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Relatório

Seminário: Passivos Ambientais e


Urbanismo

São Paulo – SP
2018

Realização: Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional/ Escola Superior do Ministério Público de São Paulo – CEAF/ESMP
Co-Realização: Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente – ABRAMPA e Instituto Água Sustentável - IAS
Seminário: Passivos Ambientais e
Urbanismo

Realização: Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional/ Escola Superior


do Ministério Público de São Paulo – CEAF/ESMP

Co-Realização: Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de


Meio Ambiente – ABRAMPA e Instituto Água Sustentável – IAS

Coordenação Geral: Antonio Carlos da Ponte (Procurador de Justiça e Diretor


do CEAF/ESMP)

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO ............................................................................................... 5

2. MESA 1: O USO DE ÁREAS URBANAS CONTAMINADAS: DESAFIOS ....... 9

Palestra 1: A Estruturação da Transformação Urbana no Plano Diretor Estratégico


Paulistano e a Gestão das Áreas Contaminadas. ........................................................ 9

Palestra 2: Urbanismo e uso das áreas contaminadas na visão do setor privado. ...... 10

Palestra 3: Urbanismo e uso das áreas contaminadas na visão do Ministério Público.


............................................................................................................................... 11

Palestra 4: A auto composição de conflitos no uso de áreas contaminadas e o


interesse socioambiental.......................................................................................... 12

3. MESA 2: VALORAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS


IMPACTADOS POR ATIVIDADES CONTAMINANTES ....................................... 13

Palestra 1: Da suficiência jurídica da remediação do dano conforme normatização


existente.................................................................................................................. 13

Palestra 2: Poluição de águas subterrâneas: impactos ambientais ............................. 14

Palestra 3: Proposta de metodologia de valoração de recursos hídricos subterrâneos


impactados por atividades contaminantes ................................................................ 15

4. MESA 3: GESTÃO DAS ÁREAS CONTAMINADAS: UMA NOVA


PERSPECTIVA.......................................................................................................... 17

Palestra 1: A Eficácia na Gestão das Áreas Contaminadas Críticas ou de Fontes


Múltiplas ................................................................................................................ 17

Palestra 2: Áreas de Estruturação Urbana do Plano Diretor Estratégico – Arco de


Jurubatuba e Arco Leste: O papel do DECONT ...................................................... 18

Palestra 3: Recuperação de Áreas Contaminadas ..................................................... 20

Palestra 4: Remediação das Áreas Contaminadas: Obstáculos e Incentivos ............. 22

Palestra 5: Os limites técnicos e econômicos da recuperação ambiental do solo e das


águas subterrâneas contaminados ............................................................................ 23

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5. MESA 4: ÁREAS CONTAMINADAS: INTERFACES MEIO AMBIENTE E
SAÚDE ...................................................................................................................... 24

Palestra 1: Controle do risco sanitário e passivos ambientais ................................... 25

Palestra 2: A segurança da água e um olhar na saúde da população ......................... 26

Palestra 3: Ouso de águas subterrâneas para abastecimento humano e as


contaminações do solo e águas subterrâneas (urbanas e rurais) ................................ 28

Palestra 4: Monitoramento da qualidade das águas subterrâneas no Estado de São


Paulo ...................................................................................................................... 30

6. ENCERRAMENTO ............................................................................................ 31

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1. APRESENTAÇÃO

No dia 18 de abril de 2018 a Escola Superior do Ministério Público de São Paulo,


em parceria com a Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio
Ambiente (ABRAMPA) e o Instituto Água Sustentável (IAS), promoveu o Seminário:
Passivos Ambientais e Urbanismo. O evento foi realizado na Escola Superior do
Ministério Público de São Paulo e contou com a presença de 240 participantes, envolvidos
em temas de suma importância para o enriquecimento profissional e científico, com
abordagens atuais e de grande interesse para os setores público e privado.
O evento foi repleto de êxito, não só pela organização, apoio e patrocínio, mas
principalmente, pelos palestrantes e participantes, que compartilharam das discussões e
trocaram experiências.
A mesa de abertura foi composta por renomados profissionais:

Dr. Antonio Carlos da Ponte - Procurador de Justiça do Estado de São Paulo e


atualmente Diretor do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional Escola
Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo.

Dr. Tiago Cintra Zarif - Promotor de Justiça, Coordenador Geral do Centro de


Apoio Nacional das Promotorias de Justiças Civis e Tutela Coletiva do
Ministério Público do Estado de São Paulo.

Gabriel Bittencourt Perez - Procurador de Justiça, Vice-presidente da Associação


Paulista do Ministério Público.

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Luís Fernando Cabral Barreto - Promotor de Justiça do Estado do Maranhão e
Presidente da Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio
Ambiente.

José Luís Eduardo Ismael Lutti - Procurador de Justiça do Estado de São Paulo,
Vice-presidente da Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público
de Meio Ambiente e co-idealizador do evento.

Carlos Roberto dos Santos - Diretor-Presidente da Companhia Ambiental do


Estado de São Paulo – CETESB.

Everton de Oliveira - Associação Brasileira de Águas Subterrâneas, diretor do


Instituto Água Sustentável e Sócio fundador da Hidroplan.

As mesas de discussões trataram dos seguintes temas:

v Mesa 1: O uso de Áreas Urbanas Contaminadas: Desafios.


v Mesa 2: Valoração dos Recursos Hídricos Subterrâneos Impactados por
Atividades Contaminantes.
v Mesa 3: Gestão das Áreas Contaminadas: Uma Nova Perspectiva.
v Mesa 4: Áreas Contaminadas: Interfaces, Meio Ambiente e Saúde.

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Mesa de abertura.
Fonte: Ministério Público do Estado de São Paulo

Auditório principal Sala 1


Fonte: Ministério Público do Estado de São Paulo Fonte: Ministério Público do Estado de São Paulo

Na mesa de abertura o Dr. Antonio Carlos da Ponte (Procurador de Justiça e


Diretor do CEAF/ESMP) enfatizou a importância do tema do seminário e disse que a
contaminação do solo, das águas subterrâneas e superficiais é um assunto multidisciplinar
que envolve não só o meio ambiente, habitação e urbanismo, mas sobretudo questões de
saúde pública.
Dr. Antonio Carlos menciona que em 2017 a Agência Ambiental do Estado de
São Paulo (CETESB) realizou um levantamento no Estado de São Paulo e identificou
5.942 áreas contaminadas, sendo que deste total apenas 1.184 foram consideradas
reabilitadas para o uso declarado. Este fato demonstra a importância do tema e a
dificuldade de seu enfrentamento.
O Dr. Carlos Roberto dos Santos (Diretor-presidente da CETESB) também
salienta a significância em debater os temas propostos nas mesas de discussões e destaca

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que a CETESB tem trabalhado em conjunto com o Ministério Público em relação as áreas
contaminadas.
Do total de áreas contaminadas levantadas pela CETESB (5.942 áreas), 80%
ainda necessita de cuidado. De acordo com o Dr. Carlos Roberto “ao longo dos anos o
tema vem evoluindo e atualmente há mais controle da contaminação” e deve-se dar mais
destaque para os postos de combustíveis, os quais são responsáveis por 70% das fontes
de contaminação.
A seguir o Dr. José Eduardo Ismael Lutti (Procurador de Justiça do Estado de
São Paulo) relata que a área ambiental foi bastante afetada com a turbulência que o país
tem enfrentado e houve retrocessos gravíssimos na área ambiental (questões que estavam
consolidadas e que legislativamente retrocederam). Porém, o mercado de gerenciamento
de áreas contaminadas obteve alguns avanços, em especial no Estado de São Paulo, mas
carece de evolução.
Finalmente, o Dr. Everton de Oliveira (Diretor do Instituto Água Sustentável)
aponta que algumas discussões que foram abordadas no evento carecem de base técnica
e que os profissionais da área devem promover a interação entre a ciência e o Ministério
Público para que trabalhem em conjunto, de maneira harmônica e eficiente.
A mesa de abertura pôde mostrar de antemão a complexidade do tema e a
possibilidade de veementes discussões ao logo do evento.

Mesa de abertura
Fonte: Ministério Público do Estado de São Paulo

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2. MESA 1: O USO DE ÁREAS URBANAS CONTAMINADAS: DESAFIOS
Mediador: José Carlos de Freitas (Procurador de Justiça do Ministério Público do Estado
de São Paulo).

O evento conseguiu reunir representantes dos setores público e privado para


debater um tema que é de extrema importância para a sociedade civil - as áreas
contaminadas.

Palestra 1: A Estruturação da Transformação Urbana no Plano Diretor Estratégico


Paulistano e a Gestão das Áreas Contaminadas.
Expositora: Patrícia Sepe (Geóloga e técnica da Secretaria Municipal de Urbanismo e
Licenciamento - Prefeitura de São Paulo).

A Dra. Patrícia tem tentado ao longo do seu trabalho inserir a dimensão


ambiental no ordenamento territorial. Ela menciona em sua palestra que “é sempre difícil
o diálogo entre as questões que abordem o meio ambiente, a moradia e o uso do solo, mas
na medida do possível, este diálogo tem avançado”.
Apresentou em sua palestra o desenvolvimento da estruturação da transformação
urbana, uma diretriz fundamental do Plano Diretor Estratégico (PDE), aprovado em 2014.
Além disso, considerou alguns caminhos para estruturar essa transformação em uma
cidade tão complexa como São Paulo e o vínculo com a gestão de áreas contaminadas.
A principal estratégia do PDE é a estruturação a partir de macrozoneamentos e
macroáreas que definem o município em relação as áreas urbana e rural. O PDE leva em
consideração uma rede estrutural composta por 3 grandes elementos: transporte, rede
hídrica-ambiental e rede de bairros locais. As macroáreas consideram as realidades já
existentes, mas também apontam para o que se espera desses espaços ao longo de 15 anos.
A palestrante trouxe como exemplo a macroárea de estruturação metropolitana,
que conecta grandes eixos metropolitanos (grandes rodovias) e se sobrepõe as regiões do
Jurubatuba e da Vila Carioca, em consequência abrange extensas áreas contaminadas. De
acordo com a Dra. Patrícia, das dez áreas críticas definidas pela CETESB, cinco estão na
cidade de São Paulo e duas na macroárea de estruturação metropolitana.
Alguns desafios têm sido apresentados ao longo dos trabalhos, tais como inserir
estas áreas contaminadas no ciclo econômico urbano e a necessidade de uma abordagem

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sistêmica na gestão de áreas contaminadas, de modo que não seja trabalhada de forma
setorial.

Palestra 2: Urbanismo e uso das áreas contaminadas na visão do setor privado.


Expositor: Marcelo Terra (Coordenador do Conselho Jurídico do SECOVI - Sindicato do
mercado imobiliário)

A posição do setor imobiliário sobre o gerenciamento das áreas contaminadas


não deve ser assumida como algo diferente, pois a visão é única, deve-se pensar na
sociedade como um todo. Dr. Marcelo Terra afirma que o conceito trabalhado é binário -
desenvolvimento com sustentabilidade e sustentabilidade com desenvolvimento – e
absolutamente integrado, com o mesmo peso institucional.
A indústria imobiliária não é poluidora, ela é remediadora. Com as
transformações urbanas na cidade de São Paulo, o único setor que terá condições de
efetivamente reabilitar o solo para uso declarado é o da indústria imobiliária. A
reurbanização e a requalificação da utilização do solo serão realizadas pela indústria
imobiliária.
Dr. Marcelo Terra enfatiza que o meio ambiente não está isolado, mas em um
conjunto de ordens e princípios. Cita os dizeres da Declaração da Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, também conhecida como Declaração de
Estocolmo (1972), onde a melhora da qualidade do meio ambiente deve ser perseguida
em conjunto com os desenvolvimentos econômico e sustentável, não isolado, sendo o
desenvolvimento e o meio ambiente inseparáveis.
A indústria imobiliária não lucra com o terreno contaminado, pelo contrário, ela
perde muito e não obstante ser a única despoluidora. O setor da indústria imobiliária luta
pela segurança jurídica, pois o risco faz parte da atividade empresarial, mas o risco de
segurança jurídica é inadmissível.

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Mesa 1: O Uso de Áreas Urbanas Contaminadas: Desafios
Fonte: Ministério Público do Estado de São Paulo, 21018

Palestra 3: Urbanismo e uso das áreas contaminadas na visão do Ministério Público.


Expositora: Tatiana Barreto Serra (Promotora de Justiça, Assessora do Centro de Apoio
à Execução – CAEx)

Enfrentamos alguns desafios vivenciados atualmente, na chamada modernidade


reflexiva, que é como lidar com os problemas que nós próprios geramos (em relação ao
meio ambiente e a sociedade). Temos dois dilemas: conter os riscos e dar continuidade
ao desenvolvimento de forma sustentável. Assim, de acordo com a Dra. Tatiana,
precisamos responder duas questões: “que tipo de desenvolvimento queremos?” e “quais
são os valores fundamentais que queremos preservar na nossa sociedade?”.
O Art. 225 da Constituição Federal responde a essas duas perguntas ao
mencionar a proteção integral do meio ambiente e, em seu texto conectar esta proteção
ao ser humano, ao colocar que a proteção do meio ambiente é essencial à sadia qualidade
de vida e a preservação atual e futura da vida.
Ao longo de sua palestra a Dra. Tatiana enfatiza que não sendo possível a
restauração ou recuperação ou ainda existindo algum dano deve-se realizar a
compensação ambiental, e por último, se há algum dano técnico e absolutamente
irrecuperável é calculada uma indenização. A reparação integral do dano ambiental não
significa fazer com que a área seja exatamente como era a muitos anos atrás (sem que
alguma intervenção humana tivesse ocorrido).
A preservação do meio ambiente e a saúde humana são conceitos
complementares. Diante disto, a Lei Paulista 13.577/2009 traz como elemento para
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caracterização de uma área contaminada danos ao meio ambiente e também a saúde. A
recuperação integral do dano ambiental deve ser objeto de preocupação e exigência ao
lado do afastamento do risco a saúde humana pelo órgão ambiental.
Conclui a sua palestra dizendo que o órgão ambiental deve exigir, ao lado do
afastamento do risco à saúde, a reparação ao bem ambiental; a questão econômica deve
ser vista sob o prisma do princípio do poluidor-pagador, que determina a incorporação
das externalidades externas negativas pelo empreendedor, impondo que o poluidor (direto
ou indireto) arque com os custos da reparação do dano ambiental.

Palestra 4: A auto composição de conflitos no uso de áreas contaminadas e o


interesse socioambiental.
Expositora: Ana Paula Bernardes (Gestora de Conflitos- APLV Consultoria)

Existe uma diferença entre o processo de negociação e de mediação. O processo


de negociação interfere no ambiente como um todo, os primeiros passos incluem: fazer
um levantamento do ambiente (não entra no mérito da questão em si para não se tornar
parte do processo), fazer uma radiografia das pessoas envolvidas, para tipificar estas
pessoas, identificar critérios para despersonalizar a questão e desenvolver possíveis
cenários.
O principal do processo é a identificação de interesses, tanto os interesses do
setor imobiliário como do Ministério Público, para que assim possa-se identificar
propósitos e oportunidade de acordos. Se não há acordos ocorre a judicialização.
Quando isto vem para a área ambiental, torna-se mais difícil, pois envolve
crenças, sendo deste modo não somente uma avaliação jurídica.
A Dra. Ana Paula diz que há muita falta de transparência, tanto do setor privado
como do Ministério Público, e isto gera insegurança de ambos os lados. Outro problema
é a disparidade de capacidade financeira para contratação de uma equipe técnica, a equipe
que vemos hoje em dia é uma equipe que não consegue verticalizar o conhecimento e ir
para o mesmo nível de debate. De acordo com a Dra. Ana Paula Bernardes o principal de
tudo é a dificuldade de diálogo entre estes dois segmentos (setor imobiliário e Ministério
Público), também há falta de confiança nas esferas decisórias das Prefeituras e Estado e
falta de confiança nos parâmetros regulatórios, e isto dificulta o processo.

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3. MESA 2: VALORAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS SUBTERRÂNEOS
IMPACTADOS POR ATIVIDADES CONTAMINANTES
Mediador: José Eduardo Ismael Lutti (Procurador de Justiça do Ministério Público de São
Paulo)

Palestra 1: Da suficiência jurídica da remediação do dano conforme normatização


existente
Expositor: Hamilton Alonso Júnior (Procurador de Justiça, Conselheiro do Conselho
Superior do Ministério Público)

Há uma clara preocupação com a ocupação de áreas contaminadas, pois essas


são áreas convidativas a serem ocupadas. De um lado tem-se a necessidade social de
ocupação e do outro lado tem-se o interesse por parte da construção civil.
Há casos famosos de áreas contaminadas que cabe aqui ser destacados: o caso
Rhodia da Baixada Santista, Cubatão e São Vicente (o chamado pó da China, foram
lançados resíduos organoclorados no Lixão Municipal de Cubatão e de São Vicente e
Itanhaém); a construção do Condomínio Residencial de Barão de Mauá sobre um aterro;
a contaminação do lençol freático por uma grande indústria que colocou em risco os
moradores do Condomínio Recanto dos Pássaros no Município de Paulínia/SP; uma área
na Vila Carioca foi contaminada por borras tóxicas enterradas na década de 1970 pela
empresa Shell e comprometeu a qualidade da água subterrânea; o caso do aterro
Mantovani que recebeu durante anos resíduos industriais que também contaminaram o
solo e a água subterrânea. A questão deve ser contextualizada, deve-se olhar para trás
para entender o presente e as necessidades futuras.
As áreas necessitam ser ocupadas, mas dentro do princípio da legalidade. As
legislações ambientais devem estar inseridas no sistema, devem abordar as necessidades
da sociedade e estar em acordo com a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938
de 1981) e com a Constituição Federal.
Segundo Dr. Hamilton há de se ter uma visão antropocêntrica e “ecocêntrica” do
meio ambiente, ou seja, a defesa do meio ambiente por tutela por si só, e ele ainda
adiciona, o objeto jurídico tutelado vai além do homem e abrange o meio ambiente.

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Palestra 2: Poluição de águas subterrâneas: impactos ambientais
Expositor: Djalma Luiz Sanches (Geólogo, Assessor de Gabinete do Ministério Público
do Estado de Estado de São Paulo – CAEX)

O palestrante expôs brevemente o que é um modelo conceitual e a importância


do entendimento da dinâmica dos contaminantes em subsuperfície. Além disso, falou
sobre os impactos destes contaminantes e a consequente restrição de uso da água
subterrânea.
A CETESB disponibiliza uma lista com os principais contaminantes que podem
oferecer risco a saúde humana, em grande parte estes contaminantes estão associados a
combustíveis provenientes de vazamento de postos de gasolina e atividades industriais,
como solventes aromáticos, hidrocarbonetos, metais, solventes halogenados.
Uma vez que 80% dos municípios paulistas são abastecidos total ou
parcialmente por água subterrânea, a questão das áreas contaminadas e sua gestão se
tornam bastante delicados. Existe uma estimativa que em 2009 havia 12.000 poços
(levantamento realizado pelo Centro de Pesquisa de Águas Subterrâneas - CEPAS) na
região metropolitana de São Paulo, sendo que somente 4.931 poços eram cadastrados no
Departamento de Água e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE), com vazão
de extração de 10 m3/s, valor bastante significativo.
Djalma também destacou as áreas contaminadas da Região de Jurubatuba.
Estima-se 1.700 poços na área e com vazão de extração de 10 m3/s, sendo que 513 poços
possuem cadastro no DAEE e os 1.187 poços restantes são clandestinos, fato que
caracteriza as atividades desenvolvidas na região como de alto risco. A área apresenta
uma classificação em relação ao grau de restrição ao uso da água subterrânea, em baixa,
média e alta restrição.
Uma outra área contaminada que o Geólogo Djalma destaca localiza-se na Bacia
Hidrográfica dos Rios Sorocaba e Médio Tietê, onde houve o vazamento de 400 m3 de
contaminante de tanques aéreos. Este contaminante infiltrou colocando em risco a água
subterrânea e escoou alcançando a água superficial. Por ser uma região com tendência de
crescimento urbano, a preocupação com a área é enorme, demandando a necessidade do
controle e restrição de uso das águas subterrâneas.
O grande desafio é fazer uma gestão eficiente dessas áreas contaminadas e a
reparação desses passivos ambientais.

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Palestra 3: Proposta de metodologia de valoração de recursos hídricos subterrâneos
impactados por atividades contaminantes
Expositor: Reginaldo Bertolo (Hidrogeólogo – CEPAS/USP)

A água subterrânea apresenta grande importância social e econômica no Brasil


como um todo, e em especial para a região metropolitana de São Paulo. A disponibilidade
hídrica, tanto superficial como subterrânea é cada vez menor devido a degradação dos
recursos hídricos; se dividirmos a disponibilidade hídrica dos mananciais superficiais
pelo número de habitantes o volume per capita por ano de disponibilidade hídrica será de
140 m3 (Secretaria de Recursos Hídricos de São Paulo), um valor três vezes menor do que
o recomendado pela Organização das Nações Unidas. Com base neste dado e na crise
hídrica que São Paulo enfrentou nos últimos dois anos, percebe-se o quão vulneráveis
somos com relação ao abastecimento hídrico. Além disso, a água subterrânea desempenha
papel fundamental, que não está sendo contabilizado pelo poder público, para garantir
maior segurança hídrica.
Através de um levantamento identificou-se que em 2009 existiam 12.000 poços
retirando 10 m3/s de água subterrânea (dado já apresentado pelo Geólogo Djalma Luiz
Sanches), é um valor altamente significativo, e demonstra que temos um grande
reservatório de água subterrânea (este valor corresponde ao Sistema Alto Tietê inteiro).
É um recurso que devemos conservar e a medida que ele vai se tornando mais escasso, o
seu valor aumenta.
A maior parte do volume da água bombeada dos poços é destinada a
empreendimentos privados e apresenta boa qualidade natural. O índice de perfuração de
poços na região metropolitana é de 200 poços por ano, assim os 12.000 poços estimados
em 2009 já evoluíram para 14.000 com vazão de extração de aproximadamente 12 m3/s.
Cabe aqui destacar que 70% destes poços são ilegais.
Na Região de Jurubatuba foram interditados e lacrados 41 poços no ano de 2005
e a vazão outorgada desses poços quando somadas equivale a 2,1 milhões de m3/ano. Se
tomarmos como base o m3 cobrado pela Sabesp, de 18,84 reais, temos que o fato desta
água subterrânea ter sido impedida de ser utilizada pela sociedade representa 39 milhões
de reais de prejuízos. Este é o valor que estaria sendo pago para a Sabesp. Muitos outros
recursos hídricos subterrâneos estão ameaçados e desconhecemos seu real estado.

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De acordo com o Dr. Reginaldo Bertolo a metodologia de valoração de recursos
hídricos subterrâneos impactados por atividades contaminantes é relativamente simples
para a utilização por técnicos.
O Professor Reginaldo enfatiza que o método de remediação baseada em risco é
uma forma inteligente, moderna e adequada de se conduzir o processo de gestão de áreas
contaminadas. Segue a equação do Valor da Água Subterrânea (VA):

𝑉𝐴 = (𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒𝑇+ − 𝑇- ∗ 𝑅$) + (𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒𝑇3 − 𝑇4 ∗ 𝑅$) + (𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑒 𝑂𝑝çã𝑜 ∗ 𝑅$)

T0 = Passando ao presente Volume da Pluma


T3 = Futuro: do fim da remediação até obtenção da potabilidade. Volume remanescente
Volume de Opção = Volume de opção de uso

Dr. Reginaldo Bertolo finaliza sua palestra dizendo que devem ser utilizadas
medidas de compensação para a contaminação da água subterrânea, pois é necessário
promover a gestão integrada dos recursos hídricos superficiais e subterrâneas. A
remediação de áreas que se desconhece o causador do impacto deve ser realizada pelo
Estado e deve-se fazer um monitoramento regional dos recursos hídricos subterrâneos.

Mesa 2: Poluição de águas subterrâneas - impactos ambientais


Fonte: Ministério Público do Estado de São Paulo, 21018

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4. MESA 3: GESTÃO DAS ÁREAS CONTAMINADAS: UMA NOVA
PERSPECTIVA
Moderadora: Cristina Godoy de Araújo Freitas (Promotora de Justiça do Ministério
Público do Estado de São Paulo)

Palestra 1: A Eficácia na Gestão das Áreas Contaminadas Críticas ou de Fontes


Múltiplas
Expositor: Geraldo do Amaral Filho (Diretor de Controle e Licenciamento Ambiental -
CETESB)

A gestão de áreas contaminadas é um assunto sério e complexo e a CETESB


vem desenvolvendo seus trabalhos nesta área desde a década de 1980. A referida Agência
Ambiental elaborou no ano de 2001 um Manual de Gerenciamento de Áreas
Contaminadas que se tornou base para todas as ações relacionadas ao gerenciamento de
áreas contaminadas.
Além disso, a CETESB vem promovendo a atualização de suas instruções
técnicas e em 2017 realizou alterações na Resolução de Decisão de Diretoria nº 038
(DD38) que dispõe sobre a aprovação do “Procedimento para a Proteção da Qualidade do
Solo e das Águas Subterrâneas”, da revisão do “Procedimento para o Gerenciamento de
Áreas Contaminadas” e estabelece “Diretrizes para Gerenciamento de Áreas
Contaminadas no Âmbito do Licenciamento Ambiental”, a DD38 teve como resultado a
publicação da Instrução Técnica nº 039 que foi publicada no início de 2018. Na Instrução
Técnica nº 039 são apresentados os tramites administrativos e as atribuições referentes à
aplicação do Procedimento para a Proteção da Qualidade do Solo e das Águas
Subterrâneas, Procedimento para Gerenciamento de Áreas Contaminadas e Diretrizes
para o Gerenciamento de Áreas Contaminadas no Âmbito do Licenciamento Ambiental,
aprovados por meio da Decisão de Diretoria nº 038/2017/C.
Outra questão bastante inovadora que a CETESB coloca na Instrução Técnica nº
039 é a participação do corpo técnico nos processos decisórios, agora o técnico possui
um termo de referência para seguir. Tem-se uma subdivisão, um detalhamento das
diferentes etapas do processo de gerenciamento de áreas contaminadas e facilita o
trabalho do responsável legal e técnico.
Dr. Geraldo do Amaral destacou a questão das áreas críticas (áreas que
apresentam complexidade, demandam esforços adicionais para se compreender sua
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dinâmica e envolvem questões que afetam o dia-a-dia das pessoas) que necessitam de um
gerenciamento diferenciado. Há um grupo específico dentro da esfera administrativa para
tratar dessas áreas, o chamado grupo gestor de áreas críticas e é composto por uma equipe
multidisciplinar (técnicos, pessoal da área de marketing e comunicação, responsáveis pela
área de saúde pública, pessoal do departamento jurídico) que tem o papel de discutir e
entender o problema, realizar a comunicação com a sociedade e fazer a gestão. Exemplos
dessas áreas são os já citados casos da construção do Condomínio Residencial de Barão
de Mauá sobre um aterro, bairro Mansões Santo Antônio em Campinas, cuja a
contaminação foi gerada por uma empresa do ramo químico e a contaminação no aterro
Mantovani.
A outra vertente da discussão que o Dr. Geraldo do Amaral trouxe para a mesa
de discussão foi sobre o envolvimento de áreas que estão integradas com múltiplas fontes
de contaminação. Nestes casos, há a necessidade discussão mais amplas e melhor
entendimento dos casos, um exemplo é a Região de Jurubatuba que foi uma região
bastante citada ao longo deste seminário. Necessita-se de uma integração de todos os
estudos para se identificar a realidade do problema e posteriormente buscar soluções.
Dr. Geraldo termina sua fala fazendo um questionamento sobre até onde é
possível chegar com os processos de remediação, tanto do ponto vista técnico como
também econômico e ambiental.

Palestra 2: Áreas de Estruturação Urbana do Plano Diretor Estratégico – Arco de


Jurubatuba e Arco Leste: O papel do DECONT
Expositora: Clara Aparecida Vieira Prata e Silva (Diretora do DECONT – Departamento
de Controle da Qualidade Ambiental/Gabinete da PMSP)

Na cidade de São Paulo a constante mudança do solo e do perfil econômico,


principalmente devido a novos perfis industriais, favorece o descobrimento de novas
áreas contaminadas e indica a possibilidade de surgimento de problemas ambientais.
A estrutura do DECONT que cuida do departamento de áreas contaminadas e
seu gerenciamento é composta por vários segmentos, destacando-se entre eles o Grupo
Técnico de Áreas Contaminadas (GTAC) e o Grupo Técnico de Avaliação de Impacto
Ambiental de Atividades Industriais (GTAI).
As duas áreas abordadas na palestra da Dra. Clara foram o Arco de Jurubatuba
e o Arco Leste, que são áreas que estão dentro da macroárea de estruturação metropolitana
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do município de São Paulo. O Arco de Jurubatuba tem uma área 2.158 hectares e é
bastante heterogênea (conflita com áreas bastante pobres e áreas de grande
desenvolvimento), já o Arco Leste possui extensão de 4.525 hectares.
Dentro do Plano Diretor Estratégico (aprovado em 2014), foram dados os
objetivos desses dois Arcos, sendo: a transformação estrutural visando o adensamento e
visando a proteção do patrimônio ferroviário industrial, recuperação da qualidade dos
sistemas ambientais existentes (rios, córregos e áreas vegetadas), proteção de habitação
com interesse social e de mercado popular visando uma melhor condição de vida da
população de baixa renda, sistema de transporte coletivo, regularização fundiária,
redefinição de parâmetros de uso e ocupação do solo, minimização dos problemas das
áreas contaminadas com riscos de inundação e contaminação do solo.
No Arco de Jurubatuba há 41 áreas entre contaminadas, sob investigação e
processos de monitoramentos e 8 reabilitadas, este valor ainda é muito baixo e representa
3, 4% de lotes que há na região (1.400 hectares).
O Arco Leste é uma região de grande concentração populacional e há
conhecimento de 38 áreas que estão em condições de remediação e 10 estão reabilitadas.
39% das áreas contaminadas estão dentro de Áreas de Proteção Ambiental e 21,8% estão
em Zonas de Interesse Social.
O DECONT trabalha basicamente com legislações Estaduais. Dentre elas estão
o Decreto nº 42.319/02: Dispõe sobre diretrizes e procedimentos relativos ao
gerenciamento de áreas contaminadas no Município de São Paulo (destaca-se o Art. 3 e
Art. 5); Lei nº 13.564/03: Parcelamento do solo e edificação quando existe área com
contaminação; Lei nº 16.402 (destaca-se Art. 137): Disciplina o parcelamento, o uso e a
ocupação do solo no Município de São Paulo, de acordo com a Lei nº 16.050, de 31 de
julho de 2014 - Plano Diretor Estratégico (PDE).
A Dra. Clara finaliza destacando que alguns sistemas têm auxiliado na gestão e
gerenciamento das áreas contaminadas, tais como o Sistema de Informação de
Gerenciamento de Áreas Contaminadas (SIGAC) que tem o objetivo de aprimorar a
gestão de áreas contaminadas, formatizar e atualizar os órgãos municipais que necessitam
de informações, e o São Paulo Mais Fácil que é atualmente a forma utilizada para ter
conhecimento se determinada área está contaminada ou não, ele é alimentado pela
Secretaria do Verde.

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Palestra 3: Recuperação de Áreas Contaminadas
Expositor: José Roberto Ramos Falconi (Engenheiro – Assessor do Ministério Público
do Estado de São Paulo)

A poluição do ar e da água pode afetar a saúde da população e demais seres


vivos. Diferente do ar e da água, o solo não é renovável, ou seja, se há lançamento de
poluentes no ar ou na água, a medida que a fonte de contaminação cessa há a possibilidade
de renovação de sua qualidade, enquanto que em relação ao solo essa renovação não
ocorre, afetando as suas funções.
O Engº Falconi apresentou um balanço da CETESB de Mogi das Cruzes
referente ao ano de 2008, ocasião em que esta agência era responsável pelo controle e
fiscalização dos nove municípios da zona leste da região metropolitana de São Paulo.
Com relação à poluição do ar foi desenvolvido um programa de controle que
usou a metodologia da curva A, B, C. Na curva A havia 23 empresas responsáveis pela
emissão de 80% de material particulado, enquanto as empresas que correspondiam a
curva B e C eram as responsáveis pelos restantes 20%. Para as 23 empresas da curva A
foi desenvolvido um programa específico de controle, sendo que o potencial de emissão
de material particulado dessas empresas em 2001 equivalente a 117.000 toneladas por
ano, através das ações desenvolvidas pelos técnicos da CETESB de Mogi das Cruzes foi
reduzido em 95%, principalmente pela instalação de equipamentos de controle, alguns
chegando ao custo de 5 milhões de dólares na ocasião.
A CETESB de Mogi das Cruzes também participou do Programa de Controle de
Dióxido de Enxofre, onde as emissões de 23.000 toneladas por ano emitidas por 24
empresas foram reduzidas em 96%, através de medidas que envolveram a substituição de
combustíveis queimados com alto teor de enxofre, substituição dos combustíveis líquidos
por gás natural, instalação de processos eletrotérmicos, alteração de processos industriais
e instalação de equipamentos de controle. Também participou da operação “Caça
Fumaça”, para o controle da fumaça preta emitida por veículos movidos à diesel (ônibus,
caminhões e alguns utilitários). Em 1997 a referida agência por meio desta operação
chegou a autuar mais de 19.000 veículos fora do padrão, e ao longo dos anos até 2008
houve uma redução na ordem de 94%.
Em relação a poluição das águas houve um programa desenvolvido em 2 etapas.
Na primeira participaram 84 empresas e na segunda 22 empresas. Essas empresas
geravam uma carga orgânica total equivalente à uma população de aproximadamente
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1.350.000 habitantes nos efluentes líquidos lançados nas águas da Bacia Hidrográfica do
Alto Tietê. Houve uma redução de 89% de carga orgânica e 83% de carga inorgânica,
atendendo os padrões de lançamento e de qualidade dos corpos d’águas receptores.
A estratégia adotada para os programas de controle de poluição do ar e das águas
sempre foi a de exigir as melhores tecnologias disponíveis apesar das resistências dos
empresários devido aos elevados custos dos equipamentos, contudo a legislação foi
cumprida e as metas atingidas.
O Engº Falconi destacou para o solo a importância dos seus diversos serviços
ambientais prestados e da biodiversidade de sua fauna, bem como apresentou as
tecnologias atualmente utilizadas para tratamento das áreas contaminadas (solo e água
subterrânea), as quais podem ser executadas individualmente ou em conjunto. Expôs
também as diferenças relacionadas aos custos das ações de controle da poluição do ar e
das águas, que permanecem, enquanto as suas fontes se mantiverem em funcionamento,
e enquanto as medidas de intervenção para as áreas contaminadas se finalizam após o seu
encerramento. Demonstrou a aplicação de planilhas de cálculos para a determinação de
custos relacionados à remoção e destinação adequada de solo contaminado.
O Engº Falconi destacou a importância do Parágrafo 2º do Artigo 44 do Decreto
59.263/13 que estabelece que devem ser priorizadas as medidas de remediação que
promovam a remoção e redução de massa dos contaminantes. Contudo, destacou que a
CETESB por meio da Instrução Técnica nº 39 e à título de incentivo à
reutilização/revitalização de áreas contaminadas, dispensou os seus responsáveis da
apresentação de garantia bancária e do seguro ambiental, e também da apresentação da
análise técnica, econômica e financeira que comprove a inviabilidade de utilização de
técnica de remediação por tratamento, nos casos em que sejam propostas medidas de
remediação por contenção, medidas de engenharia e medidas de controle institucional, as
quais não removem e nem reduzem a massa de contaminantes permitindo que os mesmos
sejam mantidos no solo e nas águas subterrâneas.

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Palestra 4: Remediação das Áreas Contaminadas: Obstáculos e Incentivos
Expositor: Rodrigo Cury Bicalho

O setor privado procura garantir seus interesses, mas tudo dentro da legalidade
e respeitando a lei. É extremamente difícil para alguém que vai adquirir uma área
contaminada, passar pelo processo de gerenciamento e não ter parâmetros ou ter
parâmetros que possam ser contestados.
As opiniões são diversas, devemos considerar as questões jurídicas, mas também
as questões técnicas e científicas. O Professor Luiz Sanches (USP) já dizia: o emprego de
outro critério para estabelecer objetivo de remediação como a chamada remediação
integral não é compatível com os fundamentos técnicos-científicos expostos de ambas
aceitações, nacionais e internacionais, além disso, pode não ser compatível técnica e
economicamente, pode dificultar a remediação e reutilização de áreas contaminadas e sua
inserção no cenário urbano.
O Instituto SIADES (Sistema de Informações Ambientais para
Desenvolvimento Sustentável) realizou um estudo multidisciplinar abrangendo diversos
países que incluíam Brasil, Alemanha, Holanda, Inglaterra, Estados Unidos, Canadá,
Chile, Peru, Argentina e México, e concluiu que a remediação integral não é prevista em
nenhum destes países, uma vez que se entende que a utilização de valores de limite de
avaliação de risco é suficiente para segurança da saúde e meio ambiente, das ações de
remediação conforme o uso pretendido.
Nos Estados Unidos há um fundo alimentado por indústrias com alto potencial
poluidor que permite que a instituição que adquira uma área contaminada possa utilizar
o dinheiro deste fundo para pagar pela remediação, e isto tem auxiliado muito na
remediação de áreas contaminadas.
Dr. Rodrigo concluiu dizendo que o setor privado quer previsibilidade,
segurança, saber quais são as regras para conhecer quanto ele vai gastar e qual o tempo
necessário para remediar.

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Palestra 5: Os limites técnicos e econômicos da recuperação ambiental do solo e das
águas subterrâneas contaminados
Expositor: Everton de Oliveira (Associação Brasileira de Águas Subterrâneas – ABAS e
Diretor do Instituto Água Sustentável – IAS)

Dr. Everton de Oliveira falou da dificuldade que se tem na divulgação de estudos


e notícias sobre contaminação de água subterrânea.
Apontou em sua palestra os quatro tipos de discursos existentes para destacar o
discurso utilizado pelos cientistas e pelos advogados, e disse que todo discurso serve para
passar algo para o ouvinte. Discurso poético você passa uma imagem ao ouvinte, qualquer
imagem verdadeira ou não; discurso retórico é o discurso jurídico, os advogados são
treinados para usar este discurso, sendo que este discurso pode partir de fatos verdadeiros
ou não para se alcançar uma conclusão; discurso dialético é o curso dos cientistas,
professores, alunos, parte de princípios que são aceitos como verdade e cientificamente
comprovados; discurso analítico ou científico, é o silogismo, você usa verdades
indiscutíveis e gera uma terceira verdade indiscutível, também é o que os cientistas usam.
O estudo das áreas contaminadas é uma ciência relativamente nova, começou
nos anos de 1970. Ao passar dos anos pôde-se fazer a remediação de áreas contaminadas,
porém muitas áreas não são passíveis de remediação. Além disso, hoje sabe-se e entende-
se o comportamento dos contaminantes em meio ambiente subterrâneo e a avaliação de
áreas contaminadas está muito avançada, mas precisa-se avaliar mais e melhor sempre,
pois só assim será possível tomar uma decisão eficiente e adequada.
Os custos da remediação de áreas contaminadas têm diminuído com o
surgimento de novas técnicas, mas ainda precisamos evoluir em relação ao conhecimento
científico.

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Dr. Everton de Oliveira fala sobre os limites técnicos e econômicos da Auditório principal
recuperação ambiental do solo e das águas subterrâneas contaminados Fonte: Ministério Público do Estado de São Paulo, 21018.
Fonte: Fonte: Ministério Público do Estado de São Paulo, 21018.

5. MESA 4: ÁREAS CONTAMINADAS: INTERFACES MEIO AMBIENTE E


SAÚDE
Mediador: Reynaldo Mapelli Júnior (Promotor de Justiça Assessor do Centro de Estudos
e Aperfeiçoamento Funcional/Escola Superior do Ministério Público).

O meio ambiente tem uma relação direta com a saúde, a Lei Orgânica da Saúde
(Lei nº 8.080/1990) em seu Art. 3º diz que o meio ambiente é um dos fatores que
condicionam e determinam a saúde das pessoas. Porém, nem sempre a interface saúde e
meio ambiente tem sido respeitada e o meio ambiente ainda é pouco abordado na área de
saúde.
O objetivo da mesa é trazer para debate como a contaminação do meio ambiente,
especialmente a contaminação das águas subterrâneas, interfere e coloca em risco a saúde
humana.

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Palestra 1: Controle do risco sanitário e passivos ambientais
Expositor: Luís Sérgio Ozório Valentim (Centro de Vigilância Sanitária da Secretária de
Estado de São Paulo).

Para se enfrentar o problema das áreas contaminadas devemos levar em


consideração o contexto paulista de intensa industrialização e urbanização. No território
que engloba a região metropolitana de São Paulo (RMSP) está 47% da população paulista,
apesar de sua área corresponder a apenas 3,2% do território estadual. Podemos considerar
também, nesse contexto de concentração de pessoas e atividades, a Macrometrópole
Paulista, onde está assentada 72% da população, embora ocupe apenas cerca de16% do
território estadual. Tais desequilíbrios no uso e ocupação do território é uma das variáveis
a se levar em conta quando nos propomos a fazer gestão de áreas contaminadas para
proteger a saúde coletiva.
As cidades podem ser definidas como acúmulo intenso do social em espaços
restritos. É no espaço urbano onde hoje se concentra a quase totalidade da população
paulista. Dentre outras características, a cidade é concentração, complexidade,
diversidade, dinâmica, oferta, impacto, proteção e exposição.
A RMSP é exemplo extremo de concentração, ainda que tal condição se
apresente de maneira desigual, com locais intensamente adensados, vizinhos a vazios
urbanos. O cenário deriva não só dos caprichos do mercado, mas também de outros
fatores relevantes, como a qualidade ambiental do solo. Ainda que o crescimento
populacional tenha se reduzido em relação às décadas anteriores, as áreas periféricas das
metrópoles e grandes cidades continuam a se expandir, sem planejamento, pressionando
áreas ainda preservadas, muitas delas de proteção ambiental. O contexto não favorece
uma atuação mais incisiva do poder público para ordenamento do território. Essas são
questões que devem ser consideradas quando lidamos com as áreas contaminadas no
interior das regiões densamente ocupadas, onde a exposição da população aos
contaminantes pode se apresentar de maneira mais crítica, favorecendo riscos à saúde da
coletividade e demandando cuidadoso alinhamento das políticas públicas de Meio
Ambiente, Saúde e Desenvolvimento Urbano.
Dai a necessidade de se debater com transparência e à exaustão modos de
conciliar o bom proveito dos passivos ambientais situados em áreas valorizadas dos
centros urbanos, em localizações privilegiadas, dotadas de infraestruturas e acessos a
serviços públicos essenciais, harmonizando, desta maneira, políticas públicas de inclusão
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social nas cidades, de maior acessibilidade de populações vulneráveis aos benefícios do
urbano, de redução das pressões antrópicas sobre áreas periféricas ainda não ocupadas e
de proteção da saúde no tocante aos contaminantes tóxicos presentes nas cidades por
conta de nosso flerte mais que centenário com produtos tóxicos.
Em São Paulo há muitos exemplos desse conflito entre a necessidade de se fazer
uso de localizações urbanas privilegiadas e de proteção ambiental e sanitária. Bairros
como o Jurubatuba, a Vila Carioca, a Mooca e outras regiões antes intensamente
industrializadas, hoje dotadas de infraestrutura urbana, mas com ocupações ainda aquém
de suas possibilidades, são desafios à construção da metrópole do futuro, socialmente
mais justa, ambientalmente mais sustentável.
Enfim, em espaços urbanos complexos, as políticas públicas só se impõem se
dotadas de visão ampla, nas quais as variáveis ambientais, de saúde e de desenvolvimento
urbano sejam consideradas de forma integrada e ponderada, para que diferentes grupos
populacionais preservem sua saúde e façam bom proveito dos muitos benefícios do
urbano.

Palestra 2: A segurança da água e um olhar na saúde da população


Expositora: Roseane Maria Garcia Lopes de Souza (Engenheira Sanitarista da Associação
Brasileira de Engenharia Sanitária - ABES)

Quando se fala em área contaminada acaba não incluindo neste tema a questão
da saúde, ela não é exclusiva do órgão de saúde, é uma área transversal e quem trabalha
com área contaminada tem que entender os impactos que podem causar à saúde humana
e o que isso acarreta. Deve-se ater a outros riscos à saúde de populações que estão
potencialmente expostas e no entorno da área contaminada, é importante conhecer a
situação.
No passado a política de saúde era propor o afastamento e enterramento do lixo
e lançamentos em rios de esgotos da população urbana para evitar problemas de saúde
pública e essa “cultura” foi diretamente responsável pela contaminação da água por uma
série de substâncias tóxicas originadas em diferentes processos, não se pensava muito no
meio ambiente.
Precisa-se avançar em relação ao conhecimento dos tipos de contaminantes
existentes em áreas contaminadas e seus valores máximos permissíveis na água, eles
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precisam estar incluídos em uma legislação nacional, mas a obrigatoriedade de realizar
as análises é outra coisa.
A segurança da água refere-se a uma oferta de água com qualidade que não
representa um risco significativo à saúde, quantidade suficiente para atender a todas as
necessidades domésticas, que estão disponíveis continuamente e que tenham um custo
acessível. A segurança da água de forma preventiva refere-se às águas que ainda não estão
contaminadas. Há necessidade de usar a metodologia que é utilizada no plano de
segurança da água para a gestão que aborda a segurança da água e que envolva águas
superficiais e também as águas subterrâneas.
Segundo a Dra. Roseane quando participou do caso da área contaminada na
baixada santista foi desenvolvida e produzida a primeira cartilha nacional de áreas
contaminadas para a população, a qual tem o objetivo de transmitir informações de um
modo simples e fácil para que a população possa entender este assunto tão complexo.
Para que uma pessoa seja considerada contaminada ou exposta por determinada
substância é preciso conhecer a rota de exposição completa: fonte de contaminação,
caminho do contaminante; via de exposição ou transmissão como o contaminante entra
no organismo humano; porta de entrada como o contaminante se aloja no organismo
exposição; e, se uma pessoa é susceptível.
As vias de exposição podem ser diversas, tais como inalação, contato dérmico e
ingestão. Além disso, há exposição a curto, médio e longo prazo, quando se fala em área
contaminada a exposição é de longo prazo, ou seja, o dano causado é a longo prazo (20,
30, 40 anos) e é necessário entender isso para avaliar estratégias para mitigar o problema
ambiental e de saúde.
É imprescindível a realização de investigações de campo para quantificar as
populações expostas nas áreas contaminadas, deve-se fazer uma investigação detalhada.
Os problemas encontrados são: deficiência de laboratórios que realizam análises sobre
biodemarcadores (exames que a pessoa deve fazer quando exposta ao contaminante) e o
acompanhamento para monitorar a evolução ou regresso da doença.
A Dra. Roseane finaliza mencionando que os custos da remediação de áreas
contaminadas são sabidos, e esses devem incluir os custos associados as questões de
saúde (tratamento).

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Dra. Roseane fala sobre a segurança da água e um olhar na saúde da população
Fonte: Fonte: Ministério Público do Estado de São Paulo, 21018

Palestra 3: O uso de águas subterrâneas para abastecimento humano e as


contaminações do solo e águas subterrâneas (urbanas e rurais)
Expositor: Ricardo César Aoki Hirata (CEPAS-USP)

Para abordar o tema proposto para sua palestra, o Professor Ricardo Hirata
levantou algumas questões importantes:

- Quantas áreas realmente contaminadas existem no Estado de São Paulo?


Há 1.109 áreas declaradas contaminadas e a maior parte é fruto de vazamento de
postos de combustíveis. Na Europa, a Agência Europeia de Meio Ambiente, estimou um
valor de 2,5 milhões de atividades potencialmente poluidoras (para isso realizou-se uma
pesquisa utilizando questionários e indicadores) e, presumivelmente, 14% dessas
atividades são de fato contamináveis. No Estado de São Paulo há aproximadamente 180
mil indústrias, 636 cidades com lixões e aterros e de 20 a 30 mil atividades com potencial
poluidor (similar ao definido pelo padrão europeu).
Dentre essas áreas destaca-se a região de Jurubatuba. Área foi e ainda é um
grande laboratório em termos de ciência, pois através de estudos realizados nesta região
pôde-se entender melhor o comportamento dos contaminantes no meio ambiente
subterrâneo. Através de um cadastro chamado Sistema de Informações de Fontes de
Poluição (SIPOL) elaborado pela CETESB, foram classificadas unidades em relação ao
potencial de gerar carga contaminante (as que manuseiam solventes clorados), sendo esta
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classificação dividida entre: elevada, moderada e reduzida. Concluiu-se que utilizando a
classificação mencionada há na Bacia do Alto Tietê o equivalente a 35 áreas com igual
ou pior intensidade de atividades potencialmente contaminantes, similar a região de
Jurubatuba.

- Há áreas contaminadas associadas às atividades agrícolas?


Existe extensas áreas com contaminação por nitrato nos Estados Unidos e na Europa. Em
relação ao Estado de São Paulo os estudos são escassos, e deste modo, é necessário dar
mais atenção a esta questão.

- Quão extensa é a contaminação por nitrato nas cidades paulistas?


Através de um mapa elaborado pela CETESB em 2009, baseado em dados da
rede de monitoramento e de indicações de contaminação, há regiões com valores de
intervenção acima de 10 mg/L que é um indicador que existe contaminação.
O nitrato vem de fontes de esgotamento sanitário. No Estado de São Paulo há
um índice excelente de coleta de esgoto, mas devido ao fato do sistema de coleta ser muito
antigo há muito vazamento e por isso a grande contaminação por nitrato.

- O usuário privado de poços tubulares sabe a qualidade de suas águas?


Considerando que 70% dos poços existentes não tem licença para exploração de
água subterrânea, consequentemente não há analises para conhecimento da qualidade das
águas subterrâneas. Há uma grande preocupação com o usuário final desta água.

- Qual a real importância das águas subterrâneas?


80% do Estado de São Paulo é total ou parcialmente abastecido por água
subterrânea, 53% dos municípios brasileiros são totais ou parcialmente abastecidos por
água subterrânea e 36% são totalmente abastecidos por água subterrânea. É um recurso
extremamente importante.
Perfurou muito poço durante a crise de água vivida desde do ano de 2014 e a
população realmente usa água subterrânea, sendo deste modo mais importante que a nossa
percepção.

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Palestra 4: Monitoramento da qualidade das águas subterrâneas no Estado de São
Paulo
Expositora: Rosângela Pacini Modesto (Gerente de Setor das Águas Subterrâneas e do
Solo da CETESB).

Na CETESB há duas redes de monitoramento de qualidade de água, a rede de


monitoramento em poços tubulares e a rede de monitoramento de qualidade e quantidade
operada em conjunto com o DAEE.
A rede de monitoramento em poços tubulares teve início em 1990 e o objetivo
inicial foi caracterizar a qualidade natural das águas subterrâneas. Possui como objetivo
específico avaliar o estado da água e como ela vai se modificando em relação ao uso e
ocupação do solo, identificar áreas com alterações, seja por fenômenos naturais ou
antrópicos, para que possa subsidiar ações do órgão ambiental para gestão dos recursos
hídricos.
Os poços tubulares utilizados são principalmente provenientes de abastecimento
público. Existe um ponto de monitoramento a cada 800 km, a distribuição representa a
unidade territorial das bacias hidrográficas. A Bacia Hidrográfica do Alto Tietê tem maior
representatividade (29 pontos) e o aquífero Bauru também se destaca.
A rede de monitoramento de qualidade e quantidade (CETESB – DAEE) possui
poços com profundidade média de 40 metros. Atualmente está em expansão e há 38 poços
e só analisa a área de afloramento dos aquíferos Guarani e Bauru. Em 2018 serão
perfurados mais 26 poços.
São analisadas características físicas e químicas, além de ser realizado o
monitoramento de compostos orgânicos voláteis e também agrotóxicos. O
monitoramento para ambas as redes é semestral.
O padrão de qualidade utilizado para análise das águas subterrâneas é o definido
pela Portaria no 2914 do Ministério da Saúde, e ao longo do tempo tem verificado
alterações. Há aumento de concentração de nitrato, principalmente no aquífero Bauru, e
também foi possível caracterizar uma área com alta ocorrência de cromo.
A palestrante encerra dizendo que a grande questão é como organizar e utilizar
as informações de forma que contribua com melhor gestão e gerenciamento dos recursos
hídricos.

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Mesa 4: Áreas Contaminadas - Interfaces Meio Ambiente e Saúde
Fonte: Fonte: Ministério Público do Estado de São Paulo, 21018.

6. ENCERRAMENTO

O evento foi encerrado com breves palavras de agradecimento do Dr. Reynaldo


Mapelli Júnior. Dr. Reynaldo destacou o sucesso que foi o Seminário: Passivos
Ambientais e Urbanismo e o grande número de participantes e disse que isto se deve ao
fato da relevância do tema para todos. Tema que cada vez mais faz parte da vida e do dia-
a-dia da população.
As palestras foram de alto nível e graças ao público seleto, o evento alcançou
seu êxito.

Mesa de abertura Mesa de abertura


Fonte: Ministério Público do Estado de São Paulo Fonte: Ministério Público do Estado de São Paulo

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Sala 2 Auditório
Fonte: Ministério Público do Estado de São Paulo Fonte: Ministério Público do Estado de São Paulo

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