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UM ESTUDO DE CASO
Resumo: Entre as muitas alterações que o setor produtivo vêm promovendo está a organização do
conhecimento interno e da cultura das empresas. Disseminado internamente, o conhecimento técnico
tradicionalmente concentrava-se em indivíduos, de maneira fluida e precária. As manifestações em
favor da responsabilidade social e ambiental, difundidas pela mídia, as exigências compulsórias
impostas por legislação de proteção e defesa da saúde do trabalhador e da preservação do meio
ambiente, ficam cada vez mais aderentes à imagem das empresas. Essa combinação de fatores tem
levado empresas a movimentar-se no sentido de atender a legislação e empreender ações que
estimulam e valorizam o trabalhador, tornando-o mais participativo, interessado e pró-ativo em
aprender e empreender. Para isso, elas criam mecanismos para apreender, classificar e organizar o
conhecimento interno, de modo a atender tanto a legislação como aproveitar a oportunidade que essa
atividade pode oferecer sobre os mais diferentes aspectos. A formalização dessa atividade de Gestão
do Conhecimento, com freqüência inserida na Governança Corporativa, tem mostrado resultados
positivos na melhoria da imagem, no desempenho, na redução de acidentes e desperdícios, e nas
relações entre empregados, gerências, diretorias e sócios das empresas. Este artigo trata da inserção
da Gestão do Conhecimento numa grande empresa distribuidora de gás.
Palavras-chave: Gestão do Conhecimento. Governança Corporativa. Responsabilidade Social e
Ambiental.
1 - Referências Teóricas
Gillan e Starks Mostram as implicações para a governança nas companhias em que os stakeholders
são grupos de controle associados.
Lodi (2000), por meio do relatório Candbury Report, define-a como “o sistema pelo qual as
companhias são dirigidas e controladas. Ela coloca os conselheiros de administração no centro de
qualquer discussão sobre a Governança Corporativa”.
Lodi (2000) continua, dizendo que, no passado recente, nas empresas privadas e familiares, os
acionistas eram gestores, confundindo em sua pessoa propriedade e gestão. Com o profissionalismo,
a privatização, a globalização e o afastamento das famílias, a Governança Corporativa colocou o
Conselho entre a Propriedade e a Gestão.
Dessa forma, o conselho atua como interface entre os acionistas, os administradores, os demais
interessados stakeholders, os conselheiros, os credores, os auditores e a sociedade de forma mais
ampla. A esse relacionamento que permite a condução da corporação ao encontro dos seus objetivos
dá-se o nome de Governança Corporativa (LAMEIRA, 2001).
IBGC (2006) a define como “um sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas,
envolvendo os relacionamentos entre acionistas/cotistas, conselho de administração, diretoria,
auditoria independente e conselho fiscal. As boas práticas de governança corporativa têm a
finalidade de aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para sua
perenidade”.
De acordo com Andrade (2006), no Quadro 2 são demonstradas a abrangência e as
diversidades das categorias conceituais.
Quadro 2 - Conceitos de Governança Corporativa: uma tentativa de síntese.
Fonte: Andrade (2006) adaptado pelo autor.
A geração de valor é uma das principais fontes da governança corporativa de integridade ética,
pois permite maior sustentação, amarrando concepções, práticas e processos de alta gestão com
senso de justiça e eqüidade no tratamento dos acionistas com respeito aos direitos dos minoritários e,
ainda, na presença ativa em discussões com transparência das informações entre todos os membros,
principalmente as que envolvem resultados, oportunidades e riscos, com prestação responsável de
contas e conformidade no cumprimento de normas regulamentadoras.
Segundo Andrade (2006), conceituam-se os cincos Ps da Governança Corporativa:
• Princípios - a base ética presente na geração de valor;
• Propósitos - o de contribuir para o máximo retorno total de longo prazo dos stakeholders de
maneira clara e legítima é harmonizável com interesses legítimos.
• Poder - a estrutura de poder legitimamente definida pelos proprietários é que leva a maior
clareza na separação de funções e responsabilidades dos conselhos corporativos e da direção
executiva.
• Processos - começam pela constituição e pelo empowerment dos conselhos de administração,
da direção executiva e do sistema de auditoria – considerados como órgãos-chave da governança
corporativa na introdução de indicadores de desempenho.
• Práticas - as boas práticas de governança estabelecem-se no interior de cada um dos
processos definidos e seu foco; é a gestão de conflitos de agência, tanto os decorrentes de
oportunismo quanto os de majoritários.
Um dos aspectos que merece atenção prioritária é a transparência de informações de
desempenho, que Lodi (2000) transcreve do The Conference Bord, Special Report 97/1, em que as
vantagens podem conduzir a uma melhor avaliação da empresa e possibilita discutir estratégias com
administradores e conselhos de administração. Os indicadores que medem o desempenho estratégico
relatados são:
1) Qualidade da gestão;
2) Qualidade dos produtos e serviços;
3) Capacidade de atrair, desenvolver e manter pessoas talentosas;
4) Valor como investimento de longo prazo;
5) Uso dos ativos da empresa;
6) Solidez financeira;
7) Inovação;
8) Responsabilidade pela comunidade e pelo ambiente.
Na Figura 1 é apresentado um novo modelo conceitual de Governança Corporativa estratégica
focada na Gestão do Conhecimento.
A organização precisa de uma governança que tenha seus princípios, seus propósitos, seus
processos, suas práticas e, principalmente, poder para promover, valorizar e disseminar o
conhecimento. É preciso também valorizar crenças e valores, costumes e práticas, e implementar na
missão, na visão e nos focos estratégicos a necessidade de valorizar o conhecimento nas empresas, e
introduzir indicadores de desempenho para mensurar a valoração ao capital intelectual da empresa.
Figura 1 - Modelo conceitual de Governança Corporativa estratégica focada na Gestão do
Conhecimento
Este modelo é original, elaborado pelos autores e está aberto a discussões e aprimoramento
pelos interessados.
Assim a empresa consegue gerar novas idéias e patenteá-la, por meio de pesquisas, criatividade
das pessoas, benchmarking, com um sistema de apoio de tecnologia da informação para hierarquizar
e descartar as idéias geradas pelos stakeholders.
E, por fim, disseminar seletivamente o conhecimento que promove a valorização do capital
intelectual e retorno total do investimento dos stakeholders de maneira harmonizada.
2 - Exemplo de Aplicação
2.1 - Metodologia
Baseado em Svelby apud Stollenwerk (1999) de que a gestão do conhecimento pode ser
classificada com base em seu enfoque na gestão da informação ou em detrimento da aprendizagem
organizacional, analisam-se propostas adotadas pela empresa explorada.
2.2 - Descrição do Caso
2.3 - Discussão
Evidencia-se pelas propostas adotadas pela empresa o enfoque essencial na gestão da
informação preexistente da companhia. A intenção e a preocupação em amealhar, de modo
organizado, dados, fatos e conhecimentos que fazem parte do cotidiano e da natureza específica e
singular do ramo de negócio em que está inserida, pode ser fonte de notável aprimoramento.
Contudo, nota-se que as ferramentas encontram-se dispersas e subutilizadas em vista de uma
abordagem integrada de gestão do conhecimento e governança corporativa.
O GED Web tem sido aplicado como biblioteca eletrônica dos documentos corporativos.
Todavia, este pode alcançar o caráter de portal corporativo, conforme Freitas (2004), pois “o portal
corporativo surgiu como evolução das intranets, como solução para agregar em um único ambiente
ferramentas de colaboração, software de Business Intelligence, CRM e ERP, permitindo interação e
integração de informações e conhecimento”. Porém, como também salienta este autor “em apoio à
Gestão do Conhecimento”. Ou seja, ferramenta que suporte dados e os concilie em ambiente comum
para coleta, registro e análise de informações.
Esse sistema, apesar de sua elevada graduação de níveis de conteúdo, percebe-se enfoque
prioritário aos assuntos pertinentes ao departamento gestor deste programa (SSMQ). Embora
implantado em 2005, deve ser considerado em estágio inicial de consolidação, pois ainda não
conseguiu abranger totalmente nem os dados de sua área.
O dicas ZapGás, em teoria, enfatiza o caráter de aprendizado ao tentar coletar e compartilhar
conhecimentos. Enquadra-se nos critérios de Nonaka (2000) de classificação do conhecimento, é
melhor aproveitar o conhecimento tácito e convertê-lo em explícito. Entretanto, este foi vítima de seu
próprio objetivo: com a saída dos detentores do conhecimento implícito inerente ao fluxo do
processo, o projeto quase se perdeu totalmente, tornando-se necessária sua reconstituição. Este artigo
ilustra o nível de preocupação que deve existir nas empresas realmente conscientes da importância da
gestão do conhecimento, em seus diversos aspectos, conforme ilustrado na Figura 1, para evitar
contratempos conforme discutido.
Além disso, reforça-se que as ferramentas precisariam ser interconectadas, pois o fruto da
conversão do conhecimento tácito em conhecimento explícito deveria fazer parte, justamente, do
sistema de gestão eletrônica de documentos e não estar contido em plataforma alheia à organização.
Outro aspecto, que reflete certa ausência da capacidade integrativa da gestão do conhecimento
e da governança corporativa na adoção das ferramentas citadas, é o fato de que estas ferramentas são
independentes e focalizadas de modo ainda restrito, visto que o programa dicas ZapGás apenas tem
como objetivo fundamental capturar o conhecimento tácito do empregado operacional, ignorando as
possibilidades existentes em todos os outros profissionais que compõem a empresa. Dentro desta
ferramenta, salienta-se a abordagem de coleta baseada em uma troca pecuniária e a falta de
acompanhamento e auxílio ao detentor do conhecimento no processo de conversão, que poderia ser
feito por meio de entrevistas pessoais, acompanhamento do profissional em ação e debates com
outros profissionais para o aprimoramento e refino do conhecimento implícito para sua estruturação
e padronização explícita.
3 - Considerações Finais
O amadurecimento dos mercados e a evolução dos meios de comunicação têm promovido
alterações nas organizações e em seus produtos, pois, relembrando Stewart (2002), “o conteúdo
informacional contido nos produtos e serviços é cada vez maior”. Para enfrentar tais demandas,
novas abordagens têm sido adotadas.
A organização precisa de um sistema que tenha seus princípios, seus propósitos, seus
processos, suas práticas e, principalmente, poder para promover, valorizar e disseminar o
conhecimento. É preciso também valorizar crenças e valores, costumes e práticas, e implementá-los
na missão, na visão e nos focos estratégicos.
A Gestão do Conhecimento constitui metaferramenta – formada de outras ferramentas, tanto
psicológicas quanto informáticas e administrativas – que visa capturar, organizar, controlar e renovar
continuamente os conhecimentos em um atualizado ciclo PDCA focado nas competências humanas
de prover o conteúdo informacional e a qualidade em adequação aos requisitos esperados pelos
clientes.
Adicionalmente, a Governança Corporativa agrega ótica holística, profissional, ética e
ecologicamente preocupada em prol do gerenciamento da organização, em consonância com todos
os grupos de interesse envolvidos com o ambiente de negócios.
Associadas, a metaferramenta do conhecimento e a abordagem de governança constituem
ambiente e preocupação integradora e agregadora de valor por meio de dados, fatos, experiências e
competências adquiridas pelas pessoas.
O estudo de caso apresentou a conscientização da necessidade de aproveitamento e do devido
armazenamento do conhecimento por meio de ferramentas que abordaram os primeiros objetivos da
gestão do conhecimento: capturar conhecimento – via dicas ZapGás – concernente ao pensamento
de Nonaka (2000) de conversão do conhecimento tácito em explícito e quanto a sua organização de
dados, como objetiva o GED Web, seguindo o caráter de administração de sistemas de informação.
Contudo, observou-se seu caráter ainda incipiente devido à ausência do caráter integrador e
abrangente na aplicação das ferramentas utilizadas, em comparação ao ambiente proveniente da
Governança Corporativa com enfoque na Gestão do Conhecimento.
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