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Curso Avançado de Economia Para Técnicos Superiores

Macroeconomia
2020

Aula 8: Histerese
02/09/2020

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© 2020 Alexandre Ernesto
Conteúdo

- Evidência empírica
- Recapitulação da aula anterior
- Histerese
- Mecanismos de histerese
- Insiders-outsiders
- Desemprego de longa duração
- Produtividade (Educação)
- Taxas de juros reais (de longo prazo)
- Resumo
- Seminário 2

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Evidência empírica. Recapitulação da aula anterior
Estudos analisam a relação NAIRU-LMI mostram que nem todos LMI (instituições do
mercado de trabalho) aumentam o desemprego, algumas não têm efeito, outras até
ajudam reduzí-lo. Ver Nickell (1997) Nickell et al. (2005), Bassanini and Duval (2009).

No entanto, esta literatura foi criticada pelas seguintes razões:


‒ Em geral, presta pouca ou nenhuma consideração aos factores de pressão de preços (𝜇,
𝑍𝑃 ).

‒ Howell et. al. (2008,2009) descobriram que as mudanças do período ou na amostra de


países geram resultados não favoráveis  Problemas de robustez.

‒ Há evidência de histerese, example Ball (1999, 2012).

Existem evidências de histerese: Histerese refere-se à mudanças nos equilíbrios de longo


prazo da economia (EICE, ERU, NAIRU and VPC), como resultado de choques de procura.
Isso contradiz NRU e a NAIRU. Em outras palavras, “…o equilíbrio do sistema depende da
historia do sistema” (Carlin and Soskice 2005,p.117).
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Evidência empírica. Histerese
Ball (1999) compara a reação de diferentes bancos centrais do G7 à recessão durante a década de 1980:

A Reserva Federal cortou as taxas de juro para tornar


seu valor real negativo  estimular a economia.

O Banco Central Europeu cortou as taxas de juros de


forma mais modesta:
• Na maioria dos casos, taxas reais ainda positivas.
• Taxas reais negativas são modestas em relação
aos EUA.

Países que sofrem maior (G7 europeu)


desemprego utilizaram política monetária mais
restritiva Política Monetária pode afectar a
NAIRU.

Ball (2012) encontrou resultados similares para as


décadas de 1990 e 2000.

Vários mecanismos foram identificados. Por exemplo, mecanismos de histerese como desemprego de
longa duração e produtividade, usaremos o modelo WS-PS para estudá-los… 4
Histerese. Insiders-outsiders
Blanchard e Summers (1986), BS daqui em diante, argumentam que os choques podem ter efeitos
permanentes se os trabalhadores puderem ser divididos em dois grupos:

Insider: trabalhadores empregados que influenciam as Outsider: desempregado ou empregado sem


negociações do salário real w. influência nas negociações do w.
• Presumindo - apenas preocupado com seus empregos

Porque, eles argumentam, em caso de choque, os insiders não permitirão que os salários se ajustem
para reempregar aqueles que perdem seus empregos (outsiders):
𝑊 EICE1
w= 𝑊𝑆0
𝑃 𝑊𝑆1
Distinção insider/outsider permite que o choque de
procura negativo modifique EICE (ERU, NAIRU) e VPC
𝑃𝑆
w0
Em BS, a barreira insider/outsider é a filiação ao
UICE1 sindicato, onde os trabalhadores demitidos deixam o
Insiders UICE0 sindicato e perdem influência sobre os salários
negociados.
E1 EICE L E
π Outras barreiras insiders – outsiders: BS argumentam
𝑉𝑃𝐶1 𝑉𝑃𝐶0 que qualquer coisa que segmente o mercado de
trabalho:
• Habilidades, que tornam insiders-outsider não
substitutos.
• Diferenças na proteção de emprego, isso também é
conhecido como dualização do mercado de trabalho.
Y=produção 5
Histerese. Insiders-outsiders, implicações de política
Implicações de política: “…’emancipar’ o maior número de trabalhadores possível.”, Em outras
palavras, evitar que as pessoas se tornem estranhas, como?

Menu de políticas:

i. Reduza a barreira insider-outsider (sindicatos, habilidades diferenciadas, lei de proteção do


emprego). Carlin and Soskice (2005.p118) argumentam que isso é tudo o que pode ser feito.

ii.Gerar choques de procura positivos para explorar a histerese no sentido inverso: “Nosso modelo
sugere que choques, positivos ou negativos, são em certo sentido autovalidantes. Se o emprego
mudar, as práticas de fixação de salários se adaptam ao novo nível de emprego. Isso significa que
choques positivos planejados por meio de políticas de gestão da procura podem reduzir o
desemprego ... Trarão benefícios permanentes” (Blanchard and Summers, 1986, p.73).

𝑊 EICE1 EICE2
w=
𝑃
𝑊𝑆1 𝑊𝑆2 𝑊𝑆0

𝑃𝑆
w0
UICE1
UICE0

E1 E2 EICE L E
6
Histerese. Desemprego de longa duração
Blanchard e Summers (1986) argumentam que choques que aumentam a proporção do desemprego de
longa duração (LTU) podem modificar EICE (ERU, NAIRU) e VPC :
Trabalhadores em LTU perdem competências 𝑊 EICE1
=> substitutos fracos => podem exercer pouca w=
𝑃 𝑊𝑆𝐿𝑇𝑈𝐻
“pressão competitiva no mercado de
trabalho”. 𝑊𝑆𝐿𝑇𝑈𝐼

w0 𝑃𝑆
Portanto, uma maior parcela de LTU diminui a UICE1
pressão descendente do desemprego sobre a
fixação de salários, i.e. WS muda para a esquerda. UICE0

Assim, uma queda prolongada na procura pode E1 EICE E


L
modificar o EICE (ERU, NAIRU) e VPC, Ex. 𝑉𝑃𝐶1 𝑉𝑃𝐶0
π
desinflação ou austeridade.
Políticas:
• Carlin & Soskice (optimista), retorno
automático ao EICE (ERU, NAIRU) e VPC.
Além disso, pode precisar políticas direcionadas
(‘bem-estar para o trabalho”, políticas activas do
mercado de trabalho)
Y=produto
• Ball (1999) (pessimista) argumenta que a intervenção rápida das políticas de procura para evitar
recessões prolongadas (choques de procura positivos que se opõem a choques negativos).
Blanchard and Summers (1986)  histerese ao contrários. 7
Histerese. Produtividade
De acordo com Layard e Nickell, EICE (ERU, NAIRU) e VPC são neutros para a produtividade, pois têm
o mesmo impacto na curva WS e na curva PS:
𝑊
w=
Altamente controverso:
𝑃 𝑊𝑆𝐿𝑁
‒Os trabalhadores podem reagir 𝑊𝑆1
lentamente às mudanças na tendência w1 𝑃𝑆1
de produtividade
‒Os trabalhadores nem sempre são 𝑊𝑆0
capazes de absorver ganhos de w0 𝑃𝑆0
produtividade.
UICE1

UICE0
A produtividade pode modificar o EICE
(ERU, NAIRU) e VPC EICE0 L E
EICE1

Implicações políticas? Como aumentar a produtividade?


• Educação (treinamento financiado pelo governo) que torna os trabalhadores mais produtivos
afectará o EICE (ERU, NAIRU) e VPC.

• Políticas macroeconómicas expansivas que apoiam o crescimento seriam…

‒ …incentivar o investimento em novo stock de capital produtivo  crescimento da produtividade

‒ … encorajar os efeitos do ’aprender fazendo’  crescimento da produtividade


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Histerese. Taxas de juros reais
Phelps and Rowthorn, entre outros, argumentaram que taxas de juros reais (de longo prazo)
afectam o EICE (ERU, NAIRU) e VPC. Existem várias explicações, por exemplo argumenta-se que taxas
de juro mais altas aumentam os custos de empréstimos que as empresas, então tentam recuperar
aumentando seu mark-up.
𝑊
w=
𝑃

𝑊𝑆0

𝑤0 𝑃𝑆0
𝑟𝑎𝑖𝑠𝑒 𝑖𝑛 𝑖𝑛𝑡. 𝑟𝑎𝑡𝑒𝑠
𝑃𝑆1

UICE1
UICE

EICE1 EICE L E
Os resultados empíricos suportam a hipótese de que as taxas de juros reais (de longo prazo) afectam
o EICE (ERU, NAIRU) e VPC (Phelps, 1994, Gianella et al., 2008).

Interpretação diferente da evidência da ligação entre r  EICE:

• Blanchard, Rowthorn – Argumentam Banco Central  taxas de juros  taxas de longo prazoNAIRU
• Phelps, Nickell, Gianella – Argumentam Banco Central não pode afectar as taxas de longo prazo e
consequentemente nem a NAIRU.
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Resumo
Mostramos que sob Histerese, o choque de procura negativo pode ter efeitos negativos sobre a NAIRU
=> Sem dicotomia clássica de longo prazo!
• Histerese na equação de fixação de salários…

i. Via Insiders-outsiders ii. Via Desemprego de longa duração iii. Via Produtividade

• Histerese na equação de fixação de preços…


iv. Via Taxas de juro reais (de longo prazo)
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Crucialmente, se houver efeitos de histerese podemos usá-los ao contrário projectando choques de


procura positivos para aumentar o EICE (reduce ERU, NAIRU) e VPC.
Seminário 2

1. A única forma de reduzir o desemprego é, reformar o


mercado de trabalho”. Discuta esta afirmação
baseando-se na teoria económica.

 Dê exemplos concretos baseando-se na realidade da


economia angolana.
Bibliografia:
• B. Snowdon, H.R. Vane (2005), Modern Macroeconomics: Its Origins, Development and
Current State. Sections 7.9, 7.11.4.
• Carlin and Soskice (2006) Macroeconomics. Imperfections, Institutions and Policies.
Sections 4.4
• Overall hysteresis topic and a summary of Ball (1999):
‒ Carlin and Soskice (2006) Macroeconomics. Imperfections, Institutions and Policies. Section 18.2.4
• Hysteresis, insiders-outsiders, long-term unemployment:
‒ BLANCHARD, O. J. & SUMMERS, L. H. 1986. Hysteresis and the European Unemployment Problem.
NBER Macroeconomics Annual, 1, 15-78.
‒ BALL, L. 1999. Aggregate Demand and Long-Run Unemployment. Brookings Papers on Economic
Activity, 1999, 189-251.
• Hysteresis, productivity and capital stock:
‒ ARESTIS, P. & SAWYER, M. 2005. Aggregate demand, conflict and capacity in the inflationary
process. Cambridge Journal of Economics, 29, 959-974.
• Hysteresis, real (long-term) interest rates:
‒ BLANCHARD, O. 2002. Monetary Policy and unemployment. Monetary policy and the labor market.
A conference in honor of James Tobin. New School University, New York.
 Macroeconomia na imprensa
Hysteresis:
• SUMMERS, L. 2012. Britain risks a lost decade unless it changes course. FT.com, 16th of September.
• CROOK, C. 2010. American monumental job losses. Financial Times, 23rd May.
• O’CONNOR, S. & HARDING, R. 2014. US loses edge as employment powerhouse. FT.com.
• APPELBAUM, B. 2014. Yellen Says Fed Is Determined to Improve the Labor Market. NYT.com.
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Copyright Alexandre Ernesto 2020.

Estes slides foram preparados para serem exclusivamente


apresentados na formação avançada em Macroeconomia para os
Técnicos Superiores do Ministério da Economia e Planeamento.

Podem ser carregados e/ou utilizados sem referenciar o autor do


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Todo o material inserido nestes slides foram elaborados com base no


material bibliográfico apresentado.

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