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Diretor: PEDRO CATALLO

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Rua Rubino de Oliveira, 85
A IDÉIA É COMO A GOTA D'ÁGUA. PODE REFLETIR A IMENSIDADE Correspondência: Caixa Postal 5739
São Paulo
ANO II NÚMERO 9 SÃO PAULO, NOVEMBRO DE 1967 Registro N.° 2.097 PREÇO NCr$ 0,20

LINIIS PAULING - A
Nasceu em. Aregon, Esta-
dos Unidos, em 1901, Linus
e condenado pelos políticos
no país de ideologia oposta,
VERDADEIRA CIêNCIA REPUDIA A GUERRA
é mera ficção, mas terrífica
reaUdade, não só seu empre-
substâncias, como o carbono
14 (isótopo radiativo do car-
continuidade das provas nu-
cleares poderá ser tão perigo-
bombas de napalmi e fósforo,
mas também pelos gases.
Pauling e é professor de Quí- o sábio Pauling mereceu o go bélico, mas mesmo nas ex- bono) que se produzem du- sa quanto a utilização dessa Dois professores norte-ame-
mica desde 1931. Como pes- Prêmio Nobel da Paz de 1962. periências e provas que são rante a fisão e a fusão das arma.» «TODO O MUNDO, ricanos especialistas em bio-
quisador, levou a termo uma No seu apostolado idealis- feitas para o seu aperfeiçoa- bombas chamadas UMPAS. DIGAM O QUE QUIZEREM, logia molecular, J. Eddsel e
das tarefas mais delicadas e ta, consciente do papel que mento. «Nossos eserategístas Há dez vezes mais carbono TEM MEDO, VIVE SOB O M. RÍísselson, demonstr.a-
difíceis da ciência moderna, representa a ciência no mun- fazem distinção entre bom- 14 nas bomb£is termo-nudea- TERROR DA POSSIBILIDA- ram-no em petição assinada
em volta das misteriosas for- do atual, chama a atenção bas nucleeires LIMPAS e as res que nas bombas do tipo DE DE UMA GUERRA pelos cientistas mais impor-
ças que mantém os átomos dos cientistas para problemas MUNDIAL». tantes dos Estados Unidos».
coesos na formação estrutu- que, sendo um desafio à hu- Como se não bastasse o Preocupado, ainda e sem-
ral das moléculas para a manidade toda, não fogem ao enorme desperdício já feito pre, com o miserável destino
constituição da matéria. Deu domínio da técnica e não po- no desenvolvimento das ar- de mais da metade da espé^
a público sua «teoria da res- dem ser descurados pelos ho- mas atômicas pelas grandes cie humana diante do subde-
sonância» num livro já con- mens de laboratório. «Os sá- potências, alguns países sub- senvolvimento, não é menos
siderado clássico em seu bios — diz Pauling — sabe- desenvolvidos desejam parti- digna a atitude de Pauling
campo, com o nome de «A mos que nossa responsabili- cipar, também, da fabricação quando chama a atenção dos
Natureza do Vinculo Quími- dade ante os problemas do e pesquisas dessas armas. resiponsáveis pela chamada
co». Por seu trabalho recebeu mundo é muito grande. Já «Entristeço-me, diz Pauling, «conquista do espaço side-
o Prêmio Nobel de Química passou a época em que po- ao ver a China, com tantos ral». «Creio que o futuro do
em 1954. Com tase na teoria díamos permanecer em nos- milhões de bocas para alimen- homem está na Terra e mui-
de Pauling elucidou-se o pro- sos laboratórios indiferen- tar, consumir tão elevadas to tempo transcorrerá antes
cesso da Natureza nsis suas tes às agitações da rua, ape- porções de seus orçamentos que existam possibilidades de
combinações químicas. A téc- nas concentrados em nossas em atividades militares». Por viajar a outros planetas...
nica especial e formidável investigações. Os homens do isso condena a atitude dos Considero excessivas e abusi-
para a produção de matérias ódio e da guerra sempre se Estados Unidos e dos países vas as enormes somas inver-
plásticas bem como de subs- apoderaram do resultado de com essa nação solidários na tidas na pesquisa espacial...
tâncias sintéticEis e de remé- nosso trabalho para utilizá-lo política internacional que A competição entre os Esta-
dios apoia-se na «teoria da com fins destruidores». Dian- impede à China participar dos Unidos e a Rússia, fruto
ressonância». te do uso da energia atômica das Nações Unidas. Com o de um nacionalismo que é o
Mas Pauling não é apenas para armas bélicas, prossegue isolamento de um país de se- mal do século, encerra os
um homem de laboratório. o cientista: «Nós nunca tivé- tecentos milhões de habitan- mais funestos efeitos. Gas-
Sobra temipo ao sábio para ramos antes oportunidade de tes «provocam em seu inte- tam-se somas fabulosas com
lutar pela paz e a liberdade, pôr em suas mãos os meios rior um nacionalismo exage- a mesma finalidade, sendo
pela convivência harmonio.5a para conduzir a humanidade rado». certo que a metade ou mais
dos seres humanos, pela de- ao apocalipse, para ameaçar Usando o elevado signo de deveria ser empregada em
fesa da própria vida. A posi- a própria existência da espé- «GERRA À GUERRA», o sá- proveito dos homens que vi-
ção >*ndcpendc;"!to de .:rodos cie humana, para reduzir à bio ataca não apenas o em- vem ma] nesta Terra, dema-
políticos e de homem livie. indigêncía dois terços dos ha- prego de armas atômicas, siadamente mal para se preo-
causaram alguns contralom- bitantes do globo». mas toda e qualquer forma cuparem com o que se passa
ros ao cientista. Quando vice- Denunciando a corrida ar- de armamento e de extermí- em outros planetas».
presidente da Federação Mun- mamentista de todos os paí- nio. I-iun;anista autêntici, o sá-
dial dos Trabaihadcies da ses, Pauling diz que se deve- Referindo-se à guerra no bio acredita num futuro mais
Ciência, foi considerado sus- ria lembrar com mais assidui- Vietnã, diz que a opinião pú- risonho para a humanidade
peito por zelosos cidadãos dade o que se gasta anual- blica mundial deve ser escla- quando a ciência, pelos seus
norte-americanos, pelo sim- mente com armamentos: Linus Pauling e sua companheira — conscientes de recida sobre o emprego de cultores, seja aplicada no
plPá fato de aquela entidade cento e cincoenta mil mi- gases, o que é deturpeido pe- sentido de aumentar o bem
c brigar considerável número lhões de dólares ou, em cru- sua contribuição para o bem da humanidade.
los armamentistas norte- de todos: «Não creio que se
de ciumentos comunistas. No zeiros velhos, quatrocentos e qualificadas de SUJAS... americanos quando dizem que possam utilizar as descober
entanto, por sua pregação A e esse carbono 14 não so-
sete trilhões e duzentos e cin- Não existem bombas limpas. mente é tão pernicioso como «não são gases mortíferos, tas biológicas para fabricar
pela liberdade, o Crêrnlin re- coenta bilhões, o que repre- mas que provocam simples especialistas sem alma, se-
solveu desclassificar sua «teo Em cada explosão formam- as outras substâncias radiati-
senta dez vezes o orçamento se substâncias (estrôncio 90, vas, mas conserva sua noci- náuseas ou paralisia tempo- res «robôs», homens-cérebros
ria das ressonâncias», ponto da Prefeitura de São Paulo césio 137, iodo 131) chama- rária». «Na verdade, diz Li- que seriam meras máquinas
culminante do pensador e vidade total durante muito
no atual exercício. das chuvas radiativas NOR- mais tempo. É preciso que fi- nus Pauling, «esses gases de calcular... Sou otimista
teórico da química moderna. Com referência às bombas MAIS. Essas substâncias pro- têm efeito biológico desastro- quanto ao futuro do homem.
Assim, colocado na catego- que bem claro: há muito mais
nucleares, o cientista faz uma vocam câncer nos ossos, leu- so sobre os enfermos, os ve- Mas de um otimismo lú.-:ido,
ria de homem politicamente análise mostrando que o pe- carbono 14 nas chamadas lhos e as crianças. Neste mo-
cemia e mutações genéticas bombas LIMPAS do que nas alerta, vigilante: um otimis
suspeito em sua terra natal rigo para a humanidade não graves. Mas existem outras mento os civis vietnamitas mo de combate».
SUJAS... e a longo prazo, a morrem não apenas pelas Liberto

Os acordos MEC-USAÍD e os Estudantes


Por Serg:lo Leitão professoralmente nos ensinan- nos termos do presente acor-
do que: «A finalidade do con- dade para onde levam a in- cisivamente nesta instituição Universidade, fazer festas de
1 — A história desse fami- do, serão considerados no Bra- quietude e as amarguras de
trato é a criação de uma co- sil como propriedades de go- social denominada A Univer- formaturas e. .. morrer impa-
gerado acordo nos faz lem- missão mista, paritárla, de uma experiência de vida Ora sidade (pág. 20). iados no Vietnan. Pa* a ar-
verno estrangeiro». E para isto foi proposto i>elo relató-
brar a anedota dos cinco ce- funcionários brasileiros e nor- que não reste qualquer dúvi- rematar : Colocação do ensi-
gos que tentaram descrever rio ATCON pai e mãe dos Por mais beócios e sub-de-
te-americanos, para planejar, da de que as escolas ou salas senvolvidos mentalmente que no superior em base rentá-
um elefante. Cada qual o adotar e executar lun prog^ra- Acordos Mec-Usaid.
de aulas construídas com es- sejamos o assunto está expos- veis, cobrando-se matrículas
descreveu consoante a par- ma de educação no Brasil». ses recursos passam de fato crescentes durante lun perío-
te tocada, fazendo um quadro O QUE E to de maneira que entra pelos
Como já podemos i>erceber é ao domínio dos Etetados Uni- olhos. Intervenção' r a univer- do de dez anos. Isto quer
surrealista ou de Pop-Art. um planejamento total do en- dos, acrescenta o artigo 11: BELATORIO ATCON? dizer que pobre só poderá ser
Corretamente ninguém ainda sidade para formar uma cas-
sino desde o primário até o ...«no caso de denúncia desse ta de dirigentes tupiniquins operário e bucha de canhão.
teve a ventura de ver o acor- superior, passando pelo téc- acordo, todos os fundos e bens 6 — O relatório Atcon nas- Por muito talento que tenha
do por inteiro. Os «técnicos» ceu em 1958 com o título de que masque chiclet-s, sejam
nico e industrial. da Comissão tarnar-se-ão pro- fan dos digiests e rezem pela não conseguirá atingir as por-
do Ministério da I2ducação o Que temos de efetuar uma priedade do Governo dos Es- Anteprojeto de Concentração tas de uma Universidade. As-
afirmam extraordinário para da Política Norte Americana cartilha do Imperialirmo Ame-
reformulação do ensino no tados Unidos da América»... ricano em' conúbio com os po- sim ficará eliminada a sub-
o bem da Pátria, porém tei- Brasil está na cara. Que não Depois desta, e como emble- na América Latina na Beor- versão, o protesto, a grita, o
mam em não exibi-lo de vez tentados do pais. E é eviden-
tenhamos técnicos e homens ma do acordo Mec-Usaid pro- g:anização Universitária e sua te que essa classe de gente esperneio nacional e o bom
ao nosso boquia-berto e enfe- capazes no Brasil peira essa pomos a figura de um mari- Integração Econômica. Em burguês dirigente, o coronel
zadinho povo, para que usu- 1961 passou a se intitular Tlie não poderá sair do proletária
reformulação, é deplorável, ne circunscrito pe^la frase de do e da média burguesia. latifundiário poderão fazer em
frua desse régio pitéu. Não mas bem nacional. Que te- Wilson: «A América para os Latin America University. Em paz a digestão, no ripanço,
obstante tanto pudor em des- nhamos que ir ao extrangeiro -Americanos.. .do norte» ! 1963 aparece em tradução na Com o título de Recomen- soltando flatos e outros gazeí»,
cobrir um naco apetecível, pedir essa ajuda já seria hu- revista colombiana Eco e é dações (pgs. 147-157) propõem mal cheirosos. Idem, tamliêrK,
uma ou outra visão fantásti- milhante, mas aceitável. Po- 5 — O acordo Mec-Ussdd no encampada pela USAID para o relatório: a) desenvolver para os que paternalmentn
ca vai filtrando na imprensa. rém ir a USA que desde 1957 que tange as Universidades é formar a espinha dorsal de irnia filosofia educacional pa- tutelam o bom compoitamer'-
Aos pouquinhos pingados pa- apresenta o sistema Univer- simplesmente o transplante seu plano educacional para a ra o continente».. . Bem en- to nacional. Que Freud or.
ra não engasgar aos famin- sitário em crise e decadência, do sistema americano para o América Latina. Através de tendido a filosofia deles ame- abençoe! Está assim en-
tos excitados, onde apenas escapam as Uni- Brasil, sem se levsir em conta uma análise lúcida o autor ricanos, que sirva a seus in- terrada a subversão carnavp
2 — Foi por isso que salti- versidades de .Harvard, Ber- as diferenças culturais, ra- do relatório afirana que «o teresses e propósitos. No item lesca do país inspirada pelo
tamos de alegria ao lêr um kley, Yale, Princeton, onde o ciais, psicológicas e econômi- desenvolvimento sócio-econô- sobre a Universidade afirma: Mao-Gulart, pelo Ché-Brizola,
artigo de Mário Martins no resto pode ser misturado com cas. É bem claro que atrás mico de uma comunidade é «O melhor ^^istema legal para pelo Ho-Chi-Arraes, secunda-
Jornal do Brasil, em que o coca-cola, goma de mascar e dêísse sarapatel há peminha função direta de seu desen- alcançar o grau de autonomia dos pela guarda verde-amare-
agressivo deputado mostrava invólucro de plástico, é, per- de barata que denominamos volvimento educacional» (pág. é a transformação da univer- ladas legiões estudantis?.
a toca do bicho cabeludo. Era doem a expresão, simplesmen- conseqüências políticas. Quem 9) que «para o desenvolvi- sidaxle estatal em fundação
o Diário OficisÜ de 16 de de- mento da América Latina, a privada. Onde, acrescentamos Mas em que pese tudo issn
te cair de quatro e zurrar. observa atentamente o movi- os problemas permanecem.
zembro de 1966 e que estava Que poderiamos buscar a ex- mento Universitário no Brasil educação superior constitui o nós, americanos poderiam in-
esgotado. Conseguida a refe- verdadeiro ponto de partida» , . fluir mais li-vremente, sem; os ainda que o programa estejp
periêíicia em outras plagas facilmente constata que êle em franca execução a grita
rida folha nossa decepção foi está certo. Porque não em se tomou o bastião do pro- (pág. 18) e conclui que «o clã óbices de interferência de um
tremenda: nada constava so- dos graduados universitários organismo estatal, mas não é se avoluma. O protesto con
Paris, Basiléia, Leydem, Leip* testo e da inquietude política tinua. Os Congressos se rea-
bre o Acordo Mec-Usaid. Que zig, Cambridge? Por que a e social desta senzala. Nada domina todos os aspectos sig- só... veja agora essa belezi-
houvera ? Alguma falha de nificativos da vida social; nha contida no item da Re- lizam. Os jornais vão levan-
camisa de força tem que ser mais fácil suprimir a agitação tando o véu desse cadáver
revisão ? Ou mais um enga- a Made em USA ? colocando-o na argola, institu- acresce-se a isso que apenas forma administrativa : ... eli-
na Coió ? minação da interferência estu- insepulto.
4 — Mas prossegue o sr. indo a chibata do feitor como 4 em cada 10.000 latinos ame-
3 — Entretanto o deputado ricanos atigem um grau aca- dantil na administração, tan- E o estudante, macaco ve
Mário Martins: «Em seu Ar- lei e estabelecendo a paz de Uio de guerra, saltitando ãp
em análise acusada afirma tigo 1° fica dito a propósito cemitério. Para tanto é pre- dêmico e podemos prontamen- to colegiada quando gremial».
que foi o embaixador Pio Cor- galho em gaUio, que tem êss-^
de fundos e créditos que «Tais ciso impedir que as pessoas te concluir que é nosso dever E que entendam, de uma mau hábito de pensar, não
reia quem assinou o referido somas, assim como os l>ens vindas das cEunadas pobres consagrar a máxima atenção, vez a massa estudantil, que
acordo. E vai muito além, meterá a mão nessa combuca
que possam ser adquii*idos, possam ascender a Universi- quando não INTCRFEBIB de- sunção é: ficar de cócoras na USAIDA.

unesp"^ CZedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa
aculdade de Ciências e Letras de As:
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UNE - ALTOS E BAIXOS DE UMA TRAJETÓRIA
ARI SERPA elaboração dos Estatutos e do nha sede; desde sua fundação U.N.E. o estudante de enge- passeata foi realizada no dia 4 to das passagens de bondes, ha-
Regimento Interno. No mês de se reunia ora numa sala do nharia Hélio de Almeida. Co- de julho de 1942, quando os vendo vários feridos e presos.
A realização tumultuada e Agosto foi eleita a primeira Di- Ministério da Educação, ora na meçou aí uma das fases mais estudantes comemoraram a in- Em 1959, sendo Presidente Rai-
retoria do Conselho Nacional de casa de Ana Amélia e, algu- importantes da entidade, quan- dependência dos Estados Uni- mundo Eirado, a U.N.E. de-
algo romanesca do 29.0 Con- cretou uma extraordinária bre-
gresso da União Nacional dos Estudantes, nome pelo qual era mas vezes no Diretório Central do ela própria inaugurou um dos, na época considerado ex-
coniiecida a U.N.E.. ve geral, em apoio aos estudan-
Estudantes em Vinhedos, São tes da Faculdade de Ciências
Paulo, e do qual participaram CONQUISTA DA AUTONO-
••involuntariamente" os padres MIA. No ao de 1938, durante Médicas da Universidade do Rio
o 2.0 Congresso Nacional de Es- de Janeiro, na época coagidos
Beneditinos do Convento São e sofrendo inúmeras arbitrarie-
Bento, veio colocar em pauta tudantes — o primeiro ocorreu
em 1909, em São Paulo — reali- dades por parte de seu Diretor,
a trajetóriii irregular do ponto
de vista político, dessa institui- zado entre 9 e 21 de Dezembro, o professor Rolando Monteiro.
ção estudantil, oscilando sem- no teatro Municipal, o estu- Foram realizadas passeatas e
pre entre atitudes extremamen- dante Antônio Franca apresen- inúmeras sessões, acabando os
te imaturas e posições lúcidas; tou uma tese intitulada União estudantes por saírem vitoriosos
entre o caminho totalitário o Nacional sle Estudantes, pela do movimento e acarretando o
esquerdizante e a defesa dos qual a entidade se separava da afastamento do Dr. Rolando
mais nobres sentimentos liber- Casa do Estudante e passava a Monteiro, da direção da Facul-
tários e populares. ter vida própria. Após esse dade. Em 1960, João Manoel
ORIGEM DA UNE. Jfim Congresso que elegeu Valdir Conrado, tentou, sem êxito, a
1929 concretizando uma antiga Borges presidente da entidade, reíiliação da UNE à União In-
idéia da Sra. Ana Amélia de a U.N.E. começou a agir cri- ternacional dos Estudantes, ao
Mendonça, surgiu a Casa dos ando vários departamentos, en- mesmo tempo que liderou uma
Estudafites do BrasU, visando tre os quais o de Cultura, diri- campanha em defesa da Escola
promover assistência social en- gido por Pascoal Carlos Magno. Pública.
tre a classe estudantil Três Em 1939 no concurso de peças
anos mais tarde foi sugerida teatrais, dois jovens saíram vi- AGITAÇÃO E DECADÊNCIA
sua filiação à Confederation des toriosos: Alfredo Dias Gomes, ÉTICA. O período de Conrado
Etudiants, sediada em Bruxelas, com A Comédia dos Moralistas marca profundamente a vida
porem os trabalhos de aproxi- e Mário Brasini com Estudan- estudantil A cúpula totalmente
mação com esta entidade só tes. Ainda em 1939, a U.N.E. desligada "das decisões de base,
foram iniciados em 1936, quan- após uma série de desentendi- adota as mais radicais posições
do a universitária Clotilde Ca- mentos com a Casa do Estu- em todos os pontos contrárias
valcanti viajou para Sofia, re- dante, que a acusava de se des- ao pensamento da maioria es-
presentando o Brasil no Con- viar de seu caminho, decidiu tudantil. Assim deu o seu apoio
gresío da C.I.E.. Em 1937, o separar-se definitivamente da ao ditador Pidel Castro, e lança
Conselho da Confederação reu- entidade, dela se desligando no as consignas anti-americanas.
nido em Viena, sugeriu a reu- ano seguinte, a 22 de abril de Seu substituto, Oliveira Guanais
nião de uma assembléia das 1940. de Aguiar, foi duramente criti-
associações estudantis brasilei- LUTAS E TEMPOS DIFÍ- cado por promover uma passea-
ras, para fundar uma entidade CEIS. Faltando a colaboração ta de apoio a Fidel Castro e
máxima. Estava criada a União da Casa dos Estudantes a trabalhar para atrelar o mo-
Nacional dos Estudantes. A U.N.E. resolveu criar um Con- vimento estudantil brasileiro aos
Houve, sim, o Congresso da U.N.E., singularmente realizado i sombra de vinhedos, sob i vista paternal daquiles
Casa dos Estudantes do Brasil, selho Consultivo, formado por movimentos dos países totalitá-
que, como senhores, sempre deformaram as reais aspirações da mocidade, e agora... os protegem...
cumprindo o art. 25 de seu Es- ex-presidentes da entidade e rios de esquerda. Os estatutos
tatuto, convocou ps estudantes em julho daquele ano elegia dos Estudantes, rua Álvaro Al- processo de apoiar ou condenar tiemamente subversivo pois a autenticamente totalitários da
pava se reunirem em um Con- sua quarta Diretoria, tendo co- vim, 41, num conjunto alugado qualquer movimento que surgis- ditadura de Vargas tinha extre- UNE, permitiam à cúpula diri-
selho Nacional de Estudantes, mo presidente Luiz Paes Leme. por três mil réis. se no Brasil ou no exterior; a madas simpatias por Hitler e gente decretação de greves po-
cuja sessão inicial tratou da Nessa época a U.N.E. não ti- Em 1942 era presidente da passeata pelas ruas. A primeira Mussolini. No dia 22 de Agos- líticas sem a prévia consulta a
to de 1942, os barcos brasileiros todos os estudantes sobre a rea-
Arapá, Itagiba e Araraquara fo- lização da mesma. Assim de-

O combativo "Dealbar" completou dois anos!


PARABI2NS «DEALBAB» (tico mundial. Êle mesmo, o comunismo, |Sofre-as em seus
lam torpedeados próximo ao
litoral, morrendo mais de cem
pessoas. O Brasil declarou
guerra ao Eixo. Os estudantes
saíram às ruas, se dirigiram à
corria o tempo necessário da
provocação e, quando a base
estudantil revelara ser contrá-
ria às medidas tomadas pela
Diretoria, o assunto já entrava
Pas«iou-nos quase despercebido que, com a publica- idomínios, e, em maior escala ,até, porque o seu absolutísmo Praia do Flamengo, 132, sede do em ponto morto.
{sufocante baniu todas ias liberdades públicas, despersonali- Club Germânia, ocuparam o
jção do n° 7, Dealbar cumpriu o seu seg:undo aniversário. edifício e aí instalaram sua No 25.0 Congresso subiu à
Por nos isentirnios satisfeitos de ter atingido, sem graves (zou os cidadãos e também baseia ia sua economia na ex- sede. O Ministro da Educação, Presidência Aldo Arante e com
inconvenientes, o nosso segundo ano de vida, queremos ploração do homem pelo ihomiem, le do homem pelo Estado. Gustavo Capanema, no mesmo êle e Centro Popular de Cul-
Ialinliavar .algumas palavras como se fossem uma presta- dia oficializou a posse. tura destinado a levar cultura
Portanto, inão são niales contingentes, eventuais, tra- ao povo. Liderou a campanha
ção de contas laos nossos companheiros, aos simpatizantes 'zidos pela peste comunista. São calamidades permanentes EXPANSÃO DA ENTIDADE exigindo a presença de 1/3 de
é lamigos leitores que nos acompanharam netsta curta po- oriimdas da engranagem orgânica da Nação, vindas dos estudantes no colegiado univer-
ESTUDANTIL. A U.N.E. foi
rém difícil caminhada. Surgimos com Dealbar num tumul- jitefeitos estruturais Üa Constituição que não prevê a limi- ampliando seus departamentos sitário. Depois do Congresso
Ituado niomento lem que o pais estava sob o rescaldo de tação da riqueza particular e da ganância pessoal, assim; através de campanhas financei- de Qultandinha, fartamente'fi-
%ima revolução, cuja vitória tranqüila e, sobretudo, in- ras e verbas recebidas do Mi- nanciado pelo senhor Leonel
como não prevê ia limitação da pobreza. £stes dois pólos Brizzola e que terminou em
cruenta, pressupunha trazeir, lao povo brasileiro, laqiiela tão nistério da Educação. Surgi-
conflitantes não foram removidos, continuam acentuados ram nessa época o futuro tea- grossa pancadaria, a decadên-
(almejada tranqüilidade e, especialmente, a solução inadiá- em isuas trágicas conseqüências, mantendo inalterada a in- cia ética estava começando a
trólogo Nelson Rodrigues e o
vel dos pungentes problemas que tanto Isacrificam aquela tranqüilidade do povo ys fazendo o caldo gordo ao comunis- encenador Ziembysky que pas- atingir o limbo. Aldo Arante
classe de gente laboriosa, pejorativamente chamada de saram a freqüentar a sede e passou o cargo a Vinícius Brant,
mo que medra e cresce onde a miséria açoita e a fome quando a entidade deixou de
«baixa camada >social». Siu^gimos com ia fé ínquebrantável abraza. Não se combate o comunismo mantendo intacta assim nasceram para as artes
cênicas do país. A Diretoria parte os problemas estudantis e
de juntar o nosso pequeno e modesto grãozinho de areia toda a nauseante e indecorosa exploração que campeia em brasileiros para se preocupar,
se preocupava no momento com
à grandiosa obra de ilucidação le reconstrução nacional que 'totlos os setores da nossa atividade social; não se combate o problema da guerra e uma somente com política interna-
parecia empreender-se naqueles caldeados momentos de o comunismo alimentando a concorrência flratricida de campanha de fiscalização dos cional. Posteriormente a pre-
vozeios patrióticos e de clamorosas proclamações Demo- palves-e quem puder. Com a falta de casas, de hospitais, de 5.0 colunas foi lançada com sidência foi entregue a José
cráticas. Surgimos com propósitos honestos e desinteres- lescolas, ide água, e de condução; sem assistência médica, apoio ao chefe de polícia da Serra, de São Paulo, que pro-
sados porque não somos «partido», nem políticos e nem época, Coronel Alcides Etche- meteu seguir-lhes os passos,
isem Previdência social a altura dos aposentados, sem sa- goyen
nada reclamamos para nós. Somos uma voz do povo, uma mas nâo pôde. Começou haver
lários condizentes e sem b direito 'de perder a paciência defecções, Diretórios acadêmi-
voz que ^se funde no clamor de um século que busca a com- 'por tudo isto, o comunismo cresce e se agiganta dentro NOVOS RUMOS. Ao termi- cos como o da Escola de En-
preensão dos homens para a inauguração de novas solu- daquela tétrica legenda que ornamenta O seu estandarte: nar a guerra mundial para der- genharia e da Medicina, rom-
ções para los atritos dos interesses criados. QUANTO PIOR, MELHOR! Ê preciso peorsuadir-se de uma rubada do fascismo, o Brasil peram com a UNE. Ela pros-
estranhamente permanecia em seguiu em sua trajetória sinuo-
Surgimos oomo conseqüência dum impulso natural vez por todas que a simples troca de homens no poder não sa, participando dos comícios
regime de ditadura fascista,
que vive em nós e que se aUcerça no conteúdo ideológico faz calar o ronco dos estômagos vazios. Ê preciso (que os manietado poi- Vargas e seus de 31 de março de 1964, na
de uma filosofia social, humana e altruísta, que proclama Mandatários, os que vivem bem, comecem a olhar mui acólitos. Iniciou-se um movi- Central do Brasil, na greve dos
a imião dos povos como símbolo de fraternidade unive^al, Seriamente para os que são relegados ao infortúnio, para mento sigiloso dos partidos re- marinheiros e no dia l.o de
e a igualdade social como o mais sagrado e Intangível di- Os desprotegidos da Sociedlade, para aqueles homens de cém-fundados UDN e PSB. Ob- março do mesmo ano, por oca-
jetivo único: desentronizar Var- sião do golpe militar, a UNE
reito humano de todos viverem bem e decentemente. mãos g'rossas e camisas desbotadas, porque são lOS que fa- gas e sua camarilha fascistóide. íoi incendiada pelos próprios
Surgimos banhados por aquela velha e ínquebran- zem <a grandeza da «Nação e constituem o material precio- Comícios relâmpagos, passeatas, estudantes que fugiram em de-
tável esperança, que ise renova sempre e cada instante em so onde ise abastece o comunismo. manifestos, movimentos de rua, bandada
que a marcha evolutiva do progresso prociu:a remover a Talvez a nossa voz se perca no tremendo turbilhão em tudo pontificava a U.N.E.. CLANDESTINIDADE E O 29.0
Em 1948, o Presidente Roberto CONGRESSO. Suprimida por
velha andaiinaria onde se assentam ]as vencidas estruturas dos desajustes sociais. Quiçá o nosso grito não alcance a Gusmão firmou po-sição de que decreto após o golpe de 31 de
políticas de todas as nações do mimdo: quer descendam dimensão dos nossos desejos. Mas isso não arrefece o nos- a entidade não ficaria calada março, a UNE conseguiu reunir"
dos arcaicos Direitos Komanos que fiuidamentam a Pro- so ânimo e nem abala a nossa imperecível convicção. Tra- a nenhum fato que interessan- os destroços de uma trágica
priedade Piivada oomo ipedra angular da Sociedade — com- zemos um passado de lutas enunciado em nossos cabelos te diretamente ao povo, a U.N.E. época e Já então orientada pe-
esteve ameaçada de fechamen- las esquerdas católicas partiu
batida até pelo próprio Papa — quer promanem do já fali- brancos como um testemunho da nossa persistência, O to. Na gestão de Geníval Bar-
do Materialismo Histórico propagado e defendido pelos nosso pensamento permanece virgem como quando come- para uma atuação clandestina
bosa, Um estudante foi atrope- que veio culminar com a rea-
comunistas, que se alicerça nas forças cegas do fatalismo çamos porque confiamos no homem, no que êle tem de lado e morto diante da sede. Os lização do 29.0 Congresso em
econômico, desmentido incontestàvelmente, por espaço de bom. Não pertencemos aos omissos, nem aos çonfcümados estudantes bloquearam a rua S&o Paulo, em julho de 1967,
50 lanos nle trágicas experiências lem todos os territórios de e nem aos desvitalizados inoolores, dúbios e indecisos. So- para Impedir a passagem de apesar das proibições oficiais e
dominação comunista. Surgimos alentados pelos depobnen- bondes e ônibus. Interveio a do ^parato policial posto à dis-
mos da geração vibrante, daquela que não descrimina ida- poíicita e com ela a violência.
los públicos, aquietantes e promissores, daqueles homens posição. Entretanto permanece-
des, daquela que viveu ontem, vive tioje e viverá amanhã, No 12.0 Congresso realizado em ram os mesmos vícios de ori-
que tomaram a si responsabilidade de conduzia a Nação na porque o progresso não para, a evolução não morre e o 1949, na Bahia, José Prejat, gem. Uma cúpula dirigente
trilha certa que a salvaguardaria da truculenta ditadvira bem estar dos povos é uma conquista. Surgimos iiorque candidato da esquerda venceu bastante dividida realiza um
comunista, mas, também, dos maléficos defeitos dia De- as eleições para a Presidência e Congresso, toma determinações
existe um imperativo em cada ser humano, um devegr his- mandou este telegrama para o
mocracia. tórico em cada geração, que interliga e funde, numa soma e posteriormente vai divulgar
Ministro da Educação: "Temos essas decisões a todos os estu-
Mas, ai de nós! 'A quinta revolução brasileira segue única de esforços, todas as gierações passadas, presentes a grata satisfação de comuni- dantes. Isto é, partem do ápice
os imesmos destinos, os (mesmas pegadas das quatro ante- e futuras, na elaboração grandiosa do grandioso patrimô- car que V. Excia. foi mais uma para a base, quando o certo
riores. Msals uma vez a miopia política Ihavia^de enturvar nio Universal. E porque .ninguém tem o direito de omitir-se vez derrotado. Desculpe o mau seria partir das decisões de base
(as claras esperanças ide lun povo pacato, laborioso e con- geito". O telegrama foi con- para as determinações de ápice.
na construção maravilhosa do esperado mundo de amanhã, siderado pura provocação e a
fiado. Mais luna vez ^aquele veliio le lentranhado Misonels- Assim incorrem novamente no
aqui estamos nós, deixando nas mãos dos nossos compa- policia passou a vigiar a sede, erro de permanecerem isolados
mo que ise opõe a tudo o que é novo, a novas Idéias, a no- nheiros, amigos e simpatizantes, este singelo deimimento tendo, no ano seguinte, detido em suas decisões. A carta di-
vos costumes )e novas formas 'de intercâmbio social, serviu como agradecimento ao apoio que nos derami: Obrigado dois estudantes acusados de vulgada, se fôr autêntica, é de
para distorcer as boas intenções (se as havia) e tudo não " subversivos" por protestarem uma vulgaridade pasmosa. Re-
Amigos! Obrigados Companheiros! Se o vosso calor não contra a Embaixada Espanhola.
passou de esganiçados gritos die «combate» ao comunismo. nos faltar, se a vossa mão amiga cingir a nossa mão como pete os velhos chavões surrados
Combater o comunismo, era tudo. Via-se nele, em sua ex- de um nacionalismo caolho e
um feixe inquebrável de Esperanças. Dealbar prossegidrá De 1949 a 1951 a U.N.E. man- catequético, além da péssima
tinção, a pacificadoira solução dos premiantes males que singrando os mares turbulentos das refregas sociais, até teve-se afastada da política. redação. Volta-se aos velhos
ntormentííim o nosso pf)vo. E /aí reside, a nosso ver, o erro que o Brasil encontre o seu destino certo, dentro de um Em 1952, durante o 15.o Con- erros do passado, sem uma cri-
palmar dos homens que se assenhonearam do poder. Os gresso, desligou-se da União tica saudável e que já vai tor-
ordenamento de vida superioir em que cada brasileiro tenha Internacional dos Estudantes e
males que padecemos e que criam os profimdos conflitos nando-se monótona e enfado-
assegurado, sem sofismas de leis e sem astúcias políticas, iniciou a campanha pela Pe- nha. Voltaremos ao assunto
de classes, as escaldantes n^azelas sócio-econômicas que todos os iseus direitos e deveres, como cidadão e como trobrás. Em 1956 os estudan- para analisar as deliberações do
*anta angústia causam no seio das populações, são multo ser humano. tes entraram em greve geral Congresso e fixar a posição li-
anteriores 'ao aparecimento do comunismo no cenário polí- PEDRO CATALLO para protestar contra o aumen- bertária
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Os dias íoram sempre Negros para os Negros
For E. Rodrigues vras aviltantes; os "anginhos", Nascem juntas de Alforria, Três características se destacam das autoridades, fruto valioso tribuido de acordo com as ne-
anéis de ferro com parafusos associações clandestinas para desde logo: o revide ao regime de um trabalho livre. cessidades de cada quilombola.
Com a chegada dos coloniza- que se apertava até esmagar as conseguir dinheiro por meio de de torturas, a invulgar quali- A floresta de Palmares, assim As sobras eram trocadas por
dores portugueses e o desbrava- partes do corpo onde estavam cotlzações e comprar a llberda- dade para as agrupações clan- chamada por ser fértil em pal- produtos manufaturados, armas
mento dos sertões brasileiros, destinas de que eram possuido- meiras, era um cordão de mata de fogo, roupas e ferranientaB
tornou-se evidente a falta de res os negros africanos e a sua que se estendia das vizinhan- industriais e agrícolas. De co-
braços para o trabalho e não declaração de guerra ao lati- ças do Cabo de Santo Agosti- meço, as populações vizinha-;
tardou o grande tráfico de ne- fúndio, à propriedade privada e nho, em Pernambuco, até a zo- do quilombo não queriam fazer
gros da África chamada por- ao poder constituido. na ao norte do curso inferior negócio com os negros fugitivos,
mas, aos poucos, o exemplo do
tuguesa. Aqui chegados esses Claro que em 1673 o traba- do São Francisco, em Alagoas. trabalho e a riqueza dos seus
africanos, sob a condição de es- lhador rural, que era pratica- As suas condições geográficas e produtos fê-los aceitar as tro-
cravos, eram vendidos para os mente todo de origem africa- as terras férteis ali situadas fo- cas.
grandes fazendeiros que, graças na, não discutia nem falava da ram alvo de fugitivos da escra-
â audácia e ao roubo, uns; e "reforma agrária" e suas asso- vidão reinante nas fazendas, A concentração em Palmares
ao beneplácito dos governadores, ciações não tinham o nome de nos canaviais, nos engenhos de chegou a atingir de 16 a 20
outros; dominavam vastos lati- "Ligas Camponesas", mas seu açúcar, nos currais de gado, nas mil pessoas, que souberam for-
fúndios. movimento é algo valio-^o, suas Senzalas das vilas do litoral e mar Um vasto plantio dos mais
A desigualdade social torna- rebeliões e o abandono das das cidades. Aos poucos, os variados produtos agrícolas e
ra-se aberrante, não só pelas grandes fazendas é, sem som- fugitivos foram ali construindo resistir aos ataques dos pode-
condições miseráveis em ique vi- bra de dúvida, um tipo de gre- suas casas aliciando outros tra- rosos exércitos da coroa portu-
viam os trabalhadores negros, ve, de insubordinação e ae ae- balhadores e o quilombo cres- guesa e desafiar a economia
mas também, pelo tratamento safio aos poderes constituídos. ceu, atingindo 6.000 habitantes burguesa de então.
que lhes dispensavam os fei- E, mais do que isso, era um das mais diversas profissões. A fuga das fazendas, a to-
tores e os latifundiários. Maus movimento de ação direta para Sem chefes, sem leis e valendo- mada de terras e a constru-
tratos alimentares, espancamen- a tomada das terras e o esta- -se dos mais rudimentares re- ção de aldeamentos que rapida-
tos e o rigor do cativeiro, quan- belecimento de autênticas comu- cursos, iniciaram plantações de mente se agigantam diante dos
do surgiam atos de rebeldia, nidades agrícolas, a'gumas das canaviais, roças de milho, e os sobrados dos fazendeiros pode-
tornaram-se odiosos meios de quais prosperaram em termos artífices que vinham das cida- rosos, é mais que uma deserção,
subjugar o trabalhador rural. de igualdade social. des, montaram tendas de fer- à escravatura, é a luta por um
Os castigos no "tronco" de pés reiro, de fabricação de cestos, mundo novo, sem exploradores
e mãos amarradas e o pescoço Em geral, os escritores que de chapéus, abanos, potes, e va- e explorados. Os revoltosos em
imobilizado entre dois pedaços têm tratado dos Quilombos (al- silhas e outros dedicaram-se à Palmares, diz Edson Carneio,
de madeira, o suplício do "vi- deamento constituido de casas criação de galinhas, à pesca e faziam recolher ao celeiro co-
ramundo", um pequeno instru- de barro e palha construídas pe- à caça. No curso dos anos Pal- mum as colheitas, o produto do
mento de ferro, que prendia pés los fugitivos das fazendas) e da mares ganhou ares de uma no- trabalho das roças, dos currais,
e mãos do escravo forçando-o a "Guerra dos Canudos", só vê- va civilização em que seus com- dos moinhos, para realizar-se,
terríveis posições por muitos em banditismo, cangaceírlsmo ponentes travalhavam em co- então, em plena rua, na praça,
dias, o "cepo", uma grande to- nos negros, e heroícidade nos mum e em comum viviam. Os a distribuição de víveres e ce-
ra de madeira que o escravo "bravos exércitos" que derrota- donos do produto do trabalho reais entre os vários moradores
era obrigado a carregar na ca- O liberto: ram e destruíram as rebeliões coletivo eram todos, embora dos mocambos que puderam as-
beça ao mesmo tempo em que — Mesmo assim, irmão, ainda há muita LIBERDADE campesínas, as suas comunida- houvessem os que mais se des- sim resistir durante cinqüenta
ela ficava presa a seu tornozelo a ser conquistada! des, Mas, os Quilombos foram tacavam pea inteligência e pelo anos aos ataques do patriarca-
por grossas correntes, o "lim- algo de mais importante do que espírito guerreiro; tcdavia, no lismo dos senhores do engenho,
babo", argola de ferro em vol- fixados; e o chicote foram ai de do escravo. Mas, nasce tam- simples núcleos residenciais, fo- trabalho e no consumo, não ha- aliados aos capitães-mores. Há
ta do pescoço, cheias de cho- guns dos instrumentos usados bém o movimento secreto dos ram plantações fabulosas, e tu- via distinções. O produto do mesmo quem veja, tal como
calhos; a "golinha", placas de para reprimir o escravo do que não pretendem comprar a do feito sem dinheiro, sem fei- trabalho coletivo era depositado nós, um rasgo de socialismo no
ferro pesadíssimas e com pala- campo. liberdade, mas conquistá-la. tor a dirigir, sem a "proteção" em celeiros públicos e ali dis- sistema de vida organizado pe-
los ex-escravos, em Palmares,
razão porque puderam resistir

OS VIETN AN
à economia patriarcal e esora-
vocrátlca, então em toda sua
glória. Viu-se uma cidade de
mocambos erguer-se sázinha,
do meio do mato, contra as Ca-
fiste trabalho é um mani- porque reunifioou seu país guerra do Vietnam é uma mundial e depois contra os legal e moral do que faz. Es- sas-Grandes e os sobrados de
festo elaborado e distribuído quando este suportava uma GUERRA SUJA. Quando os colonialistas franceses. A te princípio veio a formar pedra e cal do norte do Brasil.
pelo Comitê do Dia do Viet- péssima situação». vietnamitas o vêem com um maioria da população vietna- parte da lei deptois da segun- Em nenhum lugar do Sertão
nam, Universidade de Berke- O general Ky não significa uniforme estrangeiro, pensa- mita pensa no FLN como no da guerra mundial, quando havia campos tão bem lavrados.
ley, que teve ampla difusão muito para nós; não sabemos rão em você como num ini- representante da melhor tra- as nações aliadas decidiram Esta comunhão de homens li-
no seio das unidades do exér- nem pronunciar seu nome, migo. dição patriótica. que os criminosos de guer-
cito norte-americano e nos porém os vietnamitas vive- Vocês são os que bombar- ra alemães deviam ser casti- vres apavorou os engenhos.
As Guerrilhas Sobre Palmares, corriam len-
irteios estudantis. A oposição ram muitos anos governados deiam suas cidades. Os viet- gados, inclusive quando come-
a guerra 'dentro ido povo por homens iguais a êle. namitas não sabem distin- Os jornais e a televisão nos tessem crimes sob ordens. das entre negros e brancos que
yanqui atinge atualmente, .se- Para os vietnamitas, nós lu- guir um voluntário, um beli- explicam de quando em vez o Este princípio foi a base dos serviram para encorajar uns %
gundo últimas pesquizas, a ci- tamos ao lado do hitlerismo, cista de um pacifista; portan- duro que é lutar contra a julgamentos de Nuremberg. fugir, e outros a Justificar suas
fra de 51%. Dentro das uni- e eles esperam que sejamos , to não haverá oportunidade guerrilha do Vietcong. Caren- Lutemos Contra a Guerra. derrotas, mas o certo é que ali,
versidades os focos de resis- derrotados. V para vocês se salvarem. tes de munição e sem cober- no meio do mato, nasceu um
tência crescem, se aprofun- tura aérea os guerrilheiros Esperamos que você se si- Novo Mundo, com costumes, to-
Eleições Livres podem abater forças que os tue como ser humano incapaz dos eles benfazejos por idéias
dam e adquirem, como ve- Quem é o Inimigo ?
mos neste apêlo, uma autên- Os vietnamitas quiseram superam na proporção de 10 de tolerar esta luta bárbara reformistas. O Quilombo dos
tica tonalidade libertária. ... Os porta-vozes militares votar para que os estrangei- para 1. Por que téhi tão alta e esperamos que você se opo- Palmares n&o seguia as tradi-
norte americanos repetem ros se retirassem de seu país, moral de luta? Eles são cons- nha a ela. Não sabemos que ções religiosas para o batismo
Você pode ser enviado a amiudadamente que seu gran- porém lhes foi negado essa critos. Nenhum oonscrito po- classe de risco corremos ao dos que ali nasciam e os seus
qualquer momento para o de problema é encontrar o contingência. De acordo com de lutar assim. A maioria são entregar este panfleto; você casamentos eram livres e regi-
Vletnam. Você ouviu falar so- inimigo. O inimigo, afirmam, a resolução de Genebra de camponeses que trabalham não sabe que riscos correra dos por leis da natureza.
bre a guerra nos jornais; esta em todas as partes. A 1954, teria que ter sido reali- a terra; não têm sequer mu- opondo-se a guerra. Um
seus oficiais vão fazer peiles- velhinha que alimenta suas zado eleições no Vietnam em nição para treinar. O segredo grande número de soldados Já nos anos de 1644 e 1645,
1956. Poi«m o Departamento está em que eles sabem por- norte-americanos se resusa- os quilomolas foram atacados
do Estado tinha a certeza de que lutam. Nunca ouviram ram combater no Vietnam e pelas expedições holandesas, a
que Diem, nosso homem do falar do Vietnam pelos jor- foram julgados pelas cortes primeira comandada por Rodol-
Vietnam, iria perder. Logo, nais; viveram toda sua vida marciais Eles demonstraram fo Baro e a segunda pelo ca-
decidimos não permitir elei- ali. Enquanto freqüentávamos grande coragem. Acredita- pitão João Blaer, que não con-
ções até que estivéssemos se- o ginásio, eles viviam sob o mos que eles, junto com ou- seguiram vencer os palmarlnos
guros de ganhar. regime do tirano Diem e o tros bravos que seguirão o nem tomar-lhes as terras con-
Diem formou a polícia polí- odiavemi. exemplo, terão influência fora quistadas Mas, o pior estaria
tica e encarcerou toda a opo- para vir com as expedições su-
sição. Em 1959 estava claro Esmagamento da Resistên- do comum. cessivas de lusos-brasileiros. Ao
que nunca haveria eleições e cia. Há outras coisas que você todo, 18 expedições comandadas
os guerrilheiros conhecidos poderá fazer; desde o momen- por capitáes-mores, por alta» •
A guerra do Vietnam não
por Vietcongs começaram a se faz de acordo com as re- to em que esteje d;í serviço, patentes militares e milhares de
conhecerás melhor fiue os ci-
lutar. gras Os prisioneiros são tor- vis que tipo de o^^Kisição é soldados, muitos dos quais, ali
Por volta de 1963 nosso go- turados. Nossos aviões jogem possível. Porém aconteça o perderam a vida, e gastaram 92
vêirno não suportava mais V)ombas incendiárias sobre que acontecer, mantenha-se anos para vencer o Qui'ombo
Diem, porém também não população civil indefesa. Nos- de Palmares, tomar suas terras,
queria correr o risco de uma sos soldados disparam sobre atento. conclusões
Tire suas próprias
do que \S, ouve e destruir as plantações, matar e
eleição. Nosso serviço de in- mulheres e crianças. Nossos lê. Nas sessões de o ientação, vender os negros que consegui-
teligência ajudou um grupo oficiais, afinnarão que tudo não tenha medo de pergun- ram aprisionar.
de generais vietnamitas a dar isso é necessário, que a guer- tar e se não estiver satisfei- Palmares foi vencida e no lu-
um golpe em Diem, que aca- ra não pode ser ganha de gar daquele reduto de trabalho
bou sendo assassinado. Des- outra maneira... e têm ra- to com a resposta; continue livre, da livre iniciativa e de
de então tem havido uma sé- zão. perguntando. Aproveite cada
rie de ditaduras militares, e ocasião para falar com seus luna vida em moldes libertários,
Os americanos não são
o general Ky — o homem mais cruéis que os outros; os companheiros solda(';os sobre nasceu um grande latifúndio,
a guerra. Se você seguir pa- com
que admira Hitler — é o últi- soldados smiericanos não dis- ra o Vietnam sob onlens, pos- trabalhadores escravos,
— Jovem, sobre nós pesa imperativo de livrar os povos do MONSTRO ino ditador. mas, em outros pontos do
DEVORADOR, — Q Comunismo frutam este tipo de guerra. sivelmente será forçado a lu- Brasil, movimentos para con-
Os vietnamitas necessitam de nós. da nossa ajuda, do nosso sangue I Lutando pela Democracia Mas se vocês desenvolvem tar, porém não faça «mais» quistar a liberdade e destruir
Os jovens : — N Ü N C A I Vossa tarefa como soldados uma guerra contra um povo do que deva... E toa sorte. o poderio dos senhores feudais
Iras sobre ela. Porém você se galinhas pode esconder gra- se supõem que é cativar ao inteiro, vocês se tornam germinavam, ora com o nome
Vietnam Day Committee
sentirá tão confuso e deso- nadas em sua choça. A crian- povo Vietnamita. Cativá-lo cruéis necessàriamiente. Nem 2407 Fulton Street de Balaio, ora de Contestado
rientado como a maioria dos ça que segue as operações para que? Para a democra- o soldado alemão que ocupou ou de Guerra dos Canudos.
cia? Não, posto que mante- a Europa era especialmente Berkeley — Califórnia.
americanos. diurnas das tropas america-
Muitos dirão que você so- nas, desaparecem pela noite, mos um ditador no poder. cruel. Porém, quando o movi-
mente deve obedecer ordens para entregar informações Para que então? Para o mento de resistência cresceu
e deixar que os outros pen- aos guerrilheiros. A lavadei- «american way of llfe»? Po- se tornou cruel. Matou mu-
sem. Porém você tem o direi- ra da base aérea, um dia faz rém, porque aos vienamitas lheres e crianças porque es-
to de saber tanto como os explodir uma bomba para lhes vai importar mais nosso tas atiravam contra eles; e
sabidos, sobre a guerra. Pois complementar seu dia de tra- modo de vida, do que nos im- nunca perguntaram porque
Contribuições receiiidas
afinal, não são os homens do balho. É impossível, nos di- porta a nós o modo de vida acontecia isso. Quando algu-
Congresso que vão ser mor- zem os porta-vozes militares, deles? Não sabemos falar sua ma pequena povoação se tor- , (conttnua^Lo)
tos, mas sim você. saber quem são os do Viet- linguagem, nem sequer pro- nava centro da resistência a
cong e quem são os civis. nunciar seus nomes. Não sa- arrasavam seguindo ordens. O Magro, NCr$ 1,00; Trubillano, NCr$ 37,00; J. Valverde,
Por que Estamos Lutando Então, como todo o povo ■ bemos nada sobre sua reli- Sabiam que os SS torturavam
NCr$ 5,00; Valesella, NCr$ 5,00; Kairús, NCr$ 2,00; Gene-
no Vietnam ? vietnamita parece ser o ini- gião, nem sequer se existe. prisioneiros, porém êle não
podia interferir em assuntos rino, NCr$ 1,00; D. Pacheco, NCr$ 1,00; M. Franco, NCr$
migo, os milit£ires tomam Nunca ouvimos falar de Viet-
suas precauções. Usam gases nam, até que W^ashington de- que não eram seus. 3,00; P. Teixeira, NCr$ 1,00; R. Fernandes, NCr$ 4,00; Dou-
Supõem-se que lutamos pa- tor, NCr$ 30,00; Cecílio, NCr$ 5,00; Gumercindo, NCr$ 5,00;
ra proteger a democracia, mortíferas (uma arma espe- cidiu governá-lo. Supõem-se Obedecendo Ordens.
não obstante nosso governo cialmente desenhada para uso que vocês lut£un para salvar Como soldado você aprolT-
0 Arica, NCr$ 1,00; Florêncio, NCr$ 0,50; Melantonio, NCr$
reconheceu que no Vietnam contra os civis). Ordenam fa- o povo vietnamita do comu- deu a oltedecer ordens; po- 1 00; Raya, NCr$ 3,00; Paço, NCr$ 2,00; Severo, NCr$ 2,00;
do Sul há uma ditadura. O zer fogo contra as mulheres nismo. Certamente a influên- rém como ser humano você F. Asencio, NCr$ 5,00; Jaime, NCr$ 5,00; Hibrain, NCr$
general Cao Ky, o último di- e crianças... porque, acima cia comunista é forte na deve tomiar responsabilidade 5,00; A. Cuberos, NCr$ 5,00; Folhetos, NCr$ 5,00; Maria
tador militar, é tão mau co- de tudo mulheres e crianças Frente de Libertação Nacio- por seus próprios atos. A lei 'Valverde, NCr$ 4,00; Mara Valverde, NCr$ 1,00; A. F.
mo os que o procederam. Em estão luteindo contra as tro- nal. Também que a maioria
Os da população apoia o FUST. internacional e a lei norte- Trindade, NCr$ 1,00; Atílio, NCr$ 3,00; Ciíento, NCr$
recente entrevista um diário pas norté-americcinas.
americana reconhecem que 10,00; J. Moreira, NCr$ 1,00; Castor, NCr$ 3,00; Agosti-
de Londres, êle afirmou: aviões dos Estados Unidos Por quê ? Muitos dos aderen-
«Perg:untam-me quem são destroem populações civis tes do FLN lutaram na resis- um soldado ainda quando nho, NCr$ 12,00.
atuem sob ordens deve so-
meus heróis... Eu só tenho com napalm; os B-52 arrasam tência vietnamita contra os brelevar a responsabilidade
um: Hitler. Admiro Hltler regiões inteiras. Por isso a japoneses na segunda guerra
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CENTRO DE CULTURA SOCIAL
«MECÂNICA DO SONO» dades e bom humor às dia- de que muito breve o tere- representação Brasileira à
bruras do pensamento huma- mos novamente entre nós pa- IX Bienal de São Paulo. Sua
CONFERÊNCIA no, o Dr. Vivaldo desenvolveu ra usufruirmos da sua irra- obra : Auto-retrato é um tra-
com tranqüilidade e persua- diante simpatia. balho de vanguarda, feito de
Como era esperado o Dr. são a sua longa e proveitosa —///— colagens de diversos mate- ^ A ID£lA t COMO A GOTA D'AGUa. PODE REOETIR A IMENSIDADE. Rva Rubino dr Olnein, aS
Cerru^ndíoEíi-. CJUI« pMiai ãT39
Vivaldo Simões pronunciou, palestra, despertando risos e A seguir, os moços compo- riais, inclusive alguns poemas SioPniI*
com beleza e maestria a sua ansiedades no público qUe o nentes do Laboratório de En- do autor. Uma gravata tam-
conferência subordinada ao acompanhou atentamente por saio, prestaram uma delicada bém. É trabalho na linha Ano 2 - Número 9 — NOVEMBRO DE 1967 — Preço NCP$ 0.20
titulo: «A Mec&nica do Cé- quase duas horas. homenagem expressada em «POP».
rebro». Finda a conferência o Dr. abraços, felicitações, doces e Ao jovem e talentoso artis-
Autor de vários livros, um Vivaldo respondeu com de- refrigerantes, ao jovem artis- ta Oswaldo Olney Krüse, as
de recente lançEunento: TUIX) senvoltura e rapidez as per- ta Oswaldo Olney Krüse, que felicitações do Centro de
É POSSÍVEL NA ETERNI-
DADE?» psiquiatria, psicana-
lista e atento perscrutador da
alma humana, não lhe foi di-
fifcil conduzir a assist&icia pe-
guntas que lhe foram dirigi-
das, revelando uma ginástica
mental a toda prova e um
profundo domínio da sua es-
pecialidade. O Centro de Cul-
participa, com distinção, na Cultura Social.
AUTORITARISMO
los intrincados meandros da tura Social, deixa aqui os sin-
mecânica do sono e dos so- ceros agradecimentos ao Dr. (continuação do número anterior)
nhos. Pontilhado de curiosi- Vivaldo Simões, na certeza
ERICH FBOMM
OS GUERREIROS Freqüentemente, e não apenas na linguagem popular, o
sadomasoquismo é confundido com amor. Os fenômenos
iPeca de Waldir Kapezky As suas peças são sempre masoquistas, sobretudo, são encarados como expressões de
portadoras de um toque de amor. Uma atitude de completa renúncia em proveito de
Ao redigirmos esta noite originalidade que desperta
ainda não havia sido encena- outra pessoa e a rendição de próprios direitos e reivindica-
ansiedade e interesse no pú- ções sobre outrem têm sido louvadas como exemplos de
da esta obra que está sendo
aguardada com vivo interes- blico e entusiasmo no seu «grande amor». Parece não haver melhor prova de «amor»
se pelos que acompanham de circulo de amizade que não é do que o sacrifício e a boa-vontade para capitular em bene-
perto as atividades do Labora- pequeno. Com certeza «Os ficio da pessoa amada. Na verdade, nestes casos, o «amor»
tório de Ensaio. A espectati- juerreiros» será um novo é essencialmente um anseio masoquista e arraigado na
va é grande por motivo de necessidade simbiótica da pessoa em questão, Se pensamos
que o jovem autor é conheci- triunfo de nosso jovem com- no amor como afirmação apaixonada e o relacionamento
do pelo seu espirito renova- panheiro Waldir Kopezky, ativo com a essência de uma determida pessoa, se pensamos
Flagrante quando o Dr Vivaldo calorosamente defendia sua tese e procurava
dor na arte teatral. pelo que o felicitamos. escíerecer a Mecânica do Sono.
nele como a união com outra pessoa baseada na indepen-
dência e integridade das duas pessoas em jogo, então maso-
quismo e amor são antagônicos. O amor funda-se na igual-

- LIBERDADE - dade e na liberdade. Se estiver baseado na subordinação e


na perda de integridade de um pos parceiros, será uma de-
pendência masoquista, não importa como seja racionalizada
a relação. O sadismo também aparece reiteradamente dis-
SEMPRE DESEJADA - SEMPRE MALTRATADA! farçado como amor. Mandar em outra pessoa, caso se ale-
gue que isso é feito em prol desta, muitas vezes aparece
Um movimento revolucionário vitorioso pode produ- niamo. Será inútil demonstrar com provas documentais como uma manifestação de amor, mas o fator essencial é o
zir mudança mais ou menos profundas nas instituições e cjue em Cuba não existe liberdade para o povo, para os prazer da dominação.
formas de convivência, rnas, por seus objetivos e resulta- operários, para os camponeses, para os sindicatos, para
dos, pode estar situado como antipoda do conceito e do os estudantes, para os artistas, para a imprensa. Será es- A esta altura, uma pergunta ter-se-á formado no espí-
sentido daquela transformação que, desde as origens do téril pubUcar a longa hsta das vítimas do paredão e dos rito de muito leitores: não será o sadismo, segundo aqui
socialismo, impulsionou as correntes e forças que se orien- sepultos vivos nos lugares inóspitos para onde erarn reme- descrevemos, a mesma coisa que o desejo irrefreado de
tavam no sentido de libertar o homem da exploração eco- tidos os presos por razões políticas. Será em vão demons- poder ? A resposta é que, conquanto as formas mais des-
nômica e da opressão política, do atraso cultural, das guer- trar que é falsa a chamada «revolução agrária» e que as trutivas de sadismo, em que o objetivo é ferir e torturar
ras e de quantas calamidades castigas e ameaçam a sobre- «cooperativas» são — como tudo em Cuba — meros apên- outra j>essoa, não sejam idênticas ao desejo de poder, este
vivência da humanidade. dices explorados pelo Estado. Nada valerá detalhar os re- é a expressão mais significativa do sadismo. O problema
Muito mais do que o significado que se dá às pala- latos horripilantes das torturas policiais, através da G-2, adquiriu maior realce nos dias que correm. Desde Hobbes,
vras, interessa saber o conteúdo da realidade que repre- dos familiares dos exilados. Que aprisionem Hubert Matos, o poder tem sido olhado comio o motivo básico do compor-
sentam em nossos dias. Que se chame desta ou doutra que assassinem a Camilo Cienfuegos, que fuzilem um jo- tamento humano ; os séculos seguintes, no entanto, deram
forma, julgue-se ou não como «revolução» qualquer brusca vem de 17 anos, que torturem, que isolem como empes-
modificação de um sistema, conserve-se ou não para esse teados os detidos, nenhuma brutalidade tem importância. maior pêiso aos fatores legais e morais que tendiam a frear
vocábulo o caráter de uma mudança positiva e que exclua Apesar de tudo, afirmam os vacinados contra toda sensi- o poder. Com o surto do fascismo, a ânsia de poder e a
toda regressão, o certo e válido é a natureza própria do bilidade, é uma revolução... convicção de seu direito atingiram nova culminância. Mi-
fenômeno, quando observado à luz de seus efeitos imedia- Aos olhos dessa gente, quem critica ou se opõe ao Ihõas são impressionados pelas vitórias do poder e tomam-
tos, de seu desenvolvimento e de suas últimas conseqüên- regime castrocomunista é considerado mais ou menos co-
cias. Muitas são as palavras que perderam o sentido pri- mo um agente do imperialismo (ianque, entende-se) ou -no como sinal de vigor. Certamente, o poder sobre pessoas
mitivo e sua nítida capacidade definitória que possuíam faz seu jogo, inconscientemente; os mais abnegados revo- é uma expressão de superioridade de força numa acepção
em outros tempos. lucionários e libertários, que tiveram que abandonar o puramente material. Se eu tenho poder suficiente sobre
Vejamos alguns exemplos: a «justiça social» do pe- pais, são desprezíveis «vermes» ou, na melhor das hipóte- outra pessoa para matá-la, sou mais «forte» do que ela.
ronismo não impediu o surgimento de uma casta de su- ses, não souberam colocar-se à altura dos acontecimentos;
permilionários enriquecidos ao amparo da corrupção ofi- os que defendem o direito de autodeterminação 'do povo Porém, em uma acepção psicológica, a ânsia de poder não
cial; a «democracia popular» serve de apelativo às ditadu- diante da entrega do país ao totalitarismo bolchevista, são se orig'ina da força, mas da fraqueza. Ela é a expressão da
ras de partido único; o «anti-imperialismo» é «slogan» considerados liberais caducos e saturados de preconceitos incapacidade do eu individual {«ra ficar sozinho e viver.
usado por membros ou simpatizantes de um império tota- burgueses; os que afirmam que não se trata de defender É um esforço desesperado para conseguir força simulada
litário que domina metade do mundo; na chamada «es- o capitalismo, mas de aplicar soluções que independam de
querda» político-social reunem-se, outrossim, partidos, se- qualquer regime despótico, são iludidos sonhadores que quando se tem falta de força autêntica.
tores e núcleos pertencentes às mais variadas expressões não sabem interpretar a hora revolucionária que, segundo A palavra «poder» tem um duplo sentido. Um é a
do absolutismo; os «direitos do homem» servem de ban- a opinião deles, transcorre na América Latina. É preciso,
deira a entusiastas apologistas de regimes responsáveis pois, tomar o fanal dessa revolução, mesmo que depois do posse de poder sobre alguém, a capacidade de dominá-lo;
pelas mais bárbaras repressões políticas; um singular triunfo o novo poder atraiçoe e destrua seus melhores pro- o outro sentido é posse de poder fazer algo, é ser capaz,
«comunitarismo» traduz intenções de institucionalizar for- tagonistas e condene o povo «libertado» a uma escravidão é ser potente. Este último nada tem a ver com dominação:
mas de corporativismo copiadas da progmática fascista- total, forçando a todos e a cada um a escolher entre uma êle exprime mestria na acepção de senso de capacidade.
íalangista; até a «dignidade da pessoa humana» é subme- humilhante subserviência ou a tornar-se vítima da mais
tida a forçada submissão aos ditames do Estado onipotente. desapiedada repressão. Quando falamos de impotência, é este significado que
Hoje chama-se «revolução» à derrocada de um regi- Para os libertários nunca existiu nem pode existir a temos em mente; não pensamos em uma pessoa que não
me democrático para substituí-lo por uma autocracia mi- menor vacilação no julgamento de tal regime liberticida, é capaz de dominar outras, porém de uma que não é ca-
litar, ao movimento que derruba uma ditadura para esta- deem-lhe o nome que quizerem. A URSS demonstra sem paz de fazer o que quer. Assim, poder pode significar uma
belecer ou restabelecer o regime democrático ou à ação a menor sombra de dúvida a falsidade da teoria da chamada
que acaba com uma vegonhosa tirania para substitui-la «ditadura transitória» como degrau no caminho do socia- das duas coisas, dominação ou potência. Longe de serem
por outra igual ou ainda pior A «psicose revolucionária» lismo. Todas as experiências históricas ratificaram a afir-' idênticas, elas se excluem mutuamente. A importância, em-
arrasta cegamente os desejosos de «qualquer mudança», mação dos antiestataís de que todo poder tende a consoli- pregando o termo não só com vista à esfera sexual mas a
^sem pensar, nem medir o que pode vir depois. Em certos dar-se e tornar-se cada vez mais prepotente, em lugar de todas as esferas das potencialidades humanas, produz o
'meios intelectuais, artísticos, estudantis, essa psicose é debilitar-se até a extinção de sua natureza opressiva, que
cuidadosamente cultivada e aproveitada pelos doutrinado- lhe é intrínseca. Sobre montanhas de cadáveres e terror impulso sádico de dominação; na medida em que um indi-
res providos do conhecido «realismo político», amassado sem nome firmou-se o poder bolchevique. A Cuba de Fidel víduo é potente, isto é, apto a realizar suas potencialida-
com as bíblicas verdades absolutas do determinismo his- Castro é uma cópia desse sistema e os furtos que poderia des com base na Uberdade e integridade de seu eu, êle não
tórico, a dialética materialista e a inevitável opção entre gerar em qualquer parte da América, para sua desgraça, precisa de dominar nem tem sede de poder. O poder, na
o capitalismo imperíalista e o paradisíaco mundo «socia- levariam idêntica marca.
lista» forjado graças a um Lenine, um. Stalin, um Kru- Quem queira jogar lenha na fogueira com, que o acepção de dominação, é a perversão da potência, tal e
chev, um Brejnev, um Mao. um Tito, um Castro e até totalitarismo queima «s valores essenciais da humanidade, qual o sadismo sexual é a perversão do amor sexual.
quase um Násser. poderá invocar qualquer pretexto, mas jamais seria ho-
Como «modelo» dos embandeirados da chamada nesto amparar-se em princípios e ideais irreconciháveis (continua i|o pr«Sximo número)
«libertação nacional» na América serve, naturalmente, a com qualquer gênero de inimigos da liberdade.
Cuba de Fidel Castro: para muitos, desde que o «dono»
da revolução que derrubou Batista proclamou-se publica-
mente marxista-leninista e colocou a ilha na órbita de Mos-
cou; para outros, apesar da convicta e confessa autodefi- /
ARTE PARA ELITE
nição totalitária orgulhoso ditador, desde que apregoa sua Dr. Jacob Pinheiro Ooldberg Para tanto necessita, entre pelo conduto ambivalente, premiados com o «laurel Sta-
ira anti-ianque. A onda castrocomunista envolve, também Os grupos privilegiados do outros condimentos, de uma mais expressivo e mais da- lin» — autênticas obras-pri-
alguns adeptos da alquimia que pretende unir a água e poder aspiram ao distancia- arte privada, que seja carac- noso. mas, sem sabor e sem gran-
o fogo, pregando anti-autoritarismo e anti-estatismo mas mento total das grandes mas- terística de uma estética mais Uma dupla noção de arte: deza — alimento idealizado
apoiando abertamente o regime superautoritário e supe- sas que lhes servem. alta, com símbolos indecifrá- para o dono e para o popu- para o forçamento social, do
restatal cubano, ou tolerando em silêncio seus atropelos Este distanciamento realiza veis para as multidões, lin- lacho. GRANDE PAIZINHO.
e seus crimes, o que representa, no final das contas, outra sua motivação psicológica e guagem hermética. Na medida em que a arte
forma de dar-lhe apoio. Esta, o concretismo, a figu-
justifica, perante sua cons- Um ideólogo desta concep- ração aleatória de dimensões dirigida e cientificamente
Ê difícil abrir uma brecha na couraça dos adeptos ciência, o conforto e a difi- estruturada serve ao Estado
e simpatizantes francos ou avergonhados do castrocomu- ção, Karl Hofer doutrinou : irrecorríveis, aquela, a his-
culdade alheia. «Quanto mais significativa é tória em quadrinho. ou à oligarquia, a tendência
uma arte, tanto menos ela irá se espraiando.
Esta, apanágio de exposi-
O pintor que prepeira os
COMO AJUDAR «DEALBAR» pode ser arte as grandes mas-
sas. Aquilo que a massa pro-
cura na arte é o «pires», mas
ções restritas, em círculos fe-
chados de críticos, milioná-
rios, clero e dirigentes enfa-
murais para o estabelecimen-
to bancário, servirá de arga-
Temos recebido seguida- teressadas em que o nosso é nela que se satisfaz, de tuados que se manipulam, massa para a mensagem in-
a finalidade de discutir os teressada.
mente cartas do interior e de jornal continue crescendo, po- problemas atinentes à vida uma forma descomprometida, mutuamente, na academia do
outros Estados, perguntando- dem se formar grupos deno- do jornal; difusão, manuten- simples e cheia de sentido, o gozo. Aquela, o primarismo O argumentista que prepa-
nos qual a melhor maneira minados «AMIGOS DO ção, colaboração etc. sentimento profundo e puro selecionado que acomoda e ra a novela do «mocinho»
de ajudar Dealbar. Parece- DEALBAR», que se incum- Em principio, isto nos pa- das grandes massas para tu- tranqüiliza, no conformismo que sobrepuja o «bandido»,
nos muito simples a maneira biriam de difundi-lo, de en- rece muito prático, fácil e do o' que é nobre». bovino. para a TV, usando-se eviden-
eficiente de ajudar-nos a dar viar sujestões para melhorá- eficiente. Cada agrupamento O paralelismo entre este temente, no desenrolar da pe-
A literatura das novelas e ça, automóvel da MARCA X,
maior vida e expansão ao lo, de mandar colaboração es- «AMIGOS DO DEALBAR», enfoque e a dissolução da os seriados de espionagem em
nosso jornal. Em cada loca- crita focalizando assuntos de que se fundar, devem corres- produção artística que se óculos da marca Y, móveis
contraposição aos devaneios da firma Z — contribuirá, de-
lidade onde haja pessoas in- ordf-m geral ou local, de an- ponder-se com o Diretor, ma- aconchega a técnica é evi- luxuriantes do intelectual re-
imaria)- fundos para garantir nifestando o número de exem- dente. O constatamos na músi- finado. cisivamente, para a fatal DI-
difinitivamente a sua saída e plares que lhe devem ser re- ca de Schoenberg, na pintura CC^rOMIA da ruptura impli-
ampliar-lhe a tiragem, e se E no colorido estatal da so- cita que serve de estimulante
AVISO IMPORTANTE metidos, outras informações contemporânea, na literatura ciedade, a coletivização for
possível, tirá-lo semanal- e orientação se o desejarem. a partir de Joyce. A revela- para uns e entorpecente para
mente. cada da leitura, da música a maioria.
Para evitar transtornos O Diretor ção inspirada acabaria substi- que ilude os basbaques com
toda correspondência e Esse grupo pode compor-se tuída pelo desengonço do ob-
de número ilimitado de pes- a falsidade de cultura apa- «A luta do homem pela
As guerras só podem ser jeto, sem mérito criterioso, rente, mas que esconde a mas-
valores devem ser diri- soas que estejam de acordo abolidas pelos que sofrem por em si, mas com intelig&icia liberdade não tem data
gidos em nome do com o critério por nós defen- sificação pela bestialidade e marcada para o seu
elas ; prévia. nível grotesco do conta gotas
T)'rr>}or. dido, poderá reunir semanal começo ou seu fim».
O fenômeno industrial, do artístico.
ou mensalmente sempre com Leõn Xolstoy mercado consumidor acabará Exemplo sintomático são os Juiz Willlam Douglas.

unesp"^ CZedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

aculdade de Ciências e Letras de As:


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