Você está na página 1de 4

Diretor: PEDRO CATALLO

Redação e Administração
K
y
ANO II
A IDÉÍA É COMO A GOTA D'AGUA. PODE REFLETIR A IMENSIDADE.

NÚMERO 8 SÃO PAULO, OUTUBRO DE 1967 Registro N.* 2.097


Rua Rubino de Oliveira, 85
Correspondência: Caixa Postal 5739
São Paulo
PREÇO NCr$ 0,20

PROVOS -Rebelião branca em busca de um mundo melhor


HAPPENING HOLANDÊS forto que surgiu. Os traba-
lhadores hoje são burgueses
ponsabllidade — perante si e
o resto da família. Como dizia
Buikhuizen escreveu uma te-
se sobre os díscoiniormes e às
informados da imprensa bra-
sileira. Não acreditando em
Outro ponto defendido é o de
que a mulher holandesa não
— As ruas de Amsterdã, na e é neste clima que foi possí- André Gide em 1894 — «as vezes violentos Jovens e os revoluções violentas para os deve ter mais de dois fUhos.
Holanda, ganharam novo co- vel o surgimento dos Provos. leis e regulamentos de condu- denominou de Provocadores países altamente desenvolvi-
lorido e estão em pé de guer- «Na Holanda fazer uma re- ta são essencialmente para a ou Provos, que ataoavmn a dos propõem medidas práti- ALASTBASE O MOVI-
ra oom o aparecimento dos volução seria impossível. Pela fase de infância. A educação autoridade para que ela reve- cas e de aplicação imediata. MENTO — Iniciado na Ho-
Provos. Reunidos em grupos, própria burguesia que não a é uma emancipação». Esta lasse sua verdadeira face. Um Vejamos algumas das medi- landa o movimento conta com
aos sábados, esses jovens pas- admitiria. Mas nossos Objeti- emancipação do indiviruo ano após surgiu outro grupo das : fortes simpatias populares e
sam aos gritos de — Hai, Hai, vos evolucionistas, uma revo- ainda é mal aceita na Holan- libertário entre os quais se a) Bicicletas brancas — £ alastrou-se rapidamente a, ou-
Happtening! Motivo suficiente lução pacífica — isto atingiu da. Mal compreendida e por encontravam van Duyn e eles importante na Holanda o sis- tros países como Itália, Fran-
para que a polícia a pé, de o povo no seu centro. Hoje isto logo tachada de anar- decidiram aceitar o nome de tema de locomoção através ça, Inglaterra, Bélgica etc.
Volkswagen, a cavalo, de bi- os Provos são um grupo de quismo. Provos i>ara si e para o seu de bicicletas. Existem perto
jornal. Alguns congressos já foram
cicleta e de cassê-tetes em pu- pressão, formado por vozes Na revista MANCHETE n» de 500.000 nesse país. Na ho- realizados, entre outros o da
nho invistam furiosamente individuais, cada um defen- 742, Bernard de Vries, perten- O OBJETIVO — Lou Van ra do rush Amsterdã se tor- Itália nos dias 24, 25 e 26 de
contra os grupos que se dis- dendo suas próprias idéias». cente ao movimento assim se Ninwegen explica: — «Esta- na intransitável devido a ôni- dezembro na cidade de Mi-
persam e se tornam a reunir Voltando à definição de expressa: —■ «Nós, Provos, mos infelizes com o mundo bus e automóveis. Propuse- lão. Descrito pelo jornal II
num processo contínuo até ríun os Provos que 200.000 Giomo de 27/12/66 como:
às quatro horas da madruga- bicicletas fossem pintadas de «uma sessão pitoresca e mul-
da, quando então a tranqüi- branco e que pudessem ficar tifacética de barbudos e caije-
lidade volta a reinar nas a disposição de qualquer pe» ludos, blusões coloridos e es-
ruas, sem não obstante, dei- soa que a quizesse utilizai travagantes, mocinhas páli-
xar um saldo apreciável de Deixaiido-a sempre destran das de olhos alKtratos, cóm-
feridos e presos. cada no lugar final de sua tos de protesto etc: mas na
utilização para que outra pes- essência uma forte tensão mo-
Usando cabelos longos, ida- soa pudesse utilizá-la. Em- su- ral e grande seriedade nos de-
de que varia de 18 a 25 anos, ma, propriedade coletiva das bates e resoluções. Sobretudo
vestindo calças compridas e bicíoletas. Melhora do tráfego quando o tema tratado foi a
claras em nada se diferenciam no centro da cidade. Elimi- luta anti-fascista em relação
dos jovens parisienses, lon- nação das descargas de gaso- a atual situação da EJspanha».
drinos ou belgas. Porém, den- lina que infestam as cidades.
tre os rebeldes do mundo in- Propuzeram e executaram! O Congresso terminou com
teiro têm o que se chama de Porém os trusts de fábricas um movimento de protesto
consciê^ncia política: são li- de bicicletas caíram ferozes junto à embaixada da Espa-
bertários. Protestam contra sobre a iniciativa. Revelando nha, com lutas e correrias e
um mundo absurtío e contra a face cruel do sistema capi- mais polícia que tentava
o sistema autoritário que o talista. inutilmente impedir a mani-
sustenta. Sabem por que pro- festação. Vários manifestan-
testam ! b) Plano das chaminés tes foram detidos e um imen-
brancas — Instalação de fil- so «garrote», instrumento
SABEM O QUE QUEREM! tros nas chaminés de todas bárbaro de suplício utilizado
as fábricas situadas na peri- na Espanha, foi deixado à
— Os Provos apareceram no feria das cidades para elimi- porta da emljaixada fran-
noticiário internacional j>or nar a poluição do ar. quista.
ocasião do casamento da c) Os frangos brancos —
Princesa Beatriz com o ale- «Frango branco» em gíria ho- REBELIÃO DA JUVENTU-
mão Klaus von Amsberg, em landesa é policia. O plano DE ATUAL — Ninguém po-
junho de 1965. Revoltados propõem que os policiais de- de ficar indiferente ao movi-
com a idéia de que uma prin- vem andar desarmados, sua mento de rebelião da juven-
cesa holandesa desjHDsasse um função deve ser protetora e tude atual. Em diferentes fa-
alemão que pertencera à ju- não repressiva. Em sua fun- cetas indo desde os beatniks,
ventude nazista, grupos de ção social seriam munidos de nozens, teddy boys, mangupl,
moças e rapazes munidos uma galinha para os que rockers stiliagl, até os blu-
com bombas de fumaça tu- tem fome, de medicamentos sões negros. Atingindo todos
multuaram a realização da de primeira urgência, de pí- os países indiferentemente
cerimônia. lulas anticoncepcionais, de ao seu desenvolvimento eco-
laranjas para os que precisa- nômico. Encontrados nos paí-
Ainda em junho houve em rem de vitaminas. ses da cortina de ferro e no
Amsterdã uma passeata de d) O plano das casas bran- mundo capitalista. Nos países
5.000 operários que saíram à cas — O problema da habita- desenvolvidos e sub-desenvol-
rua para protestar contra a ção na Holanda é grave. vidos. Atingindo as Universi-
retenção de 2% dos salários Aconselham os Provos uma dades Americanas com os
de férias dos trabalhadores distribuição mais equltativa movimentos contra a guerra
não sindicalizados, anunciada das habitações disponíveis. do Vietnã, com frases e dísti-
pelo Governo. Houve choques «Estamos infelizes oom o muiuh> em que vivemos». Os estudos que fizeram reve- cos que afirmam: Façain o
com a polícia e um trabalha- lam que existe disponível um Amor, Não a Guerra! Na dis-
dor morreu. No dia seguinte Provos, Irene afirma que o somos os provocadores por em que vivemos. Sentimos
movimento, embora tenha ní- excelência. Mas provocadores que adgo deve ser mudado e número de quartos iguais ao tribuição de manifestos anti-
os Provos ofereceram sua so- número de habitantes, mas militaristas nos quartéis, no
lidariedade e saíram à rua tidas tendências esquerdistas lúcidos e racionais. Queremos paira mudar o sistema em
provocar tudo, até que a que vivemos hoje, só i)ode- que estes quartos são mal uso da resistência passiva e
para lutar contra a ordem — e o seu apoio — êle nada distribuídos. Segundo os Pro-
burguesa e sua polícia. tem de comunista. «Somos atual sociedade vá pelos ares. mos querer seu oposto e é no movimento de objeção de
Somos contra o Estado, con- por isto que tomamos o ideal . vos ninguém deve morar em consciência. Apresentando al-
contra qualquer que seja a c^a grande ou pequena de- ta conscientização política
O movimento dos Provos autoridade, o que nos des- tra a Rainha, contra a auto- libertário como módulo. Os
tomou tal proporção que pro- ridade. Por quê ? Porque to- Provos não são um movimen- mais. como os Provos, que sabem
classifica automàticcmiente da e) O plano das esposas o que não querem e sat)em o
vocou a demissão do chefe de órbita bolchevista. Acredita- da autoridade é cômica. Cla- to contra uma pessoa ou ins-
Polícia de Amsterdã, o Prefei. tituição social. Provocamos a brancas — Este plano baseia- que querem. Atingindo os
mos, não obstante, na socie- ro, no Conselho de Amsterdã se em saber viver em famí- perseguidos beatniks que ape
to está ' demlsssíonário e o vou ntie sentíir na extrema Polícia, pois ela é o expoente
próprio Ministro das Relações
dade ooletivista. Se cada um
esquerda. Mas isto não quer máximo do nosso sistema. lia respeitando todos os seus nas sabem o que não que- ■
tivesse a liberdade e a res- membros. O planejamento ia- rem: a sociedade capitalista,
Interiores é o próximo da ponsabilidade de ação, isto po- dizer que eu seja comunista, ProvocEunos esta instituição
lista. Porém a população está para que o povo veja sua miUar com a criação de cen- mas não sabem o que que-
deria inclusive suprimir as nem sequer socialista. Muito tros médicos que forneceriam rem. Este movimento será
aceitando os Provos com ex- guerras para sempre. Pois se menos sou capitalista. Hoje, verdadeira face de violência e
trema simpatia, tendo Eissim de corrupção*. todas as informações sexuais objeto de nossa parte de uma
você deixar as decisões ao nas nações socialistas, quem para casados e solteiros. Di- ahálise em sucessivos traba-
que nas recentes eleições, sem povo na rua — nunca haverá não trabalha é tido como ini- «Somos libertários práticos,
campanha organizada, sem reito das pessoas solteiras e lhos a serem publicados em
guerras!» migo da sociedade. Nos regi- que repudiam toda violência. casadas terem filhos ou não. DEALBAR.
lançamento oficial, eles con- mes capitalistas, quem não Em comum oom os libertá-
seguiram 13.000 votos para Os Provos tem consciência
de que o movimento ainda é trabalha morre de fome. Ne- rios clássicos, não admitimos
seus candidatos. Cada Provo nhum dos dois sistemas sa- líderes nem autoridades. Que-
preso recebe vasta correspon- muito jovem e as idéias par-
cialmente imprecisas, este se- tisfaz à nós Provos. Sonha- remos a descentralização do
dência e a Rainha convocou mos com uma sociedade em
psicólogos sociais para estu- gundo fator considerado be- poder. Não apenas os indiví-
dar o fenômeno. néfico, pois se houver qual-
quer que seja a estruturação
que o homem tenha liberdade
total. O símbolo da atual so-
ciedade é a automação, as
duos devem ser responsáveis
perante si e seu próximo, SENSO
ALGUMAS OPINIÕES — surgiriam os lideres, a idéia como cada região, cidade,*^
máquinas que aos poucos vão
Irene Van Weetering, casada
inicial do individualismo se
perderia. substituindo o homem. Uma
miragem universal vê o ho-
bairro deve ser auto-govemá-
vel. POLÍTICO
com Jan Heim Doner, cam- Para Irene Van de Weete
ring é na educação que está mem integrado apenas na sna O QUE FBOP01SM DE
peão de xadrez da Holanda, vida espiritual. Meis não exis-
define os Provos como um a chave da explicação dos IMEDIATO OS FBOVOS? — Em política bem orientada, o essencial não
Provos. Realmente, as crian- te, no mundo de hoje, ne-
movimento dos países desen- nhum partido que apresente
volvidos, onde não há fome ças de hoje em dia são mais aos homens luna solução ou
Ê preciso licar bem daro é nutrir muitas idéias, mas saber, ainda que
mas onde falta o Interesse independentes, aprendem a que os Provos são dotados de
pensar por si e têbi mais li- um caminho que possam se- alta consciência política e so-
hiunano. As aspirações dos guir...» poucas. converte-las em realidades útei 5 à
Provos são de humanizar a berdade de ação se as compa- cial. Não são rebeldes sem
vida dos holandeses dando- rarmos com as crianças que O movimento teve origem causa. Sabem o que querem
lhes liberdade de agir, falar, foram nossos pais e avôs. A num grupo de libertários, en- e o que não querem. Não po- comunidade.
pensar e ser. Não há mais vida de família aos poucos so- tre os quais estava o proemi- dem ser identificados como
proletariado na Holanda por fra transformações com cada nente Jovem Roel van Duyn, simples baderneiros como o
causa da mentalidade de con- membro adquirindo mais res- estudante de filosofia. O dr. fazem certos JonuúlstM nuú

ATA ^^^^

unesp"^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa
aculdade de Ciências e Letras de Assis
10 11 2 23 24 25 26 27 2í 29 30 31 32 33
Solidarismo na vida social iirasileira
Em conseqüência do automatismo despersonalizador pais, figurando, entre outras, os Instituto Histórico e Geo- Essa é uma expressiva demonstração de quanto pode
gráfico, além de outras especialmente dedicadas aos estu- a iniciativa particular animada pelo imperativo do propó-
que caracteriza a sociedade em nossos dias, submetendo o sito, livre e espontâneo estabelecido, de ser levado a cabo
homem a um nivelador mimetismo social, a vida de todos dos da astronomia e, mais recentemente, também dos estu-
dos da astronáutica. determinado empreendimento.
nós se desenvolve num ritmo de rotina, cada qual executan- Infelizmente, nesse setor das atividades esportivas o
do as suas earefas em meio da azáfama do meio amibiente, — É cada vez maior a atividade que se desenvolve no
Brasil, por obra da iniciativa particular, em todos os se- profissionalismo prejudicou sua característica de esponta-
com a atenção quase que apenas voltada para o ângulo neidade, além de sujeitá-lo a influências desvirtuadoras, a
de suas incumbências especificas, com limitações de visão do tores da arte. compra e venda de jogadores de um clube para outro, a
conjunto. Os militantes das artes plásticas, além das mostras pe- exemplo do que se faz com cavalos de corrida ou de gado
Tudo se vai fazendo, todos os misteres vão sendo exe- riódicas, individuais ou conjuntas, organizam exposições para o corte, como, ainda, envolvê-los em manobras da po-
cutados sob a pressão do imperativo da necessidade, da permanentes. Como iniciativas de vulto, são promovidas as liticagem, o que é muito comum.
obrigação, de compromissos imediatos de ordem econômica, bienais, existindo os museus de arte em grandes centros. Entretanto, na maioria dos esportes e, principalmente,
técnicas, profissionais, sociais, familiares etc, sem que estas — No setor teatral a iniciativa particular desenvolve- no atletismo, as atividades se desenvolvem na base do ama-
atividades automatizadas exijam que a atenção se detenha -se não somente no amadorismo, mas também no meio pro- dorismo espontâneo e liberto de intuitos lucrativos, promo-
no exame do objetivo exato do que se faz, do alcance dos fissional. Entre os profissionais formam-se núcleos de vendo torneios e participando de disputas internacionais,
resultados das labutas, e, principalmente, do aspecto social artistas associados para a organização de espetáculos sem a sempre na base da livre iniciativa.
do entrosamento de todas as atividades. interferêincía de empresários. Para a atividade do amado- — No setor recreativo é característica a intervenção da
Se não fosse essa a norma de vida de nossos dias, se rismo formam-se grupos que chegam a preparar vários ele- iniciativa particular, com a promoção de atividades de vá-
as labutas do dia a dia não absorvessem as atenções, limi- mentos artísticos, depois atraídos pelo setor profissional. rias modalidades, que, muitas vezes, se concretizam de clu-
tando-Uíes o campo de observação, todos teriam a possibi->'tí" bes de existência permanente.
lidade de verificar que todas as atividades, formando nú- As agrupações de amadores promovem congressos re-
gionais, na oportunidade dos quais são realizadas competi- Os mais numerosos desses clubes são os que se desti-
cleos organizados, se entrelaçam numa natural e espontâ- nam à realização de festivais dançantes, incluindo diversos
nea entrosagem, para a movimentação de todos os seto- ções entre grupos procedentes de vários pontos do país.
Nesse setor são promovidos também cursos de arte deles em seus programas atos literários; outros para jogos
res de vida da sociedade em suas múltiplas modalidades — de salão, principalmente bilhar e xadrez, que se encarregam
à margem do Estado, embora envolvidas pelos entraves de teatral.
— Para o desenvolvimento das artes da música e do da promoção de torneios, e ainda outros para promoção
sua burocracia. canto, multipUcam-se as iniciativas por meio de grupos de festivais campestres, excursões e para caça e pesca etc.
vocais e orfeões, de orquestras, conjuntos musicais e ban- Típicos, por seu feitio femiiliar e da espontaneidade de
NAS LABUTAS PROFISSIONAIS das, que se movimentam na organização de concursos, sua organização, são os chamados «clubínhos por jovens e
Pode-se dizer constituírem excepção as atividades da recitais e concertos. que se destinam à realização de reuniões dançantes em ca-
sociedade brasileira cujos elemeneos não estejam agrupa- — O amadorismo na arte fotográfica também oferece sas das famílias dos participantes, revezadamente. Cada
dos em organizações das mais diversas modalidades, reu- oportunidade para demonstrações do valor da atividade par- moça encaiTCga-se de fornecer um «quitute», um; prato di-
■ nindo, com caracter civil ou sindical, as pessoas que labu- ticular, na organização de recursos estimulizadores do esfor- ferente (bolos, bolinhos, salgadinhos, pastéis, etc), ficando
tam em misteres profissionais e técnicos, culturais e cien- ço para um constante aperfeiçoamento e para a formação a cargo dos moços o fornecimento das bebidais (guaraná,
tíficos, literários e artísticos, recreativos e esportivos ; de de novos valores, bem, como na organização de exposições gasosas e outros refrigerEmtes), improvisando-se a parte
assistência e de educação íisica e mored, de relações huma- que patenteiam o alto grau de desenvolvimento adquirido musicEil.
nas além das de orientação filosófica, política, espiritualis- nesse ramo de atividades artísticas, o que igualmente se A manifestação recreativa de iniciativa particular que
comprova em suas publicações. mais se destaca pelo seu feitio popular e rumoroso é o Car-
ta etc. naval, no qual a dedicação e o esforço empregado na orga-
Esse movimento desenvolve-se no Brasil, como em toda — No meio folclorista ativam-se elementos esforçados
no desenvolvimento de iniciativas para a divulgação e cul- nização das modalidades de seu conjunto disputa a pri-
parte, em obediência à natural tendência de sociedade que masia ao entusiasmo pela perspectiva do gôso de um rápido
anima a criatura humana em busca de conseguir sempre tura do folclore em suas várias modalidades, promovendo-
-se por intermédio de suas organizações, festivais, exposi- período de fuga alegria.
maior grau de possibilidades no convívio da sociedade.
Animada por esse principio geral e impulsionada por ções e dembnstrações públicas. A vida intima dos clubes, dos ranchos, dos cordões e,
imperativos sociais é que existem as agremiações que, como principaknente das escolas de samba, desenvolve-se em
entidades cooperativas e sindicais, agrupam todos os seto- NAS ATIVIDADES ESPORTIVAS E RECREATIVAS ambientes às vezes de perturbante grotesco, mas que não
res da classe trabalhadora do Brasil, cujas unidades asso- chega a ofuscar a soma de esforços, de dedicações e até
ciativas se entrelaçam em federações e confederações, que Talvez seja no campo das atividades esportivas e re- de sacrifícios pessoais dispendidos para que seja dado o
se reúnem em assembléias, conferências e congressos mu- creativas onde a atuação particular se desenvolve com mais maior brilho possível às exibições a serem apresentadas às
nicipais, estaduais e nacionais. espontaneidade na promoção direta de iniciativas que, não multidões populares reunidas nas ruas durante o tríduo car-
Tem essa organização a finalidade de patrocinar os inte- raro, se positivam em organizações de caracter permanente navalesco em busca de breves e raros momentos de alegria
resses econômicos, profissionEiis, morais e sociais dos ele- Entre os esportes, o futebol é, certamente, a atividade coletiva que lhe permite a trituradora engrenagem da socie-
mentos que reúnem. Quando devidamente orientada, cons- mais popular em todo o peiís. Desde as grandes cidades, dade.
titui igualmente sua finalidade precipua dedicar-se à obra nas quais os seus clubes se contam por dezenas, estende-se Bem diz a canção carnavalesca tão divulgada pelas
educacional dos agremiados, bem como entrosar a reivindi- por toda parte, pelo interior afora, encontrando-se campos ondas hertsianas e pelo vídeo : «A gente trabalha o ano
cação de seus interesses específicos com os da população futebolísticos nas pequenas lixíaUdades, na zona rural, em inteiro para fazer a fantasia, para tudo se acabar na quar-
de que fazem parte integrante. sítios e fazendas. ta-feira ...»
Muitas agremiações do meio futebolístico surgem de Nessa estrofe de uma canção melancólica e brejeira
De seu lado, o patronato também mantém organiza- está expressada toda a soma de desfôrços, de sacrifícios
ções de cada um de seus setores na agricultura, na indús- improvisações curiosas. Numa rua de bairro pobre, alguns
rapazolas improvisam uma bola com um pé de meia cheia que devem dispender os carnavalescos (homens e mulheres)
tria e em outras atividades, reunidas igualmente em entida- para poderem figurar nos vistosos desfiles dos três dias de
des federativas, que promovem conferências e congressos de trapos e passam a pôr em perigo as vidraças das casas
circunvizinhas. Depois, juntam; os cruzeiros necessários Carnaval. Devem economizar durante todo o ano a soma
para tratar de seus problemas. de cruzeiros necessária pEira adquirir a indumentária com
— Esses movimentos de organização das atividades da para comprar uma bola de verdade e passam a jogar num
terreno vago das vizinhanças, já de calções e camisas lis- que terão de se apresentar, bem como sujeitar-se a prolon-
classe trabalhadora, por iniciativa de seus próprios comipo- gados ensaios — para que, na quarta-feira, tudo passe a
nentes (embora presentemente sujeita ao controle do Mi- tradas. Inicia-se, assim, a vida de um novo clube, que co-
meça a participar de jogos var7.eanos e a fornecer jogadores representar uma magoada recordação de um passado que
nistério do Trabalho), desenvolve-se igualmente entre os é de ontem...
elementos da profissões liberais, e dos técnicos, cientistas aos clubes de categoria, enti^'<*s quais um dia poderá pas-
sar a figurar. Edg^ard Levenroth
e artistas, como a seguir fica demonstrado.
Assim, aqueles que se dedicam ao ensino e à educação
estão agremiados em organizações destinadas não apenas
para a defesa de seus interesses econômicos, como também
para tratar dos problemas especificamente profissionais,
promovendo iniciativas de estudos, realizando conferências
MENOR ABANDONADO
e congressos, lançando publicações e outros trabalhos com Por Costa sério. Eles vêem; alguns com eles tenham o amparo de que moderna pedagogia a serviço
essa finalidade, sendo tudo isso de sua própria obra, sem amor e eles não. Alguns com precisam. É necessário que da humanidade.
a intervenção do Estado. Entre todos os problemas país e eles não. Alguns com eles adquiram a noção de li- E, sobretudo; é preciso ter
— É o que exateunente também sucede com os elemen- sociais que nos aifetam^ um alimentos e brinquedos e eles berdade e responsabilidade. sempre em mente que «ape-
tos que, profissionalmente, desenvolvem atividades técni- dos mais sérios é o problema não. Por que ? e vem então Solução que nos dá Neill em nas o amor constrói para a
cas, artísticas e científicas, promovendo, nesse sentido, ini- do menor abandonado. É uma a revolta ! Tornam-se agres- seu livro «Sumrríerhill». É a Eternidade.»
ciativas animadas por princípios solidaristas, como, por chaga social que todos preci- sivos. Procuram compensar o
exemplo, no trabalho em conjunto em laboratórios, atelie- SEun combater. Não só por que lhes é negado através da
res e oficinas comuns, engenheiros, arquitetos, médicos, ser a origem da delinqüência, destruição do que outros pos-
farmacêuticos, dentistas, na organização de exposições, mos-
tras de arte, etc. ^
mas pela necessidade de vi-
sar um futuro melhor a seres
suem.
É aí que entra em cena a
A PALAVRA
humanos, que, como tal têtai pseudo-justiça.
NO CAMPO DAS LETKAS, DA AKTE, DA CIÊNCIA. o direito de desfrutar seu qui- Ao invés de tratar os meno- Por Elsa Dubikin
nhão de felicidade. res com carinho, com amor,
Paralelamente a essa entrosagem das atividades de
elementos que se agrupam principalmente por contingências A má organização social é como seres que precisEim de Não entendo o diálogo
profissionais, opera-se em outros setores igual movimento fator preponderante para que proteção, ou até mesmo como
agremiativo sem nenhum intuito lucrativo, agindo, ao con- esta chaga não só subsista, injustiçados a caminho de um da palavra ôca,
trário, para o desenvolvimento de iniciativas de caracter so- como prolifere e seja dia a futuro melhor, não ! Fazem o da frase "social"
lidarista em suas múltiplas modalidades. dia, mais atuante. , contrário Tratam-nos como
Entre essas atividades avultam as que se dedicam à O menor é um ser indefeso, criminosos. Pegam-nos e os e sem nenhum sentido,
difusão da' instrução, da educação e da cultura em geral. e que sofre as influências di- colocam em Casas de Corrup- que cai e se desgarra
Por iniciativa de instituições especialmente organizadas retas do meio em que vive. Se ção, isto é. Casas de Correção,
para esse fim, de agremiações trabalhistas ou de outro ca- êle provém de um borii lar, ,os SAMS, abrigos de delin- como amarela folha »
racter, ou ainda, como obra de atividades individuais, fun- bom no sentido humanitário, qüentes. arrancada no outono,
dam-se escolas por todo o Pais, diurnas e noturnas, algu- , que lhe dê constantemente Esta instituição é algo que
mas para o ensino profissional, existindo tradicionais esta- amor e carinho ; que este precisa de urgente reforma. da qual ninguém se lembra ;
belecimentos desse caracter em vários Estados. A cam- lar o faça sentir-se querido; Os menores que para lá são fica solitária e perdida.
panha em prol da alfabetização desenvolve-se ativamente, esta criança crescerá sob sig- levados sofrem uma série de
sustentada pela iniciativa particular, fundando-se institui- no de responsabilidade, hones- massacres : físicos, mentais, Não concebo, mas me rebelo
ções para esse fim, algumas já com longos anos de servi- to para consigo mesmo e apto morais, etc. Fazem-lhes uma
ços, que mantêm ou estimulam a criação de cursos notur- a cumprir suas obrigações pa- série de imposições, uma série contra o vadio falar
nos, promovendo-se a coleta de livros escolares, cadernos e ra com os demais. de obrigações que pelo seu estéril como semente
lápis (até usados), para serem distribuídos pelos necessi- Mas, se pelo contrário, este condicionamento anterior não
tados. menor foi criado por país de- estão aptos a assumir. E o que sem germe, nem futuro
Nos estabelecimentos de ensino, os estudantes mantém sajustados ; se êle não tem é pior : aplicam grandes cas-
seus grêmios, cuja finalidade é a ajuda mútua em múlti- amor ; se êle vive ao relento, tigos, que longe de ajudar, O que não ata, não une
plas modalidades, cabendo aos centros acadêlmicos também ou por outra, se êle é um ser apenas brutalizam, o corpo,
o patrocínio dos interesses estudantis. Há também as agre- abandonado, naturalmente vai embrutecem o espírito e os estreitarriente
m.iações de antigos alunos que servem para mantê-los em se ressentir ; vai sofrer as tornam ainda mais revoltados. as almas e os homens.
contacto com suas passadas atividades escolares. influências do que vê, sendo Ora, estas crianças quando
Em alguns dos grandes centros escolares do País exis- moldado pelos exemplos que conseguem sair do reformató- Almejo o intercâmbio
tem as Casas dos Estudantes, que têm a sua finalidade indi- observa. E como emérito imi- rio, ou antes disso, quando
cada por sua denominação. Como todas as demais inicia- tador, copia o caráter dos que conseguem fugir, a única coi-
de mensagens vivas
tivas, esta também é obra direta dos interessados, isto é, o cercEun. sa que obtiveram foi um po- como os galhos
dos próprios estudantes. E aqui cabe a pergunta : o tencial tremendo de agressi-
— Como elemento coordenador de suas atividades no que é dado observar à estas de braços estendidos
vidade reprimida que precisa
mundo das letras, os escritores têm; associações de âmbito crianças ? ser liberto. em continuada espera,
nacional, estadual e locais, havendo também agremiações É simples. A criança tem
da mesma natureza em estabelecimentos de ensino e em uma lógica que ainda não foi Então se transformam em buscando sem desmaios
condicionada à falsidade em ladrões consoientes de estar
outros ambientes. fazendo o mal, se transfor- a universal fusão,
São numerosos os grêmios literários existentes não so- que vive o adulto. O que ela
vê é uma sociedade que des- mam em assassinos, em revol-
mente nos grandes centros, como também em pequenas lo- tados. Todo o «trabalho ár- Almejo o intercâmbio
.calidades. valoriza os sentimentos. Uma
sociedade que adora o Deus duo» dos «reformadores» se de mensagens vivas
Mantidos por organizações populares e por entidades perde.
especialmente constituídas para esse fim, há muitos ateneus Dinheiro; que vai às igrejas e que são como as contas
e centros de cultura, que promovem, conferências, debates defende a guerra ; que dá es- Mas a solução é bem dife-
e outras iniciativas de caracter educacional. mola a um pobre, mas não a rente. Seria necessário acabar das pérolas brancas ;
Existem também bibliotecas fundadas por organizações oportunidade dele se recupe- com as casas correcionais e como o doce canto
trabalhistas e de outras atividades, ou por iniciativa de po- rar. A tudo isso ela vê e não construir creches nas quais es-
pulações de cidades, de subúrbios e de bairros. ooimpreende. tes menores tenham oportuni- de insignes letanias.
— Ainda no campo da cultura, em mais amplo desen- No caso particular dos aban- dade de desfrutar de trabalho
volvimento, existem instituições tradicionais na vida do donados o problema é mais e emnor que lhes é negado. Que

DEALBAA — Outubro de 1967 — Página 2

ATA ^^^^
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

10 11 unesp"^ CZedap aculdade de Ciências e Letras de Assis


2 23 24 25 26 27 2í 29 30 31 32 33
DAVID CONTRA GOLIAS o GRANDE DESPERDíCIO
Por Antônio Silva Ora, meus amigos, depois
«Livrar dos que dizem: frivolidades, do que de escla- tes contra educadores, são ca de imaturidade social dos 1 desta, um sorriso de desespe-
Liberdade, liberdade! e recimento e de difusão de negros contra brancos, bran- povos. Há poucos dias saíram nos rança baila em nossos lábios.
com más obras a des- cultura (o que, às vezes, ati- cos contra negros, são ra- )á«Dealbar» vencerá porque jornais duas noticias. Uma da- Como é possível um país
troem.» (Palavras de ra para £LS caladas da noite), ças «superiores» contra ra- representa o espírito da so- da pelo Senador Wayne Morse dar preferências a gastar em
um Crente; Padre «La o qual persiste em defender ças «inferiores», são religiões brevivência da espécie hu- do Partido Democrata, e a ou- aviões de guerra que serão
Mcsnnais») esse mecanismo, em justifi- contra religiões, seitas contra mana, que sucumbiria se per- tra teve origem nas estatísti- destruídos em um mêls, a mes-
cá-lo com toda a sorte de seitas, são subordinados con- nj^anecesse a desordem doimi- cas oficiais do Departamento ma quantia que poderia gas-
«Dealbar» anseia por revi- embuste, abusando da igno- tra superiores, governados nante, já difícil de conter, de Estado Norte-Americano. tar em um programa de bene-
ver a façanha de David con- rância, nesse setor do conhe- contra governantes, são mili- f)esar das forças que pre- "A primeira delas, apontou o fício SOOÍEd ?
tra o gigante Golias. Peque- cimento, de doutos e indou- tares contra civis, são Esta- ndem ludibriar os espíritos Brasjj, seguido da Argentina, Nos últimos conflitos ra-
no jornal, persevera em le- tos. dos contra Estados! das forças que tentam imo- da Verifczuela e do Chile CO- ciais em Detroit, morreram
var a privilegiados e a não David venceu a Golias... e «Dealbar» vencerá! Vence- lOilizar os corpos. «Dealbar» TIO os maiores beneficiários do diversas pessoas, além do
privilegiados desconhecedores «Dealbar»?! — «Dealbar» é rá por seu espirito «kibutzia- vencerá porque é a eneama- financiamento de armas pelo tremendo prejuízo financeiro
da realidade do mecanismo o novo David! A sua funda no», de fraternidade autênti- ção da harmonia, portanto, Banco de Exportação e Impor- por êle causado. Não nos preo-
social, que não tenham a al- é a forte vontade dos que o ca e universal, de autêntico da ordem autênticas da or- tação dos Estados Unidos, fi- cupamos pelo dinheiro perdi-
ma impermeável ao senti- mantém, e a sua pedra já de- nanciamento este, cujo Sena- do em si, mas sim nos bene-
mento de Humanidade, o in- sintegrada em fragmentos do autorizou, ao rejeitar uma fícios que êle poderia trazer.
sensato e o desumano desse são as repulsões determina- resolução que o declararia ile- Quantas escolas não poderiam
mesmo meccinismo social! das pelo antagonismo de inte- gal. Só em 1966, e neste ano, ser abertas? Quantos hospi-
Persevera indiferente a. esse resses de indivíduos, de gru- disse Morse, o Brasil recebeu tais? Quantas pessoas mor-
gigantesco «Robot» de jor- pos, de classes, de Estados, do Eximbank, créditos no va- rem de fome ? A miséria gras-
nais, revistas, rádios e televi- nesse mecanismo social de- lor de 43 milhões de dólares sa em todo o mundo !
sões, mais instrumentos de sarmônico, que jamais con- (116 bilhões de cruzeiros an- E o dinheiro vai bestamen-
propaganda comercial, de seguirá livrar-se de greves, tig.>s) para p compra de ar- tt, em armamentos.
promoção de mediocridades desordens, levantes, golp>es e mas e equipamentos milita- Incrível também é que no
de toda sorte, de propagação guerras! São trabíühadores res; além disso recebeu outros Brasil, um país sub-desenvol-
de péssimos exemplos e de contra empresários, estudaia- 10 milhões de dólares (27 bi- vido, um dos recordistas em
lhões de cruzeiros antigos) do atrazo social, um dos países
Pentágono para o mesmo fim. mais flagelados pela miséria
Ao final o senador declara: do povo; incrível que este
-CENTRO DE CULTURA SOCIAL^ o Brasil nos deve 1 bilhão e
600 milhões de dólares (4 tri-
país gaste 70% de sua arreca-
dação em gastos militares !
lhões e 320 bilhões de cruzei- Sabemos das desgraças que
o Laboratório de Ehsaio contando com a eficiente co- ros antigos) e o pagamento de que sofrem os . nordestinos.
laboração do Grupo de Teatro das «Folhas de São Paulo», tal soma é um dos maiores Sabemos dos sofrimentos dos
realizou na noite de sábado, 2 de setembro, um estupendo Ii'.oblemas que terá de enfren- favelados. Do abandono em
e divertido espetáculo teatral, com a representação da belís- tar em futuro próximo. Não que se relegam os menores.
sima peça «ONDE ANDA A LIBEIBDADE». vejo como os brasileiros paga- Da falta de ensino, e etc.
rão estas armas que já preci-
A casa foi totalmente tomada por um púbUco jovem sam ser substituídas. Nós, aqui não fedamos do
e bem disposto que soube usufruir todas as oportunidades A outra notícia diz que só que se gasta na Rússia, em
para externar esfu^iantes gargalhadas. A peça pode con- em aviões derrubanos pela ar- Cuba, na Tchecoslováquía, e
siderar-se um nutrido comentário em favor da liberdade, e tilharia antí-aérea do Viet- outros países também totali-
também de protesto já que faz sentir ao púbUco a neces- -nnm do Norte e pelos g^er tário, porque infelizmente não
sidade de manter viva a liberdade como o melhor bem para rl^luiros Viet-congs, os Esta- dispomos de dados. Mas pelo
o entendimento humano. Toda vez que a disfarçada ironia do" Unidos já perdei am c^i*-^ que gastam os seus «inimi-
do ator iirinciipal fustigava os responsáveis incumbidos de anc o equivalen;e a mais de 2 gos» é fácil fazer um cálculo.
zelar pelas liberdades púbhcas e que fazem delas uso pes- trilh.'es de cruzeii-os antigos, Que tremendo desperdício
soal ou partidário, encontrava o apoio e o entusiasmo do o que corresponde quase ao provocado por todos estes
púbUco que não regateava aplausos. A tessitura da peça total de arrecadação de impôs- governos ! Quantas horas- tra-
«ONDE ANDA A LIBERDADE», entremeada de um fino t: de renda de um país como balho ! Quantas vidas ! ...
sarcasmo critico que põe em relevo a violência que se pra- o Brasil. Quanta ignorância !...
tica contra e em nome da liberdade, foi habilmente inter- Segundo as estatísticas ofi-
pretada pelo grupo teatral das «FOLHAS DE SÃO PAULO» ciais, os Estados Unidos per- Se todos os povos do mun-
que sem ser composto por iprofissionais se houve bastante deram este ano 186 caças-bom- do, brasileiros, americanos,
bem. bardeiros a jato sobre o Viet- russos, alemães, enfim todos,
-nam do Norte, e mais 196 não se unirem; se não se tor-
O ator principal, incumbido de comentar, distribuir e narem conscientes da resilída-
movimentar a peça, movimentou-se com naturalidade e se- aparelhos sobre o Viet-narr. dp de; se não tomarem uma re-
gurança que pode considerar-s» profissional. A canção foi Dealbar, o novo e pequeno Davi, derribará os moder- Sul. Na maior parte os aviões solução que dé fim a estas
singelamente interpretada por uma jovem que possui um nos Golias que buscam tragar a polMie liiunanidade. abatidos eram do tipo «Pha- obscenidades, brevemen-
fio de voz, porém, agradável, melodiosa e nostálgica. Saiu- tom», cada um dos quais vale
e natural apoio mútuo, que dem natural, espontânea. ao sair da fábrica 2 milhões te marcharemos para uma he-
se muito bem, assim como o moço que acompanhou-a ao há-de impor-se, porque o es- ;<Dealbar» viverá enquanto catombe mundial, em que o
violão. Seria uma falta de nossa parte não registrar aqui de dólares.
o desempenho sóbrio, discreto e preciso, do moço incumbido forço de GoUas é, na reali- houver o caos social. «Deal- Com o que eles perderam
5er humano será extermina-
bombo, ou zabumba. Foi tão, rigoroso em suas interven- dade, embora pretenda misti- bar» é como a Fênix da ve- sobre o Viet-nam do Norte em
do.
ções, tão preciso e oportuno que quase passou despercebido ficar, a expressão da desor- lha crença grega, que renas- apenas 1 mês, seria possível
Precisamos evitar que esta
cia d£is próprÍEis cinzas. Quan- desgraça aconteça. Precisa-
apesar de ser um instrumento retumbante e espalhafatoso. dem, que acabaria por tudo do «Dealbar» não ressuscitar, custear todo o programa de
devolver ao caos, o que os como a Fênix, é que as suas mos acabar com a Indústria
Parabéns ao bombeiro ou zabumbeiro, como queiram. exterminação dos ratos nos da Guerra; não aceitar ne-
povos acabarão por evitar, cinzas já se transformaram guetos negros das cidades nhuma autoridade neurótica.
O elenco desse ajustado conjunto teatral que inter- impelidos pela angustiante em cimento de inmiorredoura americanas (um flagelo apon-
pretou a peça : «Onde Anda a Liberdade», é o seguinte : ameaça de permanente inse- e dignificante solidariedade tado como uma das causas do A única instituição pvossível
Diretor, Lúcio Soares ; roteiro, Bruno Liberati; Música, gurança, diluindo e absor- humana. recente conflito). Este progra- e necessária é, o ser humano.
Haroldo Diniz ; Iluminação, Nelson Romeiro. Intérpretes : ,ma de 40 milhões de dólares É o homem vivendo em fun-
Lúcio Soares; Leonor Castilho; Douglas Moura; Ana Maria; vendo os governos, que fica- E os seres humanos serão,
foi rejeitado pelo Congresso, ção do homem ; enfim, é a
José Tavares; Zé Patara; Orlando Machado; Nivaldo Paiva rão apenas como grotescos enfim, seres humanos... sociedade fraterneil.
fatos históricos de uma épo- Serapiiim Porto a título de economia.
e Maria do Carmo.
A segunda parte do programa foi preenchida pelo
magnífico diálogo de Anton Tchecov: «CANTO DO CISNE».
Tchecòv retrata a reflexão que faz um velho ator que num
momento de solidão relembra os longos anos passados de
sua atividade artística. A recordação dos seus triunfes e
dos personagens por êle interpretados, põem, na ahna do
Lula pela paz é reivindicação número um
pobre e velho ator, a tristeza fatal e inevitável do cre-
púsculo da vida. Reflete o eterno problema'' da velhice
preso ao calendário do temipo que passa inexorável no des-
tino de cada um.
dos traballiadores de todo mundo
\ IDA VIANA trabalho, voltemos a falar so- a solidariedade internacional sencadeamento de uma guer-
. O longo papel do Velho Ator coube a Erminio Furlan, bre a festa do trabalhador. na luta contra o explorador ra termo-nuclear.
e Santos de Souza desincumbiu-se do papel do velho Ponto Um dos discursos mais Este ano, como nos anterio- comum, contra o opressor A luta por melhores condi-
envelhecido na sombria concha do Teatro Popova. A dire- aplandidos por ocasião das res, o 1" de maio é comemora- comum. ções de vida, está indissolü-
ção esteve a cargo de Benedito R. Lara, todos eles inte- comemorações do Dia do Tra- do por milhões de obreíros e O movimento pela paz, com velmente ligada à luta pelo
grantes do Teatro de Comédia. balho foi o da vereadora UJA pelas massEis populares, em todas as suas nuances empol- desarmamento. E êtete é um
Com este brilhantismo terminou este agradável VIANNA REGO, do qual ex- meio a uma dura luta pelo ga e conquista novos setores fato que os trabalhadores pu-
traimos o seguinte trecho pa- pão, a liberdade, a emancipa- da população e mobiliza os deram compreender por sua
espetáculo. própria experiência, pois sa-
ra publicação : ção nacional e a paz. que permaneciam passivos
ou indiferentes, ante as ações bem que enormes recursos
OS GUERREIKOS «Senhor Presidente! Ao reunir-se em todos os são gastos hoje, improdutiva-
De Kopezky Senhores Vereadores! países e em todos os recan- contra a guieara, pois cada
dia é mais evidente esta ver- mente, em axmEimentos de
Celebrou-se, no dia 1' de tos do mundo para comemo- todo o tipo, para sustentEir
Os integrantes do Laboratório de Ensaio estão entu|- rar a festa do 1' de maio, os dade: a guerra termo-nuclear
Maio, em todo o universo, o converterá em montões de enormes exércitos e máqui-
siasmados com esta nova peça do nosso jovem companheiro trabalhadores realizam um nas militares. Quem paga são
Kopezky, que será representada no mês de outubro. Dela Dia do Trabalho, o dia da so- ruínas os centros vitais de
lidariedade dos trabalhadores. balanço de sua luta, dos êxi- precisamente os trabalhado-
falaremos mais adiante. tos alcemçados ou das-possi- nosso planeta.
Como mulher, como ardorosa Mas os imperialistas não res, os povos. Se os recursos
feminista, não poderia deixar, bilidades não aproveitadas, fossem utilizados em um tra-
CONFERÊNCIA — PARAPSICOI^GIA medem o caminho percorrido depõem as armas e nem ces-
nesta oportunidade, de res- sam de fabricá-lEis. balho produtivo, fecundo, pa-
saltar que deve-se à mulher, para traçar em comum as no- cífico, em beneficio do desen-
A parapsicologia foi o tema escolhido pelo nosso amigo a divisão do trabalho. Como vas tarefas e aplainar o ro- O heróico povo do Vietena- volvimento da economia, mu-
e companheiro Francisco Ortega, para desenvolver a sua assinala o cientista Gordon teiro futuro. me sofre a mais desapiedada daria a vida dos habitantes
conferência, e o fez com entusiasmo e suficiência oriunda Childe, o homem, no início da Esta análise firma ainda agressão e desperta a simpa- na face do globo, tanto nos
dum curso recentemente por êle terminado. Eteta ciência, história, tinha as suas ativi- mais a sua convicção de que, tia e admiração do mundo países mais evoluídos, como
relativamente nova e por isso controvertida, está tomando dades ligadas à caça e j)esca quaisquer que sejam, o pais inteiro. Não obstante, no es- nos subdesenvolvidos!
corpo e ascendência em todo o mundo porque dela partici- e era destinado à mulher cui- e as condições em que se en- tado-maior da OTAN elabo- O triunfo toteil da política
pam grande número de cientistas e investigadores de re- dar dos cativos, das ativida- contre, as diferenças em suas ra-se o plano de uma força do desarmamento e da coe-
nomada importância internacional. des domésticas e dos primei- reivindicações particulares e atômica multilateral, sabota- xistência pacífica, ao livrar as
Francisco Ortega soube conduzir a sua palestra, por ros trabalhos de artezanato. as formas e métodos de luta, se a conclusão de um acordo populações do perigo de se-
quase duas horas, com clareza e persuação, aduzindo exem- Naquela época, então, como a todos congrega a mesma razoável na ONU e o perigo, rem aniquilados, daria um
plos, confrontando escolas e estimulando o público que no mostrou o cientista inglês, no exigência vital: por conseguinte, não foi con- poderoso impulso à luta
final da conferência crivou-o de perguntas. processo histórico, a divisão A PAZ jurado. emancipadora de toda a hu-
Esta belíssima noitada teve a contribuição brilhante do do trabalho principiou. Os operários, as massas manidade, contra a miséria,
ÍENTRE OS/ POVOS ! trabalhadoras em geral, com- contra a fome.
nosso admirado amigo Dr. Vivaldo Simões, médico psica- Mas, tecidas essas rápidas
considerações históricas, so- A todos sustenta a mesma preendem e devem compreen- Por conseguinte, a luta pe-
nalista e psiquiatra, que teve que retirar-se em seguida por- der ainda melhor que, para
que participaria de um programa de televisão, onde desen- bre a origem da divisão do força de coesão: a unidade e la paz é hoje a reivindicação
volveu, com a competência que lhe é peculiar, uma precio- sobreviver, para acabar mais número UM dos trabalhado-
sa aula sobre o mecanismo cerebral, relacionado ao sono. cedo possível com a explora- res de todo o mundo. Sobre
ção em todo o mundo, é pre- este denominador comum, so-
Inquirido pelo orientador do programa, o Dr. Vivaldo teve NÓS precisamos de seu tempo : ciso pôr ura freio ao imperia-
oportunidade de dar a conhecer ao telespectadores do canal bre esta base, podem ser es-
2, o seu profundo conhecimento acerca da nomenclatura Queremos que V. leia dealbar inteirinho lismo, tornar impossível o de- tabelecidas e consolidadas,
cerebral. O processo do descanço, do sono e particular- sem sombra de dúvida, a
mente dos sonhos, foi por êle tratado com a competência de Nós precisamos do seu dínlieiro : mais ampla aliança e luna au-
psicanalista e psiquiatra que é, com toda a beleza e encan- Queremos que V. dê uma contribuição AVISO IMPORTANTE têntica solidariedade interna-
to do humanismo que se abriga em seu espírito profunda- cional. Elas são fundamen-
mente altruísta. '
para que dealbar continue saindo Para evitar transtornos tais ao êxito da luta pela paz,
O Centro de Cultura Social sentiu-se honrado com a toda correspondência e pela libertação e a indepen-
visita de Francisco Ortega e do Dr. Vivaldo Simões. Dado
O Dealbar não tem preço : dência nacional, pelo progres-
valores devem' ser diri- so social e econômico do
o sucesso que alcançou esta conferência, Francisco Ortega Dê quanto V. acha que êle vale gidos em nome do
foi convidado a prosseguir em suas palestras que serão mundo»!
por nós oportunamente divulgadas.
Ou quanto V. possa dar. Diretor. Da «Tribuna do Cacau»
Itabuna-Bahia

DEALBAR — Outubro de 1967 — Página 3

ATA ^^^^

unesp"^ CZedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa
aculdade de Ciências e Letras de Assis
10 11 2 23 24 25 26 27 2í 29 30 31 32 33
A ESCOLA MODERNA
Nos dias de inquietação es- ção de inferioridade em que tar-se fora das paredes de pem estar, com a contribui-
tudantil que estamos atraves- estava submersa a mulher. sua casa; deveria esse raio i>ão do forte e impulsivo sen- Rcdaçlo e Admia
Hua Bubino <lc OÜtelf. BS
sando em que legiões de mo- Este critério de inferioridcide concluir onde chega e termi- timento da mulher no conhe- Cornspondínci*: Cilii PotUl Sftt
a«B Paula
ços batem-se corajosamente da mulher, era perfilhado até na a Sociedade. Mas para que cimento da ciência». Assim OUTUBRO DE 1967 — Preço N Cr$ 0,20
pela própria igreja católica a mulher possa exercer a sua "justificava Ferrer a inclusão Ano 2 - Número 8
para conquistar o direita de
estudar, vale a pena recordar que somente depois do ano ação benéfica, não se lhe há ^das classes mistas em sua es-
1200, num consílio de Bispos, de converter em pouco me- Yola, consideradas então co-

Autoritarismo ^
uma página imortal da histó-

r
ria universal do ensino. Te- conoedeu e reconheceu a al- nos do que em ZERO os co- jjio heréticas e imorais. Êle
mos absoluta certeza que as ma na mulher. O mesmo erro nhecimentos que lhe permiti- ,'ia na coeducação uma forma
gerações modernas de estu- a igreja o repetiu com os es- dos. Deverão ser em quanti- ae valorizar a personalidade
dantes, ignoram por comple- cravos aqui no Brasil, aos dade e qualidade iguais aos Ia mulher que estava relega-
to que certos processos esco- quais não permitia assistir que se proporcionam aos ho- da a planos secundários. EBICH FBOMM
lares atuais assim como cer- missas e 'nem confessar, por mens. A ciência penetrando E assim, no dia 8 de setem-
tas regalias de respeito à in- se lhe atribuir ausência d'al- no cérebro da mulher a ilu- •^H-o de 1901, com um efetivo (continuação do n. anterior)
tegridade pessoal do aluno, ti- ma. minaria, dirigindo certeira- 3Scolar de 30 alunos, 12 me- I
veram, como Patrono Mártir, Fode, destarte, avaliar-se a mente o rico filão dos seus linas e 18 meninos, inaugu- Parece que esta tendêtncia para a gente se tomar o
o fundador da Escola Moder- ousadia de Feriar em querer sentimentos, inesplorados até -ava-se na Espanha a primei- senhor absoluto de outra pessoa é o oposto da tendência
na Racionalista, Francisco ra «Escola Moderna Científi- masoquista, e fica-se perplexo ao como essas duas tendên-
Ferrer y Guardiã, sacrificado ?a Racionalista», fundada pe- cias são tão intimamente associadas. Não há dúvidas quan-
por um conluio militar-cleri- \o professor humanista Fran- to as suas conseqüências práticas, que o desejo de ser de-
cal na sempre despótica e ti- cisco Ferrer y Guardiã. Em pendente ou se sofrer é o contrário do desejo de dominar e
rânica Espanha. Coníiamos virtude do princípio de que de fEizer outros sofrerem. Psocològicamente, todavia,
em que as revisões históricas a escola deve estar inteira- ambeis as tendências são resultantes de uma necessidade bá-
empreendidas pelos papas mo- mente a serviço dos alunos, sica, oriunda da incapacidade de suportar o isolamento e a
dernos em seus Concílios Ecu- J)nde estes devem receber to- fraqueza do próprio eu. Proponho que se denomine o obje-
mênicos, reconheçam em do o amparo e todo o estímu- tivo comum à origem tanto do sadismo quanto do maso-
Francisco Ferrer y Guardiã, lo ao livre desenvolvimento quismo de simbiose, A simbiose, nesta acepção psicológi-
a mesma inocência e inculpa- 'üa sua formação moral e fí- ca, significa a união de um eu individual com outro eu (ou
bilidade que recentemente re- «".íica, a nova pedagogia Racio- com qualquear outra força extrínseca ao próprio eu),
conheceram no sábio astrôno- nalista de Ferrer não distri- de maneira tal a fazer cada um perder a integridade do
mo Galileu Galilei. buía prêmios e nem infligia próprio eu e a torná-lo completamente dependente um do
castigos. Constava do progra- outro. A pessoa sádica precisa de seu objetivo tanto quan-
Nos lúgubres porões do fa- ma também, a não realização
tídico Castelo de Montiuich, to a masoquista precisa do dela, só que ao invés de procu-
desses costumeiros exames rar segurança pelo fato de ser absorvida ela a conquista
em Barcelona, no dia 13 de de fins de anos que coloca os
Outubro de 1909, ao grito de alunos numa acirrada compe- absorvendo outrem. Em ambos os casos, a integridade
«VIVA LA ESCUELA MO- tição, cujos resultados trazem, do eu individual se perde. Num caso eu me dissolvo em
DERNA», caia fulminado pe- quase sempre, funestas con- uma força exterior ; no outro, eu me amplio fazendo de
las balas assassinas do pelo- seqüê^ncias de ordem psíquica outro uma parte de mim e, por conseguinte, adquiro o vi-
tão de fusilamento mais um para um grande número de gor de que careço como um égo independente. É sempre
mártir da ciência a serviço alunos. a imcapacidade para suportar a solidão do eu individuíd que
da liberdade e da justiça so- conduz ao impulso para entrar em uma relação simbiótica
O curto espaço deste artigo
cial. não comporta o exame dos com outrem. Isso deixa patente porque as tendências sá-
Francisco Ferrer y Guar- fundamentos humanos que le- dicas e masoquistas estão sempre combinadas entre si. Con-
diã, fundador da Escola Mo- varam Ferrer a elaborar uma quanto na superfície pareçam contraditórias, estão essen-
derna Racionalista, pagava nova pedagogia isenta des- cialmente implantadas na mesma necessidade básica. As
com sua vida o amor e o ca- sas modalidades ainda em uso pessoas não são sádicas ou masoquistas, porém ficEun osci-
rinho que dedicava às crian- no ensino oficÍEdizado. Mas lando constantemente entre o lado ativo e o passivo do com-
ças, formulando novos e revo- basta lembrar que um gran- plexo simbiótico, de modo que muitas vezes é difícil deci-
lucionários processos de edu- de número de pessoas inter- dir qual o lado que está agindo num dado momento. Bm
cação e ensino pedagógico. A nacionalmente ilustres, fo- ambos os casos a individualidade e a liberdade são perdidas.
sensibilidade humana que se ram considerados péssimos
abrigava na alma de Ferrer alunos nas escolas de ensino Quando pensamos em sadismo, comumente pensamos
não se ajustava à rigorosa comum, chegando mesmo a no caráter destrutivo e na hostilidade que tão flagrantemen-
discipUna e aos castigos infli- espulsão de alguns deles. O te ligados a êle. Por certo, uma dose mais ou menos gran-
gidos aos escolares da época. ensino Racionalista criado e de de destrutívidade é sempre encontrada nas tendências
Êle entendia que a criança preconizado por Ferrer, mes- sádicas ; isso, porém, também se apUca ao masoquismo.
traz dentro de si qualidades mo depois de seu fusilamen- Toda análise de traços masoquistas revela essa hostihdade.
positivas e negativas que lhe to, difundiu-se largamente em A diferença capital parece ser a de que no sadismo a hos-
devem ser respeitadas e con- todo o mundo e adotado em tilidade é geralmente mais consciente e mais diret£unente
duzidas e não simplesmente muitas escolas particulares. manifestada em ações, ao passo que no masoquismo ela é
combatidas e reprimidas por Aqui mesmo em São Paulo, sobretudo inconsciente e expressa-se indiretamente. Pro-
professores que seguiam ce- FRANCISCO /FE3BREB Y GUABDIA
houve várias. Um grande Gi- curarei naostrar, mais tarde, que a destrutívidade é o re-
gamente os rígidos cânones Fundador da £scoIa Moderna Racionalista násio, magestoso e imponente sultado da deformação da expansão sensorial, emocional e
da disciplina clássica escolar que se ergue no bairro do intelectual do indivíduo ; deve-se, portanto, contar com ela
que se baseava no rigor e na ministrar os mesmos ensina- hoje». Para avaliar em sua Belém, na Avenida Celso Gar- como uma decorrência das mesmas condições que propiciam
íôrça. mentos a meninos e meninas devida proporção este pensa- rei.;!, leve seu início em 191?, a necessidade simbiótica. O ponto que quero enfatizar aqui
Outro ponto importante do quando isto contrariava fron- mento de Ferrer, é preciso como Escola Moderna N' 2. O é que o sadismo não é idêntico à destrutívidade, apesar de
pensamento de Ferrer era a talmente os usos e costumes levar em conta que fora es- seu fundador foi o nosso estar em grande parte combinado com esta. A pessoa des-
coeducação de ambos os sexos da época. Quando Ferrer crito há mais de 60 anos, grande amigo e companheiro truidora quer destruir o objeto, isto é, aniquilá-lo e livrar-
em classes mistas, onde a me- inaugurava, quase clandesti- quando preconizar a igual- . professor João Penteado, re- se dele ; o sádico quer dominar seu objeto e, por isso, so-
nina estivesse em igualdade namente, as aulas mistas na dade da mulher eqüivalia a centemente falecido. fre uma perda caso este desapareça.
de condições como primeiro Espanha, inaugurava também uma subversão da moral es- Ao se completar 58 anos do
passo para a emancipação da no setor do magistério, a luta tabelecida. É da mesma pá- fusilamento de Frani-nsco Fer- O sadismo, conforme empregamos o nome, também po-
mulher, que, como é sabido, pela emancipação feminina. gina que extraímos também rer y Guardiã, DEALBAR de ser relativamente isento de destrutívidade e imtmído de
só recentemente vem ganhan- Num de seus livros que te- o seguinte trecho: «A huma- presta a sua modesta home- uma atitude amistosa para com seu objeto. Esta espécie
do foros de cidadania. As mos sobre a mesa pode ler-se nidade melhoraria com mais nagem a esse grande educa- de sadismo «afetuoso» encontrou sua expressão clássica em
classes mistas na Espanha e quanto segue : aceleração, marcharia com dor fundador da Escola Mo- Ilusões Perdidas, de Balzac, uma descrição que também dá
outros países latinos, consti- «A mulher não deve estar passos mais firmes e cons- derna Científica Racionalista. idéia da qualidade especial daquilo que temos em mente
tuíam verdadeiras temerída- reclusa no lar. O raio de tantes na ascensão do pro- quando falamos da necessidade de simbiose. Nessa passa-
des em conseqüê'ncia da situa- de suas atividades deve dila- gresso, e centiplicaria seu Pedro Catallo gem, Balzac descreve a relação entre o jovem Lucien e o
prisioneiro de Bagno, que se f£iz passar por abade.

EMULAÇÃO E RESISTÊNCIA Pouco após ter travado conhecimento com o rapaz, que
acabara de tentar o suicídio, diz o abade : «.. .Este jovem
nada tem em comum com o poeta que acaba de morrer. Eu
O P E R A R I A EM CUBA recolhi você, dei-lhe a vida, e você me pertence como a cria-
tura pertence ao criador, como — nos contos de fadas
orientais — o Iflit pertence ao espírito, como o corpo per-
A ditadura cubana deu à publicidade os prêmios que que tudo não passava de papelada para envolver a pobre tence à ahna.
se distribuirão aos operários que, praticando o desumano demagogia da exploração totalitária.
sistema da «tarefa stajnovista», consigam vencer na «emu- Diante dessa evidente e incontestável repulsa proletá- Com mãos poderosas hei de mantê-lo no rumo certo
lação socialista». Esta emulação não consiste somente em ria, decidirEun suprimir os prêmios. para o poder ; prometo-Uie, não obstante, uma vida de jxra-
forçar os trabalhadores a produzár mais' em cada jornada zer, de honrarias e festas intermináveis. Nunca lhe faltará
de oito horas de serviço, mas obrigá-los a que trabalhem Agora, segundo o anunciado pelo ministro Basilio Ro- dinheiro você brilhará e fará sucesso, enquanto eu, vergado
gratuitamente de dez a doze horas diárias, renunciando, drigues, os prêtaios serão classificados em três níveis. No sob o peso dos esforços, agüentarei o brilhante edifício de
ainda, ao descanso dominical, aos feriados e às férias legais. nível de unidade serão entregues rádios, panelas de pressão, seu sucesso. Eu amo o poder por amor ao poder ! Sempre
Apenas assim se faz juz ao diploma de «trabalhador» de fogões a gás, lâmpadas, ferros elétricos, câmaras fotográ- gozarei os seus prazeres, embora tenha de renunciar a eles.
de vanguarda» e se pode aspirar a um dos prêmios da emu- ficas, férias pagas e artigos de uso pessoal ou familiar. Em suma : serei uma só e única pessoa consigo... Ama-
lação marxista-leninista. No nível de região serão distribuídas máquinas de cos- rei minha criatura, amoldá-la-ei, afeiçoá-la-ei a meus servi-
tura, rádios de ondas curtas, relógios, bicicletas, colchões ços, de modo a amá-la como um pai ama o filho. Andarei
Ao anunciar tais prêmios o ministro Basilio Rodriguez de molas, ternos, móveis e artigos simUares, além das fé- a seu lado em seu fiacre, meu rapaz, deliciar-me-ei com seus
cuídou-se de silenciar o verdadeiro motivo que os inspira- rias pagas. A nivel de província os prêmios serão refrige- êxitos com as mulheres. Direi ; eu sou este belo rapaz. EU
ram. Esse motivo não foi outro senão a comprovação do radores, televisores, móveis, câmaras fotográficas, motoci- criei este Marquês de Rubempré e coloquei-o em meio à
baixo rendimento da mão-de-obra proletária. A produtivida- cletas e artigos similares, além das férias pagas. aristocracia; seu sucesso é meu produto. Êle é mudo e
de «hora-homem» e «jornada-produção» foi caindo progres- A ditadura comunista, ao anunciar tais prêmios, obvia- fala com minha voz, segue meus conselhos em tudo».
sivamente até chegar ao extremo de se necessitarem três mente está anunciado qua esses artigos não estão ao alcan-
homens para realizar o mesmo trabalho que antes realiza- ce do trabalhador cubano, pois até as férias pagas — grande (continua no próximo número)
va um só. Trata-se, pois, de generalizado movimento de conquista de outros tempos — foram suprimidas por deci-
resistência operária, de sabotagem silenciosa, mas decidida, são forçada dos aterrorizados dirigentes sindicais.
das massas trabalhadoras de Cuba, que se negam a produ-
zir com a mesma eficiência anterior, como forma passiva
de externar seu protesto contra os moldes opressores do
comunismo. OS ANTICOMUNISTAS... E O ANTICOMUNISTA
Toda a filosofia do marxismo, toda a habilidade empre- (Conclusão do número anterior) em todo problema humano procurando aproveitar as difi-
gada pelo regime e todo o aparato de terror implantado em culdades j>ara a conquista do poder político.
Cuba, copiados da experiência soviética, quebraram-se de Estes setores, dada sua ignorância política, ingressam
encontro à inquebrantável decisão do proletariado cubano. geralmente em partidos que controlam o governo ou que O anticomunismo deve diminuir as frustrações huma-
influem na sua comiposição ; são elementos muito úteis à
Em três oportunidades sucessivas (abril de 1962, feve- estratégia comunista, pois sua ação possibilita a infiltração nas através de necesssárias realizações econômico-socíais de
reiro de 1963 e agosto de 1964) tiveram que modificar as destes, conseguindo uma política governamental que lhes um lado, permanecendo alerta para deter a violência expan-
í-egras da emulação. Agora, diante do balanço do quarto é favorável. Estes setores, essencialmente indefinidos, tam- siva vermelha. Fedando de outra forma: a tarefa do anti-
Regulamento da Ehiulação, comprova-se que os estímulos, pouco poderão — por seu modo de ser — definidos como comunismo é tirar fora da realidade ao oomunismo, antes
quer em dinheiro, quer em viagens aos países socialistas anticomunistas. Não pode haver definição do indefinido.
d os títulos honoríficos, não despertavam nenhum interes- Aproveitando sua vaidade, os comunistas coibem-nos pelo que o peso da lei lhes dê pretêlxto de aparecerem como más-
se entre os trabalhadores cubanos. Em Cuba nada adianta elogio fácil. tires ou heróis.
possuir algumas centenas de pesos, pois nada se pode com^
prar de uso pessoal ou familiar, estando as principais mer- Como corolário desta análise, vejeunos outro aspecto Assim, o aticomunismo autêntico e sincero, que por
cadorias severamente racionadas pelo regime das «duas ca- importante do comunismo marxista : considerando o ho- certo não é uma doutrina, mas uma aglutinação de credos
dernetas». Por outro lado, ninguém pretende ganhar uma mem em estado de alienação, frustrado, que não encontra em uma Frente Comum Libertária que concebe o homem
viagem à suposta «pátria do proletariado», pois, conforme livre e moral. Portanto, o anticomunismo é definido e
os operários que já gozaram essa distinção, mais do que um o que busca, o que toma suscetível de acomodar-se ao do-
prêmio, essa viagem é verdadeiro castigo. Apesar do con- mínio dos prosélitos, que o convencem com a miragem da composto de doutrinas definidas. Os partidos amorfos, elei-
trole policial de seus passeios e visitEis, por toda parte se panacéia de sua propaganda. Esta alienação facilita a dia- toreiros e indefinidos não i)odem definir-se em definições
desiludiam ante os quadros de miséria e exploração que lética do comunismo, quando o homem premido por suas que implicam o risco da popularidade, quando a justiça e a
contemplavam. Elnquanto a títulos, diplomas, medalhas, lil)erdade assim o querem ; ao contrário, o anticomunismo,
elogios verbais e aplausos jornalísticos — com cujas honra- necessidades é dòcilmente manejado na «guerra subversiva».
rias seria demonstrada a elevada moral e o rendimento do Ao considerar frustrados os homens, o comunismo — para baseia-se em concepções políticas categoricamente definidas
QÔvo homeni socialista — o operário cubano compreendeu quem a finalidade do horaiem é trabalhar — incrusta-se em Agustin Candia

ATA ^^^^
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

10 11 unesp"^ CZedap aculdade de Ciências e Letras de Assis


2 23 24 25 26 27 2í 29 30 31 32 33

Você também pode gostar