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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, Nº 30: 7-15 JUN.

2008

DOSSIÊ “ELITES POLÍTICAS”

Apresentação
Por um retorno à Sociologia das Elites

Quando Gaetano Mosca publicou o seu ção no interesse dos cientistas sociais pelo tema.
Elementi di Scienza Politica, em 1896, lançou com A Ciência Política e a Sociologia Política redes-
ele um programa de pesquisa novo e promissor. cobriram as instituições políticas; ao mesmo tem-
O sociólogo italiano determinou que as “minorias po em que voltaram os estudos sobre regimes,
politicamente ativas” deveriam ser, para os cien- partidos e eleições, o Estado capitalista e suas re-
tistas políticos, o objeto de análise mais importan- lações com a economia capitalista acabou polari-
te. Dado o caráter oligárquico de todos os gover- zando as atenções de boa parte dos estudiosos.
nos, um estudo científico da política teria de estar
Essa constatação, entretanto, deve ser qualifi-
atento não ao número de governantes (conforme
cada, tendo em vista as particularidades do cam-
a classificação aristotélica tradicional: um, pou-
po científico dos diversos países. Se houve uma
cos, muitos), mas aos mecanismos sociais e polí-
queda significativa nos estudos sobre as elites
ticos responsáveis pela formação, pelo recruta-
políticas nos países centrais (Estados Unidos e
mento, pela socialização e pela conduta dessas
Europa), não chegou a ocorrer um desapareci-
minorias.
mento completo das pesquisas dedicadas às mi-
A Ciência Política, principalmente anglo-saxã, norias politicamente ativas1. O declínio no inte-
levou a sério esse decreto. Talvez não seja exage- resse pelo assunto, porém, foi bem mais radical
rado afirmar que as “elites políticas” foram um no Brasil, onde, a partir de meados da década de
dos assuntos mais estudados ao longo do século 1980, os estudos sobre as elites políticas, que
XX. Em especial depois das traduções para o in- nunca foram abundantes2, praticamente desapa-
glês das obras de Vilfredo Pareto (Mind and receram.
Society, editado em 1935) e de Mosca (The Ruling
Uma das razões que esteve na origem desse
Class, em 1939), uma série de trabalhos empíricos
desinteresse pelo tema reside no surgimento de
sobre as minorias dominantes nas sociedades de-
novas perspectivas teóricas e novos programas
mocráticas veio à luz. Após a II Guerra, vários
empíricos de pesquisa, cujas indagações não mais
cientistas sociais, de orientações diversas, dedi-
conferiam às elites políticas e sociais um lugar
caram-se ao estudo das elites políticas e acres-
central. Para sermos mais específicos, o
centaram às contribuições clássicas um significa-
arrefecimento da preocupação dos cientistas so-
tivo avanço metodológico. Nomes como Harold
ciais pelo tema das elites deve-se, em essência, às
Lasswell, James Burham, David Riesman, Floyd
críticas formuladas a partir de três perspectivas
Hunter, Charles Wright Mills, Robert Dahl, William
bem distintas: o estruturalismo marxista, o
Kornhauser, Seymour Lipset, Maurice Duverger,
institucionalismo de escolha racional e a Sociolo-
Raymond Aron, Giovanni Sartori, Peter Bachrach,
gia Relacional de Pierre Bourdieu. As críticas são
Morton Baratz, Tom Bottomore, Ralph Miliband pro-
contundentes e, não raro, convincentes. Não acre-
duziram, cada um à sua maneira, estudos ligados
ao problema fundamental que consiste em saber
como se formam e são recrutadas as minorias or- 1 Cf., por exemplo, a ampla gama de inquéritos editados
ganizadas que dominam uma dada comunidade. em Czudnowski (1982) e Clarke e Czudnowski (1987).
A partir de meados da década de 1960 e início 2 Dois estudos praticamente isolados foram MacDonough
da década de 1970 houve, contudo, uma diminui- (1981) e Carvalho (1996).

Recebido em 17 de abril de 2008. Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 16, n. 30, p. 7-15, jun. 2008
Aprovado em 2 de maio de 2008. 7
APRESENTAÇÃO

ditamos, porém, que as aceitar implique necessa- portanto, partilham da mesma visão de mundo.
riamente o abandono das elites políticas como Imagine-se ainda que os membros dessa elite con-
objeto de estudo importante para a Ciência Políti- trolem as principais posições no Estado e tenham
ca e a Sociologia Política. de, a partir daí, tomar decisões com relação, por
exemplo, à política industrial. Por fim, suponha-
I. O ANTI-ELITISMO DO MARXISMO ESTRU-
se que essas decisões acabem produzindo conse-
TURALISTA
qüências objetivas que não correspondam aos pro-
Nicos Poulantzas (1982; 1986) atacou o des- pósitos iniciais dos “planejadores”. Ora, mesmo
propósito teórico e político que consistia em tra- nesses casos seria prudente imaginar que os efei-
zer, para o interior do marxismo, a “problemáti- tos produzidos poderiam ter sido outros caso a
ca” das elites políticas. Os termos dessa recusa decisão fosse diferente em função de serem dife-
eram, resumidamente, os seguintes: (i) o funcio- rentes os decisores. O fato de o resultado final não
namento do Estado capitalista e o seu caráter de corresponder às intenções iniciais dos agentes não
classe devem ser explicados a partir dos vínculos elimina a relação causal entre ambos os fenôme-
objetivos existentes entre essa estrutura específi- nos. Admitindo hipoteticamente essa correlação,
ca e a sociedade capitalista; (ii) desse ponto de evitamos cair tanto no “voluntarismo”, que con-
vista, os indivíduos que controlam os principais siste em afirmar que as elites políticas modelam o
postos do aparelho estatal (a burocracia), inde- mundo de acordo com suas intenções e concep-
pendentemente de sua origem social, crenças co- ções, como naquilo que Ralph Miliband chamou
letivas e motivações subjetivas, estão destinados de “superdeterminismo estrutural” (MILIBAND,
a reproduzir a “função objetiva” do Estado, que 1970, p. 238), defeito simétrico que consiste em
consiste em manter a coesão de uma formação descartar pura e simplesmente os agentes políti-
social baseada na dominação de classe; (iii) con- cos e suas motivações como fatores explicativos
clui-se, então, que as questões centrais para o potenciais das decisões políticas e dos seus efei-
pesquisador de orientação marxista devem ser “que tos reais3.
relações sociais o Estado reproduz?” e “com que
Não é prudente, quanto a esse assunto, elabo-
fins?” e não “quem governa?”, “quem decide?”,
rar uma teoria geral que postule a existência a
“quem influencia?” etc., já que o que importa, na
priori de um vínculo explicativo entre os atribu-
realidade, são os efeitos objetivos das decisões
tos da elite política e o seu comportamento efeti-
políticas e não as intenções subjetivas dos
vo. A relação entre “a natureza das elites” e “a
decisores. Por essa razão, Göran Therborn afir-
natureza das decisões” deve ser vista antes de tudo
mava que uma teoria marxista da dominação de-
como uma hipótese de trabalho a ser comprova-
veria aplicar ao mundo da política a mesma pro-
da (ou não) por pesquisas empíricas. Desse pon-
blemática que Marx aplicara à estrutura econômi-
to de vista, uma pesquisa sobre as eventuais rela-
ca, isto é, a “problemática da reprodução”. O Es-
ções entre, de um lado, os atributos econômicos,
tado, enfim, é definido e explicado por aquilo que
sociais e ideológicos dos decisores e, de outro, a
ele reproduz e não pela natureza de seus ocupan-
conduta de seus membros frente a determinadas
tes (THERBORN, 1989, p. 155-157).
questões específicas deve orientar-se por duas
Mesmo que se aceite a afirmação segundo a perguntas centrais: quem governa? Com quais
qual os efeitos das decisões tomadas pela elite conseqüências?
política não correspondem às intenções originais
A resposta à primeira questão permitiria iden-
dos seus membros – e não é preciso ser adepto
tificar a origem social, a trajetória escolar, a car-
do marxismo estruturalista para acatar essa evi-
reira profissional, os valores sociais daqueles que
dência –, ainda assim a natureza da elite (seus
ocupam as posições políticas estratégicas em uma
perfis sociais, atributos profissionais, valores
dada comunidade. A resposta à segunda questão
mentais) pode vir a ser um fator importante para
– com quais conseqüências? – ajudaria a dizer se
a explicação dos fenômenos políticos.
existe (ou não) algum vínculo relevante entre aque-
Imagine-se, apenas a título de hipótese, uma
elite política formada por indivíduos oriundos de
um mesmo grupo social, socializados nas mes- 3 Para a operacionalização dessa idéia, ver, por exemplo,
mas instituições escolares ou profissionais e que, Bunce (1981) e Hunt (2007).

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les atributos (todos ou uma parte deles) e os tipos traram que as “instituições contam”, isto é, que
de decisões elaboradas pelo grupo em questão. seu desenho, suas normas e suas regras são im-
Qualquer interrogação sobre a natureza das deci- portantes para compreender adequadamente a ação
sões – sua orientação, por exemplo – está obriga- dos atores políticos.
da a ao menos levar em consideração a natureza
Há, entretanto, dois limites analíticos quando
das elites como um provável fator explicativo. Ou,
se reduz o comportamento político a uma reação
por outra, invertendo o argumento e devolvendo
racional frente a regras institucionais determina-
a tarefa: a irrelevância das elites (estatais) para as
das. A identificação desses limites, aliás, permite
decisões (estatais) é que deveria ser, desde logo,
defender a tese complementar (e não oposta) de
comprovada.
que, tanto quanto as instituições, “as elites con-
II. O INSTITUCIONALISMO DE ESCOLHA tam”.
RACIONAL E OS ATORES INTERCAMBIÁ-
O primeiro grande problema do
VEIS
institucionalismo de escolha racional (assumido
O estruturalismo marxista não foi a única teo- explicitamente pelos seus defensores, diga-se de
ria social que propôs desconsiderar os atributos passagem) reside no fato de essa teoria não ter
das elites como uma variável legítima para enten- absolutamente nada a dizer sobre o processo de
der-se as decisões públicas. O “institucionalismo constituição dos gostos e preferências dos atores
de escolha racional” adotou a mesma postura, políticos (cf. BECKER, 1990, p. 5; TSEBELIS,
apesar de seus simpatizantes partirem de pressu- 1998, p. 54, n. 36). Mais do que isso, a
postos teóricos inteiramente diferentes. especificidade dos gostos e das preferências dos
atores não entra na explicação dos comportamen-
Para o institucionalismo de escolha racional, o
tos políticos. Não interessa, nessa concepção, o
contexto institucional é a variável independente que
fato de que indivíduos são algumas vezes porta-
explica a conduta de atores políticos tidos como
dores de preferências políticas radicalmente dife-
racionais. Segundo G. Tsebelis, esse tipo de abor-
rentes, mas sim que tais preferências serão per-
dagem focaliza as coerções impostas aos atores
seguidas racionalmente por meio de estratégias
racionais pelas instituições de uma sociedade e
semelhantes em função de um mesmo contexto
postula que a ação individual é uma adaptação óti-
institucional.
ma a um ambiente institucional determinado. De-
fende-se, portanto, que as “regras do jogo” Esse tipo de estratégia analítica, ainda que con-
condicionam o comportamento dos atores e, em tribua para entender a semelhança de comporta-
conseqüência, os outputs do sistema político mentos entre atores com orientações políticas
(TSEBELIS, 1998, p. 51). Se a conduta dos ato- muito discrepantes (por exemplo: a conduta par-
res é interpretada estritamente como uma reação lamentar de um líder trabalhista social-democrata
racional aos constrangimentos impostos pelas re- e de um dirigente industrial adepto do fascismo),
gras institucionais, então para essa teoria decidi- nada diz sobre o conteúdo substantivo dessas es-
damente não é prioritário, e nem mesmo impor- tratégias. Sendo assim, a teoria da escolha racio-
tante, perguntar-se a respeito da história pregressa, nal pode explicar o desenvolvimento da ação, mas
da origem de classe ou dos valores culturais dos quase nada diz sobre o motivo que conduz os ato-
atores políticos. Na verdade, na presença de um res a agir em uma ou em outra direção. Trata-se,
determinado ambiente institucional, os indivíduos portanto, de uma racionalidade institucionalmente
são intercambiáveis, isto é, seja qual for o seu situada, mas socialmente desencarnada. A nosso
background social (alto, baixo) e ideológico (radi- ver, não é plausível supor que os agentes, ao in-
cal, liberal), eles agiriam da mesma maneira exa- gressarem na política, dispam-se de todos os va-
tamente porque são todos atores que racionalmente lores e preferências que lhes foram inculcados ao
buscam sempre maximizar seus objetivos (idem, longo dos processos de socialização primária, se-
p. 54-55). cundária e política. Por essa razão, a análise do
processo de recrutamento das elites (os canais
Essa variante do institucionalismo trouxe uma
que conduziram os indivíduos a posições de man-
importante contribuição à Ciência Política. Frente
do, por exemplo) e do seu background social é, a
à hegemonia das interpretações “societalistas”, os
nosso ver, indispensável.
pesquisadores filiados a essa corrente teórica mos-

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APRESENTAÇÃO

Um segundo problema do institucionalismo de essencialista encontrada em pesquisas influencia-


escolha racional consiste em tratar as instituições das pela problemática elitista e pelos adeptos do
políticas como “variável independente” método prosopográfico4. Esses estudos, ainda
desconectada do contexto social. Quanto a este segundo o sociólogo francês, começam em geral
ponto, é preciso recordar uma platitude: as insti- definindo uma dada população para, em seguida,
tuições não são entidades abstratas que surgem estudar os atributos (em sua língua: o capital eco-
do nada. Ao contrário, são fatos históricos con- nômico, social, político, cultural etc.) dos agen-
cebidos e construídos não por atores racionais tes que a compõem. Ao fazerem isso, os analistas
socialmente desencarnados, mas por agentes so- estariam sujeitos a dois enganos.
ciais historicamente situados, portadores de valo-
Primeiro, a teoria das elites tenderia a natura-
res específicos, com interesses socialmente de-
lizar as propriedades sociais distintivas dos gru-
terminados e com uma lista de idéias pré-conce-
pos dominantes, como se fossem recursos ine-
bidas acerca do que devem ser as instituições po-
rentes à superioridade inata de seus membros. Esse
líticas. Desnecessário lembrar também que os
primeiro pecado é, em geral, acompanhado por
constrangimentos institucionais de hoje são a ex-
um outro, que consiste na incapacidade de esses
pressão e a cristalização de escolhas feitas no pas-
pesquisadores adotarem uma perspectiva
sado. Essas escolhas só poderiam ser explicadas
relacional dos grupos estudados. Se percebessem
em função dos contextos, do legado cultural,
que “o real é relacional” (BOURDIEU, 1989a, p.
institucional, político e da natureza dos agentes
28), os investigadores em questão teriam também
envolvidos no processo (cf. THELEN &
se dado conta de que os atributos investigados
STEINMO, 1994, p. 2-3; IMMERGUT, 1998, p.
como propriedades individuais são, na realidade,
19-22).
a expressão das propriedades derivadas das posi-
Com relação a este ponto em especial, e sem ções objetivas ocupadas pelos agentes no espaço
qualquer pretensão de formalização nem originali- social.
dade, poderíamos ensaiar uma distinção. Há, de
Conforme essa perspectiva relacional, por
um lado, períodos históricos cruciais, marcados
exemplo, o quantum de capital escolar vinculado
por transições políticas, revoluções sociais, guer-
a uma dada posição no campo cultural está direta-
ras de independência, guerras de conquista etc.;
mente vinculado ao quantum do mesmo capital
de outro, períodos históricos rotineiros, isto é,
vinculado a uma outra posição no mesmo campo.
momentos em que as escolhas feitas pelas lide-
Para Bourdieu, o poder não é uma relação entre
ranças políticas, assim como o processo decisório,
“indivíduos”, mas uma relação entre diferentes
parecem seguir procedimentos e regras estáveis,
posições que distribuem desigualmente os capi-
garantindo, no mais das vezes, um alto grau de
tais específicos de um campo, o que, por sua vez,
previsibilidade aos comportamentos sociais. Pa-
confere aos ocupantes dessas posições
rece correto supor, por outro lado, que a natureza
potencialidades distintas para produzir ganhos nas
da elite política é tanto mais importante quanto
lutas que caracterizam o mesmo campo. Só faz
mais crucial for o período histórico analisado:
sentido estudar os atributos dos agentes se o es-
em momentos de mudança social há mais deci-
tudo servir ao objetivo último da Sociologia, a sa-
sões a tomar, mais opções a fazer, mais alternati-
ber, captar a “sócio-lógica” objetiva que rege o
vas a legitimar. Já em períodos normais, marca-
funcionamento de um campo. Fora desse regis-
dos pela estabilidade (momentos de reprodução
tro, o estudo das elites de pouco serviria.
social), o impacto dos atributos das elites políti-
cas tenderia por sua vez a ser fortemente media-
do pelas regras institucionais e pelas rotinas 4 Conforme a definição já clássica de Lawrence Stone, “a
decisórias pré-estabelecidas, o que não equivale a prosopografia é a investigação das características comuns
dizer que esses atributos não tenham aí importân- do passado de um grupo de atores na história por meio do
cia alguma. estudo coletivo de suas vidas. O método empregado con-
siste em definir um universo a ser estudado e então a ele
III. A CRÍTICA DA SOCIOLOGIA RELACIONAL formular um conjunto de questões padronizadas – sobre
DE PIERRE BOURDIEU nascimento e morte, casamento e família, origens sociais e
posições econômicas herdadas, local de residência, educa-
Segundo Pierre Bourdieu, a teoria sociológica ção e fonte de riqueza pessoal, religião, experiência profis-
deve promover uma ruptura com a visão sional e assim por diante” (STONE, 1971, p. 46).

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As críticas de Bourdieu são na realidade um social Christophe Charle apresenta os procedimen-


modo mais sofisticado de apresentar aquilo que tos técnicos para delimitar o grupo de elites que
autores como Anthony Giddens e Robert Putnam pretende estudar durante os anos iniciais da III
chamaram de so what question (GIDDENS, 1974, República francesa. Charle, seguindo as orienta-
p. xii-xiii; PUTNAM, 1976, p. x). Afinal de con- ções da Sociologia Relacional, recusa uma defini-
tas, diante daqueles estudos sociográficos, depois ção formalista e substancialista do grupo, que
de um longo e exaustivo trabalho de pesquisa em consistiria em atribuir arbitrariamente a alguns in-
que são reveladas algumas características “essen- divíduos uma dada posição de elite. Assim, para a
ciais” dos membros da elite política, cabe per- delimitação do coletivo a ser analisado, o estudio-
guntar: e daí? Isto é: o que tais características so deve lançar mão de fontes que evidenciem o
explicam? Sem isso, o estudo das elites políticas julgamento social da época, tais como dicionári-
seria apenas uma descrição adequada do “perfil os, anuários, publicações do tipo Qui êtes-vouz?,
social” dos seus membros, o que pouco ou nada Tout Paris etc. Em seguida, seria preciso identifi-
diz de fato sobre a estrutura e o funcionamento car, dentro dessa enorme população revelada pe-
da sociedade em questão. las fontes históricas, um “núcleo duro”, que, para
o caso de Charle, é composto apenas por empre-
Entretanto, como o próprio Bourdieu (1989b,
sários, altos funcionários e professores universi-
p. 374) reconheceu, romper com a concepção
tários. Define-se assim a “elite pela posse de um
essencialista é um tanto difícil, pois as proprieda-
certo poder [...]”. O resultado líquido aqui é um
des das posições sociais sempre se manifestam
universo de 1 093 indivíduos que ocupam “os
como atributos individuais. Nesse sentido, não há
escalões superiores de cada grande categoria”
como evitar a constatação de que para recons-
social. Por fim, o autor apresenta o conjunto de
truir o sistema objetivo de posições no mundo
variáveis a serem coletadas a fim de refazer a tra-
social (ou em um campo específico) é preciso
jetória e captar a posição social dos indivíduos
sempre recorrer, inicialmente, ao inventário dos
nos campos analisados: variáveis demográficas,
predicados pessoais de uma dada “população”,
sociais, culturais, ideológicas, políticas,
conferindo a esses atributos um tratamento esta-
consagratórias e financeiras (CHARLE, 1987, p.
tístico comum. Como as informações sobre o
12-22). A partir dessas informações, Charle afir-
mundo social estão associadas a indivíduos é a
ma que os grupos dominantes na França, entre
eles que devemos dirigir-nos para indagá-los acerca
1871 e 1940, teriam deixado de ser uma “classe
das propriedades sociais que os constituem
dirigente” (os “notáveis” que controlavam todos
(BOURDIEU, 1989a, p. 29). Existem, a propósi-
os recursos sociais mais importantes), para frag-
to, sugestões técnicas abundantes nas pesquisas
mentarem-se em uma “classe dominante”, carac-
conduzidas por Bourdieu para recolher e proces-
terizada pela dispersão desse controle entre gru-
sar esse tipo de informação (técnicas
pos dominantes especializados (idem, cap. 1).
prosopográficas, quadro sinóptico das caracterís-
ticas pertinentes dos agentes e das instituições e Assim, apesar de dizer que não pretende inici-
organizações a que eles pertencem, questionári- ar o trabalho de pesquisa por definições formalistas
os, sondagens, entrevistas em profundidade, e/ou substancialistas, ao fim e ao cabo Charle adota
etnografia de casos específicos, observação par- os mesmos procedimentos usualmente utilizados
ticipante etc.). pelos estudiosos das elites políticas e sociais. O
autor afirma inicialmente que submeterá a defini-
Feitas as contas, algumas proposições de
ção do grupo à percepção dos contemporâneos.
Bourdieu sobre os grupos socialmente dominantes
Adota-se, portanto, o que a literatura chama de
sugerem todavia o retorno, sob nova roupagem
“método reputacional”, cuja maior fragilidade con-
terminológica, da abordagem “posicional”, à la
siste em basear-se demasiadamente em percep-
Wright Mills (1981), com base em um conceito
ções subjetivas cujos critérios, exatidão ou
não menos tradicional de poder (“capital”), i. e.,
pertinência nunca se podem precisar ao certo. No
‘poder como a posse de uma quantidade determi-
entanto, logo em seguida, Charle muda de estra-
nada de recursos’. Quanto a esse ponto, vale a pena
tégia e lança mão daquilo que a literatura chama
fazer alguns comentários sobre o estudo feito por
de “método posicional”, bem mais adequado ao
um dos seus mais renomados seguidores.
caso, diga-se de passagem, já que as elites a se-
Em Les élites de la République, o historiador rem estudadas (administrativa, universitária e eco-

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APRESENTAÇÃO

nômica) são formadas por indivíduos que con- ativa sobre os interesses dos dominados. Estudos
trolam as posições institucionais superiores em longitudinais (“históricos”) podem revelar infor-
uma dada comunidade ou instituição. Essa defini- mações importantes a respeito da evolução da pró-
ção é condizente com a Sociologia de Bourdieu, pria estrutura social ao longo do tempo. Nesses
que utiliza como sinônimos os termos “poder” e casos, lembra Putnam (1976, p. 43), pode-se fa-
“capital”, como anotamos acima. O capital é um zer uma espécie de “sismologia” na qual os dados
atributo de posição e, em conseqüência, o poder diacrônicos sobre grupos de elite funcionariam
também deve sê-lo. Assim, se definimos “elite” como um aparelho que registraria mudanças mais
como um grupo que detém poder, estamos, ao profundas na estratificação social. Algumas im-
mesmo tempo, dizendo que a elite é um grupo portantes questões podem ser formuladas a partir
que ocupa uma posição dominante (i. e., uma de dados dessa natureza, como, por exemplo: (i)
posição que fornece aos seus membros um quais recursos (sociais, econômicos, políticos,
quantum maior de capital). Ter (mais) poder sig- simbólicos) eram importantes no passado para
nifica ter (mais) recursos que a posição objetiva aceder posições de elite e quais são importantes
(dominante) coloca à disposição dos agentes (do- no presente? (ii) Como – e em que ritmo – mu-
minantes) – valendo o inverso para os domina- danças na estrutura socioeconômica são refleti-
dos. O passo seguinte é fazer uma “Sociologia das na estrutura de elite? (iii) Os caminhos per-
das posições institucionais” (WRIGHT MILLS, corridos, isto é, as “avenidas” de acesso a posi-
1985, p. 63), vinculando os seus achados à teoria ções de elite mudaram? (iv) A estrutura do grupo
dos campos. mudou ao longo do tempo, ou seja, ela passou
(ou não) por um processo de “democratização”,
Como se vê, os pressupostos teóricos da So-
de “popularização” etc.? Essas são questões deci-
ciologia Relacional de Pierre Bourdieu não são in-
sivas na compreensão da evolução histórica e das
compatíveis com aquilo que normalmente se faz
transformações sociais de uma dada comunida-
nos estudos das elites sociais e políticas. Há, ali-
de.
ás, certo exagero por parte da Sociologia Política
francesa contemporânea na crítica aos aspectos IV. UMA AGENDA DE PESQUISA
“naturalizantes” e “essencialistas” dos estudos
No dossiê que a Revista de Sociologia e Polí-
“elitistas”. Temos dúvidas se o primeiro termo
tica publica neste número o leitor encontrará arti-
aplica-se até mesmo a autores clássicos, como
gos que lidam com vários dos temas analisados
Gaetano Mosca, em geral acusado do pecado
nesta apresentação. Um breve resumo dos traba-
oposto, isto é, de certo “sociologismo”. No que
lhos publicados revela a existência de uma agenda
diz respeito ao segundo termo da crítica, é verda-
de pesquisa diversificada, tanto do ponto de vista
de que não há nas pesquisas sobre grupos de elite
metodológico quanto temático, ainda que, neste
grande preocupação em sofisticar teórica e
último caso, perceba-se certo predomínio do pro-
metodologicamente a visão relacional das análises
blema do recrutamento da elite parlamentar e de
sobre o poder. No entanto, é inegável que esse
sua profissionalização política.
tipo de perspectiva está presente, ainda que de
maneira embrionária, em quase todos os inquéri- O que condiciona a ação dos deputados brasi-
tos que têm como objeto de análise “as elites”. leiros? O trabalho de Débora Messenberg estuda
Basta lembrar aqui o conceito de elite com o qual a elite legislativa no Brasil no período posterior à
a maioria dos estudiosos opera, isto é, a elite como Assembléia Nacional Constituinte de 1987-1988 e
um grupo formado por indivíduos que, no seu chama a atenção para variáveis de outro tipo, em
campo de atividade, conseguem apropriar-se em geral pouco mobilizadas quando se trata de enten-
maior quantidade dos bens ali valorizados. Ao der as ações dos políticos, como suas “orienta-
mesmo tempo, reconhece-se que essa apropria- ções culturais”. Um achado relevante dessa mu-
ção ocorre em detrimento da “não-elite”, definida dança de enfoque é que identidades regionais di-
como os desprovidos desses bens ou como aque- ferenciadas, por exemplo, demarcam comporta-
les que os possuem em menor quantidade. mentos e estilos diversos de fazer política.
Por fim, vale observar que não há razão para Qual o caminho para chegar-se à câmara alta
reduzir os trabalhos sobre elites ao problema do no Uruguai? O artigo de Eduardo Bottinelli discu-
poder, isto é, limitá-los ao problema do predomí- te os diversos tipos de trajetória política das elites
nio dos interesses de uma minoria politicamente parlamentares uruguaias após a ditadura militar.

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Estudando 38 senadores na legislatura 2005-2010, Um dos problemas mais recorrentes nos estu-
procura mostrar padrões comuns de carreira, dos de elite no Brasil são as fontes de pesquisa.
mobilidade interpartidária e divergências existen- Embora tenha havido já um avanço considerável
tes entre políticos filiados a partidos tradicionais e nesse ponto, as abordagens prosopográficas fari-
a agremiações de esquerda. am mal em fiar-se apenas nas informações dispo-
níveis nos portais eletrônicos das assembléias
Políticos profissionais são invariavelmente
legislativas brasileiras sobre os deputados estadu-
ambiciosos e tendem a buscar posições cada vez
ais e distritais da legislatura de 2003-2007. Sérgio
mais prestigiosas, influentes ou poderosas? Re-
Braga e Maria Alejandra Nicolas constroem em
nata Florentino propõe-se a mapear os perfis bio-
seu texto um indicador bastante útil para avaliar e
gráficos daqueles que tendem a abandonar a car-
mensurar o grau de disponibilidade das informa-
reira política ou a candidatar-se a postos parla-
ções sobre tais atores na web.
mentares de menor prestígio em relação àqueles
exercidos anteriormente. Pesquisando as dispu- Mudando o foco dos parlamentares para ou-
tas legislativas entre 1990 e 2006, elenca algumas tro grupo de elite, só recentemente descoberto pela
variáveis explicativas a fim de explicar esse pro- Ciência Política brasileira, o estudo de André
cesso de exclusão ou auto-exclusão da vida polí- Marenco dos Santos e Luciano Da Ros analisa os
tica. padrões de recrutamento dos ministros dos ór-
gãos de cúpula do poder Judiciário brasileiro en-
Quais são as condições para a
tre 1829 e 2006. Com base em quatro tipos de
profissionalização política? Elas são sempre as
informação a respeito dos membros do Supremo
mesmas ou variam conforme as configurações
Tribunal de Justiça (1829-1890) e do Supremo
regionais? Os deputados federais de dois estados
Tribunal Federal (1891-2006) – posição social,
muito diferentes entre si – o Maranhão e o Rio
origem geográfica, instituição escolar e natureza
Grande do Sul – são o tema do artigo de Igor
da carreira –, demonstra a mudança ao longo do
Grill. Analisando a trajetória, a base social e as
tempo dos “caminhos que levam à Corte” no Bra-
concepções desse grupo heterogêneo durante um
sil. A pesquisa salienta a progressiva autonomia
intervalo de tempo bem considerável, de 1946 a
da corte suprema no período posterior à promul-
2006, são comparadas uma lista de questões co-
gação da Constituição de 1946, ao detectar um
muns tais como: a heterogeneidade social, as
lento incremento de indivíduos provenientes do
condições que permitem ou presidem a ascensão
universo exclusivamente jurídico, entre outros
política, as estratégias de conversão de bases so-
achados.
ciais em apoios eleitorais e a própria legitimidade
dos papéis políticos nessas unidades da federa- O gracejo sobre a imprevisibilidade das deci-
ção. sões dos operadores do Direito deve ter lá sua
razão de ser. Afinal, com base em quê julgam os
O artigo de Adriano Codato propõe-se a refle-
juízes? O artigo de Renato Perissinotto e seus
tir sobre um problema clássico nessa área de es-
colaboradores propõe uma estratégia de pesquisa
tudos: quando e como os políticos tornam-se mais
da elite judiciária que integre assuntos em geral
profissionais, ou, por outra, o que explicaria a
tratados separadamente: os valores dos agentes,
permuta de um tipo social (o notável) para outro
as instituições e/ou os processos de socialização e
(o especialista) e a conversão da natureza dos re-
o conteúdo das decisões dos magistrados. Inves-
cursos políticos legítimos em uma determinada
tigando o Tribunal de Justiça do Paraná, constata
sociedade? A partir do exame das propriedades
a utilidade em reunir em um mesmo inquérito vá-
políticas e das características socioocupacionais
rias dimensões para entender e explicar o com-
dos representantes da bancada de São Paulo na
portamento desses agentes.
Assembléia Nacional Constituinte de 1946, o arti-
go procura avaliar a capacidade explicativa de três Wilson Oliveira enfrenta (e desmistifica) um
tipos de variáveis para entender esse processo: a daqueles assuntos sobre os quais poucos pergun-
“social”, isto é, as grandes transformações na es- tam-se, porque acreditam que ou já sabem a res-
trutura socioeconômica; a “institucional”, ou as posta ou que ela está ao alcance da mão, bastando
condições de competição política e participação consultar os registros. É o caso dos dirigentes
no governo, e a “contextual”. das organizações ambientalistas e dos movimen-

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APRESENTAÇÃO

tos ecológicos: imagina-se que eles ocupem as combinações de recursos e estratégias acionados
posições de cúpula com base no capital escolar pela elite do Exército brasileiro entre o Império e a
acumulado e na legitimidade conferida pela perí- I República, em especial o uso de relações basea-
cia técnica que esses assuntos exigem. Analisan- das na reciprocidade pessoal e as tomadas de po-
do esse pessoal desde os primórdios do sição política, para a ascensão na carreira. A apre-
ecologismo no Brasil (1970) até muito recente- sentação e a discussão de duas trajetórias permi-
mente (2004), Oliveira argumenta que as posições tem entender não só os mecanismos híbridos de
de elite tendem a ser ocupadas por um tipo social recrutamento e seleção regulados por lógicas con-
que conjuga exercício de funções técnicas no traditórias, mas as transformações do espaço po-
ambientalismo com a inserção simultânea em lítico e os processos de inovação institucional em
múltiplas redes de organizações políticas e movi- curso no Brasil do período.
mentos sociais e a ocupação de postos em dife-
O dossiê é uma amostra reduzida da vitalidade
rentes esferas.
crescente dessa área de estudos, da capacidade
Os dois artigos que encerram o Dossiê são de renovação dos seus temas, métodos e aborda-
estudos históricos. Luciano Abreu destaca uma gens e do vasto campo a explorar ainda quando
elite incomum: a oligarquia política estadual re- se trata das “elites”. Por falar nelas, esses artigos
manescente no regime do Estado Novo. Esmiu- são também uma prova daquela capacidade da
çando a política sulriograndense após 1937, de- Sociologia ser sempre inconveniente: mostrar as
monstra que o governo hipercentralizador de Ge- condições sociais de produção do mundo social e
túlio Vargas teve de estabelecer algum compro- da posição – privilegiada – de alguns agentes so-
misso com as elites estaduais, com base na ciais nele.
cooptação e na conciliação.
Renato M. Perissinotto e
O estudo de Ernesto Seidl destaca as variadas Adriano Codato

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 16, Nº 30: 7-15 JUN. 2008

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