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A DESMORALIZAÇÃO DOS POBRES:

Pessoas privadas de seus direitos, onde a ética e a moral se perdem.

Maria de Fátima Sousa Coelho


Unidade Escolar Tomaz Francisco de Sousa
mariadefatimaqn@gmail.com

ILHA das Flores. Direção: Jorge Furtado. Porto Alegre: Casa de Cinema de Porto Alegre,
1989. Documentário. 1 vídeo (13 min.). Disponível em: https://youtu.be/LETSDS8qm9U.
Acesso em: 17 abr. 2022.

Apesar do nome, o curta-metragem retrata cenas em que nada são flores. A


ilha é um local de habitantes muito carentes e próximo ao depósito de lixo. O filme
acompanha desde o cultivo, comercialização e descarte de um tomate. Este que ao
ser considerado impróprio para consumo por uma dona de casa, é descartado na
cidade e levado para a comunidade, onde serve de alimento para os porcos, junto a
outros alimentos considerados impróprios pelas pessoas da cidade. Depois de
recolhido o que serve para os animais, os moradores tem acesso e direito a escolher
as sobras para o seu consumo.

As questões abordadas no filme estão voltadas para os conflitos sociais em que


a produção em demasia e o consumo excessivo acarretam em muito desperdício e
grande quantidade de lixo a ser descartado. Esse lixo é retirado das casas
diariamente, porém não quer dizer que ele deixou de existir. O descarte, muitas vezes,
é feito em locais impróprios como mostra o enredo e além de prejudicar no momento
do descarte, o tempo que a matéria leva para se decompor afeta o tempo todo a
qualidade de vida dos habitantes daquela comunidade, impedindo-os de compartilhar
momentos de lazer ou até mesmo apreciar a pureza do ar, simplesmente.

Outro conflito abordado pelo filme é o capitalismo e as suas consequências,


onde o dinheiro limita a qualidade de vida e a liberdade sonhada pelos moradores da
Ilha. A falta de oportunidades para adquirir emprego ou até mesmo benefícios que
ajudassem no sustento da família fazem com que as pessoas se obriguem a recolher
o lixo e escolher o que foi recusado para alimentar os animais. Faltam políticas
públicas para tirar os habitantes dessa situação, onde os governantes não buscam
melhorias e as condições de vida continuam dessa forma em todo o tempo, sem
avanços. A falta de dinheiro não permite que os habitantes possam comprar
alimentos, isso mostra o quanto a vida e a liberdade são tidas como objeto. O que
para muitos da alta classe social não é problema (o dinheiro), para outros, mesmo que
em pequena quantidade, traria benefícios e melhoria de vida.

A forma em que se associa o enredo à ética e a moral se dá exatamente pela


desigualdade social em que o descartável para uns, é “luxo” para outros. Essa
desigualdade permitida pelo capitalismo e os governos impede os cidadãos de serem
livres para agir conforme suas vontades e realizem seus sonhos.

As mulheres e as crianças do filme são tidas como inferiores aos porcos, pois
não possuem um dono. As famílias são obrigadas a conviver nessa situação pois não
têm dinheiro ou oportunidade para mudar de vida.

Todo o enredo é descrito com ironia do autor. Uma que está presente em todo
o filme que, segundo ele, é o que diferencia o ser humano dos animais, é o “seu
telencéfalo altamente desenvolvido e seu polegar opositor”. Seria da capacidade dos
homens promover melhorias para a sociedade, o que leva a pensar se a capacidade
de cada ser humano realmente está sendo utilizada com este intuito.

O filme é de caráter reflexivo, pois leva os seus espectadores a refletirem sobre


as questões globais, as causas e os efeitos de cada situação, como podem contribuir
para a mudança e o avanço da sociedade. A Filosofia dá o impulso para que seja
possível enxergar a realidade atrás de cada conceito dado pelo autor, mesmo que de
forma irônica.

A ética e a moral se perdem totalmente na vida desses pobres representados


em mínima quantidade no enredo, onde não são vistos como cidadãos com direitos
iguais, trazendo o questionamento dos propósitos da vida, por que muitos com pouco
e poucos com muito?

Portanto é possível afirmar o quanto o dinheiro influencia na qualidade de vida,


onde os governos dão importância àqueles que já estão em desenvolvimento social,
sem enxergar o mapa da fome. A exclusão da classe média baixa vem de muito tempo
e não se faz nada para mudar essa situação, como pode ser visto que não é muito
diferente a sustação atual dos moradores da Ilha das Flores e de tantas outras
comunidades carentes.

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