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São Paulo
2013
Luciano dos Santos Clemente
São Paulo
2013
Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Professor Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto
CDD 657.834
A Deus, pela força a mim concedida.
À Laura, minha filha, por cada minuto que não pude estar ao seu lado e desfrutar da sua
alegria e do seu sorriso.
Aos meus pais e demais familiares, por acreditarem em mim, por tudo o que me ensinaram e
pelo simples fato de fazerem parte da minha vida.
À Professora Dra. Maria Thereza Pompa Antunes, por sua orientação, apoio e pela confiança
em mim depositada.
Aos Prof. Dr. Octávio Ribeiro Mendonça Neto e ao Prof. Dr. Vinícius Aversari Martins, pela
contribuição no exame de qualificação.
À Volkswagen do Brasil, pela bolsa de estudo concedida, e a todos os seus colaboradores que,
direta ou indiretamente, contribuíram para a conclusão deste estudo.
Ao meu amigo, e também mestre por esta instituição, Claudio Colturato, pelo enorme
incentivo inicial e pelas incontáveis vezes em que trocamos ideias.
Ao Cássio R. C. Santos, que muito em breve também será mestre, pelo companheirismo e
incentivo.
Muito obrigado!
“Enquanto eu tiver perguntas e não houver
resposta, continuarei a escrever.”
Clarice Lispector
RESUMO
The increasing of misuse and criminal of accounting technology to deceive the public
inrelation to the book value of an organization demonstrates the importance of knowledge and
understanding of the determinants factors of ethical behavior of accountans, since, by
providing essential information of the organizations values, accounting plays an important
role to society. The aim of this study was to determine the influence of individual and
organizational factors and the caracteristics associated with ethical dilemmas in ethical
decision making of Brazilian accountants. The factors analyzed were gender, age, religion,
ethical ideology, corporate ethical values and moral intensity of ethical issues. The sample
was composed of 129 Brazilian accountants who responded to a questionnaire containing 40
questions, including two scenarios that were analyzed by the respondens; the statistical tool
used for data analysis was a multiple linear regression. The results suggest that only the moral
intensity of ethical issues is statistically significant predictor of the Brazilian accountant’s
ethical decision process. In one of the scenarios used, the level of relativism was also
statistically significant, however, for the entire sample randomly split into two groups with
equal participants number, this statistical sifnificance was not confirmed, preventing
validation of this variable as a significant predictor of ethical judgement of Brazilian
accountants. In summary, based on the results, it is considered that the most significant
predictor of ethical judgment of Brazilian accountants is associated with the ethical issue itself
and not to the individuals or organizations factos. The findings of this study contribute to
organizations and financial entities to target their efforts in pursuit of an integrated
professional class with professionals who perform their activities in an ethical and transparent
posture.
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 17
Nardi e Nakao (2009, p. 78) destacam que os motivos para a prática de gerenciamento
de resultados nas empresas são diversos, incluindo a motivação para atender às restrições
contratuais de empréstimos ou, até mesmo, atos oportunistas individuais dos gestores e
administradores a fim de atingirem seus interesses pessoais, tais como metas de desempenho,
em detrimento da geração de riqueza para os acionistas, tornando tal prática ilegal e antiética.
Logo, essa flexibilidade das práticas contábeis pode induzir à prática de fraudes por
gestores, contadores e administradores empresariais, beneficiando apenas um grupo
desonesto, enquanto a maioria da sociedade paga alto por este processo (SÁ; HOOG, 2010, p.
3). Tem-se, assim, o uso típico do gerenciamento de resultados de forma fraudulenta e dolosa,
que caracteriza a falta de ética por parte dos agentes morais responsáveis por tais práticas.
Sá e Hoog (2010) sustentam que a tecnologia contábil tem sido utilizada de modo
inadequado e criminoso para iludir a opinião de terceiros e isto acontece, principalmente, pela
depravação dos costumes que alcançaram níveis alarmantes. Logo, fraudar “tem sido um
negócio proveitoso para os que possuem poder de decisão e comando, mal que tem
contaminado, inclusive, as camadas inferiores das administrações” (SÁ; HOOG, 2010, p. 14).
Assim, considerando que as ações e decisões tomadas pelos profissionais de uma
organização podem ter em seus efeitos um longo alcance (ROBERTSON et al., 2002, p. 327),
principalmente através do advento da globalização econômica e da origem do capital
investido nas organizações, como já descrito anteriormente, a dimensão ética no processo
decisório empresarial tornou-se de grande importância para a sociedade. Robertson et al.
(2002), por exemplo, consideram que a dimensão ética do processo decisório empresarial é,
atualmente, uma das grandes preocupações para gestores, políticos, pesquisadores e para toda
a sociedade.
Neste contexto, a ética do profissional da contabilidade torna-se ainda mais relevante.
Como enfatiza Kraemer (2001, p. 33), em relação à profissão contábil, trata-se de “uma
função nobre e de alta responsabilidade, onde os deslizes cometidos, por negligência, dolo ou
má fé, podem induzir a erros de apreciação, de decisão consciente e precisa”.
Por serem profissionais que apresentam relevância para a sociedade, visto que as
informações por eles geradas impactam a economia e a sociedade, espera-se que os
profissionais da Contabilidade adotem uma postura ética e transparente, servindo, inclusive,
de exemplo para a própria sociedade.
De fato, Kraemer (2001) defende que todos os profissionais de uma sociedade são
elementos de referência para ela, carregando a obrigação de influenciar positivamente o meio
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em que atuam, devendo agir com integridade, objetividade e independência de critério, bem
como desempenhar suas atividades com competência, diligência e discrição.
Contudo, diversas situações derivadas de fraudes e atitudes desonestas resultantes de
dolo ou má fé e que envolvem as práticas contábeis podem ser observadas nos escândalos
protagonizados por grandes corporações no período compreendido entre o final do século XX
e o início do século XXI (MEGLIORINI et al., 2008, p. 3). Neste sentido, e, a fim de evitar
novos escândalos, tais como os casos que envolveram as empresas Enron e WorldCom, nos
Estados Unidos e apresentaram grande repercussão mundial, governos e entidades de classes
buscaram criar medidas para protejer a sociedade dos maus profissionais.
Cita-se, como exemplo, o desenvolvimento da lei Sarbanes-Oxley (2002), nos Estados
Unidos, a qual foi legalmente requerida para empresas com ações em bolsa de valores daquele
país. Esta lei determina a divulgação de informações a respeito da existência (ou não) de um
código de ética a ser adotado por seus executivos, obrigando-os a acatar e praticar suas
determinações, caso este código exista (ALVES et al., 2007, p. 59).
No Brasil, registra-se a inexistência de normas que obriguem a constituição de um
código de ética nas empresas, todavia, conforme pontuam Alves et al. (2007, p. 59), a
atividade profissional na Contabilidade é regida por um Código de Ética Profissional
emanado do órgão de classe – o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), em que os
conselhos regionais de contabilidade têm a função de proteger, por assim dizer, a sociedade
através da fiscalização, dentre outras medidas.
Diversos estudos demonstram que a sociedade brasileira possui características e
valores culturais que tornam a discussão da conduta ética e do processo decisório ético ainda
mais importante. Uma destas características é o alto nível de corrupção no Brasil, percepção
esta compartilhada inclusive por indivíduos que vivem fora do país, conforme se pode
observar nos resultados da pesquisa realizada por Melgar, Rossi e Smith (2010).
O referido estudo teve como amostra aproximadamente 45.000 indivíduos de
diferentes países e identificou ser o Brasil o país que carrega a percepção dos mais altos níveis
de corrupção entre os mais de 35 países relevantes para economia mundial.
Como agravante, o país é marcado pelo forte sentimento de impunidade, fazendo com
que tal corrupção seja vista como um comportamento natural e necessário para os indivíduos
conseguirem auferir as benesses do Estado. Mesmo o Brasil vivenciando um grande avanço
na gestão pública nos últimos anos, tal aprimoramento na gestão pública não foi
acompanhado pela diminuição da percepção dos níveis de corrupção (FILGUEIRAS;
ARANHA, 2011, p. 349).
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Outros estudos que focam a cultura e os valores dos indivíduos brasileiros também
apontam outras características típicas, tais como: personalismo, protecionismo, orientação
para o curto prazo, aversão à incerteza e o famoso “jeitinho brasileiro”. Alguns indicadores
demonstram as seguintes características dos brasileiros: favoritismo, paternalismo, ênfase nas
relações pessoais, apropriação do público pelo privado, igualdade moral e não jurídica e
transferência de responsabilidade (OLIVEIRA e MACHADO-DA-SILVA, 2001;
SHIMONISHI e MACHADO-DA-SILVA, 2003).
Quanto ao “jeitinho brasileiro”, já mencionado, Motta e Alcadipani (1999, p. 8)
realçam que este é o genuíno processo brasileiro de uma pessoa atingir objetivos a despeito de
determinações (leis, normas, regras, ordens, etc.) contrárias. Os autores argumentam que “no
Brasil, os interesses pessoais são tidos como mais importantes do que os conjuntos da
sociedade, ocasionando falta de coesão na vida social brasileira” (MOTTA; ALCADIPANI,
1999, p. 7).
Neste aspecto, o CFC e os Conselhos Regionais de Contabilidade têm atuado a
respeito dos princípios e normas contábeis de natureza técnica e profissional, além de
procurarem buscar a qualificação da classe contábil por meio do Exame de Suficiência
(BRASIL, 2011) para que se evitem comportamentos inadequados.
Entretanto, estas ações, por si só, são insuficientes para garantir que os profissionais da
contabilidade ajam com independência e integridade (MARQUES e AZEVEDO-PEREIRA,
2009, p. 229), vez que o modo como os profissionais se comportam, quando se defrontam
com as questões éticas, muda de indivíduo para indivíduo (FORSYTH, 1980; 1992).
Assim, considerando que o processo decisório ético é moderado por diferentes fatores,
como será exposto mais adiante neste estudo, e que as pessoas julgam e se comportam de
modo diferente perante as situações éticas (FORSYTH, 1980; 1992), o aprofundamento do
conhecimento e entendimento desses fatores moderadores do processo de decisão ético e
preditores da conduta ética dos profissionais da Contabilidade são de grande valia para a
sociedade, visto que podem contribuir para o fortalecimento dos fundamentos éticos de uma
profissão.
Kraemer, já em 2001, apontava a necessidade de fomentar uma profissão, no caso, a
profissão contábil, da qual se possa ter orgulho, com consciência tranquila, vez que a
participação do profissional colabora com o equilíbrio social (KRAEMER, 2001, p. 34),
sustentando que uma profissão baseada em fundamentos éticos colabora para um país com
mais prosperidade e menos corrupção, auxiliando na construção de um país ético e
moralmente respeitado.
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seja, o comportamento dos profissionais de uma entidade pode variar de acordo com a sua
filosofia moral.
Diante do exposto, entende-se que os estudos dos fatores que são moderadores do
julgamento ético e, consequentemente, do processo decisório ético são de grande importância
para as organizações e para a sociedade, principalmente no caso brasileiro, na qual impera um
sentimento de impunidade que faz com que a corrupção, em muitos casos, seja vista como um
comportamento natural (FILGUEIRAS; ARANHA; 2011, p. 349).
(1991) como um construto composto por seis elementos e denominado “intensidade moral”,
abordado no item 2.2.1.2.2.
Portanto, considerando os possíveis fatores moderadores da conduta ética e do
processo decisório ético suscintamente descritos e nos quais o julgamento ético está inserido,
apresenta-se a seguinte questão de pesquisa: A ideologia ética, a intensidade moral das
questões éticas e as características pessoais e organizacionais podem ser consideradas
fatores direcionadores significantes do julgamento ético dos profissionais da
Contabilidade no Brasil?
Examinar quais das características pessoais adotadas neste estudo (idade, sexo e
religiosidade) influenciam significativamente o julgamento ético dos profissionais da
Contabilidade;
Verificar como a ideologia ética pode atuar significantemente na predição do julgamento
ético dos profissionais da Contabilidade;
Conhecer a significância da influência da intensidade moral percebida no julgamento
ético dos profissionais da Contabilidade;
Identificar qual é a influência dos valores éticos corporativos no julgamento ético dos
profissionais da Contabilidade.
...se apresentam nas relações efetivas, reais, entre indivíduos ou quando se julgam
certas decisões e ações dos mesmos. Trata-se, por sua vez, de problemas cuja
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solução não concerne somente à pessoa que o propõe, mas também a outra, ou
outras pessoas, que sofrerão as consequências da sua decisão e da sua ação.
O conceito de moral pode ser visto, portanto, como regra de conduta, em que os
indivíduos tomam decisões e realizam certos atos para resolver problemas existentes em suas
relações mútuas, bem como julgam e avaliam, de uma ou de outra maneira, estas decisões
(VÁZQUEZ, 2007, p. 17).
Stukart (2003) pontua que a moral é o relato da própria realização do comportamento
humano, englobando aspectos como liberdade, consciência, o bem e o mal e outros problemas
gerais e fundamentais. Portanto, a moral está associada a regras de conduta.
Cabe ressaltar que, apesar desta distinção entre o conceito de moral, enquanto regra de
conduta, e o conceito da ética, enquanto ramo do conhecimento, comumente as palavras
“moral” e “ética” são empregadas como sinônimas, e as pessoas utilizam a palavra ética para
criticar o comportamento e a atitude dos indivíduos (LA TAILLE, 2010, p. 108).
De fato, Alves (2005, p. 17) menciona que os conceitos da ética e da moral se
diferenciam, quando a ética é vista como ramo do conhecimento e a moral como regra de
conduta, mas, quando associados a costumes, tais conceitos normalmente se assemelham.
Portanto, “a moral, como sinônimo de ética, pode ser conceituada como o conjunto
das normas que, em determinado meio, granjeiam a aprovação para o comportamento dos
homens” (LISBOA, 1997, p. 24).
Vázquez (2007, p. 37), apesar de definir a moral como um conjunto de normas e
regras destinadas a regular as relações dos indivíduos, também a associa indiretamente aos
costumes, vez que, para o autor, “[...] seu significado, função e validade não podem deixar de
variar historicamente nas diferentes sociedades [...]”.
Associar a ética como sinônimo de moral nada mais é do que reconhecer a ética como
uma filosofia prática cujo conteúdo, segundo Freitas et al. (2011), é o agir humano, sem
restringir a amplitude das discussões que a contempla. Nessa perspectiva, a origem da ética
pode estar na religião, na reciprocidade ou na intuição.
De fato, Stukart (2003, p. 15) considera que são três as possíveis origens da ética: (1)
na religião, vez que todas as religiões, desde aquelas que seguem Jesus Cristo, Moisés, Buda,
Maomé, Confúcio, entre outras, pregam um código de ética prescrito por Deus; (2) na
reciprocidade, em que algumas teorias atribuem o nascimento da ética, assim como da
linguagem, às necessidades de se regular a vida em comum e; (3) na intuição, já que achamos
intuitivamente que, geralmente baseado nas leis naturais, sabemos o que é certo, honroso,
bom ou mau.
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Fato é que, enquanto filosofia prática, a ética atual foi influenciada pelo pensamento
de vários filósofos e pensadores cristãos, dos quais, cronologicamente, Stukart (2003, p. 31 a
42) descreve:
Sócrates (470-399 a.C.): considerava que a sabedoria era uma virtude e o mal, a
ignorância. Pregou que não se deve lesar ninguém, manter as promessas, alicerçar a
conduta moral na plena consciência responsável e respeitar os pais e os mestres. Para
Sócrates, o homem age certo quando conhece o bem e, aspirando ao bem, sente-se feliz.
Não deixou livros e todos os seus diálogos foram eternizados por seu aluno Platão.
Aristóteles (384-322 a.C.): aluno de Platão e o primeiro a criar uma profunda lógica e
uma sistemática ética orientada para a razão; diferentemente de Platão, orientada para o
bem. Criou o silogismo, que é o conjunto de três preposições nas quais a terceira é uma
conclusão verdadeira desde que a primeira e a segunda também o sejam. Exemplificando:
(1) Ricardo é um jogador de futebol. (2) Todos os jogadores de futebol são seres humanos.
(3) Logo, Ricardo é um ser humano. Para Aristóteles, a essência da ética é ficar na média
áurea, isto é, sem excessos e sem deficiências. Todavia, a média áurea não se aplica ao que
é negativo, como a alegria maliciosa, a falta de vergonha, inveja, ou no caso de ações como
adultério, roubo e assassinato. Considerava que o bem absoluto é a felicidade e não o
prazer e nem a riqueza.
homem precisa aceitar o seu destino. Fez duas exigências sociais: justiça e amor ao
próximo, incluindo escravos e bárbaros.
Santo Agostinho (354-430): pensador cristão que estudou os filósofos gregos, a fé cristã e
a religião dos persas. Achava que a existência humana pende para o mal, mas que o
homem sempre procura o bem. Sua ética é a do amor, do seguimento de Cristo com
contemplação e oração. Para ele, Deus é a unidade absoluta, a verdade que tudo envolve, o
Ser supremo, o Supremo Bem.
São Tomás de Aquino (1225-1274): segundo Stukart (2003, p. 40) foi, talvez, o maior
filósofo da Idade Média, ensinando em Nápoles, Paris e Roma. Suas virtudes eram
similares às defendidas por Platão: sabedoria, coragem, moderação e justiça. Ele unificou o
conhecimento e a fé, considerando que a razão e a fé são compatíveis. Acreditava que são
necessárias três coisas para a salvação do homem: saber em quem acreditar, saber o que
desejar e saber o que fazer. A filosofia de São Tomás constitui o sistema oficial da Igreja
Católica e, para ele, Deus é eterno, imóvel, simples, uno, infinito, perfeito, inteligente, com
vontade, incorruptível, imutável e verdadeiro.
John Stuart Mill (1806-1873): acreditava que a ética deveria se harmonizar com a
liberdade de cada um. Para ele, a influência que as ações exercem sobre a felicidade é o
que constitui o princípio fundamental da moral e da responsabilidade ética.
Jean Paul Sartre (1905-1980): ateísta e principal escritor existencialista, que tentou
inculcar nos homens um novo humanismo, sem Deus. Defendeu que a humanidade está
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livre e só pode decidir livremente, sendo a liberdade a única fonte de valor, e cada um deve
criar livremente as suas normas de comportamento. Preconizou o individualismo radical e
as doutrinas libertárias.
Alguns filósofos marcaram a filosofia do século XX, como Bergson, Croce, Sartre,
Foucault, entre outros. Entretanto, segundo Stukart (2003), não existe um compêndio que
reúna a ética atual, como ocorreu na Antiguidade, em que a metafísica forneceu boa base para
a ética; na Idade Média, cuja base foi a teologia; e na Modernidade, com a teoria da cognição.
Assim, os filósofos contemporâneos empíricos julgam que se pode reconhecer o bem
através da experiência; os racionalistas acreditam que a prova está na razão; os intuitivistas
pensam que o homem tem uma consciência; os deterministas dizem que a liberdade é uma
ilusão; os pragmáticos querem resultados práticos e os utilitaristas avaliam a utilizada da ação
(STUKART, 2003, p. 42).
Percebe-se, portanto, que, em relação à sua conceituação, a definição da ética e da
moral podem se assemelhar quando a ética apresenta aspecto filosófico, ou mesmo se
diferenciar quando a ética é vista pelo aspecto de ramo do conhecimento. Contudo, Alves
(2005, p. 17) ressalta que ambos os conceitos de ética e moral são amplamente utilizados em
estudos científicos nas ciências sociais, quer se assemelhando quando se referem aos
costumes, quer se diferenciando quando a ética é vista como ciência e a moral como regra de
conduta.
(FORSYTH, 1980; BARNETT et al., 1998) e, conforme pontuam Barnett et al. (1998, p.
716), isto enfatiza o papel das diferenças individuais no processo decisório ético dos
indivíduos.
Neste sentido, Trevino (1986, p. 601) ressalta que a compreensão do processo de
tomada de decisão ética nas organizações é muito importante para a ciência organizacional.
Neste ambiente, as questões éticas estão sempre presentes, e os interesses e valores se
apresentam em constante conflito, visto que as decisões tomadas produzem consequências
sociais e afetam a vida e o bem-estar dos outros (TREVINO, 1986, p. 155).
Uma das principais teorias sobre o processo decisório ético é o modelo proposto por
James Rest, o qual define que os indivíduos utilizam um raciocínio ético na tomada de
decisão ética. O raciocínio ético conceituado por James Rest (1986) é um conjunto de reações
cognitivas compostas por quatro elementos: reconhecimento da questão ética, julgamento
ético, intenção ética e, por fim, o comportamento do indivíduo (JONES, 1991; VALENTINE,
BATEMAN, 2011).
Alves et al. (2007, p.60) mencionam que o processo de tomada de decisão ética
corresponde a um processo que abrange a identificação de um problema ético e que engloba a
análise de alternativas e a escolha daquela que maximizará os valores morais do indivíduo,
permitindo, simultaneamente, alcançar determinado objetivo estipulado.
O raciocínio ético conceituado por James Rest (1986) é um dos principais modelos do
processo decisório ético nas organizações; entretanto, existem diversos modelos de tomada de
decisão ética que foram desenvolvidos para o entendimento de tal processo.
Todos estes modelos envolvem, em algum momento, o julgamento ético dos
indivíduos e consideram diversos fatores associados a eles, ou às situações, como fatores
influentes e moderadores do processo decisório ético e, consequentemente, do julgamento
ético.
Assim, na sequência, apresentam-se alguns fatores associados aos indivíduos ou às
situações que envolvem as questões éticas e que são avaliados e considerados nos diversos
modelos do processo decisório ético em pesquisas que envolvem o tema.
2.2.1.1.1 Idade
33
2.2.1.1.3 Religiosidade
influencia indiretamente o julgamento ético através da sua associação com a ideologia ética,
em que um acentuado comprometimento com a religião indica, também, um forte
comprometimento com os princípios morais universais. Oumlil e Balloun (2009, p. 468)
encontraram suporte para a afirmação de que a religiosidade está positivamente relacionada
com o idealismo, mas não encontraram suporte para o fato de a religiosidade estar
negativamente associada ao relativismo, conforme Barnett et al. (1996).
Por fim, vale mencionar que a religiosidade foi avaliada nesta pesquisa para identificar
qual é a influência desta variável no julgamento ético dos profissionais da Contabilidade.
Loe et al. (2000) consideram que, juntamente com a idade e o sexo, outro fator muito
estudado na pesquisa sobre ética é a filosofia moral que, de um modo geral, são as crenças e
valores pessoais dos indivíduos.
Shafer et al. (2001, p. 255) pontuam que os valores pessoais podem influenciar no
processo de tomada de decisão, vez que os indivíduos, ao tomarem suas decisões, recorrem a
seus princípios éticos e/ou às regras que conduzem suas ações e que são utilizados para
justificar seus atos.
Ferrell et al. (2001, p. 50) afirmam que os indivíduos, quando se defrontam com
questões e dilemas éticos, necessitam avaliar a moralidade das opções existentes quanto aos
princípios e valores adotados como norma de vida. Logo, os princípios éticos do indivíduo,
juntamente com as regras impostas pela sociedade, interferem no processo decisório ético das
pessoas.
Os princípios éticos, segundo Comparato (2006, p. 500), são:
“... normas que nos obrigam a agir em função do valor do bem visado pela nossa
ação, ou do objetivo final que dá sentido à vida humana; e não um interesse
puramente subjetivo, que não compartilhamos com a comunidade. Esse valor
objetivo deve ser considerado em todas as suas dimensões: no indivíduo, no grupo
ou classe social, no povo, ou na própria humanidade.”
Quanto às regras, Ferrell et al. (1989, p. 56) consideram que elas são utilizadas na
tomada de decisão ética e são determinadas por diferentes modos, constituindo-se como um
importante construto no processo de decisão ética.
As regras, em uma perspectiva técnica, dizem respeito aos meios aptos para se
conseguir determinados resultados desejados pelo agente e que podem ser, objetivamente,
38
bons ou maus para os outros indivíduos ou para a coletividade, conforme sustenta Comparato
(2006, p. 500):
pessoais, sendo que a integridade, no sentido de um compromisso firme para com seus
princípios, é extremamente valiosa e uma qualidade de definição da própria identidade
(SCHLENKER, 2008, p. 1079).
Já os expedientes ideológicos, para Schlenker (2008, p. 1080), envolvem as ideias de
que os princípios podem e devem ser adaptados ao contexto. É importante aproveitar as
oportunidades e é tolice deixar de fazer algo, pois tais desvios dos princípios éticos
geralmente podem ser justificados. Não quer dizer que os indivíduos não tenham princípios,
mas algumas pessoas endossam maior flexibilidade e adaptabilidade ao valor ético.
Entre todos estes conceitos apresentados sobre a ideologia ética e a filosofia moral,
destaca-se também a abordagem proposta por Forsyth (1980; 1992). O referido autor propõe
uma teoria de posição ética fundamentada em trabalhos dos psicólogos Kohlberg e Piaget.
Desta forma, assume que as ações e avaliações morais são expressões externas no indivíduo
de um sistema conceitual integrado da ética pessoal, também denominada Posição Ética
Pessoal (FORSYTH, 1980; 1982; FORSYTH e O’BOYLE Jr., 2011).
Para Forsyth (1980; 1992), as diferenças individuais que compõem a ideologia ética
podem ser interpretadas em duas dimensões: o relativismo e o idealismo. Sobral (2009, p. 13)
considera que o modelo de Forsyth (1980) propõe a interpretação destas duas perspectivas,
idealismo e relativismo, em termos psicológicos, associando o relativismo à deontologia e o
idealismo à teleontologia.
Cabe ressaltar que aqueles que defendem a Teleontologia acreditam que a moralidade
de uma ação se baseia em suas consequências, enquanto que aqueles que adotam uma
perspectiva deontológica rejeitam a consideração das consequências para julgar a moralidade
das ações (FERREL et al., 2001, p. 53; BARNETT et al., 1994, p. 471; SOBRAL, 2009, p.
13).
Assim, o relativismo diz respeito à forma como as pessoas interpretam a importância
das regras morais universais na definição da conduta certa ou errada (SOBRAL, 2009, p. 12).
Logo, a primeira dimensão de ideologia ética proposta por Forsyth (1980) é a extensão em
que os indivíduos rejeitam as regras universais da moral em favor do relativismo, em que
algumas pessoas rejeitam a possibilidade de formular ou depender de regras universais,
quando tiram conclusões sobre questões morais, enquanto outros acreditam e fazem uso da
moral absoluta ao fazer julgamentos (FORSYTH, 1980, p. 175).
Forsyth e Pope (1984, p. 1365) realçam, também, que as pessoas com alto nível de
relativismo pessoal em suas perspectivas morais acreditam que, ao fazerem juízo moral, os
princípios universais da moral possuem pouco valor. Estes indivíduos, ainda segundo Forsyth
41
(1992, p. 462), defendem uma filosofia moral baseada no ceticismo, tendo como princípio que
suas ações dependem da natureza da situação em que cada indivíduo está envolvido e, quando
julgam os outros, eles pesam mais as circunstâncias do que os princípios éticos que foram
violados.
Em relação àqueles que possuem baixo nível de relativismo, estes sublinham o uso e a
importância dos princípios fundamentais, argumentando que a moralidade requerida de uma
ação deve ser consistente com princípios morais, normas e leis (FORSYTH e POPE, p. 1365;
FORSYTH, 1992, p. 462).
O idealismo é o oposto do relativismo, assumindo que as boas consequências
desejáveis em uma ação sempre podem ser obtidas, revelando uma preocupação com o bem-
estar dos outros e da coletividade (FORSYTH, 1980; SOBRAL, 2009).
Pessoas altamente idealistas sentem que sempre é possível evitar prejuízos a outrem,
preferindo não escolher entre o menor de dois males que levará consequências negativas aos
outros. Em contraste, pessoas menos idealistas não dão ênfase a ideais, e assumem que, às
vezes, é necessário prejudicar alguém para se produzir boas coisas (FORSYTH, 1992, p. 462).
Assim, Forsyth e Pope (1984, p. 1365) consideram que as pessoas com um menor nível de
idealismo assumem que as más consequências podem, por vezes, ser misturadas com as boas
consequências.
O modelo proposto por Forsyth (1980; 1992) assume que os indivíduos são orientados,
simultaneamente, às regras ou às consequências em níveis altos ou baixos. Através desta
premissa, o modelo proposto pelo autor possibilita a classificação dos indivíduos em quatro
orientações morais, de acordo com o nível de relativismo e idealismo pessoal, conforme
demonstra o Quadro 1.
positivas para benefício de todos os envolvidos. No situacionismo, uma ação deve gerar
resultados positivos para um grande número de pessoas, associando-se ao utilitarismo
proposto na Teleologia (FORSYTH, 1980, 1992).
Os absolutistas, por sua vez, também são idealistas, aprovando as ações que produzam
consequências positivas e um mínimo de consequências negativas. Entretanto, ao contrário
dos situacionistas, pensam que suas ações devam ser consistentes com os princípios e regras
morais (FORSYTH e POPE, 1984, p. 1366). Em suma, os absolutistas condenam certas ações
que prejudicam outras pessoas e que violam os fundamentos absolutos da moral (FORSYTH,
1992, p. 463).
Já os subjetivistas, assim como os situacionistas, são céticos aos princípios morais.
Todavia, diferem dos situacionistas por acreditarem ser, em muitos casos, impossível evitar
resultados negativos em suas ações para todos os indivíduos (FORSYTH, 1980; 1992;
FORSYTH e POPE, 1984). O subjetivismo se associa à filosofia moral egoísta e,
consequentemente, à teleontologia, vez que suas ações são descritas como subjetivas, seus
julgamentos morais não são baseados em princípios morais absolutos, e suas ações não visam
beneficiar outras pessoas (FORSYTH, 1992, p. 463).
Por fim, os excepcionistas concordam com a apreciação dos absolutistas em relação às
certezas morais. Entretanto, eles não são idealistas, defendem a posição de que nem sempre o
dano a outrem pode ser evitado e de que pessoas inocentes podem ser protegidas (Idem, 1992,
p. 463).
O Quadro 2 apresenta, de forma resumida, o perfil ético de cada tipologia da ideologia
ética individual:
43
Forsyth (1992, p. 464) pontua que a identificação da ideologia ética pode ser útil e se
torna mais clara no ambiente empresarial. Neste aspecto, Forsyth (1980, p. 177) desenvolveu
um questionário denominado Ethics Position Questionnaire (EPQ), o qual apresenta alta
consistência e possui estabilidade ao longo do tempo.
Portanto, o EPQ tem por finalidade avaliar a filosofia moral dos indivíduos,
solicitando-lhes indicar o grau de aceitação a uma série de itens que varia em termos do
relativismo e idealismo; sendo, portanto, composto de duas escalas, uma para mensurar o
relativismo e outra para mensurar o idealismo (FORSYTH, 1992).
O questionário proposto por Forsyth (1980; 1992) apresenta aos respondentes uma
série de vinte demonstrações de atitudes, dez relativas ao idealismo e dez ao relativismo, em
que os respondentes são solicitados a indicar seu grau de concordância ou discordância para
cada item. Finalmente, a média dos escores para estas respostas são consideradas para avaliar
o nível de idealismo e relativismo de cada respondente, classificando-os em níveis alto ou
baixo, para cada uma destas duas dimensões da ideologia ética (FORSYTH, 1980).
Como apresentado no Quadro 2, a associação dos diferentes níveis de idealismo e
relativismo possibilita a classificação dos indivíduos dentre cada uma das quatro categorias da
ideologia ética proposta por Forsyth (1980; 1992).
A maioria dos estudos que avalia a ideologia ética adota o questionário no formato
proposto por Forsyth (1980; 1992), com todos os vinte itens, que demonstram diferentes
atitudes. Entretanto, alguns estudos utilizam adaptações do EPQ, considerando uma
44
Os fatores situacionais, como o próprio nome diz, são fatores associados às situações
que envolvem os dilemas morais e as questões éticas, sejam estas situações específicas,
organizacionais, ou mesmo variáveis do ambiente em geral. Ford e Richardson (1994, p. 212)
consideram que tal categoria é formada pelas forças que representam pressões que encorajam
ou desencorajam as decisões éticas.
Para Alves (2005, p. 39-40), os fatores situacionais:
“... representam forças que gerem pressões nos indivíduos e que são capazes de
incentivá-los, de encorajá-los ou não, à prática moral. Estão incluídas nessa
categoria, as culturas organizacionais, as influências do grupo de trabalho, ou os
valores sociais. Esses fatores compreendem a influência da alta direção,
recompensas e punições, e o Código de Ética.”
Trevino (1986, p. 610) pontua que muitas das ações morais acontecem em um
contexto social e podem ser influenciadas fortemente pelas variáveis situacionais. Neste
aspecto, as características do trabalho influenciam o desenvolvimento moral dos indivíduos,
sendo a cultura organizacional um fator influente no processo decisório ético.
Trevino, Butterfield e McCabe (1998, p. 447) consideram que os fatores situacionais,
a partir de uma perspectiva prática, desempenham papel importante porque os gestores de
uma organização possuem maior controle sobre o ambiente de trabalho do que sobre os
valores dos indivíduos ou do desenvolvimento moral.
47
Como será abordado no item 2.2.2 do presente estudo, existem diversos modelos que
buscam descrever o processo decisório ético e que consideram os fatores situacionais,
ilustrados, principalmente, por meio das características organizacionais, tais como os sistemas
de recompensa, as regras e códigos de conduta profissionais e empresariais, como fatores
determinantes do processo decisório ético.
Logo, os fatores situacionais, assim como os individuais, também interferem no
processo decisório ético dos profissionais da Contabilidade, sendo, igualmente, parte do
cenário em que o profissional da Contabilidade decide o curso de decisões no campo moral
(ALVES, 2005, p. 40).
A seguir, são apresentados alguns fatores situacionais relacionados ao cotidiano
empresarial e que são investigados na literatura acadêmica como possíveis preditores do
processo decisório ético dos indivíduos.
Karande, Rao e Singhapakdi (2002, p. 778) consideram que muitos autores, tais como
Ford e Richardson (1994), acreditam que, em adição aos padrões éticos do indivíduo, o
comportamento ético é afetado pelas pressões organizacionais.
Com a crescente preocupação do público em geral sobre a ética nos negócios, diversas
organizações começaram a institucionalizar um padrão de comportamento ético de seus
colaboradores a fim de controlar este assunto (VITELL e HIDALGO, 2006, p. 31;
GELLERMAN, 1989; MURPHY, 1989).
Valentine et al. (2011a, p. 356) enfatizam que estudos empíricos suportam a noção de
que os valores éticos criam um grande senso da ética nas organizações. Neste sentido, o
ambiente organizacional, em que os valores éticos corporativos estão inseridos, é reconhecido
como um fator importante do comportamento (SINGHAPAKDI et al, 2008, p. 890).
De fato, o ambiente organizacional desempenha um importante papel na formação de
atitudes, sugerindo que os valores éticos são componentes-chave deste ambiente, impactando,
inclusive, a satisfação da carreira dos funcionários quando devidamente gerenciadas
(Valentine et al., 2011b, p. 511). Os autores argumentam, também, que as atitudes dos
empregados no local de trabalho são fatores importantes da organização, devendo as empresas
dedicar tempo e recursos para a sua gestão (VALENTINE et al, 2011b, p. 511). Tal afirmação
48
demonstra a importância dos gestores para a criação e disseminação dos valores corporativos
nas empresas.
Logo, as organizações, a fim de reduzir a conduta antiética, devem possuir líderes que
encoragem o comportamento ético, bem como sistemas de recompensas para condutas éticas e
sistemas disciplinares para a conduta antiética, além de um código de ética consistente com
normas e um foco na estrita obediência da autoridade e à aderência às leis e aos padrões
profissionais, quando aplicável (TREVINO et al., 1998, p. 471).
DeConinck e Lewis (1997, p. 497) consideram que os resultados de diversos estudos
confirmam que o comportamento dos gestores influencia o comportamento de seus
subordinados, demonstrando a importância dos gestores para a disseminação dos valores de
uma organização.
A junção do comportamento dos gestores na organização e as políticas organizacionais
formam os valores éticos corporativos. De fato, Hunt et al. (1989, p. 79) salientam que os
valores éticos corporativos constituem um construto formado a partir da composição dos
valores éticos individuais dos gestores com as políticas de uma organização, sejam estas
políticas formais ou informais. Para os autores, os valores éticos corporativos auxiliam as
organizações a estabelecer e manter um padrão que delimite as coisas certas a serem feitas,
das coisas que valem a pena fazer (Idem, 1989, p. 80).
Os valores de uma organização são considerados altamente influentes no
direcionamento das ações dos indivíduos, servindo para transmitir um senso do sistema
organizacional, a fim de dirigir a atenção dos gestores para questões importantes, para orientar
as decisões dos gestores, além de facilitar o comprometimento com algo maior do que o
próprio interesse de seus colaboradores (HUNT et al., 1989, p. 80).
Os autores argumentam, entretanto, que os valores éticos corporativos sustentam todos
os demais valores de uma organização. E, segundo Karande et al. (2002, p. 778), refletem o
entendimento sobre o comportamento adequado e sobre o modo de tratamento das questões
éticas no ambiente organizacional.
Diversos estudos têm observado os efeitos dos valores éticos corporativos na ética dos
indivíduos e no processo decisório ético nas organizações. Hunt et al. (1989) sustentam que as
organizações que apresentam altos níveis de valores éticos corporativos possuem
colaboradores com maior nível de comprometimento, identificando uma relação positiva entre
valores éticos corporativos e comprometimento.
Karande et al. (2002) identificaram uma relação positiva entre os valores éticos
corporativos e idealismo, e uma relação negativa entre os valores éticos corporativos e
49
relativismo. Fernando et al. (2008) também encontraram suporte para a relação negativa entre
os valores éticos corporativos e o relativismo, mas não constataram associação entre
idealismo e valores éticos corporativos.
Marta, Singhapakdi e Higgs-Kleyn (2001) constataram que a percepção de um
problema ético e o relativismo são preditores significantes da intenção ética, enquanto que o
idealismo e os valores éticos corporativos não são significantes. Conforme os próprios autores
pontuam (2001, p. 755), os resultados a respeito do idealismo estão de acordo com resultados
de outros estudos, entretanto, os valores éticos corporativos são, ao contrário dos achados no
estudo, usualmente preditores significantes.
Assim, o presente estudo adota o questionário proposto por Hunt et al. (1989, p. 84)
para identificar os valores éticos corporativos, buscando identificar se a variável “Valores
Éticos Corporativos” constitui um possível preditor do processo decisório ético dos
profissionais da Contabilidade.
envolva a venda de produtos perigosos à sociedade, colocando, por exemplo, a vida de seus
consumidores em risco.
Alves (2005, p. 66), expondo os impactos das características da questão moral no
processo decisório ético, menciona que Jones afirma:
“... o processo ético de tomada de decisão é incerto, eventual, pois depende das
próprias características da questão moral em si, denominada, em conjunto,
intensidade moral. Essas características são relevantes para se determinar o processo
ético de tomada decisão e o comportamento do indivíduo. Daí a denominação
original issue-contingent utilizada por Jones. Essas características são representadas
por variáveis independentes que afetam os quatro estágios do processo de decisão
ética”.
Consenso social: o consenso social de uma questão moral é definido por Jones (1991, p.
375) como o nível de concordância social de que um determinado ato é bom ou ruim. Como
exemplo, Jones cita que o mal causado pela discriminação de minorias, candidatos a um
determinado trabalho, possui maior consenso social que o mal causado por recusar a agir
51
Probabilidade dos efeitos: a probabilidade dos efeitos de um ato moral é uma função
conjunta da probabilidade de que o ato em questão realmente irá tomar lugar e dos benefícios
ou malefícios que tal ato irá causar (JONES, 1991, p. 375). Alves (2005, p. 69), descrevendo
os elementos da intensidade moral proposta por Jones, pontua que a intensidade de uma
questão moral aumentará, ou diminuirá, dependendo dos malefícios ou benefícios que o
indivíduo imagina serem prováveis de ocorrer. Como exemplo, Jones (1991) cita que produzir
um veículo que poderá causar perigo para os ocupantes durante uma manobra de rotina
possuirá maior probabilidade de danos do que produzir um veículo, que colocará em risco os
ocupantes somente durante uma colisão traseira.
Jones incluiu a probabilidade dos efeitos no construto da intensidade moral por razões
lógicas. Segundo o autor (1991, p. 375), o valor esperado, por exemplo, de um ganho
financeiro é um produto da magnitude do ganho e a sua probabilidade de ocorrência.
Similarmente, a expectativa das consequências de um ato moral pode ser um produto da
magnitude das consequências, da probabilidade que este ato tomará lugar e da possibilidade
de se predizer que tal ato causará prejuízo ou benefício a alguém.
Concentração dos efeitos: a concentração dos efeitos de um ato moral é uma função
inversa ao número de pessoas afetadas por um ato de dada magnitude. Por exemplo, uma
mudança em uma política de garantia que prejudica a cobertura de 10 pessoas com
reclamações de R$ 10.000, possui maior concentração dos efeitos do que uma mudança que
prejudique a cobertura de 10.000 pessoas com reclamações de R$ 10,00. Outro exemplo dado
pelo autor (JONES, 1991, p. 377), refere-se ao fato de que roubar determinado valor de um
indivíduo ou de um pequeno grupo possui maior concentração dos efeitos do que roubar o
mesmo valor de uma entidade, tal como uma empresa ou uma agência governamental. Este
componente do construto intensidade moral foi incluso por Jones principalmente por razões
intuitivas. Para o autor, pessoas que possuem um senso de suma importância de justiça para
com os indivíduos irão reprovar e odiar atos imorais que resultam em alta concentração de
efeitos (JONES, 1991, p. 378).
intensidade moral e seus componentes, enquanto outros têm explorado apenas a percepção da
intensidade moral nas questões éticas (ALLEYNE et al., 2006, p. 5).
Alleyne et al. (2006, p. 5) argumentam que o estudo de Singhapakdi et al. (1996), um
dos estudos mais citados quando se estuda a intensidade moral, encontrou significância
estatística para a relação de todos os seis componentes da intensidade moral com a percepção
ética e com a intenção ética nos profissionais de Marketing.
De fato, o estudo de Singhapakdi et al. (1996, p. 251), que explorou o impacto da
intensidade moral na percepção de um problema ético na tomada de decisão dos profissionais
de marketing, bem como em suas intenções, encontrou suporte para a influência dos seis
componentes da intensidade moral proposto no modelo de Jones (1991) na percepção da ética
e na intenção destes profissionais, demonstrando que o processo de tomada de decisão ética é
influenciado pelas características destas questões.
Os resultados obtidos por Singhapakdi et al. (1996) deram suporte para a segregação
destes componentes em duas dimensões. A primeira dimensão, denominada “percepção do
potencial de prejuízos ou benefícios” é composta pela magnitude das consequências,
probabilidade dos efeitos, proximidade temporal e concentração dos efeitos. A segunda
dimensão, por sua vez, consiste no consenso social e na proximidade dos efeitos, denominada
de “pressão social percebida”.
Em resumo, pode-se verificar que os resultados dos estudos que investigaram o
construto intensidade moral são inconsistentes, tendo-se que nem todos os componentes são
significantes na percepção ética. Com exceção dos componentes “magnitude das
consequências” e do componente “consenso social”, que na maioria dos estudos se mostraram
determinantes do processo decisório, e da “proximidade”, em um menor grau de afirmação, os
elementos do construto intensidade apresentam resultados mistos e/ou contraditórios
(CARLSON et al., 2009; ALLEYNE et al., 2006, FREY, 2000).
Assim, com base na afirmação de Carlson et al. (2009), Alleyne et al. (2006) e Frey
(2000), neste estudo foram considerados apenas os componentes “magnitude das
consequências” e “consenso social” como elementos da variável intensidade moral.
obtidos também demonstram que nem todos os profissionais que concordam ser o código de
ética um guia importante de conduta ética estão dispostos a segui-lo.
Neste estudo, por se avaliar os efeitos dos valores éticos corporativos, que incluem as
políticas formais da organização, não foram investigados os efeitos da existência de um
código de ética diretamente no processo decisório ético dos indivíduos.
Muitos dos modelos teóricos sobre o processo de tomada de decisão ética incluem a
teoria do desenvolvimento moral cognitivo proposto por Kohlberg. O modelo de Kohlberg,
idealizado em 1969, enfatiza, a partir da pesquisa de Piaget, as bases cognitivas do julgamento
moral e de seus efeitos nas ações morais (ALVES, 2005, p. 42).
Ferrell et al. (1989, p. 57) mencionam que o modelo de Kohlberg discute o processo
de justificativa ética e a avaliação moral dos indivíduos dentro de uma organização. Para
Kohlberg, situações semelhantes que envolvem a ética irão produzir respostas diferentes dos
indivíduos, porque estes estão em diferentes estágios do seu desenvolvimento moral
(FERRELL et al., 1989, p. 57).
Kohlberg sustenta que a sequência de desenvolvimento pelo qual passam as pessoas é
invariante e universal. Ou seja, todos os indivíduos passam pela mesma sequência de estágios
de desenvolvimento moral, na mesma ordem e sequência, todavia, nem todos atingem os
estágios mais elevados (BIAGGIO, 2002, p. 23).
57
Jones (1991, p. 368) destaca que o modelo proposto por Rest é baseado em quatro
componentes do processo de decisão ética e do comportamento do indivíduo, que são: (1)
reconhecimento, (2) julgamento moral, (3) intenção moral, e (4) a ação de acordo com
padrões morais, ou o comportamento ético propriamente dito.
De fato, Thoma, Rest e Davison (1991, p. 659) frisam que o modelo de Rest sustenta
ser o comportamento moral o resultado de um processo de pelo menos quatro componentes:
2) Descobrir o que deve ser feito e formular um plano de ação que se aplique às normas
morais, tal como o julgamento de que uma ação é moralmente certa e as demais alternativas
são erradas, correspondendo ao componente julgamento moral;
Uysal (2010, p. 146) verificou que o estudo de Rest (1986) é o mais citado na pesquisa
sobre ética nos negócios com um foco contábil. Alves (2005, p. 43), por sua vez, sustenta que,
apesar da pesquisa feita por Rest ser aplicada em diversos projetos que envolvem o
desenvolvimento moral, no Brasil são escassos os estudos que utilizam o DIT nas áreas de
Contabilidade e Administração.
59
O modelo de tomada de decisão ética proposto por Trevino (1986, p. 602) também
considera que os indivíduos reagem a um dilema ético de acordo com o seu estágio de
desenvolvimento moral cognitivo, estágio este que determina como o indivíduo analisa um
dilema ético e que influencia na avaliação do que é certo ou errado. Entretanto, segundo
Trevino (1986, p. 602), a teoria do desenvolvimento moral cognitivo é insuficiente para
explicar ou predizer o comportamento humano durante o processo de tomada de decisão, vez
que, adicionalmente, variáveis individuais e situacionais interagem com os componentes
cognitivos para determinação de como será o provável comportamento de um indivíduo frente
a um dilema ético.
Assim, Trevino (1986) propõe um modelo interativo, tendo como premissa que as
bases cognitivas do julgamento moral propostas por Kohlberg são também moderadas por
fatores individuais e situacionais (TREVINO, 1986, p. 602).
Na visão de Trevino, os fatores individuais incluem os elementos: (1) “força interior”,
que é um construto relacionado com a força de convicção ou com a habilidade de
autocontrole; (2) “campo de dependência”, vez que os indivíduos tendem a utilizar referências
sociais externas para guiar o seu comportamento em situações éticas; e (3) “lócus de
controle”, que se refere à percepção do controle do indivíduo sobre os eventos de sua vida
(TREVINO, 1986, p. 609-610; ALVES, 2005, p. 57; JONES, 1991, p. 368).
Quanto aos fatores situacionais, estes incluem elementos imediatos do contexto e das
características do trabalho e elementos da cultura organizacional. Quanto à cultura
organizacional, esta pode ser definida como o conjunto de valores e crenças compartilhados
como premissa pelos membros da organização (TREVINO, 1986, p. 602; JONES, 1991, p
368).
A Figura 1, a seguir, apresenta o modelo interativo proposto por Trevino (1986), e
demonstra que o comportamento ético ou antiético é resultante do estágio cognitivo do
desenvolvimento moral, sendo também influenciado por moderadores individuais e
situacionais.
60
O modelo proposto por Ferrel e Gresham (1985) é apresentado pelos autores como um
modelo contingencial para entendimento do processo de tomada de decisão ética nos
profissionais de Marketing e busca esclarecer e sintetizar as múltiplas variáveis que explicam
a tomada de decisão ética ou antiética destes profissionais. Todavia, os autores também
consideram que o modelo por eles proposto é igualmente aplicável nas demais áreas
funcionais de uma organização, como no caso da Contabilidade (FERRELL; GRESHAM,
1985, p. 88).
Jones (1991, p. 368) pontua que, no modelo de Ferrell e Gresham, uma questão ou um
dilema ético surge a partir do ambiente cultural ou social, sendo que os fatores contingenciais
61
que afetam o processo de decisão podem ser individuais (conhecimento, valores, atitudes e
intenções) ou organizacionais (terceiros significativos e oportunidade).
Conforme realça Alves (2005, p. 48), o “construto Terceiros Significativos ressalta a
influência do grupo sobre os indivíduos”, vez que, segundo Ferrell e Gresham (1985, p. 90),
os valores, atitudes e normas não são aprendidos a partir da sociedade ou das organizações,
mas, sim, a partir do grupo de amizade do indivíduo.
Alves (2005, p. 48) exemplifica que, caso haja no ambiente de trabalho alguém com
comportamento antiético, então também existe uma tendência de que os tomadores de
decisões que se relacionam com esta pessoa sejam influenciados por sua conduta incorreta.
O construto “Oportunidade” do modelo de Ferrell e Gresham refere-se à existência ou
não de códigos profissionais de ética, de uma política corporativa e de prêmios e sanções
organizacionais para o comportamento de seus indivíduos (JONES, 1991, p. 368).
Por fim, Jones (1991, p. 368) destaca que a decisão emergente do processo proposto
por Ferrell e Gresham conduz primeiro ao comportamento e, posteriormente, à avaliação do
comportamento que, em troca, é o ponto de partida para uma a realimentação do processo de
avaliação do indivíduo e dos fatores organizacionais.
A Figura 2 apresenta o modelo proposto por Ferrell e Gresham (1985) e sugere que o
processo de tomada de decisão ética é influenciado pelos valores e pela intenção do indivíduo.
Destaca, ainda, que os códigos profissionais e as políticas organizacionais também impactam
no comportamento individual.
Além de considerar a influência dos fatores individuais e situacionais, inclusive da
pressão de terceiros sobre o processo de decisão ética, o modelo merece destaque por sugerir
que os resultados e consequências de determinada atitude acarreta em um aprendizado que
influenciará indiretamente na decisão ética, quando o indivíduo se defrontar com um novo
dilema moral.
62
As restrições situacionais são consideradas pelos autores como fatores que podem
resultar em um comportamento inconsistente com as intenções e com o julgamento ético do
indivíduo, dentre as quais os autores fazem menção da oportunidade de se adotar uma
determinada alternativa (HUNT; VITELL, 1986, p. 10). Neste aspecto, o conceito da
Oportunidade adotado no modelo é idêntico ao que consta no modelo de Ferrel e Gresham
(ALVES, 2005, p. 53).
Por fim, após a realização da ação, o indivíduo avaliará as consequências ocorridas
através da alternativa escolhida. Este é o principal aprendizado do modelo, vez que as
consequências de uma decisão ética resultam em um processo de aprendizagem e de
crescimento da experiência dos indivíduos (HUNT; VITELL, 1986, p. 10).
Em síntese, a Figura 3 apresenta o modelo proposto por Hunt e Vitell (1986) e
demonstra que, para os autores, o ambiente cultural e organizacional e as experiências
pessoais influenciam na percepção do problema ético, bem como na percepção das possíveis
alternativas para solução e suas prováveis consequências. E que, para realizar o julgamento de
qual alternativa deve ser seguida, os indivíduos realizam uma avaliação deontológica ou
teleológica, que influenciará na intenção e no comportamento ético.
“... o processo ético de tomada de decisão é incerto, eventual, pois depende das
próprias características da questão moral em si, denominada, em conjunto,
intensidade moral. Essas características são relevantes para se determinar o processo
ético de tomada decisão e o comportamento do indivíduo. Daí a denominação
original issue-contingent utilizada por Jones. Essas características são representadas
por variáveis independentes que afetam os quatro estágios do processo de decisão
ética”.
Entretanto, é possível verificar que o principal conceito inserido por Jones (1991) e
que estava ausente nos modelos anteriores (intensidade moral) apresenta relevância no
modelo, influenciando todos os componentes do raciocínio ético proposto por Rest (1986).
Jones (1991, p. 383) argumenta, por exemplo, que as questões com elevada intensidade moral,
por exemplo, são mais facilmente reconhecidas como dilemas morais, aumentando, inclusive,
a possibilidade de utilização do modelo sugerido.
Jones (1991, p. 384) faz menção de que evidências empíricas e apresentadas por
outros pesquisadores evidenciam a correlação entre a intensidade moral e os estágios do
desenvolvimento moral cognitivo, associados ao julgamento ético do indivíduo. Para o autor,
as questões que apresentam elevada intensidade moral alcançam os estágios mais elevados do
modelo proposto por Kohlberg, mas isto nem sempre ocorre nas questões com baixa
intensidade moral.
A intenção ética, que é o terceiro elemento do raciocío ético proposto por Rest (1986),
também é influenciada pela intensidade moral no modelo proposto por Jones. Segundo Jones
(1991), os componentes da intensidade moral, tais como a magnitude das consequências, o
consenso social e a proximidade do indivíduo com aqueles que serão afetados pelas
consequências das decisões tomadas influenciam na intenção ética das pessoas.
Por fim, Jones (1991, 389) considera que a intensidade moral influencia o
comportamento ético, que é o último elemento do raciocínio ético proposto por Rest (1986),
em que o comportamento ético será mais frequentemente observado, quando as questões de
alta intensidade moral estão envolvidas do que em relação àquelas com envolvência de menor
intensidade moral.
68
culturais e sociais (Ferrell e Gresham, 1985; Hunt e Vitell, 1986; Trevino, 1986; Ferrell et al.,
1989; Jones, 1991) e, também, as características da questão ética (Jones, 1991).
Logo, o modelo no qual este estudo se baseou incluiu fatores individuais, situacionais
e algumas características da questão ética, extraídos a partir dos modelos já expostos. Os
modelos de Trevino (1986) e Ferrell e Gresham (1985), por exemplo, consideram que os
fatores individuais, tais como o conhecimento, os valores e a força interior, são moderadores
do processo decisório ético.
Outros estudos avaliaram alguns fatores individuais como moderadores do
comportamento ético (DOUGLAS et al., 2001; SINGHAPAKDI et al., 1999; BARNETT et
al., 1998; BASS et al, 1998; MARQUES e AZEVEDO-PEREIRA, 2009; EMERSON e
CONROY, 2004). Portanto, o modelo adotado para esta pesquisa também considera os fatores
individuais como possíveis influentes do julgamento ético.
O modelo de Hunt e Vitell (1986) considera que o indivíduo, ao fazer o julgamento
moral, faz uso de uma avaliação moral das alternativas possíveis para um dilema moral, ou
seja, o modelo de Hunt e Vitell (1986) apresenta a filosofia moral como fator influente do
julgamento moral. Assim, o modelo utilizado para esta pesquisa também analisa a influência
da filosofia moral, no caso, através da perspectiva da posição ética proposta por Forsyth
(1980), em termos de idealismo e relativismo, no julgamento dos profissionais da
Contabilidade no Brasil.
Os modelos de Trevino (1986), de Ferrell e Gresham (1985) e de Jones (1991)
consideram que os fatores situacionais ou organizacionais influenciam o processo decisório
ético. Trevino (1986) considera como fatores situacionais o contexto imediato de trabalho, a
cultura organizacional e as características do trabalho, enquanto que Ferrell e Gresham (1985)
consideram os códigos profissionais, as políticas corporativas e os sistemas de recompensa e
punição como determinantes da tomada de decisão individual.
Assim, os fatores situacionais também são considerados no modelo pesquisado através
dos valores éticos corporativos, conforme proposição de Hunt et al., (1989). Cabe salientar
que diversos estudos avaliaram a influência dos valores éticos corporativos (VITELL et al.,
2010; FERNANDO et al., 2008; KARANDE et al., 2002).
Finalmente, o modelo de Jones considera que as características da questão moral
influenciam o processo decisório ético, entretanto, verifica-se o consenso sobre a influência
destes componentes em apenas dois elementos: a magnitude das consequências e o consenso
social (CARLSON et al., 2009; ALLEYNE et al., 2006; FREY, 2000).
70
Segundo Gil (1999, p. 42), pode-se definir pesquisa como o processo formal e
sistemático de desenvolvimento do método científico, cujo objetivo principal é descobrir
respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos.
Neste aspecto, este estudo tem por objetivo descrever e descobrir associações entre
múltiplas variáveis, caracterizando-se por ser um estudo descritivo. Gil (1999) confirma que
as pesquisas que visam descobrir a existência de associações entre variáveis e descrever as
características de determinada população (ou fenômeno) são descritivas.
Quanto ao método, adotou-se nesta pesquisa o método quantitativo, que representa, em
princípio, a intenção de garantir a precisão dos resultados, evitar distorções de análise e
interpretação, possibilitando, assim, uma margem de segurança quanto às inferências. Cabe
ressaltar que o método quantitativo é frequentemente utilizado em estudos descritivos, que
buscam descobrir e classificar a relação entre variáveis, bem como investigar a relação de
causalidade entre fenômenos (RICHARDSON, 2007, p. 70).
Quanto ao delineamento deste trabalho, trata-se de uma pesquisa do tipo levantamento
(surveys), que tem como característica a interrogação direta dos indivíduos, cujo
comportamento se deseja conhecer (GIL, 1999, p. 70). Segundo Gil (1999, 71), o
levantamento requer uma análise quantitativa de dados, justificando o método de pesquisa
utilizado.
Kerlinger (1979, p.38) define hipótese como “um enunciado conjetural das relações
entre duas ou mais variáveis” e pode ser considerada, segundo Richardson (2007, p. 27),
como uma resposta passível de ser testada e fundamentada para uma pergunta referente ao
fenômeno escolhido. Um aspecto extremamente importante da hipótese é a possibilidade
dessa ser rejeitada (RICHARDSON, 2007, p. 27).
Assim, algumas prováveis respostas relacionadas aos objetivos específicos deste
estudo (mencionados na Introdução) são apontadas como hipóteses de pesquisa, conforme
segue:
72
Objetivo específico 1: Examinar quais das características pessoais adotadas neste estudo
(idade, sexo e religiosidade) influenciam significativamente o julgamento ético dos
profissionais da Contabilidade.
Diversos pesquisadores avaliaram a influência dos fatores individuais sobre a ética dos
indivíduos no ambiente empresarial e, dentre estas características pessoais, a idade e o sexo
(gênero) são certamente as mais estudadas. Alguns dos resultados desses estudos apontaram
que a idade (LAM e SHIM, 2008; CONROY, EMERSON e PONS, 2010; CONROY e
EMERSON, 2004; ALVES, 2005; DAWSON, 1997) e o sexo (HASTINGS e FINEGAN,
2011; CONROY, EMERSON e PONS, 2010; CONROY e EMERSON, 2004; DAWSON,
1997) exercem influência sobre o padrão ético dos indivíduos.
Além dos fatores sexo e idade, outras variáveis individuais também são estudadas com
frequência em pesquisas que envolvem a ética no ambiente empresarial. Dentre elas, cita-se a
religiosidade (CONROY e EMERSON, 2004; RASHID e IBRAHIM, 2008; BARNETT,
BASS e BROW, 1996; VITELL e PAOLILLO, 2003). Os resultados obtidos nestes estudos
indicam que a religiosidade é, possivelmente, um fator determinante do processo decisório
ético dos indivíduos.
Portanto, com base no exposto, supõe-se que estas características pessoais
provavelmente influenciam no processo decisório ético dos profissionais da Contabilidade.
Logo, apresenta-se a seguinte hipótese:
Jones (1991) considera a intensidade moral das questões éticas como um conjunto de
elementos que influenciam diretamente o processo decisório ético. Para este autor, as questões
e dilemas éticos se apresentam com alta ou baixa intensidade moral e variam de questão para
questão. Aquelas que apresentam maior intensidade moral serão mais facilmente reconhecidas
como um dilema ético, influenciando, portanto, o processo decisório ético.
Logo, os indivíduos respondem a diferentes situações e questões éticas de acordo com
o nível de intensidade moral dessa questão; ou seja, as situações que possuem uma elevada
intensidade moral criam uma maior pressão para uma decisão ética (JONES, 1991; MARTA,
SINGHAPAKDI, 2005).
Todavia, conforme pontuam Carlson et al. (2009), Alleyne et al. (2006) e Frey (2000),
os resultados de diversos estudos sugerem que apenas os componentes “magnitude das
consequências” e “consenso social” são fatores significantes do processo decisório ético dos
indivíduos, enquanto que os demais elementos da intensidade moral possuem resultados
mistos e contraditórios.
Portanto, neste estudo foram considerados apenas os componentes “magnitude das
consequências” e “consenso social” para formação da intensidade moral. E supõe-se, por
hipótese, que:
79). Singhapakdi et al. (2000), por exemplo, observaram que os gestores que atuam em
organizações com maiores níveis de valores éticos corporativos possuem melhor intenção
ética do que aqueles que atuam em organizações com menores níveis de valores éticos
corporativos.
No entanto, a pesquisa de Singhapakdi et al. (2008) não encontrou suporte para a
afirmação de que os valores éticos corporativos influenciam no reconhecimento e na
percepção de uma questão ética. Todavia, os autores identificaram que tais valores possuem
forte relação com a percepção da importância da ética entre os gestores tailandeses.
Assim, considerando a afirmação de Hunt et al. (1989) de que os valores
organizacionais servem para orientar as decisões gerenciais em uma empresa de modo a
facilitar o comprometimento dos seus colaboradores para algo maior do que os seus próprios
interesses, e, ainda, nos resultados dos estudos de Kelley e Elm (2003) e Singapakdi et al.
(2002), neste estudo adota-se a seguinte hipótese em relação aos valores éticos corporativos:
quatro elementos: (1) reconhecimento ético, (2) julgamento ético, (3) intenção moral, e (4)
comportamento ético.
Diversos estudos foram realizados avaliando o efeito de diferentes fatores sobre estes
componentes do raciocínio ético proposto por Rest e incluso no modelo de Jones. No entanto,
o presente estudo possui o foco apenas no componente julgamento ético.
A escolha por se abordar somente esta variável deve-se, principalmente, à escassez de
estudos que avaliam o julgamento ético no âmbito contábil no Brasil (ALVES, 2005).
Portanto, a variável dependente deste estudo é o julgamento ético dos profissionais da
Contabilidade brasileiros, com a seguinde definição: O julgamento ético “corresponde à
avaliação moral que o indivíduo faz para estabelecer se determinada conduta é ética ou
antiética, a partir da sua percepção sobre a gravidade da falta” (ALVES, 2005, p. 132).
Assim, o julgamento ético neste estudo é caracterizado por ser uma variável
dependente e intervalar, mensurada por meio do nível de concordância dos respondentes à
afirmação de que a atitude do agente moral nos casos utilizados no questionário foi ética,
utilizando-se uma escala Likert de 07 pontos, sendo que, quanto menor for o escore apontado
pelo respondente para a questão, mais rigoroso é o seu julgamento ético.
Para efeito de análise do julgamento ético, o menor ponto da escala Likert adotada
representa a total discordância de que a ação praticada foi ética, enquanto o maior ponto da
escala representa a concordância plena de que a atitude do agente moral foi ética, ou seja,
quanto menor o escore apontado, mais rigoroso é o julgamento ético do respondente.
Logo, para facilitar a análise do julgamento ético, inverteram-se os escores das
questões que coletaram estes dados, considerando, assim, que quanto maior for o escore
invertido encontrado, mais rigoroso será o julgamento ético do respondente. A Figura 7
adiante demonstra os itens do questionário (apêndice A), que coletaram estes dados.
1. Idade: a variável idade é uma das características individuais mais estudadas nas
pesquisas que envolvem o processo decisório ético dos indivíduos. Neste estudo é
caracterizada como uma variável do tipo razão, em que os participantes da pesquisa
apontaram em campo específico a idade no momento de resposta do instrumento de coleta de
dados.
2. Sexo: assim como a idade, a variável sexo também é muito estudada em pesquisas sobre
o processo decisório ético e possui a característica de ser dicotômica e nominal, em que os
respondentes selecionaram o sexo, se masculino ou feminino.
Para manipulação da variável sexo, esta foi transformada em uma variável dummy, vez
que um dos requisitos da técnica de análise confirmatória adotada nesta pesquisa (regressão
linear) é a utilização somente de dados métricos. Assim, quanto à variável sexo, ela foi
dicotomizada de tal modo que os respondentes do sexo masculino receberam valor 1 (um) e
os respondentes do sexo feminino receberam valor 0 (zero).
A intensidade moral foi mensurada por meio do cálculo da média dos escores da
magnitude das consequências e do consenso social em cada cenário. Entretanto, ressalta-se
que os escores do componente magnitude das consequências foram invertidos para o cálculo
da média dos escores entre este componente e o consenso social para formação da variável
intensidade moral.
7. Valores éticos corporativos: conforme definição de Hunt et al. (1989), os valores éticos
corporativos constitui um construto formado a partir da composição dos valores éticos
individuais dos gestores com as políticas, formais ou informais, de uma organização. Sua
mensuração ocorreu pela média dos escores obtidos em cinco questões adaptadas do
questionário desenvolvido por Hunt et al. (1989) e que buscou identificar o nível pela qual as
organizações se interessam por assuntos associados à ética e na medida em que o
comportamento ético é recompensado nas organizações.
Estas cinco questões foram desenvolvidas por Hunt et al. (1989) com o intuito de
capturar três amplas dimensões: (1) a medida pela qual os empregados percebem que os
gestores estão agindo com ética em sua organização; (2) a medida através da qual os
empregados percebem que os gestores estão preocupados com as questões éticas em suas
organizações; e (3) a medida pela qual os empregados percebem que o comportamento ético
ou antiético é recompensado ou punido, respectivamente, em sua organização.
O questionário proposto por Hunt et al. (1989) é muito utilizado em pesquisas sobre os
valores éticos corporativos (VALENTINE et al. 2011; SINGHAPAKDI et al., 2008;
80
opinião sobre as variáveis nos casos utilizados, sendo esta metodologia adotada por
Singhapakdi et al. (1996; 1999).
Cabe ressaltar que ambos os casos expressavam atitudes em desacordo com o código
de ética dos profissionais da Contabilidade no Brasil, em que o profissional ilustrado nos
casos tenta iludir a boa-fé de clientes, empregadores ou de terceiros, alterando ou deturpando
o exato teor de decoumentos, fornecendo falsas informações e elaborando peças contábeis
inidôneas.
A Figura 7 demonstra uma síntese do modelo utilizado para pesquisa e das variáveis
estudadas com as respectivas questões utilizadas no questionário (apêndice A) para coleta dos
dados:
Os dados, primeiramente, foram tratados por meio de uma análise descritiva com o
objetivo de caracterizar a amostra quanto ao perfil dos respondentes, bem como das empresas
nas quais estes atuam, visando a uma maior compreensão do perfil dos profissionais da
Contabilidade que responderam ao questionário e para melhor análise dos valores éticos
corporativos. Posteriormente, foram aplicadas técnicas estatísticas de dependência para a
análise de dados.
Segundo Hair et al. (2005, p. 35) as técnicas de dependências são as mais adequadas
ao objetivo deste trabalho, visto que, segundo tais técnicas, uma variável ou conjunto de
variáveis é identificada como variável dependente a ser predita ou explicada por outras
variáveis, conhecidas como variáveis independentes.
Assim sendo, e considerando a relação de dependência existente entre as variáveis no
modelo proposto, a técnica estatística utilizada para análise e interpretação de dados neste
estudo foi a Regressão Linear Múltipla. De acordo com Corrar et al. (2012, p. 5), tal técnica
permite analisar a relação entre uma variável dependente e duas ou mais variáveis
independentes, com o objetivo de encontrar uma relação causal entre as variáveis dependentes
e independentes, além de estimar os valores da variável dependente a partir dos valores
conhecidos ou fixados das variáveis independentes.
Em relação à análise descritiva, esta foi utilizada para caracterização do perfil dos
respondentes e para cálculo dos valores que formaram algumas das variáveis independentes,
envolvendo a construção de tabelas de frequência e apuração da média aritmética não
ponderada, da moda, do desvio-padrão e dos valores máximo e mínimo, quando aplicáveis.
Um teste de confiabilidade para análise das escalas de mensuração das variáveis
independentes ‘idealismo’, ‘relativismo’ e ‘valores éticos corporativos’, e formadas a partir da
média de um conjunto de questões, também foi realizado. O teste de confiabilidade utilizado
foi o Alfa de Cronbach.
Hair et al. (2005, p.466) expõem que o Alfa de Cronbach é uma medida de
confiabilidade comumente usada para um conjunto de dois ou mais indicadores de construto,
e seus valores variam entre 0 e 1, com as medidas mais altas indicando maior confiabilidade
entre os indicadores.
De acordo com Freitas e Rodrigues (2005), não existe um consenso entre os
pesquisadores sobre a interpretação da confiabilidade de um questionário obtido a partir do
Alfa de Conbrach, mas os autores consideram que, geralmente, considera-se satisfatório um
86
instrumento de pesquisa que obtenha resultados iguais ou superiores a 0,7 (α ≥ 0,70). De fato,
Hair et al. (2005, p. 90) pontuam que os valores de 0,60 a 0,70 são considerados limites
inferiores de aceitabilidade.
Após a realização das etapas e dos testes descritos foi feita a análise confirmatória por
meio da regressão linear múltipla. Corrar et al. (2012, p. 134) consideram que o emprego da
regressão linear múltipla se dá quando existe no problema a ser pesquisado uma relação de
dependência, sendo esta linear.
A combinação linear destas variáveis independentes, quando usadas coletivamente
para prever a variável dependente, também é conhecida como equação ou modelo de
regressão, cujo modelo estatístico utilizado, conforme pontuam os autores (CORRAR et al.,
2012, p. 135), é dado por:
Em que:
Y é a variável dependente;
X1, X2 ... Xn são as variáveis independentes;
β0, β1, β2 ... βn são denominados parâmetros da regressão;
Corrar et al. (2012, p. 137) sustentam que, por pressuposto, “a equação que melhor se
ajusta aos dados é aquela para a qual a diferença entre os valores observados e os valores
estimados é menor, isto é, a de menor resíduo ponderado entre todas as observações reais e as
estimadas”.
Logo, o método de estimação de modelos mais comumente utilizado em regressão
linear é o Método dos Mínimos Quadrados, cujo objetivo é justamente obter a menor soma de
quadrados dos resíduos possível (CORRAR et al., 2012, p. 137). Tal método também foi
utilizado neste estudo.
O método utilizado para entrada das variáveis independentes no modelo foi o método
passo a passo (estimação stepwise), que é a abordagem mais comum na utilização da
regressão linear múltipla. Neste método, o processo é iniciado com a variável independente
que apresenta o maior coeficiente de correlação com a variável dependente; as próximas
87
variáveis a serem incluídas são selecionadas com base na sua contribuição incremental
(correlação parcial) à equação de regressão (CORRAR et al., 2012).
Quanto aos resultados da análise de regressão múltipla, estes são apresentados através
de vários indicadores. O coeficiente de determinação ou poder explicativo da regressão (R²)
representa o percentual de variação nos valores previstos para a variável dependente, que
podem ser explicados pelas variações nas variáveis independentes (CORRAR et al., 2012;
FIELD, 2009). Quanto maior o valor de R², maior é o poder de explicação da equação de
regressão e, consequentemente, melhor a previsão da variável dependente (HAIR et al., 2005,
p. 132). Todavia, Hair et al. (2005, p. 132) consideram que um indicador muito útil para
comparação de variáveis independentes e de amostras de diferentes tamanho é o coeficiente
ajustado de determinação (R² ajustado).
Corrar et al. (2012, p. 143) também consideram que o erro-padrão da estimativa é
outra medida de precisão da previsão e representa uma espécie de desvio-padrão da reta de
regressão, em que quanto menor for o erro-padrão da estimativa, melhor será o modelo
estimado.
Outra análise utilizada para verificar se o modelo é significativamente melhor do que a
utilização da média é o teste F-ANOVA, cuja finalidade é testar o efeito do conjunto de
variáveis independentes sobre a variável dependente. Consiste em se verificar a probabilidade
de que os parâmetros da regressão em conjunto sejam iguais a zero, não existindo, neste caso
uma relação estatística significativa (CORRAR et al., 2012, p. 143).
Testa-se, portanto, a hipótese nula de que a quantia de variação explicada pelo modelo
é maior do que a variação explicada pela média. Logo, a hipótese a ser testada é se H 0: R² = 0
e H1: R² > 0 e, para que o modelo de regressão proposto seja significativo, a hipótese nula
deve ser rejeitada. Ou seja, R² tem que ser significativamente maior que zero (p-valor ou Sig
menor do que o nível de significância adotado, que neste estudo foi de 5%) (CORRAR et al.,
2012, p. 143).
Por fim, Corrar et al. (2012, p. 144) consideram que, após obter os coeficientes do
modelo de regressão, deve-se testá-los isoladamente, utilizando, neste caso, a distribuição t de
Student, cuja finalidade é testar a significância dos coeficientes da regressão. As hipóteses a
serem testadas em cada coeficiente são: H0: βi = 0 e H1: βi ≠ 0 e, para verificar se os
coeficientes são significativamente diferentes de zero, compara-se o p-valor (sig) dos
coeficientes com o nível de significância adotado (α = 5%).
Como em outras técnicas de análise multivariada de dados, a aplicação apropriada da
análise de regressão linear múltipla também depende do cumprimento de um conjunto de
88
A amostra final deste estudo foi composta por 129 indivíduos que responderam ao
questionário. Em resumo, a amostra é representada, em sua maioria, por indivíduos do sexo
masculino, em idade entre 27 e 51 anos, apresentam algum tipo de pós-graduação, atuam em
cargos de gestão em alguma instituição privada de grande porte (com mais de 500
empregados) e possuem altos níveis de valores éticos corporativos, apesar de a maioria das
organizações aqui representadas não possuírem um código de ética formal.
Analisando-se isoladamente estas variáveis, é possível confirmar tais resultados. A
Figura 8, por exemplo, apresenta a taxa de frequência e a participação dos respondentes de
cada sexo na composição da amostra (em forma de gráfico), evidenciando que 66% dos
respondentes são do sexo masculino, correspondendo a 85 indivíduos de um total de 129
indivíduos. Logo, os respondentes do sexo feminino representam 34% da amostra, ou seja, 44
indivíduos do total de respondentes.
Segundo o Conselho Federal de Contabilidade (CFC, 2012), o total de profissionais da
Contabilidade com registros ativos no Brasil e do sexo masculino é de 59,1%, enquanto o
total de profissionais do sexo feminino que possuem registro ativo no Brasil é de 40,9%, o
que demonstra que a amostra utilizada não é muito desproporcional em relação ao total da
população.
idade média da amostra é de 38,93 anos, com um desvio-padrão de 11,6 anos. A idade dos
respondentes com maior frequência, ou seja, a moda, é a idade de 38 anos.
A Figura 9 apresenta o histograma com a frequência (em percentual) das idades
representadas na amostra e demonstra que tal amostra possui pouca concentração de jovens,
com idade inferior a 20 anos ou de pessoas acima de 60 anos.
A idade média dos respondentes deste estudo é próxima à idade média encontrada
entre os respondentes na amostra do estudo de Alves (2005, p. 153), que envolveu uma
amostra com maior expressividade com relação à quantidade de respondentes (2.141
respondentes, desconsiderando os faltantes). No estudo de Alves (2005), a idade dos
respondentes situa-se entre 30 a 50 anos, com idade média de 40,53 anos e desvio-padrão de
10,96.
Quanto à escolaridade dos respondentes, a amostra é formada por uma grande maioria
de profissionais que são mestres ou doutores (64 respondentes, ou 50% da amostra). Destaca-
se, todavia, que apenas três respondentes (ou 2% da amostra) possuem Ensino Médio ou
Técnico, conforme mostra a figura 10.
91
Figura 11: Análise exploratória dos fatores organizacionais – Cargo ou função desempenhada
A maior parte destas 119 empresas, que constituíram a amostra, possui capital privado
(102 empresas ou 86% da amostra), enquanto uma minoria possui capital misto ou capital
público (14%), conforme exibe a Figura 14.
Outra característica que merece destaque é o fato de a maioria dos respondentes atuar
em empresas de grande porte as quais, de acordo com o critério adotado pelo Serviço de
Apoio à Micro e Pequena Empresa (SEBRAE), possuem mais de 500 empregados. Na
amostra em estudo, tais empresas representam 44% do total ou 52 empresas, enquanto as
Microempresas, que possuem até 19 empregados, representam 31% do total ou 37 empresas
(Figura 15).
Outro aspecto que merece ser destacado é que, apesar de a maioria destas organizações
ser de grande porte, a maior parte das empresas que compõem a amostra não possui um
código de ética formal, visto que dos 119 profissionais, apenas 54 declararam que a empresa
onde atuam possui um código de ética formalizado, ou seja, 65 empresas (ou 55% da amostra)
não possuem um código de ética formal, conforme exibe a Figura 16.
95
Figura 16: Análise exploratória dos fatores organizacionais – Existência de um código de ética formal
Mesmo com a maioria dos respondentes assinalando que as empresas onde atuam não
possuem código de ética formal, os valores éticos corporativos, formados a partir da
composição dos valores éticos individuais dos gestores com as políticas formais ou informais
da organização, apresentaram níveis elevados, considerando uma dicotomização de sua
mensuração em níveis “alto” ou “baixo”.
Os resultados obtidos demonstram que a grande maioria das empresas, nas quais os
respondentes atuam, possui elevados índices de valores éticos corporativos, vez que os
resultados da amostra apresentaram um índice médio de 5,10 em uma escala de 07 pontos,
conforme demonstra a Figura 17, abaixo.
Em relação aos resultados obtidos, referentes aos Valores Éticos Corporativos, vale
mencionar que o valor do teste Alfa de Cronbach foi de α=0,717, conforme demonstrado na
Tabela 1. Freitas e Rodrigues (2005) destacam não existir um consenso entre os pesquisadores
96
Tabela 1: Confiabilidade do questionário adotado para a variável independente ‘Valores Éticos Corporativos’
Conforme já descrito, a orientação ética ou ideologia ética dos indivíduos pode ser
descrita em duas dimensões: idealismo e relativismo. Forsyth (1980; 1992) salienta que todos
os indivíduos possuem estas duas dimensões, diferenciando apenas os níveis de cada uma, que
podem ser dicotomizados nos níveis “alto” ou “baixo”.
A orientação ética de cada indivíduo foi avaliada para todos os elementos que
constituíram a amostra desta pesquisa. A confiabilidade do questionário foi considerada
adequada tanto para o idealismo como para o relativismo, conforme consideração de Freita e
Rodrigues (2005). O alfa de Cronbach para o idealismo foi de α ≥ 0,786, enquanto que este
índice foi de α≥0,723 para o relativismo (Tabelas 2 e 3).
Na prática, tal fato revela que os respondentes possuem grande preocupação com o
bem-estar dos outros indivíduos. Acreditam sempre ser possível evitar danos e prejuízos aos
outros quando fazem um julgamento moral, buscando uma ação que resulte nas melhores
consequências e, ainda, pensam que uma conduta moralmente correta é sempre consequência
de ideais humanitários (SOBRAL, 2009, p. 12; TANSEY et al., 1994, p. 60; FORSYTH,
1980, p. 176).
Quanto ao relativismo, a maioria dos profissionais que constituíram a amostra
demonstrou possuir um alto relativismo. O índice médio da amostra foi de 4,28, também em
uma escala de 07 (sete) pontos, entretanto, diferente do idealismo, parte da amostra possui um
baixo nível de relativismo, conforme pode ser observado na Figura 19.
O relativismo está associado à forma como as pessoas interpretam a importância de
regras morais universais na definição da conduta certa ou errada. Assim, como a maioria dos
profissionais possui um alto nível de relativismo, os dados coletados sugerem que eles, em
98
expressão agem de tal forma a serem consistentes com as regras morais buscando, todavia,
produzir as melhores consequências possíveis.
No caso exposto, ao formar provisão de serviços ainda não realizados para aproveitar
o bom resultado do exercício contábil e evitar que tais serviços não fossem realizados
posteriormente por restrição orçamentária, o contador ilude, ou tenta iludir, a boa-fé do
empregador, fornecendo falsas informações ou elaborando peças inidôneas, agindo em
desacordo ao código de ética profissional do contador.
O Código de Ética dos Profissionais da Contabilidade - CEPC, alterado pela resolução
1307/10 do Conselho Federal de Contabilidade, determina que estes profissionais devam agir
com zelo, diligência, honestidade e capacidade técnica, resguardando os interesses de seus
clientes e/ou empregadores, sem prejuízo da dignidade e independência profissional.
Muito embora a atitude do contador seja inapropriada e antiética segundo o CEPC, a
análise das respostas para tal cenário evidenciou que este caso exposto não foi reconhecido
como um dilema ético por uma grande parcela dos profissionais da amostra.
Cabe ressaltar que o objetivo do caso não era identificar se a ação do contador estava
em conformidade ou não com as regras e princípios contábeis, mas, sim, se o contador agiu
eticamente. Neste aspecto, 68 respondentes, ou 52,71% da amostra, identificaram que o caso
envolveu um dilema ou questão ética, enquanto 61 respondentes, ou 47,29% deles, não
consideraram o caso como uma questão ética.
100
Estes percentuais demonstram claramente que, apesar de não ser a maioria, uma
grande quantidade de respondentes não reconhece a questão como um dilema ético (Figura
20).
Quanto ao julgamento ético, foi solicitado aos respondentes que julgassem a atitude do
contator como ética ou antiética, considerando uma escala likert de sete pontos, na qual o
menor ponto da escala indica que o respondente discorda totalmente da afirmação de que a
atitude do contador foi ética, enquanto o maior ponto indica que o respondente concorda
totalmente com esta afirmação.
Logo, os menores escores na escala indicam que houve um julgamento ético mais
rigoroso por parte dos respondentes, enquanto os maiores escores indicam um julgamento
mais brando. Por isto, inverteram-se os escores da escala adotada acima de tal forma que os
resultados expressassem o rigor do julgamento ético. Ou seja, o menor ponto da escala passou
a representar um julgamento menos rigoroso, enquanto os maiores escores representam um
julgamento mais rigoroso.
Assim, a média dos escores do julgamento ético da amostra, na escala invertida,
apresentou valor igual a 3,99 e um desvio-padrão de 2,241. O resultado do desvio-padrão
demonstra que existe uma grande dispersão em relação à média, mesmo com valor da média
coincidindo com o ponto médio da escala. Este fato é evidenciado pela Figura 21, ao
101
demonstrar que poucos respondentes avaliaram a eticidade da ação praticada pelo contador no
ponto médio da escala utilizada.
Assim como para o julgamento ético, também foi utilizada uma escala likert de 07
(sete) pontos invertida para identificação da perspectiva dos respondentes sobre a magnitude
das consequências da ação exposta.
Questionou-se, portanto, se a magnitude das consequências da atitude do contador
resultaria em pequenas consequências para a sociedade.
Após a inversão dos escores, os resultados obtidos indicaram um valor médio de 3,8
com desvio-padrão de 2,13 e, assim como no reconhecimento ético e no julgamento ético,
também foi possível identificar a falta de um consenso sobre a magnitude das consequências
causadas pela ação do contador, exposta no cenário apresentado (Figura 22).
Todavia, apesar de o valor médio ser muito próximo ao escore médio da escala
utilizada (ponto 4), é possível afirmar que a maioria dos contadores participantes da pesquisa
considerou que a atitude do contador resultará em pequenas consequências para a sociedade
como um todo, vez que a mediana dos escores obtidos na amostra foi o escore 3, que está
abaixo do ponto médio da escala adotada.
102
igual à moda, que é exatamente o escore médio da escala. Ou seja, tanto a mediana quanto a
média estão posicionadas sobre o escore 4 da escala de sete pontos utilizada.
Cabe ressaltar, entretanto, que mesmo a moda e a mediana sendo iguais ao ponto
médio da escala utilizada, muitos respondentes apontaram a existência de um consenso social
de que a atitude do contador foi ética e moral, fato confirmado no valor médio de 3,53, como
já descrito.
Quanto ao julgamento ético da ação praticada pelo contador, a maior parte dos
profissionais da Contabilidade que constituem a amostra (moda) apontou que a ação praticada
pelo contador não é errada ou antiética. Todavia, não é possível determinar se a amostra julga
a ação do contador como ética ou antiética, vez que tanto a média como a mediana desta
variável resultou em valores muito próximos ao ponto médio da escala (4,0).
Logo, a intensidade moral deste segundo cenário, formada pela média dos elementos
já demonstrados, foi considerada de alto nível (Figura 29), resultando em um escore médio de
5,80, com um desvio-padrão de 1,444, sendo que a maioria dos profissionais assinalou os dois
componentes que a compõem (magnitude das consequências e consenso social) no escore
mais alto da escala.
Portanto, de modo geral, os profissionais que compuseram a amostra deste estudo
reconheceram que o cenário 02 envolve um dilema ético e consideraram que a ação tomada
pelo controller resultará em grandes danos para a sociedade, com elevada magnitude de
consequências, e que a maioria da sociedade considera a atitude do controller incorreta, ou
seja, a intensidade moral do caso exposto é alta.
108
Tabela 4: Variáveis inseridas no modelo de regressão múltipla pelo método Stepwise – Cenário 01
A Tabela 5 demonstra que o modelo final proposto pelo método utilizado, e que
considera as variáveis intensidade moral e relativismo como preditoras do julgamento ético
(modelo 2), é superior ao modelo que considera somente a intensidade moral como preditora
do julgamento ético (modelo 1), apresentando um maior coeficiente de determinação (R²) e
um menor erro-padrão da estimativa.
110
Todavia, para verificar corretamente se este número indica ausência de autocorrelação serial
dos resíduos é preciso compará-lo com determinandos valores tabelados1, considerando:
1
Valores encontrados em tabela disponível no endereço <http://www.stanford.edu/~clint/bench/dwcrit.htm>.
Acesso em: 08/09/2012.
112
Considerando que a soma total dos quadrados é o resíduo quadrado que ocorreria
utilizando apenas a média da variável dependente para predição (CORRAR et al., 2012, p.
167), a Tabela 6 confirma que ao considerarmos as variáveis independentes intensidade moral
e relativismo (modelo 2) o resíduo reduz para valores inferiores ao utilizado pela média dos
escores da variável dependente, demonstrando ser o modelo melhor preditor quando
comparado somente ao uso da média.
Têm-se, portanto, que o valor previsto para o escore da variável dependente, o
julgamento ético dos profissionais da Contabilidade, no cenário 01, considerando as variáveis
independentes ‘intensidade moral’ e ‘relativismo’, é resultante da seguinte equação de
regressão:
A normalidade dos resíduos também pode ser observada na Figura 31, vez que os
pontos da probabilidade observada estão próximos da probabilidade esperada.
Figura 31: Gráfico normal P-Plot da regressão do resíduo padronizado – Regressão Múltipla – Cenário 01
Um último teste para avaliação do comportamento dos resíduos, denominado por teste
Pesarán-Pesarán, foi realizado. Este teste examina se a variância dos resíduos mantém-se
constante em toda a dimensão das variáveis independente, buscando avaliar, portanto, a
existência de homocedasticidade nos resíduos. Sua forma implica regredir o quadrado dos
resíduos padronizados como função do quadrado dos valores estimados padronizados e as
hipóteses a serem testadas são (CORRAR et al., 2012, p. 193):
Tabela 12: Sumário dos dados para validação do modelo, considerando uma variável independente – Cenário 01
Do mesmo modo que para o primeiro cenário, o método de estimação do modelo foi o
método de entrada stepwise. Neste método, o critério para inclusão de variáveis no modelo
baseia-se na probabilidade F, cujos valores devem ser iguais ou menores que 0,05, enquanto
que para exclusão os valores da probabilidade F devem ser iguais ou maiores que 0,10.
Neste cenário, a variável independente denominada Valores Éticos Corporativos
também foi respondida somente por aqueles que atuam em alguma organização ou empresa,
fato que resultou em alguns dados faltantes (dez, no total). Para estes casos, os dados faltantes
foram substituídos automaticamente pelo software, utilizando a média dos valores
encontrados junto aos demais respondentes.
Diferente do cenário anterior, que resultou na inclusão de duas variáveis como
preditores significantes do julgamento ético, neste cenário o método utilizado resultou em um
único modelo de equação, considerando apenas uma variável independente como preditora do
julgamento ético para o cenário exposto. Logo, a regressão linear resultante pelo método
utilizado é uma regressão linear simples, com uma única variável independente.
A Tabela 13 apresenta a variável inserida no modelo de regressão linear simples e o
método utilizado para inclusão ou exclusão de variáveis no modelo.
Tabela 13: Variáveis inseridas no modelo de regressão pelo método Stepwise – Cenário 02
121
2
Valores encontrados em tabela disponível no endereço <http://www.stanford.edu/~clint/bench/dwcrit.htm>.
Acesso em: 08/09/2012.
122
Neste aspecto, a hipótese nula do modelo de regressão adotado é aceita, vez que o
valor de Sig. é menor que α = 0,05, resultando na consideração de que o coeficiente de
determinação é, significantemente, diferente de zero, ou seja, a variável estatística exerce
influência sobre a variável dependente (Tabela 15).
A soma dos quadrados dos resíduos demonstrados na mesma Tabela 15, também
evidencia que o resíduo do modelo de regressão é menor do que os resíduos resultantes no
caso de utilização da média dos escores do julgamento ético para a sua predição.
Cabe ressaltar que, por se tratar de uma regressão linear simples, que considerou
apenas uma variável independente como estatisticamente significante na predição da variável
dependente, não existe possibilidade de o modelo apresentar multicolinearidade. Todavia, o
valor do intercepto na equação (1,145) indica a existência de outras variáveis que influenciam
o julgamento ético dos profissionais da Contabilidade.
As demais variáveis que foram analisadas e excluídas do modelo de regressão são
apresentados na Tabela 17, juntamente com os coeficientes que as mesmas apresentariam,
caso fossem utilizadas no modelo de regressão, bem como o teste t correspondente a cada
uma dos coeficientes destas variáveis, cujo teste possui a hipótese nula de se igualar a zero
cada um dos coeficientes de correlação parcial.
Os resultados do teste t para estas variáveis demonstram que em todos os casos as
hipóteses nulas são verdadeiras, vez que o Sig. destas variáveis são maiores que o nível de
significância adotado (α = 0,05).
Figura 33: Gráfico normal P-Plot da regressão do resíduo padronizado – Regressão Linear – Cenário 02
125
Conforme apresentado no item 1.3, o objetivo geral deste estudo foi identificar a
influência das características pessoais e organizacionais no julgamento ético dos profissionais
da Contabilidade, bem como conhecer os impactos da ideologia ética e da intensidade moral
dos dilemas éticos neste processo.
A fim de se atingir este objetivo, foram apresentados quatro objetivos específicos que
resultaram em sete hipóteses de pesquisa. Na sequência, apresentam-se a análise das hipóteses
segregadas por objetivos específicos.
Por exemplo, o estudo realizado por Abdolmohammadi e Ariail (2009) não encontrou
suporte estatístico para a influência do sexo no raciocínio ético dos auditores contadores. Do
mesmo modo, Marques e Azevedo-Pereira (2009) constataram que a idade não é preditor
relevante no julgamento ético. Oumlil e Balloun (2009) também identificaram em seus
estudos que a religiosidade não é influente da intenção ética.
Lam e Shi (2009) concluíram que o efeito do gênero na atitude ética dos chineses não
é estatisticamente significante, todavia, no mesmo estudo os autores constataram que o sexo é
uma variável significante em Hong Kong e que a religiosidade desempenha importante papel
no processo decisório ético, afetando diretamente a atitude ética dos indivíduos.
Alleyne et al. (2006) verificaram que o sexo, a idade e a afiliação religiosa, bem como
o comprometimento, não impactam na percepção da intensidade moral dos estudantes de
contabilidade de Barbados. O estudo de Alves (2005), apesar de não ter como foco o processo
decisório ético, constatou junto aos contadores brasileiros que as variáveis individuais,
quando analisadas em conjunto, não são fatores preponderantes na pré-disposição dos
profissionais da Contabilidade em ter o código de ética desta classe profissional como guia de
conduta. O que, indiretamente, possibilita associar que os fatores individuais não influenciam
no processo decisório ético, fato este confirmado nesta pesquisa.
Objetivo específico 4: Por fim, o quarto e último objetivo específico deste estudo foi
identificar qual é a influência dos valores éticos corporativos no julgamento ético dos
131
não houve suporte estatístico para a afirmação de que estas influenciam significativamente o
julgamento ético dos profissionais brasileiros da Contabilidade.
Conclui-se, portanto, que o fator direcionador estatisticamente mais significante do
julgamento ético está associado à própria questão moral e não às características pessoais do
agente moral ou do ambiente empresarial, confirmando a proposição de Jones (1991). Atinge-
se, assim, o objetivo geral desta pesquisa e se responde à seguinte questão de pesquisa
proposta: A ideologia ética, a intensidade moral das questões ética e as características
pessoais e organizacionais podem ser consideradas fatores direcionadores significantes do
julgamento ético dos profissionais da Contabilidade no Brasil?
Cabe ressaltar que, apesar de o estudo focar o julgamento ético, um resultado marcante
do estudo foi o elevado índice de respondentes que não identificaram em um dos cenários um
dilema ético, demonstrando a necessidade de maior atenção para a inserção de uma agenda
ética nas organizações e instituições educacionais que possuem interesse contábil.
Este resultado é relevante para as entidades da classe profissional e para as entidades
empresariais porque, através dele, visualiza-se que, muito mais do que somente fiscalizar,
deve-se conscientizar os profissionais da Contabilidade sobre a intensidade moral das ações
praticadas por dolo ou má fé, auxiliando, inclusive, o reconhecimento das questões éticas no
ambiente contábil.
Logo, as entidades de classe e as organizações devem, necessariamente, possuir uma
agenda focada na ética e na criação de um sentimento ou consenso de quais práticas são
moralmente corretas, adequadas e transparentes, demonstrando a importância de se ter um
comportamento ético e de se reconhecer uma questão moral e ética, além da magnitude das
possíveis consequências que determinada pratica motivada por dolo ou má fé pode ocasionar
à sociedade.
As instituições de ensino que ministram cursos na área contábil, quer em níveis
técnicos, de graduação ou pós-graduação, devem inserir em suas grades curriculares temas
focados na ética profissional junto aos futuros profissionais da Contabilidade, a fim de que
estes reconheçam, sem nenhuma margem de dúvida, uma questão ética nas atividades e
funções profissionais e pessoais. É uma forma de deixar claro que os prejuízos causados por
atos antiéticos podem ter elevada magnitude em suas consequências, criando assim um senso
comum sobre o comportamento adequado a estes profissionais, não deixando dúvidas sobre a
eticidade de determinados comportamentos antiéticos.
Os resultados sugerem que as organizações empresariais, ao invés de associar o
comportamento antiético às características pessoais de seus colaboradores, tais como a idade,
134
Uma das limitações deste estudo é a não inclusão de outras variáveis preditores no
modelo estudado. Apesar de ser representativo, o modelo de regressão linear explicou 41,7%
em um cenário e 60,2% em outro. Ou seja, existem outras variáveis que influenciam o
julgamento ético e não foram estudadas.
Outra limitação a ser mencionada é o elevado nível de escolaridade da amostra,
mesmo considerando que diversas pesquisas afirmam que a escolaridade não é fator influente
do processo decisório ético. Os respondentes foram caracterizados por possuírem, em sua
135
maioria, algum curso de pós-graduação, representando 69% do total da amostra, fato que não
representa a realidade da população.
Ainda quanto à composição da amostra, outra limitação é o número total de
respondentes. Apesar dos testes estatísticos validarem a composição da amostra, é notório que
a quantidade de respondente é muito pequena em relação ao total da população, podendo esta
não representar adequadamente este total.
Por fim, a última limitação do estudo, que merece destaque, é a falta de um cenário
com baixa intensidade moral. Nos cenários utilizados, as respostas da amostra resultaram na
classificação de um cenário com alta intensidade moral e outro com intensidade moral
considerada próximo do ponto médio da escala adotada.
Assim, apesar de quando dicotomizado o cenário apresentar-se como de baixa
intensidade moral, deve-se levar em consideração a hipótese de que um cenário com
pouquíssima intensidade moral, talvez resulte na identificação de outras variáveis
significantes no julgamento ético.
Considera-se, ainda, a possibilidade de viéses de resposta pelos respondentes, vez que
o tema nem sempre é confortável para quem o responde.
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APÊNDICE A: Questionário para coleta de dados
Caro Contabilista,
Neste sentido, peço-lhes alguns minutos de sua atenção de forma a responder o questionário,
seguindo as orientações ao longo do texto.
Vale ressaltar que as informações obtidas serão tratadas estatisticamente e utilizadas apenas
para fins acadêmicos, assim como será mantida em sigilo a identidade dos respondentes.
01. Uma pessoa deve ter certeza de que suas ações nunca prejudicarão intencionalmente
os outros, mesmo que em pequeno grau.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
02. Qualquer atitude que gere riscos aos outros indivíduos nunca deve ser tolerada,
independente de quão pequenos estes riscos possam ser.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
03. Ações que apresentam um prejuízo potencial aos outros são sempre erradas,
independente dos benefícios a serem obtidos por essa ação.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
04. Nunca se deve prejudicar, física ou psicologicamente, outra pessoa.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 uma
05. Não se deve executar 3 4 ação5 6que,7 de algum modo, ameace a dignidade e o bem
estar de outra pessoa.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
06. Se uma ação pode causar dano ou prejuízo a um inocente, então esta ação não deve
ser executada.
148
27. Se o executante desta ação for amigo de alguma das vítimas da ação, então a ação é
errada.
Discordo totalmente Concordo totalmente
1 2 3 4 5 6 7
29. Sexo:
Masculino Feminino
30. Escolaridade:
Ensino Médio / Técnico
Nível Superior - Graduação
Especialização / MBA
Mestrado
Doutorado / Pós-doutorado
Para finalizar, serão apresentadas cinco afirmações. Indique o seu grau de concordância em
relação a elas, considerando 01 – discordo totalmente e 07 – concordo totalmente.
Encerramento
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