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Como já foi dito, a proposta inicial da pesquisa era analisar os discursos sobre a língua
presentes na Folha de S.Paulo. Ao contato com as matérias que compõem o corpus Vilela-
Ardenghi percebeu que as discussões ali presentes se inseriam em um contexto muito mais
amplo que é a problemática da identidade nacional. Essas matérias serviram de índice de que
a questão linguística não era o verdadeiro foco da discussão, mas, sim a luta pela legitimação
de uma identidade nacional. Sendo assim, os embates sobre a língua presentes nas matérias
analisadas pela pesquisadora à leva a formulação da hipótese central da sua pesquisa: a luta
pela legitimação de uma identidade nacional supõe a questão linguística (p. 40).
Diante disso, neste capítulo será traçado as mudanças pelas quais passaram os
conceitos de nação e nacionalismo ao longo do tempo, cabe dizer que foi estabelecido por
quatro períodos: o primeiro diz respeito principalmente à introdução do termo nação nos
dicionários, isso no final da década de XVII e início da XIX; o segundo se refere ao momento
pós-revoluções, nos anos de 1830 a 1880; o terceiro passa pelos anos finais do século XIX e
iniciais do século XX, até 1914, início da I Guerra Mundial e, por fim, o quarto período
aborda os anos entre 1914 e 1950, chamado de “apogeu do nacionalismo”. Esse trajeto
histórico tem como finalidade evidenciar como se dá atualmente, no século XXI, a construção
de uma identidade nacional e o papel da língua na afirmação do nacional.
Nos textos de análise que a autora coloca neste capítulo nos mostra que, no primeiro
eixo, há um sentimento forte de repúdio à presença de estrangeirismos que são considerados
uma ameaça à soberania nacional. Aqui ela também trouxe considerações sobre uma polêmica
surgida em torno dos estrangeirismos, graças ao projeto de Lei nº 1676/99 – proposta pelo
deputado Aldo Rebelo – que é contra o uso do estrangeirismo na língua portuguesa. No
segundo eixo temático não há problemas na integração entre as variedades do português, não
só pelo fato de se tratar da mesma língua, mas pela posição do Brasil não ser mais de colônia
portuguesa. Neste eixo a polêmica “é entendida como confronto aberto, não há uma
manifestação sequer a questionar o destaque que o Brasil vem adquirindo no cenário mundial,
nem mesmo a questionar sua posição de liderança na comunidade dos países de língua
portuguesa, ao contrário, colocam-se em cena constante enunciadores estrangeiros que
corroborem essa ideia” (p. 76).
Ainda no capítulo III, a autora, através da análise do corpus, define o ethos da Folha.
O ethos, de acordo com Maingueneau, é o tom do discurso que se revela por meio da
enunciação, a personalidade do enunciador. Para discutir o ethos da folha, é trabalhado a
partir do seu Manual de Redação (2001). Através da análise desse manual, Vilela-Ardenghi
conclui que a Folha procura construir um ethos democrático, fundamentado na ideia de
transparência.
A partir das análises expostas pela autora, pode-se dizer que a semântica do discurso
antiestrangeirismos, segundo Vilela-Ardenghi, apoia-se sobre semas como /proteção/,
/preservação/, /homogeneidade/, e /controle/. Estes semas produzem um discurso que defende
a proteção da língua nacional frente a invasão de palavras estrangeiras. No decorrer das
análises a autora apresenta três posicionamentos em polêmicas sobre esse assunto: os semas
da posição antiestrangeirismo são /proteção/, /preservação/, /homogeneidade/ e /controle/. Ela
nos mostra que a folha de S.Paulo têm como posição /proteção/, /preservação/,
/homogeneidade/ e /liberdade/. Outra posição presente em sua análise é a da linguística que
defende /abertura/, /enriquecimento/, /heterogeneidade/, e /liberdade/.
Diante desta análise, Vilela-Ardenghi, nos mostra que a polêmica entendida como
controvérsia violenta, só se da entre as posições antiestrangeirismo e da linguística, que
definem sua semântica por meio de uma relação de oposição sema a sema (p.102).
Considerando esses dois posicionamentos, apresenta em um quadro os semas positivos e
negativos de cada um, entendendo como negativo aqueles que os discursos em questão
rejeitam.
Através da análise do corpus, conclui que essa aparente aliança tem como efeito o
apagamento de outros posicionamentos necessariamente implicados na polêmica, do que
decorre a aparência de ausência de polêmica discursiva (p.107). Com isso, nos mostra que
esse apagamento possui dois efeitos: sendo o de neutralidade – a de convergência de
diferentes posicionamentos para um único posicionamento – a que a autora vai considerar
como sendo o da folha, e o segundo efeito é a construção de um lugar de legitimidade para o
português brasileiro, elevado ao status de língua intercontinental.
Assim como na análise do capítulo anterior, é posto em quadro a posição da Folha nos
dois eixos temáticos. No eixo dois a Folha tem como semas: /promoção/, /divulgação/,
/unidade/ e /liderança/. Aqui a posição da folha assenta-se sobre a ideia de promoção e
divulgação da língua portuguesa, que se entende como política de valorização da língua e
especialmente da variedade brasileira. Através das análises feitas nos dois eixos, ela nos
mostra que de maneira geral esses dois eixos estão imbricados.