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Mecanismos de Transferência de Calor

O calor é transferido a partir de um corpo que se encontra a uma temperatura mais alta para um
corpo a temperatura mais baixa. Sempre que existir um gradiente de temperatura entre dois
corpos vai haver transferência de energia térmica (calor) entre eles. O gradiente de temperatura é
a força motriz (driving force) que faz com que haja transferência de calor. O calor transferido
pode ser calor sensível ou calor latente. Não ocorrendo mudança de estado físico, a variação de
energia interna sofrida por um corpo, de massa m, é igual ao calor transferido (q) e pode ser
estimada pela variação de temperatura ocorrida (∆T), conhecido o seu calor específico, cP, (eq.
1.). Havendo mudança de estado, a temperatura mantém-se constante, por exemplo na
condensação de uma massa m de um gás, e o calor associado é calculado pela eq. 2, onde ∆Hvap é
a entalpia específica de condensação.
(eq.1)

(eq.2)

A transferência de calor pode ocorrer por via de três mecanismos: Condução, Convecção e
Radiação. Estes mecanismos estudar-se-ão separadamente e poder-se-á somar os seus efeitos
isoladamente com as limitações indicadas abaixo
Limitações ao estudo:
• estado estacionário ou regime permanente
• fluxo unidirecional ou unidimensional
• fluido incompressível e newtoniano.

Condução: Transferência de calor num sólido ou fluido estático (gás ou líquido) devida ao
movimento aleatório dos seus átomos, moléculas e/ou eletrões constituintes.
Convecção: Transferência de calor devido ao efeito combinado do movimento aleatório
(difusão) e pelo movimento de massa (macroscópico).de um fluido sobre uma superfície.
Radiação: Transferência de calor emitida pela matéria devido a mudanças das configurações
eletrónicas dos seus átomos ou moléculas e que é transportada por ondas eletromagnéticas.
Convecção

A condução e a convecção exigem a presença de matéria e de variações de temperatura nesse


meio material. Embora a radiação tenha origem na matéria, o seu transporte não exige a presença
de um meio material. Aliás o transporte da radiação térmica é mais eficaz no vácuo.

Figura 1 – Mecanismos da transferência de Calor


Fonte: Introdution to heat transfer, Frank P. Incropera, David P. DeWitt, Jonh Wiley &Sons

2. Convecção
A convecção é um processo de transporte de energia pela ação combinada da condução de calor,
armazenamento de energia e movimento da mistura.
Por outras palavras é o mecanismo de difusão de energia provocada pelo movimento molecular
aleatório mais a transferência de energia provocada pelo movimento macroscópico de massa. É
importante principalmente como mecanismo de transferência de calor entre uma superfície sólida
e um líquido ou um gás, sendo classificada em:
• convecção natural ou livre se o movimento da mistura resulta das diferenças de densidade
ocasionadas pelos gradientes de temperatura (efeito da impulsão) que se caracteriza pela
ascensão do fluido mais quente e pela descida do fluido mais frio. O aquecimento dos
fluidos provoca um aumento da energia cinética das suas partículas, o que origina uma
expansão do fluido e uma consequente diminuição da densidade. Assim, o fluido menos
denso (quente) irá subir, obrigando o fluido mais denso (frio) a descer, dando origem a
correntes de convecção. Por exemplo, o aquecimento de uma sala através de uma lareira
com chaminé de tiragem natural.
Convecção

• convecção forçada se o movimento da mistura é induzido por um agente externo, tal


como uma bomba ou um ventilador. Por exemplo, o bombeamento de um fluido através
de uma tubagem.
• convecção com mudança de fase - ebulição ou condensação, quando um dos fluidos
muda de estado. Por exemplo, quando se utiliza vapor saturado como meio aquecedor.

A convecção é um processo pelo qual o calor é transferido de um local para outro de um fluido.
Pode ocorrer como resultado de diferenças de temperatura que originam um movimento de
partículas no seio dos fluidos (líquidos e gases) ou por aplicação de uma força motriz externa.
A transferência de calor por convecção é um fenómeno complexo, pelo facto de envolver em
simultâneo a transferência de calor e o movimento do fluido. O movimento do fluido pode ser
visto como o promotor da transferência de calor, razão pela qual, quando aumenta a velocidade
do fluido aumenta a taxa de transferência de calor. O regime de circulação do fluido, definido
pelo número de Reynolds, indica que em regime turbulento as correntes de convecção são mais
fortes, implicando uma maior taxa de transferência de calor.
A experiência mostra que a transferência de calor por convecção depende fortemente das
propriedades do fluido, da velocidade de fluido e da geometria da superfície.
A quantidade de calor transferido pode ser calculada pela lei de Newton:

(eq. 1)

Em que:
h – coeficiente de transferência de calor por convecção [h] = W·m-2·K-1;
A – área de superfície de transferência de calor [A]=m2;
∆T – diferença de temperatura entre o fluido e a superfície [∆T] = K.

O conceito de camada limite térmica é uma extensão do conceito de camada limite dinâmica (já
vista na Mecânica dos Fluidos) ao campo de temperatura num escoamento. A camada limite é a
zona na qual os gradientes de temperatura são importantes junto a paredes sólidas (fronteiras do
escoamento).

3
Convecção

Relação entre a convecção e o movimento do fluido sobre uma superfície, camadas limite
térmica e hidrodinâmica.

Figura 2 – Camada limite térmica e camada limite hidrodinâmica

(eq. 2)

O coeficiente de transferência de calor está relacionada com a espessura da camada limite

Figura 3 – Espessura da camada limite


Convecção

q′ ≅
(Ts − Tm ) = K f (Ts − Tm ) = h(T − T ) → h ≈ K f
s m
R δt δ t (eq.3)

• Camada limite cinética (hidrodinâmica) – Quando as partículas de um fluido


entram em contacto com uma superfície a velocidade que assumem é nula. Essas
partículas retardam o movimento das partículas que estão na camada vizinha do
fluido, que por sua vez, retardam a velocidade das camadas subsequentes, e assim
sucessivamente, até que, a uma distância y=δ da superfície, o efeito se torna
desprezível. Com o aumento da distância y à superfície, a componente x da
velocidade do fluido, u, deve aumentar, até atingir o valor de u∞da corrente livre.
O símbolo ∞ é usado para indicar as condições da corrente livre, fora da camada
limite. A grandeza δ define-se como a espessura da camada limite.

• Camada limite térmica forma-se quando a diferença entre o fluido e a superfície


são diferentes. O perfil de temperatura é uniforme para T(y)=T∞. No entanto, as
partículas do fluido que entram em contacto com a superfície ficam em equilíbrio
térmico. Por sua vez, essas partículas trocam energia com as da camada fluida
adjacente desenvolvendo assim gradientes de temperatura no fluido. A região do
fluido na qual existem esses gradientes de temperatura é a camada limite térmica
e a sua espessura é definida por δt

É possível demonstrar a relação entre a camada limite térmica e o coeficiente convectivo. Na


superfície, para y=0 , o fluxo de calor pode ser obtido pela equação de Fourier:

∂T
q′ = − K f
∂y y =0 (eq.4)

Esta expressão é apropriada pois, na superfície , não há movimento do fluido e a transferência de


calor ocorre somente por condução. Combinando esta equação com a de Newton:

5
Convecção

− K f ∂ T ∂y y =0
h=
Ts − T∝ (eq.5)
Então, as condições na camada limite térmica, que influenciam fortemente o gradiente de
temperatura na parede, determinam a taxa de transferência de calor através da camada limite.
A espessura da camada limite (δt) aumenta, na generalidade, na direção do escoamento (x).
Associada a este aumento, existe uma diminuição do coeficiente de convecção local (hx).
A espessura da camada limite (δt) aumenta na direção do escoamento (x), e o coeficiente de
convecção local (hx) decresce ao longo de x.

Em resumo, a camada limite cinética tem a espessura δ(x) e caracteriza-se pela presença de
velocidade e tensões de corte. A camada limite térmica tem a espessura δt(x) e caracteriza-se
pelos gradientes de temperatura e pela transferência de calor. Para o engenheiro, as principais
manifestações das duas camadas limites são, respetivamente, o atrito superficial e a transferência
convectiva de calor. Os parâmetros das camadas limites são então o coeficiente de atrito e o
coeficiente de transferência convectiva de calor.
No escoamento de um fluido sobre uma superfície existe sempre uma camada limite cinética e,
portanto, existe sempre atrito. No entanto, na camada limite térmica a transferência convectiva
de calor só existe se a superfície e a corrente livre tiverem temperaturas diferentes.
A camada limite pode ser laminar ou turbulenta. Os coeficientes de convecção são em geral
maiores para o escoamento turbulento do que para o escoamento laminar. Num mesmo
escoamento podem existir os dois tipos de camada limite, sendo necessário contabilizar ambos
para o cálculo do coeficiente de convecção médio.
Recorde-se de transporte de fluidos, que se podem distinguir dois tipos de regime a saber:
• regime laminar, tais que as trajetórias das partículas macroscópicas são retilineas
e paralelas entre si;
• regime turbulento tal que, à velocidade de translação do movimento laminar, se
sobrepõe uma velocidade de rotação que imprime características turbilhonares a
esse movimento.
Convecção

Figura 4 – Tipos de regime na camada limite

Distinguem-se assim três subcamadas, representadas esquematicamente, para efeitos de


visualização:
• subcamada laminar, na qual o movimento é laminar, trajetórias retilineas (
espessura x`);
• subcamada de transição, na qual se começam a sobrepor as velocidades de
rotação, embora com valor relativamente pequeno;
• subcamada turbulenta, turbilhões que aumentam as correntes de convecção.

Quando se pretende que q tenha um valor elevado deve-se estabelecer condições tais que a
espessura da subcamada laminar seja tão pequena quanto possível e consequentemente hc tenha
um valor elevado.
A determinação do coeficiente de convecção não é um problema simples, pois além de
dependerem de diversas propriedades do fluido, como densidade, viscosidade, condutividade
térmica e calor específico, os coeficientes dependem também da geometria da superfície e das
condições de escoamento (tipo de regime). Esta multiplicidade de variáveis independentes é uma
consequência de a transferência convectiva ser determinada pelas camadas limites que se
desenvolvem à superfície.
Com base nos números dimensionais ou característicos, é possível quantificar a transferência de
calor para os diversos casos de escoamentos, externos ou internos, laminares ou turbulentos.

Temos então expressões do tipo: Nu = Nu (Re, Pr, geometria)

7
Convecção

Significado físico dos números dimensionais:

ρvD
Re = O número de Reynolds, Ré, pode ser interpretado como a razão entre a força de
µ
inércia e a força viscosa da camada limite cinética.

cpµ
Pr = A interpretação física do número de Prandtl decorre da sua definição como a razão
K
entre a difusividade do momento ν e a difusividade térmica α. O número de Prandtl proporciona
uma medida da eficiência relativa do transporte de momento e do transporte de energia, por
difusão, nas camadas limites cinética e térmica, respetivamente.
hD
Nu = O número de Nusselt é o gradiente de temperatura dimensional numa superfície. O número
K
de Reynols define-se em termos da condutividade térmica de um fluido.

De3 ρ 2 ∆T β g
Gr = O número de Grashoff proporciona a medida da razão entre a ascensão e
µ2
as forças viscosas, na camada limite cinética. Este número dimensional é característico da
convecção natural, e o seu papel é muito semelhante ao do número de Reynolds na convecção
forçada.
Convecção

2.1. Convecção Forçada

Considera-se um tubo cilíndrico de secção circular, com diâmetro d e área de passagem ,

estando o eixo alinhado com a direção x. A velocidade média do fluido dentro do tubo é v (não
varia com x porque o caudal mássico é constante e a área de passagem também). A temperatura
média numa secção x (temperatura “bulk”) é T(x) (a temperatura pode variar com x uma vez que
o fluido vai sendo aquecido/arrefecido ao longo do tubo). A temperatura média bulk à entrada é
T1 e à saída é T2.

Figura 5 – Circulação de um fluido no interior do tubo, hi

O número de Nusselt para estes casos segue uma lei do tipo:

eq.7

Nota - As propriedades devem ser determinadas à temperatura média dos fluidos, exceto nos
casos explicitamente indicados.

1. Convecção forçada dentro de tubos cilíndricos

1.1. Regime Turbulento

Equação de Dittus-Boelter:

K b = 0.4 no aquecimento
h i = 0.023 (Re) 0.8 (Pr) b (eq.8)
Di b = 0.3 no arrefecimento

10 4 < Re < 5 x 10 5


Condições de aplicabilidade: 
0.7 < Pr < 160

9
Convecção

1.2. Regime de Transição

0.14
 h i Di  -1/3  µ 
  (Pr )  s  = f (Re ) (eq.9)
 K  µ 

{
Condição de aplicabilidade: 2.1 x 10 3 < Re < 10 4

µ s - viscosidade do fluido à temperatura da superfície do metal

L/D - comprimento do tubo/ diâmetro do tubo

Figura 6 – Curva para determinação da função de Reynolds na equação 9

1.3. Regime Laminar

1/3 0.14
h i Di   Di  µ 
= 1.86 (Re )(Pr )     (eq.10)
K   L   µs 
Re < 2000
Condições de aplicabilidade: 
convecção natural desprezável
1.4. Fluxo Turbulento de Gases

K
h i = 0.02 (Re )0.8 (eq.11)
Di
Convecção

1.5. Metais Líquidos

K
hi =
Di
[
7 + 0.025 (Pe )
0.8
] (eq.12 )

Condição de aplicabi1idade: Re > 2100

1.6. Equação Particular para a Água

v 0.8
h i = 4280 ( 0.00488 × T - 1 ). 0.2 (eq.13)
Di

[Di] = m [v] = m s-1 [T]=K [h] = W m-2 K

2. Convecção forçada entre dois tubos cilíndricos – fluido a circular no espaço anelar
Muitos problemas de fluidos a movimentar-se no interior de tubos, envolvem a transferência de
calor em tubos concêntricos (permutadores de duplo tubo). O fluido passa pelo espaço formado
pelos tubos concêntricos – espaço anelar.

Figura 7 – Fluidos a circular no espaço anelar - he

Quando se está a determinar a resistência que faz parte do coeficiente global da troca de calor
entre dois fluidos (o que circula na tubagem interna, hi, e o que circula no espaço anelar, he) o
filme do fluido que circula no espaço anelar forma-se no exterior da tubagem interna. Neste caso
é definido um diâmetro equivalente (diâmetro hidráulico) para determinar o valor de número de
Reynolds e para calcular o valor de he.

11
Convecção

D equiv = 4 * F
(eq.14)

área de passagem
F=
perímetro de transferência de calor

Figura 8 - Configuração do espaço anelar

Na figura anterior D1 corresponde ao diâmetro externo da tubagem interna e D2 corresponde ao


diâmetro interno da tubagem externa. Nestes casos é necessário definir a área de passagem
correspondente ao espaço anelar.

(eq.15)

assim
2 2
 π  (D 2 - D1 ) (D 22 - D12 )
D equiv = 4×  =
 4  π D1 D1 (eq.16)

Para a perda de pressão (e consequentemente para o número de Re)

(eq.17)
Convecção

2.1. Regime Turbulento

Equação de Dittus-Boelter:

K b = 0.4 no aquecimento
h e = 0.023 (Re) 0.8 (Pr) b (eq.18)
Dequiv b = 0.3 no arrefecimento
10 4 < Re < 5 x 10 5
Condições de aplicabilidade: 
0.7 < Pr < 160

2.2. Regime de Transição

0.14
 h e D equiv  µ 
  (Pr )-1/3  s  = f (Re ) (eq.19)
 K  µ 

{
Condição de aplicabilidade: 2.1 x 10 3 < Re < 10 4

µ s - viscosidade do fluido à temperatura da superfície do metal

L/D - comprimento do tubo/ diâmetro do tubo


Para a função do número de Reynolds utiliza-se o gráfico da figura 6.

2.3. Regime Laminar

1/3 0.14
h e D equiv   D equiv  µ 
= 1.86 (Re )(Pr )     (eq.20)
K   L   µs 

3. Convecção Forçada sobre Superfícies Externas


3.1. Fluidos no Exterior de um Cilindro e Perpendicular a Este
Um outro tipo de escoamento do fluido envolve o movimento do fluido na direção perpendicular
ao eixo de um cilindro (tubagem circular).

13
Convecção

Figura 9 – Fluido a circular no exterior de um cilindro, he

Equação de Ulsamer:

n m
K  ρ v De   cp µ f 
he = b f    (eq.21)
De  µ f   Kf 

f - propriedades a serem determinadas à temperatura de filme

Re b m n
0.1 a 50 0.91 0.31 0.385
50 a 104 0.60 0.31 0.500

3.2. Fluidos em Convecção Forçada Perpendicular a Feixes de Tubos

A transferência de calor num feixe de tubos, fluido a circular perpendicularmente a um feixe de


tubos, é importante em grandes aplicações industriais, como os permutadores de casco e tubos.
Normalmente há um fluido que circula no interior dos tubos (hi)e o outro fluido circula através
dos tubos (he).
As filas do feixe de tubos podem estar alinhadas ou desfasadas, conforme figura em baixo, na
direção da velocidade do fluido, v. A configuração é caracterizada pelo diâmetro (externo) de
cada tubo, pelo passo transversal, ST, e pelo passo longitudinal, SL, ambos medidos em relação ao
centro dos tubos. A determinação do coeficiente de superfície médio é calculada pela equação de
Mc Adams.
Convecção

a)Tubos Alinhados b)Tubos Desfasados

Figura 10 – Configuração dos tubos num feixe, em linha(a) ou alternados (b).

Equação de McAdams:

-0.33
 h De  cp µ f   ρ v max De 
   = φ   (eq.22)
 K f  K f   µf 

f - propriedades a serem determinadas à temperatura média do filme

em que

A função do número de Reynolds é determinada no gráfico da figura 11.

Figura 11– Representação da Equação de McAdams

15
Convecção

O número de Reynolds da equação de Mc Adams, é baseado na velocidade máxima do fluido


que circula no casco, no exterior dos tubos. A velocidade no feixe de tubos é máxima quando a
área de passagem é mínima, teorema da continuidade. Na configuração alinhada, vmáx ocorre no
plano transversal A1:
(eq.23)

Na configuração alternada, a velocidade máxima pode ocorrer ou no plano transversal A1 ou no


plano diagonal A2. Ocorrerá em A2 se o espaçamento das filas for tal que:

(eq.24)
E neste caso será dada por:
(eq.25)

Se vmáx ocorrer em A1, na configuração alternada, poderá ser calculada pela equação 23.
A equação de Mc Adams é utilizada para determinar o coeficiente de superfície quer na
configuração alternada quer na configuração alinhada. No entanto, é fácil verificar que na
configuração alinhada existem canais preferenciais que fazem com que a turbulência seja menor
na configuração alinhada relativamente à alternada. Assim, o coeficiente de convecção numa
configuração alinhada, calculado pela equação de Mc Adams, deve ser multiplicado por 0.8 para
corrigir os efeitos causados pelos canais preferências uma vez que nestes casos a resistência à
transferência de calor é maior.
O coeficiente de transferência de calor de um feixe de tubos é um coeficiente médio. No
movimento de um fluido perpendicular a um feixe de tubos, em que o número de filas em
profundidade (sentido de circulação do fluido) é inferior a 10 deve ser efetuada uma correção no
valor do coeficiente quer para a configuração alinhada quer para a configuração alternada. Isto
porque, o coeficiente de convecção associado a um tubo é determinado pela posição no feixe de
tubos. O coeficiente para um tubo, na primeira fila, é aproximadamente igual ao de um tubo
isolado, enquanto que, os coeficientes associados às filas mais internas são mais elevados. Os
tubos das primeiras filas atuam como grades de turbulência que aumentam o coeficiente de
convecção dos tubos nas filas seguintes. Na maioria das configurações, no entanto, as condições
de transferência de calor estabilizam a partir da décima fila.
Convecção

Correções

1. Para disposição em linha os valores de he devem ser multiplicados por 0.8

2. Para feixes de tubos com profundidade inferior a 10 camadas, multiplicar o valor de he


encontrado após a primeira correção (caso seja necessária) pelos valores indicados na tabela
abaixo.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
POSIÇÃO DOS TUBOS
DESFASADOS - 0.73 0.82 0.88 0.91 0.94 0.96 0.98 0.99 1.0
EM LINHA 0.64 0.80 0.87 0.90 0.92 0.94 0.96 0.98 0.99 1.0

17
Convecção

2.Convecção Natural

As correntes de convecção natural têm origem numa força de impulsão provocadas pela
diferença de temperaturas (ao contrário da convecção forçada em que as correntes de convecção
são essencialmente devidas a um agente externo). Como resultado da diferença de temperaturas
verifica-se também uma diferença de densidades que provoca o movimento do fluido. Em geral,
a transferência de calor por convecção natural é muito menor quando comparada com a
convecção forçada.

Figura 12 – Movimento em convecção natural.

A diferença de densidade devido à diferença de temperaturas pode ser caracterizado pelo


coeficiente de expansão térmica, β.

(eq.26)

(eq.27)

Figura 13 – Driving force na convecção natural.


Convecção

O número de Grashof define a razão entre as forças de impulsão e as forças viscosas:

(eq.28)

O número de Grashof está para a convecção natural assim como o número de Reynolds está para
a convecção forçada. Em convecção natural, a maioria das vezes, as forças de impulsão
sobrepõem-se as forças de inércia, sendo o número de Nusselt função do número de Grashof e
Prandtle. Nu= f(Gr.Pr).
Em muitos casos, é preferível definir um novo número dimensional, número de Rayleigh O
número de Rayleigh é a combinação do número de Grashof com o número de Prandtle,
Ra=Gr.Pr. O número de Rayleigh define a passagem do regime laminar para o regime turbulento
na camada limite. A transição na convecção natural depende da grandeza relativa da s forças de
impulsão e das forças viscosas no fluido. Para valores de Ra> 109 estamos em regime turbulento,
sendo que as equações anteriores só se aplicam para valores de Ra< 109.

Figura 14 -. Aquecimento de um fluido através de uma superfície quente (Placa de aquecimento).

2. Fluidos em Convecção Natural

2.1. No Exterior de um Único Cilindro Horizontal

h De
= φ (Gr, Pr ) (eq.29)
Kf

19
Convecção

Figura 15 – Variação de Nu Nu= f(Gr·Pr).

Nota: Todas as propriedades devem ser determinadas à temperatura do filme

2.2. Equações Simplificadas para o Ar

DOMÍNIO -2
h (Wm ºC)
GEOMETRIA DIMENSÃO REGIME Gr, Pr
4 9 1/4
CILINDROS LAMINAR 10 a 10 h=1.42(∆T/L) eq.30
ALTURA 9 13 1/3
VERTICAIS TURBULENTO 10 a 10 h = 1.31 ∆T eq.31
4 9 1/4
CILINDROS DIÂMETRO LAMINAR 10 a 10 h = 1.32 (∆T/De) eq.32
9 12 1/3
HORIZONTAIS EXTERNO TURBULENTO 10 a 10 h = 1.24 ∆T eq.33
Convecção

3. Convecção – Mudança de Fase

Uma vez que envolvem o movimento do fluido a Ebulição e Condensação são considerados
modos convectivos de transferência de calor. Nestes casos, o calor latente, associado à mudança
de fase é significativo. Em virtude da mudança de fase, a transferência de calor para o fluido
(ebulição) ou do fluido (condensação), dá-se sem alteração da temperatura do fluido que muda
de estado. Na ebulição ou na condensação, é possível haver grandes taxas de transferência de
calor com pequenas diferenças de temperaturas, entre o fluido e a superfície, pelo facto de o
calor envolvido ser o calor latente. Além do calor latente, outros dois parâmetros são importantes
no cálculo destas resistências, a tensão superficial σ na interface gás-líquido e a diferença de
densidades entre as duas fases (forças de impulsão). A combinação dos dois efeitos do calor
latente e as correntes do fluido provocado pelas forças de impulsão, fazem com que os
coeficientes de convecção de ebulição e condensação tenham valores muito elevadas originado
altas taxas de transferência de calor.

3.1. Ebulição
Numa instalação química, os líquidos são fervidos ou são levados ao ponto de ebulição quer em
contacto com superfícies submersas quer no interior de tubos verticais. Agitação mecânica pode
ser aplicada no primeiro caso e no segundo caso o líquido pode ser forçado por meio de uma
bomba exterior através dos tubos.
A ebulição dos líquidos sob estas condições leva normalmente à formação de vapor, primeiro na
forma de bolhas e, depois, numa fase vapor distinta, acima de uma interface liquida.
Relativamente à ebulição de líquidos sobre uma superfície submersa verifica-se que o coeficiente
de transmissão de calor depende muito da diferença de temperatura, entre a superfície quente e o
líquido em ebulição.
Nukiyama é o primeiro a identificar os tipos de ebulição em vaso aberto:
1. Evaporação na interface/Convecção Natural - Aqui, as bolhas de vapor formadas sobre a
superfície aquecida movem-se para a interface liquido-vapor por convecção natural e
ocasionam muito pouca agitação no líquido. Corresponde a uma pequena diferença de
temperatura e o coeficiente de transmissão é baixo.

21
Convecção

2. Ebulição nucleada - Existe no intervalo em destaque na figura 16 (A – C). Podem ser


diferenciados dois regimes de escoamento diferentes. Bolhas isoladas - Para gradientes
de temperatura mais elevados, as bolhas formam-se mais rapidamente e a partir de um
maior número de centros de nucleação. Assim, as bolhas exercem uma acentuada
agitação do líquido e o coeficiente de transmissão de calor sobe rapidamente. Para a
ebulição em aparelhagem industrial trata-se da região mais importante. Jatos de Bolhas -
- Com um valor suficientemente alto de ∆T, as bolhas formam-se tão rapidamente que
nem chegam a abandonar a superfície de aquecimento e, por isso, formam uma camada
sobre a superfície. Isto significa que o líquido não consegue entrar em contacto com a
superfície, devido à existência das bolhas, e o coeficiente diminui.
3. Ebulição de transição - coeficiente máximo verifica-se durante a fervura ou ebulição
nucleada, mas numa região de funcionamento instável. Ao passar da zona de ebulição
nucleada para a zona de ebulição com filme, ou pelicula estável, constata-se uma
primeira mudança crítica e que é um abaixamento do fluxo de calor e uma segunda
mudança que corresponde ao início da ebulição com filme estável.
4. Ebulição com pelicula estável - para valores de gradiente de temperatura mais elevados, o
coeficiente de transmissão de calor sobe de novo, devido à transferência por radiação.
Convecção

Figura 16 – Curva de Ebulição para a água a 1 atm.


O conhecimento dos fatores que intervêm no processo põem em evidência a complexidade do
fenómeno, como sejam: natureza da superfície, diferença de temperatura, pressão e as próprias
propriedades físicas do líquido. Assim, por exemplo, uma superfície rugosa em que as
rugosidades sejam pouco pronunciadas, pode dar ocasião a que as bolhas se desprendam mais
facilmente nalguns pontos que numa superfície lisa ou sem irregularidades. Devido ao
envelhecimento da superfície é possível, por outro lado constatar a diminuição dos fluxos de
calor. Um liquido que molhe a superfície com mais intensidade tende a libertar as bolhas de gás e
liberta-as mais rapidamente que um liquido que não molhe a superfície tão facilmente, pois as
bolhas alargam-se ao longo da superfície e reduzem a área de transferência entre a superfície
quente e o liquido. Outro aspeto, reporta-se à disposição da superfície; um tubo vertical, por
exemplo, com as bolhas subindo no seu interior, apresentará um valor critico de ∆T muito mais
elevado que um tubo horizontal no qual as bolhas se formam no seu exterior.
A curva de ebulição é característica de cada fluido e das condições operatórias, assim as
correlações para determinar os coeficientes, ao contrário dos outros tipos de convecção, não são
generalistas mas aplicando-se caso a caso.

23
Convecção

3.2. Condensação
A condensação ocorre quando a temperatura de um vapor é inferior à temperatura de saturação.
Nos equipamentos industriais, o processo é resultante do contacto entre o vapor e uma superfície
fria.
O vapor saturado, liberta energia ao condensar (entalpia de mudança de estado – calor latente)
que é transferida para a superfície fria, a qual pode ter lugar segundo uma das formas:
• Condensação tipo película, o liquido condensado molha a parede sobre a qual ocorre a
condensação e forma um filme de condensado. Ocorre principalmente em superfícies
limpas e lisas.
• Condensação tipo gotícula, o liquido condensado não molha a superfície e formam-se
gotas de vários tamanhos que crescem e caem, deixando uma superfície livre onde se
formarão novas gotas. Nesta situação o fluxo térmico não tem de atravessar a pelicula por
condução, de que resultam valores de h muito elevados, podendo ser mais do que o dobro
do h tipo pelicula. O vapor de água é o único vapor puro para o qual se obteve
condensação por gotas. Ocorre principalmente em superfícies gordurosas e rugosas.

Outras formas são:


• Condensação homogênea ou formação de névoa, na qual o vapor se condensa como
gotículas suspensas numa fase gasosa e forma uma névoa, provocada pela diminuição de
pressão numa expansão.
• Condensação por contacto direto, que ocorre quando o vapor entra em contacto com o
liquido frio.

Os coeficientes tipo película são menores que os coeficientes tipo gotícula uma vez que as
resistências na condensação tipo película são maiores. Na condensação tipo película toda a
superfície está coberta de filme (mo estado líquido) oferecendo maior resistência à transferência
de calor. No caso de termos um fluido a condensar vamos considerar que esta condensação é do
tipo película.
Convecção

3.2.Condensação Tipo Película


3.2.1. No Exterior de Tubos Horizontais

No caso dos tubos se encontrarem em posição horizontal o filme de condensado desenvolve-se


ao longo do perímetro do tubo sujeito a uma aceleração correspondente à componente gravítica
na direção tangencial ao tubo.
Os tubos em condensadores normalmente não se encontram isolados e em geral o filme
condensado num determinado tubo cairá sobre outros tubos na mesma linha vertical.
Considerando que o filme de líquido mantém as suas condições quando passa de um tubo para o
seguinte permite concluir que a correlação para o coeficiente de convecção apresenta a mesma
forma, substituindo o diâmetro do tubo pela dimensão característica ND, onde N é o número de
tubos alinhados numa mesma linha vertical.

Figura 17 – Condensação no exterior de um cilindro


Equação de Nusselt:
1
 K f 3 ρ f 2 g ∆H v  4

h = 0.725   (eq. 34)


 N De µ f ∆T 
 

3.2.2 No Exterior de Tubos Verticais

Se o vapor se condensa sobre uma superfície disposta verticalmente, o filme de condensado


escorre, mas a viscosidade do líquido retarda a descida. Esta ocorre em geral em regime laminar
sendo o calor transferido por condução.

25
Convecção

Figura 18 – Condensação no exterior de um cilindro vertical

Equação de Nusselt:
1
 K f 3 ρ f 2 g ∆H v  4

h = 0.943   (eq.35)
 L µ f ∆T 
 

3.2.3. No interior de Tubos Horizontais

O coeficiente de transferência de calor no interior de tubos depende da orientação do tubo e da


fração de vapor que condicionam o tipo de escoamento no seu interior. No caso de o vapor não
ter velocidades muito elevadas em tubos horizontais verifica-se um escoamento acamado onde o
líquido ocupa a parte inferior do tubo. Neste caso o vapor em contacto com a parte superior do
tubo condensa, formando-se um filme de líquido condensado que, por gravidade escorre para a
parte inferior do tubo. Nesta situação o coeficiente local de transferência de calor varia muito ao
longo do perímetro do tubo sendo na zona superior a maior contribuição resultante de
condensação em filme. O coeficiente de convecção médio pode ser calculado pela equação de
Chato.
Equação de Chato:

1
 K f 3 ρ f 2 g ∆H v  4

h = 0.555   (eq.36)
 D µ f ∆T 
 

{
Condição de aplicabilidade: Re < 3.5 x 10 4 , onde Re é avaliado nas condições de entrada do
tubo.

Quando a velocidade do vapor é elevada no interior dos tubos, independentemente da orientação


destes, o vapor arrasta o líquido junto à superfície dando origem a um escoamento anelar. Neste
Convecção

caso aplica-se uma correlação para o coeficiente de convecção forçada no interior de tubos,
Equação de Akers, Deans e Crosser:

K
h = 0.026 (Pr )1/3 (Re m )0.8 (eq.37)
Di

{
Condição de aplicabilidade: Re > 3.5 x 10 4 , onde Re é o número de Reynolds da mistura,
definido por

12
Di  ρ 
Re m = G filme + G vapor  filme  (eq.38)
µ filme   ρ vapor 
 

Tf = Tvs - 0.75 ∆T (eq.39)

Tvs - temperatura de vapor saturado


∆T - diferença de temperatura entre o vapor e a superfície
∆Hv - calor latente de vaporização do líquido

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