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1 author:
Suzana Schwartz
Universidade Federal do Pampa (Unipampa)
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All content following this page was uploaded by Suzana Schwartz on 11 June 2020.
Recebo para ler, artigos publicados, que foram orientados por professores
doutores que não podem ser considerados científicos, mas que afirmam ser. Além disso,
desde que fui aluna de graduação (1995-1998) escuto reclamações sobre orientadores de
trabalhos de conclusão que não orientam, não leem os trabalhos, não comentam, não
contribuem.
Paradoxalmente (?), esse não é um artigo com rigor científico. Como afirmei,
quero compartilhar com quem interessar possa, alguns pensamentos sobre o tema. Tenho
esperança de que possa contribuir de alguma forma para que outros pensem, concordem,
discordem, complementem, a fim de que juntos possamos encaminhar mudanças em uma
cultura que está se arraigando/ já se instalou na graduação e no pós-graduação.
1
Doutora em Educação (PUCRS), professora associada da UNIPAMPA, campus Jaguarão.
suzanaschwartz@unipampa.edu.br
2
Disponível em https://blogs.lse.ac.uk/impactofsocialsciences/2017/05/17/writing-a-peer-review-is-a-
structured-process-that-can-be-learned-and-improved-12-steps-to-follow/ acessado em 25/05/2020
Ou a síntese em
WILKINSON, Jo. Avaliação de artigos acadêmicos: como estruturar um bom parecer (Artigo). Tradução
de Ana Paula Tavares Teixeira e Bruno Leal Pastor de Carvalho. In: Café História – história feita com
1
tempos vivia incomodada com o tema. Em diferentes situações acadêmicas experienciei
a elaboração e o recebimento de pareceres que me provocaram incômodos e/ou dúvidas
de diversas origens.
Enquanto aluna do pós graduação tive, juntamente com outros colegas, de outras
instituições, “sensações” que minhas produções ao longo do curso não eram sequer lidas,
tão bem avaliadas todas foram. Nenhuma crítica, zero comentários, nada de avaliação
como retroalimentação. Ao longo do percurso, assisti a bancas nas quais o trabalho
apresentado nem era mencionado nas falas dos pareceristas, que aproveitavam o seu
tempo de fala comentando sobre suas pesquisas, oferecendo informações
‘complementares’ aos assistentes. Noutras bancas, os avaliadores utilizavam seu tempo
(indeterminado e geralmente longo) para pontuar página por página inadequações
gramaticais, ausência de referências, equívocos de concordância.
2
método de coleta e de análise, de objetivos. Implícitas às avaliações há (ou não) a
valorização, o reconhecimento da pessoa que elaborou o trabalho de conclusão, do
compromisso moral dos processos de ensino e de aprendizagem, do rigor necessário as
produções acadêmicas, do esforço pessoal, dos critérios definidos, de produtos
elaborados, entre tantas outras.
Muitos podem ter lido até aqui e pensado: ora, isso que ela está comentando é
óbvio. Todo doutor sabe essas questões pontuadas com a necessidade de explicitar. Bom,
não sei qual a experiencia de vocês, mas a minha tem me mostrado, sempre mais que o
óbvio não existe (SCHWARTZ; FRISON, 2009), pois ele é dependente do conhecimento
e das vivencias prévias.
Tenho um exemplo que acho que pode contribuir para eu explicar melhor o que
quero dizer. Para mim é óbvio que quando planejo qualquer atividade (mínima que seja,
como uma apresentação dos alunos no primeiro dia de aula) tenho que ter clareza qual o
meu objetivo de aprendizagem com ela. E, é obvio que os alunos também têm que saber
qual o objetivo de aprendizagem de com todas as atividades propostas e os critérios de
avaliação.
Enfim, para mim não é. Nem para os alunos, posso assegurar. Percebo que os
professores, de maneira geral, se preocupam com ‘o que’ fazer, mas muitos nem ao menos
pensam no para que (objetivo), por que (justificativa que essa aprendizagem é relevante
para esses alunos), e o como (que precisa ser detalhado e não apenas definido com um
‘seminário’).
3
Nesse contexto, concluí que vale a pena dedicar meu tempo e meu esforço pessoal
para refletir criticamente sobre o tema de elaboração de pareceres articulado com a
elaboração dos trabalhos de conclusão de cursos (TCCs) de graduação, que são demandas
quase unanimes para o término de cursos da área das ciências humanas.
Seus formatos são diferentes, mas são originados de uma pesquisa científica. E,
geralmente, demandam muito trabalho, estresse dos alunos e de seus orientadores. Sendo
assim, quando adequadamente orientados, produzidos, lidos, avaliados, poderão
oportunizar muitas aprendizagens significativas para muitas pessoas. Desde as inerentes
ao tema da pesquisa, até a como se faz pesquisa científica, como se analisam as
informações coletadas metodologicamente, como se avaliam trabalhos, entre outras.
Desses critérios não podemos abrir mão em nenhum trabalho acadêmico científico
e são eles que deveriam orientar a elaboração dos pareceres. Nele, uma lista de critérios
básicos, se o trabalho apresenta ok, se não apresenta, sinalizar. Após ter feito essa
checagem, podemos/devemos, enquanto parecerista, membros da banca, nos ater a
qualidade de cada parte. Mas que qualidade é essa?
Qualidade é um atributo específico que diferencia positivamente algo ou alguém.
Muitas vezes lemos ou ouvimos a expressão “educação de qualidade”. Mas poucas vezes
pensamos no que isso significa. Elementos como a clareza e a coerência do papel social
de uma instituição e dos seus participantes, a gestão democrática da sala de aula, a
comunicação interpessoal, os objetivos escolhidos e explicitados, compartilhados por
todos os participantes no processo educativo podem ser alguns critérios para indicar a
qualidade do processo educativo. No caso de avaliar trabalhos acadêmicos precisamos
cuidar para que o processo seja o menos subjetivo possível. E a maneira adequada de
chegar o mais perto disso é definindo de antemão, critérios concretos, realizáveis e
principalmente, avaliáveis.
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Não estou querendo produzir uma receita de como avaliar, como produzir
pareceres sobre trabalhos de conclusão de curso. Também, mas não só. Estou defendendo
a ideia da relevância de realizar estudos sobre o tema, porque muitos colegas comentam,
informalmente, sobre a qualidade dos trabalhos, sobre a chatice das bancas - com longas
‘aulas’, ou especialmente sem valorizar, comentar sobre o trabalho apresentado - sobre o
‘assistencialismo pedagógico’ praticado por muitos, aceitando qualquer ‘coisa’ e
justificando com ‘é o que ele consegue fazer’, o que justifica também a realização de
estudos sobre o tema.
Pelas razões expostas, justifico o foco do estudo, que se direcionou para o objetivo que é
o de identificar quais seriam as demandas mínimas para elaboração de
pareceres/avaliações de TCCs de cursos de graduação, a fim de contribuir para explicitar
as expectativas com esse tipo trabalho, contribuindo para a sua qualificação, a dos cursos
de formação e, consequentemente, do perfil dos egressos.
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As partes que compõem o todo
Todo projeto de pesquisa inicia com a revisão da literatura sobre o tema. O estado
do conhecimento sobre o fenômeno em pauta precisa ser localizado, conhecido, analisado
a fim de identificar as possibilidades e/ou demandas para avançar, não desperdiçando
esforços produzindo mais do mesmo.
Com relação as características textuais dos Tccs, todos são originados de uma
pesquisa científica, sendo depois apresentados/defendidos em banca e escritos em
formatos de relatório e/ou artigo científico. Encontrei convergências na solicitação de
itens mínimos, para a parte da pesquisa, independente da área do curso, identificadas nos
PPCs e nos manuais de elaboração de trabalhos acadêmicos, listados a seguir:
1. Tema do estudo
2. Objetivos (geral e específicos)
3. Justificativa
4. Revisão da literatura sobre o tema
5. Material e Métodos (metodologia de coleta e de análise de informações)
6. Cronograma de execução
7. Referências
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8. (optativo) Aprovação pelo Comitê de Ética, órgãos de fiscalização/inspeção para
realização do projeto de pesquisa, quando houver necessidade.
No entanto, mesmo havendo a explicitação desses itens, assisti e ouvi relatos sobre
apresentações de Trabalhos de Conclusão de Cursos (TCCs) de graduações, nos quais as
avaliações sequer perceberam/apontaram ausências de itens mínimos e/ou interpretações
equivocadas sobre o teor de seu conteúdo, algumas vezes inclusive atribuindo grau
máximo para trabalhos de qualidade, no mínimo, duvidosas.
3
Manuais explicitam os passos mínimos (obrigatórios e optativos).
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o trabalho com nota máxima, ou quase. Ou, alguns mais sucintos, apenas discorrendo
sobre elogios e agradecimentos pela oportunidade de participação, avaliando o trabalho,
geralmente sem ressalvas ou sem oportunizar uma retroalimentação aos participantes.
Para esses autores e sites consultados, são partes básicas de uma pesquisa, algumas
vezes utilizando uma nomenclatura diversa,
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6) as conclusões e/ou considerações finais/resultados,
7) as referências de acordo com regras específicas.
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A bibliografia sobre projetos de pesquisa converge para a ideia de que os objetivos
específicos precisam “se referir” ao objetivo geral, sendo “ações para
viabilizar/concretizar o objetivo geral”. Alerta para o fato de que é necessário tomar
cuidado na sua elaboração para “não se comprometer com novos objetivos gerais, que são
mais amplos e complexos”.
A título de curiosidade, nesse caso relatado por uma aluna, ela fez e enviou o
trabalho por email como solicitado, e me colocou em cópia, para que eu visse e
comentasse a sua produção. Não pude ler imediatamente, mas quando o fiz percebi que a
aluna havia esquecido de colocar a introdução no trabalho, e esse iniciava de modo
incompreensível. Escrevi para ela avisando, pois já havia visto a versão completa.
Resposta da aluna: “não te preocupa, já recebi a avaliação, tirei 10...”
Nas vezes em que comentei essas situações relatadas pelos alunos, em reuniões
de cursos, sobre as nossas (aparentes) divergências enquanto professores em relação ao
tema ‘pesquisa’, sugerindo que, quem sabe seria oportuno termos um encontro específico
para refletir sobre isso e suas implicações, tentando elaborar um consenso, para qualificar
as aprendizagens e os trabalhos, não houve sinais de receptividade e nem ocorreram
encaminhamentos práticos para concretizar.
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lista de contatos, explicando as intenções do estudo, e solicitando o envio de pareceres
(sem possibilitar dados de identificação) que elaboraram ou que receberam de outros
colegas. Recebi, após duas semanas, duas respostas.
Nesse espaço julguei interessante pensar sobre alguns antecedentes, ou seja, sobre
os possíveis conhecimentos prévios com os quais os acadêmicos chegaram na educação
superior. Como reconhecemos a importância do diagnostico do conhecimento prévio dos
alunos para introduzir novos/diferentes temas, resolvi elaborar esse tópico.
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A pesquisa na educação básica
O conhecimento prévio dos alunos sobre pesquisa convergia para ideia de que era
necessário “copiar e colar” de algum site, no máximo dois, informações sobre o tema
solicitado, organizando, algumas vezes, uma introdução e uma capa para o texto.
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elaboração foram sendo ampliados, modificados, adaptados, a diferentes contextos e
situações. Isso, por si só, não seria ruim, nem improdutivo. A diversidade de ideias, de
estratégias, de argumentos e o respeito devido a elas deve fazer parte do contexto de
qualquer Universidade, coerente com o nome dessa instituição.
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4. o princípio do circuito recursivo, que afirma que os produtos e os efeitos são
também produtores e causadores do que os produz, pois o ser humano produz a
sociedade nas interações e pelas interações, mas a sociedade, à medida que
emerge, produz a humanidade desses seres, oportunizando a linguagem e a
cultura;
5. o princípio da autonomia/dependência, que percebe a necessidade de retirar
energia, informação e organização de seu meio ambiente, sendo sua autonomia
inseparável dessa dependência;
6. o princípio dialógico, que percebe a interação entre ideias antagônicas e
complementares, que aparentemente poderiam se repelir, mas que são necessárias
para a compreensão da realidade.
Nesse sentido, com base nessas ideias de Morin, questiono se a qualidade dos
TCCs não seria uma evidência de um detalhe, inserido em um todo, no qual a causa
(inadequação dos pareceres) age sobre o efeito (trabalhos pouco qualificados), que agem
sobre o “desejo de orientar mais e melhor”, percebendo que a autonomia é dependente do
contexto, da demanda, das orientações, dos esforços pessoais, e que refletindo
criticamente sobre o fenômeno e suas implicações, poderíamos contribuir com avanços
significativos? Esses questionamentos servirão como incentivo para prosseguir, mas
alerto que não há respostas prontas.
O que posso informar é que, enquanto orientadora eu sigo as estratégias que sugiro
e que podem ter acesso aos trabalhos orientados por mim, e julgar se são de qualidades
ou não. Relato, a titulo de curiosidade que na instituição em que trabalho, muito poucos
alunos me escolhem como orientadora de TCCs. Na ‘rádio corredor’ corre o boato que
sou exigente demais. No entanto, entre esses mesmos alunos que não me querem como
orientadora, há muitos que fazem questão de me mostrar o trabalho antes da defesa,
esperando pela minha avaliação, o que para mim parece ser um reconhecimento e
confiança no meu trabalho.
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A seguir, procedi a análise dos documentos mencionados e à luz da revisão da
literatura sobre o tema, elaborei um quadro síntese com as partes que compõem,
minimamente, um projeto de pesquisa.
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Resultados Explicitar se o(s) objetivo(s) • Retomar os objetivos, do
e/ou foram atingidos e como mesmo modo como foram
considerações redigidos (recortar e colar)
finais • Descrever se e como foram
alcançados
• Refletir criticamente como foi
vivenciado o processo e que
contribuições sociais e
pessoais ele trouxe ao
pesquisador
• Indicar/sugerir possíveis
continuidades de
aprofundamento do tema
Referencias Listar de acordo com as normas • Abrir um arquivo no início do
(ABNT ou outras) só as fontes trabalho e inserir
REFERENCIADAS no texto organizadamente todas as
fontes consultadas
A introdução precisa ser escrita por último, porque, entre outros detalhes, ela
deve descrever como o trabalho foi realizado, as partes que o compõem, os achados,
avanços, convergências e divergências.
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em conjunto, e não há obrigatoriedades de ser em primeira ou em terceira pessoa, em
relação ao critério de cientificidade do trabalho.
4
ROSÁRIO, P.; NÚÑEZ, J.C.; GONZÁLEZ-PIENDA, J.A. Comprometer-se com o Estudar na
Universidade: “Cartas Do Gervásio Ao Seu Umbigo” Coimbra: ALMEDINA, 2006.
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temos que conseguir ser empáticos, nos colocando no lugar do outro, com o cérebro do
outro, e prever se ele(s) pode(m) compreender de maneira diversa da qual intencionamos.
Aliás, aproveitando o ensejo, costumo dizer aos meus alunos que quando estão
produzindo textos imaginem ao seu lado um leitor “mala sem alça” que fica questionando
tudo que não parecer claro. Cuidando para que o texto não fique chato e nem repetitivo...
Essas escolhas devem ser justificadas, argumentadas, o motivo de optar por elas, as
hipóteses elaboradas pelo pesquisador que essa era uma das formas de descobrir o que
queria saber.
Outro problema muito recorrente nas metodologias é que descrevem a coleta das
informações, mas não descrevem o método de análise. Assisti a inúmeros trabalhos que
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mostravam fragmentos das informações e concluíam sem mostrar de onde essas
conclusões se originaram, por que e como contribuíam para os objetivos do trabalho.
Como se fossem óbvias e se houvesse uma única compreensão possível.
A elaboração dessa parte precisa relembrar o leitor os objetivos do estudo. Fazer uma
breve narrativa de todo o percurso, sem ser repetitiva, mostrando consistentemente, nas
palavras do autor, se e como os objetivos foram atendidos (se e como o “crime” foi
solucionado), convincentemente. Se perder as forças, as energias para a escrita, descanse
um pouco, areje os pensamentos, organize as ideias, e depois escreva sempre direcionado
o texto para atender as dúvidas e os questionamentos do “leitor mala” e, lembrando que
nada é obvio.
Ah! Importante também considerar sempre que, produzir textos precisa incluir a
etapa de releitura, várias e várias vezes. Reler várias vezes o que escreveu faz parte do
processo de produção textual, não é opcional. Algumas vezes pensamos que escrevemos
o que pensamos, mas não é bem assim. Só relendo para identificar se disse o que queria,
se disse da maneira adequada, se posso melhorar, abreviar, sintetizar.
Peço desculpas ao leitor se nessa parte o texto parece estar muito prescritivo. Mas, o
que estou tentando fazer é escrever sobre ideias, vivencias, pensamentos produzidos em
um percurso de vinte anos na educação superior. Muitas aprendizagens e principalmente,
muitos problemas recorrentes ao longo desses anos. Minha intenção não é ser prescritiva,
mas sim provocar pensamentos produtivos nos leitores.
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de solução. Além disso, não gosto de queixas, concordo com Fernandez (1998) que elas
ocupam o lugar de pensamentos produtivos.
Afirmo essas questões para deixar mais claro minhas intenções de escrever esse texto,
na busca de alternativas para encaminhar o seu objetivo inicial de analisar criticamente
as demandas dos pareceres/avaliações de TCCs de cursos de graduação, sugerindo um
modelo adequado, a fim de contribuir para a qualificação dos cursos de formação e
consequentemente para o perfil do egresso.
Para alcançar esse objetivo, tive que percorrer um percurso que investiu muita
energia, observando atentamente detalhes nas partes que precisam compor os TCCs para
me sentir habilitada a sugerir uma alternativa de elaboração de um parecer adequado,
coerente com as partes que precisam fazer parte deles.
O modelo sugerido coerentemente deve estar baseado nessas partes, para as quais
cada membro da banca pode definir suas prioridades. Exemplifico, para mim é prioridade
que o pesquisador não elabore nenhuma afirmação contundente, sem explicar como
chegou a ela. E a descrição desse percurso, para chegar em uma afirmação precisa
dialogar com a revisão da literatura. Não pode ser opinião, sensação, percepção. Então,
quando analiso o relatório da pesquisa, sinalizo, quando há, esse tipo de afirmação sem
descrever o percurso, para dialogar sobre ela com o pesquisador.
O que caracteriza uma informação contundente? Algo que influencie nos achados
e/ou nas conclusões do estudo. O uso de expressões como ‘sempre, todos, nenhum, nunca,
realmente, verdadeiramente, com certeza, obviamente,’ são indícios de informações
contundentes. Eu recomendo aos meus orientandos e alunos de metodologia não utilizar
‘nunca’ essas palavras, porque elas geram dúvidas sobre sua concretude. Também sugiro
que não utilizem adjetivos, que encaminham para subjetividades, o que não contribui para
a clareza do texto.
Nesse contexto, o texto do parecer, pode ser encaminhado mais ou menos assim
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Esse projeto (ou relatório de pesquisa) tem como tema..., como objetivo geral.....
Ele se justifica através dos argumentos.... A abordagem metodológica está
planejada..... Considero o tema. relevante.., pois/porque ........ Os objetivos do projeto
foram (atendidos de acordo com.... (não foram atendidos...).
(A partir daqui, depois de terem referido os critérios básicos de avaliação de TCCs,
os pareceristas podem criar, de acordo com seu estilo o fechamento do texto,
lembrando no entanto, que os objetivos de aprendizagem da apresentação/defesa dos
TCCs são de priorizar a fala do aluno, que essa é uma oportunidade de dialogar com
os autores, e não monologar sobre o seu conhecimento do tema, pois isso é
inadequado para o momento da apresentação/defesa.
Além disso, pontuar possíveis erros de ortografia, gramática, ausência de
referências, podem ser realizadas no próprio texto e compartilhadas com os autores
depois da apresentação.
Nela priorizamos ideias, informações pontuais, reconstrução de aprendizagens,
diálogos, debates, sinalização de convergências e divergências argumentadas).
No que esse tipo de parecer pode contribuir para a qualidade dos trabalhos? Acredito
que se o aluno aprender que uma pesquisa precisa ser obrigatoriamente composta dessas
partes, o que cada uma das partes precisa conter, como se elabora cada uma delas, ele vai
ter mais clareza do que esperam dele e do seu trabalho. Sua apresentação e/ou defesa irá
contemplar cada uma das partes, e ele estará ciente que se não o fizer o trabalho estará
incompleto.
Eram essas ideias que queria compartilhar com vocês que me acompanharam até
aqui. Espero ter contribuído para que os orientadores e orientandos repensem ou reflitam
sobre seu papel no processo de elaboração de trabalhos de conclusão, sobre o significado
dele na sua formação, sobre as aprendizagens que necessita reconstruir, sobre os
objetivos, as justificativas, as metodologia de suas produções acadêmicas.
Finalizando, gostaria de relembrar que, esse texto não atende a todas as demandas
de um trabalho científico, especialmente no que se refere ao necessário diálogo com as
informações coletadas na revisão da literatura. Isso se deve porque imaginei que ele está
direcionado para um leitor que tenha vivido experiencias como parecerista, em bancas, e
vai, ou não se identificar com o que comentei aqui. Não é intenção do artigo provar nada
para ninguém, então me permiti deixar o rigor científico um pouco de lado. Por esse
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motivo não pretendo publicá-lo em nenhuma revista científica, e sim compartilhar as
ideias com quem se interessar possa.
Glossário
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são: a) análise do conteúdo: um conjunto de técnicas de pesquisa cujo objetivo é a busca
do sentido ou dos sentidos de um documento (MORAES, 2003); b) análise do discurso:
análise qualitativa, por vezes crítica do discurso, a partir de textos, imagens, sons,
multimídia; (MAINGUENEAU, 1997); c) análise técnica de websites: variante de análise
do discurso, frequentemente usada na pesquisa em ambiente web. (BAUER; GASKELL,
2002).
CERTEZA – conceito que NÃO deve ser utilizado em trabalhos ou textos acadêmicos,
que expressem conhecimento que pretenda ser científico. Definido pelo dicionário de
Filosofia (JAPIASSU; MARCONDES, 2003) como estado de espírito daquele que
aquiesce totalmente, sem dúvida e sem hesitação. ao objeto que apreende [...] “não há
uma certeza primeira, a não ser numa fé que recusa todo saber” (p.34).
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revisão da bibliografia sobre o tema. Para que seja científico não basta afirmar que é, mas
é necessário explicitar o método de coleta e de análise da informação coletada, dizer as
razões e os motivos dessa afirmação, de onde ela surgiu, com quais argumentos teóricos
é possível sustentá-la.
CRITÉRIO – Definição que oportuniza diferenciar uma coisa de outra.
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afirmava que só enxergo o que tenho olhos para ver, consequentemente, o que é obvio
para um, não o é para o outro.
Nossas certezas são para nós mesmos tão óbvias, claras e definitivas
que nos impedem de perceber que são tão somente formas obvias, claras
e definitivas que temos de olhar para o que somente nós vemos.
Qualquer coisa que ultrapasse isso, necessariamente precisará esbarrar
nas certezas do outro, e de um outro, e de mais um outro também
(LACERDA, 2002, p.39).
25
TEORIA - Modelo explicativo de um fenômeno ou conjunto de fenômenos que pretende
compreender/explicar/demonstrar/provar ideias. Conjunto de hipóteses sistematicamente
organizadas que pretende, através de sua verificação, confirmação, ou correção, explicar
uma realidade determinada. Ex.: a teoria da relatividade de Einstein. (JAPIASSU;
MARCONDES, 2003). “Teorias se usam não se adotam, são discursos, ordenadores e
libertadores, não prisões mentais”. [...] “reproduzir Piaget seria assassiná-lo no ato; o uso
do construtivismo implica em reconstrução por coerência mínima com o próprio espírito
da teoria. (DEMO, 2012, p. 3) Morin (1999) afirma que a teoria não é o conhecimento,
ela oportuniza (ou não) reconstruir o conhecimento. No entanto, “professor não deve
dispensar teoria, porque é decisiva para o projeto pedagógico, mas deve ser autor dela,
não vassalo ou porta voz. ” (DEMO, 2012, p.3).
Referências 5
BAGNO, M. Pesquisa na escola: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2005.
BISQUERRA, R. Métodos de Investigación Educativa. Guia Prática. Barcelona:
CEAC, 2000.
BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Qualitative Research for Education: an Introduction
to Theory and Methods. Boston: Allyn and Bacon, 1982.
CARLINO, P. Escrever, ler e aprender na universidade: uma introdução a
alfabetização acadêmica. Petrópolis: Editora Vozes, 2016.
DEMO, P. (2001). É errando que a gente aprende. Nova Escola. São Paulo, n. 144, ano
12, p. 49-51, entrevista concedida a Ricardo Prado.
DEMO, P. O mais importante da educação importante. São Paulo: Atlas, 2012.
DEMO, P. Educar pela pesquisa.4ª ed.São Paulo: Autores Associados,2000.
FERNANDEZ, A. Os professores devem buscar a ressignificação de sua aprendizagem.
In: Pátio Revista Pedagógica, ano I, n. 4, fev./abr. 1998, p. 26-9.
JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário Básico de Filosofia. 3. ed. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
GATTI, B.
5
Alerta: a referencias não estão de acordo com as normas acadêmicas. Ao contrário do que deve ser
feito, alguns autores não foram citados no texto, mas resolvi incluir porque foram fontes de consulta
e são muito bons. Alguns como Gatti, Weisz e Morin, trouxe uma respectiva citação para cá.
26
professores saem da faculdade sem saber alfabetizar crianças. É um problema grave.
(GATTI, 2018, p.1- grifo nosso)6.
6
Disponível em http://epoca.globo.com/educacao/noticia/2016/11/bernardete-gatti-nossas-faculdades-
nao-sabem-formar-professores.html acessado em 29/01/2018.
7
Disponível em https://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/a-educacao-nao-pode-ignorar-curiosidade-
das-criancas-diz-edgar-morin-13631748 acesso em 27/03/2018
27
lição a um aluno, que vai buscar uma resposta na Internet, ele deve
posteriormente corrigir os erros cometidos, criticar o conteúdo
pesquisado. É preciso desenvolver o senso crítico dos alunos. O papel
o professor precisa passar por uma transformação... (p.2)
WEISZ, T.
A universidade nem sequer se propõe a formar professores de sala de
aula, principalmente dos anos iniciais. A universidade ainda forma
professores especialistas, e olhe lá. A universidade acha que tem que
formar pesquisadores, e não professores de sala de aula. As faculdades
de educação, consideram formar um professor para a prática de
alfabetização um trabalho menor. E elas não se sentem responsáveis
pelos problemas educacionais do país (p.1 – grifo nosso)8
8
Disponível em https://boletimnossarede.wordpress.com/2015/09/23/e-preciso-ter-clareza-de-como-as-
criancas-aprendem-a-ler/ acessado em 15/02/2018.
28