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QUERO PORQUE QUERO

Autor: Alexandre Compart


Ilustradora: Jordana Germano
Ano de edição: 2013, Belo Horizonte
Editora: Instituto Elo
Coleção: Cidadania para crianças
Temática da história: o respeito e o diálogo

Não há muito tempo atrás, perto daqui, vivia um menino que adorava fazer perguntas.
Esse menino chamava-se Henrique e ia fazer 6 anos. Já estava a aprender a ler e tinha imensos amigos.

Na escola, no parque…
em todos o lugares onde ia
sempre o Henrique fazia amigos,
brincava e se divertia.

Queria saber tudo sobre tudo


E para isso todo o tempo perguntava
_ Porquê? Como é isso?
E a cada dia que passava
Mais sabedor o Henrique ficava.

Mas a nossa história não começa aqui


Um grande mistério vamos revelar
Contando como o Henrique aprendeu
Que era importante perguntar.

Desde muito pequenino


O Henrique sabia o que queria
Mesmo antes de aprender a falar
Com o seu dedinho apontava e pedia.

Para o Henrique parecia magia


Era a pedir que conseguia
Uma bola… um carrinho…
Bastava apontar, que a mamã trazia!

Mal o dia clareava,


Ele o seu dedinho levantava
E se com o dedinho não desse certo
Num berreiro ele começava.

O Henrique era muito inteligente, aprendia depressa. Mal gatinhou, começou logo a andar. Não demorou
muito e já corria por toda a casa. Aprender a falar também foi fácil para ele.
Disse papá… mamã… e depressa dizia tudo. Até aprendeu a assobiar! E então deixou de usar o dedinho, pois
para pedir já não precisava de apontar.
Era só dizer as palavras mágicas:
_ EU QUERO! _ e conseguia quase tudo o que queria.
Cada dia que passava, mais inteligente e esperto o Henrique ficava. Mas também… mais ele queria e pedia.
_ Mas eu quero porque quero, mãe _ dizia o Henrique a toda a hora.
E se queria, queria mesmo, se não vocês já sabem, o Henrique desatava num enorme berreiro.
Nem mesmo a sua cadelinha, a Nala, conseguia escapar do seu querer por querer.
O Henrique era um bom menino, só o seu querer por querer não estava bem. Porque nem tudo pode ser ou se
consegue com choro.
Até os amiguinhos do Henrique com o tempo se foram afastando dele.
_ Tu só brincas se for como tu queres e isso não tem jeito nenhum!
Até mesmo a Nala, que adorava o Henrique, já se estava a cansar dele. Às vezes não lhe apetecia brincar, mas
o Henrique não compreendia isso.
Se queria brincar tinha que ser quando ele queria e da maneira como ele queria!
Se queria tomar banho queria porque queria… e se não queria… esperneava… gritava… mesmo que já
estivesse a passar da hora!
_ EU QUERO PORQUE QUERO, MÃE!
_ EU NÃO QUERO PORQUE NÃO QUERO!
A cada dia que passava, o quero porque quero do Henrique piorava!
_Mãe, eu quero a Lua!
_Mas, Henrique, a Lua é muito grande. E é de toda a gente, É tão grande que não pode ser de um só menino. A
mamã não te pode dar a Lua!
_ MAS EU QUERO PORQUE QUERO A LUA, MÃE!
E então, acho que vocês já sabem, mais uma grande choradeira!
A mãe do Henrique percebeu que alguma coisa tinha de ser feita. Cada vez ele queria mais e por isso cada vez
menos amigos queriam brincar com ele.
Mas se o Henrique era esperto, a sua mãe também o era. Pensou muito sobre como conseguiria mudar aquela
situação. Então lembrou-se de uma história que a sua mãe, a avó do Henrique, lhe tinha contado quando ela
era pequenina: a história do Quero-porque-quero.
_ Já sei!_ disse ela, feliz com a ideia que teve. _ Vou contar a história do Quero-porque-quero ao Henrique,
hoje mesmo!
Quando chegou a noite e o Henrique já estava pronto para ir para a cama, a mãe já sabia o que ele iria pedir:
_ Mamã, eu quero porque quero ouvir uma história!
A mãe, que adorava contar histórias para o Henrique, sabia bem qual iria contar desta vez.
_ Hoje, Henrique, vou contar-te uma história que nunca irás esquecer. Essa história foi a tua avó que me
contou quando eu era da tua idade!
_Conta depressa, mãe, que eu quero porque quero ouvir essa história!
_ Até parece que adivinhas, pois acabaste de o dizer… é a história do Quero-porque-quero!
_ Do “Quero-porque-quero”? – repetiu o Henrique, cheio de curiosidade.
_ Era uma vez…_ começou a mãe a contar _ um passarinho muito esperto e inteligente.
Esse passarinho vivia numa linda floresta encantada onde viviam muitos e muitos passarinhos de todas as
cores e tamanhos. E também muitos outros bichos.
_ Sabes como se chamava esse passarinho, Henrique?
Como vocês sabem, o Henrique era um menino esperto e já desconfiava da resposta, mas abanou a cabeça e
deixou que a mãe continuasse.
_Quero-porque-quero!_ exclamou ela. _ E sabes porque tinha esse nome, Henrique?
_ Não sei, mãe…
_ Cada passarinho canta de uma forma diferente _ explicou a mãe_ O Bem-te-vi, por exemplo, canta beeeeem-
te-viiiii!
O Quero-porque quero passava o dia a cantar:
Queroporquequero!
Queroporquequero!
Queroporquequero!
O Henrique não tirava os olhos da mãe.
E enquanto ela ia contando a história ele ia imaginando o Quero-porque-quero a cantar e a voar de ramo em
ramo na floresta encantada.
_ Mas mesmo vivendo numa floresta encantada_ continuou a mãe a contar_ podendo voar por todos os lados
e tendo tantos passarinhos e outros bichos para brincar com ele, o Quero-porque-quero não era feliz e vivia
triste e sozinho.
O Quero-porque-quero queria tudo à sua maneira… e só quando ele queria. Se queria brincar com outro
passarinho, a brincadeira tinha de ser como ele queria… e se queria pousar num ramo onde já estivesse um
outro passarinho… ele tanto queria porque queria… que bem alto dizia:
_ QUERO PORQUE QUERO! QUERO PORQUE QUERO!
O outro passarinho acabava por sair de lá, só para não ter de ouvir toda aquela gritaria.
E a mãe ia contando… e o Henrique imaginando…e pensando… e pensando…
_ E por querer tudo à sua maneira e na hora que ele queria, o Quero-porque-quero acabou por ficar sem
nenhum amigo…
_Coitadinho do passarinho, mãe, que vivia tão triste e sozinho_ disse o Henrique com os olhos cheios de
lágrimas.
_ Não precisas de ficar triste _ consolou-o a mãe_ espera até a história terminar.
_ Conta, mãe! _ disse o Henrique, engolindo o choro.
_ Certa tarde, ao observar os outros passarinhos a brincar, o Quero-porque-quero descobriu uma coisa
incrível… nem sempre todos queriam as mesmas coisas… mas sempre conseguiam brincar e se divertir juntos,
porque sabiam deixar de querer as coisas como queriam para que todos pudessem também querer.
E muitas das vezes os passarinhos mudavam um pouco o que queriam, ou deixavam mesmo de querer!
E aprendeu também que antes de querer só por querer é preciso saber porquê.
Porque nem tudo dá para querer ou ter quando se quer.
Assim todos podiam brincar juntos e felizes.
No dia seguinte, o Quero-porque-quero resolveu descobrir se era mesmo verdade o que tinha observado e
descoberto e perguntou ao Bem-te-vi:
_Bem-te-vi, vamos brincar agora lá no alto daquela amoreira?
_ Agora eu não posso, Quero-porque-quero.
Então o Quero-porque-quero, em vez e dizer, como antes, que queria porque queria, perguntou:
_ Porquê?
E o Bem-te-vi respondeu:
_ Porque estou à espera da minha mãe. Vamos a casa da minha avó e ela disse para eu esperar aqui.
_ Ah, está bem_ disse o Quero-porque-quero_ Então porque não vamos lá mais tarde?
_ Claro! _ respondeu o Bem-te-vi_ No final da tarde podemos ir brincar os dois na amoreira.
O Quero-porque-quero ficou satisfeito. Ia brincar com o Bem-te-vi, quando ele regressasse da casa da sua avó.
_ Até logo, Bem-te-vi. _ disse o Quero-porque-quero e saiu a voar por entre as árvores.
Ao voar bem alto na floresta, o Quero-porque-quero viu que ao lado da casa do João-de-barro havia muitos
frutos. Pensou ir lá poisar e pedir ao João-de-barro que o ajudasse.
_ João-de-barro, podes ajudar-me a apanhar alguns frutos?
_ Eu bem gostava de te ajudar, Quero-porque-quero, mas acho que não seria uma boa ideia…_ disse o João-
de-barro.
_ Não?! Mas porquê?
_ Porque ainda estão verdes e se os comeres apanhas uma grande dor de barriga.
_ Ah, compreendo! Obrigado, João-de-barro, por me dizeres. Quando eles estiverem maduros, podes avisar-
me, por favor?
_ Claro que sim! E até te ajudo a apanhar todos os que tu quiseres.
O Quero-porque-quero agora já tinha mesmo a certeza:
_ O que aprendi dá mesmo resultado! _ exclamou _ Nunca mais vou querer só por querer. De hoje em diante
vou sempre perguntar e tentar compreender tudo.
E assim, a conversar e a tentar perceber o porquê das coisas, a vida do Quero-porque-quero mudou
completamente.
Num instante reconquistou os amigos e até fez novas amizades.
E desde esse dia em diante, o Quero-porque-quero viveu feliz para e sempre e rodeado de amigos.
_ Que história bonita, mãe!_ disse o Henrique já quase a dormir._ Ainda bem que o Quero-porque-quero fez
aquela descoberta.
E dormiu tranquilo, depois de receber um grande beijo da mãe.
Na manhã seguinte, a mãe percebeu que alguma coisa tinha mudado. E não tinha sido pouco!
O quero porque quero do Henrique tinha desaparecido. E para tudo agora o Henrique perguntava:
_Porquê?
Quando a mãe dizia que estava na hora do banho ou de ir para a escola, em vez de ele dizer que não queria
porque não queria, perguntava:
_ Mas porque tenho de tomar banho?
_ Porque tenho de ir para a escola?
Então, muito feliz, a mãe explicava:
_ O banho é muito importante, Henrique, e andar limpinho é tão bom! Ir para a escola também, pois aprendes
lá coisas novas e fazes muitos amigos.
E desde esse dia em diante, se a Nala não queria brincar o Henrique deixava-a sossegada e não tardava era ela
que o ia procurar para a brincadeira!
E assim o Henrique foi ficando cada vez mais esperto, mais sabedor, com mais amigos… e os pais cada vez mais
orgulhosos dele!

História retirada do site: http://issuu.com/beebgondomar/docs/queroporquequero-visualizaoemtela-1/1

Adaptação ao português de Portugal por: profª Ana Maria Duarte - janeiro de 2016

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