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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

Centro de Ciências Sociais e Aplicadas


Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis

FATORES DETERMINANTES DO JULGAMENTO ÉTICO


DOS PROFISSIONAIS DA CONTABILIDADE NO BRASIL

Luciano dos Santos Clemente

São Paulo
2013
Luciano dos Santos Clemente

FATORES DETERMINANTES DO JULGAMENTO ÉTICO DOS


PROFISSIONAIS DA CONTABILIDADE NO BRASIL

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Ciências Contábeis da
Universidade Presbiteriana Mackenzie para
obtenção do título de Mestre em
Controladoria Empresarial.

Orientadora: Professora Dra. Maria Thereza Pompa Antunes

São Paulo
2013
Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Professor Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto

Decano de Pesquisa e Pós-Graduação


Professor Dr. Moisés Ari Zilber

Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas


Professor Dr. Sérgio Lex

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis


Professora Dra. Maria Thereza Pompa Antunes
C626f Clemente, Luciano dos Santos
Fatores determinantes do julgamento ético dos profissionais
da Contabilidade no Brasil / Luciano dos Santos Clemente -
2013.
151f. : il., 30 cm

Dissertação (Mestre em Ciências Contábeis) –


Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2013.
Orientação: Profª. Drª. Maria Thereza Pompa Antunes
Bibliografia: f. 137-146

1. Ética. 2. Processo decisório ético. 3. Contabilidade. 4.


Profissional da contabilidade. I. Título.

CDD 657.834
A Deus, pela força a mim concedida.

Aos meus pais, pelo exemplo e por todo


carinho dispensado.

Para Arina e Laura, fontes de inspiração.


AGRADECIMENTOS

A Deus, por iluminar a minha mente e guiar os meus passos.

A minha esposa, Arina, por compreender a minha ausência, incentivar e me encorajar em


todos os momentos.

À Laura, minha filha, por cada minuto que não pude estar ao seu lado e desfrutar da sua
alegria e do seu sorriso.

Aos meus pais e demais familiares, por acreditarem em mim, por tudo o que me ensinaram e
pelo simples fato de fazerem parte da minha vida.

À Professora Dra. Maria Thereza Pompa Antunes, por sua orientação, apoio e pela confiança
em mim depositada.

Aos Prof. Dr. Octávio Ribeiro Mendonça Neto e ao Prof. Dr. Vinícius Aversari Martins, pela
contribuição no exame de qualificação.

A todos os professores do programa de pós-graduação em Ciências Contábeis da


Universidade Presbiteriana Mackenzie, bem como a todos os colegas de classe, pelas
contribuições e sugestões apresentadas.

À Volkswagen do Brasil, pela bolsa de estudo concedida, e a todos os seus colaboradores que,
direta ou indiretamente, contribuíram para a conclusão deste estudo.

Ao meu amigo, e também mestre por esta instituição, Claudio Colturato, pelo enorme
incentivo inicial e pelas incontáveis vezes em que trocamos ideias.

A todos os profissionais que responderam ao instrumento de coleta de dados utilizado neste


estudo, contribuindo diretamente para a realização desta pesquisa.

Ao Cássio R. C. Santos, que muito em breve também será mestre, pelo companheirismo e
incentivo.

Muito obrigado!
“Enquanto eu tiver perguntas e não houver
resposta, continuarei a escrever.”

Clarice Lispector
RESUMO

O crescente uso inadequado e criminoso da tecnologia contábil para iludir a opinião de


terceiros em relação ao valor patrimonial de uma organização demonstra a importância do
conhecimento e da compreensão dos fatores determinantes do comportamento ético do
profissional da Contabilidade, vez que, ao disponibilizar informações essenciais para a
compreensão do patrimônio das organizações, a Contabilidade desempenha papel importante
para a sociedade. O objetivo deste estudo foi o de conhecer a influência de fatores individuais
e organizacionais, bem como das características da própria questão ética, no processo
decisório ético dos profissionais da Contabilidade. Para tanto, os fatores analisados foram:
sexo, idade, religiosidade, ideologia ética, valores éticos corporativos e intensidade moral da
questão ética. A amostra utilizada foi composta por 129 profissionais da Contabilidade no
Brasil, que responderam a um questionário com 40 questões, incluindo dois cenários que
foram analisados pelos respondentes. A ferramenta estatística utilizada para análise dos dados
foi a regressão linear múltipla. Os resultados obtidos sugerem que apenas a intensidade moral,
constituída neste estudo pela magnitude das consequências e pelo consenso social, é
estatisticamente significante no processo decisório ético dos profissionais da Contabilidade.
Em um dos cenários utilizados, o nível de relativismo também se mostrou estatisticamente
significante, todavia, ao subdividir aleatoriamente toda a amostra em dois grupos com
quantidade iguais de participantes, esta significância estatística não foi confirmada,
impossibilitando a validação desta variável como preditora significante do julgamento ético
dos profissionais da Contabilidade no Brasil. Em síntese, com base nos resultados, considera-
se que o fator estudado mais significante do julgamento ético dos profissionais da
Contabilidade está associado à própria questão ética e não ao indivíduo ou à organização em
que atua. Os achados deste estudo contribuem para que as organizações e as entidades
contábeis direcionem seus esforços na busca de uma classe profissional íntegra, com
profissionais que desempenhem suas atividades com uma postura ética e transparente, sem
agir com dolo ou má fé.

Palavras-Chave: Ética, Processo Decisório Ético, Contabilidade, Profissional da


Contabilidade.
ABSTRACT

The increasing of misuse and criminal of accounting technology to deceive the public
inrelation to the book value of an organization demonstrates the importance of knowledge and
understanding of the determinants factors of ethical behavior of accountans, since, by
providing essential information of the organizations values, accounting plays an important
role to society. The aim of this study was to determine the influence of individual and
organizational factors and the caracteristics associated with ethical dilemmas in ethical
decision making of Brazilian accountants. The factors analyzed were gender, age, religion,
ethical ideology, corporate ethical values and moral intensity of ethical issues. The sample
was composed of 129 Brazilian accountants who responded to a questionnaire containing 40
questions, including two scenarios that were analyzed by the respondens; the statistical tool
used for data analysis was a multiple linear regression. The results suggest that only the moral
intensity of ethical issues is statistically significant predictor of the Brazilian accountant’s
ethical decision process. In one of the scenarios used, the level of relativism was also
statistically significant, however, for the entire sample randomly split into two groups with
equal participants number, this statistical sifnificance was not confirmed, preventing
validation of this variable as a significant predictor of ethical judgement of Brazilian
accountants. In summary, based on the results, it is considered that the most significant
predictor of ethical judgment of Brazilian accountants is associated with the ethical issue itself
and not to the individuals or organizations factos. The findings of this study contribute to
organizations and financial entities to target their efforts in pursuit of an integrated
professional class with professionals who perform their activities in an ethical and transparent
posture.

Keywords: Ethics, Ethical Decision-Making, Accounting, Brazilian accountants.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 17

1.1 Situação problema .......................................................................................................... 21


1.2 Questão de pesquisa ....................................................................................................... 22
1.3 Objetivos do estudo ........................................................................................................ 23
1.4 Justificativa e contribuições do estudo ........................................................................... 23

2 REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................... 25

2.1 Ética e moral – definições .............................................................................................. 25


2.2 O processo de tomada de decisão ética .......................................................................... 30
2.2.1 Fatores moderadores do processo de decisão ética ................................................. 31
2.2.1.1 Fatores individuais............................................................................................ 32
2.2.1.1.1 Idade .......................................................................................................... 32
2.2.1.1.2 Sexo (ou gênero) ........................................................................................ 33
2.2.1.1.3 Religiosidade ............................................................................................. 34
2.2.1.1.4 Escolaridade e experiência profissional .................................................... 36
2.2.1.1.5 Filosofia moral ou ideologia ética ............................................................. 37
2.2.1.1.6 Outras variáveis individuais e os fatores abordados neste estudo ............. 45
2.2.1.2 Fatores situacionais........................................................................................... 46
2.2.1.2.1 Valores éticos corporativos ....................................................................... 47
2.2.1.2.2 Intensidade Moral das questões éticas ....................................................... 49
2.2.1.2.3 Código de ética profissional e organizacional ........................................... 53
2.2.1.2.4 Outros fatores situacionais......................................................................... 55
2.2.2 Modelos teóricos de tomada de decisão ética .......................................................... 56
2.2.2.1 O modelo de Kohlberg (1969) e o Julgamento Moral ...................................... 56
2.2.2.2 O modelo de Rest (1986) .................................................................................. 57
2.2.2.3 O modelo de Trevino (1986) ............................................................................ 59
2.2.2.4 O modelo de Ferrell e Gresham (1985) ............................................................ 60
2.2.2.5 O modelo de Hunt e Vitell (1986) .................................................................... 62
2.2.2.6 O modelo de Jones (1991) ................................................................................ 65
2.2.2.7 O modelo adotado no presente estudo .............................................................. 68

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................ 71

3.1 Tipo e Método de Pesquisa............................................................................................. 71


3.2 Hipóteses de Pesquisa ..................................................................................................... 71
3.3 Variáveis de pesquisa e definição operacional ............................................................... 75
3.3.1 Variável Dependente ............................................................................................... 75
3.3.2 Variáveis independentes .......................................................................................... 76
3.4 População e Amostra ...................................................................................................... 80
3.5 Procedimentos de Coleta de Dados ................................................................................ 83
3.5 Tratamento dos Dados .................................................................................................... 85
3.6 Compromisso ético com os respondentes ....................................................................... 88

4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ...................................................... 89

4.1 Caracterização da amostra e análise exploratória de dados ............................................ 89


4.1.1 Fatores individuais................................................................................................... 89
4.1.2 Fatores organizacionais ........................................................................................... 93
4.1.3 Orientação ou Ideologia Ética ................................................................................. 96
4.1.4 A Intensidade Moral, Reconhecimento Ético e Julgamento Ético .......................... 99
4.1.4.1 Cenário 01 - Formação de provisões de serviços diversos ............................... 99
4.1.4.2 Cenário 02 - Produtos alimentícios ................................................................ 104
4.2 Análise confirmatória de dados .................................................................................... 108
4.2.1 Cenário 01 - Formação de provisões de serviços diversos .................................... 109
4.2.2 Cenário 02 - Produtos alimentícios ....................................................................... 120
4.3 Análise das hipóteses do estudo ................................................................................... 127

5 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................... 132

5.1 Limitações do estudo .................................................................................................... 134


5.2 Sugestões para pesquisas futuras .................................................................................. 135

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 137

APÊNDICE A: QUESTIONÁRIO PARA COLETA DE DADOS .................................. 147


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Modelo interativo de tomada de decisão em marketing organizacional ................... 60


Figura 2: Um modelo eventual de tomada de decisão em marketing organizacional .............. 62
Figura 3: Teoria geral de ética em marketing ........................................................................... 64
Figura 4: Síntese dos modelos de tomada de decisão ............................................................... 65
Figura 5: Modelo eventual de tomada de decisões éticas nas organizações ............................ 67
Figura 6: Modelo adaptado para o presente estudo .................................................................. 70
Figura 7: Variáveis estudadas e suas respectivas questões de pesquisas ................................. 84
Figura 8: Análise exploratória dos fatores organizacionais - Sexo .......................................... 89
Figura 9: Histograma da variável independente idade ............................................................. 90
Figura 10: Análise exploratória dos fatores organizacionais - Escolaridade............................ 91
Figura 11: Análise exploratória dos fatores organizacionais – Cargo ou função desempenhada
.......................................................................................................................................... 92
Figura 12: Histograma da variável independente “Religiosidade” .......................................... 93
Figura 13: Análise exploratória dos fatores organizacionais – Vínculo empregatício ............. 93
Figura 14: Análise exploratória dos fatores organizacionais - Tipo de capital ........................ 94
Figura 15: Análise exploratória dos fatores organizacionais – Porte da empresa .................... 94
Figura 16: Análise exploratória dos fatores organizacionais – Existência de um código de
ética formal ....................................................................................................................... 95
Figura 17: Histograma da variável independente ‘Valores Éticos Corporativos’ .................... 95
Figura 18: Histograma da variável independente ‘Idealismo’.................................................. 97
Figura 19: Histograma da variável independente ‘Relativismo’ .............................................. 98
Figura 20: Reconhecimento Ético – Cenário 01 ..................................................................... 100
Figura 21: Histograma da variável dependente “Julgamento Ético” – Cenário 01 ................ 101
Figura 22: Histograma do componente “Magnitude das consequências” – Cenário 01 ........ 102
Figura 23: Histograma do componente “Consenso social” – Cenário 01 .............................. 103
Figura 24: Histograma da variável independente Intensidade Moral – Cenário 01 ............... 104
Figura 25: Reconhecimento Ético – Cenário 02 ..................................................................... 105
Figura 26: Histograma do julgamento ético – Cenário 02...................................................... 106
Figura 27: Histograma da magnitude das consequências – Cenário 02 ................................. 106
Figura 28: Histograma do Consenso social – Cenário 02 ...................................................... 107
Figura 29: Histograma da variável independente Intensidade Moral – Cenário 02 ............... 108
Figura 30: Autocorrelação serial – estatística de Durbin-Watson .......................................... 111
Figura 31: Gráfico normal P-Plot da regressão do resíduo padronizado – Regressão Múltipla –
Cenário 01 ...................................................................................................................... 116
Figura 32: Histograma dos resíduos padronizados – Regressão Múltipla – Cenário 01 ........ 117
Figura 33: Gráfico normal P-Plot da regressão do resíduo padronizado – Regressão Linear –
Cenário 02 ...................................................................................................................... 124
Figura 34: Histograma dos resíduos padronizados – Regressão Linear – Cenário 02 ........... 125
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Taxonomia da Ideologia Ética ................................................................................. 41
Quadro 2: Taxonomia da Ideologia Ética, segundo Forsyth (1992)......................................... 43
Quadro 3: Resumo das variáveis individuais analisadas neste estudo ..................................... 46
Quadro 4: Resumo das variáveis situacionais analisadas neste estudo .................................... 55
Quadro 5: Matriz de amarração da variável dependente e das variáveis independentes .......... 80
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Confiabilidade do questionário adotado para a variável independente ‘Valores
Éticos Corporativos’ ......................................................................................................... 96
Tabela 2: Confiabilidade do questionário adotado para a variável independente ‘Idealismo’ . 96
Tabela 3: Confiabilidade do questionário adotado para a variável independente ‘Relativismo’
.......................................................................................................................................... 96
Tabela 4: Variáveis inseridas no modelo de regressão múltipla pelo método Stepwise –
Cenário 01 ...................................................................................................................... 109
Tabela 5: Resumo do modelo de regressão múltipla – Cenário 01 ........................................ 110
Tabela 6: ANOVA – Regressão Múltipla Cenário 01 ........................................................... 112
Tabela 7: Coeficientes da regressão múltipla – Cenário 01 ................................................... 113
Tabela 8: Coeficientes da regressão múltipla – Cenário 01 ................................................... 115
Tabela 9: Teste de normalidade dos resíduos padronizados – Cenário 01 ............................. 116
Tabela 10: ANOVA dos resíduos da Regressão Múltipla – Cenário 01 ................................ 117
Tabela 11: Sumário dos dados para validação do modelo – Cenário 01 ................................ 118
Tabela 12: Sumário dos dados para validação do modelo, considerando uma variável
independente – Cenário 01 ............................................................................................. 119
Tabela 13: Variáveis inseridas no modelo de regressão pelo método Stepwise – Cenário 02 120
Tabela 14: Resumo do modelo de regressão – Cenário 02..................................................... 121
Tabela 15: ANOVA – Regressão Linear - Cenário 02 ........................................................... 122
Tabela 16: Coeficientes da regressão simples – Cenário 02 .................................................. 123
Tabela 17: Variáveis excluídas do modelo de regressão múltipla – Cenário 02 .................... 123
Tabela 18: Teste de normalidade dos resíduos padronizados – Cenário 02 ........................... 124
Tabela 19: ANOVA dos resíduos do modelo de Regressão – Cenário 02 ............................. 126
Tabela 20: Sumário dos dados para validação do modelo – Cenário 02 ................................ 126
LISTA DE ABREVIATURAS

CEPC – Código de Ética dos Profissionais da Contabilidade


CFC – Conselho Federal de Contabilidade
CRC-SP – Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo
DIT – Defining Issues Test
EPQ – Ethics Position Questionnaire
IFRS – International Financial Reporting Standard
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SINDICONT-SP – Sindicato dos Contabilistas de São Paulo
1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, a economia mundial vivenciou crescente interação e


interdependência entre países e empresas ocasionadas, principalmente, pelo processo da
globalização a qual trouxe consigo a possibilidade de organizações captarem recursos e
adquirirem ativos operacionais com menores custos, bem como financiarem a manutenção de
suas atividades e o seu crescimento (BRUNI, 2002, p. 4).
Um aspecto desta globalização econômica é a forte tendência para uma racionalização
global, com normas mundiais que visam incrementar a eficácia e a produtividade empresarial
(BRUNI, 2002, p. 4), tendência também confirmada por Almeida (2007, p. 106):

O fenômeno de globalização das economias e dos mercados arrasta uma tendência


para a convergência de gostos, de normas, de comportamentos, de expectativas, de
padrões de qualidade e de desempenho, constituindo uma pressão suplementar para
todas as organizações e empresas, independentemente do nível em que operam –
local, regional, nacional ou mundial.

Outro aspecto considerável é o aumento da competitividade entre as empresas, de tal


modo que tal convergência para os padrões de qualidade e desempenho torna-se uma
obrigatoriedade para a manutenção e sobrevivência organizacional. Consequentemente, as
empresas passaram a uma incessante busca pelo alto desempenho e por resultados econômico-
financeiros audaciosos, associando a remuneração de executivos e administradores a esses
indicadores, colocando em risco os seus respectivos rendimentos, cargos e empregos.
A Contabilidade, ao disponibilizar informações utilizadas na avaliação do desempenho
empresarial, tais como o lucro ou prejuízo organizacional, apresenta papel de grande destaque
neste processo (MARTINEZ, 2001, p. 1). No entanto, o gerenciamento de resultados
possibilitado pela flexibilidade que as práticas contábeis oferecem, permitindo aos gestores
agirem com discricionariedade em relação aos procedimentos contábeis (NARDI e NAKAO,
2009, p. 78), inclusive por decisões operacionais que estão dentro dos perímetros legais
(ALMEIDA-SANTOS et al., 2011, p. 56), torna-se um fator de grande preocupação para a
sociedade.
De fato, Megliorini et al. (2008, p. 3) pontuam que esta flexibilidade, aliada às lacunas
encontradas na legislação, possibilita aos administradores e contadores escolherem, dentre as
alternativas possíveis, aquelas que possam não refletir a melhor apresentação da realidade
econômica, financeira e patrimonial da empresa, induzindo o mercado e a sociedade a super
avaliarem o valor de uma empresa.
18

Nardi e Nakao (2009, p. 78) destacam que os motivos para a prática de gerenciamento
de resultados nas empresas são diversos, incluindo a motivação para atender às restrições
contratuais de empréstimos ou, até mesmo, atos oportunistas individuais dos gestores e
administradores a fim de atingirem seus interesses pessoais, tais como metas de desempenho,
em detrimento da geração de riqueza para os acionistas, tornando tal prática ilegal e antiética.
Logo, essa flexibilidade das práticas contábeis pode induzir à prática de fraudes por
gestores, contadores e administradores empresariais, beneficiando apenas um grupo
desonesto, enquanto a maioria da sociedade paga alto por este processo (SÁ; HOOG, 2010, p.
3). Tem-se, assim, o uso típico do gerenciamento de resultados de forma fraudulenta e dolosa,
que caracteriza a falta de ética por parte dos agentes morais responsáveis por tais práticas.
Sá e Hoog (2010) sustentam que a tecnologia contábil tem sido utilizada de modo
inadequado e criminoso para iludir a opinião de terceiros e isto acontece, principalmente, pela
depravação dos costumes que alcançaram níveis alarmantes. Logo, fraudar “tem sido um
negócio proveitoso para os que possuem poder de decisão e comando, mal que tem
contaminado, inclusive, as camadas inferiores das administrações” (SÁ; HOOG, 2010, p. 14).
Assim, considerando que as ações e decisões tomadas pelos profissionais de uma
organização podem ter em seus efeitos um longo alcance (ROBERTSON et al., 2002, p. 327),
principalmente através do advento da globalização econômica e da origem do capital
investido nas organizações, como já descrito anteriormente, a dimensão ética no processo
decisório empresarial tornou-se de grande importância para a sociedade. Robertson et al.
(2002), por exemplo, consideram que a dimensão ética do processo decisório empresarial é,
atualmente, uma das grandes preocupações para gestores, políticos, pesquisadores e para toda
a sociedade.
Neste contexto, a ética do profissional da contabilidade torna-se ainda mais relevante.
Como enfatiza Kraemer (2001, p. 33), em relação à profissão contábil, trata-se de “uma
função nobre e de alta responsabilidade, onde os deslizes cometidos, por negligência, dolo ou
má fé, podem induzir a erros de apreciação, de decisão consciente e precisa”.
Por serem profissionais que apresentam relevância para a sociedade, visto que as
informações por eles geradas impactam a economia e a sociedade, espera-se que os
profissionais da Contabilidade adotem uma postura ética e transparente, servindo, inclusive,
de exemplo para a própria sociedade.
De fato, Kraemer (2001) defende que todos os profissionais de uma sociedade são
elementos de referência para ela, carregando a obrigação de influenciar positivamente o meio
19

em que atuam, devendo agir com integridade, objetividade e independência de critério, bem
como desempenhar suas atividades com competência, diligência e discrição.
Contudo, diversas situações derivadas de fraudes e atitudes desonestas resultantes de
dolo ou má fé e que envolvem as práticas contábeis podem ser observadas nos escândalos
protagonizados por grandes corporações no período compreendido entre o final do século XX
e o início do século XXI (MEGLIORINI et al., 2008, p. 3). Neste sentido, e, a fim de evitar
novos escândalos, tais como os casos que envolveram as empresas Enron e WorldCom, nos
Estados Unidos e apresentaram grande repercussão mundial, governos e entidades de classes
buscaram criar medidas para protejer a sociedade dos maus profissionais.
Cita-se, como exemplo, o desenvolvimento da lei Sarbanes-Oxley (2002), nos Estados
Unidos, a qual foi legalmente requerida para empresas com ações em bolsa de valores daquele
país. Esta lei determina a divulgação de informações a respeito da existência (ou não) de um
código de ética a ser adotado por seus executivos, obrigando-os a acatar e praticar suas
determinações, caso este código exista (ALVES et al., 2007, p. 59).
No Brasil, registra-se a inexistência de normas que obriguem a constituição de um
código de ética nas empresas, todavia, conforme pontuam Alves et al. (2007, p. 59), a
atividade profissional na Contabilidade é regida por um Código de Ética Profissional
emanado do órgão de classe – o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), em que os
conselhos regionais de contabilidade têm a função de proteger, por assim dizer, a sociedade
através da fiscalização, dentre outras medidas.
Diversos estudos demonstram que a sociedade brasileira possui características e
valores culturais que tornam a discussão da conduta ética e do processo decisório ético ainda
mais importante. Uma destas características é o alto nível de corrupção no Brasil, percepção
esta compartilhada inclusive por indivíduos que vivem fora do país, conforme se pode
observar nos resultados da pesquisa realizada por Melgar, Rossi e Smith (2010).
O referido estudo teve como amostra aproximadamente 45.000 indivíduos de
diferentes países e identificou ser o Brasil o país que carrega a percepção dos mais altos níveis
de corrupção entre os mais de 35 países relevantes para economia mundial.
Como agravante, o país é marcado pelo forte sentimento de impunidade, fazendo com
que tal corrupção seja vista como um comportamento natural e necessário para os indivíduos
conseguirem auferir as benesses do Estado. Mesmo o Brasil vivenciando um grande avanço
na gestão pública nos últimos anos, tal aprimoramento na gestão pública não foi
acompanhado pela diminuição da percepção dos níveis de corrupção (FILGUEIRAS;
ARANHA, 2011, p. 349).
20

Outros estudos que focam a cultura e os valores dos indivíduos brasileiros também
apontam outras características típicas, tais como: personalismo, protecionismo, orientação
para o curto prazo, aversão à incerteza e o famoso “jeitinho brasileiro”. Alguns indicadores
demonstram as seguintes características dos brasileiros: favoritismo, paternalismo, ênfase nas
relações pessoais, apropriação do público pelo privado, igualdade moral e não jurídica e
transferência de responsabilidade (OLIVEIRA e MACHADO-DA-SILVA, 2001;
SHIMONISHI e MACHADO-DA-SILVA, 2003).
Quanto ao “jeitinho brasileiro”, já mencionado, Motta e Alcadipani (1999, p. 8)
realçam que este é o genuíno processo brasileiro de uma pessoa atingir objetivos a despeito de
determinações (leis, normas, regras, ordens, etc.) contrárias. Os autores argumentam que “no
Brasil, os interesses pessoais são tidos como mais importantes do que os conjuntos da
sociedade, ocasionando falta de coesão na vida social brasileira” (MOTTA; ALCADIPANI,
1999, p. 7).
Neste aspecto, o CFC e os Conselhos Regionais de Contabilidade têm atuado a
respeito dos princípios e normas contábeis de natureza técnica e profissional, além de
procurarem buscar a qualificação da classe contábil por meio do Exame de Suficiência
(BRASIL, 2011) para que se evitem comportamentos inadequados.
Entretanto, estas ações, por si só, são insuficientes para garantir que os profissionais da
contabilidade ajam com independência e integridade (MARQUES e AZEVEDO-PEREIRA,
2009, p. 229), vez que o modo como os profissionais se comportam, quando se defrontam
com as questões éticas, muda de indivíduo para indivíduo (FORSYTH, 1980; 1992).
Assim, considerando que o processo decisório ético é moderado por diferentes fatores,
como será exposto mais adiante neste estudo, e que as pessoas julgam e se comportam de
modo diferente perante as situações éticas (FORSYTH, 1980; 1992), o aprofundamento do
conhecimento e entendimento desses fatores moderadores do processo de decisão ético e
preditores da conduta ética dos profissionais da Contabilidade são de grande valia para a
sociedade, visto que podem contribuir para o fortalecimento dos fundamentos éticos de uma
profissão.
Kraemer, já em 2001, apontava a necessidade de fomentar uma profissão, no caso, a
profissão contábil, da qual se possa ter orgulho, com consciência tranquila, vez que a
participação do profissional colabora com o equilíbrio social (KRAEMER, 2001, p. 34),
sustentando que uma profissão baseada em fundamentos éticos colabora para um país com
mais prosperidade e menos corrupção, auxiliando na construção de um país ético e
moralmente respeitado.
21

1.1 Situação problema

Megliorini et al. (2008, p. 3) sustentam que as práticas contábeis oferecem uma


flexibilidade que possibilita aos profissionais da Contabilidade e administradores escolherem
alternativas que não representam as realidades econômicas, financeiras e patrimoniais das
organizações em que atuam, induzindo o mercado e a sociedade a superavaliarem o valor de
uma empresa.
Adicionalmente, os escândalos contábeis recentes evidenciam a necessidade de os
profissionais da contabilidade serem altamente responsáveis e íntegros, visto que deslizes
cometidos, por negligência, dolo ou má fé, induzem terceiros a erros de apreciação e de
decisão consciente e precisa (KRAEMER, 2001, p. 33).
Paralelo a isso, a Lei 11.638/07 determinou a harmonização das práticas contábeis
brasileiras com o IFRS (International Financial Reporting Standard), alinhou o Brasil ao
processo de internacionalização das práticas contábeis e alterou diversos dispositivos
pertinentes à legislação contábil, deixando tais práticas contábeis mais subjetivas e
requerendo uma maior necessidade de julgamento e responsabilidade por parte dos
profissionais da Contabilidade (IUDÍCIBUS, MARTINS e GELBCKE, 2008, p. 31; GERON,
2008, p. 26).
O aumento da subjetividade e o preceito da essência sobre a forma são alguns dos
aspectos da Lei 11.638/07, que podem colocar em risco a qualidade da informação e a
defluente análise das situações das empresas, conforme pontuam Sá e Hoog (2010, p. 190):
“O denominado IFRS, além da redação pouco didática, dos defeitos conceituais, das
transgressões às leis de nosso País em face do que manda registrar, abre grandes portas ao
subjetivismo, e, portanto, à fraude...”.
Todavia, a sociedade, ao confiar no contador, espera que ele atue com integridade,
objetividade e independência de critério, desempenhe suas atividades com competência,
diligência e discrição, comportando-se com dignidade, colaborando com uma sociedade com
menos corrupção e mais prosperidade (KRAEMER, 2001), apresentando uma conduta ética
condizente com a responsabilidade que lhe é confiada.
Forsyth (1992), contudo, considera que as atitudes dos indivíduos perante as questões
éticas no ambiente empresarial diferem de acordo com as suas crenças e valores morais, ou
22

seja, o comportamento dos profissionais de uma entidade pode variar de acordo com a sua
filosofia moral.
Diante do exposto, entende-se que os estudos dos fatores que são moderadores do
julgamento ético e, consequentemente, do processo decisório ético são de grande importância
para as organizações e para a sociedade, principalmente no caso brasileiro, na qual impera um
sentimento de impunidade que faz com que a corrupção, em muitos casos, seja vista como um
comportamento natural (FILGUEIRAS; ARANHA; 2011, p. 349).

1.2 Questão de pesquisa

Conforme será apresentado adiante, são muitos os fatores apresentados na literatura


que exercem algum tipo de influência sobre a conduta ética e sobre o comportamento ético
dos indivíduos, quando estes se defrontam com situações que envolvem um dilema ético ou
moral.
Tais fatores que influenciam o processo decisório ético e a conduta ética dos
indivíduos são denominados fatores moderadores do processo de decisão e de conduta
ética (ver item 2.2.1). Comumente, tais fatores são associados aos indivíduos, às situações
que envolvem os dilemas morais e às características da própria questão ética.
Em linhas gerais, tem-se que os fatores associados ao indivíduo, denominados de
fatores individuais, podem ser oriundos do seu nascimento, tais como o sexo e a idade, ou do
processo de socialização, como é o caso da escolaridade e da religiosidade (ver item 2.2.1.1).
Outro fator relevante associado ao indivíduo refere-se aos valores e às crenças que os
orientam em relação ao que é certo e ao que é errado. Este sistema integrado de crenças,
valores e padrões são denominados ideologia ética e são abordados neste estudo, no item
2.2.1.1.5.
Os fatores associados à situação, também conhecidos como fatores situacionais,
referem-se ao ambiente em que o indivíduo e o dilema ético estão inseridos. Estes são os
casos da cultura e dos valores éticos existentes nas organizações e que também são
denominados de valores éticos corporativos, dentre outros (ver item 2.2.1.2).
Por fim, as características dos dilemas morais, que estão atreladas à própria questão e
envolvem, por exemplo, as consequências desta ação e o consenso social em relação à
moralidade desta ação perante a sociedade, também influenciam o processo decisório ético.
Este conjunto de características das questões, ou dilema moral, é conceituado por Jones
23

(1991) como um construto composto por seis elementos e denominado “intensidade moral”,
abordado no item 2.2.1.2.2.
Portanto, considerando os possíveis fatores moderadores da conduta ética e do
processo decisório ético suscintamente descritos e nos quais o julgamento ético está inserido,
apresenta-se a seguinte questão de pesquisa: A ideologia ética, a intensidade moral das
questões éticas e as características pessoais e organizacionais podem ser consideradas
fatores direcionadores significantes do julgamento ético dos profissionais da
Contabilidade no Brasil?

1.3 Objetivos do estudo

O objetivo geral deste estudo é o de conhecer a influência das características pessoais


e organizacionais no julgamento ético, bem como conhecer os impactos da ideologia ética e
da intensidade moral dos dilemas éticos neste processo na profissão contábil.
A fim de se atingir tal objetivo, fez-se necessário um maior detalhamento e
investigação do objetivo proposto, resultando nos seguintes objetivos específicos:

 Examinar quais das características pessoais adotadas neste estudo (idade, sexo e
religiosidade) influenciam significativamente o julgamento ético dos profissionais da
Contabilidade;
 Verificar como a ideologia ética pode atuar significantemente na predição do julgamento
ético dos profissionais da Contabilidade;
 Conhecer a significância da influência da intensidade moral percebida no julgamento
ético dos profissionais da Contabilidade;
 Identificar qual é a influência dos valores éticos corporativos no julgamento ético dos
profissionais da Contabilidade.

1.4 Justificativa e contribuições do estudo

Segundo Almeida (2007, p. 106), a adoção de uma conduta baseada em princípios


morais que respeitem os valores da comunidade e o ambiente em que as empresas estão
24

inseridas é uma exigência incontornável das sociedades contemporâneas que os responsáveis


organizacionais não podem ignorar.
Entretanto, o comportamento dos profissionais de uma organização perante situações
éticas variam de indivíduo para indivíduo (MARQUES e AZEVEDO-PEREIRA, 2009, p.
228), sendo o processo decisório ético destes profissionais influenciado por diversos fatores,
tais como os princípios e valores morais individuais e, também, organizacionais (HUNT e
VITELL, 2006; JONES, 1991; HUNT e VITELL, 1986; TREVINO, 1986; FERRELL e
GRESHAM, 1985).
Portanto, o entendimento e a compreensão dos fatores que influenciam o
comportamento ético dos profissionais de uma organização são de grande importância para a
sociedade, justificando a realização desta pesquisa. Todavia, apesar desta importância, poucos
estudos na área de ética em Contabilidade no Brasil foram realizados, principalmente se
considerada a relevância social dessa profissão e o momento de mudança na filosofia contábil
no Brasil (ALVES, 2005, p. 15),
Em síntese, a relevância da profissão contábil para a sociedade, a mudança na filosofia
contábil, tornando-a mais subjetiva, o histórico de corrupção e impunidade no Brasil, bem
como a reduzida quantidade de estudos empíricos voltados à ética na Contabilidade,
principalmente no caso brasileiro, justificam a realização dessa pesquisa.
Neste aspecto, entende-se que este estudo, ao contribuir para a identificação dos
fatores que são significantemente preditores do comportamento ético dos profissionais da
Contabilidade, pode fornecer subsídios para o conhecimento do perfil ético do profissional da
Contabilidade, proporcionando maior entendimento do julgamento ético dos profissionais da
Contabilidade, bem como de quais fatores influenciam a conduta ética desses profissionais.
Os resultados aqui apresentados visam fornecer subsídios para que as disciplinas de
Ética Profissional, ministradas nos cursos de graduação em Ciências Contábeis, abordem
fatores que incentivem o profissional a agir de forma a atender aos anseios da sociedade, além
de dar suporte às organizações empresariais para a criação de um bom ambiente e de uma
cultura organizacional focada em altos índices e valores éticos dentro da instituição.
Da mesma forma, este estudo pode contribuir para que os órgãos de associações da
classe contábil, de posse dos resultados aqui demonstrados, adotem medidas preventivas que
evitem o comportamento antiético dos profissionais da contabilidade, tais como o
aperfeiçoamento do processo de fiscalização e da inclusão do tema na formação profissional
contábil e da educação continuada, dentre outras ações.
2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Ética e moral – definições

Na convivência em sociedade, o ser humano está cercado diariamente de inúmeros


relacionamentos que influenciam e moldam o seu comportamento e a visão de vida que cada
um carrega, tornando os indivíduos diferentes entre si (LISBOA, 1997). Por estas diferenças,
é natural que as pessoas se comportem de maneira desigual na busca de seus objetivos e
metas, cujos atos podem acarretar em diferentes consequências para um indivíduo, um grupo
ou uma comunidade inteira (LISBOA, 1997; VAZQUEZ, 2007).
Etimologicamente, a origem da palavra ética vem do termo grego ethos, que significa
o estudo de juízos referentes à conduta humana. Lisboa (1997, p. 22) considera a ética como
ramo do conhecimento, cujo objeto de estudo é o comportamento humano, tendo por objetivo
estabelecer níveis aceitáveis que garantam a convivência pacífica dentro das sociedades e
entre elas. Logo, a ética busca o conhecimento das razões de diferentes comportamentos como
resultante das crenças e valores dos indivíduos, bem como procura estabelecer tipos de
comportamentos que permitam a convivência em sociedade.
Segundo Freitas et al. (2011), considerando a perspectiva da ética como ramo do
conhecimento, esta tem um objeto próprio: o agir moral humano e, embora parta de
evidências empíricas, nesta perspectiva a ética não deve permanecer na simples descrição dos
fatos, mas deve necessariamente elaborar conceitos e teorias. Por isto, suas preposições
devem ter rigor, coerência e fundamentação, como ocorre com as proposições científicas.
Por sua vez, se a ética é, enquanto ramo do conhecimento, considerada como o estudo
do comportamento humano, a moral é o comportamento humano propriamente dito, sendo
definido por Stukart (2003, p. 14) como o conjunto de costumes, normas e regras de uma
sociedade.
Vázquez (2007) considera que os indivíduos, ao agirem de acordo com normas e
valores estabelecidos, bem como ao formarem juízo e julgarem o comportamento alheio em
face de determinados problemas, estão agindo moralmente. Logo, a moral está associada aos
problemas práticos que, segundo o autor (VÁZQUEZ, 2007, p. 15),

...se apresentam nas relações efetivas, reais, entre indivíduos ou quando se julgam
certas decisões e ações dos mesmos. Trata-se, por sua vez, de problemas cuja
26

solução não concerne somente à pessoa que o propõe, mas também a outra, ou
outras pessoas, que sofrerão as consequências da sua decisão e da sua ação.

O conceito de moral pode ser visto, portanto, como regra de conduta, em que os
indivíduos tomam decisões e realizam certos atos para resolver problemas existentes em suas
relações mútuas, bem como julgam e avaliam, de uma ou de outra maneira, estas decisões
(VÁZQUEZ, 2007, p. 17).
Stukart (2003) pontua que a moral é o relato da própria realização do comportamento
humano, englobando aspectos como liberdade, consciência, o bem e o mal e outros problemas
gerais e fundamentais. Portanto, a moral está associada a regras de conduta.
Cabe ressaltar que, apesar desta distinção entre o conceito de moral, enquanto regra de
conduta, e o conceito da ética, enquanto ramo do conhecimento, comumente as palavras
“moral” e “ética” são empregadas como sinônimas, e as pessoas utilizam a palavra ética para
criticar o comportamento e a atitude dos indivíduos (LA TAILLE, 2010, p. 108).
De fato, Alves (2005, p. 17) menciona que os conceitos da ética e da moral se
diferenciam, quando a ética é vista como ramo do conhecimento e a moral como regra de
conduta, mas, quando associados a costumes, tais conceitos normalmente se assemelham.
Portanto, “a moral, como sinônimo de ética, pode ser conceituada como o conjunto
das normas que, em determinado meio, granjeiam a aprovação para o comportamento dos
homens” (LISBOA, 1997, p. 24).
Vázquez (2007, p. 37), apesar de definir a moral como um conjunto de normas e
regras destinadas a regular as relações dos indivíduos, também a associa indiretamente aos
costumes, vez que, para o autor, “[...] seu significado, função e validade não podem deixar de
variar historicamente nas diferentes sociedades [...]”.
Associar a ética como sinônimo de moral nada mais é do que reconhecer a ética como
uma filosofia prática cujo conteúdo, segundo Freitas et al. (2011), é o agir humano, sem
restringir a amplitude das discussões que a contempla. Nessa perspectiva, a origem da ética
pode estar na religião, na reciprocidade ou na intuição.
De fato, Stukart (2003, p. 15) considera que são três as possíveis origens da ética: (1)
na religião, vez que todas as religiões, desde aquelas que seguem Jesus Cristo, Moisés, Buda,
Maomé, Confúcio, entre outras, pregam um código de ética prescrito por Deus; (2) na
reciprocidade, em que algumas teorias atribuem o nascimento da ética, assim como da
linguagem, às necessidades de se regular a vida em comum e; (3) na intuição, já que achamos
intuitivamente que, geralmente baseado nas leis naturais, sabemos o que é certo, honroso,
bom ou mau.
27

Fato é que, enquanto filosofia prática, a ética atual foi influenciada pelo pensamento
de vários filósofos e pensadores cristãos, dos quais, cronologicamente, Stukart (2003, p. 31 a
42) descreve:

 Sócrates (470-399 a.C.): considerava que a sabedoria era uma virtude e o mal, a
ignorância. Pregou que não se deve lesar ninguém, manter as promessas, alicerçar a
conduta moral na plena consciência responsável e respeitar os pais e os mestres. Para
Sócrates, o homem age certo quando conhece o bem e, aspirando ao bem, sente-se feliz.
Não deixou livros e todos os seus diálogos foram eternizados por seu aluno Platão.

 Platão (427-347 a.C.): discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, analisou os


tradicionais mandamentos da ética, pontificando a respeito deles: “Idéias existem apenas
quando são percebidas pela razão”. A ideia do bem é a forma suprema, é um imperativo
moral para todos. Três coisas são valiosas para Platão: justiça, beleza e verdade, sendo que
as virtudes são sabedoria, coragem, prudência, esperança e justiça. Um de seus
ensinamentos é que se devem evitar os excessos e as insuficiências de cada lado extremo,
porque, assim, o homem se torna mais feliz.

 Aristóteles (384-322 a.C.): aluno de Platão e o primeiro a criar uma profunda lógica e
uma sistemática ética orientada para a razão; diferentemente de Platão, orientada para o
bem. Criou o silogismo, que é o conjunto de três preposições nas quais a terceira é uma
conclusão verdadeira desde que a primeira e a segunda também o sejam. Exemplificando:
(1) Ricardo é um jogador de futebol. (2) Todos os jogadores de futebol são seres humanos.
(3) Logo, Ricardo é um ser humano. Para Aristóteles, a essência da ética é ficar na média
áurea, isto é, sem excessos e sem deficiências. Todavia, a média áurea não se aplica ao que
é negativo, como a alegria maliciosa, a falta de vergonha, inveja, ou no caso de ações como
adultério, roubo e assassinato. Considerava que o bem absoluto é a felicidade e não o
prazer e nem a riqueza.

 Marco Aurélio (121-180): imperador romano durante a decadência do império e, apesar


de não ser cristão, seguia uma linha cristã e, por isto, Stukart (2003) o considera um
pensador cristão. Pensava que a ética devia ser aceita como tal diante da determinação
racional do universo, acreditava que no mundo só acontece o que Deus quer (fatalismo) e o
28

homem precisa aceitar o seu destino. Fez duas exigências sociais: justiça e amor ao
próximo, incluindo escravos e bárbaros.

 Santo Agostinho (354-430): pensador cristão que estudou os filósofos gregos, a fé cristã e
a religião dos persas. Achava que a existência humana pende para o mal, mas que o
homem sempre procura o bem. Sua ética é a do amor, do seguimento de Cristo com
contemplação e oração. Para ele, Deus é a unidade absoluta, a verdade que tudo envolve, o
Ser supremo, o Supremo Bem.

 São Tomás de Aquino (1225-1274): segundo Stukart (2003, p. 40) foi, talvez, o maior
filósofo da Idade Média, ensinando em Nápoles, Paris e Roma. Suas virtudes eram
similares às defendidas por Platão: sabedoria, coragem, moderação e justiça. Ele unificou o
conhecimento e a fé, considerando que a razão e a fé são compatíveis. Acreditava que são
necessárias três coisas para a salvação do homem: saber em quem acreditar, saber o que
desejar e saber o que fazer. A filosofia de São Tomás constitui o sistema oficial da Igreja
Católica e, para ele, Deus é eterno, imóvel, simples, uno, infinito, perfeito, inteligente, com
vontade, incorruptível, imutável e verdadeiro.

 Renné Descartes (1596-1650): fundador do racionalismo francês, Descartes era


matemático e físico. Para ele, a ciência deveria basear-se na evidência e na dedução daí
decorrente. Conciliou religião e ciência, tendo como cunho o mote “penso, logo existo”.
Em sua principal obra (Discurso do método), definiu quatro regras aplicáveis também às
pesquisas sobre a ética e outros aspectos: (1) Jamais acolher alguma coisa como
verdadeira, que não se conheça como tal, ou seja, com evidências; (2) Dividir o todo em
partes para melhor resolução do problema; (3) Conduzir os pensamentos por ordem,
partindo dos objetos mais simples para os mais complexos; e (4) Fazer enumerações tão
complexas e revisões tão gerais a ponto de se ter certeza de nada omitir.

 Voltaire (1694-1778): ideólogo da Revolução Francesa, Voltaire contribuiu na mudança


da aristocracia feudal para a soberania da classe média. Liberal, seu verdadeiro nome era
François Marie Arouet. Iniciou o Iluminismo, introduzindo a mecânica de Newton e a
psicologia de Locke, transformando opacos pensamentos dos escolásticos em radiantes
ideais. Para Voltaire, “Há somente uma moral, assim como há somente uma geometria”.
29

 Immanuel Kant (1724-1804): nascido na Prússia, seu pensamento é o começo da filosofia


moderna. Estudou a razão independente da metafísica, superando o empirismo e
racionalismo; foi o primeiro a separar a fé da ciência e exaltou a razão em si mesma. Em
sua obra Crítica da razão prática, criou o célebre imperativo categórico, antigamente
chamado de consciência: “Sempre aja para que a sua ação possa ser o princípio de uma
legislação universal”. Para Kant, a priori, o bem maior deve ser criado pelo livre-arbítrio:
nossa vontade é o bem, que necessariamente está ligado à virtude e à felicidade. No bem
maior se juntam felicidade e liberdade, mas é preciso boa vontade, porque a vontade pode
levar a pessoa a querer o mal.

 John Stuart Mill (1806-1873): acreditava que a ética deveria se harmonizar com a
liberdade de cada um. Para ele, a influência que as ações exercem sobre a felicidade é o
que constitui o princípio fundamental da moral e da responsabilidade ética.

 Soren Kierkegaard (1813-1855): filósofo dinamarquês bastante cético, com ideias


abstratas e teóricas. Deu início à moderna filosofia existencialista e pensava que o medo e
a solidão faziam parte da religião. É dele a afirmação de que se deve fazer o bem pelo
próprio bem e não por orgulho, por recompensa ou premiação.

 Friedrich Nietzsche (1844-1900): considerado filósofo dos nazistas, rejeitou Sócrates,


mas apreciou o sufista Trasimaco, defensor de que a justiça é o direito do mais forte.
Escreveu incansavelmente sobre a imoralidade e considerava o Cristianismo a religião dos
fracos e a sua moralidade, dos escravos. Defendia a existência do super-homem, livre de
convenções do bem e do mal, mas criativo. Levantou a tese de que aos opressores pertence
o mundo e tempos após sua morte os atos de Hitler foram justificados como normais e até
heroicos. Segundo Stukart (2003, p. 39), as consequências desta antiética e corrupção dos
costumes resultaram na destruição da sociedade durante a Segunda Guerra Mundial. Não
há dúvida de que a sociedade que não observa um código de ética e tolera a corrupção
fatalmente desmorona.

 Jean Paul Sartre (1905-1980): ateísta e principal escritor existencialista, que tentou
inculcar nos homens um novo humanismo, sem Deus. Defendeu que a humanidade está
30

livre e só pode decidir livremente, sendo a liberdade a única fonte de valor, e cada um deve
criar livremente as suas normas de comportamento. Preconizou o individualismo radical e
as doutrinas libertárias.

Alguns filósofos marcaram a filosofia do século XX, como Bergson, Croce, Sartre,
Foucault, entre outros. Entretanto, segundo Stukart (2003), não existe um compêndio que
reúna a ética atual, como ocorreu na Antiguidade, em que a metafísica forneceu boa base para
a ética; na Idade Média, cuja base foi a teologia; e na Modernidade, com a teoria da cognição.
Assim, os filósofos contemporâneos empíricos julgam que se pode reconhecer o bem
através da experiência; os racionalistas acreditam que a prova está na razão; os intuitivistas
pensam que o homem tem uma consciência; os deterministas dizem que a liberdade é uma
ilusão; os pragmáticos querem resultados práticos e os utilitaristas avaliam a utilizada da ação
(STUKART, 2003, p. 42).
Percebe-se, portanto, que, em relação à sua conceituação, a definição da ética e da
moral podem se assemelhar quando a ética apresenta aspecto filosófico, ou mesmo se
diferenciar quando a ética é vista pelo aspecto de ramo do conhecimento. Contudo, Alves
(2005, p. 17) ressalta que ambos os conceitos de ética e moral são amplamente utilizados em
estudos científicos nas ciências sociais, quer se assemelhando quando se referem aos
costumes, quer se diferenciando quando a ética é vista como ciência e a moral como regra de
conduta.

2.2 O processo de tomada de decisão ética

Apesar da existência de poucos estudos na área contábil sobre o processo de tomada


de decisão ética, o tema ética tem se revelado de grande interesse na literatura acadêmica, de
modo que são realizadas diversas pesquisas com diferentes abordagens (FORD e
RICHARDSON, 1994, p. 205; ALVES, 2005, p. 31; TREVINO, 1986, p. 601).
Todavia, as pessoas se deparam com as questões éticas em suas atividades rotineiras e,
conforme sustentam Valentine e Batemam (2011, p. 155), ao considerar os muitos dilemas
éticos enfrentados em suas funções diárias, os desafios associados à tomada de decisão correta
pelos indivíduos tornam-se facilmente aparentes.
Entretanto, ao se depararem com situações similares que apresentem os mesmos
dilemas éticos, o julgamento ético dos indivíduos, às vezes, pode ser radicalmente diferente
31

(FORSYTH, 1980; BARNETT et al., 1998) e, conforme pontuam Barnett et al. (1998, p.
716), isto enfatiza o papel das diferenças individuais no processo decisório ético dos
indivíduos.
Neste sentido, Trevino (1986, p. 601) ressalta que a compreensão do processo de
tomada de decisão ética nas organizações é muito importante para a ciência organizacional.
Neste ambiente, as questões éticas estão sempre presentes, e os interesses e valores se
apresentam em constante conflito, visto que as decisões tomadas produzem consequências
sociais e afetam a vida e o bem-estar dos outros (TREVINO, 1986, p. 155).
Uma das principais teorias sobre o processo decisório ético é o modelo proposto por
James Rest, o qual define que os indivíduos utilizam um raciocínio ético na tomada de
decisão ética. O raciocínio ético conceituado por James Rest (1986) é um conjunto de reações
cognitivas compostas por quatro elementos: reconhecimento da questão ética, julgamento
ético, intenção ética e, por fim, o comportamento do indivíduo (JONES, 1991; VALENTINE,
BATEMAN, 2011).
Alves et al. (2007, p.60) mencionam que o processo de tomada de decisão ética
corresponde a um processo que abrange a identificação de um problema ético e que engloba a
análise de alternativas e a escolha daquela que maximizará os valores morais do indivíduo,
permitindo, simultaneamente, alcançar determinado objetivo estipulado.
O raciocínio ético conceituado por James Rest (1986) é um dos principais modelos do
processo decisório ético nas organizações; entretanto, existem diversos modelos de tomada de
decisão ética que foram desenvolvidos para o entendimento de tal processo.
Todos estes modelos envolvem, em algum momento, o julgamento ético dos
indivíduos e consideram diversos fatores associados a eles, ou às situações, como fatores
influentes e moderadores do processo decisório ético e, consequentemente, do julgamento
ético.
Assim, na sequência, apresentam-se alguns fatores associados aos indivíduos ou às
situações que envolvem as questões éticas e que são avaliados e considerados nos diversos
modelos do processo decisório ético em pesquisas que envolvem o tema.

2.2.1 Fatores moderadores do processo de decisão ética


32

Marques e Azevedo-Pereira (2009, p. 228) pontuam que o comportamento e o


julgamento moral dos indivíduos, perante diferentes situações éticas, variam de pessoa para
pessoa e são influenciados por diferentes fatores.
Neste contexto, diversos estudos buscam compreender a influência de fatores como
idade, sexo, religião, escolaridade, faixa salarial, cargos e funções, valores corporativos,
códigos de ética e cultura, dentre outros, no processo de tomada de decisão ética. Diversos
destes fatores, segundo Alleyne et al (2006, p. 6), têm sido considerados significantivamente
no processo de tomada de decisão ética dos indivíduos.
Tais fatores, ou variáveis, são considerados fatores moderadores do processo de
decisão e podem ser categorizadas em fatores individuais ou fatores situacionais (FORD e
RICHARDSON, 1994, p. 205; MARQUES e AZEVEDO-PEREIRA, 2009, p. 228; ALVES,
2005, p. 31), conforme apresentado a seguir.

2.2.1.1 Fatores individuais

Os fatores individuais recebem grande parte da atenção das pesquisas empíricas na


literatura que envolve a ética e a moral (FORD e RICHARDSON, 1994, p. 206), incluindo as
variáveis resultantes do nascimento do indivíduo, tais como a nacionalidade, o sexo e a idade,
ou as variáveis resultantes do desenvolvimento humano e do processo de socialização, tais
como a personalidade, os valores, a formação educacional e profissional e a religião (FORD e
RICHARDSON, 1994, p. 206; ALVES, 2005, p. 32).
Shafer (2001, p. 255) corrobora a ideia de que estes valores pessoais têm sido um
tópico frequente na pesquisa em ciências sociais, fazendo menção da existência de diversos
estudos que buscam compreender a influência destes fatores no processo decisório ético.
Entre as diferentes variáveis individuais, as mais citadas como determinantes do
julgamento ético são a idade e o sexo (MARQUES e AZEVEDO-PEREIRA, 2009, p. 228),
contudo, diversas pesquisas também avaliam a influência de outras variáveis no processo de
tomada de decisão ética.
A seguir, apresentam-se algumas destas variáveis atribuídas aos indivíduos.

2.2.1.1.1 Idade
33

Os efeitos da idade no comportamento ético têm sido amplamente estudados na


pesquisa acadêmica (MARQUES e AZEVEDO-PEREIRA, 2009, p. 230) e diversos estudos
concluíram que a idade é uma variável significativamente preditora do processo decisório
ético.
Conroy, Emerson e Pons (2010), baseando-se nos resultados obtidos em seus estudos,
consideram que a variável idade aparenta ser a mais robusta preditora das atitudes éticas, e os
respondentes com maior idade são associados a um menor nível de aceitação de atitudes
antiéticas.
O mesmo resultado foi obtido por Conroy e Emerson (2004) em pesquisa anterior. Os
autores constataram que os respondentes mais jovens são mais propensos a aceitarem decisões
éticas duvidosas. Lam e Shim (2008, p. 465) também argumentam que muitos estudos
empíricos indicam que a idade está positivamente relacionada com as atitudes éticas, com as
crenças pessoais e com o comportamento ético.
Dawson (1997) encontrou suporte para a afirmação de que a idade, juntamente com a
experiência profissional, influencia na decisão ética, e os indivíduos com mais idade
apresentam ter um padrão ético mais rigoroso que aqueles mais jovens. Alves (2005) também
constatou ser a idade do contabilista uma variável que influencia a predisposição em cumprir
as normas estabelecidas no código de ética da classe contábil.
Entretanto, Marques e Azevedo-Pereira (2009) constataram que a idade não é um fator
influente no julgamento ético dos contadores portugueses, rejeitando a hipótese de que
contadores mais velhos são mais sensíveis ao comportamento ético que os contadores mais
jovens.
Nesta pesquisa, a influência da idade no julgamento ético dos profissionais da
Contabilidade também foi objeto de estudo.

2.2.1.1.2 Sexo (ou gênero)

Dawson (1997, p. 1144) destaca a existência de um longo interesse na pesquisa


empírica na busca de diferenças entre homens e mulheres e muitos estudos têm sido
conduzidos em diferentes níveis da população, apresentando, porém, resultados conflitantes.
Alguns estudos apontam para a tendência dos homens serem mais tolerantes ao
comportamento antiético que as mulheres. Hastings e Finegan (2011, p. 696) reportaram em
seus estudos a existência de uma tendência maior de homens se engajarem em envolvimento
34

de comportamentos injustos e destrutivos, tanto em suas relações interpessoais como


organizacionais.
Conroy, Emerson e Pons (2010, p. 187) observaram que os homens aceitam com
maior frequência comportamentos eticamente questionáveis que as mulheres, fato também
constatado em estudo anterior de Conroy e Emerson (2004). Os autores identificaram que os
homens, juntamente com os mais jovens, parecem aceitar mais situações éticas questionáveis.
Dawson (1997) também verificou, em estudo realizado, que as mulheres possuem padrões
éticos de conduta mais elevados que os homens.
Neste sentido, Loe et al. (2000, p. 187) enfatizam que a maioria dos estudos aponta
para a tendência de que as mulheres sejam eticamente mais sensíveis que os homens.
Todavia, outros estudos não encontraram nenhuma significância estatística para a
diferenciação no processo decisório ético entre homens e mulheres.
De fato, Fernando, Dharmage e Almeida (2008) não constataram nenhuma
significância estatística que suporte a relação do gênero com a orientação ética do indivíduo.
Tal resultado também foi constatado em estudo realizado por Abdolmohammadi e Ariail
(2009).
Alves (2005), em um estudo feito com os profissionais da Contabilidade de algumas
regiões do Brasil, também não identificou significância estatística para o fator sexo em
relação à predisposição dos profissionais da Contabilidade em cumprir as normas do código
de ética da classe.
Divergente a estes estudos, Marques e Azevedo-Pereira (2009), além de identificarem
ser o sexo um dos mais importantes fatores determinantes do julgamento ético, constataram
que os homens são mais rigorosos que as mulheres em questões éticas, contrariando diversas
pesquisas, inclusive as inicialmente citadas no presente estudo.
Assim, considerando-se que o sexo tem sido uma variável bastante utilizada em
estudos sobre comportamenteo ético, e que grande parte destes estudos aponte que as
mulheres tendem a ser mais éticas que os homens, tal resultado não se apresenta como um
consenso, logo a variável sexo também foi considerada nesta pesquisa.

2.2.1.1.3 Religiosidade

Pesquisadores sociais têm buscado desenvolver uma definição adequada de


religiosidade e de crença religiosa. Cornwall et al. (1986, p. 227) definem a religiosidade
35

como um construto composto por três componentes ou dimensões: cognitiva, sentimental e


comportamental.
A dimensão cognitiva está relacionada ao conhecimento e ao saber, sendo definida
como a crença religiosa ou um componente ortodoxo. Já o componente sentimental ou afetivo
está vinculado ao sentimento em relação a objetos, entidades e instituições religiosas, ou seja,
possui foco emocional. A dimensão comportamental está associada à frequência que as
pessoas vão à igreja, às contribuições financeiras, à frequência de oração pessoal e ao estudo
das escrituras sagradas (CORNWALL et al., 1986; BARNETT et al., 1996, p. 1163).
No presente estudo, adota-se a definição de religiosidade no sentido comportamental,
associado à frequência à igreja. Tal definição de religiosidade foi considerada por Conroy e
Emerson (2004) para avaliar se a religiosidade pode ser considerada preditora do
comportamento ético entre estudantes. Independente da dimensão da religiosidade
considerada, diversos autores defendem que a religiosidade é fator determinante do processo
decisório ético.
Hunt e Vitell (1986, 2006) propõem um modelo de tomada de decisão em que o
ambiente cultural, na qual está inserida a religião, exerce influência na percepção de um
dilema ético e, consequentemente, no julgamento ético individual. Vitell e Paolillo (2003, p.
152) afirmam que a religiosidade e a espiritualidade constituem uma característica pessoal
determinante no modelo de tomada de decisão ética proposto por Vitell e Hunt (1986). É
esperado, portanto, que a religiosidade influencie os valores éticos de forma positiva, ou seja,
quanto maior for o nível de religiosidade, maior serão os valores éticos do indivíduo.
Rashid e Ibrahim (2008, p. 914) identificaram que cultura e religiosidade afetam a
percepção da ética nos negócios; entretanto, também constataram a existência de diferenças
nos níveis de religiosidade entre diferentes países e confirmaram que diferentes níveis de
religiosidade influenciam o nível de percepção ética.
Conroy e Emerson (2004, p. 391) verificaram que a religiosidade está
significativamente relacionada à percepção ética. Os autores sugerem, inclusive, que uma boa
maneira de melhorar as atitudes éticas dos estudantes universitários seria promover a
participação ativa na religião. Já Singhapakdi et al. (2000), em um estudo realizado entre
executivos tailandeses, encontraram suporte parcial para a influência da religiosidade na
intenção ética dos executivos por eles estudados. Oumlil e Baloun (2009) encontraram pouco
ou nenhum suporte para a afirmação de que a religiosidade é preditora da intenção ética.
Outros estudos buscaram identificar o relacionamento entre a ideologia ética, religião
e religiosidade. Barnett, Bass e Brown (1996, p. 1169) constataram que a religiosidade
36

influencia indiretamente o julgamento ético através da sua associação com a ideologia ética,
em que um acentuado comprometimento com a religião indica, também, um forte
comprometimento com os princípios morais universais. Oumlil e Balloun (2009, p. 468)
encontraram suporte para a afirmação de que a religiosidade está positivamente relacionada
com o idealismo, mas não encontraram suporte para o fato de a religiosidade estar
negativamente associada ao relativismo, conforme Barnett et al. (1996).
Por fim, vale mencionar que a religiosidade foi avaliada nesta pesquisa para identificar
qual é a influência desta variável no julgamento ético dos profissionais da Contabilidade.

2.2.1.1.4 Escolaridade e experiência profissional

Alguns pesquisadores da ética individual e empresarial buscaram identificar a


influência do nível de escolaridade e da experiência profissional dos agentes morais no
processo decisório ético e na orientação ética dos indivíduos. Entende-se por agente moral
aquelas pessoas que tomam decisões morais, mesmo que estas não reconheçam quais questões
morais estão em jogo (JONES, 1991, p. 367).
Loe et al. (2000, p. 187), por meio de uma pesquisa bibliográfica com foco em estudos
empíricos sobre o processo decisório ético no ambiente empresarial, identificaram que metade
dos estudos que analisou os efeitos da escolaridade e da experiência profissional no processo
decisório ético não ofereceu suporte para a afirmação de que tais fatores influenciam o
processo decisório ético dos indivíduos, enquanto a outra metade apresentou resultados
mistos.
Alves (2005, p. 198), por sua vez, identificou que a formação acadêmica não influi na
predisposição dos profissionais da Contabilidade brasileiros em cumprir as normas do código
de ética contábil, mas que o tempo de registro do profissional no Conselho Regional de
Contabilidade, que pode estar associado à experiência profissional, influencia na
predisposição em seguir tal código.
Valentine e Bateman (2011, p. 163) constataram que apenas a experiência está
relacionada ao reconhecimento de uma questão ética (negativamente), mas não com a
intenção ética do indivíduo, enquanto que o nível educacional, considerando os anos de
estudo, não é fator influente do processo decisório ético.
Conroy, Emerson e Pons (2010, p. 189) salientam que os efeitos de um elevado nível
de escolaridade não aparentam ser significantes nas atitudes éticas dos praticantes da
37

contabilidade. Já Marques e Azevedo-Pereira (2009, p. 236) identificaram que os


respondentes com maior nível educacional possuem julgamentos mais rigorosos que aqueles
com menor nível educacional; entretanto, os resultados obtidos por eles não foram
significantes estatisticamente, rejeitando-se a hipótese de que o nível educacional é fator
determinante do julgamento ético.
Portanto, considerando o grande número de estudos que não encontraram suporte para
a afirmação de que a escolaridade e a experiência profissional influenciam o processo
decisório ético, ambas não foram avaliados neste estudo.

2.2.1.1.5 Filosofia moral ou ideologia ética

Loe et al. (2000) consideram que, juntamente com a idade e o sexo, outro fator muito
estudado na pesquisa sobre ética é a filosofia moral que, de um modo geral, são as crenças e
valores pessoais dos indivíduos.
Shafer et al. (2001, p. 255) pontuam que os valores pessoais podem influenciar no
processo de tomada de decisão, vez que os indivíduos, ao tomarem suas decisões, recorrem a
seus princípios éticos e/ou às regras que conduzem suas ações e que são utilizados para
justificar seus atos.
Ferrell et al. (2001, p. 50) afirmam que os indivíduos, quando se defrontam com
questões e dilemas éticos, necessitam avaliar a moralidade das opções existentes quanto aos
princípios e valores adotados como norma de vida. Logo, os princípios éticos do indivíduo,
juntamente com as regras impostas pela sociedade, interferem no processo decisório ético das
pessoas.
Os princípios éticos, segundo Comparato (2006, p. 500), são:

“... normas que nos obrigam a agir em função do valor do bem visado pela nossa
ação, ou do objetivo final que dá sentido à vida humana; e não um interesse
puramente subjetivo, que não compartilhamos com a comunidade. Esse valor
objetivo deve ser considerado em todas as suas dimensões: no indivíduo, no grupo
ou classe social, no povo, ou na própria humanidade.”

Quanto às regras, Ferrell et al. (1989, p. 56) consideram que elas são utilizadas na
tomada de decisão ética e são determinadas por diferentes modos, constituindo-se como um
importante construto no processo de decisão ética.
As regras, em uma perspectiva técnica, dizem respeito aos meios aptos para se
conseguir determinados resultados desejados pelo agente e que podem ser, objetivamente,
38

bons ou maus para os outros indivíduos ou para a coletividade, conforme sustenta Comparato
(2006, p. 500):

A técnica guia-se, pois, exclusivamente, pelo valor da utilidade ou eficiência dos


meios na produção de um resultado, ao passo que a ética acentua o fim último
visado pelo agente e o seu valor, relativamente a outras pessoas que com ele tratam,
ou em relação à coletividade. Na perspectiva técnica, o agente deve atuar de certa
maneira para poder obter o efeito por ele desejado, não necessariamente valioso para
a coletividade. No ambiente ético, o agente deve agir em vista de determinadas
finalidades consideradas obrigatórias para todos, e o seu modus agendi há de
adaptar-se ao valor ético dos fins visados. O agente não pode sacrificar bens mais
valiosos para salvar outros de menor valor. A máxima os fins ‘justificam os meios’ é
eticamente insustentável.

Entretanto, Valentine e Bateman (2011, p. 156) realçam que os esquemas morais


utilizados pelos indivíduos para avaliar as situações éticas são conhecidos por seu impacto no
raciocínio ético individual e constituem a ideologia ética dos indivíduos.
O conceito de ideologia é usualmente comum em discursos concernentes à ética e,
conforme argumentam McFerran, Aquino e Duffy (2010, p. 35), as pessoas possuem crenças
ideológicas a respeito de uma variedade de questões abrangendo regras sociais, sistema legal,
epistemologia e sobre o que é certo ou errado.
Neste sentido, Schlenker (2008) e Schlenker et al. (2008) frisam que os princípios e a
ideologia ética oportuna guiam as pessoas ao longo dos caminhos éticos. A ideologia ética
pode ser considerada como parte de um sistema conceitual integrado da ética pessoal que atua
como uma diretriz quando o indivíduo se defronta com os problemas éticos (FORSYTH,
1980; 1992; VALENTINE e BATEMAN, 2011).
Na visão de Schlenker (2008, p. 1079) e Schlenker et al. (2008, p. 324), a ideologia
ética é um sistema integrado de crenças, valores, padrões e uma autoimagem que definem a
orientação individual para as questões, do que é certo e errado, fornecendo padrões morais
que avaliam os eventos e o modo de se comportar diante deles. Para os autores, tal identidade
moral descreve o caráter ético dos indivíduos.
Neste sentido, Ferrell e Gresham (1985, p. 88) argumentam ser impossível
compreender o processo de tomada de decisão ética sem avaliar os padrões normativos éticos
derivados da filosofia moral, assumindo que, consciente ou inconscientemente, os indivíduos
usam um conjunto de pressupostos filosóficos como base para a tomada de decisão ética.
Assim, a filosofia busca justificar a moralidade dos atos focando ou no indivíduo ou
nas consequências e, neste aspecto, Comparato (2006, p.502) argumenta que Max Weber
estabelece uma distinção bem definida entre uma ética denominada ética de convicção, ou de
sentimentos, e outra denominada ética de responsabilidade.
39

A ética de sentimentos, segundo o autor, conta como justificativa exclusivamente a


boa intenção do agente, ou seja, a vontade moralmente boa ao agir, sem preocupar-se com os
efeitos dos atos praticados ou em decisões tomadas em obediência ao dever ético, partindo do
pressuposto de que o bem só pode advir do bem e o mal do mal (COMPARATO, 2006, p.
502).
Por outro lado, na ética da responsabilidade o agente deve interessar-se pelos efeitos
concretos de suas ações e decisões, sob o pretexto de que só lhe cabe, moralmente falando,
cumprir o seu dever, agindo com uma reta intenção. Todavia, se ele pode razoavelmente
prever que determinada ação, ainda que ela seja ditada por preceitos morais, produzirá
consequências nefastas e, não obstante, executa tal ação, manifesta com isto total
irresponsabilidade (COMPARATO, 2006, p. 502).
Nesta mesma linha, diversos estudos classificam a filosofia moral do indivíduo como
teleológicas ou deontológicas. Citam-se, por exemplo, os estudos de Ferrell e Gresham
(1985), Ferrell et al. (1989), Ferrell et al. (2001) e Hunt e Vitell (1986).
A Teleologia, segundo Ferrell et al. (2001), afirma que os atos são moralmente certos
ou aceitáveis quando produzem resultados desejados, tais como a realização de interesse
próprio ou a utilidade da ação. Assim, a teleologia estuda o valor moral do comportamento e
examina as suas consequências, podendo ser subdividida em: (1) Egoísmo, em que as ações
certas ou aceitáveis são aquelas que maximizam o interesse particular do indivíduo, do modo
que por ele foi definido; ou (2) Utilitarismo, quando as ações certas ou aceitáveis são aquelas
que maximizarão a utilidade total ou o maior bem possível para o maior número de pessoas
possíveis.
Já a deontologia concentra-se na preservação dos direitos do indivíduo e nas intenções
associadas a um comportamento particular; e não nas consequências, argumentando que
certas coisas não se devem fazer, nem mesmo para maximizar a utilidade da ação, procurando
identificar a conformidade das ações com princípios morais, tais como códigos de ética e de
conduta.
Schlenker (2008) e Schlenker et al. (2008) também avaliam em seus estudos que a
ideologia ética, ou filosofia moral, pode ser classificada em duas dimensões. Para os autores,
a dimensão crucial que diferencia tais diferenças ideológicas é o comprometimento pessoal
com os princípios morais, cujos pontos finais podem ser rotulados de princípio ideológico e
expediente ideológico.
Os princípios ideológicos envolvem a ideia de que os princípios morais existem,
devendo orientar a conduta pessoal e ser seguida, independentemente das consequências
40

pessoais, sendo que a integridade, no sentido de um compromisso firme para com seus
princípios, é extremamente valiosa e uma qualidade de definição da própria identidade
(SCHLENKER, 2008, p. 1079).
Já os expedientes ideológicos, para Schlenker (2008, p. 1080), envolvem as ideias de
que os princípios podem e devem ser adaptados ao contexto. É importante aproveitar as
oportunidades e é tolice deixar de fazer algo, pois tais desvios dos princípios éticos
geralmente podem ser justificados. Não quer dizer que os indivíduos não tenham princípios,
mas algumas pessoas endossam maior flexibilidade e adaptabilidade ao valor ético.
Entre todos estes conceitos apresentados sobre a ideologia ética e a filosofia moral,
destaca-se também a abordagem proposta por Forsyth (1980; 1992). O referido autor propõe
uma teoria de posição ética fundamentada em trabalhos dos psicólogos Kohlberg e Piaget.
Desta forma, assume que as ações e avaliações morais são expressões externas no indivíduo
de um sistema conceitual integrado da ética pessoal, também denominada Posição Ética
Pessoal (FORSYTH, 1980; 1982; FORSYTH e O’BOYLE Jr., 2011).
Para Forsyth (1980; 1992), as diferenças individuais que compõem a ideologia ética
podem ser interpretadas em duas dimensões: o relativismo e o idealismo. Sobral (2009, p. 13)
considera que o modelo de Forsyth (1980) propõe a interpretação destas duas perspectivas,
idealismo e relativismo, em termos psicológicos, associando o relativismo à deontologia e o
idealismo à teleontologia.
Cabe ressaltar que aqueles que defendem a Teleontologia acreditam que a moralidade
de uma ação se baseia em suas consequências, enquanto que aqueles que adotam uma
perspectiva deontológica rejeitam a consideração das consequências para julgar a moralidade
das ações (FERREL et al., 2001, p. 53; BARNETT et al., 1994, p. 471; SOBRAL, 2009, p.
13).
Assim, o relativismo diz respeito à forma como as pessoas interpretam a importância
das regras morais universais na definição da conduta certa ou errada (SOBRAL, 2009, p. 12).
Logo, a primeira dimensão de ideologia ética proposta por Forsyth (1980) é a extensão em
que os indivíduos rejeitam as regras universais da moral em favor do relativismo, em que
algumas pessoas rejeitam a possibilidade de formular ou depender de regras universais,
quando tiram conclusões sobre questões morais, enquanto outros acreditam e fazem uso da
moral absoluta ao fazer julgamentos (FORSYTH, 1980, p. 175).
Forsyth e Pope (1984, p. 1365) realçam, também, que as pessoas com alto nível de
relativismo pessoal em suas perspectivas morais acreditam que, ao fazerem juízo moral, os
princípios universais da moral possuem pouco valor. Estes indivíduos, ainda segundo Forsyth
41

(1992, p. 462), defendem uma filosofia moral baseada no ceticismo, tendo como princípio que
suas ações dependem da natureza da situação em que cada indivíduo está envolvido e, quando
julgam os outros, eles pesam mais as circunstâncias do que os princípios éticos que foram
violados.
Em relação àqueles que possuem baixo nível de relativismo, estes sublinham o uso e a
importância dos princípios fundamentais, argumentando que a moralidade requerida de uma
ação deve ser consistente com princípios morais, normas e leis (FORSYTH e POPE, p. 1365;
FORSYTH, 1992, p. 462).
O idealismo é o oposto do relativismo, assumindo que as boas consequências
desejáveis em uma ação sempre podem ser obtidas, revelando uma preocupação com o bem-
estar dos outros e da coletividade (FORSYTH, 1980; SOBRAL, 2009).
Pessoas altamente idealistas sentem que sempre é possível evitar prejuízos a outrem,
preferindo não escolher entre o menor de dois males que levará consequências negativas aos
outros. Em contraste, pessoas menos idealistas não dão ênfase a ideais, e assumem que, às
vezes, é necessário prejudicar alguém para se produzir boas coisas (FORSYTH, 1992, p. 462).
Assim, Forsyth e Pope (1984, p. 1365) consideram que as pessoas com um menor nível de
idealismo assumem que as más consequências podem, por vezes, ser misturadas com as boas
consequências.
O modelo proposto por Forsyth (1980; 1992) assume que os indivíduos são orientados,
simultaneamente, às regras ou às consequências em níveis altos ou baixos. Através desta
premissa, o modelo proposto pelo autor possibilita a classificação dos indivíduos em quatro
orientações morais, de acordo com o nível de relativismo e idealismo pessoal, conforme
demonstra o Quadro 1.

Quadro 1: Taxonomia da Ideologia Ética

Fonte: Adaptado de Forsyth (1980, p. 176)

O situacionismo refere-se àqueles indivíduos que evitam os princípios morais


universais (alto relativismo), mas ainda pensam que suas ações devam produzir consequências
42

positivas para benefício de todos os envolvidos. No situacionismo, uma ação deve gerar
resultados positivos para um grande número de pessoas, associando-se ao utilitarismo
proposto na Teleologia (FORSYTH, 1980, 1992).
Os absolutistas, por sua vez, também são idealistas, aprovando as ações que produzam
consequências positivas e um mínimo de consequências negativas. Entretanto, ao contrário
dos situacionistas, pensam que suas ações devam ser consistentes com os princípios e regras
morais (FORSYTH e POPE, 1984, p. 1366). Em suma, os absolutistas condenam certas ações
que prejudicam outras pessoas e que violam os fundamentos absolutos da moral (FORSYTH,
1992, p. 463).
Já os subjetivistas, assim como os situacionistas, são céticos aos princípios morais.
Todavia, diferem dos situacionistas por acreditarem ser, em muitos casos, impossível evitar
resultados negativos em suas ações para todos os indivíduos (FORSYTH, 1980; 1992;
FORSYTH e POPE, 1984). O subjetivismo se associa à filosofia moral egoísta e,
consequentemente, à teleontologia, vez que suas ações são descritas como subjetivas, seus
julgamentos morais não são baseados em princípios morais absolutos, e suas ações não visam
beneficiar outras pessoas (FORSYTH, 1992, p. 463).
Por fim, os excepcionistas concordam com a apreciação dos absolutistas em relação às
certezas morais. Entretanto, eles não são idealistas, defendem a posição de que nem sempre o
dano a outrem pode ser evitado e de que pessoas inocentes podem ser protegidas (Idem, 1992,
p. 463).
O Quadro 2 apresenta, de forma resumida, o perfil ético de cada tipologia da ideologia
ética individual:
43

Quadro 2: Taxonomia da Ideologia Ética, segundo Forsyth (1992)

Fonte: Adaptado de Forsyth (1992, p. 462) e Forsyth et al. (2008, p. 815)

Forsyth (1992, p. 464) pontua que a identificação da ideologia ética pode ser útil e se
torna mais clara no ambiente empresarial. Neste aspecto, Forsyth (1980, p. 177) desenvolveu
um questionário denominado Ethics Position Questionnaire (EPQ), o qual apresenta alta
consistência e possui estabilidade ao longo do tempo.
Portanto, o EPQ tem por finalidade avaliar a filosofia moral dos indivíduos,
solicitando-lhes indicar o grau de aceitação a uma série de itens que varia em termos do
relativismo e idealismo; sendo, portanto, composto de duas escalas, uma para mensurar o
relativismo e outra para mensurar o idealismo (FORSYTH, 1992).
O questionário proposto por Forsyth (1980; 1992) apresenta aos respondentes uma
série de vinte demonstrações de atitudes, dez relativas ao idealismo e dez ao relativismo, em
que os respondentes são solicitados a indicar seu grau de concordância ou discordância para
cada item. Finalmente, a média dos escores para estas respostas são consideradas para avaliar
o nível de idealismo e relativismo de cada respondente, classificando-os em níveis alto ou
baixo, para cada uma destas duas dimensões da ideologia ética (FORSYTH, 1980).
Como apresentado no Quadro 2, a associação dos diferentes níveis de idealismo e
relativismo possibilita a classificação dos indivíduos dentre cada uma das quatro categorias da
ideologia ética proposta por Forsyth (1980; 1992).
A maioria dos estudos que avalia a ideologia ética adota o questionário no formato
proposto por Forsyth (1980; 1992), com todos os vinte itens, que demonstram diferentes
atitudes. Entretanto, alguns estudos utilizam adaptações do EPQ, considerando uma
44

quantidade menor de itens para análise sem, entretanto, perder a significância e a


confiabilidade deste instrumento. De fato, Singhapakdi et al. (2008) afirmam que diferentes
versões do EPQ são utilizadas na pesquisa acadêmica. Os autores, juntamente com Robertson
et al. (2008), utilizam o EPQ com dezenove itens (10 itens para o idealismo e 09 itens para o
relativismo).
Vitell, Ramos e Nishihara (2010), Vitell e Patwardhan (2008), Singhapakdi et al.
(2007) e Vitell e Hidalgo (2006) adotaram o EPQ com 17 itens (08 itens para o idealismo e 09
itens para o relativismo), enquanto que as pesquisas de Fernando, Dharmage e Almeida
(2008) e Karande, Rao e Singhapakdi (2002) adotaram o EPQ com 15 itens (08 itens para o
idealismo e 07 itens para o relativismo).
No Brasil, o EPQ foi muito utilizado na pesquisa voltada para a ética nos negócios por
Sobral (2005; 2008; 2009), contendo todos os vinte itens do questionário. Costa, Lemos e
Lôbo (2009) também o utilizaram em pesquisa sobre a percepção ética dos estudantes de
administração, porém adotaram apenas 10 itens do questionário (05 itens para o idealismo e
05 itens para o relativismo).
Fato é que diversos estudos foram realizados para identificar os efeitos do relativismo
e do idealismo no julgamento ético, bem como para classificar profissionais, de acordo com a
identificação ideológica proposta por Forsyth (1980).
Por meio do EPQ, Barnett, Bass e Brown (1994) identificaram que o julgamento ético
dos indivíduos varia de acordo com a sua ideologia ética. Os resultados do estudo realizado
pelos autores (1994, p. 475) revelam que a ideologia ética pessoal está significantemente
associada com as diferenças no julgamento sobre questões éticas nos negócios.
Pesquisa com os profissionais de Marketing, realizada por Barnett et al. (1998),
confirmou que a filosofia moral individual é um importante influente no processo de tomada
de decisão. Os resultados do estudo de Barnett et al. (1998) obtidos suportaram, inclusive, a
utilização do questionário proposto por Forsyth (1980) para identificação da ideologia moral
individual.
Em estudo realizado por Sobral (2009) no Brasil, o autor afirma que os resultados
obtidos em sua pesquisa possibilitam concluir que o idealismo influencia significativamente
no julgamento moral dos gestores, tornando-os mais rígidos e menos tolerantes na avaliação
das práticas negociais eticamente ambíguas (SOBRAL, 2009, p. 22). Quanto aos mais
relativistas, o autor os considera mais abertos a julgamentos éticos sujeitos a circunstâncias,
tendendo a enxergar mais zonas cinzentas a respeito da aceitabilidade de práticas eticamente
duvidosas (Idem, p. 23).
45

Por outro lado, Marques e Azevedo-Pereira (2009), em estudo com os profissionais


portugueses da Contabilidade, identificaram que o julgamento ético, baseando-se em suas
ideologias éticas, não difere significativamente entre os respondentes da pesquisa, suportando
a ideia de que a ideologia ética não é um determinante importante do julgamento ético.
Apesar de muitos estudos demonstrarem a significância da ideologia ética no
julgamento ético dos indivíduos, o estudo de Marques e Azevedo-Pereira (2009) revelou que
tal afirmação pode não ser verdadeira para os profissionais da Contabilidade.
Assim, concernente à ideologia ética, o presente estudo utiliza a abordagem proposta
por Forsyth (1980), adotando o EPQ com 15 itens (08 itens para o idealismo e 07 itens para o
relativismo) para mensuração dos níveis de idealismo e relativismo dos contadores, de forma
a verificar se a ideologia ética influencia no processo decisório ético dos profissionais da
Contabilidade brasileiros.

2.2.1.1.6 Outras variáveis individuais e os fatores abordados neste estudo

Outros fatores individuais também são investigados no campo acadêmico com o


intuito de se ter um melhor entendimento do processo decisório ético dos indivíduos. Alves
(2005, p. 39), por exemplo, além dos fatores já anteriormente citados, avaliou os fatores
‘categoria profissional’, ‘região em que o profissional contábil atua’, ‘tempo de registro
profissional’ e ‘posição no mercado de trabalho’.
Além destes, podem-se citar ainda: o tipo de formação, se pública ou privada, a faixa
salarial, o cargo desempenhado na instituição, o estado civil, dentre outros.
Todavia, para fins do presente estudo foram avaliadas as variáveis “idade”, “sexo” e
“religiosidade”, conforme anteriormente explicado e demonstrado, no quadro a seguir.
46

Quadro 3: Resumo das variáveis individuais analisadas neste estudo

2.2.1.2 Fatores situacionais

Os fatores situacionais, como o próprio nome diz, são fatores associados às situações
que envolvem os dilemas morais e as questões éticas, sejam estas situações específicas,
organizacionais, ou mesmo variáveis do ambiente em geral. Ford e Richardson (1994, p. 212)
consideram que tal categoria é formada pelas forças que representam pressões que encorajam
ou desencorajam as decisões éticas.
Para Alves (2005, p. 39-40), os fatores situacionais:

“... representam forças que gerem pressões nos indivíduos e que são capazes de
incentivá-los, de encorajá-los ou não, à prática moral. Estão incluídas nessa
categoria, as culturas organizacionais, as influências do grupo de trabalho, ou os
valores sociais. Esses fatores compreendem a influência da alta direção,
recompensas e punições, e o Código de Ética.”

Trevino (1986, p. 610) pontua que muitas das ações morais acontecem em um
contexto social e podem ser influenciadas fortemente pelas variáveis situacionais. Neste
aspecto, as características do trabalho influenciam o desenvolvimento moral dos indivíduos,
sendo a cultura organizacional um fator influente no processo decisório ético.
Trevino, Butterfield e McCabe (1998, p. 447) consideram que os fatores situacionais,
a partir de uma perspectiva prática, desempenham papel importante porque os gestores de
uma organização possuem maior controle sobre o ambiente de trabalho do que sobre os
valores dos indivíduos ou do desenvolvimento moral.
47

Como será abordado no item 2.2.2 do presente estudo, existem diversos modelos que
buscam descrever o processo decisório ético e que consideram os fatores situacionais,
ilustrados, principalmente, por meio das características organizacionais, tais como os sistemas
de recompensa, as regras e códigos de conduta profissionais e empresariais, como fatores
determinantes do processo decisório ético.
Logo, os fatores situacionais, assim como os individuais, também interferem no
processo decisório ético dos profissionais da Contabilidade, sendo, igualmente, parte do
cenário em que o profissional da Contabilidade decide o curso de decisões no campo moral
(ALVES, 2005, p. 40).
A seguir, são apresentados alguns fatores situacionais relacionados ao cotidiano
empresarial e que são investigados na literatura acadêmica como possíveis preditores do
processo decisório ético dos indivíduos.

2.2.1.2.1 Valores éticos corporativos

Karande, Rao e Singhapakdi (2002, p. 778) consideram que muitos autores, tais como
Ford e Richardson (1994), acreditam que, em adição aos padrões éticos do indivíduo, o
comportamento ético é afetado pelas pressões organizacionais.
Com a crescente preocupação do público em geral sobre a ética nos negócios, diversas
organizações começaram a institucionalizar um padrão de comportamento ético de seus
colaboradores a fim de controlar este assunto (VITELL e HIDALGO, 2006, p. 31;
GELLERMAN, 1989; MURPHY, 1989).
Valentine et al. (2011a, p. 356) enfatizam que estudos empíricos suportam a noção de
que os valores éticos criam um grande senso da ética nas organizações. Neste sentido, o
ambiente organizacional, em que os valores éticos corporativos estão inseridos, é reconhecido
como um fator importante do comportamento (SINGHAPAKDI et al, 2008, p. 890).
De fato, o ambiente organizacional desempenha um importante papel na formação de
atitudes, sugerindo que os valores éticos são componentes-chave deste ambiente, impactando,
inclusive, a satisfação da carreira dos funcionários quando devidamente gerenciadas
(Valentine et al., 2011b, p. 511). Os autores argumentam, também, que as atitudes dos
empregados no local de trabalho são fatores importantes da organização, devendo as empresas
dedicar tempo e recursos para a sua gestão (VALENTINE et al, 2011b, p. 511). Tal afirmação
48

demonstra a importância dos gestores para a criação e disseminação dos valores corporativos
nas empresas.
Logo, as organizações, a fim de reduzir a conduta antiética, devem possuir líderes que
encoragem o comportamento ético, bem como sistemas de recompensas para condutas éticas e
sistemas disciplinares para a conduta antiética, além de um código de ética consistente com
normas e um foco na estrita obediência da autoridade e à aderência às leis e aos padrões
profissionais, quando aplicável (TREVINO et al., 1998, p. 471).
DeConinck e Lewis (1997, p. 497) consideram que os resultados de diversos estudos
confirmam que o comportamento dos gestores influencia o comportamento de seus
subordinados, demonstrando a importância dos gestores para a disseminação dos valores de
uma organização.
A junção do comportamento dos gestores na organização e as políticas organizacionais
formam os valores éticos corporativos. De fato, Hunt et al. (1989, p. 79) salientam que os
valores éticos corporativos constituem um construto formado a partir da composição dos
valores éticos individuais dos gestores com as políticas de uma organização, sejam estas
políticas formais ou informais. Para os autores, os valores éticos corporativos auxiliam as
organizações a estabelecer e manter um padrão que delimite as coisas certas a serem feitas,
das coisas que valem a pena fazer (Idem, 1989, p. 80).
Os valores de uma organização são considerados altamente influentes no
direcionamento das ações dos indivíduos, servindo para transmitir um senso do sistema
organizacional, a fim de dirigir a atenção dos gestores para questões importantes, para orientar
as decisões dos gestores, além de facilitar o comprometimento com algo maior do que o
próprio interesse de seus colaboradores (HUNT et al., 1989, p. 80).
Os autores argumentam, entretanto, que os valores éticos corporativos sustentam todos
os demais valores de uma organização. E, segundo Karande et al. (2002, p. 778), refletem o
entendimento sobre o comportamento adequado e sobre o modo de tratamento das questões
éticas no ambiente organizacional.
Diversos estudos têm observado os efeitos dos valores éticos corporativos na ética dos
indivíduos e no processo decisório ético nas organizações. Hunt et al. (1989) sustentam que as
organizações que apresentam altos níveis de valores éticos corporativos possuem
colaboradores com maior nível de comprometimento, identificando uma relação positiva entre
valores éticos corporativos e comprometimento.
Karande et al. (2002) identificaram uma relação positiva entre os valores éticos
corporativos e idealismo, e uma relação negativa entre os valores éticos corporativos e
49

relativismo. Fernando et al. (2008) também encontraram suporte para a relação negativa entre
os valores éticos corporativos e o relativismo, mas não constataram associação entre
idealismo e valores éticos corporativos.
Marta, Singhapakdi e Higgs-Kleyn (2001) constataram que a percepção de um
problema ético e o relativismo são preditores significantes da intenção ética, enquanto que o
idealismo e os valores éticos corporativos não são significantes. Conforme os próprios autores
pontuam (2001, p. 755), os resultados a respeito do idealismo estão de acordo com resultados
de outros estudos, entretanto, os valores éticos corporativos são, ao contrário dos achados no
estudo, usualmente preditores significantes.
Assim, o presente estudo adota o questionário proposto por Hunt et al. (1989, p. 84)
para identificar os valores éticos corporativos, buscando identificar se a variável “Valores
Éticos Corporativos” constitui um possível preditor do processo decisório ético dos
profissionais da Contabilidade.

2.2.1.2.2 Intensidade Moral das questões éticas

As questões morais e éticas apresentam algumas características que influenciam o


processo decisório e o comportamento ético dos agentes morais. Estas características não
estão associadas aos indivíduos, e nem no contexto organizacional ou social, mas por ser um
ponto importante de um dilema moral devem ser consideradas na análise do processo
decisório ético e no comportamento ético dos indivíduos perante situações morais. Logo, no
presente estudo, as características da questão moral também são consideradas como fatores
situacionais.
Jones (1991) foi um dos primeiros autores a considerar a influência das características
das questões morais como uma variável importante no processo decisório ético nas ciências
sociais aplicadas, sustentando que estas características influenciam o processo decisório ético
de tal forma que o comportamento moral dos indivíduos não será idêntico em todas as
situações que envolvem uma questão ética.
Para facilitar o entendimento de como tais características influenciam o processo
decisório ético e o comportamento dos indivíduos, Jones (1991, p. 371) exemplifica que o
processo decisório ético e o comportamento moral serão diferentes, quando considerada uma
ação que envolva prejudicar poucos fornecedores de uma organização e outra ação que
50

envolva a venda de produtos perigosos à sociedade, colocando, por exemplo, a vida de seus
consumidores em risco.
Alves (2005, p. 66), expondo os impactos das características da questão moral no
processo decisório ético, menciona que Jones afirma:

“... o processo ético de tomada de decisão é incerto, eventual, pois depende das
próprias características da questão moral em si, denominada, em conjunto,
intensidade moral. Essas características são relevantes para se determinar o processo
ético de tomada decisão e o comportamento do indivíduo. Daí a denominação
original issue-contingent utilizada por Jones. Essas características são representadas
por variáveis independentes que afetam os quatro estágios do processo de decisão
ética”.

Portanto, Jones (1991) propõe a existência de um construto multidimensional


denominado intensidade moral, cujos componentes são características próprias das questões
éticas, formando o ponto mais importante de um dilema moral. Assim, este autor defende a
ideia de que os indivíduos respondem a diferentes situações e questões éticas de acordo com o
nível de intensidade moral; ou seja, as situações que possuem uma elevada intensidade moral
criam uma maior pressão para uma decisão ética (JONES, 1991; MARTA e SINGHAPAKDI,
2005, p. 564).
A intensidade moral, conforme propõe Jones (1991), é composta por seis
características presentes nas questões éticas:

 Magnitude das consequências: a magnitude das consequências de uma questão moral é


definida como a soma dos prejuízos ou benefícios às vítimas ou beneficiárias da ação moral
em questão (JONES, 1991, p. 374). Conforme exemplifica o autor (JONES, 1991), um ato
que cause determinado prejuízo a 1.000 pessoas apresenta uma maior magnitude moral do que
outro ato que cause o mesmo prejuízo a 10 pessoas ou, ainda, um ato que cause a morte de um
ser humano possui maior magnitude da consequência do que outro ato que cause menor dano
a outra pessoa. Jones (1991) incluiu a magnitude das consequências no construto da
intensidade moral, baseado no senso comum de entendimento e observação do
comportamento humano e em evidências empíricas de outros estudos anteriores.

 Consenso social: o consenso social de uma questão moral é definido por Jones (1991, p.
375) como o nível de concordância social de que um determinado ato é bom ou ruim. Como
exemplo, Jones cita que o mal causado pela discriminação de minorias, candidatos a um
determinado trabalho, possui maior consenso social que o mal causado por recusar a agir
51

afirmativamente em favor desta minoria candidata a um emprego. Segundo Jones (1991, p.


375), o consenso social foi incluso no construto da intensidade moral por razões lógicas e
empíricas. Para o autor, os indivíduos encontram dificuldade em agir eticamente, se eles não
conheçam o que é prescrito como uma boa ação em determinada situação. Assim, um alto
grau de consenso social reduz a possibilidade de ambiguidade que poderá existir. Jones
argumenta, também, que resultados empíricos sugerem que proibições e sanções legais
reduzem a ambiguidade moral para os agentes morais, influenciando no processo de tomada
de decisão ética.

 Probabilidade dos efeitos: a probabilidade dos efeitos de um ato moral é uma função
conjunta da probabilidade de que o ato em questão realmente irá tomar lugar e dos benefícios
ou malefícios que tal ato irá causar (JONES, 1991, p. 375). Alves (2005, p. 69), descrevendo
os elementos da intensidade moral proposta por Jones, pontua que a intensidade de uma
questão moral aumentará, ou diminuirá, dependendo dos malefícios ou benefícios que o
indivíduo imagina serem prováveis de ocorrer. Como exemplo, Jones (1991) cita que produzir
um veículo que poderá causar perigo para os ocupantes durante uma manobra de rotina
possuirá maior probabilidade de danos do que produzir um veículo, que colocará em risco os
ocupantes somente durante uma colisão traseira.
Jones incluiu a probabilidade dos efeitos no construto da intensidade moral por razões
lógicas. Segundo o autor (1991, p. 375), o valor esperado, por exemplo, de um ganho
financeiro é um produto da magnitude do ganho e a sua probabilidade de ocorrência.
Similarmente, a expectativa das consequências de um ato moral pode ser um produto da
magnitude das consequências, da probabilidade que este ato tomará lugar e da possibilidade
de se predizer que tal ato causará prejuízo ou benefício a alguém.

 Proximidade temporal: a proximidade temporal de uma questão moral diz respeito ao


espaço de tempo entre o momento de execução da ação e o início das consequências que o ato
moral irá causar (JONES, 1991, p. 376). A venda de um remédio que causará um transtorno
nervoso imediato em 1% da população que o ingeriu possui maior proximidade temporal do
que um remédio que causará um transtorno nervoso daqui a 20 anos em 1% da população que
ingeriu o produto. A inclusão da proximidade temporal no construto da intensidade moral
deve-se a duas razões. Primeira, os indivíduos tendem a desconsiderar os impactos de eventos
que ocorrerão no futuro, conforme é bem conhecido nas teorias econômicas. Quanto maior for
a distância do tempo, maior será a probabilidade de se desconsiderar os efeitos de
52

determinada ação no processo decisório ético. Segunda, conforme a expansão do período de


tempo entre o ato em questão e as consequências esperadas, a probabilidade de que esta
consequência realmente cause algum prejuízo esperado diminui (JONES, 1991, p. 376).

 Proximidade: a proximidade, como o próprio nome sugere, corresponde ao sentimento de


proximidade social, cultural, psicológica e/ou física do agente moral em relação às vítimas ou
beneficiários do ato moral em questão. Jones (1991, p. 376) exemplifica: a demissão de
colaboradores de uma empresa em uma unidade local apresenta maior proximidade (física e
psicológica) do que a demissão de colaboradores em uma unidade remota. Ou, ainda, a venda
de pesticidas perigosos no mercado norte-americano possui maior proximidade (social,
cultural e física) para os habitantes que lá residem do que a venda dos mesmos pesticidas no
mercado latino-americano. A proximidade foi inclusa no construto intensidade moral por
razões intuitivas e empíricas. Intuitivamente, as pessoas possuem maior preocupação com
aquelas que estão próximas a elas (socialmente, culturalmente, psicologicamente ou
fisicamente) do que em relação àquelas que estão mais distantes. Jones (1991, p. 377)
sustenta, também, que uma série de experimentos empíricos suporta a inclusão da
proximidade no construto intensidade moral.

 Concentração dos efeitos: a concentração dos efeitos de um ato moral é uma função
inversa ao número de pessoas afetadas por um ato de dada magnitude. Por exemplo, uma
mudança em uma política de garantia que prejudica a cobertura de 10 pessoas com
reclamações de R$ 10.000, possui maior concentração dos efeitos do que uma mudança que
prejudique a cobertura de 10.000 pessoas com reclamações de R$ 10,00. Outro exemplo dado
pelo autor (JONES, 1991, p. 377), refere-se ao fato de que roubar determinado valor de um
indivíduo ou de um pequeno grupo possui maior concentração dos efeitos do que roubar o
mesmo valor de uma entidade, tal como uma empresa ou uma agência governamental. Este
componente do construto intensidade moral foi incluso por Jones principalmente por razões
intuitivas. Para o autor, pessoas que possuem um senso de suma importância de justiça para
com os indivíduos irão reprovar e odiar atos imorais que resultam em alta concentração de
efeitos (JONES, 1991, p. 378).

Diversos estudos empíricos têm sido conduzidos para validação da proposição de


Jones (CARLSON et al., 2009, p. 537). Alguns estudos têm investigado o construto
53

intensidade moral e seus componentes, enquanto outros têm explorado apenas a percepção da
intensidade moral nas questões éticas (ALLEYNE et al., 2006, p. 5).
Alleyne et al. (2006, p. 5) argumentam que o estudo de Singhapakdi et al. (1996), um
dos estudos mais citados quando se estuda a intensidade moral, encontrou significância
estatística para a relação de todos os seis componentes da intensidade moral com a percepção
ética e com a intenção ética nos profissionais de Marketing.
De fato, o estudo de Singhapakdi et al. (1996, p. 251), que explorou o impacto da
intensidade moral na percepção de um problema ético na tomada de decisão dos profissionais
de marketing, bem como em suas intenções, encontrou suporte para a influência dos seis
componentes da intensidade moral proposto no modelo de Jones (1991) na percepção da ética
e na intenção destes profissionais, demonstrando que o processo de tomada de decisão ética é
influenciado pelas características destas questões.
Os resultados obtidos por Singhapakdi et al. (1996) deram suporte para a segregação
destes componentes em duas dimensões. A primeira dimensão, denominada “percepção do
potencial de prejuízos ou benefícios” é composta pela magnitude das consequências,
probabilidade dos efeitos, proximidade temporal e concentração dos efeitos. A segunda
dimensão, por sua vez, consiste no consenso social e na proximidade dos efeitos, denominada
de “pressão social percebida”.
Em resumo, pode-se verificar que os resultados dos estudos que investigaram o
construto intensidade moral são inconsistentes, tendo-se que nem todos os componentes são
significantes na percepção ética. Com exceção dos componentes “magnitude das
consequências” e do componente “consenso social”, que na maioria dos estudos se mostraram
determinantes do processo decisório, e da “proximidade”, em um menor grau de afirmação, os
elementos do construto intensidade apresentam resultados mistos e/ou contraditórios
(CARLSON et al., 2009; ALLEYNE et al., 2006, FREY, 2000).
Assim, com base na afirmação de Carlson et al. (2009), Alleyne et al. (2006) e Frey
(2000), neste estudo foram considerados apenas os componentes “magnitude das
consequências” e “consenso social” como elementos da variável intensidade moral.

2.2.1.2.3 Código de ética profissional e organizacional

Um dos grandes desafios para as organizações nos tempos atuais é prevenir o


comportamento antiético no local de trabalho (KAPTEIN, 2011, p. 233). Neste sentido,
54

diversas organizações criam sistemas de recompensas, regras e códigos de condutas a fim de


influenciar o comportamento dos indivíduos que a eles estão sujeitos.
De fato, a prevalência dos códigos de ética nas grandes corporações ao redor do
mundo é visível e esta prevalência tende a continuar aumentando, vez que governos,
associações empresariais e profissionais e grupos de interesses estão cada vez mais
solicitando o estabelecimento de códigos de ética corporativos (SCHWARTZ, 2002, p.27).
Os códigos empresariais, em geral, podem ser definidos como um documento distinto
e formal, os quais contêm um conjunto de prescrições; são desenvolvidos por e para uma
empresa visando à orientação do comportamento presente e futuro perante questões múltiplas
de seus administradores e empregados em suas relações cotidianas, com a empresa e com as
partes externas interessadas e a sociedade em geral (KAPTEIN; SCHWARTZ, 2008, p. 113).
No caso do código de ética, Valentine e Barnett (2002, p. 192) enfatizam que esta é
uma ferramenta utilizada pelas organizações para influenciar a percepção de seus funcionários
sobre questões éticas, incluindo uma instrução geral sobre orientação ética organizacional,
bem como outras observações específicas pertinentes ao ambiente funcional da empresa.
Kaptein (2004, p. 14) sustenta que um código clarifica os objetivos a serem
perseguidos pela empresa, as normas e valores por ela defendidos e sobre pelo que ela pode
ser responsabilizada. Possui o objetivo de reduzir a ocorrência de incidentes, além de
melhorar e aumentar as expectativas e a confiança entre as partes interessadas, dentre outros.
Alves (2005, p. 78) argumenta que o código de ética profissional também se destaca
por ser um importante instrumento de conduta, delineando os direitos, deveres e sanções
estabelecidas pelo descumprimento do referido código.
Lere e Gaumntz (2003, p. 367) realçam que o código de ética possui o importante
papel de afetar o processo decisório daqueles que a ele estão sujeito, influenciando na crença
dos indivíduos e impactando a decisão sobre determinadas ações. Ressalta-se, entretanto, que,
apesar de a literatura sugerir que o código de ética organizacional afeta o processo decisório
ético daqueles que a eles estão sujeitos, os resultados de estudos empíricos indicam um
reduzido impacto destes códigos no processo decisório ético (LERE; GAUMNTZ, 2003, p.
365).
Especificamente no caso dos profissionais da Contabilidade brasileiros, Alves et al.
(2007) identificaram que grande parte dos profissionais da contabilidade concorda que o
código de ética da classe contábil é um importante guia de conduta. Todavia, como os
próprios autores afirmam, o resultado deste estudo é contraditório, vez que os resultados
55

obtidos também demonstram que nem todos os profissionais que concordam ser o código de
ética um guia importante de conduta ética estão dispostos a segui-lo.
Neste estudo, por se avaliar os efeitos dos valores éticos corporativos, que incluem as
políticas formais da organização, não foram investigados os efeitos da existência de um
código de ética diretamente no processo decisório ético dos indivíduos.

2.2.1.2.4 Outros fatores situacionais

Alguns estudos avaliam outros fatores situacionais como possíveis preditores do


processo decisório ético. Citam-se, como exemplo, os efeitos da cultura local no agente moral,
da cultura empresarial, que podem variar de acordo com a origem e nacionalidade da
empresa, a estrutura societária, que a empresa possui, se é sociedade aberta ou fechada, se a
empresa possui capital público ou privado, ou ainda, o porte da empresa, dentre outros.
Vale observar que no presente estudo alguns dos fatores citados foram utilizados
apenas para caracterização da amostra utilizada, não tendo o intuito de se avaliar os efeitos
destas variáveis no processo decisório ético dos indivíduos. É o caso das variáveis “tipo de
capital” (público ou privado), “porte da empresa” (micro, pequena, média ou grande empresa)
e a existência ou não de um código de ética formal, variável esta já exposta anteriormente.

Quadro 4: Resumo das variáveis situacionais analisadas neste estudo


56

2.2.2 Modelos teóricos de tomada de decisão ética

Na literatura acadêmica é possível encontrar diversos modelos que buscam


compreender o processo decisório ético dos indivíduos, sendo estes modelos construídos a
partir de diferentes moderadores éticos, quer sejam individuais ou situacionais.
Loe et al. (2000, p. 185) consideram que tais modelos de tomada de decisão ética
apresentam uma grande quantidade de variáveis que influenciam a escolha ética dos
indivíduos, provendo uma base teórica de como as decisões éticas são tomadas nas
organizações.
Estes modelos teóricos buscam auxiliar, através da identificação de construtos-chave,
o entendimento de fatores que causam maiores efeitos sobre a tomada de decisão pelos
indivíduos nas organizações (LOE et al., 2000, p. 185; ALVES, 2005, p. 40).
Entre os diversos modelos teóricos existentes, este estudo faz menção aos modelos
mais citados na literatura, apresentando-se uma breve descrição de cada um deles. Todavia,
maior ênfase será dada ao modelo de Jones por defender que as características da questão
moral, no caso a intensidade moral, é fator preponderante no processo decisório ético, além de
considerar a essência dos demais modelos.

2.2.2.1 O modelo de Kohlberg (1969) e o Julgamento Moral

Muitos dos modelos teóricos sobre o processo de tomada de decisão ética incluem a
teoria do desenvolvimento moral cognitivo proposto por Kohlberg. O modelo de Kohlberg,
idealizado em 1969, enfatiza, a partir da pesquisa de Piaget, as bases cognitivas do julgamento
moral e de seus efeitos nas ações morais (ALVES, 2005, p. 42).
Ferrell et al. (1989, p. 57) mencionam que o modelo de Kohlberg discute o processo
de justificativa ética e a avaliação moral dos indivíduos dentro de uma organização. Para
Kohlberg, situações semelhantes que envolvem a ética irão produzir respostas diferentes dos
indivíduos, porque estes estão em diferentes estágios do seu desenvolvimento moral
(FERRELL et al., 1989, p. 57).
Kohlberg sustenta que a sequência de desenvolvimento pelo qual passam as pessoas é
invariante e universal. Ou seja, todos os indivíduos passam pela mesma sequência de estágios
de desenvolvimento moral, na mesma ordem e sequência, todavia, nem todos atingem os
estágios mais elevados (BIAGGIO, 2002, p. 23).
57

Assim, segundo a teoria de Kohlberg, o desenvolvimento moral cognitivo ocorre em


seis estágios, classificados em três níveis, definidos de acordo com as razões que os
indivíduos utilizam para justificar a sua escolha moral (FERRELL et al., 1989, p. 58). Estes
três níveis são: pré-convencional, convencional e pós-convencional.
No nível pré-convencional, o indivíduo preocupa-se com o próprio interesse e com
consequências concretas, tais como recompensas e punições (FERRELL et al., 1989, p. 58).
Neste nível estão incluídos os estágios 01 e 02, em que o julgamento moral é orientado para
punições e para a obediência, cuja moralidade de um ato está definida em termos de suas
consequências físicas para o agente (estágio 01) e para o hedonismo instrumental relativista
(estágio 02), e a ação moralmente correta é definida em termos do prazer ou satisfação das
necessidades pessoais (BIAGGIO, 2002, p. 24).
No nível convencional, uma ação correta é aquela que está de acordo com as
expectativas de bom comportamento da sociedade, ou de algum grupo significativo
(FERRELL et al., 1989, p. 58). Neste nível, inclui-se a expectativa mútua de relações
interpessoais e da aprovação social (estágio 03), cujo comportamento moralmente certo é o
que leva a aprovação dos outros, sendo motivado pelas regras e pela conformidade, além da
orientação para a lei e para a ordem, que é o estágio 04 (BIAGGIO, 2002, p. 26).
Por fim, no nível pós-convencional, os valores e princípios universais determinam o
que é certo e o que é errado (FERRELL et al., 1989, p. 58), prevalecendo a orientação para o
contrato social, em que as leis não são mais consideradas válidas pelo mero fato de serem leis.
O indivíduo admite que as leis ou costumes morais podem ser injustos e devem ser mudados
(estágio 5) e, em um estágio mais avançado (estágio 06), a fundamentação nos princípios
universais de consciência, em que os indivíduos reconhecem os princípios morais universais
da consciência individual e agem de acordo com eles (BIAGGIO, 2002, p.27).
Biaggio (2002, p. 76) pontua que vários pesquisadores do julgamento moral
acrescentaram, refinaram, criticaram e contestaram as ideias de Kohlberg em diversas
direções. Todavia, alguns se mantiveram um pouco mais fiel a ele, como é o caso de James
Rest que, embora reconheça as limitações no enfoque do modelo de Kohlberg, apresentou
evidências a favor do esquema evolutivo apresentado pelo autor.

2.2.2.2 O modelo de Rest (1986)


58

Rest (1986) apresentou um modelo de tomada de decisão ética, baseado no modelo do


desenvolvimento moral cognitivo de Kohlberg.
Para Alves (2005, p. 43),

“Rest expandiu o modelo proposto por Kohlberg desenvolvendo uma adaptação do


processo de julgamento moral, principalmente no que diz respeito à criação de uma
escala contínua, o Defining Issues Test (DIT), com base em casos que requerem do
indivíduo uma decisão a respeito de um dilema moral em que ele venha a ser
envolvido no seu dia-a-dia”.

Jones (1991, p. 368) destaca que o modelo proposto por Rest é baseado em quatro
componentes do processo de decisão ética e do comportamento do indivíduo, que são: (1)
reconhecimento, (2) julgamento moral, (3) intenção moral, e (4) a ação de acordo com
padrões morais, ou o comportamento ético propriamente dito.
De fato, Thoma, Rest e Davison (1991, p. 659) frisam que o modelo de Rest sustenta
ser o comportamento moral o resultado de um processo de pelo menos quatro componentes:

1) Interpretação da situação e identificação de um problema moral, correspondendo ao


reconhecimento da questão moral;

2) Descobrir o que deve ser feito e formular um plano de ação que se aplique às normas
morais, tal como o julgamento de que uma ação é moralmente certa e as demais alternativas
são erradas, correspondendo ao componente julgamento moral;

3) Avaliação de como os vários cursos da ação atendem os valores morais ou amorais,


decidindo qual ação uma pessoa realmente irá tentar perseguir, incluindo processos de
decisão, modelos de integração de valores e outras ações defensivas, correspondendo à
intenção moral do agente;

4) Execução e implementação do plano de ação moral, correspondendo ao comportamento


ético.

Uysal (2010, p. 146) verificou que o estudo de Rest (1986) é o mais citado na pesquisa
sobre ética nos negócios com um foco contábil. Alves (2005, p. 43), por sua vez, sustenta que,
apesar da pesquisa feita por Rest ser aplicada em diversos projetos que envolvem o
desenvolvimento moral, no Brasil são escassos os estudos que utilizam o DIT nas áreas de
Contabilidade e Administração.
59

2.2.2.3 O modelo de Trevino (1986)

O modelo de tomada de decisão ética proposto por Trevino (1986, p. 602) também
considera que os indivíduos reagem a um dilema ético de acordo com o seu estágio de
desenvolvimento moral cognitivo, estágio este que determina como o indivíduo analisa um
dilema ético e que influencia na avaliação do que é certo ou errado. Entretanto, segundo
Trevino (1986, p. 602), a teoria do desenvolvimento moral cognitivo é insuficiente para
explicar ou predizer o comportamento humano durante o processo de tomada de decisão, vez
que, adicionalmente, variáveis individuais e situacionais interagem com os componentes
cognitivos para determinação de como será o provável comportamento de um indivíduo frente
a um dilema ético.
Assim, Trevino (1986) propõe um modelo interativo, tendo como premissa que as
bases cognitivas do julgamento moral propostas por Kohlberg são também moderadas por
fatores individuais e situacionais (TREVINO, 1986, p. 602).
Na visão de Trevino, os fatores individuais incluem os elementos: (1) “força interior”,
que é um construto relacionado com a força de convicção ou com a habilidade de
autocontrole; (2) “campo de dependência”, vez que os indivíduos tendem a utilizar referências
sociais externas para guiar o seu comportamento em situações éticas; e (3) “lócus de
controle”, que se refere à percepção do controle do indivíduo sobre os eventos de sua vida
(TREVINO, 1986, p. 609-610; ALVES, 2005, p. 57; JONES, 1991, p. 368).
Quanto aos fatores situacionais, estes incluem elementos imediatos do contexto e das
características do trabalho e elementos da cultura organizacional. Quanto à cultura
organizacional, esta pode ser definida como o conjunto de valores e crenças compartilhados
como premissa pelos membros da organização (TREVINO, 1986, p. 602; JONES, 1991, p
368).
A Figura 1, a seguir, apresenta o modelo interativo proposto por Trevino (1986), e
demonstra que o comportamento ético ou antiético é resultante do estágio cognitivo do
desenvolvimento moral, sendo também influenciado por moderadores individuais e
situacionais.
60

Figura 1: Modelo interativo de tomada de decisão em marketing organizacional


Fonte: Alves (2005, p. 56) – Adaptado de Trevino (1986, p. 603)

Em síntese, o modelo de Trevino merece destaque por considerar que as teorias de


desenvolvimento moral são insuficientes para explicar o comportamento ético dos indivíduos
em uma organização, destacando que o processo decisório ético é influenciado por fatores que
estão associados tanto ao indivíduo quanto à situação, sendo que os valores e a cultura da
organização são determinantes no comportamento de seus empregados.

2.2.2.4 O modelo de Ferrell e Gresham (1985)

O modelo proposto por Ferrel e Gresham (1985) é apresentado pelos autores como um
modelo contingencial para entendimento do processo de tomada de decisão ética nos
profissionais de Marketing e busca esclarecer e sintetizar as múltiplas variáveis que explicam
a tomada de decisão ética ou antiética destes profissionais. Todavia, os autores também
consideram que o modelo por eles proposto é igualmente aplicável nas demais áreas
funcionais de uma organização, como no caso da Contabilidade (FERRELL; GRESHAM,
1985, p. 88).
Jones (1991, p. 368) pontua que, no modelo de Ferrell e Gresham, uma questão ou um
dilema ético surge a partir do ambiente cultural ou social, sendo que os fatores contingenciais
61

que afetam o processo de decisão podem ser individuais (conhecimento, valores, atitudes e
intenções) ou organizacionais (terceiros significativos e oportunidade).
Conforme realça Alves (2005, p. 48), o “construto Terceiros Significativos ressalta a
influência do grupo sobre os indivíduos”, vez que, segundo Ferrell e Gresham (1985, p. 90),
os valores, atitudes e normas não são aprendidos a partir da sociedade ou das organizações,
mas, sim, a partir do grupo de amizade do indivíduo.
Alves (2005, p. 48) exemplifica que, caso haja no ambiente de trabalho alguém com
comportamento antiético, então também existe uma tendência de que os tomadores de
decisões que se relacionam com esta pessoa sejam influenciados por sua conduta incorreta.
O construto “Oportunidade” do modelo de Ferrell e Gresham refere-se à existência ou
não de códigos profissionais de ética, de uma política corporativa e de prêmios e sanções
organizacionais para o comportamento de seus indivíduos (JONES, 1991, p. 368).
Por fim, Jones (1991, p. 368) destaca que a decisão emergente do processo proposto
por Ferrell e Gresham conduz primeiro ao comportamento e, posteriormente, à avaliação do
comportamento que, em troca, é o ponto de partida para uma a realimentação do processo de
avaliação do indivíduo e dos fatores organizacionais.
A Figura 2 apresenta o modelo proposto por Ferrell e Gresham (1985) e sugere que o
processo de tomada de decisão ética é influenciado pelos valores e pela intenção do indivíduo.
Destaca, ainda, que os códigos profissionais e as políticas organizacionais também impactam
no comportamento individual.
Além de considerar a influência dos fatores individuais e situacionais, inclusive da
pressão de terceiros sobre o processo de decisão ética, o modelo merece destaque por sugerir
que os resultados e consequências de determinada atitude acarreta em um aprendizado que
influenciará indiretamente na decisão ética, quando o indivíduo se defrontar com um novo
dilema moral.
62

Figura 2: Um modelo eventual de tomada de decisão em marketing organizacional


Fonte: Alves (2005, p. 50) – Adaptado de Ferrell e Gresham (1985, p. 89)

2.2.2.5 O modelo de Hunt e Vitell (1986)

Outro modelo desenvolvido com foco na tomada de decisão ética na área de


Marketing é apresentado por Hunt e Vitell (1986), denominado pelos autores de “Teoria Geral
de Ética em Marketing”. Este modelo destaca a influência da filosofia moral (deontologia e
teleologia) no processo de tomada de decisão ética dos profissionais da área de Marketing.
Alves (2005, p. 52) considera que no modelo de Hunt e Vitell (1986) o ambiente
organizacional e cultural, acrescido das experiências pessoais, influencia na identificação de
um problema ético, na percepção de alternativas e em suas possíveis consequências. Assim,
após a percepção de que determinada situação envolve uma questão ou dilema ético e a
percepção das várias alternativas possíveis para resolução deste dilema ético, os indivíduos
procedem a duas avaliações com base na filosofia moral: uma avaliação deontológica e uma
avaliação teleológica (HUNT e VITELL, 1986, p. 7; 2006, p. 145).
No processo de avaliação deontológica é verificado se os comportamentos implícitos
em cada alternativa são corretos ou incorretos, comparando cada alternativa com um conjunto
de normas deontológicas pré-determinadas. Estas regras representam valores pessoais ou
regras de comportamento moral, variando das crenças gerais, tais como honestidade, roubar,
tratar as pessoas de forma justa e enganar para as crenças sobre questões específicas, como
63

publicidade enganosa, segurança do produto, propinas e a confidencialidade de dados (HUNT


e VITELL, 1986, p. 9; 2006, p. 145).
Em contraste, o processo de avaliação teleológica envolve quatro dimensões: (1) a
percepção das consequências de cada alternativa para os diferentes grupos interessados na
organização – stakeholders; (2) a probabilidade de ocorrência destas consequências em cada
grupo de interesse; (3) o desejo de que a consequência de cada alternativa se concretize; e (4)
a importância de cada grupo de interesse da organização, que varia em termos de indivíduo e
organização, podendo incluir, por exemplo, o próprio indivíduo, amigos, família, os
empregados, clientes e fornecedores da organização (HUNT e VITELL, 1986, p. 9; 2006, p.
145).
Hunt e Vitell (1986, p. 9) consideram que a grande contribuição do modelo por eles
proposto está na consideração de que o julgamento ético individual é resultado da avaliação
deontológica, aplicando uma norma de conduta para cada alternativa e da avaliação
teleológica, que é a soma de todos os prováveis benefícios e malefícios a serem produzidos
por cada alternativa.
Para os autores, é possível que em algumas situações os indivíduos sigam estritamente
a visão deontológica e ignorem as consequências das ações alternativas ou, similarmente, em
algumas situações, é possível que os indivíduos sigam estritamente a visão teleológica,
ignorando completamente as regras deontológicas.
Alves (2005, p. 53), ao fazer menção do modelo de Hunt e Vitell, considera que o
“fato de ter ocorrido o julgamento ético (a escolha da alternativa mais ética) não significa que
o indivíduo seguirá aquela que ele considerou ser a melhor opção. É necessário analisar a
variável Intenção”.
De fato, Hunt e Vitell postulam que o julgamento ético afeta o comportamento através
da variável Intenção, definida como a probabilidade de que uma alternativa particular seja
escolhida. Assim, o julgamento ético pode diferir da intenção, vez que o indivíduo pode
perceber uma ação alternativa como “mais” ética, mas escolhendo outra opção qualquer por
esta possuir consequências mais desejáveis (HUNT; VITELL, 1986, p. 10).
O modelo sugere que, quando o comportamento e a intenção são inconsistentes com o
julgamento ético, uma das consequências é o sentimento de culpa. Entretanto, dois indivíduos
podem engajar-se em um mesmo comportamento e somente um sentir-se culpado, desde que
o comportamento do outro seja consistente com a sua crença ética (HUNT; VITELL, 1986, p.
10).
64

As restrições situacionais são consideradas pelos autores como fatores que podem
resultar em um comportamento inconsistente com as intenções e com o julgamento ético do
indivíduo, dentre as quais os autores fazem menção da oportunidade de se adotar uma
determinada alternativa (HUNT; VITELL, 1986, p. 10). Neste aspecto, o conceito da
Oportunidade adotado no modelo é idêntico ao que consta no modelo de Ferrel e Gresham
(ALVES, 2005, p. 53).
Por fim, após a realização da ação, o indivíduo avaliará as consequências ocorridas
através da alternativa escolhida. Este é o principal aprendizado do modelo, vez que as
consequências de uma decisão ética resultam em um processo de aprendizagem e de
crescimento da experiência dos indivíduos (HUNT; VITELL, 1986, p. 10).
Em síntese, a Figura 3 apresenta o modelo proposto por Hunt e Vitell (1986) e
demonstra que, para os autores, o ambiente cultural e organizacional e as experiências
pessoais influenciam na percepção do problema ético, bem como na percepção das possíveis
alternativas para solução e suas prováveis consequências. E que, para realizar o julgamento de
qual alternativa deve ser seguida, os indivíduos realizam uma avaliação deontológica ou
teleológica, que influenciará na intenção e no comportamento ético.

Figura 3: Teoria geral de ética em marketing


Fonte: Alves (2005, p. 51) – Adaptado de Hunt e Vitell (1986, p. 8)

Assim, a grande contribuição do modelo de Hunt e Vitell está associada à percepção


de que a filosofia moral, evidenciada no modelo através da avaliação teleológica e da
avaliação deontológica, influencia no processo decisório ético do indivíduo, sem
desconsiderar, entretanto, que o ambiente organizacional é relevante neste processo.
65

2.2.2.6 O modelo de Jones (1991)

Todos os modelos anteriormente citados visam contribuir de alguma forma para o


entendimento do processo de tomada de decisão ética dos indivíduos. Entretanto, poucos dão
ênfase ao fato de que as características da própria questão ética interferem no processo
decisório ético.
Jones (1991, p. 371) argumenta que, apesar de os modelos propostos serem
razoavelmente compreensíveis, eles não consideram explicitamente as características da
questão moral como variável independente, ou como uma variável moderadora.
A Figura 4 apresenta uma síntese destes modelos, além de demonstrar as
características da questão moral como uma variável independente por eles ignorada.

Figura 4: Síntese dos modelos de tomada de decisão


Fonte: ALVES (2005, p. 65) – Adaptado de Jones (1991, p. 370)

A síntese dos modelos de tomada de decisão ética, demonstrada na Figura 4, deixa


evidente que se estes modelos forem analisados de forma simplista, o processo de tomada de
decisão ética e o comportamento dos indivíduos em uma organização serão idênticos em
qualquer questão moral (JONES, 1991, p. 371).
Portanto, conforme argumenta Alves (2005, p. 66), ao analisar o modelo de Jones
(1991), “estes modelos falham por não considerarem que o comportamento dos indivíduos é
alterado em função das características da questão moral”. O autor ressalta, ainda, que
(ALVES, 2005, p. 66):
66

“... o processo ético de tomada de decisão é incerto, eventual, pois depende das
próprias características da questão moral em si, denominada, em conjunto,
intensidade moral. Essas características são relevantes para se determinar o processo
ético de tomada decisão e o comportamento do indivíduo. Daí a denominação
original issue-contingent utilizada por Jones. Essas características são representadas
por variáveis independentes que afetam os quatro estágios do processo de decisão
ética”.

De fato, Jones (1991, p. 371) sustenta que as características da questão moral,


coletivamente denominada de intensidade moral, é um importante determinante da decisão
ética e do comportamento dos indivíduos. Marta e Singhapakdi (2005, p. 564) pontuam que o
modelo de Jones defende a ideia de que os indivíduos respondem a diferentes situações e
questões éticas de acordo com o nível da intensidade moral desta questão ou situação moral.
Ou seja, as situações que possuem uma elevada intensidade moral criam uma maior pressão
para uma decisão mais ética.
O modelo proposto por Jones considera que as características das questões éticas são
fatores determinantes do processo decisório, vez que “o ponto mais importante de um dilema
moral está na própria questão e não no indivíduo (fatores individuais), nem no contexto
organizacional (fatores situacionais)” (ALVES, 2005, p. 66). Portanto, Jones (1991) propõe
um modelo que introduz conceitos que não estão presentes em outros modelos existentes até
então, deixando claro que o seu modelo proposto não possui o propósito de substituir os
modelos existentes, mas, sim, suplementá-los.
Jones (1991, p. 379), ao explicar o modelo por ele proposto, considera que os quatros
componentes do modelo de Rest (1986), já apresentados anteriormente (reconhecimento,
julgamento, intenção e o comportamento), são dignos de ser o ponto inicial do modelo, vez
que tal modelo é parcimonioso e contém todos os elementos-chave do processo de tomada de
decisão ética e do comportamento do indivíduo.
De fato, por meio da Figura 5, verifica-se claramente que o modelo de Jones (1991)
realmente está sustentado nos quatro elementos do raciocínio ético proposto por Rest (1986).
Assim, o processo de tomada de decisão ética se inicia com o reconhecimento de que
determinada questão envolve um dilema moral; posteriormente ocorre o julgamento ético
sobre quais atitudes são certas ou erradas e que ele influenciará na intenção do indivíduo agir
ou não eticamente para, por fim, o indivíduo efetuar e agir de acordo com a decisão tomada.
67

Figura 5: Modelo eventual de tomada de decisões éticas nas organizações


Fonte: ALVES (2005, p. 72) – Adaptado de Jones (1991, p. 379)

Entretanto, é possível verificar que o principal conceito inserido por Jones (1991) e
que estava ausente nos modelos anteriores (intensidade moral) apresenta relevância no
modelo, influenciando todos os componentes do raciocínio ético proposto por Rest (1986).
Jones (1991, p. 383) argumenta, por exemplo, que as questões com elevada intensidade moral,
por exemplo, são mais facilmente reconhecidas como dilemas morais, aumentando, inclusive,
a possibilidade de utilização do modelo sugerido.
Jones (1991, p. 384) faz menção de que evidências empíricas e apresentadas por
outros pesquisadores evidenciam a correlação entre a intensidade moral e os estágios do
desenvolvimento moral cognitivo, associados ao julgamento ético do indivíduo. Para o autor,
as questões que apresentam elevada intensidade moral alcançam os estágios mais elevados do
modelo proposto por Kohlberg, mas isto nem sempre ocorre nas questões com baixa
intensidade moral.
A intenção ética, que é o terceiro elemento do raciocío ético proposto por Rest (1986),
também é influenciada pela intensidade moral no modelo proposto por Jones. Segundo Jones
(1991), os componentes da intensidade moral, tais como a magnitude das consequências, o
consenso social e a proximidade do indivíduo com aqueles que serão afetados pelas
consequências das decisões tomadas influenciam na intenção ética das pessoas.
Por fim, Jones (1991, 389) considera que a intensidade moral influencia o
comportamento ético, que é o último elemento do raciocínio ético proposto por Rest (1986),
em que o comportamento ético será mais frequentemente observado, quando as questões de
alta intensidade moral estão envolvidas do que em relação àquelas com envolvência de menor
intensidade moral.
68

Além de considerar o raciocínio ético proposto por Rest (1986) e de incluir as


características da questão moral no processo decisório ético por meio do construto intensidade
moral, Jones (1991) considera que os dois últimos elementos do raciocínio ético são
influenciados por fatores organizacionais, vez que eles podem ser determinantes na intenção e
no comportamento ético dos indivíduos. Esta inclusão dos fatores organizacionais foi baseada
em evidências empíricas de que a atmosfera moral afeta o processo decisório petico (JONES,
1991).
Jones (1991, p. 386) exemplifica a influência dos fatores organizacionais na intenção e
no comportamento ético em uma organização. Um gestor de uma organização pode julgar que
não demitir determinado empregado é a atitude correta a ser feita, todavia, por pressões
organizacionais e pelo interesse na própria carreira dentro da empresa, o gestor poderá ter a
intenção de demitir o referido funcionário.
Verifica-se, portanto, que a principal contribuição do modelo utilizado é a de
considerar a importância das características da questão ética no processo de tomada de
decisão, além de considerar os elementos do modelo de Rest (1986) e da influência dos
fatores organizacionais neste processo.

2.2.2.7 O modelo adotado no presente estudo

Os modelos mencionados neste estudo buscam fornecer um maior entendimento sobre


o processo de tomada de decisão ética, que tende a variar de acordo com a natureza do agente
moral, do ambiente organizacional e das características da própria questão moral.
O processo decisório ético, baseando-se na proposição de Rest (1986), é composto por
quatro elementos, todavia, poucos estudos avaliam todos os componentes deste processo,
principalmente pela dificuldade de se obter dados fidedignos sobre o comportamento ético,
vez que o tema nem sempre é confortável para quem o aborda.
Assim, como outros estudos focados em ética no ambiente empresarial, o objeto de
estudo desta pesquisa é o julgamento ético dos profissionais da Contabilidade no Brasil
(MARQUES e AZEVEDO-PEREIRA, 2009; SCHWEPKER Jr. e GOOD, 2011; SOBRAL,
2009; HARTIKAINEN, TORSTILA, 2004; DOUGLAS et al., 2001).
Nos modelos anteriormente apresentados, pode-se verificar que estes modelos incluem
características individuais, tais como os valores individuais e o conhecimento do agente moral
(Ferrell e Gresham, 1985; Hunt e Vitell, 1986; e Trevino, 1986); fatores organizacionais,
69

culturais e sociais (Ferrell e Gresham, 1985; Hunt e Vitell, 1986; Trevino, 1986; Ferrell et al.,
1989; Jones, 1991) e, também, as características da questão ética (Jones, 1991).
Logo, o modelo no qual este estudo se baseou incluiu fatores individuais, situacionais
e algumas características da questão ética, extraídos a partir dos modelos já expostos. Os
modelos de Trevino (1986) e Ferrell e Gresham (1985), por exemplo, consideram que os
fatores individuais, tais como o conhecimento, os valores e a força interior, são moderadores
do processo decisório ético.
Outros estudos avaliaram alguns fatores individuais como moderadores do
comportamento ético (DOUGLAS et al., 2001; SINGHAPAKDI et al., 1999; BARNETT et
al., 1998; BASS et al, 1998; MARQUES e AZEVEDO-PEREIRA, 2009; EMERSON e
CONROY, 2004). Portanto, o modelo adotado para esta pesquisa também considera os fatores
individuais como possíveis influentes do julgamento ético.
O modelo de Hunt e Vitell (1986) considera que o indivíduo, ao fazer o julgamento
moral, faz uso de uma avaliação moral das alternativas possíveis para um dilema moral, ou
seja, o modelo de Hunt e Vitell (1986) apresenta a filosofia moral como fator influente do
julgamento moral. Assim, o modelo utilizado para esta pesquisa também analisa a influência
da filosofia moral, no caso, através da perspectiva da posição ética proposta por Forsyth
(1980), em termos de idealismo e relativismo, no julgamento dos profissionais da
Contabilidade no Brasil.
Os modelos de Trevino (1986), de Ferrell e Gresham (1985) e de Jones (1991)
consideram que os fatores situacionais ou organizacionais influenciam o processo decisório
ético. Trevino (1986) considera como fatores situacionais o contexto imediato de trabalho, a
cultura organizacional e as características do trabalho, enquanto que Ferrell e Gresham (1985)
consideram os códigos profissionais, as políticas corporativas e os sistemas de recompensa e
punição como determinantes da tomada de decisão individual.
Assim, os fatores situacionais também são considerados no modelo pesquisado através
dos valores éticos corporativos, conforme proposição de Hunt et al., (1989). Cabe salientar
que diversos estudos avaliaram a influência dos valores éticos corporativos (VITELL et al.,
2010; FERNANDO et al., 2008; KARANDE et al., 2002).
Finalmente, o modelo de Jones considera que as características da questão moral
influenciam o processo decisório ético, entretanto, verifica-se o consenso sobre a influência
destes componentes em apenas dois elementos: a magnitude das consequências e o consenso
social (CARLSON et al., 2009; ALLEYNE et al., 2006; FREY, 2000).
70

Assim, no presente estudo, é analisada a influência da intensidade moral como


preditora do julgamento ético, considerando, entretanto, apenas os elementos ‘magnitude das
consequências’ e ‘consenso social’.
Tem-se, portanto, como modelo adotado para pesquisa uma adaptação de vários
modelos teóricos do processo de decisão ética, cujo resultado é apresentado, a seguir, na
Figura 6:

Figura 6: Modelo adaptado para o presente estudo


Fonte: Adaptado de Hunt e Vittell (1986), Ferrell e Gresham (1985) e Jones (1991)
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 Tipo e Método de Pesquisa

Segundo Gil (1999, p. 42), pode-se definir pesquisa como o processo formal e
sistemático de desenvolvimento do método científico, cujo objetivo principal é descobrir
respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos.
Neste aspecto, este estudo tem por objetivo descrever e descobrir associações entre
múltiplas variáveis, caracterizando-se por ser um estudo descritivo. Gil (1999) confirma que
as pesquisas que visam descobrir a existência de associações entre variáveis e descrever as
características de determinada população (ou fenômeno) são descritivas.
Quanto ao método, adotou-se nesta pesquisa o método quantitativo, que representa, em
princípio, a intenção de garantir a precisão dos resultados, evitar distorções de análise e
interpretação, possibilitando, assim, uma margem de segurança quanto às inferências. Cabe
ressaltar que o método quantitativo é frequentemente utilizado em estudos descritivos, que
buscam descobrir e classificar a relação entre variáveis, bem como investigar a relação de
causalidade entre fenômenos (RICHARDSON, 2007, p. 70).
Quanto ao delineamento deste trabalho, trata-se de uma pesquisa do tipo levantamento
(surveys), que tem como característica a interrogação direta dos indivíduos, cujo
comportamento se deseja conhecer (GIL, 1999, p. 70). Segundo Gil (1999, 71), o
levantamento requer uma análise quantitativa de dados, justificando o método de pesquisa
utilizado.

3.2 Hipóteses de Pesquisa

Kerlinger (1979, p.38) define hipótese como “um enunciado conjetural das relações
entre duas ou mais variáveis” e pode ser considerada, segundo Richardson (2007, p. 27),
como uma resposta passível de ser testada e fundamentada para uma pergunta referente ao
fenômeno escolhido. Um aspecto extremamente importante da hipótese é a possibilidade
dessa ser rejeitada (RICHARDSON, 2007, p. 27).
Assim, algumas prováveis respostas relacionadas aos objetivos específicos deste
estudo (mencionados na Introdução) são apontadas como hipóteses de pesquisa, conforme
segue:
72

 Objetivo específico 1: Examinar quais das características pessoais adotadas neste estudo
(idade, sexo e religiosidade) influenciam significativamente o julgamento ético dos
profissionais da Contabilidade.

Diversos pesquisadores avaliaram a influência dos fatores individuais sobre a ética dos
indivíduos no ambiente empresarial e, dentre estas características pessoais, a idade e o sexo
(gênero) são certamente as mais estudadas. Alguns dos resultados desses estudos apontaram
que a idade (LAM e SHIM, 2008; CONROY, EMERSON e PONS, 2010; CONROY e
EMERSON, 2004; ALVES, 2005; DAWSON, 1997) e o sexo (HASTINGS e FINEGAN,
2011; CONROY, EMERSON e PONS, 2010; CONROY e EMERSON, 2004; DAWSON,
1997) exercem influência sobre o padrão ético dos indivíduos.
Além dos fatores sexo e idade, outras variáveis individuais também são estudadas com
frequência em pesquisas que envolvem a ética no ambiente empresarial. Dentre elas, cita-se a
religiosidade (CONROY e EMERSON, 2004; RASHID e IBRAHIM, 2008; BARNETT,
BASS e BROW, 1996; VITELL e PAOLILLO, 2003). Os resultados obtidos nestes estudos
indicam que a religiosidade é, possivelmente, um fator determinante do processo decisório
ético dos indivíduos.
Portanto, com base no exposto, supõe-se que estas características pessoais
provavelmente influenciam no processo decisório ético dos profissionais da Contabilidade.
Logo, apresenta-se a seguinte hipótese:

Hipótese 01a: Há evidências de que a idade influencia significativamente o julgamento ético


dos profissionais da Contabilidade;
Hipótese 01b: Há evidências de que o sexo influencia significativamente o julgamento ético
dos profissionais da Contabilidade;
Hipótese 01c: Há evidências de que a religiosidade influencia significativamente o julgamento
ético.

 Objetivo específico 2: Verificar como a ideologia ética pode atuar significantemente na


predição do julgamento ético dos profissionais da Contabilidade.
73

Como já descrito, a ideologia ética pode ser interpretada em duas dimensões:


relativismo e idealismo (FORSYTH, 1980; 1992). As pessoas altamente idealistas estão
relacionadas com a defesa de princípios universais da moral e possuem a preocupação
fundamental de que suas ações não prejudiquem os demais, enquanto as pessoas altamente
relativistas baseiam os seus julgamentos em circunstâncias e rejeitam princípios éticos
universais (SOBRAL, 2009).
Portanto, conforme pontua Sobral (2009, p. 15), espera-se que os indivíduos mais
idealistas rejeitem atitudes eticamente ambíguas, enquanto os mais relativistas devem julgar
práticas moralmente questionáveis com maior tolerância, dependendo do contexto e das
pessoas envolvidas.
Diversas pesquisas avaliam a influência da orientação ética no julgamento ético dos
indivíduos. Barnett et al. (1998) e Bass et al. (1998) identificaram ser o julgamento ético
afetado pela ideologia ética, tal como Sobral (2009), ao observar que o idealismo influencia
significativamente o julgamento moral dos gestores, tornando-os mais rígidos e menos
tolerantes na avaliação das práticas negociais eticamente ambíguas, enquanto os relativistas
tendem a enxergar mais zonas cinzentas no que diz respeito à aceitabilidade de práticas
eticamente duvidosas.
Especificamente no campo da contabilidade, Douglas et al. (2001) constataram que a
orientação ética dos indivíduos afeta o julgamento ético em situações de elevada intensidade
moral.
Logo, tendo em vista a influência da ideologia ética no reconhecimento, no julgamento
e na intenção ética, com base em considerações de Forsyth (1980; 1992) e com suporte no
estudo realizado por Barnett et al. (1998), Bass et al. (1998), Douglas et al. (2001) e Sobral
(2009), assumem-se as seguintes hipóteses:

Hipótese 02a: Há evidências de que julgamento ético dos profissionais da Contabilidade


difere de acordo com os seus níveis de idealismo;
Hipótese 02a: Há evidências de que o julgamento ético dos profissionais da Contabilidade
difere de acordo com os seus níveis de relativismo.

 Objetivo específico 3: Conhecer a significância da influência da intensidade moral,


percebidada no julgamento ético dos profissionais da Contabilidade.
74

Jones (1991) considera a intensidade moral das questões éticas como um conjunto de
elementos que influenciam diretamente o processo decisório ético. Para este autor, as questões
e dilemas éticos se apresentam com alta ou baixa intensidade moral e variam de questão para
questão. Aquelas que apresentam maior intensidade moral serão mais facilmente reconhecidas
como um dilema ético, influenciando, portanto, o processo decisório ético.
Logo, os indivíduos respondem a diferentes situações e questões éticas de acordo com
o nível de intensidade moral dessa questão; ou seja, as situações que possuem uma elevada
intensidade moral criam uma maior pressão para uma decisão ética (JONES, 1991; MARTA,
SINGHAPAKDI, 2005).
Todavia, conforme pontuam Carlson et al. (2009), Alleyne et al. (2006) e Frey (2000),
os resultados de diversos estudos sugerem que apenas os componentes “magnitude das
consequências” e “consenso social” são fatores significantes do processo decisório ético dos
indivíduos, enquanto que os demais elementos da intensidade moral possuem resultados
mistos e contraditórios.
Portanto, neste estudo foram considerados apenas os componentes “magnitude das
consequências” e “consenso social” para formação da intensidade moral. E supõe-se, por
hipótese, que:

Hipótese 03: Há evidências de que a intensidade moral, considerando os componentes


‘magnitude das consequências’ e ‘consenso social’, são preditores significantes do julgamento
ético dos profissionais da Contabilidade.

 Quarto objetivo específico: Identificar qual é a influência dos valores éticos


corporativos no julgamento ético dos profissionais da Contabilidade.

Os valores de uma organização são altamente influentes no direcionamento das ações


dos indivíduos, servindo para orientar as decisões e facilitar o comprometimento dos
colaboradores para algo maior do que os seus próprios interesses dentro de uma empresa
(HUNT et al., 1989). Kelley e Elm (2003, p. 152) constataram que os fatores organizacionais
influenciam todo o processo decisório ético em uma organização hospitalar.
Logo, os valores éticos corporativos, formados a partir da composição dos valores
éticos individuais de seus gestores e das políticas formais ou informais existentes nas
organizações, possuem papel relevante no processo decisório ético (HUNT et al., 1989, p.
75

79). Singhapakdi et al. (2000), por exemplo, observaram que os gestores que atuam em
organizações com maiores níveis de valores éticos corporativos possuem melhor intenção
ética do que aqueles que atuam em organizações com menores níveis de valores éticos
corporativos.
No entanto, a pesquisa de Singhapakdi et al. (2008) não encontrou suporte para a
afirmação de que os valores éticos corporativos influenciam no reconhecimento e na
percepção de uma questão ética. Todavia, os autores identificaram que tais valores possuem
forte relação com a percepção da importância da ética entre os gestores tailandeses.
Assim, considerando a afirmação de Hunt et al. (1989) de que os valores
organizacionais servem para orientar as decisões gerenciais em uma empresa de modo a
facilitar o comprometimento dos seus colaboradores para algo maior do que os seus próprios
interesses, e, ainda, nos resultados dos estudos de Kelley e Elm (2003) e Singapakdi et al.
(2002), neste estudo adota-se a seguinte hipótese em relação aos valores éticos corporativos:

Hipótese 04: Há evidências de que os valores éticos corporativos influenciam


significativamente o julgamento ético dos profissionais da Contabilidade.

3.3 Variáveis de pesquisa e definição operacional

Segundo Kerlinger (1979, p. 46), a definição operacional atribui um significado a


determinado construto ou variável, especificando as atividades ou “operações” necessárias
para a sua mensuração e manipulação.
Neste aspecto, partindo do modelo do processo decisório ético adaptado (ou proposto)
para este estudo e do levantamento das hipóteses supracitadas, foram definidas as variáveis
dependentes e independentes utilizadas neste estudo.

3.3.1 Variável Dependente

O modelo proposto por Jones (1991), além de considerar a intensidade moral da


questão ética, é uma síntese de diversos modelos e pesquisas realizadas anteriormente e tem
por intuito obter um melhor entendimento do processo decisório ético. Tal modelo baseia-se,
principalmente, no raciocínio ético proposto por James Rest (1986), que é composto por
76

quatro elementos: (1) reconhecimento ético, (2) julgamento ético, (3) intenção moral, e (4)
comportamento ético.
Diversos estudos foram realizados avaliando o efeito de diferentes fatores sobre estes
componentes do raciocínio ético proposto por Rest e incluso no modelo de Jones. No entanto,
o presente estudo possui o foco apenas no componente julgamento ético.
A escolha por se abordar somente esta variável deve-se, principalmente, à escassez de
estudos que avaliam o julgamento ético no âmbito contábil no Brasil (ALVES, 2005).
Portanto, a variável dependente deste estudo é o julgamento ético dos profissionais da
Contabilidade brasileiros, com a seguinde definição: O julgamento ético “corresponde à
avaliação moral que o indivíduo faz para estabelecer se determinada conduta é ética ou
antiética, a partir da sua percepção sobre a gravidade da falta” (ALVES, 2005, p. 132).
Assim, o julgamento ético neste estudo é caracterizado por ser uma variável
dependente e intervalar, mensurada por meio do nível de concordância dos respondentes à
afirmação de que a atitude do agente moral nos casos utilizados no questionário foi ética,
utilizando-se uma escala Likert de 07 pontos, sendo que, quanto menor for o escore apontado
pelo respondente para a questão, mais rigoroso é o seu julgamento ético.
Para efeito de análise do julgamento ético, o menor ponto da escala Likert adotada
representa a total discordância de que a ação praticada foi ética, enquanto o maior ponto da
escala representa a concordância plena de que a atitude do agente moral foi ética, ou seja,
quanto menor o escore apontado, mais rigoroso é o julgamento ético do respondente.
Logo, para facilitar a análise do julgamento ético, inverteram-se os escores das
questões que coletaram estes dados, considerando, assim, que quanto maior for o escore
invertido encontrado, mais rigoroso será o julgamento ético do respondente. A Figura 7
adiante demonstra os itens do questionário (apêndice A), que coletaram estes dados.

3.3.2 Variáveis independentes

Conforme os objetivos específicos estipulados e as hipóteses apresentadas, as


variáveis independentes deste estudo são sete: (1) idade, (2) sexo, (3) religiosidade, (4)
idealismo, (5) relativismo, (6) intensidade moral e (7) valores éticos corporativos.
Apresenta-se, a seguir, a definição operacional destas variáveis independentes.
77

1. Idade: a variável idade é uma das características individuais mais estudadas nas
pesquisas que envolvem o processo decisório ético dos indivíduos. Neste estudo é
caracterizada como uma variável do tipo razão, em que os participantes da pesquisa
apontaram em campo específico a idade no momento de resposta do instrumento de coleta de
dados.

2. Sexo: assim como a idade, a variável sexo também é muito estudada em pesquisas sobre
o processo decisório ético e possui a característica de ser dicotômica e nominal, em que os
respondentes selecionaram o sexo, se masculino ou feminino.
Para manipulação da variável sexo, esta foi transformada em uma variável dummy, vez
que um dos requisitos da técnica de análise confirmatória adotada nesta pesquisa (regressão
linear) é a utilização somente de dados métricos. Assim, quanto à variável sexo, ela foi
dicotomizada de tal modo que os respondentes do sexo masculino receberam valor 1 (um) e
os respondentes do sexo feminino receberam valor 0 (zero).

3. Religiosidade: a variável religiosidade possui um sentido comportamental, estando


principalmente associada à frequência com que os respondentes vão à igreja. Assim, para a
sua mensuração utilizou-se uma escala Likert de sete pontos, cujo menor ponto representa
“discordo totalmente” e o maior ponto “concordo totalmente” e os respondentes expressaram
a sua concordância à seguinte afirmação: “Eu vou frequentemente à igreja e me considero
muito religioso”. Neste estudo, a religiosidade possui a característica de ser do tipo ordinal.

4. Idealismo: a variável independente “idealismo” é uma das duas dimensões da ideologia


ética proposta por Forsyth (1980; 1992) e busca revelar a preocupação com o bem-estar dos
outros, quando se avalia a moralidade de uma ação.
Para a mensuração do idealismo, utilizou-se neste estudo uma adaptação do
questionário proposto por Forsyth (1980), o Ethics Position Questionnaire (EPQ), e utilizada
por Fernando, Dharmage e Almeida (2008) e Karande, Rao e Singhapakdi (2002), em que os
respondentes apontaram o nível de concordância a oito afirmações em uma escala Likert de
sete pontos. O menor ponto da escala representa “discordo totalmente” e o maior ponto (ponto
07) representa “concordo totalmente”.
Portanto, o idealismo é composto pela média resultante dos escores destas oito
questões e é caracterizada por ser do tipo razão, enquanto que os oito elementos que o
constituem possuem caráter intervalar.
78

5. Relativismo: a variável independente “relativismo” é outra dimensão da ideologia ética


proposta por Forsyth (1980; 1992) e representa o modo com que as pessoas interpretam a
importância de regras morais universais na definição da conduta certa ou errada (SOBRAL,
2009).
Tal como no idealismo, para a mensuração do relativismo também foi utilizada uma
adaptação do questionário proposto por Forsyth (1980) e utilizado por Fernando, Dharmage e
Almeida (2008) e Karande, Rao e Singhapakdi (2002). Os respondentes apontaram o nível de
concordância a sete afirmações em uma escala Likert de sete pontos, sendo que menor ponto
da escala representa “discordo totalmente” e o maior ponto (ponto 07) representa “concordo
totalmente”.
Assim, o relativismo é composto pela média resultante dos escores destas sete
questões e é caracterizada por ser do tipo razão, enquanto que os sete elementos que o
constituem possuem caráter intervalar.

6. Intensidade Moral: a intensidade moral é um construto proposto por Jones (1991) e


composto por seis componentes: (1) Magnitude das consequências, (2) Consenso Social, (3)
Probabilidade dos efeitos, (4) Proximidade temporal, (5) Proximidade, e (6) Concentração dos
efeitos.
Diversos estudos demonstraram que nem todos os componentes propostos por Jones
(1991) são realmente preditores significantes do processo decisório ético, vez que os
resultados destes estudos são mistos, contraditórios e inconclusivos. Entretanto, a maioria
deles, apesar de apresentar resultados mistos e contraditórios, encontrou suporte para a
afirmação de que os componentes magnitude das consequências e consenso social
influenciam, significativamente, o processo decisório (CARLSON et al., 2009; ALLEYNE et
al., 2006, FREY, 2000).
Com base no exposto, neste estudo a intensidade moral foi definida como um
construto do tipo razão constituído pela média dos escores de apenas dois dos componentes
propostos por Jones (1991): (a) magnitude das consequências e (b) consenso social.

a. Magnitude das consequências: a magnitude das consequências representa o total de


prejuízos ou benefícios às vítimas ou beneficiárias de uma ação moral. A magnitude das
consequências possui caráter intervalar e foi apresentada aos respondentes de forma invertida.
79

Desta forma, quanto menor o escore apontado, maior é a magnitude da consequência


apontada.
Portanto, a magnitude das consequências foi mensurada pelo questionamento direto
aos respondentes que apontaram, em uma escala Likert de sete pontos, o grau de concordância
à afirmação de que nos casos expostos os prejuízos ou danos resultantes da ação executada
serão pequenos (questão invertida).

b. Consenso social: o consenso social representa o nível de concordância social de que um


determinado ato é bom ou ruim. Também possui caráter intervalar e foi mensurado pelo
questionamento direto aos respondentes que assinalaram em uma escala Likert de sete pontos
o nível de concordância em relação à afirmação de que, no caso exposto, a maioria das
pessoas concorda que a ação praticada é errada.

A intensidade moral foi mensurada por meio do cálculo da média dos escores da
magnitude das consequências e do consenso social em cada cenário. Entretanto, ressalta-se
que os escores do componente magnitude das consequências foram invertidos para o cálculo
da média dos escores entre este componente e o consenso social para formação da variável
intensidade moral.

7. Valores éticos corporativos: conforme definição de Hunt et al. (1989), os valores éticos
corporativos constitui um construto formado a partir da composição dos valores éticos
individuais dos gestores com as políticas, formais ou informais, de uma organização. Sua
mensuração ocorreu pela média dos escores obtidos em cinco questões adaptadas do
questionário desenvolvido por Hunt et al. (1989) e que buscou identificar o nível pela qual as
organizações se interessam por assuntos associados à ética e na medida em que o
comportamento ético é recompensado nas organizações.
Estas cinco questões foram desenvolvidas por Hunt et al. (1989) com o intuito de
capturar três amplas dimensões: (1) a medida pela qual os empregados percebem que os
gestores estão agindo com ética em sua organização; (2) a medida através da qual os
empregados percebem que os gestores estão preocupados com as questões éticas em suas
organizações; e (3) a medida pela qual os empregados percebem que o comportamento ético
ou antiético é recompensado ou punido, respectivamente, em sua organização.
O questionário proposto por Hunt et al. (1989) é muito utilizado em pesquisas sobre os
valores éticos corporativos (VALENTINE et al. 2011; SINGHAPAKDI et al., 2008;
80

FERNANDO, DHARMAGE e ALMEIDA, 2008; ELIAS, 2004; KARANDE, RAO e


SINGHAPAKDI, 2002; VITELL e HIDALGO, 2006; SINGHAPAKDI et al., 2002) e é
mensurado através da média dos escores obtidos nas questões propostas (invertendo-se os
escores nos casos necessários), conforme idealizado pelos autores do questionário .
Por fim, o construto valores ético corporativo é uma variável independente,
caracterizada por ser do tipo razão. Entretanto, as questões que o constituíram são
caracterizadas por serem intervalares.

Em síntese, o Quadro 5 demonstra que, com exceção do sexo e da idade, todas as


variáveis independentes foram mensuradas em uma escala Likert ou Likert invertida. As
variáveis ‘sexo’, ‘idade’ e ‘religiosidade’ são classificadas, respectivamente, como do tipo
nominal, razão e ordinal, enquanto todos os outros elementos pesquisados são do tipo
intervalar.

Quadro 5: Matriz de amarração da variável dependente e das variáveis independentes

3.4 População e Amostra

A população-alvo desta pesquisa compreende todos os profissionais da Contabilidade


brasileiros, não fazendo distinção entre técnicos e contadores. Logo, de acordo com o
Conselho Federal de Contabilidade – CFC, a população deste estudo é constituída por
193.502 técnicos (40%) e 289.795 contadores (60%), totalizando 483.297 profissionais (CFC,
2012). Trata-se de uma população, ou universo, de grande tamanho, fator que inviabiliza a
adoção de um censo e justifica a utilização de uma amostra para, posteriormente, generalizar
os resultados à população, quando cabível.
81

Inicialmente, a amostra seria composta por profissionais com registro ativo no


Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo (CRC-SP), entretanto, não foi aprovado
pelo CRC-SP o encaminhamento pela instituição de um e-mail aos profissionais constantes
em seus cadastrados, dando-lhes ciência desta pesquisa. Estendeu-se também, por e-mail, esta
solicitação aos Conselhos Regionais de Contabilidade dos Estados de Minas Gerais, Rio de
Janeiro e Rio Grande do Sul, mas também não se obteve resposta por parte destas entidades.
Com a negativa do CRC-SP e com a falta de respostas dos Conselhos Regionais de
Contabilidade citados acima, buscou-se na internet o e-mail de todas as entidades sindicais de
profissionais da Contabilidade no Estado de São Paulo. Todavia, ao enviar um e-mail para
todas estas entidades houve nova recusa para o encaminhamento de uma carta, solicitando a
participação nesta pesquisa, com exceção do Sindicato dos Contabilistas de São Paulo –
SINDICONT. Segundo a responsável pela área de comunicação do Sindicato, foi aprovado
pela diretoria de tal entidade a publicação da pesquisa e o endereço para resposta do
questionário na página da internet da entidade.
Entretanto, após aguardar duas semanas verificou-se que não houve nenhuma resposta
ao questionário, não sendo também localizado por este pesquisador o endereço em que fora
publicada a referência à pesquisa, demonstrando que o endereço publicado pelo
SINDICONT-SP era de dificil visualização. Solicitado ao SINDICONT-SP o referido
endereço publicado em sua página na internet, não foi obtida resposta.
Cabe ressaltar que a carta enviada a estas entidades foi elaborada em papel timbrado,
foi assinada pelo Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas – CCSA da Universidade
Presbiteriana Mackenze, destacando o propósito da pesquisa e a sua relevância, além de
salientar que, após a conclusão do estudo, os dados seriam disponibilizados às entidades que
declarassem interesse no estudo.
Deste modo, devido à limitação do tempo para finalização desta pesquisa, foi enviado
um e-mail pela Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis para
todos os alunos e mestres titulados do referido programa, bem como para alunos dos cursos de
Pós-Graduação em Ciências Contábeis da FECAP – Fundação Escola de Comércio Álvares
Penteado e da PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. No caso destas duas
últimas instituições, o envio se deu através de um e-mail de um professor de ambos os
programas de Pós-Graduação citados.
Foi feita publicação em grupos de discussão de profissionais da Contabilidade nas
redes sociais ORKUT e FACEBOOK na internet (www.orkut.com.br e
www.facebook.com.br, respectivamente), bem como no fórum da página na internet do Portal
82

Contábeis (www.contabeis.com.br). Neste último, também foi coletado o endereço de e-mail


de profissionais cadastrados com técnicos, contadores ou analistas contábeis que o
disponibilizaram para visualização.
Foi enviado um e-mail a aproximadamente 1000 profissionais da Contabilidade em
diferentes localidades e estados brasileiros, convidando-os a participar desta pesquisa através
de um questionário eletrônico disponibilizado na internet. O número total de participantes,
que constituíram a amostra desta pesquisa e responderam ao instrumento de coleta de dados
utilizados foi de 129 profissionais, o que representa, aproximadamente, 18 respondentes por
variável independente, vez que são sete as variáveis independentes deste estudo.
Hair et al. (2005, p. 148), ao fazerem análise das técnicas de dependências utilizadas
na análise multivariada de dados, mais especificamente a regressão linear, que também foi
utilizada neste estudo (ver item 3.6.2 adiante), pontuam que o nível desejado para cada
variável independente é de 15 a 20 respondentes por variável.
Field (2009, p. 181) considera que, nestes tipos de estudo, as duas regras mais comuns
para estipular o número de respondentes por variáveis são: (1) utilizar 10 casos de dados para
cada variável preditora, ou (2) 15 casos de dados para cada variável independente utilizada no
modelo.
Green (1991, apud FIELD, 2009, p. 181) apresenta duas regras práticas para o
tamanho mínimo aceitável de uma amostra, no caso de se utilizar a regressão linear. Uma
delas testando o modelo como um todo, com base no R², e outra com base em testes
individualizados dos previsores do modelo, ou seja, com base no β do modelo. Assim, para se
testar o modelo como um todo, recomenda-se uma amostra resultante da fórmula 50 + 8k, em
que k representa o número de variáveis independentes, enquanto que para testar
individualmente as variáveis independentes é recomendada uma amostra resultante da
fórmula 104 + k.
Portanto, baseando-se no exposto por Hair et al. (2005) e Field (2009), a relação de 18
respondentes por variável independente está dentro dos parâmetros aceitáveis para o
desenvolvimento de análises estatísticas como a regressão linear utilizada e apresentada no
item 3.6.2.
Quanto aos critérios propostos por Green (1991, apud FIELD. 2009, p. 181), eles
também são atendidos pelo tamanho da amostra utilizada (50+8*7 = 106 e 104+7 = 111,
valores estes inferiores aos 129 respondentes).
83

3.5 Procedimentos de Coleta de Dados

Os dados foram coletados por meio de um questionário composto por 40 questões.


Além das questões utilizadas para coleta dos dados inerentes aos objetivos deste estudo, o
questionário também possui algumas questões utilizadas apenas para caracterização da
amostra e dois cenários, ou casos, envolvendo dilemas éticos para avaliação dos respondentes.
Richardson (2007, p. 189) pontua que “os questionários cumprem pelo menos duas
funções: descrever as características e medir determinadas variáveis de um grupo social”. Por
outro lado, Singhapakdi et al. (1996, p. 248) destacam que o uso de cenários é, geralmente,
considerado uma boa solução para melhorar a qualidade dos dados coletados através dos
questionários.
Para elaboração do questionário, inicialmente houve a identificação dos fatores
considerados como possíveis influentes no processo de tomada de decisão ética. Assim, este
instrumento possui elementos que contemplam fatores individuais, organizacionais e
elementos da intensidade moral, além de componentes do processo decisório ético, proposto
por Rest (1986) e considerado no modelo de Jones (1991).
Vale mencionar que alguns itens do questionário foram utilizados em outros estudos
existentes na literatura e analisaram as variáveis independentes aqui também analisadas, como
segue:
(1) Para mensuração do idealismo e do relativismo ético foi adotado um questionário
adaptado do EPQ – Ethics Position Questionnaire elaborado e proposto por Forsyth (1980;
1992), contendo 08 afirmações para avaliar o idealismo e 07 afirmações para avaliação do
relativismo. As pessoas apontaram em uma escala likert o grau de concordância a estas
afirmações. Tal adaptação foi utilizada por Fernando et al. (2008) e Karande et al. (2002).
(2) Os valores éticos corporativos foram avaliados através de um questionário proposto por
Hunt et al. (1989) e composto por 05 afirmações nas quais os respondentes assinalaram o seu
grau de concordância por meio de uma escala likert. Tanto o questionário utilizado para
mensuração do idealismo e do relativismo, quanto para mensuração dos valores éticos
corporativos demonstraram ser confiáveis, com alfa de cronbach superior a 0,7, como será
apresentado e explicado adiante.
(3) Os dois casos utilizados no questionário elaborado, disponíveis no apêndice A, foram
utilizados para avaliar os componentes da intensidade moral e o julgamento ético dos
profissionais da Contabilidade brasileiros. Assim, para avaliação destes itens foram
questionados diretamente os respondentes para que expressassem, em uma escala Likert, a sua
84

opinião sobre as variáveis nos casos utilizados, sendo esta metodologia adotada por
Singhapakdi et al. (1996; 1999).
Cabe ressaltar que ambos os casos expressavam atitudes em desacordo com o código
de ética dos profissionais da Contabilidade no Brasil, em que o profissional ilustrado nos
casos tenta iludir a boa-fé de clientes, empregadores ou de terceiros, alterando ou deturpando
o exato teor de decoumentos, fornecendo falsas informações e elaborando peças contábeis
inidôneas.
A Figura 7 demonstra uma síntese do modelo utilizado para pesquisa e das variáveis
estudadas com as respectivas questões utilizadas no questionário (apêndice A) para coleta dos
dados:

Figura 7: Variáveis estudadas e suas respectivas questões de pesquisas

Depois de elaborado o questionário, realizou-se um pré-teste com diversos


funcionários da área de Controladoria e Finanças de uma grande empresa multinacional alemã
do setor automobilístico e com um diretor de uma instituição contábil pública para análise do
instrumento de coleta de dados.
Após este pré-teste, os respondentes declararam que o questionário era cansativo e
longo, o que poderia resultar na desistência de parte dos respondentes. Assim, para diminuir
este efeito, as questões para caracterização da amostra, tais como sexo, idade, religiosidade,
tipo de capital da empresa, entre outras, foram transferidas para o final do questionário, vez
que, para respondê-las não foi preciso demasiada atenção, pois induzia à finalização do
referido questionário, já que era mencionado ser essa a última parte do instrumento de coleta
de dados.
O questionário foi elaborado e disponibilizado em um website na internet
(http://docs.google.com), ficando disponível para respostas no período de abril a junho/2012.
85

3.5 Tratamento dos Dados

Os dados, primeiramente, foram tratados por meio de uma análise descritiva com o
objetivo de caracterizar a amostra quanto ao perfil dos respondentes, bem como das empresas
nas quais estes atuam, visando a uma maior compreensão do perfil dos profissionais da
Contabilidade que responderam ao questionário e para melhor análise dos valores éticos
corporativos. Posteriormente, foram aplicadas técnicas estatísticas de dependência para a
análise de dados.
Segundo Hair et al. (2005, p. 35) as técnicas de dependências são as mais adequadas
ao objetivo deste trabalho, visto que, segundo tais técnicas, uma variável ou conjunto de
variáveis é identificada como variável dependente a ser predita ou explicada por outras
variáveis, conhecidas como variáveis independentes.
Assim sendo, e considerando a relação de dependência existente entre as variáveis no
modelo proposto, a técnica estatística utilizada para análise e interpretação de dados neste
estudo foi a Regressão Linear Múltipla. De acordo com Corrar et al. (2012, p. 5), tal técnica
permite analisar a relação entre uma variável dependente e duas ou mais variáveis
independentes, com o objetivo de encontrar uma relação causal entre as variáveis dependentes
e independentes, além de estimar os valores da variável dependente a partir dos valores
conhecidos ou fixados das variáveis independentes.
Em relação à análise descritiva, esta foi utilizada para caracterização do perfil dos
respondentes e para cálculo dos valores que formaram algumas das variáveis independentes,
envolvendo a construção de tabelas de frequência e apuração da média aritmética não
ponderada, da moda, do desvio-padrão e dos valores máximo e mínimo, quando aplicáveis.
Um teste de confiabilidade para análise das escalas de mensuração das variáveis
independentes ‘idealismo’, ‘relativismo’ e ‘valores éticos corporativos’, e formadas a partir da
média de um conjunto de questões, também foi realizado. O teste de confiabilidade utilizado
foi o Alfa de Cronbach.
Hair et al. (2005, p.466) expõem que o Alfa de Cronbach é uma medida de
confiabilidade comumente usada para um conjunto de dois ou mais indicadores de construto,
e seus valores variam entre 0 e 1, com as medidas mais altas indicando maior confiabilidade
entre os indicadores.
De acordo com Freitas e Rodrigues (2005), não existe um consenso entre os
pesquisadores sobre a interpretação da confiabilidade de um questionário obtido a partir do
Alfa de Conbrach, mas os autores consideram que, geralmente, considera-se satisfatório um
86

instrumento de pesquisa que obtenha resultados iguais ou superiores a 0,7 (α ≥ 0,70). De fato,
Hair et al. (2005, p. 90) pontuam que os valores de 0,60 a 0,70 são considerados limites
inferiores de aceitabilidade.
Após a realização das etapas e dos testes descritos foi feita a análise confirmatória por
meio da regressão linear múltipla. Corrar et al. (2012, p. 134) consideram que o emprego da
regressão linear múltipla se dá quando existe no problema a ser pesquisado uma relação de
dependência, sendo esta linear.
A combinação linear destas variáveis independentes, quando usadas coletivamente
para prever a variável dependente, também é conhecida como equação ou modelo de
regressão, cujo modelo estatístico utilizado, conforme pontuam os autores (CORRAR et al.,
2012, p. 135), é dado por:

Y = β0 + β1X1 + β2X2 +... + βnXn + ε

Em que:
Y é a variável dependente;
X1, X2 ... Xn são as variáveis independentes;
β0, β1, β2 ... βn são denominados parâmetros da regressão;

ε é o termo que representa o resíduo ou erro da regressão.

Corrar et al. (2012, p. 137) sustentam que, por pressuposto, “a equação que melhor se
ajusta aos dados é aquela para a qual a diferença entre os valores observados e os valores
estimados é menor, isto é, a de menor resíduo ponderado entre todas as observações reais e as
estimadas”.
Logo, o método de estimação de modelos mais comumente utilizado em regressão
linear é o Método dos Mínimos Quadrados, cujo objetivo é justamente obter a menor soma de
quadrados dos resíduos possível (CORRAR et al., 2012, p. 137). Tal método também foi
utilizado neste estudo.
O método utilizado para entrada das variáveis independentes no modelo foi o método
passo a passo (estimação stepwise), que é a abordagem mais comum na utilização da
regressão linear múltipla. Neste método, o processo é iniciado com a variável independente
que apresenta o maior coeficiente de correlação com a variável dependente; as próximas
87

variáveis a serem incluídas são selecionadas com base na sua contribuição incremental
(correlação parcial) à equação de regressão (CORRAR et al., 2012).
Quanto aos resultados da análise de regressão múltipla, estes são apresentados através
de vários indicadores. O coeficiente de determinação ou poder explicativo da regressão (R²)
representa o percentual de variação nos valores previstos para a variável dependente, que
podem ser explicados pelas variações nas variáveis independentes (CORRAR et al., 2012;
FIELD, 2009). Quanto maior o valor de R², maior é o poder de explicação da equação de
regressão e, consequentemente, melhor a previsão da variável dependente (HAIR et al., 2005,
p. 132). Todavia, Hair et al. (2005, p. 132) consideram que um indicador muito útil para
comparação de variáveis independentes e de amostras de diferentes tamanho é o coeficiente
ajustado de determinação (R² ajustado).
Corrar et al. (2012, p. 143) também consideram que o erro-padrão da estimativa é
outra medida de precisão da previsão e representa uma espécie de desvio-padrão da reta de
regressão, em que quanto menor for o erro-padrão da estimativa, melhor será o modelo
estimado.
Outra análise utilizada para verificar se o modelo é significativamente melhor do que a
utilização da média é o teste F-ANOVA, cuja finalidade é testar o efeito do conjunto de
variáveis independentes sobre a variável dependente. Consiste em se verificar a probabilidade
de que os parâmetros da regressão em conjunto sejam iguais a zero, não existindo, neste caso
uma relação estatística significativa (CORRAR et al., 2012, p. 143).
Testa-se, portanto, a hipótese nula de que a quantia de variação explicada pelo modelo
é maior do que a variação explicada pela média. Logo, a hipótese a ser testada é se H 0: R² = 0
e H1: R² > 0 e, para que o modelo de regressão proposto seja significativo, a hipótese nula
deve ser rejeitada. Ou seja, R² tem que ser significativamente maior que zero (p-valor ou Sig
menor do que o nível de significância adotado, que neste estudo foi de 5%) (CORRAR et al.,
2012, p. 143).
Por fim, Corrar et al. (2012, p. 144) consideram que, após obter os coeficientes do
modelo de regressão, deve-se testá-los isoladamente, utilizando, neste caso, a distribuição t de
Student, cuja finalidade é testar a significância dos coeficientes da regressão. As hipóteses a
serem testadas em cada coeficiente são: H0: βi = 0 e H1: βi ≠ 0 e, para verificar se os
coeficientes são significativamente diferentes de zero, compara-se o p-valor (sig) dos
coeficientes com o nível de significância adotado (α = 5%).
Como em outras técnicas de análise multivariada de dados, a aplicação apropriada da
análise de regressão linear múltipla também depende do cumprimento de um conjunto de
88

suposições ou pressupostos. Os principais pressupostos para a análise de regressão, conforme


demonstrado por Corrar et al. (2012) são: normalidade dos resíduos, homoscedasticidade,
ausência de autocorrelação serial, linearidade e multicolinearidade.
Portanto, antes de generalizar os resultados obtidos através da análise de regressão
para a amostra em questão, foram realizados testes que validam os pressupostos descritos
acima, bem como avaliam se o ajuste do modelo é adequado.
Por fim, para aplicação da análise descritiva e das técnicas estatísticas mencionadas foi
utilizado o software SPSS®, considerando um nível de significância de 5%.

3.6 Compromisso ético com os respondentes

No e-mail enviado aos profissionais da Contabilidade para que tomassem


conhecimento deste estudo, foi inserido o propósito do questionário e o objetivo da pesquisa,
além de um esclarecimento de que o referido questionário não identificaria o respondente,
sendo todas as respostas analisadas em caráter confidencial e com o único propósito de
pesquisa.
Também foi informado que os resultados obtidos pela pesquisa seriam enviados a
todos os que tivessem interesse em recebê-los. Para tanto, os respondentes deveriam cadastrar
voluntariamente um endereço eletrônico para o envio destes resultados.
4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 Caracterização da amostra e análise exploratória de dados

4.1.1 Fatores individuais

A amostra final deste estudo foi composta por 129 indivíduos que responderam ao
questionário. Em resumo, a amostra é representada, em sua maioria, por indivíduos do sexo
masculino, em idade entre 27 e 51 anos, apresentam algum tipo de pós-graduação, atuam em
cargos de gestão em alguma instituição privada de grande porte (com mais de 500
empregados) e possuem altos níveis de valores éticos corporativos, apesar de a maioria das
organizações aqui representadas não possuírem um código de ética formal.
Analisando-se isoladamente estas variáveis, é possível confirmar tais resultados. A
Figura 8, por exemplo, apresenta a taxa de frequência e a participação dos respondentes de
cada sexo na composição da amostra (em forma de gráfico), evidenciando que 66% dos
respondentes são do sexo masculino, correspondendo a 85 indivíduos de um total de 129
indivíduos. Logo, os respondentes do sexo feminino representam 34% da amostra, ou seja, 44
indivíduos do total de respondentes.
Segundo o Conselho Federal de Contabilidade (CFC, 2012), o total de profissionais da
Contabilidade com registros ativos no Brasil e do sexo masculino é de 59,1%, enquanto o
total de profissionais do sexo feminino que possuem registro ativo no Brasil é de 40,9%, o
que demonstra que a amostra utilizada não é muito desproporcional em relação ao total da
população.

Figura 8: Análise exploratória dos fatores organizacionais - Sexo

A idade foi outra característica analisada na amostra estudada e, conforme


demonstrado na Figura 9, é possível afirmar que a idade dos respondentes da amostra situa-se
entre 27 a 51 anos. Todavia, a análise do ponto máximo e do ponto mínimo demonstra que o
respondente com menor idade tem 19 anos, enquanto que o de maior idade possui 68 anos. A
90

idade média da amostra é de 38,93 anos, com um desvio-padrão de 11,6 anos. A idade dos
respondentes com maior frequência, ou seja, a moda, é a idade de 38 anos.
A Figura 9 apresenta o histograma com a frequência (em percentual) das idades
representadas na amostra e demonstra que tal amostra possui pouca concentração de jovens,
com idade inferior a 20 anos ou de pessoas acima de 60 anos.

Figura 9: Histograma da variável independente idade

A idade média dos respondentes deste estudo é próxima à idade média encontrada
entre os respondentes na amostra do estudo de Alves (2005, p. 153), que envolveu uma
amostra com maior expressividade com relação à quantidade de respondentes (2.141
respondentes, desconsiderando os faltantes). No estudo de Alves (2005), a idade dos
respondentes situa-se entre 30 a 50 anos, com idade média de 40,53 anos e desvio-padrão de
10,96.
Quanto à escolaridade dos respondentes, a amostra é formada por uma grande maioria
de profissionais que são mestres ou doutores (64 respondentes, ou 50% da amostra). Destaca-
se, todavia, que apenas três respondentes (ou 2% da amostra) possuem Ensino Médio ou
Técnico, conforme mostra a figura 10.
91

Figura 10: Análise exploratória dos fatores organizacionais - Escolaridade

A escolaridade da amostra, demonstrada na Figura 10, não representa adequadamente


a população estudada. É notória a existência de poucos cursos de mestrado e doutorado no
Brasil, cujo foco seja a ciência contábil. Consequentemente, é possível afirmar que o
percentual de profissionais da Contabilidade que possuem este nível de escolaridade é baixo
em relação ao total da amostra. Todavia, a amostra utilizada no estudo de Alves (2005) foi
constituída por, aproximadamente, 53% de respondentes com especialização em áreas
correlatas, confirmando parcialmente a distribuição da amostra identificada neste presente
estudo com relação a este fator.
De qualquer modo, diversos estudos apontam que o nível de escolaridade não
influencia o comportamento ético dos indivíduos, sugerindo que o alto nível de escolaridade
encontrado na amostra pode não afetar os resultados obtidos neste estudo. Loe et al. (2000),
por exemplo, identificaram em uma pesquisa bibliográfica, com foco em estudos empíricos do
processo decisório ético no ambiente empresarial, que metade dos estudos que analisaram a
variável escolaridade não encontrou suporte para a afirmação de que esta variável influencia o
processo decisório ético, enquanto que a outra metade apresentou resultados mistos e
inconclusivos.
Da mesma forma, Valentine e Bateman (2011) constataram que o nível educacional,
considerando o tempo estudado em anos, não é fator influente no processo decisório. O
próprio estudo de Alves (2005), realizado com profissionais da Contabilidade brasileiros,
identificou que a escolaridade não influencia na predisposição destes profissionais em cumprir
normas contidas no Código de Ética dos profissionais da Contabilidade.
O cargo desempenhado, ou a função exercida pelo respondente, foi outra variável
pesquisada e utilizada apenas para caracterização da amostra. Neste aspecto, os dados obtidos
demonstram que, apesar de somente 2% possuírem apenas nível médio, este percentual se
eleva a 9% da amostra (ou 11 respondentes) se considerados todos aqueles que desempenham
função de técnicos ou auxiliares contábeis, independente do nível de escolaridade. No geral,
os dados indicam que os profissionais da Contabilidade que compõem a amostra exercem, em
92

sua maioria, atividades de gestão, tais como as funções de coordenadores, supervisores ou


cargos superiores (44 respondentes ou 34% da amostra).
Entretanto, verifica-se, também, conforme demonstra a Figura 11, uma forte presença
de analistas, auditores ou consultores, com 32 respondentes, ou 25% da amostra, e de
sócios/proprietários de organizações ou instituições empresariais, com os mesmos 32
respondentes, ou 25 % da amostra. Apenas 10 respondentes estão desempregados ou não
atuavam em nenhuma empresa no momento em que responderam ao questionário.

Figura 11: Análise exploratória dos fatores organizacionais – Cargo ou função desempenhada

Por fim, pode-se verificar que os profissionais da Contabilidade que constituíram a


amostra demonstraram ser, em sua maioria, pouco religiosos. Solicitados a apontarem o grau
de concordância em relação à afirmação de que são muito religiosos, 26% da amostra, ou 33
respondentes, discordaram totalmente desta afirmação, representando a moda para este item,
conforme demonstra a Figura 12. Por outro lado, uma minoria dos respondentes concorda
totalmente com a afirmação de que são muito religiosos.
O escore médio da variável independente da religiosidade foi 3,49, com um desvio
padrão de 2,06. Logo, em relação à religiosidade, é possível afirmar que a amostra deste
estudo é pouco religiosa.
93

Muito Baixo Muito Alto

Figura 12: Histograma da variável independente “Religiosidade”

4.1.2 Fatores organizacionais

Para o estudo dos fatores organizacionais levou-se em consideração apenas os


profissionais que compuseram a amostra inicial que desempenham função ou cargo em
alguma instituição empresarial de capital público, privado ou misto. Portanto, os respondentes
que assinalaram que não atuam em nenhuma destas empresas, não foram computados. Assim
sendo, do total de 129 profissionais, 10 responderam que não atuavam em nenhuma
organização empresarial no momento de participação desta pesquisa, totalizando, para fins
deste item, 119 empresas representadas neste estudo, conforme se pode observar na Figura 13.

Figura 13: Análise exploratória dos fatores organizacionais – Vínculo empregatício


94

A maior parte destas 119 empresas, que constituíram a amostra, possui capital privado
(102 empresas ou 86% da amostra), enquanto uma minoria possui capital misto ou capital
público (14%), conforme exibe a Figura 14.

Figura 14: Análise exploratória dos fatores organizacionais - Tipo de capital

Outra característica que merece destaque é o fato de a maioria dos respondentes atuar
em empresas de grande porte as quais, de acordo com o critério adotado pelo Serviço de
Apoio à Micro e Pequena Empresa (SEBRAE), possuem mais de 500 empregados. Na
amostra em estudo, tais empresas representam 44% do total ou 52 empresas, enquanto as
Microempresas, que possuem até 19 empregados, representam 31% do total ou 37 empresas
(Figura 15).

Figura 15: Análise exploratória dos fatores organizacionais – Porte da empresa

Outro aspecto que merece ser destacado é que, apesar de a maioria destas organizações
ser de grande porte, a maior parte das empresas que compõem a amostra não possui um
código de ética formal, visto que dos 119 profissionais, apenas 54 declararam que a empresa
onde atuam possui um código de ética formalizado, ou seja, 65 empresas (ou 55% da amostra)
não possuem um código de ética formal, conforme exibe a Figura 16.
95

Figura 16: Análise exploratória dos fatores organizacionais – Existência de um código de ética formal

Mesmo com a maioria dos respondentes assinalando que as empresas onde atuam não
possuem código de ética formal, os valores éticos corporativos, formados a partir da
composição dos valores éticos individuais dos gestores com as políticas formais ou informais
da organização, apresentaram níveis elevados, considerando uma dicotomização de sua
mensuração em níveis “alto” ou “baixo”.
Os resultados obtidos demonstram que a grande maioria das empresas, nas quais os
respondentes atuam, possui elevados índices de valores éticos corporativos, vez que os
resultados da amostra apresentaram um índice médio de 5,10 em uma escala de 07 pontos,
conforme demonstra a Figura 17, abaixo.

Muito Baixo Muito Alto

Figura 17: Histograma da variável independente ‘Valores Éticos Corporativos’

Em relação aos resultados obtidos, referentes aos Valores Éticos Corporativos, vale
mencionar que o valor do teste Alfa de Cronbach foi de α=0,717, conforme demonstrado na
Tabela 1. Freitas e Rodrigues (2005) destacam não existir um consenso entre os pesquisadores
96

acerca da interpretação da confiabilidade de um questionário obtido a partir do Alfa de


Cronbach, mas que geralmente se considera satisfatório um instrumento de pesquisa que
obtenha α ≥ 0,70.

Tabela 1: Confiabilidade do questionário adotado para a variável independente ‘Valores Éticos Corporativos’

4.1.3 Orientação ou Ideologia Ética

Conforme já descrito, a orientação ética ou ideologia ética dos indivíduos pode ser
descrita em duas dimensões: idealismo e relativismo. Forsyth (1980; 1992) salienta que todos
os indivíduos possuem estas duas dimensões, diferenciando apenas os níveis de cada uma, que
podem ser dicotomizados nos níveis “alto” ou “baixo”.
A orientação ética de cada indivíduo foi avaliada para todos os elementos que
constituíram a amostra desta pesquisa. A confiabilidade do questionário foi considerada
adequada tanto para o idealismo como para o relativismo, conforme consideração de Freita e
Rodrigues (2005). O alfa de Cronbach para o idealismo foi de α ≥ 0,786, enquanto que este
índice foi de α≥0,723 para o relativismo (Tabelas 2 e 3).

Tabela 2: Confiabilidade do questionário adotado para a variável independente ‘Idealismo’

Tabela 3: Confiabilidade do questionário adotado para a variável independente ‘Relativismo’


97

Os resultados obtidos demonstraram, claramente, que os respondentes são altamente


idealistas (Figura 18), com um índice médio de 6,04 em uma escala de valor mínimo igual a
01 (um) e representa nível baixo de idealismo e de valor máximo igual a 07 (sete), que
representa alto idealismo; o desvio padrão foi de 0,86. Outro item de destaque é que todos os
respondentes possuem valores próximos ou superiores ao ponto médio da escala (ponto 04),
confirmando que a amostra possui alto nível de idealismo.

Muito Baixo Muito Alto

Figura 18: Histograma da variável independente ‘Idealismo’

Na prática, tal fato revela que os respondentes possuem grande preocupação com o
bem-estar dos outros indivíduos. Acreditam sempre ser possível evitar danos e prejuízos aos
outros quando fazem um julgamento moral, buscando uma ação que resulte nas melhores
consequências e, ainda, pensam que uma conduta moralmente correta é sempre consequência
de ideais humanitários (SOBRAL, 2009, p. 12; TANSEY et al., 1994, p. 60; FORSYTH,
1980, p. 176).
Quanto ao relativismo, a maioria dos profissionais que constituíram a amostra
demonstrou possuir um alto relativismo. O índice médio da amostra foi de 4,28, também em
uma escala de 07 (sete) pontos, entretanto, diferente do idealismo, parte da amostra possui um
baixo nível de relativismo, conforme pode ser observado na Figura 19.
O relativismo está associado à forma como as pessoas interpretam a importância de
regras morais universais na definição da conduta certa ou errada. Assim, como a maioria dos
profissionais possui um alto nível de relativismo, os dados coletados sugerem que eles, em
98

sua maioria, rejeitam a existência de princípios morais universais, defendendo que a


moralidade de uma ação depende da natureza da ação e das pessoas envolvidas, ou seja, não
acreditam em verdades morais absolutas (FORSYTH, 1980, 1992; SOBRAL, 2009, p. 12).
Por outro lado, uma parcela considerável da amostra, apesar de minoria, possui baixo
nível de relativismo, preferindo, portanto, agir em conformidade com as leis e princípios
morais universais (FORSYTH, 1980; 1992).

Muito Baixo Muito Alto

Figura 19: Histograma da variável independente ‘Relativismo’

Forsyth (1980, 1992) sugere que se considerarmos o idealismo e o relativismo


simultaneamente e dicotomizando-os em níveis “alto” ou “baixo”, torna-se possível classificá-
los em quatro categorias de ideologia ética: situacionistas (alto relativismo e alto idealismo),
subjetivistas (alto relativismo e baixo idealismo), absolutistas (baixo relativismo e alto
idealismo) e excepcionalistas (baixo relativismo e baixo relativismo).
Deste modo, apesar de o estudo focar somente nas duas dimensões propostas
(idealismo e relativismo), é possível afirmar que, quanto à sua ideologia ética, os profissionais
da contabilidade, alvos deste estudo são, em sua maioria, situacionistas (alto relativismo e alto
idealismo) ou, em menor expressão, absolutistas (baixo relativismo e alto idealismo).
Tais profissionais, por serem situacionistas, em sua maioria, agem de modo a
assegurar as melhores consequências possíveis, mesmo que para isto seja preciso violar as
regras tradicionais da ética. Já aqueles que são absolutistas e se apresentam em menor
99

expressão agem de tal forma a serem consistentes com as regras morais buscando, todavia,
produzir as melhores consequências possíveis.

4.1.4 A Intensidade Moral, Reconhecimento Ético e Julgamento Ético

A intensidade moral e o julgamento ético foram avaliados em cada um dos dois


cenários adotados no estudo. Em linhas gerais, os resultados evidenciaram que um dos
cenários apresentou resultados mistos, enquanto o outro caso exposto foi julgado como
antiético, com grandes consequências e com um consenso social de que a atitude do agente
moral foi antiética. Na sequência, apresenta-se a análise exploratória das respostas para os
dois cenários, separadamente.

4.1.4.1 Cenário 01 - Formação de provisões de serviços diversos

No caso exposto, ao formar provisão de serviços ainda não realizados para aproveitar
o bom resultado do exercício contábil e evitar que tais serviços não fossem realizados
posteriormente por restrição orçamentária, o contador ilude, ou tenta iludir, a boa-fé do
empregador, fornecendo falsas informações ou elaborando peças inidôneas, agindo em
desacordo ao código de ética profissional do contador.
O Código de Ética dos Profissionais da Contabilidade - CEPC, alterado pela resolução
1307/10 do Conselho Federal de Contabilidade, determina que estes profissionais devam agir
com zelo, diligência, honestidade e capacidade técnica, resguardando os interesses de seus
clientes e/ou empregadores, sem prejuízo da dignidade e independência profissional.
Muito embora a atitude do contador seja inapropriada e antiética segundo o CEPC, a
análise das respostas para tal cenário evidenciou que este caso exposto não foi reconhecido
como um dilema ético por uma grande parcela dos profissionais da amostra.
Cabe ressaltar que o objetivo do caso não era identificar se a ação do contador estava
em conformidade ou não com as regras e princípios contábeis, mas, sim, se o contador agiu
eticamente. Neste aspecto, 68 respondentes, ou 52,71% da amostra, identificaram que o caso
envolveu um dilema ou questão ética, enquanto 61 respondentes, ou 47,29% deles, não
consideraram o caso como uma questão ética.
100

Estes percentuais demonstram claramente que, apesar de não ser a maioria, uma
grande quantidade de respondentes não reconhece a questão como um dilema ético (Figura
20).

Figura 20: Reconhecimento Ético – Cenário 01

Quanto ao julgamento ético, foi solicitado aos respondentes que julgassem a atitude do
contator como ética ou antiética, considerando uma escala likert de sete pontos, na qual o
menor ponto da escala indica que o respondente discorda totalmente da afirmação de que a
atitude do contador foi ética, enquanto o maior ponto indica que o respondente concorda
totalmente com esta afirmação.
Logo, os menores escores na escala indicam que houve um julgamento ético mais
rigoroso por parte dos respondentes, enquanto os maiores escores indicam um julgamento
mais brando. Por isto, inverteram-se os escores da escala adotada acima de tal forma que os
resultados expressassem o rigor do julgamento ético. Ou seja, o menor ponto da escala passou
a representar um julgamento menos rigoroso, enquanto os maiores escores representam um
julgamento mais rigoroso.
Assim, a média dos escores do julgamento ético da amostra, na escala invertida,
apresentou valor igual a 3,99 e um desvio-padrão de 2,241. O resultado do desvio-padrão
demonstra que existe uma grande dispersão em relação à média, mesmo com valor da média
coincidindo com o ponto médio da escala. Este fato é evidenciado pela Figura 21, ao
101

demonstrar que poucos respondentes avaliaram a eticidade da ação praticada pelo contador no
ponto médio da escala utilizada.

Pouco Rigoroso Muito Rigoroso

Figura 21: Histograma da variável dependente “Julgamento Ético” – Cenário 01

Assim como para o julgamento ético, também foi utilizada uma escala likert de 07
(sete) pontos invertida para identificação da perspectiva dos respondentes sobre a magnitude
das consequências da ação exposta.
Questionou-se, portanto, se a magnitude das consequências da atitude do contador
resultaria em pequenas consequências para a sociedade.
Após a inversão dos escores, os resultados obtidos indicaram um valor médio de 3,8
com desvio-padrão de 2,13 e, assim como no reconhecimento ético e no julgamento ético,
também foi possível identificar a falta de um consenso sobre a magnitude das consequências
causadas pela ação do contador, exposta no cenário apresentado (Figura 22).
Todavia, apesar de o valor médio ser muito próximo ao escore médio da escala
utilizada (ponto 4), é possível afirmar que a maioria dos contadores participantes da pesquisa
considerou que a atitude do contador resultará em pequenas consequências para a sociedade
como um todo, vez que a mediana dos escores obtidos na amostra foi o escore 3, que está
abaixo do ponto médio da escala adotada.
102

Muito Pequena Muito Grande

Figura 22: Histograma do componente “Magnitude das consequências” – Cenário 01

Por fim, em relação ao “consenso social”, o segundo componente considerado na


constituição da intensidade moral, foi solicitado aos respondentes para apontar o nível de
concordância em relação à afirmação de que a maioria das pessoas concorda que a atitude do
contador foi errada, considerando uma escala Likert de 07 (sete) pontos, em que o menor
ponto representa a total discordância e o maior ponto, a concordância com esta afirmação.
Logo, os maiores valores da escala Likert utilizada representam a existência de um
consenso social de que a atitude do contador foi errada e, consequentemente, antiética,
enquanto que os menores valores indicam que a atitude do contador não foi incorreta, ou seja,
a atitude do contador é considerada pelo respondente como eticamente correta.
Os escores encontrados para esta questão resultaram em um valor médio de 3,53, com
um desvio-padrão de 2,054. Ou seja, no geral, considerando a atitude do contador
dicotomizada em correta ou incorreta, a amostra aparentemente acredita que existe um
consenso social de que a ação do contador foi eticamente correta (Figura 23).
Entretanto, uma rápida análise do histograma (Figura 23) demonstra a existência de
um grande número de indecisos, com uma elevada frequência de respostas no escore neutro
ou médio da escala, revelando que tais respondentes não concordam e nem discordam da
afirmação a eles apresentadas.
Outro indicador que confirma tal indecisão e, consequentemente, uma possível falta de
consenso sobre a eticidade da atitude do contador, é o fato da mediana dos escores obtidos ser
103

igual à moda, que é exatamente o escore médio da escala. Ou seja, tanto a mediana quanto a
média estão posicionadas sobre o escore 4 da escala de sete pontos utilizada.
Cabe ressaltar, entretanto, que mesmo a moda e a mediana sendo iguais ao ponto
médio da escala utilizada, muitos respondentes apontaram a existência de um consenso social
de que a atitude do contador foi ética e moral, fato confirmado no valor médio de 3,53, como
já descrito.

A ação foi ética A ação foi antiética

Figura 23: Histograma do componente “Consenso social” – Cenário 01

A média dos escores da escala invertida do componente magnitude das consequências


e da escala do consenso social constitui os escores da intensidade moral. Pelo fato de a
magnitude das consequências e de o consenso social serem menores que o ponto médio da
escala, a média destes dois itens também o será. Assim, para o caso 1, a média dos escores foi
de 3,67 em uma escala de sete pontos, com um desvio-padrão de 1,839, sendo possível
afirmar que, com base na média da amostra e na dicotomização dos resultados em níveis alto
ou baixo, o caso exposto apresentou uma baixa intensidade moral.
Portanto, quanto ao cenário 01, a amostra reconheceu o caso como um dilema ético
(apesar do elevado percentual de respondentes, que não o fez), manifestando que a ação
tomada pelo Contador resultará em pequenos danos e em consequências de pequena
magnitude para a sociedade que, no geral, considera a atitude do contador correta. Logo, a
intensidade moral do caso exposto, segundo dados da amostra, é pequena.
104

Muito Pequena Muito Grande

Figura 24: Histograma da variável independente Intensidade Moral – Cenário 01

Quanto ao julgamento ético da ação praticada pelo contador, a maior parte dos
profissionais da Contabilidade que constituem a amostra (moda) apontou que a ação praticada
pelo contador não é errada ou antiética. Todavia, não é possível determinar se a amostra julga
a ação do contador como ética ou antiética, vez que tanto a média como a mediana desta
variável resultou em valores muito próximos ao ponto médio da escala (4,0).

4.1.4.2 Cenário 02 - Produtos alimentícios

Neste segundo caso, o controller de determinada empresa postergou a substituição de


produtos vendidos e que poderiam causar intoxicação a seus clientes a fim de não prejudicar o
resultado financeiro do exercício, colocando em risco a saúde de terceiros.
Diferente do cenário 01, em que o reconhecimento ético apresentou resultados mistos,
no cenário 02 a questão foi observada pela maioria como um problema que envolve um
dilema ético.
Neste aspecto, 118 respondentes, ou 91,47% da amostra, reconheceram no caso
exposto uma questão ética e moral, enquanto somente 11 respondentes, ou 8,53% da amostra,
não reconheceram o caso como um problema envolvendo um dilema ético. A Figura 25 exibe
as respostas obtidas.
105

Figura 25: Reconhecimento Ético – Cenário 02

Na sequência, os respondentes foram solicitados a julgar a atitude do controller como


ética ou antiética, considerando uma escala likert de sete pontos, em que o menor ponto da
escala indica que o respondente discorda totalmente de que a atitude do contador foi ética,
enquanto que o maior ponto indica que o respondente concorda totalmente que a atitude
praticada foi ética.
Tal como no reconhecimento ético, a maioria dos respondentes discordou totalmente
da afirmação de que a atitude do Controller foi errada, demonstrando claramente que, para
eles, o caso exposto expressa uma atitude antiética. Desta forma, ao inverter os escores da
questão, vez que foi adotado uma escala Likert invertida, é possível visualizar um maior rigor
no julgamento ético dos respondentes em relação à situação apresentada.
Isto pode ser verificado por meio do escore médio obtido de 6,23, com desvio-padrão
de 1,632, bem como pelo histograma exposto na Figura 26:
106

Pouco Rigoroso Muito Rigoroso

Figura 26: Histograma do julgamento ético – Cenário 02

Os escores da variável “magnitude das consequências” deste caso demonstram que os


respondentes acreditam que as consequências da atitude do Controller serão prejudiciais para
a sociedade. O escore médio obtido para este item foi de 6,16, com um desvio-padrão de
1,545 e com a moda no maior ponto da escala, demonstrando que tais profissionais confiam
que a atitude do controller trará grandes consequências à sociedade (Figura 27).

Muito Pequena Muito Grande

Figura 27: Histograma da magnitude das consequências – Cenário 02


107

A maioria dos profissionais da Contabilidade, que constituem a amostra, expressou um


sentimento de que a maioria das pessoas acredita que a atitude do Controller foi antiética. A
média dos escores obtidos para avaliar o consenso social sobre a eticidade da ação praticada
pelo Controller foi de 5,44, com um desvio-padrão de 1,807. Do mesmo modo que a
magnitude das consequências, a moda do consenso social também foi o escore mais alto da
escala utilizada, conforme demonstrado na figura 28.

A ação foi ética A ação foi antiética

Figura 28: Histograma do Consenso social – Cenário 02

Logo, a intensidade moral deste segundo cenário, formada pela média dos elementos
já demonstrados, foi considerada de alto nível (Figura 29), resultando em um escore médio de
5,80, com um desvio-padrão de 1,444, sendo que a maioria dos profissionais assinalou os dois
componentes que a compõem (magnitude das consequências e consenso social) no escore
mais alto da escala.
Portanto, de modo geral, os profissionais que compuseram a amostra deste estudo
reconheceram que o cenário 02 envolve um dilema ético e consideraram que a ação tomada
pelo controller resultará em grandes danos para a sociedade, com elevada magnitude de
consequências, e que a maioria da sociedade considera a atitude do controller incorreta, ou
seja, a intensidade moral do caso exposto é alta.
108

Muito Pequena Muito Grande

Figura 29: Histograma da variável independente Intensidade Moral – Cenário 02

4.2 Análise confirmatória de dados

Conforme anteriormente mencionado, o objetivo de se realizar uma análise


confirmatória de dados foi para testar estatisticamente a relação de dependência entre a
variável “julgamento ético”, classificada, portanto, como variável dependente, e as variáveis
‘reconhecimento ético’, ‘sexo’, ‘idade’, ‘religiosidade’, ‘idealismo’, ‘relativismo’,
‘intensidade moral’ e ‘valores éticos corporativos’, classificadas como independentes.
Para tanto, utilizou-se a Regressão Linear Múltipla, que segundo Corrar et al. (2012,
p. 133), é a técnica mais adequada para os propósitos deste estudo. Desta forma, apresenta-se
a análise da regressão linear múltipla para cada um dos casos ou cenários expostos.
Vale mencionar que o método de entrada das variáveis no modelo de regressão linear
utilizado foi o método denominado stepwise, que possibilita examinar a contribuição
adicional de cada variável independente ao modelo, vez que cada variável é considerada para
inclusão antes do desenvolvimento da equação de regressão (CORRAR et al., 2012; p. 159).
Corrar et al. (2012, p. 160) consideram que o processo do método stepwise se inicia
com um modelo de regressão simples em que a variável independente com maior coeficiente
de correlação com a variável dependente é escolhida, sendo que as próximas variáveis
independentes escolhidas para inclusão no modelo são selecionadas a partir da contribuição
incremental (correlação parcial) à equação de regressão.
109

A cada variável independente introduzida no modelo, é examinado através do teste F


se a contribuição dela já presente no modelo continua significativa, dada a presença da nova
variável. Caso não seja, o método stepwise permite que tais variáveis sejam eliminadas
(CORRAR et al., 2012; p. 161).

4.2.1 Cenário 01 - Formação de provisões de serviços diversos

O método de entrada das variáveis independentes no modelo de regressão (stepwise)


neste primeiro cenário resultou em dois modelos de regressão linear, e considerou que apenas
duas variáveis independentes são preditoras significantes do julgamento ético.
O critério utilizado para inclusão das variáveis independentes baseou-se nos valores da
probabilidade F, que devem ser iguais ou menores que 0,05 para inclusão, e maiores ou iguais
a 0,10 para exclusão (Tabela 4).
Como uma das variáveis independente (Valores Éticos Corporativos) foi respondida
somente por aqueles, que atuam em alguma organização ou empresa, alguns casos não foram
respondidos, resultando em dados faltantes. Nestes casos, os dados faltantes foram
substituídos automaticamente pelo software, considerando a média dos valores encontrados
junto aos demais correspondentes.

Tabela 4: Variáveis inseridas no modelo de regressão múltipla pelo método Stepwise – Cenário 01

A Tabela 5 demonstra que o modelo final proposto pelo método utilizado, e que
considera as variáveis intensidade moral e relativismo como preditoras do julgamento ético
(modelo 2), é superior ao modelo que considera somente a intensidade moral como preditora
do julgamento ético (modelo 1), apresentando um maior coeficiente de determinação (R²) e
um menor erro-padrão da estimativa.
110

Tabela 5: Resumo do modelo de regressão múltipla – Cenário 01

A fim de atender os objetivos deste estudo considerou-se, portanto, o segundo modelo


para predição da variável dependente julgamento ético. Desta forma, conforme demonstrado
na Tabela 5, o coeficiente de determinação do modelo (R²) é de 0,435, o que significa dizer
que 43,5% das variações do julgamento ético são explicados pelas variações das variáveis
independentes inseridas no modelo (HAIR et al., 2005, p. 172; CORRAR et al., 2012, p. 149).
Ou seja, 43,5% das variações do julgamento ético são explicados pelas variações na
intensidade moral dada à questão e pelo nível de relativismo do indivíduo.
O coeficiente de determinação ajustado (R² ajustado) é de 0,426 ou 42,6%. Field
(2009, p. 180) considera que enquanto o R² informa o quanto de variância da variável
dependente é explicado pelo conjunto de variáveis independentes utilizada no modelo, o R²
ajustado informa o quanto de variância da variável dependente pode ser creditada ao modelo,
se ele tiver sido derivado da população de onde a amostra foi retirada.
Corrar et al. (2012, p. 150), entretanto, consideram que o R² ajustado é uma medida
modificada do coeficiente de determinação, que leva em consideração o número de variáveis
independentes incluídas no modelo e o tamanho da amostra utilizada. Corrêa (2012) também
enfatiza que o R² ajustado é utilizado para medir o grau de ajustamento da reta de regressão,
refletindo o número de variáveis explicativas e o tamanho da amostra.
Deste modo, para comparação entre os dois modelos resultantes do método stepwise
utilizado, a Tabela 5 demonstra que o segundo modelo, que considera o relativismo na
equação do modelo de regressão, acrescentou 1,3% de explicação da variável dependente,
além de diminuir o erro-padrão da estimativa, confirmando a superioridade do modelo com
duas variáveis independentes.
A Tabela 5 demonstra a estatística Durbin-Watson para o modelo adotado, que é um
teste utilizado para avaliar a independência dos erros ou ausência de autocorrelação serial.
Uma regra básica para análise do teste de Durbin-Watson é de que valores resultantes desta
estatística com valores próximos a 2 atendem a este pressuposto de independência de erros.
111

Todavia, para verificar corretamente se este número indica ausência de autocorrelação serial
dos resíduos é preciso compará-lo com determinandos valores tabelados1, considerando:

 α = nível de significância = 5%;


 n = tamanho da amostra = 129;
 k = número de variáveis independentes (com intercepto) = 3;
 dU = limite crítico superior = 1,74408 (valor tabelado3);
 dL = limite crítico inferior = 1,68117 (valor tabelado3).

Caso o valor da estatística Durbin-Watson esteja entre o limite crítico superior


(1,74408) e o valor resultante da equação (4- dU = 2,25592), é possível afirmar que o modelo
de regressão linear possui independência dos erros (ou ausência de autocorrelação serial)
(CORRAR et al., 2012, p. 190). Como o valor resultante da estatística Durbin-Watson do
modelo é igual a 1,854, que é superior a 1,7342 (dU) e inferior a 2,2658 (4- dU), conclui-se
que o modelo possui independência dos erros.

Figura 30: Autocorrelação serial – estatística de Durbin-Watson


Fonte: CORRAR et al., 2012,p. 190.

Através do teste F-ANOVA, verificou-se, também, a hipótese do coeficiente de


determinação ser igual a zero, cujas hipóteses são:

H0: O coeficiente de determinação da equação de regressão (R²) é igual a zero;


H1: O coeficiente de determinação da equação de regressão (R²) é significantemente diferente
de zero.

1
Valores encontrados em tabela disponível no endereço <http://www.stanford.edu/~clint/bench/dwcrit.htm>.
Acesso em: 08/09/2012.
112

Os resultados do teste F-ANOVA, apresentados na Tabela 6, demonstram que a


variável estatística exerce influência sobre a variável dependente e que o modelo é
significativo, vez que o Sig. (0,000) do modelo é menor que o α (0,05), rejeitando a hipótese
H0 de que o coeficiente de determinação (R²) é igual a zero.

Tabela 6: ANOVA – Regressão Múltipla Cenário 01

Considerando que a soma total dos quadrados é o resíduo quadrado que ocorreria
utilizando apenas a média da variável dependente para predição (CORRAR et al., 2012, p.
167), a Tabela 6 confirma que ao considerarmos as variáveis independentes intensidade moral
e relativismo (modelo 2) o resíduo reduz para valores inferiores ao utilizado pela média dos
escores da variável dependente, demonstrando ser o modelo melhor preditor quando
comparado somente ao uso da média.
Têm-se, portanto, que o valor previsto para o escore da variável dependente, o
julgamento ético dos profissionais da Contabilidade, no cenário 01, considerando as variáveis
independentes ‘intensidade moral’ e ‘relativismo’, é resultante da seguinte equação de
regressão:

Julgamento Ético = 2,267 + 0,766 * Intensidade moral - 0,253 * Relativismo

A Tabela 7 apresenta os coeficientes utilizados na elaboração da equação de regressão


múltipla para predição do julgamento ético demonstrada, bem como o teste t, que verifica a
probabilidade de que os coeficientes das variáveis independentes e da constante utilizada na
regressão não sejam estatisticamente nulos (CORRAR et al., 2012, p. 172).
Logo, a hipótese nula do teste t é:
113

H0: Os coeficientes do intercepto e das variáveis independentes da equação de regressão


tendem, estatisticamente, a serem nulos;
H1: O coeficiente do intercepto e das variáveis independentes da equação de regressão tende,
estatisticamente, a ser diferente de zero.

Como os valores de Sig. do teste t (apresentados na Tabela 7) são inferiores ao α =


0,05, rejeita-se a hipótese nula de que os coeficientes utilizados tendem a zero, validando,
portanto, a equação utilizada.Todavia, o relativismo não se mostrou significante ao nível de α
= 0,01.

Tabela 7: Coeficientes da regressão múltipla – Cenário 01

O resultado da equação de regressão adotada permite identificar que outras variáveis


influenciam o julgamento ético, dado o valor positivo da constante da equação (2,267).
Entretanto, é possível identificar que quanto menor for a intensidade moral dada ao caso
exposto, menos rigoroso será o julgamento ético do respondente.
Em relação ao relativismo, ocorre exatamente o oposto, ou seja, quanto maior for o
nível de relativismo individual, menos rigoroso será o julgamento ético para o caso exposto.
Todavia, através dos dados expostos, também é possível afirmar que a variável que mais
contribui para a explicação do Julgamento Ético é a Intensidade Moral da questão.
A Tabela 7 apresenta estatísticas de colinearidade através dos testes de tolerância e do
VIF (Variance Inflation Factor), que medem a existência de multicolinearidade entre as
variáveis independentes. Em ambos os testes, valores próximos da unidade são indicativos de
não detecção de multicolineraridade (CORRAR et al., 2012, p. 188).
Corrar et al. (2012), Field (2009) e Hair et al. (2005) apresentam uma regra simples
para avaliar o índice de tolerância:

 Valores acima de 1 – sem multicolinearidade;


 Valores de 0,10 até 1 – com multicolinearidade aceitável;
114

 Valores abaixo de 0,10 – com multicolinearidade problemática.

Da mesma forma, os autores consideram que a VIF, que é o inverso da tolerância,


pode ser avaliada da seguinte forma:

 Valores até 1 – sem multicolinearidade;


 Valores de 1 até 10 – com multicolinearidade aceitável;
 Valores acima de 10 – com multicolinearidade problemática.

Observa-se, então, que não há indícios da presença de multicolinearidade problemática


no modelo, vez que os valores de tolerância e do VIF são, respectivamente, 0,983 e 1,017,
valores estes muito próximos a 1.
As variáveis que não foram consideradas pelos modelos resultantes de cada estágio do
método de regressão utilizado são apresentadas na Tabela 8, bem como os valores do
coeficiente de cada variável na equação de regressão, caso estas variáveis venham a ser
utilizadas, além do teste t correspondente a estes coeficientes.
Conforme realça Corrêa (2012, p. 185), os testes t dos coeficientes das variáveis
excluídas do modelo possuem as hipóteses nulas de igualar a zero cada um dos coeficientes de
correlação parcial. Os resultados do teste t das variáveis excluídas do primeiro modelo
demonstram que em todos os casos as hipóteses nulas são verdadeiras, vez que o Sig. destas
variáveis são maiores que o α = 0,05, com exceção da variável independente relativismo, cuja
hipótese nula é rejeitada, justificando a sua inclusão no segundo modelo, em que todas as
variáveis excluídas não são significantes a 5%.
115

Tabela 8: Coeficientes da regressão múltipla – Cenário 01

A avaliação do pressuposto da distribuição normal dos resíduos (teste de normalidade)


foi realizada através de um procedimento denominado teste Kolmogorov-Smirnov, o qual
examina se dada série apresenta distribuição normal com as seguintes hipóteses:

H0: a distribuição da série testada é normal;


H1: a distribuição da série testada não apresenta comportamento normal.

O teste da normalidade é realizado nos resíduos padronizados, aceitando-se a hipótese


nula como verdadeira se Sig. for maior que o nível de significância estabelecido (α = 0,05).
Caso a hipótese nula seja rejeitada, devem-se realizar transformações nas variáveis ou na
composição da amostra como forma de correção da violação deste pressuposto (CORRAR et
al., 2012, p. 193).
O teste da normalidade dos resíduos padronizados do modelo de regressão utilizado
apresentou significância maior do que o nível de significância estabelecido (0,322),
possibilitando aceitar a hipótese nula de que a distribuição dos resíduos padronizados é
normal.
A Tabela 9 apresenta o resultado do teste Kolmogorov-Smirnov para uma amostra.
116

Tabela 9: Teste de normalidade dos resíduos padronizados – Cenário 01

A normalidade dos resíduos também pode ser observada na Figura 31, vez que os
pontos da probabilidade observada estão próximos da probabilidade esperada.

Figura 31: Gráfico normal P-Plot da regressão do resíduo padronizado – Regressão Múltipla – Cenário 01

Na sequência, a Figura 32 demonstra o histograma dos resíduos padronizados.


117

Figura 32: Histograma dos resíduos padronizados – Regressão Múltipla – Cenário 01

Um último teste para avaliação do comportamento dos resíduos, denominado por teste
Pesarán-Pesarán, foi realizado. Este teste examina se a variância dos resíduos mantém-se
constante em toda a dimensão das variáveis independente, buscando avaliar, portanto, a
existência de homocedasticidade nos resíduos. Sua forma implica regredir o quadrado dos
resíduos padronizados como função do quadrado dos valores estimados padronizados e as
hipóteses a serem testadas são (CORRAR et al., 2012, p. 193):

H0: os resíduos são homoscedásticos;


H1: os resíduos são heteroscedásticos.

A significância desta regressão pode ser observada na Tabela 10 e demonstra que a


hipótese nula de que os resíduos são homoscedásticos pode ser aceita, vez que o Sig. do teste
F apresentou valor de 0,708, valor este superior ao nível de significância de 5% adotado.

Tabela 10: ANOVA dos resíduos da Regressão Múltipla – Cenário 01


118

Portanto, verifica-se que o modelo é significante e atende às suposições e pressupostos


para verificação de sua significância. Todavia, Corrar et al. (2012) frisam que, para a
validação dos resultados alcançados no processamento de regressão múltipla, os manuais
estatísticos recomendam que se obtenha nova amostra para avaliação da correspondência dos
resultados das duas regressões distintas ou que se reparta a amostra coletada em duas
subamostras, sendo processada cada uma destas subamostras independentemente.
Devido à indisponibilidade de tempo para coleta de dados a fim de se compor uma
nova amostra, optou-se por subdividir a amostra em duas subamostras independentes, sendo
essa separação feita de forma aleatória pelo software utilizado (SPSS®). Cada subamostra
conteve 50% da amostra e os resultados do modelo de regressão destas subamostras e da
amostra geral foram similares, com exceção de um importante aspecto: ambas as subamostras
apresentaram uma única variável independente, que foi a Intensidade Moral.
A Tabela 11 demonstra um sumário dos dados para validação do modelo gerado:

Tabela 11: Sumário dos dados para validação do modelo – Cenário 01

Ao subdividir a amostra em duas subamostras foi possível constatar que a variável


independente “Relativismo” pode não ser uma preditora significante do julgamento ético para
a população como um todo.
De fato, ao analisar os coeficientes da equação resultante do modelo atualizado, nota-
se que o efeito desta variável na predição da variável dependente Julgamento Ético é pequeno
se comparado à Intensidade Moral, além de que, ao nível de α = 0,01, esta não se mostrou
significante.
A Tabela 12 compara os dados da amostra geral e os dados obtidos na subamostra,
considerando, também, o modelo 01 do método stepwise, que utilizou apenas a variável
intensidade moral como preditora do julgamento ético.
119

Tabela 12: Sumário dos dados para validação do modelo, considerando uma variável independente – Cenário 01

Conclui-se, portanto, que apesar de o modelo de regressão resultante do método


utilizado ser significante estatisticamente ao nível de α = 0,05, e atender aos pressupostos
necessários para a validação deste modelo, ao subdividir a amostra em duas partes aleatórias
não foi possível constatar que o relativismo é um fator influente em ambas subamostras,
inviabilizando a sua generalização para toda a população dos profissionais da Contabilidade.
Por fim, através do cenário exposto e dos resultados coletados e obtidos junto à
amostra estudada, é possível concluir que a intensidade moral é o principal preditor do
julgamento ético para o cenário exposto. Logo, a magnitude das consequências de
determinada ação e o consenso social sobre a eticidade desta ação são considerados fatores
estatisticamente significantes do julgamento ético dos profissionais da Contabilidade no
Brasil.
Assim, por meio dos resultados obtidos, considera-se que quanto maior for a
magnitude das consequências de uma ação e quanto maior for o consenso social sobre a
eticidade de determinado ato e, consequentemente, da intensidade moral da questão, mais
rigoroso será o julgamento ético do agente moral no momento de decidir sobre a execução
desta ação.
Outra variável independente estudada, o nível de relativismo dos respondentes, em
menor escala quando comparado à intensidade moral, também se mostrou estatisticamente
significante junto à amostra utilizada, considerando α = 0,05. Pelos resultados obtidos,
conclui-se que, ao contrário da intensidade moral, quanto maior for o nível de relativismo do
agente moral, menos rigoroso será o julgamento ético do indivíduo, perante as questões e
dilemas éticos.
Entretanto, não se pode generalizar tal resultado para toda a população, principalmente
pelo fato de que, ao subdividir aleatoriamente a amostra em duas subamostras, não foi
possível obter os mesmos resultados quanto à representatividade do relativismo como variável
preditora do julgamento ético nestas subamostras.
120

Ressalta-se, todavia, que ao subdividir a amostra em duas subamostras obteve-se uma


relação de respondentes por variável estudada pequena - aproximadamente 65 respondentes
para um total de 7 variáveis independentes ou, aproximadamente, 9 respondentes por variável,
valor inferior ao recomendado na literatura.
Para as demais variáveis estudadas (idade, sexo, religiosidade, idealismo e valores
éticos corporativos) não se obteve suporte estatístico para a afirmação de que estas são
preditoras significantes do julgamento ético para o cenário utilizado.

4.2.2 Cenário 02 - Produtos alimentícios

Do mesmo modo que para o primeiro cenário, o método de estimação do modelo foi o
método de entrada stepwise. Neste método, o critério para inclusão de variáveis no modelo
baseia-se na probabilidade F, cujos valores devem ser iguais ou menores que 0,05, enquanto
que para exclusão os valores da probabilidade F devem ser iguais ou maiores que 0,10.
Neste cenário, a variável independente denominada Valores Éticos Corporativos
também foi respondida somente por aqueles que atuam em alguma organização ou empresa,
fato que resultou em alguns dados faltantes (dez, no total). Para estes casos, os dados faltantes
foram substituídos automaticamente pelo software, utilizando a média dos valores
encontrados junto aos demais respondentes.
Diferente do cenário anterior, que resultou na inclusão de duas variáveis como
preditores significantes do julgamento ético, neste cenário o método utilizado resultou em um
único modelo de equação, considerando apenas uma variável independente como preditora do
julgamento ético para o cenário exposto. Logo, a regressão linear resultante pelo método
utilizado é uma regressão linear simples, com uma única variável independente.
A Tabela 13 apresenta a variável inserida no modelo de regressão linear simples e o
método utilizado para inclusão ou exclusão de variáveis no modelo.

Tabela 13: Variáveis inseridas no modelo de regressão pelo método Stepwise – Cenário 02
121

O coeficiente de determinação (R²) do modelo de regressão linear proposto foi de


0,602, ou seja, 60,2% das variações do julgamento ético para o cenário 02 são explicadas
pelas variações na variável independente intensidade moral. Já o coeficiente de determinação
ajustado (R² Ajustado), que leva em consideração a quantidade de variáveis e o tamanho da
amostra, resultou em um coeficiente de 0,599 ou 59,9% de explicação.

Tabela 14: Resumo do modelo de regressão – Cenário 02

A estatística Durbin-Watson, utilizada para avaliar a independência dos erros ou


ausência de autocorrelação serial, apresentou o valor de 1,862 como valor resultante.
Considerando um nível de significância de 5%, com tamanho de amostra de 129 respondentes
e uma única variável independente, obtêm-se nos valores tabelados2 os seguintes limites:

 dU = limite crítico superior = 1,72812;


 dL = limite crítico inferior = 1,69690.

Como a estatística de Durbin-Watson encontra-se acima do limite crítico superior (dU


= 1,7281) e abaixo da resultante da expressão 4 - dU (2,2719), conclui-se que não existe uma
autocorrelação nos termos de erro, não violando, portanto, o pressuposto de independência
dos erros (vide Figura 30).
O teste F-ANOVA, que verifica a hipótese de que o coeficiente de determinação (R²)
seja igual a zero, também foi realizado e é apresentado na Tabela 15. A hipótese nula para
este teste é:

H0: O coeficiente de determinação da equação de regressão (R²) é igual a zero;


H1: O coeficiente de determinação da equação de regressão (R²) é, significantemente,
diferente de zero.

2
Valores encontrados em tabela disponível no endereço <http://www.stanford.edu/~clint/bench/dwcrit.htm>.
Acesso em: 08/09/2012.
122

Neste aspecto, a hipótese nula do modelo de regressão adotado é aceita, vez que o
valor de Sig. é menor que α = 0,05, resultando na consideração de que o coeficiente de
determinação é, significantemente, diferente de zero, ou seja, a variável estatística exerce
influência sobre a variável dependente (Tabela 15).
A soma dos quadrados dos resíduos demonstrados na mesma Tabela 15, também
evidencia que o resíduo do modelo de regressão é menor do que os resíduos resultantes no
caso de utilização da média dos escores do julgamento ético para a sua predição.

Tabela 15: ANOVA – Regressão Linear - Cenário 02

Assim, os valores para o escore da variável dependente Julgamento Ético, no cenário


02, podem ser previstos, baseando-se nos escores da variável independente Intensidade Moral,
através do resultado obtido pela equação resultante do modelo encontrado e que é apresentado
a seguir:

Julgamento Ético = 1,145 + 0,877 * Intensidade moral

Os coeficientes adotados na equação exposta acima mostraram-se significantes


estatisticamente. Tal avaliação se deu através do teste t, cujas hipóteses para este teste foram:

H0: Os coeficientes do intercepto e da variável independente da equação de regressão tendem


a serem estatisticamente iguais a zero;
H1: O coeficiente do intercepto e das variáveis independentes da equação de regressão tende
estatisticamente a ser diferente de zero.

A Tabela 16 demonstra o teste t de ambos os coeficientes (do intercepto ou


constante, e da intensidade moral), cujos resultados demonstram que a hipótese nula é
rejeitada. Ou seja, os coeficientes utilizados na equação não tendem a ser iguais a zero (nestes
casos, os valores utilizados na equação poderiam ser obtidos por acaso), aceitando, assim, a
hipótese alternativa para este teste, considerando um nível de significância de 5% (α = 0,05).
123

Tabela 16: Coeficientes da regressão simples – Cenário 02

Cabe ressaltar que, por se tratar de uma regressão linear simples, que considerou
apenas uma variável independente como estatisticamente significante na predição da variável
dependente, não existe possibilidade de o modelo apresentar multicolinearidade. Todavia, o
valor do intercepto na equação (1,145) indica a existência de outras variáveis que influenciam
o julgamento ético dos profissionais da Contabilidade.
As demais variáveis que foram analisadas e excluídas do modelo de regressão são
apresentados na Tabela 17, juntamente com os coeficientes que as mesmas apresentariam,
caso fossem utilizadas no modelo de regressão, bem como o teste t correspondente a cada
uma dos coeficientes destas variáveis, cujo teste possui a hipótese nula de se igualar a zero
cada um dos coeficientes de correlação parcial.
Os resultados do teste t para estas variáveis demonstram que em todos os casos as
hipóteses nulas são verdadeiras, vez que o Sig. destas variáveis são maiores que o nível de
significância adotado (α = 0,05).

Tabela 17: Variáveis excluídas do modelo de regressão múltipla – Cenário 02

Sequencialmente avaliou-se o pressuposto da distribuição normal dos resíduos (teste


de normalidade), realizado através do teste Kolmogorov-Smirnov, cujas hipóteses são:

H0: a distribuição da série testada é normal;


H1: a distribuição da série testada não apresenta comportamento normal.
124

O teste de normalidade dos resíduos padronizados do modelo utilizado apresentou


valor Sig. menor do que o nível de significância adotado no estudo (α = 0,05), conforme
demonstrado na Tabela 18, rejeitando, portanto, a hipótese nula da distribuição da série
testada é normal.
A ausência de normalidade nos resíduos também pode ser observada na Figura 33,
vez que os pontos da probabilidade observada acumulada divergem da probabilidade
esperada.

Tabela 18: Teste de normalidade dos resíduos padronizados – Cenário 02

Figura 33: Gráfico normal P-Plot da regressão do resíduo padronizado – Regressão Linear – Cenário 02
125

A Figura 34 representa o histograma dos resíduos padronizados da regressão linear


adotada.

Figura 34: Histograma dos resíduos padronizados – Regressão Linear – Cenário 02

Para avaliar se o conjunto de resíduos apresenta variância constante ou homogênea


em toda a extensão da variável independente (pressuposto da homoscedasticidade) foi
realizado o teste de Pesarán-Pesarán, cuja forma consiste em regredir o quadrado dos resíduos
padronizados como função do quadrado dos valores estimados padronizados (CORRÊA,
2012, p. 189). Neste aspecto, as hipóteses a serem testadas, de acordo com Corrar et al. (2012,
p.193):

H0: os resíduos são homoscedásticos;


H1: os resíduos são heteroscedásticos.

Como demonstrado na Tabela 19, a significância desta regressão possibilita aceitar a


hipótese nula de que os resíduos são homoscedásticos como verdadeira, vez que o Sig. do
teste F apresentou valor de 0,097, valor este superior ao nível de significância adotado.
126

Tabela 19: ANOVA dos resíduos do modelo de Regressão – Cenário 02

Portanto, na análise dos pressupostos para validação da equação de regressão linear


elaborada foi constatado que apenas a normalidade dos resíduos não é adequada no modelo
elaborado, vez que os resíduos não estão distribuídos de acordo com uma curva normal.
Entretanto, tendo como base o Teorema do Limite Central, pode-se assumir a
normalidade da distribuição dos resíduos, vez que tal teorema, conforme pontuam Corrar et
al. (2012, p. 211), afirma que a distribuição amostral das médias amostrais aproxima-se de
uma distribuição normal, à medida que cresce o tamanho da amostra, pois a probabilidade de
se selecionarem valores centrais fica incrementada com o incremento das tentativas de
amostragem.
Por fim, para se validar os resultados obtidos, a amostra utilizada também foi
subdividida, de forma aleatória, em duas subamostras independentes, em que cada uma
conteve 50% da amostra total. Conforme demonstra a Tabela 20, tanto na amostra original
quanto nas subamostras a única variável, que se mostrou estatisticamente significante foi a
Intensidade Moral, possibilitando a generalização do resultado para toda a população.

Tabela 20: Sumário dos dados para validação do modelo – Cenário 02

Conclui-se, portanto, que neste segundo cenário somente a variável independente


Intensidade Moral é uma preditora estatisticamente significante do julgamento ético dos
profissionais da Contabilidade. Ou seja, a magnitude das consequências e o consenso social
sobre a eticidade de determinada ação, que constituem a intensidade moral da questão, são os
principais preditores do julgamento ético.
Assim, através dos resultados obtidos, considera-se que quanto maior for a magnitude
das consequências de uma ação, e quanto maior for o consenso social sobre a eticidade de
127

determinado ato e, consequentemente, da intensidade moral da questão, mais rigoroso será o


julgamento ético do agente moral no momento de decidir sobre a execução desta ação.
Para as demais variáveis estudadas (idade, sexo, religiosidade, idealismo, relativismo e
valores éticos corporativos) não se obteve suporte estatístico para a afirmação de que estas
sejam preditoras significantes do julgamento ético dos profissionais da Contabilidade para o
cenário utilizado.

4.3 Análise das hipóteses do estudo

Conforme apresentado no item 1.3, o objetivo geral deste estudo foi identificar a
influência das características pessoais e organizacionais no julgamento ético dos profissionais
da Contabilidade, bem como conhecer os impactos da ideologia ética e da intensidade moral
dos dilemas éticos neste processo.
A fim de se atingir este objetivo, foram apresentados quatro objetivos específicos que
resultaram em sete hipóteses de pesquisa. Na sequência, apresentam-se a análise das hipóteses
segregadas por objetivos específicos.

 Objetivo específico 1: O primeiro objetivo específico foi examinar quais das


características pessoais aqui pesquisadas, no caso, idade, sexo e religiosidade, influenciam
significativamente o julgamento ético dos profissionais da Contabilidade. Por hipótese, foi
suposto que tais variáveis influenciavam significativamente o julgamento ético dos
profissionais da Contabilidade (vide hipóteses 01a, 01b e 01c).
Os resultados obtidos, através dos cenários expostos à amostra utilizada nesta
pesquisa, não permitem aceitar estas hipóteses como verdadeiras, vez que em ambos os
cenários a idade, o sexo e a religiosidade não se mostraram preditores estatisticamente
significantes do julgamento ético dos profissionais da Contabilidade.
Logo, rejeitam-se as hipóteses propostas e se conclui que a idade, o sexo e a
religiosidade não são influentes significantes do julgamento ético dos contadores participantes
deste estudo.
Estes resultados diferem de muitos outros estudos sobre a ética no ambiente
empresarial, muito embora alguns estudos também não tenham encontrado significância
estatística para aceitar que tais fatores individuais são influentes significantes do processo
decisório ético.
128

Por exemplo, o estudo realizado por Abdolmohammadi e Ariail (2009) não encontrou
suporte estatístico para a influência do sexo no raciocínio ético dos auditores contadores. Do
mesmo modo, Marques e Azevedo-Pereira (2009) constataram que a idade não é preditor
relevante no julgamento ético. Oumlil e Balloun (2009) também identificaram em seus
estudos que a religiosidade não é influente da intenção ética.
Lam e Shi (2009) concluíram que o efeito do gênero na atitude ética dos chineses não
é estatisticamente significante, todavia, no mesmo estudo os autores constataram que o sexo é
uma variável significante em Hong Kong e que a religiosidade desempenha importante papel
no processo decisório ético, afetando diretamente a atitude ética dos indivíduos.
Alleyne et al. (2006) verificaram que o sexo, a idade e a afiliação religiosa, bem como
o comprometimento, não impactam na percepção da intensidade moral dos estudantes de
contabilidade de Barbados. O estudo de Alves (2005), apesar de não ter como foco o processo
decisório ético, constatou junto aos contadores brasileiros que as variáveis individuais,
quando analisadas em conjunto, não são fatores preponderantes na pré-disposição dos
profissionais da Contabilidade em ter o código de ética desta classe profissional como guia de
conduta. O que, indiretamente, possibilita associar que os fatores individuais não influenciam
no processo decisório ético, fato este confirmado nesta pesquisa.

 Objetivo específico 2: O segundo objetivo específico buscou verificar como a ideologia


ética pode atuar significatemente na predição do julgamento ético dos profissionais da
Contabilidade. Assim, apresentou-se a hipótese de que o julgamento ético destes difere de
acordo com os níveis de idealismo e de relativismo individuais.
Os resultados obtidos, em ambos os cenários, demonstram que o julgamento ético não
é influenciado pelo idealismo, ou seja, o julgamento ético não diferencia de acordo com o
nível de idealismo dos profissionais da Contabilidade, rejeitando, portanto, a hipótese 02a.
Logo, os profissionais que assumem que as boas consequências desejáveis em uma ação
sempre podem ser obtidas, demonstrando uma preocupação com o bem-estar dos outros e da
coletividade, não demostraram ser mais rigorosos no julgamento ético que aqueles que não
possuem tal preocupação.
Muitos estudos sobre a ideologia ética e o processo decisório ético identificaram que o
nível de idealismo está positivamente relacionado com o processo decisório ético como, por
exemplo, os estudos de Sobral (2009) e Valentine e Bateman (2011). Entretanto, assim como
nesta pesquisa, outros estudos também não identificaram a existência de relacionamento entre
o julgamento ético e o idealismo, tal como o estudo de Singhapakdi et al. (2008), que
129

constataram uma inexistência de relacionamento entre os níveis de idealismo e a percepção de


um problema ético. Marques e Azevedo-Pereira (2009) também não verificaram nenhuma
relação entre o idealismo e o julgamento ético dos profissionais da Contabilidade portugueses.
Cabe ressaltar que a pesquisa de Marques e Azevedo-Pereira (2009), diferente das demais,
visto ter sido realizada com contadores portugueses.
Quanto ao relativismo, foi suposto, por hipótese, que o julgamento ético dos
profissionais da Contabilidade diferencia de acordo com os seus respectivos níveis de
relativismo. No primeiro cenário exposto, cujos respondentes caracterizaram como um
cenário de intensidade moral baixo, considerando uma dicotomização em alta ou baixa, o
nível de relativismo demonstrou ser um preditor estatisticamente significante do julgamento
ético dos profissionais da Contabilidade.
O resultado da regressão linear múltipla para o primeiro caso demonstrou que, quanto
menor for o nível de relativismo do contabilista, mais rigoroso será o seu julgamento ético.
Ou seja, os contadores menos relativistas, que dão maior valor aos princípios universais da
moral, toleram menos práticas moralmente questionáveis, apresentando maior rigor no
julgamento ético.
Apesar de a influência do nível de relativismo no julgamento ético ter se mostrado
estatisticamente significante, a contribuição desta no percentual de explicação do modelo de
regressão foi relativamente pequeno. Além disso, ao subdividir a amostra em dois grupos para
validação do modelo de equação, o nível de relativismo não se mostrou significante na
predição do julgamento ético nestas subamostras. Do mesmo modo, deve-se considerar que ao
nível de significância de α = 0,01 esta variável não foi significante.
Já no segundo cenário exposto, o nível de relativismo não se mostrou significante
estatisticamente na predição do julgamento ético da amostra. Assim, apesar de no primeiro
cenário o nível de relativismo se mostrar estatisticamente significante, por não ser possível
validar os resultados deste primeiro cenário, rejeitou-se a hipótese 02b, vez que, além do
relacionamento entre o relativismo e o julgamento no segundo cenário não ser confirmado,
também não foi possível validar a significância estatística desta variável no primeiro cenário,
quando considerado um nível de significância de α = 0,01, ou nas subamostras utilizadas.
Este resultado também é confirmado no estudo de Sobral (2009), que não detectou
relações estatisticamente significantes entre o relativismo e o julgamento moral de práticas
negociais eticamente ambíguas. O mesmo ocorreu no estudo de Marques e Azevedo-Pereira
(2009), que não encontrou relacionamento significante, estatisticamente, entre o julgamento
ético e nível de relativismo dos contadores portugueses.
130

 Objetivo específico 3: O terceiro objetivo específico foi o de se conhecer a significância


da influência da intensidade moral, composta neste estudo pelos elementos “magnitude das
consequências” e “consenso social”, no julgamento ético dos profissionais da Contabilidade.
No primeiro cenário exposto, o coeficiente de determinação (R²) encontrado no
modelo de regressão adotado, considerando a intensidade moral e o relativismo como
variáveis influentes, foi de 0,435. Entretanto, tal coeficiente, quando considerado o modelo
com apenas a intensidade moral como variável preditora do julgamento ético, foi de 0,417, ou
seja, 41,7% das variações do julgamento ético podem ser explicadas pelas variações na
intensidade moral.
Do mesmo modo, no segundo cenário, o coeficiente de determinação (R²) resultante
do modelo de regressão linear, que considerou apenas a intensidade moral como variável
estatisticamente significante na predição do julgamento ético para o cenário, foi de 0,602, o
que significa dizer que 60,2% das variações no julgamento ético são explicadas pelas
variações da intensidade moral.
Portanto, a magnitude das consequências e o consenso social, quando considerados em
conjunto, mostraram-se estatisticamente significantes. Em ambos os cenários estudados a
intensidade moral, constituída por estes componentes, demonstrou ser uma variável
independente fortemente relacionada com o julgamento ético, fato que possibilita aceitar a
hipótese 03a como verdadeira. Ou seja, há evidências de que a intensidade moral é uma
preditora significante do julgamento ético dos profissionais da Contabilidade.
Os resultados obtidos no presente estudo estão coerentes com diversos estudos que
envolvem a intensidade moral, considerando ou não todos os seus elementos. Caso dos
estudos de Valentine e Bateman (2011), Sweeney e Costello (2009), Young e Wu (2009),
Singhapakdi et al., 1996, Singhapakdi, Vitell e Franke (1999) e Singh et al. (2007), entre
outros.
Cabe ressaltar que muitos destes estudos consideraram a intensidade moral com todos
os seus elementos; enquanto outros, não. Todavia, conforme já demonstrado e explicitado
anteriormente e baseado na argumentação de Frey (2000), Alleyne et al. (2006) e Carlson et
al. (2009), este estudo adotou a intensidade moral, considerando somente os elementos
magnitude das consequências e consenso social.

 Objetivo específico 4: Por fim, o quarto e último objetivo específico deste estudo foi
identificar qual é a influência dos valores éticos corporativos no julgamento ético dos
131

profissionais da Contabilidade. Nos dois cenários estudados, o relacionamento entre os


valores éticos corporativos e o julgamento ético não se mostraram estatisticamente
significantes. Ou seja, não foram encontradas evidências estatísticas de que os valores éticos
corporativos influenciam o julgamento ético de tais profissionais, rejeitando-se, portanto, a
hipótese 04 apresentada.
Sardzoska e Tang (2009) constataram que o comportamento ético não está relacionado
com os valores éticos corporativos. Entretanto, o resultado obtido contraria outras pesquisas
que envolvem o processo decisório ético ou a importância da ética e os valores corporativos
éticos, tais como os estudos de Singhapakdi et al. (2008), Vitell e Hidalgo (2006), entre
outros.
Por fim, em resposta à questão de pesquisa, e focando-se o objetivo geral deste estudo,
tem-se que: para os profissionais da Contabilidade que participaram deste estudo foram
encontradas evidências estatísticas de que, entre as variáveis consideradas, apenas a
intensidade moral das questões éticas é fator direcionador significante do julgamento ético
dos profissionais da Contabilidade brasileiros.
Em relação às demais variáveis independentes estudadas, não houve suporte para
considerá-las como fatores determinantes significativos do julgamento ético dos profissionais
da Contabilidade brasileiros.
5 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

A competitividade entre as organizações e a busca por resultados financeiros atrativos


aos investidores inseriu no contexto dos administradores e gestores organizacionais uma
pressão pelo alto desempenho individual e corporativo.
A Contabilidade, por fornecer informações sobre o patrimônio organizacional, possui
papel de destaque neste processo, influenciando as decisões organizacionais e induzindo os
seus stakeholders quanto às decisões que envolvem as empresas, tais como concessão de
empréstimos, investimentos, impostos, entre outros.
Todavia, conforme destacam Megliorini et al. (2008), as práticas contábeis, por sua
vez, oferecem uma flexibilidade que possibilita, dentro das lacunas encontradas na legislação,
um gerenciamento de resultado de maneira que as informações contábeis passam a não refletir
a realidade econômica, financeira e patrimonial da organização.
O grande problema deste gerenciamento de resultados está no seu uso de forma
inadequada e de modo criminoso, resultando na prática de fraudes por gestores,
administradores e, também, por contadores. O crescente número de escândalos contábeis na
história recente da economia mundial é prova do perigo que envolve o uso inadequado da
tecnologia contábil.
Logo, a compreensão dos fatores que influenciam o comportamento ético dos
profissionais da Contabilidade é de grande valia para as organizações e para os seus
stakeholders. Entretanto, apesar da quantidade de estudos que envolvem este tema dentro do
âmbito contábil ter aumentado em outros países, ainda são poucos os estudos focados na ética
de tais profissionais no Brasil.
Neste sentido, este estudo teve por objetivo identificar entre diferentes variáveis quais
influenciam significativamente o julgamento ético dos profissionais da Contabilidade no
Brasil. Estes fatores ou variáveis analisados foram: sexo, idade, religiosidade, ideologia ética
(idealismo e relativismo), intensidade moral e valores éticos corporativos.
A análise dos resultados obtidos revelou que, dentre todas as variáveis estudadas,
somente a intensidade moral, que neste estudo foi composta pela “magnitude das
consequências” e pelo “consenso social”, é preditora estatisticamente significante do
julgamento ético dos profissionais da Contabilidade no Brasil.
Quanto às demais, que são características associadas ao agente moral (sexo, idade,
religiosidade e ideologia ética) e ao ambiente organizacional (valores éticos corporativos),
133

não houve suporte estatístico para a afirmação de que estas influenciam significativamente o
julgamento ético dos profissionais brasileiros da Contabilidade.
Conclui-se, portanto, que o fator direcionador estatisticamente mais significante do
julgamento ético está associado à própria questão moral e não às características pessoais do
agente moral ou do ambiente empresarial, confirmando a proposição de Jones (1991). Atinge-
se, assim, o objetivo geral desta pesquisa e se responde à seguinte questão de pesquisa
proposta: A ideologia ética, a intensidade moral das questões ética e as características
pessoais e organizacionais podem ser consideradas fatores direcionadores significantes do
julgamento ético dos profissionais da Contabilidade no Brasil?
Cabe ressaltar que, apesar de o estudo focar o julgamento ético, um resultado marcante
do estudo foi o elevado índice de respondentes que não identificaram em um dos cenários um
dilema ético, demonstrando a necessidade de maior atenção para a inserção de uma agenda
ética nas organizações e instituições educacionais que possuem interesse contábil.
Este resultado é relevante para as entidades da classe profissional e para as entidades
empresariais porque, através dele, visualiza-se que, muito mais do que somente fiscalizar,
deve-se conscientizar os profissionais da Contabilidade sobre a intensidade moral das ações
praticadas por dolo ou má fé, auxiliando, inclusive, o reconhecimento das questões éticas no
ambiente contábil.
Logo, as entidades de classe e as organizações devem, necessariamente, possuir uma
agenda focada na ética e na criação de um sentimento ou consenso de quais práticas são
moralmente corretas, adequadas e transparentes, demonstrando a importância de se ter um
comportamento ético e de se reconhecer uma questão moral e ética, além da magnitude das
possíveis consequências que determinada pratica motivada por dolo ou má fé pode ocasionar
à sociedade.
As instituições de ensino que ministram cursos na área contábil, quer em níveis
técnicos, de graduação ou pós-graduação, devem inserir em suas grades curriculares temas
focados na ética profissional junto aos futuros profissionais da Contabilidade, a fim de que
estes reconheçam, sem nenhuma margem de dúvida, uma questão ética nas atividades e
funções profissionais e pessoais. É uma forma de deixar claro que os prejuízos causados por
atos antiéticos podem ter elevada magnitude em suas consequências, criando assim um senso
comum sobre o comportamento adequado a estes profissionais, não deixando dúvidas sobre a
eticidade de determinados comportamentos antiéticos.
Os resultados sugerem que as organizações empresariais, ao invés de associar o
comportamento antiético às características pessoais de seus colaboradores, tais como a idade,
134

o sexo ou a religiosidade devem ter como foco: mitigar o comportamento antiético na


organização, bem como demonstrar a magnitude das consequências resultantes de práticas
inadequadas, imorais e antiéticas dentro da organização. Estas organizações necessitam,
primeiramente, mapear e gerenciar as áreas que lidam com atividades, que envolvem elevada
intensidade moral, como é o caso das áreas de Marketing, Compras e a Contabilidade, entre
outras.
Os achados deste estudo contribuem para que as organizações e as entidades contábeis
direcionem seus esforços na busca de uma classe profissional íntegra, com profissionais que,
conforme pontua Kraemer (2001), desempenhem suas atividades com discrição e
transparência e apresentem uma postura ética, servindo, inclusive, de exemplo para a própria
sociedade.
Oportunamente, como outros tantos, este estudo buscou contribuir para o crescimento
da classe contábil. Todavia, foi encontrada uma enorme dificuldade para composição da
amostra, principalmente por parte dos Conselhos Regionais da Contabilidade e dos Sindicatos
que representam a classe Contábil. Esta restrição à divulgação de pesquisas que objetivam ao
crescimento da profissão em nada contribui com a classe contábil e, se realmente tais
entidades estão focadas no fortalecimento da profissão, devem-se unir forças com todos
aqueles que possuem o mesmo interesse.
Atitudes como a criação de grupos de estudos e de um banco de dados com todos os
associados que declarem interesse em participar de pesquisas, como esta aqui idealizada, são
soluções práticas e fáceis de serem implantadas. Ressalta-se, ainda, que a divulgação de tais
pesquisas pode ocorrer diretamente por estas entidades, sem a necessidade de divulgação dos
dados pessoais de seus associados.

5.1 Limitações do estudo

Uma das limitações deste estudo é a não inclusão de outras variáveis preditores no
modelo estudado. Apesar de ser representativo, o modelo de regressão linear explicou 41,7%
em um cenário e 60,2% em outro. Ou seja, existem outras variáveis que influenciam o
julgamento ético e não foram estudadas.
Outra limitação a ser mencionada é o elevado nível de escolaridade da amostra,
mesmo considerando que diversas pesquisas afirmam que a escolaridade não é fator influente
do processo decisório ético. Os respondentes foram caracterizados por possuírem, em sua
135

maioria, algum curso de pós-graduação, representando 69% do total da amostra, fato que não
representa a realidade da população.
Ainda quanto à composição da amostra, outra limitação é o número total de
respondentes. Apesar dos testes estatísticos validarem a composição da amostra, é notório que
a quantidade de respondente é muito pequena em relação ao total da população, podendo esta
não representar adequadamente este total.
Por fim, a última limitação do estudo, que merece destaque, é a falta de um cenário
com baixa intensidade moral. Nos cenários utilizados, as respostas da amostra resultaram na
classificação de um cenário com alta intensidade moral e outro com intensidade moral
considerada próximo do ponto médio da escala adotada.
Assim, apesar de quando dicotomizado o cenário apresentar-se como de baixa
intensidade moral, deve-se levar em consideração a hipótese de que um cenário com
pouquíssima intensidade moral, talvez resulte na identificação de outras variáveis
significantes no julgamento ético.
Considera-se, ainda, a possibilidade de viéses de resposta pelos respondentes, vez que
o tema nem sempre é confortável para quem o responde.

5.2 Sugestões para pesquisas futuras

Diversas pesquisas podem ser desenvolvidas a partir deste estudo. Primeiramente,


podem-se realizar estudos que visem mitigar ou reduzir as limitações deste estudo, incluindo
uma amostra mais heterogênea em relação à escolaridade e incluir outros cenários com
diferentes níveis de intensidade moral.
Alguns dos resultados obtidos contrariam outras pesquisas realizadas
internacionalmente, como é o caso das variáveis sexo e idade, possibilitando a realização de
novos estudos, inclusive contendo, uma amostra maior e mais representantiva da população
estudada.
Os níveis de idealismo e relativismo foram mensurados a partir de um questionário
adaptado do EPQ – Ethics Positions Questionnaire, contendo 15 questões. Apesar de este
questionário ter se mostrado confiável, pode-se realizar outra pesquisa com o questionário
originalmente proposto com 20 perguntas, a fim de verificar se os resultados aqui
apresentados se confirmam. Outra possibilidade é a de identificar os perfis dos profissionais
136

da Contabilidade brasileiros em relação à ideologia ética, conforme proposto por Forsyth


(1980; 1992).
Outra perspectiva de pesquisa futura é a verificação dos demais elementos da
intensidade moral, que aqui não foram avaliados, no sentido de verificar se influenciam o
julgamento ético dos profissionais da Contabilidade, vez que a intensidade moral aqui
utilizada conteve somente os elementos “magnitude das consequências” e “consenso social”.
O mesmo ocorre com os demais itens do processo decisório ético proposto por James Rest,
que são o reconhecimento ético, a intenção ética e o comportamento ético.
Por fim, sugere-se a realização de um estudo comparativo entre profissionais de áreas
correlatas, tais como administração e economia, de forma a se verificar como os fatores que
influenciam o comportamento ético destes profissionais diferem dos resultados aqui
apresentados.
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APÊNDICE A: Questionário para coleta de dados

Pesquisa: Profissionais da Contabilidade

Caro Contabilista,

Encontro-me em fase de coleta de dados para o desenvolvimento da minha dissertação de


mestrado do Curso de Mestrado Profissional em Controladoria da Universidade Presbiteriana
Mackenzie. Esta pesquisa possui o propósito geral de conhecer alguns fatores que influenciam
o comportamento ético dos profissionais da Contabilidade.

Neste sentido, peço-lhes alguns minutos de sua atenção de forma a responder o questionário,
seguindo as orientações ao longo do texto.

Vale ressaltar que as informações obtidas serão tratadas estatisticamente e utilizadas apenas
para fins acadêmicos, assim como será mantida em sigilo a identidade dos respondentes.

Agradeço, antecipadamente, a sua colaboração e coloco-me à disposição para disponibilizar


os resultados obtidos, caso seja de seu interesse.

Luciano dos Santos Clemente


E-mail: luciano1601@globo.com

PARTE I: Questões referentes ao objetivo do estudo


Nas afirmativas que seguem, por favor, indique o seu grau de concordância em relação a elas,
considerando 01 – discordo totalmente e 07 – concordo totalmente.

01. Uma pessoa deve ter certeza de que suas ações nunca prejudicarão intencionalmente
os outros, mesmo que em pequeno grau.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
02. Qualquer atitude que gere riscos aos outros indivíduos nunca deve ser tolerada,
independente de quão pequenos estes riscos possam ser.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
03. Ações que apresentam um prejuízo potencial aos outros são sempre erradas,
independente dos benefícios a serem obtidos por essa ação.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
04. Nunca se deve prejudicar, física ou psicologicamente, outra pessoa.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 uma
05. Não se deve executar 3 4 ação5 6que,7 de algum modo, ameace a dignidade e o bem
estar de outra pessoa.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
06. Se uma ação pode causar dano ou prejuízo a um inocente, então esta ação não deve
ser executada.
148

Discordo totalmente Concordo totalmente


1 2 3 4 5 6 7
07. A dignidade e o bem-estar das pessoas devem ser a mais importante preocupação de
qualquer sociedade.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
08. Nunca é necessário sacrificar o bem-estar dos outros.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
09. O que é considerado ético varia de situação para situação e de sociedade para
sociedade.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
10. Os padrões morais devem ser vistos como individuais: o que uma pessoa considera
como moral pode ser julgado como imoral por outra pessoa.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
11. Uma ação não pode ser considerada moralmente mais justa ou correta em relação à
outra ação.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
12. É impossível definir quando uma ação é ética, uma vez que o que é moral ou imoral
varia de indivíduo para indivíduo.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
13. Padrões morais são simplesmente regras pessoais que indicam como a própria
pessoa deve se comportar, não devendo ser aplicados para julgar os outros.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
14. As considerações éticas nas relações interpessoais são tão complexas que as pessoas
poderiam formular o seu próprio código de ética.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
15. Estabelecer rigidamente uma posição ética que evite certas atitudes pode ser o meio
de se obter uma melhor relação entre os indivíduos.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7

PARTE II: Cenários para avaliação.


A seguir, serão apresentadas duas situações que podem ocorrer no dia a dia do contabilista.
Leia-as atentamente e responda as perguntas que as seguem, relativas a estas situações.

Cenário 01: Formação de provisões de serviços diversos.


Os resultados financeiros de determinada organização excedeu à expectativa de seus
executivos e acionistas. O contador desta empresa, tendo conhecimento do bom resultado do
período, prevendo uma crise de mercado e, consequentemente, uma queda de receita no
próximo exercício, formou provisões de despesas de serviços que ainda estavam em fase de
licitação, evitando que estes serviços não fossem realizados por restrição orçamentária.
149

16. A situação exposta denota um problema ético?


Sim Não

Continuação: Formação de provisões de serviços diversos.


Indique o seu grau de concordância em relação às afirmações que seguem, considerando 01 –
discordo totalmente e 07 – concordo totalmente.

17. A ação praticada pelo contador foi ética.


Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
18. Dependendo da situação, eu agiria da mesma forma que o contador.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
19. Os prejuízos totais causados (se houver) resultantes da ação do contador serão
pequenos.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
20. A maioria das pessoas concorda que a ação do contador é errada.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
21. Se o contador for amigo de algum dos executivos ou acionistas, então essa ação é
errada.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7

Cenário 02: Produtos alimentícios.


Em dezembro de 2011, uma empresa do ramo alimentício descobriu que um de seus produtos
poderia causar intoxicação em pessoas com alergia a determinado item de sua composição.
Por restrição orçamentária, o Controller da empresa postergou a substituição dos produtos já
vendidos para o próximo exercício contábil (janeiro de 2012).

22. A situação exposta denota um problema ético?


Sim Não

Continuação: Produtos alimentícios.


Indique o seu grau de concordância em relação às afirmações que seguem, considerando 01 –
discordo totalmente e 07 – concordo totalmente.

23. A atitude do Controller da empresa foi ética.


Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
24. Eu agiria da mesma forma.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
25. Os prejuízos ou danos totais causados (se houver) resultantes desta ação serão
pequenos.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
26. A maioria das pessoas concorda que esta ação é errada.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
150

27. Se o executante desta ação for amigo de alguma das vítimas da ação, então a ação é
errada.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7

PARTE III: Caracterização do Respondente


Assinale a alternativa em que você se enquadra e que melhor o represente:

28. Faixa etária: Indique abaixo a sua idade.


_____________

29. Sexo:
Masculino Feminino

30. Escolaridade:
Ensino Médio / Técnico
Nível Superior - Graduação
Especialização / MBA
Mestrado
Doutorado / Pós-doutorado

31. Considere a seguinte afirmação: “Eu vou frequentemente à igreja e me considero


muito religioso”.
Assinale o seu nível de concordância em relação a esta afirmação.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7

PARTE IV: Perfil Profissional


Assinale a alternativa em que você e sua empresa se enquadram:

32. Cargo ocupado na empresa:


Auxiliar/Técnico Analista / Auditor / Consultor
Coordenador ou supervisor Gerente
Diretor Vice-presidente / Presidente
Sócio / Proprietário Não aplicável

33. A empresa em que atuo possui:


Capital público Capital privado
Capital misto Não aplicável

34. Número de empregados que a empresa em que você atua possui:


Até 19 empregados De 20 a 99 empregados
De 100 a 499 empregados Acima de 500 empregados
Não aplicável

35. A empresa na qual você atua possui um código de ética formal?


Sim Não
151

Para finalizar, serão apresentadas cinco afirmações. Indique o seu grau de concordância em
relação a elas, considerando 01 – discordo totalmente e 07 – concordo totalmente.

36. Os gestores da minha empresa normalmente se envolvem em comportamentos que


eu considero antiéticos.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
37. Para se ter sucesso na minha empresa, normalmente é necessário comprometer
algum princípio ético.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
38. Na minha empresa, a alta administração faz saber, em termos inequívocos, que os
comportamentos antiéticos não serão tolerados.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
39. Se um gestor, na minha empresa, for descoberto em um comportamento antiético,
que resulte principalmente em GANHOS PESSOAIS (ao invés de ganhos para a
empresa), ele será prontamente repreendido.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
40. Se um gestor, na minha empresa, for descoberto em um comportamento antiético,
que resulte principalmente em GANHOS PARA A EMPRESA (ao invés de ganhos
pessoais), ele será prontamente repreendido.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7

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