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3 A EQUIVALÊNCIA DE CAPITAIS

Neste capítulo será objecto de análise o conceito de equivalência de capitais,


o qual permite resolver questões práticas através do cálculo do capital
único.

De facto, pode haver necessidade ou interesse em substituir um conjunto de


capitais com diversos vencimentos, por um capital único com um único
vencimento – substituir um capital comum com vencimento comum.

Exige-se, então, que um tal capital comum seja equivalente ao conjunto de


todos os capitais em dívida. Como se fará essa equivalência?

Após o estudo dos capítulos anteriores, já se sabe responder: tendo em conta


a produção de juros, o capital comum deverá ser igual à soma dos diversos
capitais previamente “reportados” ao vencimento comum.

É importante este ponto. Só é possível operar (somar, subtrair, comparar…)


sobre dois ou mais capitais, depois de os referir (reportar) ao mesmo momento
de tempo.

Capital equivalente a um conjunto de capitais com diferentes vencimentos

Definição do problema:

Dois conjuntos de capitais dizem-se equivalentes num dado momento,


quando as somas dos valores actuais, referidas a esse momento, dos
capitais que compõem cada um dos conjuntos, forem iguais.

300 100 Cc=? 150

0 1 1,5 2 2,75 3 ...

Taxa de avaliação do capital i = 10%


2

Logo, o capital comum será:

Cc(2)  3001 + 10%  + 1001 + 10%  + 1501 + 10% 


1 0,5 -0,75

ou

150
 3001  10%   1001  10% 
1 0, 5

1  10%0,75
= 574,53

Repare que, trata-se de substituir um conjunto de capitais com diferentes


vencimentos (300, 100, 150), por um capital único equivalente (capital
comum), com um único vencimento (vencimento comum). Neste caso, a
quantia de 574,53 é o capital comum ao conjunto de capitais referido, com
vencimento comum no momento t=2.

Generalizando:

Como obter o capital comum num momento qualquer t

Cc(t) = ?

1º passo

Localizar no vencimento comum cada um dos capitais,

Ck Ck

tk T tk ...

C k  1  i
tt k
 à esquerda de t : Capitaliza

C k  1  i
( tk t )
 à direita de t : Actualiza

C k (1  i ) t  t k
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2º passo

Adicionar os valores obtidos.


Cc( t )   C k 1  i
tt k

Exemplo 1

O Sr. A pretende constituir um PPR com o seguinte plano de entregas para


os primeiros 5 anos (valores a entregar no final de cada ano):
1º ano: 200
3º ano: 400
4º e 5º ano: 500

Suponha que o PPR tem uma taxa de juro anual de 2%

a) Se, em alternativa, decidisse fazer uma única entrega no início no 1º ano,


qual seria o valor dessa entrega, se pretendesse obter o mesmo valor
acumulado?

Cc(0 200 400 500 500


)
0 1 2 3 4 5

Pretende-se saber o capital comum no momento 0 (início do 1º ano)


equivalente ao conunto das 5 entregas:


Cc(0)   Ck 1  i 
0tk

Cc(0)  200  1  2%   400  (1  2%)  3  500  (1  2%)  4  500  1  2% 
1 5

200 400 500 500


Cc(0)    
1  2%  1  2%  1  2% 1  2% 5
1 3 4

Cc(0)  196,08  376,93  461,92  452,87

Cc(0)  1.487,80
4

Nota

Repare que o valor Cc(0) não é 1600 (200 + 400 + 500 + 500) !...

b) Se pretender substituir as duas primeiras entregas, por uma entrega única


no final do 2º ano, quanto deveria entregar?

200 Cc(2 400


)
0 1 2 3 4 5


Cc(2)   C k 1  i 
2t k

Cc(2)  200  1  2%   400  (1  2%) 1
1

400
Cc(2)  200  1  2%  
1  2%

Cc (2)  204,00  392,16

Cc (2)  596,16

Nota

Repare, uma vez mais, que o capital comum no 2º ano, Cc(2), não é 600
(200 + 400), dado que os capitais não são referidos à mesma data.

Note-se que em qualquer dos casos as novas entregas não correspondem à


soma algébrica daquelas que são substituídas...!
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Exemplo 2
Uma empresa tem a seguinte dívida, contraída a juros compostos à taxa de 6%:
1.000€ a pagar no próximo ano;
1.200€ a pagar daqui a 2 anos;
1.500€ a pagar daqui a 5 anos.

a) Qual o Valor Actual (VA) dessa dívida

1000 1200 1500

0 1 2 3 4 5

VA  Cc ( 0 )  1000 * (1  6%) 1  1200 * (1  6%) 2  1500 * (1  6%) 5

VA  Cc ( 0 )  3132,28

b) Pretende-se substituir os três montantes por uma prestação única, à mesma taxa,
daqui a quatro anos. Qual o seu valor?

1000 1200 1500

0 1 2 3 4 5

V4  C c ( 4 )  1000 * (1  6%) 3  1200 * (1  6%) 2  1500 * (1  6%) 1

V4  Cc ( 4)  3954,43

OU, como já sabemos o valor no momento actual (VA), podemos reportar esse
montante ao ano 4:

3132,28

0 1 2 3 4 5
6

V4  C c ( 4 )  3132,28 * (1  6%) 4

V4  Cc ( 4)  3954,43

c) Pretende-se substituir os três montantes por duas prestações (iguais), à mesma taxa,
a vencer dentro de três e cinco anos. Qual o seu valor?

3132,28 P P

0 1 2 3 4 5

Como já sabemos o Valor Actual da dívida:

VA  Cc ( 0 )  3132,28

logo,

3132,28  P * (1  6%) 3  P * (1  6%) 5

3132,28  P * 0,8396  P * (0,7473)

3132,28  P * 1,5869

3132,28
P  1970,00
1,5869

Ou seja, o montante de 3132,28 pode ser amortizado através de duas prestações


iguais de 1970,00, pagáveis nos anos 3 e 5.

Exemplo 3
Empréstimo contraído hoje à TAN de 8% com capitalização semestral. Deve pagar 500
dentro de um ano; 1000 a dois anos e 1496,77 dentro de três anos, a fim de liquidar a dívida.

a) Qual o montante do empréstimo?

500 1000 1496,77

0 1 2 3
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O montante do empréstimo, hoje, é o valor actual (VA) das três prestações


referidos (à taxa considerada)

Passo 1
Cálculo da Taxa Semestral Efectiva

8%
i1   4%
2 2

Passo 2
Cálculo do Valor Actual (VA)

VA  Cc ( 0)  500 * (1  4%)2  1000 * (1  4%) 4  1496,77 * (1  4%) 6

VA  C c ( 0 )  2500,00

Nota: como a taxa efectiva é semestral, o tempo deve ser “contado” em semestres.

b) Se daqui a um ano decidisse pagar, de uma só vez, a dívida (e o credor aceitasse),


qual o valor deste pagamento?

500 1000 1496,77

0 1 2 3

V1  Cc (1)  500 * (1  4%)0  1000 * (1  4%) 2  1496,77 * (1  4%)4

V1  C c (1)  500  1000 * (1  4%) 2  1496,77 * (1  4%) 4

V1  Cc (1)  2704,00

OU, como já sabemos o Valor Actual da dívida (alínea a):

VA  Cc ( 0)  2500,00
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logo,

2500

0 1 2 3

V1  Cc (1)  2500 * (1  4%)2

V1  Cc (1)  2704,00

ou seja, capitalizamos dois semestres o Valor Actual (VA) da dívida.

Exemplo 4

Uma empresa pediu um empréstimo, ficando de pagar 10000 ao fim de 5 meses a uma
taxa mensal efectiva de 1%. Decorrido um mês, o devedor propõe liquidar a dívida
(tendo sido aceite) por meio de dois pagamentos iguais, efectuando o primeiro
imediatamente e o segundo daí a 2 meses.

a) Qual o valor actual do empréstimo?

10000

0 1 2 3 4 5 meses

VA  C c ( 0)  10000 * (1  1%) 5

VA  Cc ( 0)  9515,00

b) Qual o valor de cada pagamento?

P P 10000

0 1 2 3 4 5 meses
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VA  Cc ( 0 )  P * (1  1%) 1  P * (1  1%) 3

10000 * (1  1%) 5  P * (1  1%) 1  P * (1  1%) 3

9515,00  P * (0,9901)  P * (0,9706)

9515,00  P * (1,9607)

9515,00
P  4852,71
1,9607

OU, podemos reportar os valores ao mês 5, dado que o montante é conhecido:

P P 10000

0 1 2 3 4 5 meses

10000  P * (1  1%) 4  P * (1  1%) 2

10000  P * (1,0406)  P * (1,0201)

10000  P * (2,0607)

10000
P  4852,71
2,0607

Ou seja, independentemente do processo escolhido, o valor das prestações terá que ser
sempre igual à divida, desde que reportado ao momento de tempo escolhido. Isto é, a
dívida não altera … o que altera e a forma de amortizar a dívida.

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