusão e 16 dias-multa, no
valor mínimo legal, por infração do art. 157, § 2º, ns. I e
II, do Código Penal.

São Paulo, 6 de setembro de 1998


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

5
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.147.557/2


Comarca: Sorocaba
Apelante: SPM
Apelado: Ministério Público

Voto nº 1452
Relator

— “As atenuantes não permitem a redução da


pena abaixo do mínimo previsto na lei para
o crime” (Rev. Trim. Jurisp., vol. 104,
p. 736).
— Isto de alguém confessar a autoria de
crime, sem expor juntamente cabais
razões que o justifiquem, é o mesmo que
fechar atrás de si a porta que deita para
o pátio da liberdade.
— Se, perante o Magistrado, o réu assumiu
francamente sua culpa, é bem que dele
se amerceie a Justiça. Essa, a que se
pudera chamar coragem moral, é digna
sempre de galardão, não só de louvores.
179

— Não repugna à Lei conceda o Juiz


regime semiaberto ao réu não-
-reincidente, cuja pena é inferior a 8
anos (cf. art. 33, § 2º, alínea b, do Cód.
Penal); somente lhe é defeso concedê-lo
a réu condenado a pena superior a
8 anos (ainda que primário), ou ao
reincidente, cuja pena exceda a 4 anos.
— De quantos males afligem de presente a
Humanidade, nenhum disputa primazia
à terrível Aids, que arrebata ao indivíduo
aquilo que tem em maior preço: a vida.
— Uma casta de pessoas existe que merece,
por mui particulares circunstâncias,
atenção especial dos espíritos bem
formados, notadamente dos constituídos
em dignidade. Compõe-se daqueles que,
havendo decaído (ainda mal!) de seu
estado de liberdade, foram por isso
excluídos do convívio social: os
encarcerados!

1. Da r. sentença proferida pelo MM. Juízo de


Direito da 4a. Vara Criminal da Comarca de Sorocaba,
que o condenou a cumprir, sob o regime fechado, a
pena de 5 anos e 4 meses de reclusão, por infração do
art. 157, § 2º, nº I, do Código Penal, apela para este
Egrégio Tribunal, com o propósito de reformá-la,
SPM.

Nas razões do recurso, apresentadas por esforçado


e culto defensor, insurge-se contra a quantidade da
pena corporal que lhe infligiu a r. sentença e o regime
180

prisional fixado para seu cumprimento. Pretende a


modificação deste para aberto e a redução daquela,
à conta da circunstância atenuante da confissão
espontânea e de padecer moléstia grave; no mais, tem
por incensurável o decreto condenatório (fls. 151/156).

A digna Promotoria de Justiça, em alentadas e bem


escritas contrarrazões, repele os argumentos da Defesa e
propugna a confirmação da r. sentença apelada (fls.
160/170).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


esmerado e sólido parecer do Dr. Antonio Augusto
Mello de Camargo Ferraz, opina pelo improvimento do
recurso (fls. 178/181).

É o relatório.

2. A condenação era de preceito, como o admitiu às


expressas o próprio apelante.

Deveras, em face de sua confissão irrestrita em


Juízo (fl. 36) e das declarações coincidentes da vítima e
testemunhas, que o deram, sem sombra de dúvidas,
como autor do roubo perpetrado no dia 8 de maio de
1998, cerca de 14h10, na Rua Coronel José de Barros
181

(Vila Amélia), em Sorocaba, na empresa Plano de Saúde


do Hospital Evangélico, toda a expectativa de absolvição
não passara de delírio de fantasia desordenada.

Com efeito, desde a mais remota antiguidade, isto


de alguém confessar a autoria de crime, sem expor
juntamente razões cabais que o justificassem, o mesmo
era que fechar atrás de si a porta que deitava para o
pátio da liberdade.

Fazem muito ao propósito, por isso, estas palavras


do velho Garraud:

“A confissão que o acusado faz em justiça, isto é, quando


ele não pode desconhecer as consequências graves das suas
declarações, parece uma prova superior a todas as
outras. Habemus confitentem reum: a culpabilidade está
estabelecida, não falta senão aplicar a pena” (Compêndio
de Direito Criminal, 1915, vol. II, p. 208; trad. A.T.
de Menezes).

3. Com este recurso o apelante arma ao efeito de


obter a redução da pena privativa de liberdade, firme
no argumento da confissão espontânea, circunstância
atenuante obrigatória (art. 65, nº III, alínea d, do Cód.
Penal).
182

Mas, o nobre Magistrado, ao fixar-lhe a pena,


houve consideração às circunstâncias de que “o réu é
primário e confessou espontaneamente a prática da infração”;
bem por isto, aplicou-lhe a pena-base no mínimo legal
(fl. 134).

Ora, é ditame consagrado pelo Pretório Excelso


que:

“As atenuantes não permitem a redução da pena abaixo


do mínimo previsto na lei para o crime” (Rev. Trim.
Jurisp., vol. 104, p. 736; apud Celso Delmanto,
Código Penal Comentado, 1a. ed., p. 105).

Em vista do que levo expendido, não há diminuir a


pena do réu, que isto implicaria ofender de frente o
direito positivo e fazer tábua rasa da jurisprudência
dominante nos Tribunais.

4. Pelo que respeita ao regime prisional estipulado


pela r. sentença ao réu (fechado), é possível abrandá-lo,
sem que, atenta a peculiaridade do caso dos autos, haja
agravo ao zelo da Justiça ou pedra de escândalo.
183

Em verdade, ante o ilustre Juiz que o interrogou,


assumiu o réu francamente sua culpa (fl. 36).

É bem, portanto, que dele se amerceie a Justiça.

Essa, a que se pudera chamar coragem moral, será


digna sempre não só de louvores, mas de galardão.

Ao demais, há informação nos autos de ser o réu


portador do vírus HIV (cf. fls. 14, 36, 88 e 93).

Desse doloroso tema – preso aidético – têm-se


ocupado com frequência as letras jurídicas:

De quantos males afligem de presente a


Humanidade, nenhum disputa primazia à terrível Aids,
que arrebata ao indivíduo aquilo que tem em maior
preço: a vida. Mensageira da morte, sobre todos exerce
implacável sua jurisdição. Poderosos e desvalidos,
celebridades e obscuros, bons e maus: ninguém está
seguro contra os efeitos de sua formidável tirania.

Uma casta de pessoas, contudo, existe que merece,


por mui particulares circunstâncias, atenção especial dos
espíritos bem formados, notadamente dos constituídos
em dignidade. Compõe-se daqueles que, havendo
decaído (ainda mal!) de seu estado de liberdade, foram
184

por isso excluídos do convívio social. Esses (os


encarcerados) inspiraram sempre alguns acentos de
compaixão no peito dos homens livres, ou porque,
carecedores do sumo bem da liberdade, a própria vida
lhes não devera parecer digna dos cuidados que lhe
reservamos, ou porque, postos em regime de
segregação, não lhes houveram de esquecer jamais
aquelas pungentes palavras com que o divino Dante
acrescentou o suplício dos réprobos: Não há dor, que
maior seja, do que lembrar o tempo feliz nos dias da desgraça
(Inferno, canto V; trad. Joaquim Pinto de Campos).

Se a pena de prisão, ao aviso dos sujeitos eminentes


em ciências e letras, é já um mal, “porque inútil como
método penal e como fator de recuperação” (Evandro Lins e
Silva, A Defesa Tem a Palavra, 1980, p. 265), com
maioria de razão o será quando associada a castigo
corporal ainda mais aflitivo, como é a insidiosa
enfermidade que subjuga os portadores do vírus
HIV, quebrantando-lhes as energias e fazendo que,
pelo comum, de humanos só conservem a figura (cf.
Execução Penal, Visão do TACRIM-SP, 1998, p. 110; org.
Lagrasta Neto et alii,).

À derradeira, não repugna à Lei conceda o


Juiz regime semiaberto ao condenado não-reincidente,
cuja pena não ultrapasse 8 anos (cf. art. 33, § 2º, alínea b,
185

do Cód. Penal); somente lhe é defeso concedê-lo a réu


condenado a pena superior a 8 anos (ainda que
primário), ou ao reincidente, cuja pena exceda a 4 anos.

É que:

“Em se tratando de crime de roubo, em que a pena-base


é fixada no mínimo legal, não se pode estabelecer o
regime prisional mais grave, só em face da natureza do
delito, o que constitui a analogia in malam partem, por
se estar erigindo-o à conta de crime hediondo contra a
previsão legal” (RJDTACrimSP, vol. 28, p. 233; rel.
Eduardo Pereira).

Destarte, concedo ao apelante o regime


intermediário.

Neste pouco, somente, me atrevo a modificar a r.


sentença que proferiu o distinto e culto Juiz Dr. César
Luís de Souza Pereira.

5. Isto posto, dou provimento parcial ao recurso para


deferir ao réu o benefício do regime semiaberto,
mantida no mais a r. sentença de Primeira Instância.
186

São Paulo, 11 de junho de 1999


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

6
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.342.045/8


Comarca: São Bernardo do Campo
Apelante: RLOV
Apelado: Ministério Público

Voto nº 4267
Relator

— Equipara-se a confissão do réu à própria


coisa julgada: “Confessio habet vim rei
judicatae” (Farinácio; apud José Frederico
Marques, Estudos de Direito Processual
Penal, 1a. ed., p. 290).
— A só presença de duas qualificadoras não
obriga ao aumento da pena do roubo
além do mínimo legal de 1/3, o que
apenas se justifica nos casos em que
praticado por grupo numeroso de
agentes, mediante emprego de armas de
extraordinário poder vulnerante.
188

— Lesão corporal que o agente padeça


na execução do crime, o direito
reconhece como circunstância atenuante
inominada (art. 66 do Cód. Penal),
porque, além de guardar relação com o
fato delituoso, traduz um infortúnio
com vezes de castigo, o que, pois
justifica o abrandamento do rigor da lei,
por evitar excesso punitivo.
— O regime prisional fechado é, pelo
comum, o que mais convém à
personalidade do autor de roubo, de seu
natural violento e refratário à disciplina
social. Mas, desde que primário e de
bons antecedentes, não é defeso ao Juiz,
tendo consideração aos graves e notórios
malefícios do regime recluso, deferir-lhe
o benefício do semiaberto (cf. art. 33,
§ 2º, alínea b, do Cód. Penal).

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de


Direito da 2a. Vara Criminal da Comarca de São
Bernardo do Campo, condenando-o a cumprir, sob o
regime fechado, a pena de 3 anos, 1 mês e 24 dias de
reclusão e 10 dias-multa, por infração do art. 157, § 2º,
ns. I e II, conjugado com os arts. 14, nº II, e 65, nº I, do
Código Penal, interpôs recurso para este Egrégio
Tribunal, com o escopo de reformá-la, RLOV.

Alega, nas razões de apelação elaboradas por


dedicado patrono, que o conjunto probatório, frágil e
precário, não lhe justificava a condenação; pelo que,
requer à colenda Câmara tenha a bem absolvê-lo, com
189

fundamento no art. 386, nº VI, do Código de Processo


Penal, como ato de justiça (fls. 207/210).

A douta Promotoria de Justiça apresentou


contrarrazões de recurso, nas quais repeliu a pretensão
da nobre Defesa e propugnou a manutenção da r.
sentença de Primeiro Grau (fls. 212/214).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


esmerado e escorreito parecer do Dr. Oswaldo
Henrique Duek Marques, opina pelo provimento
parcial do recurso do réu, “para reduzir a pena e fixar
regime prisional mais brando” (fls. 229/232).

É o relatório.

2. Ainda que digno de louvor o empenho da Defesa,


impossível é atender ao pedido de absolvição do réu,
pois que os elementos de prova reunidos no processado
evidenciam ter sido um dos autores do roubo
perpetrado em 24 de abril de 2001, pelas 21h, na Rua
Benedito Luís Rodrigues (Nova Petrópolis), em São
Bernardo do Campo, contra Bernardete Aparecida
Corradi.
190

De feito, depondo na instrução criminal, a vítima


discorreu dos fatos e suas circunstâncias com firmeza e
coerência. Esclareceu que acabava de chegar à casa de
seu cunhado Gérson, eis senão quando o réu – a quem
reconheceu com certeza – , acometeu-a e, arma de
fogo em punho, anunciou que se tratava de roubo;
exigiu-lhe, em seguida, a entrega das chaves do carro
(Volkswagen/Gol, placa CLX-9313/SBC) e sua bolsa.

Neste ínterim, a irmã da vítima tentara abrir-lhe a


porta da casa, no que foi obstada pelo réu. A vítima,
essa aproveitou de distração momentânea do réu e
lançou-se a fugir, tomando para um terreno baldio onde
se ocultou, deitada ao chão. Houve disparos de arma de
fogo (fls. 102/110).

Às declarações da vítima ajusta-se o testemunho de


sua irmã (Vera Lúcia), a qual, inquirida em Juízo,
esclareceu ter assistido aos fatos. Testemunha ocular,
confirmou as palavras da vítima (sua irmã) e acrescentou
que vários tiros foram disparados por certo indivíduo
que se encontrava dentro de um veículo “Pick-up”.
Ajuntou que seu marido também interveio em socorro
da vítima e efetuou disparos de arma de fogo contra o
réu, atingindo-o.
191

Não teve dúvidas a testemunha em reconhecer o


réu como ao sujeito que praticou o roubo (fls. 111/117).

De igual teor, o depoimento prestado pelo


vigilante Luiz dos Santos Sousa (fls. 128/135).

O próprio réu não teve mão em si que não


confessasse, no inquérito, “espontaneamente, na presença
de seu curador” (fl. 37), a autoria do roubo tentado
descrito na denúncia.

3. Em face de acervo probatório tão expressivo, tem-


se por averiguada a autoria atribuída ao apelante.

Deveras, que melhor prova de sua atuação no


crime do que havê-la confessado e ter sido reconhecido
pela vítima e testemunhas, que o incriminaram
implacavelmente?!

Confesso na Polícia (fl. 37), não podia atrever-se a


alegar precariedade da prova de autoria, salvo em
obséquio ao sagrado direito de defesa.

O valor da confissão em Juízo, com efeito, é


absoluto, porque estreme de eventual balda que a
pudesse viciar, v.g., a coação.
192

Daqui por que graves autores sempre a tiveram em


muito:

“Para os chamados penalistas práticos, a confissão do


acusado se equiparava à própria coisa julgada, como
ensinava Farinácio: Confessio habet vim rei judicatae”
(apud José Frederico Marques, Estudos de Direito
Processual Penal, 1a. ed., p. 290).

A condenação do réu, portanto, passava por obra


não só de cunho lógico, mas também de justiça.

4. Acho razão às ponderações do douto parecer de fls.


229/232, respeito à dosimetria das penas infligidas ao
réu.

Deveras, falece prova nos autos de que efetuasse


disparos de arma de fogo em direção à vítima. Mas,
dado o caso que o tenha feito, a pena-base podia retrair-
se ao mínimo legal, em face de circunstância atenuante
obrigatória que o favorece: contava o réu apenas 18
anos de idade ao tempo do crime (fl. 37).

Fixo-lhe, destarte, a pena-base em 4 anos de


reclusão e 10 dias-multa, no valor mínimo legal, a que
193

acrescento 1/3 pelas qualificadoras, de que resultam 5


anos e 4 meses de reclusão e 13 dias-multa.

Embora duas as causas de aumento, o acréscimo


superior a 1/3 unicamente se justifica nos casos em que
extraordinário o poder lesivo das armas empregadas ou
exagerado o número dos agentes, circunstâncias que
não concorrem na espécie.

Fazem ao intento os venerandos julgados a seguir


transcritos por suas ementas:

a) “Pena. Fixação. Majoração em razão da


quantidade de qualificadoras. Impossibilidade”
(RJTACrimSP, vol. 41, p. 444; rel. Eduardo
Pereira);

b) “Aumento superior a 1/3 relativo a agravantes.


Hipótese. Entendimento. Em sede de roubo, o
aumento resultante de duas qualificadoras será
superior a um terço somente em casos especiais
devidamente fundamentados” (RJTACrimSP,
vol. 34, p. 285; rel. Afonso Faro);

c) “A existência de mais de uma qualificadora, por si


só, não autoriza a majoração da pena do crime de
roubo acima de 1/3, somente se justificando a
194

medida quando o modus procedendi fuja aos


padrões normais” (RJTACrimSP, vol. 38, p.
252; rel. Geraldo Lucena).

Foi tentado o roubo e, como o observou a diligente


Procuradoria-Geral de Justiça, o “iter criminis” foi
interrompido no primeiro estádio, sem que o réu se
apoderasse do bem; assim, a redução da pena pela
tentativa pode alcançar 2/3, não somente metade, o que
tudo perfará 1 ano, 9 meses e 10 dias de reclusão e 5 dias-
-multa.

5. No que toca ao regime prisional, reputo adequado


à hipótese “sub judice” o semiaberto. Afiguram-se-me de
grande momento as seguintes razões:

a) sem salva nem rodeios, o réu confessou na


Polícia, em presença de curador, a prática do roubo;

b) era menor de 21 anos ao tempo do crime, e a


pena, de curta duração;

c) não possui registro criminal antecedente;


195

d) durante o roubo, foi gravemente ferido, com


perigo de vida (fl. 87 v.). Faz muito ao caso, pois, o
argumento do douto parecer (fl. 231): “o dano físico, em
decorrência do crime, é apontado por Julio Fabbrini Mirabete
como um dos exemplos de circunstância atenuante inominada,
nos termos do artigo 66 do Código Penal” (Código Penal
Interpretado, 2a. ed., p. 428);

e) inexiste proibição legal de o Juiz conceder ao


condenado não-reincidente a pena inferior a 8 anos o
benefício do regime semiaberto; o Código Penal, o que
veda às expressas é que se defira ele ao réu condenado a
pena superior a 8 anos (não importando se primário), ou
ao reincidente, cuja pena seja superior a 4 anos.

Persuade-o a mais autorizada jurisprudência de


nossos Tribunais:

I. “Se a pena imposta por um crime é maior do que


4 anos, mas não excede a 8, cabe, em tese, o
cumprimento de pena em regime semiaberto,
segundo se depreende da leitura do art. 33, § 2º,
alínea b, do Cód. Penal, combinado com o seu § 3º,
que remete às circunstâncias judiciais do art. 59 do
mesmo Código; porém, o Juiz pode impor regime
mais severo do que aquele em tese, mas para tanto,
necessário é que apresente os parâmetros legais
196

aplicáveis à espécie e as razões que o levaram a tal


conclusão, não bastando apenas a gravidade do delito
como justificativa para a imposição de regime mais
gravoso, salvo se o crime for qualificado como
hediondo” (STJ; Min. José Arnaldo da Fonseca;
Rev. Tribs., vol. 769, p. 543);

II. “Não encontra fundamento a imposição de regime


fechado para execução da pena inferior ao limite
máximo estabelecido no art. 33, § 2º, alínea b, do
Cód. Penal, mesmo em se tratando de condenação
por roubo duplamente qualificado, se foram
reconhecidas a primariedade dos réus e a
concorrência de circunstâncias judiciais favoráveis,
previstas no art. 59 do mesmo Codex” (STF; Min.
Octavio Gallotti; Rev. Tribs., vol. 770, p. 495);

III. “Se o condenado preenche os requisitos para o


cumprimento da pena em regime semiaberto, tendo
em vista a quantidade de pena imposta e a ausência
de reincidência e maus antecedentes, não cabe a
imposição de regime mais gravoso com fundamento
exclusivo na gravidade do delito praticado” (STJ;
Min. Gilson Dipp; Rev. Tribs., vol. 779, p. 533).
197

Tão só neste pouco ouso modificar a primorosa


sentença que proferiu o distinto e culto Magistrado Dr.
Luiz Renato Bariani Peres.

5. Pelo exposto, dou provimento parcial ao recurso


para reduzir a pena do réu a 1 ano, 9 meses e 10 dias
de reclusão e 5 dias-multa, e deferir-lhe regime
semiaberto, mantida no mais a r. sentença de Primeiro
Instância.

São Paulo, 1º de dezembro de 2002


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

7
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

OITAVO GRUPO DE CÂMARAS

Revisão Criminal nº 432.082/7


Comarca: Itapecerica da Serra
Peticionário: MGN

Voto nº 4627
Relator

— É princípio assente na Doutrina e na


Jurisprudência que, no Juízo da revisão
criminal, toca exclusivamente ao
peticionário provar que a sentença
condenatória vulnerou o Direito ou
perpetrou injustiça.
— A exasperação da pena pelos maus
antecedentes do réu e pela nota de
reincidência não configura violação
do preceito do “Non bis in idem”, o
que unicamente ocorre quando a
mesma condenação é a causa do duplo
aumento.
199

1. Condenado pelo MM. Juízo de Direito da 1a.


Vara Distrital de Embu (Comarca de Itapecerica da
Serra) à pena de 9 anos, 5 meses e 7 dias de reclusão,
sob o regime fechado, além de 21 dias-multa, por
infração do art. 157, § 2º, ns. I e II, do Código Penal,
conjugado com os arts. 29 e 71, do Código Penal, apelou
MGN para este Egrégio Tribunal, cuja 2a. Câmara
lhe proveu em parte o recurso para reduzir as penas a
8 anos, 5 meses e 18 dias de reclusão e 18 dias-multa
(fls. 470/479).

Pretende agora, com fundamento no art. 621 do


Código de Processo Penal, a revisão de seu processo,
notadamente no que respeita à aplicação da pena, que
houve por exagerada.

Acrescenta ainda ter ocorrido, na espécie,


violação do princípio “Non bis in idem”, que importava
reparar em nome do bom Direito e da Justiça (fls.
2/5).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


exímio parecer do Dr. Carlos Henrique Maciel, opina
pelo indeferimento do pedido de revisão criminal (fls.
16/17).

É o relatório.
200

2. Foi processado e condenado o peticionário –


que também dá pela alcunha de “Buchudo” – porque,
aos 13 de junho de 1999, pelas 20h, obrando em
concurso e unidade de propósitos com três outros
indivíduos – os corréus Sidney, Ângela e terceira
pessoa não-identificada –, mediante grave ameaça
exercida com emprego de arma de fogo, subtraíram
para si o veículo “Fiat/Palio ED”, placa CQI-2743/SP,
ano 98, pertencente a José da Silva Lima.

Reza ainda a denúncia que, no mesmo dia, cerca


de 23h, com idêntico “modus operandi”, subtraíram
para si o veículo “Volkswagen/Gol”, placa CLB-1477,
ano 98, de propriedade de Susana Geraldini.

Transcorreu o processo em forma legal e, ao


cabo, a r. sentença de fls. 316/329 condenou os réus.

Insatisfeito com o resultado da apelação, vem o


requerente com súplica de revisão criminal.

3. No que concerne à condenação que lhe foi


decretada, a sentença guarda-se de todo o reparo;
aliás, a esse respeito não disse palavra o peticionário.
201

Ficou demonstrado, em verdade, que concorreu


para a prática de ambos os roubos.

Na fase do inquérito, os corréus não só


admitiram, sem salvas nem rodeios, a imputação,
senão que delataram o peticionário MGN, vulgo
“Buchudo”, como a um dos autores dos roubos (fls.
8/10).

O policial militar Valter Francisco de Brito,


inquirido na instrução criminal, afirmou que estava
em patrulhamento urbano quando interceptara o
veículo ocupado pelos réus; à direção estava o
peticionário.

Acrescentou a testemunha que, no veículo, havia


documentos de terceiros.

Indagados a tal respeito, informaram-lhe os réus


que pertenciam os documentos a veículos roubados,
cuja localização a corré Ângela indicou à Polícia (fl.
170).

Com suas declarações vão as do policial Charles


William de Matos Santos (fl. 7).
202

Ao demais, o corréu Sidney, no termo


interrogatório judicial, ratificou sua confissão e
discorreu, por miúdo, da ocorrência dos roubos (fls.
85/86).

As vítimas, essas confirmaram a ação criminosa


dos malfeitores (fl. 136).

Em vista de acervo probatório tão sólido e


terminante, a condenação do peticionário era a única
solução a um tempo lógica, jurídica e justa para o caso
dos autos.

Por outra parte, nenhuma prova produziu o


peticionário, que lhe expungisse da fronte o estigma
de autor de duplo roubo qualificado consumado.

Não procede, assim, o argumento da Defesa de


que, ao condená-lo, a sentença ofendeu de frente a
prova dos autos.

4. É princípio assente na Doutrina e na


Jurisprudência que, no Juízo da revisão criminal, toca
exclusivamente ao peticionário provar que a sentença
condenatória vulnerou o Direito e perpetrou injustiça.
203

No caso de que se trata, porém, nenhuma prova


trouxe o réu, poderosa a ilidir as que serviram de
fundamento à r. decisão impugnada, que, por isso,
subsiste inabalável.

Cai a lanço o julgado a seguir reproduzido por sua


ementa:

“Em se tratando de revisão, inverte-se o ônus da prova,


cabendo ao requerente mostrar o desacerto da decisão
que o condenou, que ela foi contrária à evidência dos
autos, não lhe aproveitando o estado de dúvida que
acaso consiga criar no espírito dos julgadores” (Rev.
Forense, vol. 188, p. 329).

5. Em referência à pena fixada ao réu, não há


também que debater, uma vez retificada já, com
seguro critério, pelo ven. acórdão de fls. 470/479, de
que foi relator o eminente Juiz Osni de Souza.

Em vista de seus maus antecedentes,


comprovados pelas certidões de fls. 186/190,
estabeleceu-lhe o ven. acórdão a pena-base alguma
coisa acima do mínimo legal, exasperando-a em 1/6,
pela reincidência, e mais 1/3 pelas qualificadoras (fl.
748).
204

Improcede, pois, a crítica de que a exacerbação


do castigo pelos maus antecedentes e pela reincidência
implicou afronta à regra do “Non bis in idem”. Tal se
configuraria se a mesma causa fosse duas vezes
invocada para a majoração da pena; mas, no caso,
influíram, além do processo que gerou reincidência, os
maus antecedentes do peticionário, retratados noutras
ações penais que lhe foram intentadas.

Destarte, a quantidade da pena estipulada pelo


acórdão revidendo está ao abrigo dos golpes da
censura.

Cai a propósito a lição do parecer da douta


Procuradoria-Geral de Justiça: “(…) conforme o correto
entendimento jurisprudencial, a biografia de crimes era
circunstância necessária à exasperação da pena-base. Já a
recidiva – que com aquela não guardava vínculo – serviu
como agravante obrigatória, num segundo momento e de
forma independente” (fl. 17).

Com efeito:

“É possível o duplo aumento da pena em face da


reincidência e dos maus antecedentes se derivados de
fatos diversos, ocorrendo bis in idem apenas quando a
mesma condenação é levada em conta para esse fim”
205

(RJTACrimSP, vol. 46, p. 100; rel. Damião


Cogan).

6. Pelo exposto, indefiro o pedido de revisão criminal.

São Paulo, 2 de maio de 2003


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

8
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉCIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.372.781/3


Comarca: Itapetininga
Apelante: ACT
Apelado: Ministério Público

Voto nº 4653
Relator

— Não é para subestimar a palavra da


vítima, a qual os Tribunais tiveram
sempre em boa conta. Com efeito,
falando pela via ordinária, quem mais
abalizado a discorrer das circunstâncias
de um fato, do que a pessoa que lhe foi
protagonista?!
— A exasperação da pena do réu, em caso
de crime cometido contra velho, bem
se justifica. A velhice é coisa sagrada;
ofender um velho, na feliz expressão de
um clássico, “é apedrejar uma árvore
carregada de frutos” (Alberto Pimentel,
Vinte Anos de Vida Literária, 1908,
p.39).
207

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de


Direito da Vara Distrital de São Miguel Arcanjo
(Comarca de Itapetininga), condenando-o a cumprir,
sob o regime semiaberto, a pena de 4 anos e 8 meses
de reclusão e 11 dias-multa, por infração do art. 157,
“caput”, conjugado com o art. 61, nº II, alínea “h”, do
Código Penal, interpôs recurso para este Egrégio
Tribunal, levando em vista reformá-la, ACT.

Em seu arrazoado, afirma que a prova dos autos,


demasiado precária e insegura, não lhe autorizava a
edição do decreto condenatório; pelo que, em
obséquio à regra geral de interpretação da dúvida,
clama por absolvição, como obra de justiça (fls. 17/18).

A douta Promotoria de Justiça respondeu


aos argumentos da nobre Defesa, refutando-os;
propugnou, do mesmo passo, a confirmação da r.
sentença apelada (fls. 120/124).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


detido e terminante parecer do Dr. Marcílio Grecco,
opina pelo improvimento da apelação (fls. 129/131).

É o relatório.
208

2. O órgão do Ministério Público submeteu o réu a


processo porque, aos 23 de junho de 2002, pelas
20h15, na residência localizada na Rua José Alves
Machado, na cidade de São Miguel Arcanjo, subtraíra
para si, mediante violência, a quantia de R$ 70,00, em
espécie, pertencente a José Nunes Vieira Sobrinho,
ancião de 84 anos.

Reza a denúncia que o réu estivera na casa da


vítima em companhia de outras pessoas. Ali retornou,
mais tarde, quando estava só e, após agredi-la
fisicamente, subtraiu-lhe do bolso da calça o dinheiro.

A Polícia conseguiu deitar-lhe a mão e conduzi-lo


à Delegacia local, onde recebeu voz de prisão e foi
autuado em flagrante.

Instaurada a persecução penal, transcorreu o


processo conforme os cânones legais; por fim, a r.
sentença de fls. 99/103 decretou-lhe a condenação.
Inconformado com o desfecho da lide penal,
manifestou recurso para esta augusta Corte de Justiça,
em busca de absolvição.

3. Conquanto digno de louvor o esforço da Defesa a


prova dos autos não lhe prestigia a pretensão, pois
209

ficou evidenciada a responsabilidade criminal do réu


pela prática do crime descrito na denúncia.

Com efeito, aos protestos de inocência do réu


(fl. 42) contrapuseram-se, firmes e convincentes, as
palavras da vítima. Esta, inquirida na instrução
criminal, discorreu, por miúdo, das circunstâncias do
roubo e nomeou o réu, com segurança, como seu
autor (fl. 70).

Com as declarações da vítima concorda o


testemunho do policial José Antônio de Almeida, que
atendera à ocorrência. Relatou estivera no local dos
fatos, e soubera que certo “baixinho” roubara a vítima
(fls. 5/6).

Não há negar que, também aqui, as palavras da


vítima foram a pedra angular do edifício da Acusação.
Conhecendo já o réu, porque seu ex-inquilino (fl. 19),
não podia equivocar-se ao apontá-lo autor da agressão
e do roubo; outro tanto, não havia razão que o
movesse a acusar inocente.

De que o depoimento do ofendido era suficiente a


amparar o decreto condenatório bem o assegura a
jurisprudência dos Tribunais:
210

“Estima-se fidedigna a palavra da vítima quando


nada se demonstra contra sua lealdade, pois, no
processo contemporâneo, o ofendido é também um
órgão de prova; suas declarações, meios provativos”
(RJTACrimSP, vol. 46, p. 477; rel. Ricardo Dip).

À vista da prova reunida no processado, era


inevitável a condenação do réu: ao subtrair, mediante
violência, dinheiro da vítima, praticara o crime
definido e punido pelo art. 157, “caput”, do Código
Penal.

O laudo de exame de corpo de delito evidencia


ter a vítima sofrido agressão (fl.46), o que também
ilustram as fotos de fls. 20/21.

A r. sentença reconheceu, corretamente, a


incidência da causa de aumento prevista no art. 61, nº
II, alínea h, do Código Penal (crime cometido contra
velho).

A exasperação da pena ao réu bem se justificara,


pois nem sequer a condição particular da vítima,
indivíduo já entrado em anos (nascido em 2.1.1918),
foi óbice à prática do ilícito. O selvagem desrespeito
à velhice, que é coisa sagrada, reclamava sanção
exemplar. Ofender um velho, na feliz expressão de um
211

clássico, “é apedrejar uma árvore carregada de frutos”


(Alberto Pimentel, Vinte Anos de Vida Literária, 1908,
p. 39).

O regime prisional fixado pela r. sentença


mostrou-se adequado à natureza do crime, à
personalidade do agente e à quantidade da pena; por
isso, quer-se mantida.

Em resumo: não há que modificar na r. sentença


que proferiu, com bons fundamentos, o ilustre
Magistrado Dr. André Luís Bastos.

4. Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 15 de maio de 2003


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

9
TRIBUNAL DE ALÇADA CRIMINAL

DÉIMA QUINTA CÂMARA

Apelação Criminal nº 1.387.179/1


Comarca: Ribeirão Pires
Apelante: RODF
Apelado: Ministério Público

Voto nº 4887
Relator

— A confissão judicial, por seu valor


absoluto – visto se presume feita
espontaneamente –, basta à
fundamentação do edito condenatório.
— O simples porte de arma de fogo sem
autorização legal tipifica a infração do
art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97,
independentemente da existência de
perigo concreto.
213

— Ao cominar pena àquele que, sem


licença da autoridade, traz arma consigo,
pôs a mira o legislador em “evitar a posse
indiscriminada de armas de fogo e os
perigos que acompanham a admissão de
uma sociedade armada sem que existam
controles ou regras gerais estabelecidas”
(Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de
Fogo, 1998, p. 107).
— Ainda que desmuniciada a arma de
fogo, incorre o agente na letra do
art. 10, “caput”, da Lei nº 9.437/97,
se apta a produzir disparos, pois que
eventualmente poderá utilizá-la e
ofender a integridade física de outrem.
— Por mais recomendável à luz do
princípio cautelar da prevenção e
reprovação do crime, e expressamente
indicada em texto legal (arts. 44 e 77, nº
III, do Cód. Penal), a aplicação de medida
restritiva de direitos (prestação de
serviços à comunidade) a autor de delito
de porte ilegal de arma de fogo prefere à
concessão de “sursis”.

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de


Direito da 2a. Vara da Comarca de Ribeirão Pires,
condenando-o à pena de 1 ano de detenção e 10 dias-
-multa, substituída a pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos (prestação de serviços à
comunidade), por infração do art. 10, “caput”, da Lei nº
9.437/97, interpôs recurso para este Egrégio Tribunal,
com o intuito de reformá-la, RODF.
214

Alega, nas razões de recurso, apresentadas por


dedicado e culto patrono, a atipicidade do fato que lhe é
imputado, pois a arma de fogo que trazia consigo não
estava municiada; pelo que, era força absolvê-lo.

No caso, todavia, que a colenda Câmara lhe


confirmasse o edito condenatório, pleiteava a concessão
do benefício do “sursis” (fls. 141/142).

A douta Promotoria de Justiça ofereceu


contrarrazões de recurso, nas quais repeliu a pretensão
da nobre Defesa e propugnou a manutenção da r.
sentença de Primeiro Grau (fls. 147/148).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


incisivo e escorreito parecer do Dr. Marcílio Grecco,
opina pelo improvimento da apelação (fls. 153/155).

É o relatório.

2. O órgão do Ministério Público pôs ação contra o


réu porque, aos 28 de dezembro de 1997, pela
madrugada, na Av. Santa Teresa, em Rio Grande da
Serra, Comarca de Ribeirão Pires, portava e,
posteriormente, ocultou arma de fogo sem autorização e
em desacordo com determinação legal ou regulamentar.
215

Instaurada a persecução criminal, seguiu o feito os


trâmites da lei; ao cabo, a r. sentença de fls. 130/133
decretou a condenação do réu, que, inconformado com
o desfecho da lide penal, manifestou recurso para esta
augusta Corte de Justiça, na expectativa de absolvição,
ou suspensão condicional da pena.

3. A absolvição que reclama o apelante não lhe pode


ser dispensada, porque em contradição visceral com os
elementos de prova reunidos no processado.

Com efeito, interrogado em Juízo (fl. 39 v.),


ratificou os termos da denúncia e admitiu a posse
irregular da arma apreendida pelos policiais.

A alegação de que, por desmuniciada a arma, não


incorria sua conduta na letra do art. 10, “caput”, da Lei
nº 9.437/97, não assenta em bom fundamento, “data
venia”.

A razão é que – e bem o persuadiu o douto


parecer da Procuradoria-Geral de Justiça – “estava apta
para a produção de disparos e poderia eventualmente ser
utilizada pelo réu, que não tinha autorização para portá-la”
(fl. 154).
216

Os julgados que menciona a douta Promotoria de


Justiça, em suas contrarrazões de apelação, fazem muito
ao caso e merecem reproduzidos (fl. 148):

a) “É suficiente para configurar a conduta descrita no art.


10, caput, da Lei nº 9.437/97 a apreensão de um
revólver desmuniciado encontrado no bolso da calça do
agente, não sendo necessário para a consumação estar
a arma carregada” (TACrimSP; Ap. nº 1.193.909;
rel. Paulo Vitor; j. 15.6.2000).

b) “A circunstância de estar a arma desmuniciada não


exclui a tipicidade do delito de porte ilegal de arma de
fogo, previsto no art. 10, caput, da Lei nº 9.437/97,
pois entende-se como suficiente para sua condenação
tão somente o porte do armamento sem a devida
autorização da autoridade competente” (STJ;
HC nº 14.747-SP; rel. Min. Gilson Dipp;
DJU 19.3.2001, p. 127).

Ainda:

“Não fica descaracterizado o tipo, uma vez que a lei visa


a evitar que o agente se utilize do temor causado
pelo porte daquele instrumento” (TACrimSP; Ap. nº
217

677.095; rel. Ribeiro dos Santos; apud Damásio E.


de Jesus, Crimes de Porte de Arma de Fogo e
Assemelhados, 1999, p. 28).

4. À vista da confissão e da apreensão da arma de real


potencialidade ofensiva (fls. 30/31), era inevitável a
condenação do réu.

Do valor da confissão em Juízo estão repletos os


repertórios de Jurisprudência.

A confissão, com efeito, se em harmonia com


outros elementos do processo, passa por prova
excelente; com razão a denominaram os antigos “regina
probationum”.

É conspícuo o lugar que, entre os elementos de


prova, lhe atribuem nossos Tribunais:

“A confissão judicial constitui elemento seguríssimo


de convicção. Apenas especialíssima e incomum
circunstância que lhe evidencie a insinceridade justifica
sua recusa” (JTACrSP, vol. 12, p. 112).
218

5. Configurado o tipo do art. 10, “caput”, da Lei nº


9.437/97, a condenação do apelante era inelutável.

Ao cominar pena a todo aquele que, sem licença de


autoridade competente, traz arma consigo, pôs em mira
o legislador “evitar a posse indiscriminada de armas de fogo
e os perigos que acompanham a admissão de uma sociedade
armada sem que existam controles ou regras gerais
estabelecidas” (Luiz Flávio Gomes, Lei das Armas de Fogo,
1998, p. 107).

Tal proibição respeita diretamente a um dos


princípios fundamentais proclamados pela Constituição
Federal: “(…) preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas” (art. 144).

Vem aqui a ponto o magistério da Jurisprudência:

“A infração penal consistente no porte ilegal de arma de


fogo, prevista no art. 10 da Lei nº 9.437/97, não exige,
para sua configuração, a existência de um perigo
concreto, uma vez que o bem jurídico tutelado é a
segurança coletiva, um dos direitos fundamentais
previsto expressamente no art. 5º, caput, da Const.
Federal” (Rev. Tribs., vol. 766, p. 586; rel. Walter
Guilherme).
219

6. À derradeira, não pode ser acolhida de boa sombra


a pretensão alternativa da Defesa, isto é, a convolação
da medida restritiva de direitos para “sursis”.

De feito, conforme a expressão literal do art. 77, nº


III, do Código Penal, o “sursis” é deferido ao condenado
nas hipóteses em que, além de satisfazer aos mais
requisitos, “não seja indicada ou cabível a substituição
prevista no art. 44”.

Ora, no caso de que se trata, a substituição da


pena corporal por restritiva, na modalidade de
prestação de serviços à comunidade, era a medida mais
recomendável, por amor da necessidade da reprovação
e prevenção do crime.

Em resumo: quer-se confirmada, por seus próprios


e jurídicos fundamentos, a r. sentença que proferiu o
distinta e culta Magistrada Dra. Fabiana Feher Recasens
Vargas.

7. Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 20 de agosto de 2003


Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

10
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA — SEÇÃO CRIMINAL

Apelação Criminal nº 331.056-3/5-00


Comarca: Rio Claro
Apelante: SM
Apelado: Justiça Pública

Voto nº 6836
Relator

— Para autorizar decreto condenatório


basta a confissão judicial do réu.
Deveras, é axioma de Direito que “a
confissão da parte releva de outra prova” (cf.
Cândido Mendes de Almeida, Auxiliar
Jurídico, 1985, t. II, p. 530).
—“Para a existência do delito (do art. 12 da
Lei nº 6.368/76) não há necessidade de
ocorrência de dano. O próprio perigo é
presumido em caráter absoluto, bastando
para a configuração do crime que a conduta
seja subsumida num dos verbos previstos”
(Vicente Greco Filho, Tóxicos, 1995,
p. 83).
221

— As circunstâncias gerais e abstratas


do crime foram já consideradas no
momento da elaboração legislativa, pelo
que não há encarecê-las de novo o Juiz
ao estabelecer a pena do réu (art. 59 do
Cód. Penal), senão incorrerá em “bis in
idem”.
—“A incidência da circunstância atenuante
não pode conduzir à redução da pena abaixo
do mínimo legal” (Súmula nº 231 do STJ).
— A estipulação do regime integralmente
fechado para o réu de tráfico de
entorpecentes, crime do número dos
hediondos, decorre da vontade da lei
(art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90).

1. Da r. decisão que proferiu o MM. Juízo de


Direito da 1a. Vara Criminal da Comarca de Rio
Claro, condenando-o à pena de 5 anos e 4 meses de
reclusão e 80 dias-multa, no regime fechado, por
infração do art. 12, conjugado com o art. 18, nº IV,
da Lei nº 6.368/76 (Lei de Tóxicos), interpôs recurso de
Apelação para este egrégio Tribunal, no intuito de
reformá-la, SM.

Afirma, por seu distinto e culto patrono, que


as provas reunidas no processado não eram aptas
a autorizar-lhe a condenação, pelo que cumpria
absolvê-lo, ou reconhecer em seu obséquio a figura da
desistência voluntária.
222

Reclama ainda contra a dosimetria da pena, que


houve por imoderada.

Pleiteia, destarte, à colenda Câmara tenha a bem


reexaminar a espécie dos autos e restaurar o império
da Justiça (fls. 196/203).

A douta Promotoria de Justiça respondeu ao


recurso, refutando-lhe os argumentos; propugnou, ao
mesmo tempo, a manutenção da r. sentença apelada
(fls. 208/210).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


acurado e sólido parecer do Dr. Rubem Ferraz de
Oliveira, opina pelo provimento parcial do recurso,
para redução da pena imposta (fls. 214/216).

É o relatório.

2. A Justiça Pública deu denúncia contra o réu


porque, em 5.3.1999, pelas 16h30, na Rua 7 (Jardim
Palmeiras), em Rio Claro, obrando em concurso e
unidade de propósitos com outro indivíduo (Maria
FM), mantinha em depósito, para fins de tráfico, 79,5g
de cocaína, substância entorpecente e que determina
dependência física ou psíquica, sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar.
223

Com base em informação anônima, policiais,


munidos de mandado de busca, dirigiram-se ao local
dos fatos e entraram na residência, onde apreenderam
12 pacotinhos de cocaína.

Reza a denúncia que a corré Maria ficava na frente


da casa com uma criança no colo, para indicar que havia
drogas no local, ao passo que outra criança era usada
para as respectivas entregas, tudo de comum acordo
com Santolino (fls. 2/3).

Instaurada a “persecutio criminis in judicio” (fl. 70 v.),


transcorreu o processo na forma da lei. Ao cabo, a r.
sentença de fls. 176/187 condenou o réu a cumprir a
pena de 5 anos e 4 meses de reclusão e 80 dias-multa,
no regime fechado, por infração do art. 12, conjugado
com o art. 18, nº IV, da Lei nº 6.368/76.

Irresignado com o desfecho condenatório da lide,


o réu apelou para esta augusta Corte de Justiça,
pretendendo absolvição por insuficiência de prova.

3. Salvo o devido respeito à dedicação de seu patrono,


improcede, “data venia”, o inconformismo do réu, pois a
sentença impugnada dirimiu com exação e à justa luz a
controvérsia entretida nos autos.
224

A absolvição que o réu encomenda não se concilia,


a meu aviso, com a prova dos autos.

A tese de que a espécie sujeita configurava fato


atípico, em razão da “desistência voluntária” do
comércio nefando, mostra-se, “data venia”, de todo
insustentável.

Deveras, entre os núcleos (e são 18) do art. 12 da


Lei nº 6.368/76, inclui-se guardar e ter em depósito. Isto,
segundo o conjunto probatório, fazia o réu: mantinha
em depósito 12 pacotinhos de cocaína.

O escólio de Vicente Greco Filho faz bem ao


intento:

“Para a existência do delito não há necessidade de


ocorrência do dano. O próprio perigo é presumido em
caráter absoluto, bastando para a configuração do
crime que a conduta seja subsumida num dos verbos
previstos” (Tóxicos, 1995, p. 83).

De igual teor é a jurisprudência deste egrégio


Tribunal:
225

“O tipo previsto no art. 12 da Lei nº 6.368/76 é


congruente ou congruente simétrico, esgotando-se o seu
tipo subjetivo no dolo. As figuras, v.g., de transportar,
trazer consigo, guardar ou, ainda, de adquirir
não exigem, para a adequação típica qualquer
elemento subjetivo adicional tal como o fim de
traficar ou comercializar. Além do mais, para tanto,
basta também atentar para a incriminação do
fornecimento” (RHC nº 16.133-MG; 5a. T.; rel.
Min. Felix Fischer; j. 5.8.2004).

Em verdade, foi detido naquelas circunstâncias que


a doutrina clássica denomina “certeza visual do crime” (cf.
Tostes Malta, Do Flagrante Delito, 1933, p. 25):
mantinha em depósito substância que, segundo o laudo
de exame químico-toxicológico de fl. 73, determina
dependência física e psíquica.

Ao demais, os elementos de prova reunidos no


processado prestigiaram os artigos do libelo.

Em seu interrogatório em Juízo, admitiu o réu a


posse da droga tóxica, para fins de tráfico, a despeito de
não haver dela vendido porção alguma.
226

Ora, feita em Juízo, a confissão encerra a força que


basta a justificar um edito condenatório.

Deveras, é axioma de Direito que “a confissão da


parte releva de outra prova” (cf. Cândido Mendes de
Almeida, Auxiliar Jurídico, 1985, t. II, p. 530).

Isto mesmo proclama a Jurisprudência:

“A confissão judicial tem valor absoluto e, ainda que


seja o único elemento de prova, serve como base à
condenação, só podendo ser recusada em circunstâncias
especialíssimas, ou seja, naquelas em que se lhe evidencie
a insinceridade, ou quando tiver prova veemente em
contrário” (Rev. Tribs., vol. 744, p. 573; rel. Nélson
Fonseca).

O auto de apreensão de fls. 23/24, o laudo


de exame químico-toxicológico (fls. 73/74) e os
depoimentos colhidos na fase de instrução do processo
conferiram certeza à imputação de que o réu mantinha
em depósito substância entorpecente.

A solidez da prova de sua conduta criminosa


impede se aplique à espécie dos autos o aforismo
jurídico “In dubio pro reo”.
227

A decretação do veredicto condenatório era,


portanto, o consectário lógico do exame pontual dos
autos.

4. Na dosimetria da pena, porém, é onde acho razão


ao esforçado e competente defensor do réu.

Com efeito, “circunstâncias gerais e abstratas” do


delito já foram “ponderadas no momento da elaboração
legislativa”, como o ressaltou, com oportunidade e o
rigor lógico de sempre, o preclaro subscritor do parecer
da Procuradoria-Geral de Justiça (fl. 216). Encarecê-las
novamente, por ensejo da fixação da pena-base do réu,
fora violar o preceito “Ne bis in idem”.

Assim, primário o réu, sua pena-base deve fixar-se


no mínimo legal previsto para o tipo do art. 12 da Lei nº
6.368/76 – 3 anos de reclusão e 50 dias-multa, no valor
mínimo –, acrescida de 1/3 pela causa de aumento do
inc. IV do art. 18 do citado diploma legal (venda de
entorpecente nas imediações de escola), de que resulta o
montante definitivo de 4 anos de reclusão e 66 dias-multa.

A diminuição da pena, por amor da circunstância


atenuante da confissão (art. 65, nº III, alínea d, do Cód.
Penal), não se mostra aqui atendível, à luz do disposto
228

na Súmula nº 231 do Colendo Superior Tribunal de


Justiça: “A incidência da circunstância atenuante não pode
conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal”.

O regime de cumprimento de pena era o de lei,


integralmente fechado, por tratar-se de crime do número
dos hediondos (art. 2º, § 1º, da Lei nº 8.072/90).

Afora o pequeno reparo da redução da pena,


mantenho no mais a r. sentença que proferiu, com bons
e jurídicos fundamentos, o distinto e culto Magistrado
Dr. Pedro Ivo de Arruda Campos.

5. Pelo exposto, dou provimento parcial ao recurso para


reduzir a pena do réu a 4 anos de reclusão e 66 dias-
-multa, no valor mínimo legal, por infração dos arts.
12 e 18, nº IV, da Lei nº 6.368/76, mantida no mais a
r. sentença de Primeiro Grau.

São Paulo, 24 de abril de 2006


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

11
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA — SEÇÃO CRIMINAL

Apelação Criminal nº 993.08.037871-1


Comarca: Mairiporã
Apelante: AARL
Apelado: Ministério Público

Voto nº 10.480
Relator

— Não se exime da tacha de larápio (e,


pois, cai sob o rigor da lei) o sujeito
que, tendo-se enfrascado em bebidas
alcoólicas, entra em propriedade alheia,
subtrai animal (boi), que abate, e da
carne faz churrasco para amigos e
vizinhos.
— O argumento da embriaguez não
aproveita ao infrator, exceto se
completa e involuntária. A embriaguez
voluntária, dispõe a lei que não
elide a responsabilidade criminal do
agente, porque não lhe exclui a
imputabilidade (art. 28, nº II, do Cód.
Penal).
230

— Ainda que do fato criminoso praticado


na calada da noite não haja outras
testemunhas mais que as estrelas do céu,
incensurável é a sentença que, baseada
em confissões extrajudiciais harmônicas
e verossímeis, condena sujeitos acusados
de abigeato, ou furto de gado.
—“A confissão atendível é raio de luz que
ilumina de jato todos os escaninhos dos
crimes ocultos, dissipa as dúvidas, orienta as
ulteriores investigações e conforta de um só
passo os escrúpulos do juiz e as preocupações
de justiça dos homens de bem” (Hélio
Tornaghi, Curso de Processo Penal, 1980,
vol. I, p. 382).
— Em obséquio ao espírito da lei – que
previne todo prejuízo à jornada normal
de trabalho do condenado (art. 46,
§ 3º, do Cód. Penal) –, é de bom
exemplo, nos casos urgentes, alterar
medida substitutiva penal aplicada
ao réu (prestação de serviços à
comunidade) para duas restritivas de
direitos: interdição temporária de
direitos (proibição de frequentar
determinados lugares) e multa (arts. 44,
§ 2º, 43, nº V, e 47, nº IV, do Cód.
Penal). Seria desarrazoado, com efeito,
obrigá-lo a prestar serviços gratuitos
à comunidade em detrimento da
subsistência própria e da família.

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de


Direito da 1a. Vara da Comarca de Mairiporã,
condenando-o à pena de 2 anos de reclusão, no
regime aberto, e 10 dias-multa, substituída a pena
privativa de liberdade por restritiva de direitos, por
231

infração do art. 155, § 4º, nº IV, do Código Penal,


interpôs recurso para este Egrégio Tribunal, com o
escopo de reformá-la, AARL.

Nas razões de recurso, elaboradas por diligente


patrono, afirma que a prova dos autos, precária
e insegura, não justificava a edição do decreto
condenatório.

Argumenta, ainda, que o réu praticara o fato em


estado de embriaguez.

Destarte, espera que a colenda Câmara lhe proveja


o recurso para absolvê-lo. Mas, se lhe mantiver o edito
condenatório, pleiteia redução da pena, a seu aviso
fixada com demasiado rigor (fls. 331/332).

As razões da Defesa, refutou-as, com bons


fundamentos, a douta Promotoria de Justiça e
propugnou o provimento parcial da apelação (fls.
335/336).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


abalizado e escorreito parecer do Dr. Mário Luiz
Sarrubbo, opina pelo provimento parcial do recurso
(fls. 380/384).
232

É o relatório.

2. Foi o réu chamado a prestar contas à Justiça


Criminal porque, em 23.1.2004, pelas 9h30, na Rua
Um (Jardim Paraíso, Terra Preta), em Mairiporã,
obrando em concurso e unidade de propósitos com
Carlos JM e José CM (vulgo “Zé Magrela”), subtraiu
para si um animal bovino, pertencente a Benedita
Antonia Romero.

Reza a denúncia que, nas mesmas condições de


tempo e lugar, Carlos JM mantinha sob sua guarda
e ocultava arma de fogo de uso proibido, sem
autorização e em desacordo com determinação legal
ou regulamentar.

Consta dos autos que o réu e seus comparsas


entraram na propriedade da vítima e, após apartar
uma das reses do rebanho, conduziram-na a outro
local, onde a abateram, dividindo-lhe a carne entre si.

Avisada dos fatos, a Polícia empreendeu


diligências; ao cabo, encontrou, na casa dos larápios,
parte da “res furtiva”.
233

Instaurada a persecução criminal, foram os réus


condenados pela r. sentença de fls. 318/323, com a
qual não concordou o apelante, que clama por
absolvição.

3. A despeito de seus protestos de inocência, o


inconformismo do réu não procede, “data venia”.

Com efeito, ainda que digno de louvor o


empenho de seu nobre patrono, está cumpridamente
demonstrado que fora um dos autores do furto e
subsequente abate do animal descrito na denúncia.

No claro intento de descaracterizar o ilícito penal


que lhe foi imputado, o réu, ouvido no inquérito e em
Juízo, ensaiou versão escusatória, com dizer que
encontrara o animal vagando pela rua, sem dono, pelo
que deliberou levá-lo consigo para o abate (fls. 8 e
110/111).

Tal alegação, porém, não tem visos de verdade,


antes argui imaginação destemperada.

De fato, aquele que não justifica, além de dúvida,


a posse de coisa alheia, entende-se que a adquiriu por
meio criminoso.
234

Como alegou causa escusativa de criminalidade


do fato, afirmando deparara com o animal abandonado,
cumpria ao réu comprová-lo, “ad satiem”, conforme a
regra de direito (art. 156 do Cód. Proc. Penal), sob pena
de incorrer na censura de réu confesso.

Vem aqui de molde o magistério da Jurisprudência:

“Em tema de delito patrimonial, a apreensão da coisa


subtraída em poder do réu gera a presunção de sua
autoria e, invertendo-se o ônus da prova, impõe-lhe
justificativa inequívoca” (RJTACrimSP, vol. 43,
p. 253; rel. Rulli Júnior).

Tendo admitido a autoria do furto, a mais prova


oral já se mostrava escusada.

Com efeito, passa por verdade irrefutável a


confissão da autoria do fato em Juízo, pela certeza de
que livre de todo o constrangimento.

Esta é a lição de Hélio Tornaghi, em seu


esplêndido livro:
235

“É sumamente tranquilizador para a consciência do


Juiz ouvir dos lábios do réu uma narrativa
convincente do fato criminoso com a declaração de
havê-lo praticado” (Curso de Processo Penal, 1980,
vol. I, p. 381).

Do valor da confissão estão repletos os livros de


graves autores. Serve ao intento este passo de José
Frederico Marques:

“Para os chamados penalistas práticos, a confissão do


acusado se equiparava à própria coisa julgada, como
ensinava Farinácio: Confessio habet vim rei judicatae”
(Estudos de Direito Processual Penal, 1a. ed.,
p. 290).

4. A alegação do réu, a modo de defesa, de que


surripiara o animal porque se achava sob o efeito do
álcool, não lhe aproveita.

Com efeito, consoante a sistemática do Código


Penal, a embriaguez, por álcool ou substância análoga,
só é causa excludente de culpabilidade quando
completa, involuntária ou proveniente de caso fortuito
ou força maior (art. 28, § 1º, do Cód. Penal).
236

A lição de Damásio E. de Jesus faz muito ao caso:

“Se o sujeito comete uma infração penal sob efeito de


embriaguez, voluntária ou culposa, não há exclusão
da imputabilidade e, por consequência, não fica
excluída a culpabilidade. Ele responde pelo crime”
(Código Penal Anotado, 8a. ed., p. 116).

Em face do que levo expendido, nenhuma outra


solução era compatível com o acervo probatório,
exceto a condenação do réu.

Primário e autor de furto qualificado pelo


concurso de agentes, a pena que a r. sentença impôs ao
réu (2 anos de reclusão) não sofre alteração. Também
no substituí-la por pena alternativa obrou a nobre
Magistrada com acerto e bom critério.

Todavia, como observou com grande penetração


o insigne Procurador de Justiça, o cumprimento da
jornada de 8 horas semanais, em contradição com o
que preceitua o art. 46, § 3º, do Código Penal, poderá
prejudicar o desempenho da atividade profissional do
réu.
237

Assim, em obséquio ao espírito da lei – que


previne todo prejuízo à jornada normal de trabalho do
condenado (art. 46, § 3º, do Cód. Penal) –, hei
por bem alterar a pena substitutiva do réu (prestação
de serviços à comunidade) para duas restritivas:
interdição temporária de direitos (proibição de
frequentar determinados lugares) e 10 dias-multa, no
valor mínimo legal (arts. 44, § 2º, 43, nº V, e 47, nº IV,
do Cód. Penal).

Seria desarrazoado, com efeito, obrigá-lo a


prestar serviços gratuitamente à comunidade em
detrimento da subsistência própria e da família (fls.
110 e 117).

Afora esse pouco, mantenho no mais, por seus


bons e jurídicos fundamentos, a r. sentença que
proferiu a distinta e culta Juíza Dra. Carla Zoéga
Andreatta Coelho.

5. Pelo exposto, dou provimento parcial ao recurso para


alterar a pena substitutiva do réu – prestação de
serviços à comunidade para duas restritivas de direitos:
interdição temporária de direitos (proibição de
frequentar lugares) e 10 dias-multa, no valor mínimo
238

legal (arts. 44, § 2º, 43, nº V, e 47, nº IV, do Cód. Penal),


mantida, no mais, a r. sentença de Primeiro Grau.

São Paulo, 29 de agosto de 2008


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

12
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA — SEÇÃO CRIMINAL

Agravo em Execução nº 993.08.034050-1


Comarca: Sorocaba
Agravante: Ministério Público
Agravado: LHDO

Voto nº 10.499
Relator

— Se o sentenciado satisfez ao requisito


objetivo (lapso temporal), observou
sem quebra o código de disciplina do
presídio e submeteu-se à laborterapia,
tem jus à progressão ao regime
semiaberto, porque esta é a vontade da
lei (art. 112 da Lei de Execução Penal).
Somente fato grave, indicativo de
personalidade anômala e refratária
aos estímulos da recuperação, poderá
obstar-lhe a mudança para regime
prisional mais brando.
240

— O argumento da pena longa não é


poderoso a impedir a concessão do
benefício do regime semiaberto ao
sentenciado, se já cumpriu dela a sexta
parte (necessariamente longa).

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de


Direito da Vara das Execuções Criminais da Comarca
de Sorocaba, deferindo ao sentenciado LHDO a
progressão ao regime semiaberto, interpôs Agravo em
Execução para este Egrégio Tribunal, com o intuito
de reformá-la, o ilustre representante do Ministério
Público.

Nas razões de recurso, elaboradas por dedicado e


culto Promotor de Justiça, afirma que, ao deferir ao
agravado o benefício da progressão de regime, o douto
Magistrado ofendera de frente o direito positivo.

Acrescenta que, condenado pela prática de


latrocínio, o agravado não fazia jus ao benefício.

Ao demais, ainda lhe restavam cerca de 12 anos


para o término do cumprimento da pena; a concessão
da progressão de regime era, pois, temerária, visto que
expunha a risco a coletividade e a paz social, pela
possibilidade de fuga.
241

Pleiteia, destarte, à colenda Câmara tenha a bem


cassar a r. decisão de Primeiro Grau (fls. 27/34).

Apresentou a Defesa contraminuta de agravo, na


qual repeliu a pretensão do Ministério Público e
propugnou a mantença da r. decisão atacada (fls. 37/43).

O r. despacho de fl. 44 manteve, por seus próprios


fundamentos, a r. decisão recorrida.

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


sólido e abalizado parecer do Dr. Álvaro Busana, opina
pelo provimento do recurso (fls. 50/52).

É o relatório.

2. Instruindo seu pedido com “atestado comprobatório


de comportamento carcerário” e boletim informativo (fls.
4/7), requereu o agravado progressão ao regime
semiaberto.

A r. decisão de fl. 18, tendo por satisfeitos os


requisitos da lei, deferiu-lhe o benefício, o que não
levou a bem o combativo Dr. Promotor de Justiça;
daqui o haver recorrido.
242

3. Sem embargo da excelência dos argumentos que


constam do recurso interposto, estou em que a
pretensão do sentenciado foi dirimida à justa luz pela
r. decisão impugnada.

Condenado à pena de 13 anos e 4 meses de


reclusão, por infração do art. 157, § 3º, do Código Penal,
cumpriu o sentenciado as condições objetivas e
subjetivas, conforme ressaltou a r. decisão de Primeiro
Grau.

Ainda: não cometeu faltas e mantém “bom


comportamento carcerário” (fl. 4).

Razão forte para que se lhe deferisse o benefício


foi ter sabido o agravado guardar as normas
disciplinares do estabelecimento prisional, além de
arguir ânimo para, pela dedicação ao trabalho,
reintegrar-se no convívio da sociedade.

Com efeito, o argumento da pena longa, “data


venia”, tem muito de especioso: pois dessa pena o
sentenciado já cumpriu, entre ferros, para mais de 1/6,
necessariamente longo!
243

Ao demais, nisto de progressão de regime,


importante é que o preso tenha demonstrado condições
e vontade de ressocializar-se.

Vem a pelo o julgado abaixo reproduzido por sua


ementa:

“Apesar de observação desfavorável do exame psicológico,


e pese embora o risco inerente ao sistema progressivo, é
aconselhável dar ao sentenciado a oportunidade de sua
progressão ao regime semiaberto, na expectativa de que
faça dela meio legítimo de reintegração social, quando
atende ao requisito temporal e ostenta boa conduta
carcerária com aproveitamento laborterápico, obtendo
pareceres favoráveis da CTC e da Diretoria do
estabelecimento” (TacrimSP; Ag. Exec. nº 869.995/1;
rel. Teodomiro Méndez).

4. Cabe notar que, passando ao regime semiaberto,


continuará o sentenciado sob permanente fiscalização
do Estado: fica afastado, pois, o escrúpulo de que possa
fraudar a lei e frustrar a esperança de sua regeneração.

Somente fato grave, indicativo de personalidade


anômala e refratária aos estímulos da recuperação, é que
pode obstar à mudança de regime prisional.
244

Isto mesmo sustentam opinados autores e


proclama a jurisprudência dos Tribunais:

“Tratando-se de mera progressão ao regime semiaberto,


pouco menos oneroso que o regime fechado, não se deve
emprestar ao exame do caso critério mais rigoroso, sob
pena de tirar-se todo o estímulo ao reeducando que, no
regime intermediário, não será devolvido à liberdade
nem ao convívio aberto com o meio social, afigurando-se
a conveniência e justiça de conceder a progressão
desejada, no curso da qual, em sendo seu comportamento
inadequado, poderá sofrer pronta regressão” (TJSP;
Ag. Exec. nº 114.156-3; j. 20.11.91; rel. Djalma
Lofrano; apud Alberto Silva Franco et alii, Código
de Processo Penal e sua Interpretação Jurisprudencial,
1999, t. II, p. 3.324).

Por fim, é muito de advertir que, deferindo ao


sentenciado o benefício da progressão, apresenta-lhe a
Justiça moção de confiança extraordinária, que espera
saiba honrar sempre.

Destarte, merece confirmada, por seus legítimos e


bons fundamentos, a r. sentença que proferiu o culto e
digno Magistrado Dr. José Eduardo Marcondes
Machado (fl. 18).
245

5. Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 1º de agosto de 2008


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

13
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA — SEÇÃO CRIMINAL

Agravo em Execução nº 990.09.145619-5


Comarca: São Paulo
Agravante: Ministério Público
Agravado: BBAF

Voto nº 12.203
Relator

—“A imposição de serviços à comunidade como


condição da pena em regime aberto implica
inaceitável bis in idem, pois a restrição de
direitos possui caráter substitutivo da pena
privativa de liberdade, não podendo ser
cumulada com esta, como condição especial
daquele regime” (Rev. Tribs., vol. 753,
p. 730).
247

—“Conversão de pena restritiva de direito em


privativa de liberdade, porque o sentenciado
não foi localizado para dar cumprimento ——
Regime aberto, sem fixação de condição
especial consistente em prestação de
serviços à comunidade —— Possibilidade –
O descumprimento injustificado da
pena restritiva de direitos acarreta,
obrigatoriamente, a conversão em pena
privativa de liberdade —— Inteligência
dos arts. 44, § 4º, do Código Penal e 181,
§ 1º, alínea a, da Lei de Execução Penal ——
Decisão mantida —— Recurso improvido”
(TJSP; Ag. Exec. nº 990.08.056459-5,
16a. Câm. Criminal; rel. Newton
Neves).
— Se o sentenciado cumpriu inteiramente
sua pena, carece de legítimo interesse
o pedido de reforma da decisão. Em
consequência, agravo em execução
interposto com essa finalidade está
prejudicado, visto perdeu o objeto (art.
197 da Lei de Execução Penal).

1. Da r. decisão que proferiu o MM. Juízo de


Direito da 5a. Vara das Execuções Criminais da
Comarca da Capital, reconvertendo a pena restritiva de
direitos aplicada a BBAF em privativa de liberdade, mas
deixando de fixar condição especial de prestação de
serviço à comunidade, interpôs Agravo em Execução,
com o intuito de reformá-la, o ilustre representante do
Ministério Público.
248

Alega, nas razões de fls. 3/12, que a douta


Magistrada decidira contra os princípios gerais do
Direito ao dispensar o recorrido da prestação de
serviços à comunidade, submetendo-o apenas ao regime
aberto.

Acrescenta que, “com a conversão do modo como foi


realizada, bastará ao sentenciado comparecer ao cartório
judicial e o mandado de prisão sequer será cumprido, com isso
recebendo um prêmio pelo descumprimento das obrigações”
(fl. 5).

Após autorizar seu pedido com o magistério da


Doutrina e da Jurisprudência, requereu o provimento
do recurso para que, de par com a pena, seja fixada ao
agravado a condição especial de prestação de serviço à
comunidade.

Apresentou a nobre Defesa contraminuta de


agravo, na qual repeliu a pretensão da douta
Promotoria de Justiça e terçou pela confirmação da r.
decisão recorrida (fls. 39/41).

O r. despacho de fl. 42 manteve a decisão


impugnada por seus próprios fundamentos.
249

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


firme e incisivo parecer da Dra. Marisa Mantilla
Marques Leite, opina pelo provimento do agravo (fls.
44/47).

É o relatório.

2. Processado perante o MM. Juízo de Direito da


29a. Vara Criminal da Capital, por infração do art. 180,
“caput”, do Código Penal, foi o recorrido condenado pela
r. sentença de fls. 19/26 à pena de 1 ano de reclusão, no
regime aberto, e 10 dias-multa.

A pena privativa de liberdade, substituiu-lha a r.


sentença por prestação de serviços à comunidade, por
igual período.

Mas, dado que o réu não comparecera em Juízo


para dar início ao cumprimento da pena restritiva de
direitos, a r. decisão de fls. 33/34, proferida pelo MM.
Juízo de Direito da 5a. Vara das Execuções Criminais
da Comarca da Capital, converteu-lhe a pena restritiva
de direitos em privativa de liberdade, como imposta na
r. sentença.
250

O órgão do Ministério Público, entretanto, esse


não esteve pela r. decisão, antes a notou de ilegal e
clamou por sua reforma, pois deixara de “fixar a condição
especial de prestação de serviços à comunidade para o regime
aberto” (fl. 3).

3. Salvo o respeito e a admiração de que são dignos


sempre aqueles que se abalizam na ciência de seu ofício
e nas virtudes – como os subscritores do recurso e do
parecer da Procuradoria-Geral de Justiça –, tenho por
superior a toda a crítica a r. decisão de Primeiro Grau.
Há mais, porém: ao resolver a questão sujeita, obrou
segundo os melhores de direito e as leis da razão, e ainda
com sabedoria.

Com efeito, em vista do descumprimento da pena


substitutiva aplicada ao sentenciado – “prestação de
serviços à comunidade” (fls. 33/34) –, a preclara Juíza
de Direito da 5a. Vara das Execuções Criminais da
Comarca da Capital converteu a pena restritiva de
direito em privativa de liberdade, a ser cumprida no
regime aberto.
251

A despeito dos que professam inteligência diversa,


fico não se desabraçou do espírito da lei a Magistrada
que, procedendo com tento e discrição, converteu a
pena do sentenciado e não lhe acrescentou alguma
condição especial para seu cumprimento.

Primeiro que o mais, a falta de estipulação de


condição especial para o caso de descumprimento
injustificado da pena restritiva de direitos, ao contrário
do que inculcou o estrênuo subscritor do recurso (fls.
3/12), não a tornou írrita ou deficiente.

Deveras, não poderia a sentença de conversão de


fls. 33/34 aplicar pena superior à inicialmente aplicada
ao agravado na própria sentença condenatória, o que
configuraria a vedada “reformatio legis in pejus”.

4. De outra parte, nos termos do art. 44 do Código


Penal, a pena restritiva de direito tem caráter
substitutivo da pena privativa de liberdade, não
podendo portanto ser aplicadas cumulativamente:

Isto é o que se pratica nos Tribunais:

“A imposição de serviços à comunidade como condição da


pena em regime aberto implica inaceitável bis in idem,
252

pois a restrição de direitos possui caráter substitutivo da


pena privativa de liberdade, não podendo ser cumulada
com esta, como condição especial daquele regime” (Rev.
Tribs., vol. 753, p. 730).

Ainda:

“Conversão de pena restritiva de direito em privativa de


liberdade, porque o sentenciado não foi localizado para
dar cumprimento —— Regime aberto, sem fixação de
condição especial consistente em prestação de serviços
à comunidade —— Possibilidade – O descumprimento
injustificado da pena restritiva de direitos acarreta,
obrigatoriamente, a conversão em pena privativa de
liberdade —— Inteligência dos arts. 44, § 4º, do Código
Penal e 181, § 1º, alínea a, da Lei de Execução Penal
– Decisão mantida —— Recurso improvido” (TJSP;
Ag. Exec. nº 990.08.056459-5; 16a. Câm. Criminal;
rel. Newton Neves).

5. Pelo exposto, nego provimento ao recurso.

São Paulo, 4 de setembro de 2009


Des. Carlos Biasotti
Relator
PODER JUDICIÁRIO

14
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

QUINTA CÂMARA — SEÇÃO CRIMINAL

Apelação Criminal nº 993.04.008432-6


Comarca: São Paulo
Apelante: Ministério Público
Apelada: CSL

Voto nº 12.416
Relator

— Exemplo típico de infração do art. 333


do Cód. Penal (corrupção ativa), incorre
na sanção da lei o sujeito que oferece
dinheiro a policial para que não lhe
efetue a prisão.
— A substituição da pena privativa de
liberdade por medida alternativa é
providência de efeito salutar, uma vez
que, sobre cooperar na reeducação
do infrator, importa benefícios para a
comunidade. Não tenha dúvida o Juiz
em adotá-la generosamente (art. 44 do
Cód. Penal).
254

— Se superior a um ano a pena privativa


de liberdade aplicada ao réu, somente
a poderá substituir o Juiz por uma
restritiva de direitos e multa, ou por
duas restritivas de direitos, conforme a
disposição do art. 44, § 2º, do Cód. Penal.
— O decurso do tempo apaga a memória
do fato punível e a necessidade do
exemplo desaparece (Abel do Vale; apud
Ribeiro Pontes, Código Penal Brasileiro,
8a. ed., p. 154).
— A prescrição intercorrente (art. 110, § 1º,
do Cód. Penal) “constitui forma de prescrição
da pretensão punitiva (da ação), que rescinde
a própria sentença condenatória” (Damásio
E. de Jesus, Código Penal Anotado, 18a.
ed., p. 358).

1. Da r. sentença que proferiu o MM. Juízo de


Direito da 21a. Vara Criminal da Comarca da Capital,
condenando CSL às penas de 7 meses de detenção, por
infração do art. 16 da Lei nº 6.368/76, e 1 ano e 2 meses
de reclusão e 30 dias-multa, por infração do art. 333,
“caput”, do Código Penal, substituídas as penas privativas
de liberdade por restritiva de direitos, interpôs o
ilustre representante do Ministério Público recurso de
Apelação para este Egrégio Tribunal, no intuito de
reformá-la.

Nas razões de apelação, elaboradas com apuro e


zelo funcional, reclama a douta Promotoria de Justiça
da r. sentença na parte em que substituiu as penas
255

privativas de liberdade por uma restritiva de direitos


(e não duas).

Requer, a essa conta, o provimento do apelo para


o efeito de ser imposta à ré outra pena restritiva de
direitos, ou multa, nos termos do art. 44, § 2º, do
Código Penal (fls. 105/107).

A Defesa apresentou contrarrazões de apelação,


nas quais repeliu a pretensão do Ministério Público e
propugnou a manutenção da r. sentença de Primeiro
Grau (fls. 111/113).

A ilustrada Procuradoria-Geral de Justiça, em


minucioso e ponderado parecer do Dr. Rubem Ferraz
de Oliveira, opina pelo provimento do recurso (fls.
125/126).

É o relatório.

2. Foi a ré submetida a processo porque, em


11.1.2003, pelas 19h30, no cruzamento da Rua Gen.
Couto de Magalhães com Rua Mauá (Praça da
República), nesta Capital, guardava e trazia consigo,
para fins de tráfico, seis pedras de “crack”, substância
256

entorpecente que determina dependência física e


psíquica, sem autorização e em desacordo com norma
regulamentar.

Reza a denúncia que, nas mesmas condições de


tempo e lugar, a ré ofereceu vantagem indevida aos
policiais Maurício José da Silva e Valdiane de Lourdes
Dias, para determiná-los a omitir ato de ofício, isto é,
comunicar à autoridade policial a infração penal que
acabara de praticar.

Instaurada a persecução penal, transcorreu o


processo na forma da lei; ao cabo, a r. sentença de fls.
91/96 julgou parcialmente procedente a denúncia para
condenar a ré como incursa nas sanções dos arts. 16 da
Lei nº 6.368/76 e 333 do Código Penal.

A diligente Promotoria de Justiça, contudo, não se


resignou de todo aos termos da r. sentença e, pois,
manifestou recurso para esta augusta Corte de Justiça,
em ordem a modificá-la.

3. Grande argumento do acerto e juridicidade do


edito condenatório está em haver-se com ele
concordado a própria Defesa.
257

Era mesmo debalde impugná-lo, pois que


arrimado a prova incontestável.

Deveras, ninguém examinará o conjunto


probatório, que se não persuada haver a ré cometido,
realmente, os delitos definidos e punidos pelos arts. 16
da Lei nº 6.368/76 e 333 do Código Penal.

No que toca ao reparo feito pelo douto Promotor


de Justiça, acho-lhe razão, dado que a pena privativa
de liberdade de 1 ano e 2 meses de reclusão somente
era possível substituí-la por duas restritivas de direitos,
como dispõe às expressas o art. 44, § 2º, do Código
Penal: “(…) se superior a um ano, a pena privativa de
liberdade pode ser substituída por uma restritiva de direitos
e multa ou por duas restritivas de direitos”.

4. No caso de que se trata, porém, já não tem o


Estado o direito de punir a ré, visto ocorreu extinção da
punibilidade pela prescrição superveniente à sentença.

Dispõe, com efeito, o art. 109, nº V, do Código


Penal que a pena de 1 ano e 2 meses de reclusão
prescreve em 4.
258

Ora, desde a publicação da r. sentença –


28.8.2003 (fl. 97) –, até aqui decorreu lapso de tempo
superior a 4 anos, suficiente ao reconhecimento da
prescrição, sendo força declará-la, como o determina o
art. 61 do Código de Processo Penal.

É de preceito, por conseguinte, decretar a


extinção da punibilidade da ré pela prescrição
intercorrente, que “constitui forma de prescrição da
pretensão punitiva (da ação), que rescinde a própria
sentença condenatória” (Damásio E. de Jesus, Código
Penal Anotado, 18a. ed., p. 358).

Realmente:

“A prescrição, depois da sentença condenatória com


trânsito em julgado para a acusação, ou depois de
improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada”
(art. 110, § 1º, do Código Penal).

Ainda:

“(…) a partir da publicação da decisão condenatória,


aplicado exclusivamente o § 1º do art. 110, teremos a
incidência da extinção da punibilidade pela prescrição da
pretensão punitiva (ação penal). Não subsistem a
259

sentença nem seus efeitos principais e acessórios. E o


Tribunal não precisa apreciar o mérito, ficando
prejudicada a apelação (Idem, ibidem).

5. Pelo exposto, dou provimento ao recurso e, de ofício,


declaro extinta a punibilidade da ré pela prescrição
intercorrente da pretensão punitiva estatal, com
fundamento nos arts. 107, nº IV, 109, nº V, e 110,
§ 1º, do Cód. Penal e 61 do Cód. Proc. Penal.

São Paulo, 16 de outubro de 2009


Des. Carlos Biasotti
Relator
VI. Lei, Justiça e Bom-Senso

1. “Uma norma é a sua interpretação”, escreveu


Miguel Reale, um dos mais altos espíritos de que
justamente se orgulha e envaidece a cultura jurídica do
País(1).
Ora:
“Interpretar, no sentido jurídico, é procurar o
pensamento contido na lei, a significação das palavras, o
alcance do texto, a explicação da frase”(2).
As mais das vezes a lei, de tão claros seus termos,
escusa interpretação ou exegese: não há senão aplicá-la
ao caso concreto. “In claris cessat interpretatio”, reza o
retrilhado adágio latino, à maneira de advertência de
que se não deve perverter o raciocínio, pois a ninguém
é lícito negar o que a evidência mostra. Não é mister
trazer o Sol ao meio do firmamento para que todos o
vejam!
Mas, ainda quando clara como água de regato,
pode dar-se o caso que a lei não seja de per si justa (e
sequer, deitando a barra mais longe, lídima expressão da
vontade popular). Eis por que infinito número delas não
resiste à arguição de inconstitucionalidade nem se exime

(1) Filosofia do Direito, 2016, p. 571; Editora Saraiva.

(2) Vicente de Azevedo, Curso de Direito Judiciário Penal, 1958, vol. I,


p. 74.
262

da tacha ou eiva de injustas, já que atentatórias dos


princípios que regem as sociedades civilizadas.
Sobretudo na esfera criminal – que é o lugar
próprio à reparação do direito violado por ofensa a bem
jurídico penalmente protegido –, a função do juiz
resume-se em dar a cada um o que lhe cabe. Encerrada
a instrução do devido processo legal, se não liquidada
sua culpa, é o réu absolvido e mandado em paz; se, ao
revés, a prova obtida com estrita observância das regras
do contraditório processual e da plenitude do direito
de defesa(3) não pôde menos de demonstrar-lhe a
responsabilidade criminal, em vão pelejará contra o
gládio implacável da Justiça. Não há aí que objetar.
Tome a mão sobre o árduo assunto o preclaro Nélson
Hungria, autor do Código Penal e seu mais abalizado
exegeta: “A pena traduz primacialmente um princípio
humano por excelência, que é o da justa recompensa: cada um
deve ter o que merece”(4).
A essa conta, ninguém – exceto se penalmente
inimputável – poderá forrar-se ao rigor da lei, que a
todos iguala.
É de ciência vulgar (isto se aprende não só nos
bancos acadêmicos mas também à porta do Fórum) que

(3) “(…) só merece o nome de defesa a que for livre e completa” (José
Soares de Mello, O Júri, 1941, p. 16).

(4) Novas Questões Jurídico-Penais, p. 131.


263

a impunidade passa pelo mais poderoso estímulo do


crime.
Atraiu, por isso, ultimamente, acerbas críticas a
tese de que, por amor do princípio constitucional da
presunção de inocência, ou da não-culpabilidade (art.
5º, nº LVII, da Const. Fed.), a pena imposta ao réu só era
possível executar após o trânsito em julgado da decisão
penal condenatória.
Tal prática, a darmos crédito a resenhas que
parecem fidedignas, somente o Brasil adota!
Embora nem sempre seja o número o melhor
critério da verdade, essa estonteante exceção faz grande
abalo em todo ânimo imparcial e avisado!
Tratando-se de autêntica “vexata quaestio”, àquele
que a pretender desatar (o juiz, em especial) cumprirá
eleger primeiro o padrão exegético por onde os sujeitos
mais acreditados em saber e virtudes costumavam agitá-
la.
Faz ao intento a soberba lição que, em livro a mais
de um respeito admirável e digníssimo de ler (e ainda
recomendar), ministrou o Prof. Goffredo Telles Junior.:
deve o juiz “interpretar as leis com a lógica do jurista”.
Advertiu, porém, o saudoso mestre das Arcadas: a lógica
do jurista “não deve ser sempre a lógica do racional.
Frequentemente, deve o jurista, em nome da justiça,
264

substituir os rigores dessa lógica pela lógica do razoável, como


bem ensinou Luiz Recaséns Siches” (5).
Ora, descendo ao particular, teria foros de
razoabilidade a decisão que, imolando na ara da presunção
de inocência, obstasse a execução da pena do réu logo
após o julgamento da causa-crime pelo Juízo de
2º Grau de Jurisdição?!
Seria sensato afirmá-lo, se, falando pela via
ordinária, o argumento da inocência presumida cede,
após a condenação do réu, ao da presunção de sua
culpabilidade?!
Conformar-se-ia com os ditames da reta razão isto
de se desconsiderarem os efeitos do julgado de 2a.
Instância – derradeira etapa de análise da prova com
cognição plena – e remeter-se a solução do litígio aos
Tribunais Superiores, que já não versam matéria de
fato, mas apenas de direito?!
Era decoroso fazer alguém tábua rasa de acórdão
que, no julgamento de apelação (da Defesa ou da
Acusação), proferiu o Tribunal de Justiça – órgão de
exaurimento da jurisdição ordinária, com apuração
inteira da responsabilidade criminal do réu – e,
destarte, protrair “ad infinitum” o deslinde da
controvérsia entretida nos autos do processo?!

(5) Goffredo Telles Junior, A Folha Dobrada, 1999, p. 161; Editora


Nova Fronteira.
265

Frisaria com a gravidade dos negócios da Justiça


desfazer em decisão colegiada, proferida com
escrupulosa observância do devido processo legal, para
(em liberdade o réu, nada obstante condenado a penas
extremadas) aguardar, não raro com insofrível delonga,
a chancela da Superior Instância, que sói confirmá-la?!
As reformas dos julgados inferiores na perspectiva do
mérito, com efeito, segundo os cálculos mais favoráveis,
não excedem o percentual ínfimo (1%)!
Procederia com discrição aquele que, mentindo à
sua particular e honrosa condição de aplicador da lei,
tivesse em pouco o princípio da tutela judicial efetiva,
tornando desta sorte írrita a resposta penal do Estado?!
Atenderia, em suma, aos conselhos da prudência o
que, só por generosa (e quiçá mal compreendida)
inteligência do texto da lei, fizesse mais caso e cabedal
da exceção do que da regra geral?!
Perguntadas sobre esses quesitos, as pessoas de
alguma ilustração e decerto probas – de boas entranhas,
diriam nossos maiores – não hesitariam em enunciar a
resposta curial e aceitável, e isto com argumentos mui
atendíveis.

2. Está além de toda a dúvida que, fenômeno


intelectual inerente à condição humana, a variedade de
opiniões tem entre nós a força e a eficácia de postulado
ou garantia fundamental: “É livre a manifestação do
266

pensamento”, dispõe a Constituição da República (art. 5º,


nº IV).
A ciência da Filosofia patenteia o substrato dessa
diversidade, e até antagonismo de ideias(6) ; é a área do
Direito, no entanto, a que lhe depara maior voga e
desembaraço. Com efeito, entre os que professam as
carreiras jurídicas, máxime os investidos de função
judicante, passa por moeda corrente o conhecido
brocardo “cada cabeça, cada sentença” (“quot capita, tot
sententiae”).(7)
Ser constante em suas opiniões e fiel aos seus
pontos de vista, eis a pedra de toque do homem
honrado. Todavia, “porque para saber e acertar não há
mais que um caminho, e para errar infinitos”, conforme
aquilo do profundo Vieira(8), poderá suceder que
somente lá para o diante caiamos na conta que o melhor
alvitre era haver tomado por outra direção.
Matéria não é essa para escrúpulos, nem pode
meter em confusão caracteres sem jaça: afinal, mudar de

(6) “(…) até entre os anjos pode haver variedade de opiniões, sem menoscabo
de sua sabedoria nem de sua santidade”, pregou o eloquente Vieira (Sermões,
1959, t. IV, p. 216; Porto).

(7) O vulgo profano, cuja malícia e criatividade sobreexcedem a toda


medida, cunhou o anexim: “Duas coisas em que se não pode confiar: b. de
criança e cabeça de juiz” (cf. Rubem Alves, Ostra Feliz não Faz Pérola, 2008,
p. 33; Editora Planeta do Brasil).

(8) Op. cit., t. VIII, p. 209.


267

parecer (“para melhor”, fique entendido) é próprio do


sábio(9).
Nas tenazes desse dilema esteve por vezes também
o mais eminente dos brasileiros: Rui Barbosa. O teor de
seu proceder, nessas conjunturas, qual foi? Conheçamo-
-lo por inteiro:
“Felizes os que variam da ignorância para a ciência, do
erro para a verdade. Afortunado o que, pecando um dia
contra a verdade, ou contra a justiça, acorda, a tempo, do seu
engano, e se retrata ainda utilmente do seu desvio. Benditas
as mudanças de opinião, quando se operam neste sentido. Elas
não abalam a consideração pública a quem a merecer. Antes
recomendam à estima, ao respeito e à confiança de seus
semelhantes o homem, que não se desdoire de as confessar, e
sem rubor pratique a nobre ação de se desdizer abertamente,
pondo a consciência acima do interesse, o dever acima da
vaidade, antes que o desacerto, circulando abonado com
o prestígio de um nome autorizado, comece a produzir
consequências malfazejas” (Obras Completas, vol. XLV,
t. IV, p. 213).
Feriu de novo o ponto num de seus mais reputados
livros:
“Pelo que toca ao variar das opiniões, deixem-me ter,
mais uma vez, o consolo de trazer à praça como coisa de que
me prezo, e não me pesa, a deliciosa culpa dos homens de

(9) “Sapientis est mutare consilium”, afiança o prolóquio.


268

consciência, a única em que hei de morrer impenitente.


Beata, beata, beatissima culpa! Não mo tenham a mal os
imutáveis. Deus os desencrue. Deus os reverta da pedra e cal
em homens. Deus os ensine a mudar. Porque todo o aprender,
todo o melhorar, todo o viver é mudar. De mudar nem
mesmo o céu, o inferno ou a morte escapam. Mudar é a
glória dos que ignoravam, e sabem, dos que eram maus, e
querem ser justos, dos que não se conheciam a si mesmos, e já
melhor se conhecem, ou começam a conhecer-se” (Rui
Barbosa, Queda do Império, 1921, t. I, p. LXXX).

3. Quanto lhe custa, ao que muda de opinião, o


renunciar a primitivas e inveteradas convicções, bem
se adivinha. Ao discursar do tema, observou muito
de estudo Orosimbo Nonato, provecto e laborioso
ministro do Supremo Tribunal Federal:
“Todos os homens erramos. Ninguém possui a pedra
lídia da verdade. (…) Ao juiz, essa confissão se torna penosa
não apenas por afeição paternal que dedicamos aos partos do
nosso entendimento, como dizia frei Luís de Sousa, senão
ainda pelo reconhecimento dos grandes males suscitados pelas
oscilações de uma jurisprudência voltária e flexível, matriz de
inseguranças perturbadoras do comércio jurídico e das relações
do consórcio civil.
Mas, a verdadeira coerência é a moral, e tributo
constante e infalível só é devido à verdade que o juiz julga
identificar em face de novos estudos retificadores de erros
269

passados. Se a consciência dessa situação se lhe impõe com as


cores da evidência, todas as demais considerações se dissipam
e se evaporam: confessará ele o engano e decidirá de modo
diferente em obséquio à verdade” (Revista Forense, vol. 177,
p. 143).
Isto mesmo sentiu o culto e austero ministro
Carlos Maximiliano, como revelam as memoráveis
palavras que pronunciou na oração de despedida do
Supremo Tribunal Federal: “Não trepidei em mudar de
voto, pública e declaradamente, toda vez que novos
argumentos ou provas concludentes me convenceram do
desacerto do veredictum anterior: acima do melindre pessoal
de cada um está a sacrossanta causa da Justiça”
(Hermenêutica e Aplicação do Direito, 16a. ed., p. 377;
Editora Forense).
Tais exemplos de dignidade de inteligência deram,
pouco há, Ministros do Supremo Tribunal: obrando
com bom-senso – que é a estrela-guia do Direito –, e
imbuídos de altiva e desusada coragem moral, tomaram
a seu cargo interpretar embaraçosos textos de lei
segundo a craveira do razoável (10). Sobre fazer justiça,

(10) O estado da questão. A execução provisória da pena repugna ao


princípio da presunção de inocência (art. 5º, nº LVII, da Const. Fed.)? O
tema foi exposto em toda a luz pelo Plenário do Supremo Tribunal
Federal, intérprete máximo da Constituição, no julgamento do “Habeas
Corpus” nº 126.292-SP. Após considerar que, “em país nenhum do mundo,
depois de observado o duplo grau de jurisdição a execução de uma condenação fica
suspensa, aguardando referendo da Corte Suprema”, propôs orientação que
restaurou tradicional entendimento a respeito do ponto especial, isto é:
270

como é de regra, realçaram o lustre da veneranda


Instituição e avigoraram a confiança que nela deve ter o
povo. Conspiraram, ao demais, para segurar a Pátria
contra o execrando agente que a estiola e desfibra: a
corrupção.
Animados de igual propósito, já tocaram a rebate,
com boa fortuna, e levantaram-se em benemérita
cruzada, para pôr cobro às graves mazelas que afligem
os brasileiros, os briosos patrícios Ives Gandra da Silva
Martins, Miguel Reale Júnior, Hélio Bicudo, Janaína
Paschoal, Modesto Carvalhosa, Luís Carlos Crema,
Laercio Laurelli, Carlos Velloso, Joaquim Barbosa,
Aloísio de Toledo César, Luiza Eluf Nagib, Roberto
Livianu, Augusto Nunes, Felipe Moura Brasil, José
Maria Trindade, Claudio Tognolli, Carlos Andreazza,
Marcelo Madureira, José Paulo de Andrade, Salomão

“A execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau de


apelação, ainda que sujeito a recurso especial ou extraordinário, não compromete
o princípio constitucional da presunção de inocência” (STF; HC nº 126.292-SP;
Plenário; rel. Min. Teori Zavascki; 17.2.2016).

Ao julgar o Agravo Regimental nº 964.246-SP, o Pretório Excelso,


por maioria de votos, reafirmou a jurisprudência dominante sobre a
matéria. Contém a conclusão do aresto a seguinte substância: “(…) a
reafirmação da atual jurisprudência desta Corte, fixando, para efeitos de
repercussão geral, a tese de que a execução provisória de acórdão penal
condenatório proferido em grau recursal, ainda que sujeito a recurso especial ou
extraordinário, não compromete o princípio da presunção de inocência afirmado
pelo art. 5º, inc. LVII, da Constituição Federal” (STF; ARE nº 964.246-SP;
Plenário; rel. Min. Teori Zavascki; j. 11.11.2016).
271

Ésper, Rafael Colombo (por nomear apenas alguns


dentre os principais).
A quantos – nos circuitos da Justiça, do Direito e
da Imprensa – tiveram a honra e a glória de merecê-
-los, convêm conscientes aplausos, não apenas a
simpatia e o incentivo dos homens de bem, que amam o
Brasil, praticam a Justiça e professam a Verdade!
VII. Crime, Rigor da Lei e Clemência

Em erudito ensaio, que lhe descobre para logo a


segurança da ciência do Direito e acrisoladas noções
de Moral Prática, propõe o autor (Juiz Alexandre
Semedo de Oliveira) engenhosa questão, a saber: é
compatível com o ofício de julgar o sentimento de
misericórdia e indulgência?
Para indicar a matriz de seu pensamento, declara
formar entre aqueles que proclamam não haver lugar
para misericórdia e perdão “sob a toga de um juiz”. Tudo
isto diz o ilustre articulista, forte no simbolismo da Cruz
e na celebração da Páscoa.
Peço-lhe vênia para, terceiro interessado, chegar a
seu pé e tomar a mão sobre tema de tanto alcance.
Da função precípua do juiz tratou já, nos albores
da era cristã, o guapíssimo jurisconsulto Ulpiano, em
cláusula que a posteridade conservou entre os seus
maiores tesouros: “Jus suum cuique tribuere” (Dig.
1.1.10.1).
Na esfera criminal, levando a mira em reparar
o direito violado, resume-se a função judicante, de
ordinário, em infligir o castigo ao infrator. E não há
que objetar. Fale por todos o Pontífice Máximo do
Direito Penal Brasileiro: “A pena traduz primacialmente
um princípio humano por excelência, que é o da justa
recompensa: cada um deve ter o que merece” (Nélson
Hungria, Novas Questões Jurídico-Penais, p. 131).
274

A essa conta, nenhum sujeito imputável haverá


de subtrair-se ao rigor da lei, formoso corolário de
premissa lógica reproduzido pelo Des. Volney Corrêa
Leite de Moraes Jr., saudoso colega e amigo (citado pelo
autor do ensaio), em livro bem reputado e de muita
originalidade(1): “Todo homem deve saber do fundo de
seu coração o que é certo e o que é errado (Alberto Oliva,
filósofo)”.
Em pontos de criminalidade, não transigia
realmente Volney com os postulados – que
denominava “laxismo penal” – que figuram em barda
nas cartilhas espúrias e contrafeitas de pseudodireitos
humanos(2).
Ninguém ignora, salvo se inteiramente hóspede na
sociologia jurídica e refratário às chispas do bom-senso,
que a impunidade é poderoso incentivo do crime.

(1) Ricardo Dip e Volney Corrêa Leite de Moraes Jr., Crime e Castigo,
2002, p. 3; Millennium Editora.

(2) O alto sentido da presença do Crucifixo nos Tribunais, lembrado


pelo Des. Volney Corrêa Leite de Moraes Jr. – e que serviu de epígrafe
ao ensaio do Dr. Alexandre Semedo de Oliveira –, já o acentuara, em
tópicos de rara beleza, o prestigioso advogado e homem de letras Plínio
Barreto: “Cristo é um assunto inesgotável para pintores, escultores e nunca fica
deslocado em qualquer tribunal. Vítima suprema de uma injustiça revoltante, é
um apelo permanente à consciência dos juízes e um consolo perpétuo para os que
não encontram, entre os juízes, água e mantimento para a sede e fome de justiça,
que os devoram. No júri, a sua presença é mais do que uma fonte de consolações:
é uma necessidade imprescindível” (Vida Forense, 1922, p. 87).
275

Suposto seja a pena o estipêndio do delito, não


parece bem deva sempre o magistrado agravá-la.
Eis por que, segundo tradicional usança, provectos
e honrados Juízes – quando acertava punirem
delinquentes (empedernidos até) – nunca lhes esquecia
ponderar, nas conchas da balança de Têmis, assim as
partes positivas e boas como as negativas e iníquas.
Que outra coisa, com efeito, ensinou o eloquente
Cícero à Humanidade, quando gravou com estilete
o imortal prolóquio “Summum jus, summa injuria”(3),
senão que o exagero punitivo contravém de rosto ao
ideal de justiça, e que, pelo contrário, ao justo concreto
não repugna alguma vez o estalão da indulgência?!
Poderá o juiz, dado que concorram circunstâncias
ou razões particulares de vulto, assentar na fronte do
réu o ferrete do castigo sem, todavia, recusar-lhe um
como galardão de merecimento.
Aliás, a letra mesma da lei é a que o obriga
(não só lhe inculca) dispensar benefício ao réu que
espontaneamente confessa a autoria do crime (art. 65,
nº III, alínea d, do Cód. Penal).
Há, deveras, alguma coisa de nobre e louvável
nisto de o réu, perante o magistrado que o interroga,
preferir – ainda que com prejuízo para si mesmo e sem
alegar com o prestígio de causa descriminante – pôr-se

(3) “De Officiis”, I, 10, 33. Igual fórmula já traziam as divinas letras:
“Noli esse justus multum” (Ecl 7,17). Não sejas por demasiado justo.
276

ao lago da Justiça e, sem rebuços nem ambages,


confessar, arrependido, a prática do ilícito penal que lhe
imputa o órgão da Acusação!
Terá jus não só à redução da pena; será força
que dele também se amerceie a Justiça e lhe
defira benefícios (“verbi gratia”: regime especial de
cumprimento de pena, substituição da pena privativa
de liberdade, etc.).
Aqui me pedirá o inteligente e amável leitor lhe
exiba a carta credencial para a outorga de semelhantes
obséquios.
Desço, pois, ao particular e transcrevo, por amor
de aplacar possíveis escrúpulos da crítica severa,
estas sublimes palavras de um de nossos maiores
processualistas:
“É certo que o juiz tem, diante de si, a lei. Mas a
dificuldade não termina aí; ao contrário, aí é que ela
começa: primeiro porque a lei procura ser igual para
todos, mas as condições pessoais exigem tratamento
individualizado, que só o juiz pode dar. A lei não pode
existir intuitu personae, mas a sentença pode. A lei põe o
problema em equação; mas quem dá o valor das
incógnitas é o juiz. Só ele pode estabelecer a real, e não
apenas fictícia, igualdade de tratamento, nivelando o
poderoso e o deserdado, o rico e o pobre. A igualdade
perante a lei é puramente lírica se não se concretiza
277

na atuação judicial” (Hélio Tornaghi, Curso de


Processo Penal, 1980, vol. I, p. XII).
Com a excelência desta doutrina concerta a lição
do venerando Magistrado Eliézer Rosa, a quem os
colegas reconhecem e proclamam como seu muito vivo
paradigma:
“Daí a necessidade de o Juiz do nosso tempo e para o
nosso tempo saber que deve praticar o razoável e não o
puramente racional” (Dicionário de Processo Civil, 2a.
ed., p. 261).
E mais estas, dignas só de um elevado espírito,
como foi Goffredo Telles Junior, mestre em Direito e
sábio:
“Na interpretação das leis, mais importante do que o
rigor da lógica racional é o entendimento razoável dos
preceitos, porque o que se espera inferir das leis não é,
necessariamente, a melhor conclusão lógica, mas uma
justa e humana solução” (A Folha Dobrada, 1999,
p. 163).
Ajunto ainda este florilégio de conceitos, por onde
se conhecerá que, na judicatura criminal – ressalvadas e
atentas algumas circunstâncias de peso –, moderação e
castigo não são ideias que se implicam:
I. “Não estejais com os que agravam o rigor das leis,
para se acreditar com o nome de austeros e ilibados.
Porque não há nada menos nobre e aplausível que
agenciar uma reputação malignamente obtida em
278

prejuízo da verdadeira inteligência dos textos legais”


(Rui Barbosa, Oração aos Moços, 1a. ed., p. 43).
II. “Nenhum homem deve envergonhar-se de ter
coração! Não fica mal a juízes mostrar que o têm!
Julgar o contrário leva a muitas vaidades e
inconcebíveis erros!” (Pedro Eurico, Figuras do
Passado, 1915; Lisboa. Pedro Eurico era o
pseudônimo do insigne juiz português Augusto
Carlos Cardoso Pinto Osório – 1840-1920 –,
presidente do Supremo Tribunal de Justiça).
III. “Deve o rigor do castigo temperar-se sempre com a
moderação da clemência” (Manuel Bernardes,
Nova Floresta, 1728, t. V, p. 466).
IV. “Não há realmente Justiça sem Piedade!” (Eliézer
Rosa, Romeiro Neto, o Último Romântico da
Advocacia Criminal, 1984, p. 26).
V. “Amparando os mais fracos, não fazemos favor,
senão justiça” (Teodomiro Dias: apud Odilon
Costa Manso, Letras Jurídicas, 1971, p. 111).
VI. “A interpretação das leis não deve ser formal, mas
sim, antes de tudo, real, humana, socialmente útil.
(…). Se o juiz não pode tomar liberdades
inadmissíveis com a lei, julgando contra legem, pode
e deve, por outro lado, optar pela interpretação que
mais atenda às aspirações da justiça e do bem
comum” (Min. Sálvio de Figueiredo, Revista do
Superior Tribunal de Justiça, vol. 26, p. 384).
279

Aqui faço ponto, meu caro Alexandre Semedo


de Oliveira, não entre a fatigá-lo com estas pífias e
insípidas nótulas, ao mesmo passo que o cumprimento
pelo magnífico ensaio que as provocou; por fim, desejo-
-lhe, “ex corde”, nesta Páscoa e no exercício de seu
difícil e honroso cargo de juiz, muitas felicidades e a
recompensa própria dos que praticam as boas ações: a
glória de tê-las praticado! (O que fará, creio-o –
sobretudo no paroxismo das crises que abalam o Mundo
contemporâneo –, sob o influxo da bondade, que é a
cruz de todas as religiões!). Meu fraterno abraço.
VIII. Crime, Castigo e Erro Judiciário

I — Ainda que Deus tenha dado ao homem, único


entre todas as criaturas, porte ereto, com preceito de
contemplar os céus e fitar os olhos nas estrelas, como
em elegante ritmo cantou o poeta(1), são porém mais
que muitas as vezes em que, deslembrado de sua
augusta predestinação, abdica da própria dignidade e,
insensato, inclina-se para a terra. E, o que é mais,
obrando já com soberba desconsideração das regras do
convívio social, arroja-se perdidamente à carreira dos
delitos.
Aí, como a organismo doente que lhe importa
curar, entra o Estado a aplicar-lhe sua medicina; e o
estipêndio do crime sabe-se que é, pelo comum, o
castigo ou pena.
Posto se proclame, e com alguma verdade, que a
história da pena é a de sua paulatina abolição, não há
entretanto eliminá-la do corpo das leis repressivas, que
isto implicaria retorno da civilização à barbárie(2).
Mas seu caráter não é só aflitivo, ou de retribuição
pelo mal cometido; é, sobretudo, o fim da pena
reeducar o delinquente pela disciplina da vontade,

(1) Ovídio, Metamorfoses, I, 85.

(2) “Suprima-se a pena (quod Deus avertat) e o crime seria, talvez, a lei da
maioria. É indubitável a eficácia inibidora do castigo” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1978, vol. I, t. II, p. 196).
282

prática da virtude e amor do trabalho, este o


principalíssimo dos fatores de promoção humana(3).

II — De ser a pena um imperativo legal não procede,


contudo, deva infligir-se ordinariamente em grau
extremado. Ao invés, nisto de imposição de castigo
deve-se atender sempre à moderação.
As penas de duração longa padecem de
inconveniente conspícuo, uma vez que, na conformidade
das palavras do ilustre Juiz João Baptista Herkenhoff,
“retirariam dos réus todo sentido de esperança: por mais
hediondos que tenham sido os crimes praticados, esse
sentimento não pode ser eliminado do homem”(4). E não o
pode porque, profundo que seja o abismo em que um
dia se precipitara, ao homem nunca lhe adormece no
peito o desejo ardente de retomar o curso da vida e
tornar aos seus.
Por mais forte razão, ela não poderá desamparar
aquele que, tendo perdido a liberdade, foi como se
tudo já perdera: o encarcerado.

(3) Doutrina é esta que geralmente professam aqueles a quem tocou


a meritória tarefa de recuperar os desajustados sociais, como se tira do
dístico expressivo gravado no frontão da antiga Penitenciária de São
Paulo: “Aqui, o trabalho, a disciplina e a bondade resgatam a falta cometida e
reconduzem o homem à comunhão social”.

(4) Uma Porta para o Homem no Direito Criminal, 2a. ed., p. 163.
283

Em suma: a pena demasiado severa, sobre não


recuperar o infrator (esforçado argumento para que se
não aplique), ainda “mata a esperança, que é o último
remédio que deixou a natureza a todos os males”, como
pregou o sublime Vieira(5).

III — Mais que a sentença draconiana – que impõe ao


réu pena que, de muito rigorosa, antes parece perpétua
–, é para recear a que condena o inocente. Gênero de
desgraça grande é esse, que, por evitá-lo, o emprego de
diligência, ainda em seu grau máximo, sempre se teve
por muito pouco.
A condenação do inocente à pena última não raro
meteu em escrúpulo até a corações empedernidos. De
Nero, monstro coroado, refere com efeito Suetônio
que, certo dia, em que o convidaram a assinar
uma condenação capital, disse: “Tomara não soubesse
escrever!”(6) Outro tanto passou com o imperial
Pedro II. Constando-lhe que Mota Coqueiro, a quem
se dera morte no patíbulo, fora vítima de erro
judiciário, no mesmo ponto mandou quebrar a pena
com que lhe negara pedido de clemência e “nunca mais
quis assinar nenhuma condenação”(7).

(5) Sermões, 1959, t. III, p. 278.


(6) Cf. As Vidas dos Doze Césares, 1955, p. 269; trad. Sady Garibaldi.
(7) Raimundo de Menezes, Crimes e Criminosos Célebres, 2a. ed.,
p. 123.
284

A todos assusta e angustia o espectro do erro, no


entanto mais àqueles que foram investidos da terrível
quão bela função de julgar, que é atributo próprio só
da Divindade.
De feito, julgando sempre, estão os juízes, mais
que ninguém, sujeitos à tirania implacável dessa
contingência humana que é o erro.
Não é tudo. Ouçamos a esse varão abalizado em
virtudes e letras, de quem justamente se orgulha e
ufana a Magistratura brasileira, Eliézer Rosa, cujas
palavras vêm aqui de molde: “Nos tribunais, o medo de
errar é muito mais oprimente que num juiz de primeiro
grau. Saibam todos que é esta uma imensa e dolorosa
verdade. Ser relator dum feito é terrivelmente penoso, pela
consciência que tem de que seu voto pode ser acompanhado e,
por mais e melhor que tenha pensado em acertar, o insidioso
erro pode esconder-se na pureza de seu pensamento”(8).
Este mesmo temor de errar foi, decerto, o que
inspirou à sabedoria humana a regra comum de
interpretação da dúvida – “In dubio pro reo” –, porque
“a condenação do inocente constitui maior desgraça para a
sociedade do que para o condenado, sendo preferível, segundo
a velha sentença de Berryer, ficarem impunes muitos
culpados, do que punido quem devera ser absolvido”(9).

(8) A Voz da Toga, 2a. ed., p. 50.

(9) Firmino Whitaker, Júri, 6a. ed., p. 89.


IX. Pena: Pecúlio de Máximas,
Aforismos e Doutrina Jurídica

Nos arrazoados forenses, decisões, sentenças e


artigos jurídicos, aproveita muito ao prestígio da forma
literária, no caso de vir a ponto, a citação de brocardos
do Direito e máximas da experiência.
Em verdade, o advogado(1), quando deduz em
juízo uma pretensão, e o juiz(2), ao fundamentar suas
sentenças e despachos, não lhes é defeso cultivar em
grau assinalado a arte de bem escrever.
Ora, da petição inicial e dos arrazoados forenses
sempre foi apanágio a clareza e a precisão, que por força
pressupõem a ciência e o domínio dos cabedais da

(1) Não estranhe a alguém que o advogado, a par da ciência do Direito,


dê a conhecer também invulgares prendas literárias, que isto mesmo
recomendavam os primorosos versos de Antônio Ferreira, poeta e
jurisconsulto português (1528-1569):

“Não fazem dano as musas aos doutores,


antes ajuda a suas letras dão,
e com elas merecem mais favores” (Poemas Lusitanos, 1973, p. 103).

(2) A lição não é menos que de Mário Guimarães, honra e glória da


Magistratura brasileira: “Pode o juiz, se a tanto lhe ajudar o engenho e arte,
dar contorno elegante a cada frase. A elegância não se opõe à simplicidade.
Coexistem uma e outra, e até bem vai que se associem” (O Juiz e a Função
Jurisdicional, 1958, p. 360).
286

língua; numa palavra: a boa exação gramatical(3). Outro


tanto, em referência às decisões do Poder Judiciário,
que serão fundamentadas, “sob pena de nulidade” (art. 93,
nº IX, da Const. Fed.). Neste particular, a expressão
verbal apropriada, exata e escorreita é a que satisfará ao
preceito da lei(4).
Por fim, escusa lembrar que, nisto de citações,
como em tudo o mais, há mister proceder sempre com
peso e medida.

Pena: Coletânea de Pensamentos

1. “Não há pena sem prévia cominação legal” (art. 1º do


Cód. Penal).
2. “Poena debet culpae respondere, commensurari delicto”
Deve a pena corresponder à culpa, medindo-se
pelo delito.
3. “Poena praesuponit culpam”. A pena pressupõe a
culpa.
4. “Poena non irrogatur, nisi expresse jure caveatur”.
Não se impõe pena sem lei expressa que a decrete.

(3) “Os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido”, rezava o art. 158,


nº III, do Código de Processo Civil (de 1939), serão “expostos com precisão e
clareza”.

(4) “Não há bom Direito em linguagem ruim”, afirmou com assaz de razão
Hildebrando Campestrini (Como Redigir Ementas, 1994, p. 40).
287

5. “Poenis benignior fit interpretatio”. Nisto de penas,


prevalece a interpretação mais benigna.
6. “Nemo inauditus damnari potest”. Ninguém pode
ser condenado sem ser ouvido.
7. “Cavendum est ne major poena quam culpa sit”
(Cicero, De Officiis, I, 24). Cumpre atender a que
não seja a pena maior que a culpa.
8. “Confessio spontanea minuit delictum et poenam”.
Confissão espontânea diminui o delito e a pena
(cf. art. 65, nº III, letra d, do Cód. Penal).
9. “Culpa, ubi non est, nec poena esse debet”. Onde não
há culpa não deve haver pena.
10. “Dolus, ubi non adest, non est delictum poena dignun”.
Onde não há dolo, não há delito merecedor de
pena.
11. Em princípio, todo castigo é contraproducente
(Erasmo de Roterdã, “De Pueris” – Dos Meninos
–, p. 70; trad. Luiz Feracine).
12. Bater só em caso extremo, mas moderadamente
(Idem, ibidem, p. 80).
13. Não há animal tão manso que não fique furioso
ante tratos imoderados (Idem, ibidem, p. 72).
14. “Qui parcit virgae odit filium suum; qui autem diligit
illum instanter erudit” (Prov. XIII, 24). Aquele que
poupa a vara aborrece seu filho; mas o que o ama,
288

continuamente o corrige (Bíblia Sagrada, 1881,


t. I, p. 677; trad. Antônio Pereira de Figueiredo).
15. “Quos amo, arguo et castigo. A quem amo, advirto e
castigo” (apud Rui Barbosa, A Imprensa e o Dever da
Verdade, 1920, p. 67).
16. “Pena de talião – É uma lei que remonta à
Antiguidade mais remota, pois figura nos livros
sagrados. A Bíblia esclarece, no Êxodo, que ela consiste
em infligir, ao autor de uma transgressão, punição
em tudo igual ao crime” (R. Magalhães Júnior,
Dicionário de Provérbios e Curiosidades, 1960, p.
213).
17. “Suprima-se a pena (quod Deus avertat) e o crime
seria, talvez, a lei da maioria” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1978, vol. I, t. II,
p. 196).
18. Não deve contudo a pena ter caráter só
retributivo ou de expiação pelo mal praticado; há
de ser também medida salutar de defesa social e
meio de reeducação do infrator. Na frase original
de Platão, deve ser a medicina da alma (cf. Revista
da Faculdade de Direito de São Paulo, vol. 419,
p. 96).
19. A pena deve operar no infrator a finalidade que
lhe reconhecia já o divino Platão: medicina da
depravação moral (cf. Górgias, cap. XXIV).
289

20. “A pena-retributiva jamais corrigiu alguém” (Nélson


Hungria, Comentários ao Código Penal, 1980, vol. I,
t. I, p. 14).
21. “A prisão é crime pior que o cometido pelo sentenciado,
seja qual for” (Bernard Shaw; apud Ataliba
Nogueira, Pena sem Prisão, 1956, p. 9). O cárcere:
“la scuola normale del delitto” (Colajanni; apud
Valdemar César da Silveira, Sentenças Criminais,
1941, p. 79).
22. Além de corretivo do infrator, “a pena é cominada
e aplicada para aterrar e afastar do crime os espíritos
tendentes ao mal” (Filangieri; apud Fernando Nery,
Lições de Direito Criminal, 3a. ed., p. 350).
23. Palavras do magistrado francês Osvaldo Bardot:
“Consultai o bom-senso, a equidade, o amor do próximo,
antes da autoridade e da tradição. A lei se interpreta.
Ela dirá o que quiserdes que ela diga. Sem mudar um
til, pode-se, com os mais sólidos considerandos do mundo,
dar a razão a uma parte ou a outra, absolver ou
condenar à pena máxima. Desse modo, que a lei não vos
sirva de álibi” (apud Jucid Peixoto do Amaral,
Manual do Magistrado, 4a. ed., p. 42).
24. A nímia liberalidade na aplicação do texto legal
pode desfechar em impunidade, mas a moderação
em impor penas ao réu passa por pedra de toque
do verdadeiro julgador.
290

25. A jurisprudência dos Tribunais preconiza que, em


se tratando de réu primário, “a regra é partir da
pena-base no grau mínimo” (cf. Celso Delmanto et
alii, Código Penal Comentado, 5a. ed., p. 107).
26. Consequência forçosa do delito, a pena é “o
meio de garantia social de reduzir o criminoso
à impossibilidade de prejudicar, ou de torná-lo
inofensivo, tendo como fim principal a segurança
pública” (João Vieira; apud Fernando Nery, Lições
de Direito Criminal, 1933, p. 356).
27. Justiça excessiva não é senão injustiça, proclamou
com assaz de razão o eloquente Cícero: “Summum
jus, summa injuria” (De Officiis, I, 10).
28. É incensurável – porque não apenas legítima e
justa, mas também sábia – a decisão que substitui
por prestação pecuniária (consistente em doação
de cesta básica) a prestação de serviços à
comunidade imposta a autor de estelionato que,
trabalhador rural, não a podia cumprir sem
notável prejuízo de suas atividades. Não esqueça
aos aplicadores do Direito a advertência de
Anatole France: Se a lei é morta, deve-lhe o Juiz dar
vida.
29. “A pena é força de reserva na defesa da ordem
jurídica” (Nélson Hungria, Comentários ao Código
Penal, 1980, vol. VII, p. 182).
291

30. A exasperação da pena do réu, em caso de crime


cometido contra velho, bem se justifica. A velhice
é coisa sagrada; ofender um velho, na elegante
expressão de um escritor, “é apedrejar uma árvore
carregada de frutos” (Alberto Pimentel, Vinte Anos
de Vida Literária, 1908, p. 39).
31. Advertidamente escreveu o Marquês de Beccaria:
Para ser justa, não deve a pena ter senão o grau de
rigor que baste a afastar os homens da senda do crime
(Dos Delitos e das Penas, § XVI).
32. Expressão de equidade e bom aviso, não há que
reparar na sentença que, ao fixar a pena do
réu, compensa-lhe os maus antecedentes com a
confissão espontânea. “Aquele que se acusa a si
mesmo escusa acusador, e faz leve o seu delito”,
escreveu o clássico Manuel Bernardes (Nova
Floresta, 1711, t. III, p. 259).
33. A pena, para ser justa, há mister do rigor somente
que baste a desviar os homens do caminho do
crime: “Perchè una pena sia giusta, non deve avere
che quei soli gradi d’intensione che bastano a
rimuovere gli uomini dai delitti” (Cesare Beccaria,
Dei Delitti e delle Pene, cap. XVI).
34. Comprovada a morte do agente, é força julgar-lhe
extinta a punibilidade (art. 107, nº I, do Cód. Penal
e art. 61 do Cód. Proc. Penal). A morte é o termo
292

natural de todas as coisas. “Mors omnia solvit”, reza


velho aforismo jurídico.
35. “Sendo pessoal a responsabilidade penal, a morte do
agente faz com que o Estado perca o jus puniendi, não
se transmitindo a seus herdeiros qualquer obrigação de
natureza penal: mors omnia solvit” (Damásio E. de
Jesus, Código Penal Anotado, 17a. ed., p. 336).
36. Frutos de seu trabalho e, pois, estipêndio do suor,
os dias remidos do preso têm alguma coisa de
sagrado, que os guarda do rigor do Juízo da
execução penal. “É inadmissível a perda dos dias
remidos por decisão judicial, em virtude de falta grave
cometida pelo sentenciado” (RJTACrimSP, vol. 39,
p. 416).
37. No geral consenso dos doutos, a pena deve
medir-se pelo delito.
38. “Fazer justiça não é, em muitos casos, obedecer à lei e,
sim, obedecer ao direito que é a fonte da lei” (Eliézer
Rosa, A Voz da Toga, 1a. ed., p. 41).
39. “Não trepidei em mudar de voto, pública e
declaradamente, toda vez que novos argumentos ou
provas concludentes me convenceram do desacerto do
veredictum anterior; acima do melindre pessoal de cada
um está a sacrossanta causa da Justiça” (Carlos
Maximiliano, Hermenêutica e Aplicação do Direito,
16a. ed., p. 377).
293

40. É apotegma de Direito Penal que o castigo deve


responder à culpa, em igual medida. Suposto
mereça todo o infrator a proteção da lei, não é de
bom exemplo dispensar mercês, em detrimento
da ordem social, àqueles que fazem do crime
profissão.
41. Uma vez conspirem todos os requisitos legais para
sua concessão, denegar ao sentenciado o benefício
da comutação de penas fora o mesmo que
frustrar, em seu espírito e forma, o Decreto do
Presidente da República e, sobre isso, mentir ao
ideal de justiça.
42. Ao condenado que satisfaz o requisito objetivo
(lapso temporal) é bem se conceda comutação de
pena. Pequenas deficiências de cunho íntimo ou
subjetivo, que acaso apresente, deve supri-las o
Juiz com o espírito mesmo que preside à outorga
do benefício do indulto: o nobre e generoso
sentimento de compreensão humana, com que,
pelo Natal, o Chefe de Estado sói amercear-se de
todo o encarcerado, “o mais pobre de todos os
pobres”, na pungente expressão de Carnelutti (As
Misérias do Processo Penal, 1995, p. 21; trad. José
Antonio Cardinalli).
43. O farol que deve orientar o Juiz na decisão da
causa são as provas dos autos. Se elas não indicam
com segurança a culpa do réu, será força
pronunciar o “non liquet” e absolvê-lo. “Nenhuma
294

presunção, por mais veemente que seja, dará motivo


para imposição de pena” (art. 36 do Código Criminal
do Império).
44. A pena, segundo Garófalo, “é o remédio para a
falta de adaptação do réu” (apud Fernando Nery,
Lições de Direito Criminal, 1933, p. 355). A punição
do infrator, portanto, não é outra coisa que a
legítima reação da ordem social contra o crime.
45. O decurso do tempo apaga a memória do fato
punível e a necessidade do exemplo desaparece
(Abel do Vale; apud Ribeiro Pontes, Código Penal
Brasileiro, 8a. ed., p. 154).
46. Configura “bis in idem”, que importa evitar,
a exasperação da pena do réu pelos maus
antecedentes e de igual passo pela reincidência;
é que todo reincidente por força tem maus
antecedentes.
47. “A justiça deve ser equânime; concilie, sempre que for
possível, a retidão com a bondade em toda a acepção
da palavra” (Carlos Maximiliano, Hermenêutica e
Aplicação do Direito, 16a. ed., p. 170).
48. “As atenuantes não permitem a redução da pena
abaixo do mínimo previsto na lei para o crime” (Rev.
Tribs., vol. 644, p. 379).
49. “Quanto mais o sujeito se aproxima da consumação,
menor deve ser a diminuição da pena (um terço);
quanto menos se aproxima da consumação, maior deve
295

ser a atenuação (dois terços)” (Damásio E. de Jesus,


Código Penal Anotado, 1994, p. 42).
50. “A pena é um mal, não somente para o réu e
sua família, senão também, sob o ponto de vista
econômico, para o próprio Estado” (Nélson Hungria,
Comentários ao Código Penal, 1980, vol. VII,
p. 173).
51. Não é incompatível a justiça com a indulgência,
máxime quando esta põe a mira na redenção do
homem, alma e escopo de toda pena.
52. De tanto vulto é a circunstância atenuante da
menoridade do agente (art. 65, nº I, do Cód. Penal),
que se sobrepõe até mesmo à reincidência.
53. Se, perante o Magistrado, o réu assumiu
francamente sua culpa, é bem que dele se
amerceie a Justiça. Essa, a que se pudera chamar
coragem moral, é digna sempre de galardão, não só
de louvores.
54. Segundo princípio de razão lógica e de justiça, a
confissão do réu, ainda que dela se haja retratado,
é circunstância que lhe assegura, nos termos do
art. 65, nº III, alínea d, do Cód. Penal, o direito ao
benefício da redução da pena, sobretudo se a
tomou em conta o Magistrado para fundamentar
o decreto condenatório.
296

55. O critério para a redução da pena, em obséquio à


tentativa, é o “iter criminis” percorrido: “quanto
mais o sujeito se aproxima da consumação, menor deve
ser a diminuição da pena (1/3)” (cf. Damásio E. de
Jesus, Código Penal Anotado, 5a. ed., p. 42).
56. Tratando-se de réu primário, condenado a pena
de curta duração, não só é legal, mas justa e sábia
a decisão que lhe concede “sursis” e regime
prisional aberto (art. 33, § 2º, alínea c, do Cód.
Penal).
57. É razoável a diminuição da pena em 1/3 (e não
2/3), pela tentativa, se o autor do roubo se
adiantou tanto no “iter criminis”, que pouco faltou
para consumá-lo.
58. “Nessa quadra da vida (até aos 21 anos) o crime
costuma ser episódio isolado, para o qual não há
necessidade, nem conveniência, de excessivo rigor”
(Basileu Garcia, Instituições de Direito Penal, 1975,
vol. I, t. II, p. 482).
58. A substituição da pena privativa de liberdade por
medida alternativa é providência de efeito salutar,
uma vez que, sobre cooperar na reeducação do
infrator, importa benefícios para a comunidade.
Não hesite o Juiz em adotá-la generosamente (art.
44 do Cód. Penal).
297

59. Prêmio de sinceridade, tem direito a especial


redução da pena o réu que, espontaneamente,
confessa perante a autoridade pública o crime que
cometeu (art. 65, nº III, alínea d, do Cód. Penal).
60. À luz da lógica jurídica e por princípio de justiça,
a escorreita exegese do art. 126 da Lei de Execução
Penal deve compreender também, no conceito
de trabalho, a atividade escolar do preso, por
sua transcendental importância como fator
de promoção humana e poderoso instrumento
de reforma de vida e costumes. Destarte,
comprovando que frequentou aulas em curso
patrocinado pelo sistema penitenciário, tem jus o
condenado à remição de penas, na proporção de
um dia para cada 12 horas de efetiva atividade
escolar.
61. Se “o estudo é a luz da vida” – conforme entendem
e proclamam os pedagogos –, como pretender,
sem injúria da razão, que o trabalho intelectual
represente um “minus” em respeito do trabalho
físico?! Falou avisadamente quem disse: “Abrir
escolas é fechar cadeias”; daqui se mostra bem a
suma importância que o convívio escolar tem na
formação do caráter do indivíduo.
62. Comprovada a precária situação financeira do
réu, será bem lhe faculte a Justiça o pagamento
parcelado da pena de prestação pecuniária, na
conformidade de precedente judiciário (cf. STJ;
298

HC nº 17.583-MS; rel. Min. José Arnaldo da


Fonseca; DJU 4.2.2001, p. 439).
63. O argumento da pena longa não é poderoso a
obstar a concessão de livramento condicional
ao sentenciado, se já cumpriu dela a metade
(necessariamente longa). Tampouco lhe serve de
empecilho à obtenção do benefício o registro de
falta grave (fuga) se, ao depois, revelou, por largo
espaço de tempo, exemplar conduta carcerária e
notável dedicação ao trabalho, sinais inequívocos
de emenda e ressocialização.
64. A fuga – “incoercível revolta do instinto”, na lapidar
expressão de Rui (Discursos e Conferências, 1907,
p. 101) – não é, por si só, razão impeditiva
de concessão de livramento condicional ao
sentenciado, visto configura anseio de liberdade
inerente ao homem.
65. “Ao mesmo Demônio se deve fazer justiça, quando ele
a tiver” (Antônio Vieira, Sermões, 1959, t. III,
p. 329).
66. Vinte séculos nada puderam contra o esplendor
da verdade destas palavras de Cícero: “Summum
jus, summa injuria” (De Officiis, I, 10), que, em
nosso vulgar, respondem assim: Justiça excessiva o
mesmo é que injustiça.
299

67. Ainda que se possa computar, na pena privativa de


liberdade, “o tempo de prisão provisória” (art. 42 do
Cód. Penal), não é admissível dele deduzir o lapso
temporal referente a outro processo a que o réu
tenha respondido.
68. Nos casos de insignificante lesão ao bem jurídico
protegido e mínimo o grau de censurabilidade
da conduta do agente, pode o Magistrado, com
prudente arbítrio, deixar de aplicar-lhe pena. É
que, nas ações humanas, o Direito Penal somente
deve intervir como providência “ultima ratio”.
69. Passa por iniquidade manter preso, enquanto lhe
tramita o processo, réu que poderá, no caso de
condenação, ter cumprido já a máxima parte de
sua pena. Ao demais, ninguém ignora que o
cárcere é o pior lugar do mundo antes do
cemitério, tendo-lhe Dostoiévski chamado, com
propriedade, “casa dos mortos”.
70. “A pena, em nosso sistema, não representa vindita ou
castigo, mas instrumento de defesa da sociedade (…)”
(Rev. Forense, vol. 130, p. 532; rel. Min. Sampaio
Costa).
71. Aos Magistrados não esqueçam nunca as sublimes
palavras de Rui Barbosa: “Não estejais com os que
agravam o rigor das leis, para se acreditar com o nome
de austeros e ilibados. Porque não há nada menos
nobre e aplausível que agenciar uma reputação
300

malignamente obtida em prejuízo da verdadeira


inteligência dos textos legais” (Oração aos Moços, 1a.
ed., p. 43).
72. “Amparando os mais fracos, não fazemos favor, senão
justiça” (Teodomiro Dias; apud Odilon da Costa
Manso, Letras Jurídicas, 1971, p. 111).
73. “Deve o juiz usar a lógica do jurista, que é,
precisamente, a lógica do razoável e do humano”
(Goffredo Telles Jr., A Folha Dobrada, 1999,
p. 162).
74. Toda a condenação penal, ainda se trate de
acusado de abominável vida pretérita, somente
pode ser decretada em face de prova plena e cabal
de sua culpabilidade.
75. Segundo a comum opinião dos doutores, o
benefício da redução da pena (art. 33, § 4º, da
Lei nº 11.343/06) defere-se apenas ao traficante
esporádico ou eventual, jamais ao que se associa
para a prática do tráfico ilícito de drogas, porque
é em especial contra este que se levanta o braço
implacável da Lei.
76. O Ministério Público, segundo princípio
consagrado, é o guardião da lei e o fiscal de sua
execução (art. 257 do Cód. Proc. Penal). Sua
intervenção nos incidentes de execução de
sentença traduz, pois, dever institucional. Há
casos, no entanto, em que ao Magistrado, sem
301

fazer tábua rasa das atribuições do Ministério


Público, é lícito proceder de modo que atenda,
com superior exação, ao preceito da rapidez e
eficiência na prestação jurisdicional. A restrição da
liberdade do indivíduo, ainda quando necessária,
é sempre causa de sofrimento e angústia e,
portanto, um mal considerável. Difícil coisa é unir
a dor à paciência: ao que padece repugna esperar.
Donde o haver proclamado um alto espírito: “Não
há maior tormento no mundo que o esperar” (Pe.
Antônio Vieira, Sermões, 1959, t. V, p. 210). Por
amor da cessação do constrangimento, pode o
Juiz (se é que o não deva) abreviar, com prudente
arbítrio, nos ritos procedimentais, fórmulas que se
lhe afigurem escusadas. Não lhe esqueça a grave
exortação de Rui: “Justiça atrasada não é justiça,
senão injustiça qualificada e manifesta” (Oração aos
Moços, 1a. ed., p. 42).
77. Se primário o réu e cometida a infração penal
sem violência nem ameaça à pessoa, é obra de
louvável política criminal substituir-lhe pela pena
restritiva de direito a privativa de liberdade não
superior a 4 anos (art. 44 do Cód. Penal).
78. A “mens legis” da subsituição da pena corporal
por restritiva de direitos é impedir que réus
condenados a pena de curta duração, por delitos
praticados sem violência nem ameaça à pessoa,
sejam submetidos ao rigor do cárcere, que não
302

reeduca nem recupera, senão que perverte e


despersonaliza o infrator (art. 44 do Cód. Penal).
“A promiscuidade engendra maus caracteres. É grande
o influxo de nocividade que sofrem os condenados
primários nas prisões. Por isso, é precisa a frase de
Mirabeau: O amontoamento de homens, como o de
maçãs, gera a podridão” (Hoeppner Dutra, O Furto
e o Roubo, 1955, p. 163).
79. A doutrina comum e a jurisprudência dos
Tribunais têm professado o entendimento de que,
se a não cumprir o réu, a pena restritiva de
direitos converte-se em privativa de liberdade pelo
tempo da pena original (cf. Damásio E. de Jesus,
Lei dos Juizados Especiais Criminais Anotada, 4a.
ed., p. 85; Julio Fabbrini Mirabete, Juizados
Especiais Criminais, 2a. ed., p. 133; Rev. Tribs., vol.
755, p. 674, etc.). A conversão da pena restritiva
de direitos em privativa de liberdade é providência
legítima, demais de pedagógica e salutar, pois
traduz sanção do direito pela inadimplência de
obrigação contraída perante a Justiça (art. 181,
§ 1º, alínea c, da Lei de Execução Penal).
80. O sistema vicariante, ou das penas substitutivas,
adotado pelo Código Penal, pressupõe, além
dos requisitos objetivos, méritos pessoais do
sentenciado (art. 44, nº III).
303

81. Desde que preenchidos os requisitos legais, pode


o Magistrado conceder ao réu “sursis”, em vez de
substituir-lhe a pena restritiva de direitos por
prestação pecuniária, de caráter não raro mais
gravoso (art. 77 do Cód. Penal).
82. Incensurável se mostra a sentença que, havendo
consideração aos graves malefícios da prisão e às
circunstâncias pessoais do réu – alcoólatra
condenado por furto simples –, defere-lhe
“sursis”, embora reincidente. Trata-se de solução
heroica, verdadeira “ultima ratio”, por evitar a
ruína física e moral de infrator ainda jovem. Ao
aplicá-la, deve o Juiz atender ao fim social da lei,
e isto com a lógica do razoável.
83. Tratando-se de condenada com filho de tenra
idade, faculta a lei (e recomenda-o o princípio da
dignidade humana) cumpra sua pena, ainda que
reincidente, sob o regime de prisão-albergue
domiciliar (art. 117, nº III, da Lei de Execução
Penal). Até entre as espécies inferiores passa por
nociva (e ainda perversa) a segregação precoce da
cria. Tal benefício, entendem graves autores,
é concedido mais em favor da criança, pela
necessidade que tem do amparo materno.
84. É superior a toda a crítica a sentença que,
atendendo à natureza da infração penal (furto
qualificado) e aos notórios malefícios do regime
recluso, faculta ao réu, embora reincidente,
304

cumpra sua pena de curta duração no regime


aberto. Cabe ressaltar que o próprio Nélson
Hungria, “Pontifex Maximus” do Direito Penal
pátrio, não teve mão em si que não verberasse a
pena-castigo: “A pena-retributiva jamais corrigiu
alguém” (Comentários ao Código Penal, 1980, vol. I,
t. I, p. 14).
85. Se primário o réu e de pequeno valor a coisa
receptada – a que se equipara a ausência de
prejuízo –, é de razão lhe conceda o Juiz o
privilégio do art. 180, § 5º, “in fine”, do Código
Penal, com aplicação de multa somente, por
atenuar e prevenir empecilhos à vida futura, que
toda a pena corporal sói deslustrar.
86. O sujeito que, por motivo fútil e sob o efeito do
álcool, ofende a integridade física da mulher com
socos e pontapés, não oferece apenas eloquente
exemplo da miserável condição a que a bebida
pode reduzir o homem, confinando-o com a
animalidade bruta, senão ainda é réu de crime,
pois incorre na sanção do Direito Penal. Ao
agressor da companheira, que se arrepende do ato
ignóbil que praticou e torna à vida em comum,
não é despropositado conceda a Justiça o
benefício do “sursis”, se não por merecê-lo, ao
menos como oportunidade de expiar sua falta
grave e reeducar-se para o convívio social,
305

debaixo do imprescindível respeito, notadamente


para com as pessoas de sua obrigação.
87. Incorre nas penas da lei (art. 302 do Cód. Trânsito)
o motorista que, imprudente, por dirigir
embriagado seu veículo, e em velocidade
excessiva, perde-lhe o controle e arremete-o
contra obstáculo, causando a morte de passageiro.
(De tão grave, sua culpa como que argui dolo
eventual).
88. Há casos em que o Magistrado que dá de mão aos
ápices da Lei e rejeita queixa-crime argui não
somente abalizada ciência do Direito, senão alto
grau de sabedoria. É que o Estado, como escreveu
o primeiro de nossos penalistas, “só deve recorrer à
pena quando a conservação da ordem jurídica não se
possa obter com outros meios de reação” (Nélson
Hungria, Comentários ao Código Penal, 1978, vol. I,
t. I, p. 19). Ainda que simples infortúnio, o
recebimento da queixa-crime que não atende
aos cânones processuais representa mal insigne
para o indivíduo porque, atingindo-lhe o “status
dignitatis”, é sempre fonte e ocasião de prejuízos
imensos, muita vez irrecuperáveis.
89. Incorre nas penas do art. 306 do Código de Trânsito
o sujeito que conduz veículo automotor de forma
anormal, sob a influência do álcool, nada
importando a taxa de alcoolemia (cf. Damásio
E. de Jesus, Crimes de Trânsito, 1998, p. 152). É
306

jurisprudência consagrada nos Tribunais que, em


se tratando de motorista profissional, repugna,
por amor da necessidade que tem de prover à
subsistência, impor-lhe a pena restritiva de
direitos consistente na suspensão de habilitação
para dirigir veículo automotor (art. 293 do Cód.
Trânsito).
90. Não desacredita a Justiça nem recomenda mal o
Juiz substituir a pena privativa de liberdade de
autor de furto mínimo, ainda que reincidente, por
restritiva de direitos, socialmente recomendável
(art. 44, § 3º, do Cód. Penal).
91. Em obséquio ao espírito da lei – que previne
todo prejuízo à jornada normal de trabalho do
condenado (art. 46, § 3º, do Cód. Penal) –, é de
bom exemplo, nos casos urgentes, alterar medida
substitutiva penal aplicada ao réu (prestação de
serviços à comunidade) para duas restritivas
de direitos: interdição temporária de direitos
(proibição de frequentar determinados lugares) e
multa (arts. 44, § 2º, 43, nº V, e 47, nº IV, do Cód.
Penal). Seria desarrazoado, com efeito, obrigá-lo a
prestar serviços gratuitos à comunidade em
detrimento da subsistência própria e da família.
92. Aplicado inconsideradamente, o princípio da
insignificância representa violação grave da lei,
que manda punir o infrator; destarte, subtrair a
seu rigor o culpado, sem relevante razão de
307

direito, fora escarnecer da Justiça, que dispensa a


cada um o que merece. Em verdade, conforme
aquilo de Alberto Oliva, “todo homem deve saber do
fundo de seu coração o que é certo e o que é errado”
(apud Ricardo Dip e Volney Corrêa de Moraes,
Crime e Castigo, 2002, p. 3).
93. Incorre nas penas da lei (art. 342, § 1º, do Cód.
Penal) a testemunha que, ao depor em processo-
-crime, falta com a verdade acerca de fato
juridicamente relevante, com o intuito de
favorecer o réu. A mentira não pode ter entrada
no templo da Justiça! Se exerce ocupação lícita e
tem filhos menores, a mulher condenada por falso
testemunho, ainda que reincidente, faz jus à
substituição de sua pena privativa de liberdade
por restritivas de direitos, medida socialmente
recomendável (art. 44, §§ 2º e 3º, do Cód. Penal).
94. De presente, já não é lícito ao Juiz dar ao art. 127
da Lei de Execução Penal outra interpretação que a
literal restrita, por força da Súmula Vinculante
nº 9, editada pelo Supremo Tribunal Federal, que
mandou inscrever entre os dogmas jurídicos a
perda, para o condenado “que for punido por falta
grave”, do direito ao tempo remido pelo trabalho.
95. Embora inaptos para configurar a agravante
da reincidência (art. 64, nº I, do Cód. Penal),
condenações pretéritas do sujeito sempre lhe
308

caracterizam maus antecedentes, que o cálculo da


pena-base não pode relegar à sombra. Com
efeito, não há ficar indiferente o julgador ao
passado de crimes do indivíduo, quando lhe
examina o perfil moral. Enfim, somos o que
fomos!
96. Mais que meras conjecturas acerca da
culpabilidade do acusado, são necessárias, para
sua condenação, provas tão claras como a luz
meridiana: “probationes luce meridiana clariores”
(cf. Giovanni Brichetti, L’Evidenza nel Diritto
Processuale Penale, 1950, p. 111).
97. Não cabe censura à decisão do Magistrado que,
forte no poder discricionário que lhe confere a lei,
aplica a usuário de drogas a pena de prestação de
serviços à comunidade, em vez de advertência (art.
28, ns. I e II, da Lei nº 11.343/06). Tal medida não
tem somente caráter retributivo, próprio de toda a
pena, mas atende ao fim precípuo de recuperar o
viciado, com espertar-lhe na consciência o sentido
pleno da vida e fortalecer-lhe a vontade para que
evite os malefícios das drogas. Ao mesmo tempo
que o afasta da ociosidade, mãe de todos os vícios,
a prestação de serviços à comunidade enseja ao
usuário ou dependente de drogas as condições
de que necessita para reintegrar-se no convívio
social, pois o trabalho é o melhor fator de
promoção humana.
309

98. Incorre nas penas de tentativa de latrocínio o


agente que, ao praticar roubo, efetua disparos de
arma de fogo contra a vítima, com evidente
“animus necandi” (arts. 157, § 3º, 2a. parte, e 14,
nº II, do Cód. Penal).
99. Em ponto de crime continuado, não deve o Juiz
reduzir demasiado seu alcance, tornando-lhe
impossível o reconhecimento; antes lhe importa,
de par com a preocupação de ordem jurídica e
social, atender ao fim do instituto, convém a
saber, evitar o exagero punitivo sob o influxo da
equidade, pois meta do Direito Penal é também
a recuperação do infrator. “O réu tem direito ao
crime continuado, agindo ou não com unidade de
desígnio, pois essa foi a vontade do legislador”
(Guilherme de Souza Nucci, Código Penal
Comentado, 2000, p. 216).
100. De toda a sanção é pressuposto a culpa.
“Condenar um possível delinquente é condenar um
possível inocente” (Nélson Hungria, Comentários ao
Código Penal, 1981, vol. V, p. 65).
X. Damásio E. de Jesus:
Honra e Glória do Direito Penal

1. Personagem singular
Ele, que discorria “ex professo” do princípio da
proporcionalidade da pena(1) – que deve corresponder
sempre ao grau da culpa ou da falta cometida –,
esqueceu-lhe aferir por justa craveira a pena dos que
perdem os objetos de sua afeição: preferiu que outros o
fizessem. Foi debalde, porém, que a dor de certas
perdas não raro excede toda medida.
Não cabe realmente no coração humano (porque
infinita) a mágoa que acompanha o desaparecimento
de individualidades privilegiadas como o Professor
Damásio Evangelista de Jesus, arrebatado pela morte no
dia 13 de fevereiro deste ano.
Até mesmo os que aprenderam a resignar-se ao
império da lei que fixou o termo a todas as coisas –
“pois também as pedras morrem”, como asseverou um alto
espírito(2) – acabrunharam-se com a interrupção do
esplêndido curso da vida desse varão egrégio, no qual
se viam reunidas, no mais elevado grau de primor,
qualidades que apenas se encontram distribuídas entre
muitos.
312

Os que o conheceram e trataram – e esses se


contam por dezenas de milhares – podem atestar que
não há encarecimento retórico nem tropo de linguagem
no juízo de ter sido Damásio de Jesus, sem contradição,
uma das figuras mais úteis, estimadas e fascinantes de
nossa idade.
A razão do mui particular apreço e reverência que
lhe sagrava o comum das pessoas ilustradas (máxime as
atuantes nas províncias do Direito) procedia da notória
fama de sua dedicação, contínua e proficiente, ao
magistério das disciplinas jurídicas.
Ao mesmo tempo que se desempenhava, com
exemplar exação, de árduas e relevantes funções no
Ministério Público do Estado de São Paulo, dava lições
de Direito a classes universitárias. Com provada
competência e assiduidade cumpria à risca as praxes da
cátedra e proferia aulas com seguro critério e esmero;
granjeou bem cedo, por isso, entre alunos e professores,
grande prestígio e reputação. Ainda: nas preleções
patenteava, sem quebra, a excelência de sua didática:
expunha com clareza e vivacidade as matérias do
programa oficial, que, muito de estudo, para logo
aplicava a casos concretos, numa como antecipação da
liça incruenta, expressão com que se referia à futura
agenda dos advogados, promotores de justiça e juízes de
direito.
313

Pelo interesse que a novidade excitava, a classe


inteira ficava-lhe suspensa dos lábios!
Não se restringia, porém, seu magistério a
transmitir doutrina segundo a mais apurada matriz
da ciência jurídica; declarava as dúvidas e infundia
torrentes de conhecimentos aos que se aprestavam para
o exercício da profissão (o que lhe conferia já legítima
credencial de professor benemérito); inculcava, por fim,
no espírito dos alunos o termo de proceder que deviam
guardar, à luz da Ética.
À maneira dos rudimentos da boa educação (de
ordinário ministrados com o leite materno), recitava aos
moços, no limiar da vida acadêmica, o pregão duas
vezes milenar de Ulpiano, jurisconsulto romano de
muito nome: Os princípios fundamentais do Direito
são: Viver honestamente; não lesar a ninguém; dar a
cada um o que é seu(3).
Estes, em síntese, os traços mais conspícuos das
nunca assaz louvadas preleções que, na regência da
cadeira de Direito Penal, fazia o provecto mestre
Damásio E. de Jesus!
314

II. Artífice das letras jurídicas


No benéfico intuito de obviar às dificuldades e
percalços que soem influir no aproveitamento letivo, o
Prof. Damásio diligenciou por suprir suas aulas com
textos adequados às matérias do currículo. Por esta
forma, tirou a público o prestigioso repertório didático
em quatro volumes: Direito Penal. Sucessivamente,
atendendo à extraordinária aceitação da obra e aos
abundantes frutos que produzia, deliberou entre si
enviar ao prelo os que seriam os mais laureados
compêndios de doutrina e jurisprudência em pontos de
Direito Penal e Processo Penal: Código Penal Anotado e
Código de Processo Penal Anotado.
315

Assim pelo rigor do senso crítico e acurada exegese


dos textos legais como pela sistemática e judiciosa
disposição dos temas versados e feliz apresentação
gráfica, esses dois livros bastaram a exaltar aos cornos
da lua a glória literária de seu autor.
Em verdade, apenas expostos nas livrarias,
despertaram geral atenção e interesse da classe jurídica
do País, que de pronto os adquiriu e transformou no
principal vade-mécum dos que militam na área do
Direito Penal.
Nenhum bacharel especializado na “Ciência de
Carrara” furtou-se a dar-lhes guarida pronta e cortês.
Advogados criminalistas, promotores de justiça e
magistrados tinham-nos sempre à mão (na mesa de
trabalho ou na estante de obras seletas). Para dar força e
peso a seus arrazoados forenses, ou para acrescentar o
vigor da fundamentação de suas decisões, era aos
“Códigos Anotados” do Prof. Damásio que se habituaram
a recorrer.
E não havia que opor a esta sensata e natural prática.
À uma, porque sempre foi de louvar o dito daquele
discreto: “Duvido muito de quem se não abordoa a
autoridades (…)”(4); à outra, porque, no caso de
necessitarmos de boa lição, importa muito que a
tomemos a quem a deu mais clara e completa.
316

De mim, entre honrado e agradecido, direi que não


caem sob o algarismo as vezes em que me valeram esses
dois edificantes compêndios. Advogado, eram-me a
primeira fonte de consulta; juiz de 2º grau, constituíam
meu oráculo e subsídio na aplicação do bom direito
à espécie em causa. E isto por mui atendível razão: a
despeito da robusta bibliografia com que eminentes
penalistas opulentaram a república das letras(5), esses
dois livros passavam pelos mais fáceis de compulsar,
além de, sem salvas nem rodeios, encaminhar o leitor
para a solução do ponto controverso. Por fim –
circunstância notável –, eram suas edições, com
desusado esmero, revistas e atualizadas anualmente.
Eis por que (e cuido não incorrer em engano se
alego interpretar o sentimento comum dos que
frequentam a barra da Justiça Criminal), fomos
alcançados em altíssima dívida para com o Prof.
Damásio E. de Jesus, irresgatável como todas as
contraídas com um benfeitor, já que de gratidão.

III. Vocação para o magistério superior e para as artes


Sem embargo de suas atividades de professor
universitário, membro efetivo do Ministério Público
e escritor de pulso, Damásio achou ainda força e
condições para realizar ambicioso projeto, que o
consagraria como o precursor das escolas preparatórias
317

às carreiras jurídicas. Fundou e dirigiu, com inspiração


de educador exímio, o Complexo Jurídico Damásio de
Jesus, glorioso celeiro de saber especializado, onde
jovens encontravam estímulo e pecúlios intelectuais que
os habilitassem a ingressar no Ministério Público e na
Magistratura.
Mestre Damásio e o abalizado corpo docente de seu
instituto deitaram em solo fértil sementes de verdadeira
e sã doutrina, que logo medraram e, por fortuna,
produziram os frutos que se esperam da boa árvore
(na espécie, a nova geração de servidores públicos,
“magna pars” da cota de sinergia orientada para o
aprimoramento dos quadros da Justiça).
Incontáveis, com efeito, são hoje os que servem
lugares de Magistratura, dignificam as hostes do
Ministério Público e da Advocacia e podem exibir com
orgulho, à guisa de credenciais de mérito, as insígnias
do Complexo Jurídico Damásio de Jesus.
A auréola de celebridade começava, destarte, a cingir
a fronte do Mestre, pois transpusera a meta que muitas
organizações predestinadas não lograram sequer tocar!
Houve mais, porém! É fama que a Natureza, para
não desmentir a parêmia que a dá por mãe pródiga,
costuma dotar de modo especial certas individualidades,
com apurar-lhes o entendimento, a vontade, o senso
estético e as potências que afirmam a vida(6). Este
318

prodígio operou em relação a Damásio, cujo ânimo,


agraciado já com peregrina inteligência e caráter,
quis também dispor para altas concepções e misteres:
ungiu-o ministro juramentado da arte e da beleza, em
cujos altares oficiou com devota pontualidade.
O bucólico teor de vida, o estilo original e as
expansões de jovialidade que imprimia às horas feriadas,
em sua estância rural, forjaram-lhe afável e lisonjeiro
perfil. Comprazia-se em cultivar, com entranhado
desvelo, imenso orquidário, que encerrava para cima de
6 mil espécies, e extensa plantação de coqueiros (coisa
de 3 mil pés, que lhe rendiam a safra anual de 90 mil
cocos). Ainda: criava em sua deleitosa quinta – que,
num lampejo feliz de imaginação denominou Ilha da
Fantasia – formoso bando de 153 flamingos. Remeteu
o disco ainda mais longe: com infinita paciência
adestrou-os na arte coreográfica; sob sua regência e ao
som de melodia favorita, punham-se as aves a agitar a
cabeça e o pescoço, graciosa e sincronicamente, de um
para outro lado. Espetáculo era esse belíssimo de ver e
mui digno de divulgar, para gáudio e encantamento de
quantos ainda se extasiam perante o maravilhoso e
sabem ser gratos àqueles que, pelo engenho, ação
fecunda e idealismo, engrandecem a sociedade humana.
A revista Veja SP, edição de 5.10.2005, levou a
palma do bom gosto e oportunidade, ao comentar, com
texto da jornalista Marcella Centofanti, ilustrado com
319

fotografia expressiva, a arte cênica dos alvinitentes


flamingos do Prof. Damásio de Jesus (pp. 49-50):

IV. A herança do varão sábio e probo


Aquele que ensinou pela palavra e pelo exemplo, e
converteu em facho de luz os livros com que aplainou
a milhares de jovens o caminho das mais nobres
profissões, esse não foi apenas agente do bem; exerceu,
em rigor, a missão de apóstolo, termo por que se
conhecem e recomendam os propagadores de boa
doutrina.
Obrando conforme o seu nome – Evangelista –,
Damásio armara-se de ponto em branco para revelar
aos espíritos ávidos de saber e afeitos aos estudos
320

jurídicos as noções fundamentais da ciência que o faria


conhecido e louvado em todos os círculos acadêmicos:
o Direito Penal.
Mentor intrépido da instrução secundária e guia
seguro da mocidade estudiosa, acha-se-lhe por isso
inscrito o nome, à conta de sua manifesta e inconcussa
influência, entre os grandes vultos nacionais.
Isto de um obscuro discípulo pretender tributar
louvor a seu mestre, se este se chamou Damásio E. de
Jesus, não será pedra de escândalo nem pretexto para
censura, já que se amparou em razões forçosas e
atendíveis, das quais uma é a regra que manda
proporcionar o galardão ao merecimento, e o castigo
à iniquidade. (Ora, os serviços que o homenageado
prestou à gente do foro ultrapassam o mais generoso
estalão!).
É de ordem natural o outro motivo: procede das
fibras do coração humano, que nunca ficou indiferente
à face daqueles que, por haverem tomado sobre si
o patrocínio de causas sociais nobres e urgentes,
tornaram-se dignos de eterno reconhecimento.
Ao Prof. Damásio Evangelista de Jesus convém,
pois, o mote paradoxal que a opinião pública tem
reservado aos varões de sumo valor, saber e honra:
“Morreu ontem um desses homens que não morrem”!(7)
321

Prof. Damásio E. de Jesus (1935-2020)


(Luminária grande do Direito Penal)

Notas

(1) Direito Penal Anotado, 18a. ed., p. 3.


(2) Pe. Antônio Vieira, Sermões, 1959, t. I, p. 120.
(3) “Juris praecepta sunt haec: Honeste vivere; neminem
laedere; jus suum cuique tribuere” (Digesto, 1.1.10.1).
(4) José de Sá Nunes, Aprendei a Língua Portuguesa,
1938, vol. II, p. 221.
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(5) No soberbo e dilatado cânon dos penalistas que, por


universal consenso, têm entre nós lugar assinalado
no panteão da glória literária, avultam os nomes de:
Nélson Hungria (“Pontifex Maximus” do Direito
Penal Brasileiro), Bento de Faria, A.J. da Costa e
Silva, Basileu Garcia, José Frederico Marques,
Aníbal Bruno, Heleno Cláudio Fragoso, Edgard
Magalhães Noronha, René Ariel Dotti, Alberto
Silva Franco, Mohamed Amaro, Guilherme Souza
Nucci, Luiz Flávio Gomes, Cezar Roberto
Bitencourt, Miguel Reale Jr., Edílson Mougenot
Bonfim, Fernando Capez, Roberto Delmanto e
muitos outros, também de primeira plana.
(6) Assevera um de seus biógrafos que Benjamim
Disraeli (1804-1881), estadista que consolidou
o Império Britânico, “idolatrava as árvores e as
flores” (André Maurois, A Vida de Disraeli, 7a. ed.,
p. 141; trad. Godofredo Rangel; Companhia
Editora Nacional; São Paulo); o genial Rui Barbosa
(1849-1923), nos raros e breves ócios que lhe
consentiam as graves ocupações, “sempre dedicou
especial carinho ao jardim e às flores” (cf. Ruy Barbosa,
“In Memoriam”, 1923).
(7) Dístico eloquente com que a imprensa da Capital
paulista lamentou a morte de seu prefeito Olavo
Setúbal (in O Estado de S. Paulo, 22.8.2008).
Trabalhos Jurídicos e Literários de
Carlos Biasotti

1. A Sustentação Oral nos Tribunais: Teoria e Prática;


2. Adauto Suannes: Brasão da Magistratura Paulista;
3. Advocacia: Grandezas e Misérias;
4. Antecedentes Criminais (Doutrina e Jurisprudência);
5. Apartes e Respostas Originais;
6. Apelação em Liberdade (Doutrina e Jurisprudência);
7. Apropriação Indébita (Doutrina e Jurisprudência);
8. Arma de Fogo (Doutrina e Jurisprudência);
9. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (1a. Parte);
10. Citação do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
11. Crime Continuado (Doutrina e Jurisprudência);
12. Crimes contra a Honra (Doutrina e Jurisprudência);
13. Crimes de Trânsito (Doutrina e Jurisprudência);
14. Da Confissão do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
15. Da Presunção de Inocência (Doutrina e Jurisprudência);
16. Da Prisão (Doutrina e Jurisprudência);
17. Da Prova (Doutrina e Jurisprudência);
18. Da Vírgula (Doutrina, Casos Notáveis, Curiosidades, etc.);
19. Denúncia (Doutrina e Jurisprudência);
20. Direito Ambiental (Doutrina e Jurisprudência);
21. Direito de Autor (Doutrina e Jurisprudência);
22. Direito de Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
23. Do Roubo (Doutrina e Jurisprudência);
24. Estelionato (Doutrina e Jurisprudência);
25. Furto (Doutrina e Jurisprudência);
26. “Habeas Corpus” (Doutrina e Jurisprudência);
27. Legítima Defesa (Doutrina e Jurisprudência);
28. Liberdade Provisória (Doutrina e Jurisprudência);
29. Mandado de Segurança (Doutrina e Jurisprudência);
30. O Cão na Literatura;
31. O Crime da Pedra (Defesa Criminal em Verso);
32. O Crime de Extorsão e a Tentativa (Doutrina e
Jurisprudência);
33. O Erro. O Erro Judiciário. O Erro na Literatura (Lapsos e
Enganos);
34. O Silêncio do Réu. Interpretação (Doutrina e Jurisprudência);
35. Os 80 Anos do Príncipe dos Poetas Brasileiros;
36. Princípio da Insignificância (Doutrina e Jurisprudência);
37. “Quousque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?”;
38. Tópicos de Gramática (Verbos abundantes no particípio;
pronúncias e construções viciosas; fraseologia latina, etc.);
39. Tóxicos (Doutrina e Jurisprudência);
40. Tribunal do Júri (Doutrina e Jurisprudência);
41. Absolvição do Réu (Doutrina e Jurisprudência);
42. Tributo aos Advogados Criminalistas (Coletânea de Escritos
Jurídicos); Millennium Editora Ltda.;
43. Advocacia Criminal (Teoria e Prática); Millennium Editora
Ltda.;
44. Cartas do Juiz Eliézer Rosa (2a. Parte);
45. Contravenções Penais (Doutrina e Jurisprudência);
46. Crimes contra os Costumes (Doutrina e Jurisprudência).
47. Revisão Criminal (Doutrina e Jurisprudência);
48. Nélson Hungria (Súmula da Vida e da Obra);
49. Ação Penal (Doutrina e Jurisprudência);
50. Crimes de Falsidade (Doutrina e Jurisprudência);
51. Álibi (Doutrina e Jurisprudência);
52. Da Sentença (Doutrina e Jurisprudência);
53. Fraseologia Latina.
Da Pena (Doutrina e Jurisprudência) Carlos Biasotti

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