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Filosofia 3 2021 (Recuperação) D.

C (Durante/Depois Covid)

A Fundamentação da moral

As diferentes teorias éticas apresentam critérios (razões) e argumentos que


permitem formular juízos morais.

Problema: Havendo diferentes regras morais como podemos, todavia,


atuar? Que critério, afinal, podemos ter para ajuizar/avaliar o ato
moral? Por outro lado, o que é mais importante para o ato moral? O
que é que legitima/fundamenta a moral?

1)
Ética deontológica, formal: Deontologia (termo relacionado com os
deveres necessários à ação, a uma profissão) surge como a teoria cujo
motivo é o (cumprimento do) dever.

Significa isto, que a moralidade/imoralidade dos atos deriva do respeito e


da intenção do respeito a princípios. Agir é seguir regras. O ato moral
é válido nessa intenção e nesse compromisso.
2)
Ética consequencialista, teleológica ou material: o valor dos atos
morais está relacionado com os resultados, fins ou consequências.

Só as consequências tornam algo certo ou errado. O valor está no


que fazemos, isto é, no conteúdo da ação. O ato é bom porque o
efeito é bom.

A teleologia (do grego τέλος,(telos) finalidade, e -logía, estudo) é o estudo filosófico dos fins, isto é, do
propósito, objetivo ou finalidade.
A) KANT (filósofo alemão 1724-1804) - A teoria deontológica

Dever:

Podemos, assim, agir ilegalmente e imoralmente (sem respeito à norma/contra o


dever) (roubar);

Por legalidade (em conformidade com o dever- por interesse –“preservo a minha
vida porque gosto de viver”, “se ajudar um idoso ele publica no jornal e serei reconhecido”)

ou moralidade (em cumprimento, por motivo, do dever, por dever, interior, e não
apenas em conformidade com a norma – exterior- “Eu ajudo dado que devo ajudar”).

Um merceeiro conserva um preço fixo para todos os clientes. Está conforme ao


dever e às normas. É honrado mas não sabemos se o fez por princípio. Podia fazê-lo
por um motivo: o interesse (para manter clientes e atrair outros). A honestidade
surge por interesse e não por dever. A ação é feita, é um meio, para assegurar
vendas. O fim é exterior à ação. Não há valor moral. P.128

Quais as razões para estas possibilidades? É que o homem tem disposições para:

Animalidade: temos desejos sensíveis, egoístas. Somos biológicos. Há uma tendência


para a heteronomia, para seguir algo que nos é exterior, que não nos distingue
verdadeiramente, isto é, as leis Naturais. Não cumprimos normas morais (ilegal e
imoral: contra o dever). Sou animal.
Humanidade: somos também racionais. Sou eu mas estou com o OUTRO. Tenho de
ser aceite e de aceitar os outros. Sou um ser Social e socializado pela Cultura.
Cumprimos, por interesse, vantagem pessoal (egoísmo), regras ou normas morais
(legal mas ainda imoral: conforme ao dever). Sou um animal social e respeito a sociedade.
Personalidade: Sou racional e consciente do bem e do mal. Sou responsável e posso
ser autónomo, isto é, seguir as normas impostas pela razão, por aquilo que define o
Homem e não pelas leis naturais básicas de vida e sobrevivência. Defender o que
racionalmente promove o Bem. Cumprimos as normas morais em respeito total pela
lei moral e por exigência puramente racional (legal mas, sobretudo, moral: por
dever). p.127. Sou uma Pessoa (persona)
O rumo correto é agir por dever: seguir a ideia kantiana de ter uma vontade boa. É
seguir a minha disposição superior: a personalidade; é seguir apenas a razão; é ser
autónomo e não dependente (heterónomo) do sensível, do exterior, ou do interesse
único de ser socialmente aceite.

Mas, a nossa vontade oscila (animais/racionais). Ter uma vontade boa (boa vontade)
exige uma ordem incondicional, um mandamento, um imperativo categórico

“Age apenas segundo uma máxima (regra) tal que possas ao mesmo tempo querer
que ela se torne lei universal.” P.129

O imperativo categórico é enunciado com três diferentes fórmulas (e suas variantes), são estas:
1) Lei Universal: "Age como se a máxima [princípio subjetivo da ação]de tua ação devesse tornar-se,
através da tua vontade, uma lei universal." a)Variante: "Age como se a máxima da tua ação fosse para
ser transformada, através da tua vontade, em uma lei universal da natureza."

2) Fim em si mesmo (Humanidade): "Age de tal forma que uses a humanidade, tanto na tua pessoa,
como na pessoa de qualquer outro, sempre e ao mesmo tempo como fim e nunca simplesmente
como meio".

3) Legislador Universal (ou da Autonomia): "Age de tal maneira que tua vontade possa encarar a si
mesma, ao mesmo tempo, como um legislador universal através de suas máximas." a)Variante:
"Age como se fosses, através de suas máximas, sempre um membro legislador no reino universal dos
fins."

sofos.wikidot.com/imperativo-categorico

O imperativo categórico é a LEI SUPREMA DA MORALIDADE . Significa que a regra


particular que individualmente seguimos quando agimos, isto é, a máxima, deve
poder ser aceite por todos os seres racionais; é esta exigência de universalização da
máxima que torna a ação boa, dado que é garantida a imparcialidade e a
independência do agente em relação aos seus interesses particulares
Agir é então pensar se que aquilo que faço pode e deve ser feito por todos (a regra
que sigo na ação, máxima, princípio subjetivo, particular, é válida para todos,
universal?). Tal é a lei moral. Agir de 1 Agir universal? ser imparcial? aceitação por
todos? Eu quero mentir dado que me é conveniente (sou parcial). Mas a mentira pode
ser uma prática feita por todos?

O Imperativo Categórico (incondicional, universal e por dever) não deve ser


confundido com um Imperativo Hipotético (condicional, particular e conforme ao
dever)
Se verificamos a necessidade de fazer algo como condição para conseguir um
objetivo estamos a seguir um imperativo hipotético: se queres ser um bom
comerciante, ter clientes (na hipótese de quereres ser...), então ... faz...(não deves
subir os preços).
Se (condicional) ... então. Se quiser ser conhecido e elogiado (então) dou dinheiro à
misericórdia; mas, se não quiser ser conhecido nada me impõe que dê o dinheiro.
Este imperativo não pode ser a base da moral pois o (interesse pelo) resultado é a
condição da ação (fim exterior). O cumprimento do dever não é exigido por si
mesmo. É um meio para um fim. É interessado.
O bem é desinteressado (cumprimento do dever- fim em si próprio; cumpri o dever
pelo dever sem esperar as consequências; a boa vontade é a vontade que age por
dever). [O amor dos pais aos filhos não é incondicional = verdadeiro, puro?]

Ética do dever, ética formal: a regra (a forma), é sempre igual em todos os casos dado
que não depende deste ou aquele caso particular e concreto. É anterior a qualquer
circunstância: é “a priori”. Não depende do conteúdo. O dever pelo dever  ética
material. Não depende de circunstâncias (e da sua relatividade). Há deveres morais
absolutos

Fundamento da moral: a racionalidade (a autonomia da vontade); ética racionalista (e


absolutista).
Critério: caráter incondicional da máxima moral (imperativo que exige a sua
universalidade) e o seu respeito absoluto.
A teoria deontológica, em Kant, diz respeito à razão prática. A razão prática é o
raciocínio prático, a razão orientada para a ação (a escolha, no fundo, da melhor
ação possível), em particular a ação moral. Ora, ainda que com um imperativo, a
moralidade permite ao homem ser/ tornar-se pessoa, isto é, cada um de nós tem um
valor absoluto e único. Não somos animais, mas sim pessoas com dignidade própria.

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