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Lilith, O Mistério da Serpente

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Ana Carolina Capriolli

Módulo 2
A Mitologia de Lilith

Lilith é uma Deusa milenar, há correspondências de seu


culto que migraram entre diversos povos e culturas mais
antigas que o judaísmo, então tenham em mente que sua
origem é complexa e altamente discutível.
Nos dias atuais vemos a imagem de Lilith muito vinculada
à visão judaica, o que faz com que muitas pessoas
esqueçam suas origens ainda mais remotas. Lilith como
uma Deusa antiga é atualmente mal interpretada através
de anacronismos, ou seja, muitas pessoas passaram a
atribuir a Lilith valores modernos que não condizem de
fato com a sua origem pagã.
O paganismo possui duas fases: a primeira fase é a mais
antiga e enraizada, que esteve presente na Mesopotâmia
e marca a origem da Deusa Lilith, cultuada na Suméria. A
segunda fase é mais tardia, posterior ao Cristianismo e
antecessora a Alta Idade Média, que possuía uma filosofia
pagã influenciada pela concepção monoteísta em alguns
aspectos, o que ocasionou algumas divergências com o
paganismo original.
A origem dos conceitos de bem e mal surgiram a partir do
Zoroastrismo, uma religião de origem Persa, fundada pelo
profeta Zaratustra. O Zoroastrismo influenciou o Judaísmo
em diversos aspectos, tendo em vista que os persas
mantiveram contato com os judeus e os ajudaram na luta
contra os babilônios, os judeus passaram a agregar os
valores que separavam as sombras da luz do Zoroastrismo
em sua religião e “demonizaram” as religiões de seus
povos inimigos, como os babilônios.
Tendo em vista a origem do Judaísmo e quais os pilares da
religião, podemos então formular também quais são os
pilares do Cristianismo, que carregou os estigmas do
Judaísmo. É importante saber que para cultuar uma Deusa
antiga como Lilith, é essencialmente primordial a
libertação de concepções judaicas-cristãs.
Lilith também pode ser considerada uma Demonesa, pois
os demônios, de uma forma geral, são na verdade Deuses
antigos que foram transformados em seres temidos e
negativos pela religião monoteísta.
 Sumerianos:
A Mesopotâmia foi uma área situada entre os rios Tigre e
Eufrates, durante a antiguidade, estando atualmente
localizada no Oriente Médio. A Mesopotâmia é
considerada como o berço da humanidade, estando nela
localizada as primeiras cidades-estados, ou seja, as
primeiras civilizações humanas.
A Suméria localizava-se ao sul da Mesopotâmia, sendo os
sumerianos considerados como a civilização mais antiga
da humanidade, datando de 5.000 a 4.000 a.C. O povo
Sumeriano era politeísta e cultuava divindades ligadas aos
sentimentos humanos e a natureza, pois buscavam através
de suas crenças explicar a origem de fenômenos naturais e
sentimentos humanos.
Lilith sumeriana era uma Deusa primordial relacionada aos
ventos e ao sexo, chamada de Lil, cujo nome faz referência
as tempestades. Lilith desde a antiguidade era uma Deusa
cultuada para despertar os poderes femininos.
As deusas relacionadas à Lilith na Suméria são Inana,
Deusa do sexo, amor e fertilidade, e Tiamat, uma Deusa do
Caos vinculada ao oceano, possuindo uma imagem de
dragão ou serpente marinha.
O povo sumeriano foi conquistado pelos acádios, o que
nos leva em uma nova etapa da história.
 Os Acádios
O Império Acádio é datado de 2.300 a.C, sendo o primeiro
império a emergir na Mesopotâmia. Os acádios eram
conquistadores, por isso dominaram muitos povos para
levantar seu império, sendo o povo sumeriano um de seus
conquistados, o que ocasionou uma grande influência
cultural e religiosa no povo acádio, que também era
politeísta.
Dos acádios surgiu a Deusa Ishtar, cuja derivação seja da
suméria Innana, sendo a Deusa do amor, da sexualidade,
das guerras e da lua. Ishtar, também foi uma Deusa ligada à
fertilidade, aos partos e a prostituição, também vinculada à
imagem de Lilith.
O Império Acádio teve sua queda por volta de 2.150 a.C, o
que ocasionou uma união dos povos da Mesopotâmia,
que se fragmentaram entre os Assírios e os Babilônios.

 Os Babilônios
A civilização babilônica emergiu por volta de 1.800 a.C,
sendo inicialmente uma pequena cidade acadiana, que
veio a se tornar uma grande cidade-estado após a queda
do Império Acádio, localizada ao sul da Mesopotâmia.
Os Babilônios herdaram a mitologia dos acádios,
consequentemente a dos sumerianos também, sendo
cultuada por eles as Deusas Innana, Ishtar e Tiamat.
 O Judaísmo
A concepção de que Lilith foi a primeira esposa de Adão e a
primeira existência feminina não está presente nas
escrituras judaicas, e sim no Alfabeto de Ben Sira, escrito
durante a Idade Média, que possuía sátiras e versões dos
mitos judaicos, portanto Lilith passou a ser popular como a
“primeira esposa de Adão” a partir da Idade Média.
Para alguns a figura de Lilith foi banida das escrituras para
que pudesse ser adequada aos preceitos e valores morais,
entretanto, Lilith continuou viva entre muitas tradições
rabinas orais. Lilith é também muito citada no Talmude e
em outros escritos, além do conhecimento oral.
Em Gênesis 1:27, diz: “E criou Deus o homem à sua imagem;
à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” Essa
passagem de Gênesis ocasionou muitas interpretações
sobre o mito da criação, levando muitos a acreditar que
Deus ao criar Adão, o homem, também criou a mulher,
Lilith.
O Zohar diz que a primeira criação de Deus era Adão, um
ser andrógeno (homem e mulher), não havendo a
separação de gênero, e Eva simbolizou a separação do
feminino de Adão, porém apesar da separação, Adão e Eva
eram um só.
A crença de que Deus criou um casal, Lilith e Adão, e que
Lilith não aceitou a forma que Adão impunha as relações
sexuais não está presente nas escrituras judaicas.
A suposta lenda da criação segundo o Alfabeto de Ben Sira
diz que como ato de rebeldia, Lilith fugiu em direção ao Mar
Vermelho e Deus enviou três anjos para convencê-la a
voltar, sendo eles Sanvi, Sansanvi e Samangelaf, mas a
mulher primordial recusou-se a voltar e continuou sua
jornada. No deserto, Lilith não se renegou e aceitou ser
quem era, continuando em direção ao Mar Vermelho, onde
encontrou Samael, tornando-se sua consorte, o que
segundo a lenda tornou Lilith a mãe de todos os demônios
e seres trevosos. Lilith afirmou ser encarregada de dizimar
recém-nascidos, pelo fato de que Deus matava centenas de
seus filhos diariamente, porém Lilith não poderia dizimá-los
caso os nomes dos três anjos fossem escritos na porta das
casas ou nos berços até o oitavo dia de vida dos meninos e
até o vigésimo dia de vida das meninas. Essa crença tornou-
se muito popular pela Europa durante a Idade Média,
período em que Lilith foi muito temida por também
supostamente causar poluções noturnas em homens,
sendo a ejaculação durante o sono um sinal de que Lilith
passou por lá e manteve relações sexuais com o homem.
Retomando novamente ao livro de Gênesis, as margens de
interpretação se estendem no segundo capítulo, que
aborda a criação de Eva, porém alguns detalhes na
descrição nos chama a atenção, sendo o versículo 22 o que
diz: “E da costela que o Senhor Deus tomou do homem,
formou uma mulher, e trouxe-a a Adão’’ e o versículo 23
também diz: “Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da
minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do
homem foi criada.” O que levou a conclusão de que Eva
sucedeu outra existência feminina, Lilith, e para que a
história não seja reprisada, Deus a criou a partir da costela
do homem, pois se fosse criada a partir dos pés de Adão
estaria muito abaixo e se fosse criada a partir de sua cabeça
estaria muito acima, portanto a costela lhe causaria
redenção ao homem. Mas mesmo que precauções fossem
tomadas para que outro ato de rebelião fosse prevenido,
Eva mesmo assim atentada pela figura de uma serpente
comeu do fruto proibido e coagiu da mesma maneira que
Adão comesse do mesmo fruto e a partir deste ponto
começaremos a relacionar Lilith à imagem da serpente do
Éden.
Para a lenda, a serpente tentadora seria Lilith que retornou
ao Éden em busca de sua vingança contra Adão, em forma
de serpente, e através do ato de provar do fruto proibido
Adão e Eva perderam sua imortalidade e ambos foram
condenados por Deus, sendo Adão condenado a sair do seu
lar e trabalhar e Eva condenada a sentir dores de parto.
Lilith aparece nas escrituras judaicas, porém de outra forma
como foi popularmente conhecida, como a primeira criação
feminina, opositora e rebelde. Lilith, no Zohar é
contextualizada como um demônio noturno sorrateiro que
tem como objetivo levar a humanidade à ruina.
Na Kabbalah encontramos a Árvore da Vida, e a Árvore da
Morte (ou Árvore do Conhecimento), uma é o oposto da
outra, pois a da Vida representa as virtudes e a da Morte
representa a ruína e o pecado. Lilith aparece na Árvore da
Morte, sendo a porta de entrada dela, que guarda a
entrada para o submundo e o conhecimento oculto.
Os Arquétipos

O termo “arquétipo” surgiu através do psicanalista Carl


Gustav Jung, durante o século passado. Segundo Jung,
arquétipos são modelos ou imagens primordiais, cuja
referência é mística e habita o inconsciente humano
coletivo, ou seja, arquétipos são imagens que ficam
espelhadas no nosso inconsciente.
Os arquétipos de Lilith e Eva são atualmente muito
comentados, pela visibilidade que o assunto tomou,
porém sempre estiveram presentes no inconsciente
coletivo como imagens projetadas sobre o feminino,
sendo Lilith o arquétipo da mulher selvagem e
independente, e Eva o arquétipo da mulher submissa e
passiva.

 O Arquétipo de Lilith
O arquétipo de Lilith é o da mulher indomável e selvagem,
pois ela aceita sua natureza primordial e extrai dela seus
dons, seu brilho e sua sombra. Sendo o arquétipo de Lilith
marcante pela livre sexualidade e autoaceitação. Para que
este arquétipo se faça vivo não precisamos idealizar uma
mulher em condição de ninfomania, muito pelo contrário,
pois ser mulher é uma condição de caráter e não de sexo.
 O Arquétipo de Eva
O arquétipo de Eva é marcado pela ausência de liberdade
e autonomia, sendo este arquétipo responsável por definir
a mulher como alienada e sem motivação própria, que
para viver seus sonhos precisa da autorização de um
homem. Outras características marcantes do arquétipo é o
da servidão, pois ela não vive para ela mesma, ela vive da
ausência de autoconhecimento e sexualidade autônoma.

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