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ÍNDICE

Introdução ------------------------------------------------------------------------------------- 2
Objectivos do estudo------------------------------------------------------------------------ 2
Objectivos específicos----------------------------------------------------------------------- 3
Metodologia de trabalho-------------------------------------------------------------------- 3

Capítulo I Enquadramento da ilha de Santiago---------------------------------------- 4


1.1. Aspectos climatéricos----------------------------------------------------------------- 7
1.2. Aspectos geomorfológicos----------------------------------------------------------- 7
1.3. Aspectos geológicos------------------------------------------------------------------ 11
1.4. Sequência vulcano-estratigráfica--------------------------------------------------- 11
1.5. Aspectos hidrogeológicos------------------------------------------------------------ 13
1.6. Unidade hidrogeológicas------------------------------------------------------------- 16

Capítulo II Caracterização geral do concelho do Tarrafal--------------------------- 17


2.1. Localzação e divisão administrativa----------------------------------------------- 17
2.2. Aspectos climáticos------------------------------------------------------------------ 18
2.3. Aspectos geomorfológicos----------------------------------------------------------- 19
2.4. Aspectos geológicos------------------------------------------------------------------ 21
2.5. Aspectos hidrogeológicos------------------------------------------------------------ 22

Capítulo III A situação de exploração de georecursos na zona norte de Santiago ------- 24


3.1. Condições ambientais em Cabo Verde--------------------------------------------- 26
3.2. Identificação e caracterização dos geomorfismos--------------------------------- 27
3.3. Exploração dos georecursos--------------------------------------------------------- 28

Capítulo IV Exploração de georecursos em Tarrafal--------------------------------- 30


4.1. Piroclastos------------------------------------------------------------------------------ 30
4.2. Areia------------------------------------------------------------------------------------ 31
4.3. Brita------------------------------------------------------------------------------------- 33
4.4. Basalto---------------------------------------------------------------------------------- 34
4.5. Aspectos anbientais relacionados com as explorações--------------------------- 35

Capítulo V Impactes Ambientais----------------------------------------------------------- 37


5.1. Impactes nos Recursos Naturais----------------------------------------------------- 38
5.1.1. Vegetação------------------------------------------------------------------------ 38
5.1.2. Fauna----------------------------------------------------------------------------- 40
5.1.3. Solo------------------------------------------------------------------------------- 41
5.1.4. Água------------------------------------------------------------------------------ 42
5.1.5. Geomorfologia------------------------------------------------------------------ 43

Capítulo VI Alternativas para o abastecimento do mercado de construção------- 45


6.1. Estratégias de criação de alternativas de formação e valorização dos R.H.--- 46
6.2. Estratégias de implementação de madidas institucionais ----------------------- 47

Conclusões e recomendações------------------------------------------------------------------ 48
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Referências bibliográficas--------------------------------------------------------------------- 50
INTRODUÇÃO

O presente trabalho enquadra-se no âmbito do trabalho científico exigido pelo Instituto


Superior da Educação (ISE), para a obtenção do grau de Licenciatura em Geologia.
Com este trabalho pretendo alertar as autoridades competentes e a população em geram
sobre a forma desordenada que se está a fazer as explorações dos georecursos pondo em causa
o património geológico e a própria vida de quem executa essa tarefa.
A crescente procura de material de construção civil devido ao aumento demográfico, da
urbanização, da modernização e da emergência do sector turístico, tem provocado uma
intensa pressão sobre os georecursos da ilha de Santiago,nos últimos anos.
A exploração dos georecursos nem sempre é feita de forma mais criteriosa e racional, o
que põe em causa o desenvolvimento sustentável da ilha, sobretudo no que concerne à
preservação do património geológico, destruição do solo, da vegetação, dos habitats e da
paisagem, por vezes de forma irreversível.
Muitas vezes, devido ao não cumprimento das normas e exigências impostas pelos órgãos
competentes, durante as várias fases do processo de exploração, é frequente o domínio do
económico sobre o ecológico, ou do imediato sobre o sustentável, em vez de os conciliar na
perspectiva da sustentabilidade e, observando as regras de equilíbrio ambiental durante as
várias etapas de instalação, de exploração e de abandono.
Alguns casos vão ser debruçados ao longo deste trabalho, de acordo com as observações e o
diagnóstico constatado a partir dos trabalhos de campo, na zona norte da ilha de Santiago
onde fazem a exploração dos georecursos.

OBJECTIVOS DO ESTUDO

Este trabalho tem como objectivo principal o conhecimento da realidade ligada ao sector
de exploração e utilização dos georecursos, procurando identificar os pontos negativos desta
actividade, criando bases para que venha a constituir um elemento de apoio, com carácter
dinâmico, que ajuda a fundamentar tomadas de posição e/ou decisão por parte de entidades
públicas e privadas ligadas ao sector, ou outros com os quais este interfere, de acordo com as
medidas legislativas aplicáveis.
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OBJECTIVOS ESPECÍFICOS DO TRABALHO

• Analisar a problemática de extracção dos georecursos;


• Avaliar os impactes causados pela exploração de georecursos;
• Identificar as alternativas para minimizar as consequências negativas desta prática;

METODOLOGIA DE TRABALHO

Para atingir os objectivos propostos, na elaboração do documento, foi utilizada a


seguinte metodologia:

• Levantamento bibliográfico sobre a problemática da exploração de georecursos no


INGRH, INIDA, Câmara municipal, Direcção geral do Ambiente, Guardas marítimas,
Esquadra da Polícia e outros;
• Aulas de campo com o objectivo de observar o terreno e entrevistar apanhadores,
camionistas, empreiteiros e construtores;
• Visitas de terreno às diversas localidades donde se faze-se a exploração de georecursos
duma forma tradicional;
• Recolha de informações sobre a problemática e alternativa de solução;
• Levantamento das estratégias de exploração e abastecimentos alternativos, como
programas de luta contra a pobreza e promoção da qualidade de vida.
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CAPÍTULO I
ENQUADRAMENTO DA ILHA DE SANTIAGO

1.1. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA

A ilha de Santiago, como todas as ilhas do arquipélago de Cabo Verde, eleva-se de um


soco submarino em forma de ferradura, situado a uma profundidade de ordem dos 3.000
metros.
A ilha de Santiago fica situada na parte sul do arquipélago entre os paralelos 15º 20 e 14º
50 de latitude norte e os meridianos 23º 50 e 23º 20 de longitude oeste do meridiano de
Greenwich. Tem um comprimento máximo de 54,9 km entre a Ponta Moreia, a norte e a Ponta
Mulher Branca a sul, e a largura máxima de 29km entre a Ponta Janela a oeste, e a Ponta Praia
Baixo a leste.
A formação da ilha teria sido iniciada por uma actividade vulcânica submarina central,
mais tarde completada por uma rede fissural nos afloramentos.
A ilha é dominada por emissões de escoadas lávicas e de matérias piroclásticos (escórias,
bagacinas ou “lapilli” e cinzas) sub aéreas predominantemente basálticas.
Administrativamente a ilha é constituída por nove (9) conselhos e onze (11) freguesias.
O Concelho da Praia, sendo a maior localizada na parte sul, ocupa uma área de
96,8 km2 com a população de 97240 habitantes, distribuídos pelas freguesias da Nossa
Senhora da Graça. (INE, 2005)
O Concelho de São Domingos com uma área de 134,5km2 e uma população de 13.
305 habitantes divididos pelas freguesias de São Nicolau Tolentino e Nossa Senhora da luz.
(Censo 2000)
O Concelho de Santa Cruz , situada a leste da ilha, ocupa uma área de 109,8 km 2 e
uma população 32.965 habitantes repartidos pelas freguesias de Santiago Maior.(INE, 2005)
O Concelho de Santa Catarina, situada na parte central, apresenta uma área de 214,2
km2 e uma população de 49ooo habitantes, espalhados pelas freguesias de Santa Catarina.
(INE 2005)
O Concelho de Calheta São Miguel, Situado a nordeste da ilha, abrange uma área de
90,7km2 na qual reside uma população de 16.104 habitantes, distribuídos pelo São Miguel
Arcanjo.( Censo 2000)
O Conselho do Tarrafal, situada a Norte com uma área de 112,4km2 e a população de
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18.059 Habitantes, distribuídos pela freguesia de Santo Amaro de Abade. (Censo 2000). O
Concelho de Picos São Salvador do Mundo, situado na zona central da ilha, com uma área de
28,7 km2 e uma população de 9.172 habitantes, distribuídos pela freguesia de São Salvador do
Mundo (INE 2005).
O Concelho de São Lourenço dos Órgãos, situada na zona leste da ilha, com uma área
de 39,5 km2 uma população de 1.781 habitantes, distribuídos pela freguesia de São Lourenço
dos Órgãos (INE 2005)
O Concelho de Ribeira Grande, com uma área de 164, 4 km 2, situada na zona sul da
ilha, com uma população de 2983 habitantes distribuídos pelas freguesias de Santíssimo
Nome de Jesus e São João Baptista. ( INE 2005)

Quadro n.° l - Distribuição dos Concelhos e freguesias da Ilha de Santiago


Concelho Área Freguesia N° Populacional Total
Superficial
(km2)
6

Ambos os
Masculin Feminin
Sexos
o o

Tarrafal 112.4 Santo Amaro 17788 7904 9880 17788


Abade

Santa Catarina 214.2 Santa Catarina 40657 18415 22242 40657

São Salvador do 28.7 São Salvador do 9172 4148 5024 9172


Mundo Mundo

São Miguel 90.7 São Miguel 16104 7114 8990 16104


Arcanjo

Santa Cruz 109.8 São Tiago Maior 25184 11861 13325 25184

39.5 7781 3667 4114 7781


São Lourenço São Lourenço dos
dos Órgãos Órgãos

São Domingos 137.6 São Nicolau 8715 4187 4528 13305


Tolentíno

Nossa Senhora da 4590 2214 2376


Luz
Praia 96.8 Nossa Senhora da 97240 46567 50673 97240
Graça

Ribeira Grande 164.4 São João Baptista 4730 2169 2561 4730
Santíssimo Nome 2983 1447 1536 2983
de
Jesus

Fonte - Instituto Nacional de Estatística (2005).

1.2. ASPECTOS CLIMÁTICOS

O clima de Santiago tem as mesmas características que a do arquipélago de Cabo


Verde. È do tipo árido e semi-árido com uma temperatura média de 25ºC e irregularidade de
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precipitações.
O clima de Santiago apresenta duas estações distintas:
A estação das chuvas ou “ tempo das águas” que compreende os meses de Agosto a
Outubro, é a mais quente com chuvas irregulares e encontra-se ligada a deslocação da frente
de convergência inter-tropical.
 A estação seca ou “tempo das brisas” que vai de Dezembro a Junho, é mais fresca e
seca na qual predomina a acção dos ventos álisios de Nordeste.  Os meses de Julho e
Novembro são considerados de transição.
A precipitação concentra-se num curto intervalo de tempo na maioria das vezes muito
irregular ou nula, apesar da humidade relativa atingir valores elevados.
Esta irregularidade, a partir de 1968, com casos de nula precipitação por exemplo nos anos de
1972 e 1977.

A forma de relevo, muito montanhosa, influência bastante o clima. Pode-se definir


vários tipos de climas locais, devido a combinação do efeito da altitude com a da orientação
das massas do relevo em relação aos ventos dominantes. Aridez no litoral humidade e
vegetação nos pontos altos, precipitação na vertente oriental, escassez de humidade na
vertente ocidental.
Verifica-se que a medida que se caminha para o interior, o tipo árido do litoral passa
para semi-árido e semi-humido a húmido ( Ilídio do Amaral, Santiago da Cabo Verde, A terra
e os Homens).
O clima da ilha de Santiago de acordo com o trabalho de F. Reis Cunha, relativamente
ao regime térmico, divide-se em três grupos:
 Clima litoral, como o da Praia, Achada baleia, Tarrafal e São Tomé.
 Clima de altitude, como o do Pico de Antónia, Santa Catarina e Serra Malagueta .
 Clima de vertente, não exposta aos ventos alísios como Principal e Boa Entrada.
A temperatura é praticamente uniforme, com humidade relativa elevada, amplitudes
térmicas pequena, sendo as médias de 6 a 8 graus.
O relevo é um factor determinante, proporcionando o surgimento de microclimas em
determinados vales do interior, nomeadamente Órgãos, São Domingos, Picos e Principal.
Segundo estes parâmetros, distinguem-se as seguintes zonas climáticas:
 Zona árida, situada a uma altitude abaixo dos 100m e precipitações inferiores a
250mm.
 Zona semi-árido situada na faixa dos 100 aos 200 metros e precipitações que
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variam entre 250 a 400mm.


 Zonas húmidas, de altitude acima dos 500 metros e precipitações superiores a
500mm.
Essa precipitação varia conforme a exposição das vertentes em relação aos ventos alísios,
sendo maior nas vertentes e nas zonas altas ( Serra Malagueta e Picos de Antónia),
favorecendo a prática de agricultura de sequeiro, à margem das florestas.

1.3. ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS

De acordo com Manuel Monteiro Marques (1990), na ilha de Santiago da República de


Cabo Verde, consideram-se sete unidades geomorfológicos, nomeadamente:
• Achadas meridionais (I)
• Maciço montanhoso do Pico de Antónia (II)
• Planalto de Santa Catarina (III)
• Flanco oriental (IV)
• Flanco ocidental (V)
• Maciço montanhoso da Malagueta (VI)
• Tarrafal (VII)

A altitude média da ilha é de 278,5 m, sendo a altitude máxima de 1392 m (Pico de


Antónia).
A sul destaca-se uma série de achadas escalonadas entre o nível do mar e 300 a 500 m de
altitude.
A oeste o litoral é normalmente escarpado e a leste é baixa e constituído por achadas.
No centro da ilha localiza-se o extenso planalto de Santa Catarina, que se situa entre 400 e
600 m de altitude.
Limitando a sul e a norte aquele planalto erguem-se, respectivamente, os maciços
montanhosos do Pico de Antónia e da Malagueta, cujos cimos ultrapassam os 1000 m.
A oeste, o flanco do planalto de Santa Catarina é extremamente declivoso até ao mar; a
leste, o flanco oriental inicia-se por encostas alcantiladas, mas os declives médios vão-se
adoçando bastante até às achadas litorais.
No norte da ilha, destaca-se o Tarrafal, extensa região de achadas cujas altitudes variam
entre 20 e 300 m, que se desenvolvem a partir do sopé setentrional do maciço montanhoso da
Malagueta, devendo-se destacar a plataforma de Chão Bom, Tarrafal, cujas altitudes variam
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entre 0 a 20 m. Neste relevo variado e bastante movimentado insere-se uma rede hidrográfica
de regime temporário relativamente densa e, na grande maioria dos casos, correndo em vales
encaixantes cujos talvegues apresentam perfil longitudinal torrencial. Nesta paisagem,
sobressaem os traços terminais dos vales principais das bacias hidrográficas mais importantes
cuja forma terminal em canhão é vulgar, isto fundamentalmente nos traços que cortam as
achadas, tanto nos litorais como nos planaltos do interior da ilha. Esta forma de vale é devido
a estrutura colunar que afecta as escoadas lávicas.
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fig. 1 – Grandes unidades geomorfológicas


11

Fonte: Grarcia de Horta, Sér. Est. Argon., Lisboa, 17 (1-2), 1990, 19-29
1.4. ASPECTOS GEOLÓGICOS

A ilha de Santiago é de origem vulcânica formada essencialmente por formações


vulcânicas com predominância de rochas basálticas e produtos piroclásticos (brechas, lapilli e
tufos).
Há rochas de vários tipos de formação geológica de idades diferentes. As mais antigas
encontram-se em áreas desnudadas normalmente no leito das ribeiras.
As rochas afaníticas abrangem a maior parte da ilha, enquanto que as faneríticas ocupam
pequenas áreas, entre as rochas afaníticas os produtos de origem explosiva têm importância
reduzida, ocupam os derrames a maior extenção.
Observam-se filões com frequência, mas a sua presença é mais vincada nas formações
antigas.
Devido às oscilações do nível do mar, encontram-se derrames que se originaram abaixo
da água do mar.
Caracterizando a origem das diversas formações, pode-se afirmar que os derrames
basálticos foram os primeiros a serem projectados. Em seguida, as formações de rochas
fonolíticas e traquíticas formaram chaminés, domas e filões que vieram a ser seguidos de uma
erupção das rochas basálticas.
Podem-se observar rochas calcárias depositadas sobre parte do litoral ocupada por rochas
basálticas que se encontram submersas.
Com o levantamento posterior da ilha houve actividade vulcânica manifestada pela
presença de mantos basálticos que cobriram as rochas calcárias e de filões que atravessaram
as referidas rochas vulcânicas.

1.5. SEQUÊNCIA VULCANO-ESTRATIGRÁFICO

Os trabalhos realizados por António Serralheiro, que conduziram à elaboração e


publicação da carta geológica nas escalas de 1/25000 e 1/100000 e a respectiva Notícia
Explicativa, permitiram estabelecer a sequência Vulcano-Estratigráfica da ilha de Santiago,
que tem servido de suporte básico para os trabalhos de hidrogeologia e recursos hídricos.
Também se poderá salientar a contribuição dada pelo “Estudo geológico, petrológico e
vulcanológico da ilha de Santiago (Cabo Verde)” da autoria de C. A. Mota Alves, J. R.
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Marcelo, L. Celestino Silva, A. Serralheiro e A. F. Peixoto Faria (1979) no reforço dos


conhecimentos da sequência Vulcano-Estratigráfica da ilha de Santiago.É neste contexto que
se passa a descrever as ocorrências dos acontecimentos geológicos, tomando como princípio
do mais antigo (I) ao mais recente (X).

I. Complexo Eruptivo Interno Antigo (CA) – é caracterizado apenas pela fácie


terrestre, representada pelas seguintes subunidades.
a) Complexo filoniano de base de natureza essencialmente basáltico (CA);
b) Intrusões de rochas granulares silicatadas (Y);
c) Brechas intravulcânicas e filões brechóides (B);
d) Intrusões e extrusões fonolíticas e traquíticas (φ);
e) Carbonatitos (CB).

II. Conglomerados antiformação dos flamengos.

III. Formação dos flamengos (λρ) – formada por mantos, brechas e piroclástos, de
natureza marinha. O maior afloramento dessa formação pode-se observar na Ribeira
dos Flamengos e, daí o seu nome.

IV. Formação dos órgãos (CB) – apresenta duas fácies: terrestre e marinha. Na fácie
terrestre observam-se depósitos de enxurrada e na face marinha, calcários e
calcarenito fossilíferos.

V. Formação lávica pós-formação dos órgãos – constituída por rochas


traquíticofonolíticas.

VI. Sedimentos posteriores à formação dos órgãos (CB) e anteriores às lavas submarinas
e inferiores do Complexo Eruptivo do Pico de Antónia.

VII. Complexo Eruptivo do Pico de Antónia – deste complexo fazem parte produtos
resultantes das actividades explosiva e efusiva, subaéreos, que tiveram lugar em
épocas geológicas diferentes. É constituído por duas fácies. A fácie terrestre
apresenta as subunidades da mais antiga à mais recente:
a) Série espessa, essencialmente de mantos e alguns níveis de piroclastos.
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b) Fonólitos, traquitos e rochas afins.


c) Tufo, brecha (TB).
d) Mantos e alguns níveis de piroclastos.
e) Piroclastos e escoadas.
A fácie marinha apresenta, conglomerados e calcarenitos fossilíferos, mantos
basálticos inferiores, calcários, calcarenitos, conglomerados e mantos basálticos
superiores.

VIII. Formação de Assomada (A) – é constituída por mantos e piroclastos, ambos de


natureza basáltica, fazendo parte da face terrestre.

IX. Formação de Monte da Vacas (MV) – corresponde à última manifestação vulcânica,


constituída por cones de piroclastos basálticos e pequenos derrames associados na
face terrestre.

X. Fomações Sedimentares Recentes – com duas fácies, em que na marinha tem-se


areias e cascalheiras da praia, e a terrestre com aluviões, areias, dunas, depósitos de
vertente e depósitos de enxurrada.

1.6. ASPECTOS HIDROGEOLÓGICOS

A ilha de Santiago tem recorrido a utilização de águas subterrâneas para abastecer as


populações urbanas e rurais, para a agricultura, criação de gado e outras necessidades.
Das águas provenientes da precipitação só 13% consegue infiltrar no subsolo para originar as
águas subterrâneas. Uma grande parte escoa-se para o mar através do escoamento superficial,
uma quantidade razoável evapora-se para a atmosfera, e apenas uma pequena quantidade
infiltra-se em direcção ao C.E.P.A., através das fracturas e fendas, onde circulam e
armazenam sob a forma das águas subterrâneas.
Os principais pontos de águas inventariados são nascentes, furos e poços, com caudal
honorário e diário muito variável, mas significativo.
Os pontos de água encontram-se distribuídos por diversos concelhos, sendo a água extraída
utilizada para diversos fins.
A quantidade de água que se infiltra através das fendas e fracturas das rochas acaba por
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acumular no aquífero principal o C.E.P.A.


Através da observação do mapa da ilha de Santiago com as suas respectivas linhas de águas,
notam-se três grandes zonas de drenagem, partindo do Pico de Antónia (Ilídio de
Amaral, in “A ilha de Santiago – a terra e os homens”):

Do Pico de Antónia em direcção à Baia de Santa Clara.


Do Pico de Antónia para a Ponta Prinda.
Do Pico de Antónia à Baia de Medronho.
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Fig 2 Mapa da rede hidrográfica de Santiago


Fonte: Santiago de Cabo Verde, A Terra e os Homens, Ilídio do Amaral, 1964
16

1.7. UNIDADES HIDROGEOLÓGICAS

Estudos hidrogeológicos permitiram chegar à conclusão da possibilidade da existência de três


grandes unidades hidrogeológicas:

I. Unidade Recente – constituída pela formação do Monte da Vacas (MV), formada por
cones de piroclastos e alguns derrames associados. É a unidade bastante permeável e
que privilegia a infiltração da água em direcção ao aquífero principal.

II. Unidade Intermediária – constituída pelo Complexo Eruptivo do Pico de Antónia (PA)
e Formação da Assomada. A formação do Pico de Antónia é formada
fundamentalmente por mantos basálticos subaéreos intercalados por piroclastos e
mantos basálticos submarinos. Essa é a formação mais extensa constituindo, deste
modo, o aquífero principal. Tem um coeficiente de armazenamento relativamente
elevado, se a compararmos com as unidades de base, devido a facturação vertical, a
porosidade e a permeabilidade. Também se inclui nesta unidade a Formação de
Assomada.

III. Unidade de Base – formada pelo Complexo Eruptivo Interno Antigo (CA), Formação
dos Flamengos (P), e Formação Conglumerática Brechóide (CB). Esta unidade
comporta-se como unidade impermeável, porque possui boa percentagem de argila que
não permite a infiltração da água. É constituída pelas formação mais antigas que têm
maior percentagem de argila.
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CAPÍTULO II
CARACTERIZAÇÃO GERAL DO CONCELHO DO TARRAFAL

2.1. LOCALIZAÇÃO E DIVISÃO ADMINISTRATIVA

Concelho do Tarrafal foi criado em 1917 pelo decreto-lei nº3108-B de 25 de Abril, publicado
no supremo nº3 do B.O. nº 25 em 1917, provocando a sua desintegração do concelho de Santa
Catarina, que até 1912 tinha a sua sede na Vila do Tarrafal.
O concelho do Tarrafal fica situado no extremo norte da ilha de Santiago, a uma
distância de 70 Km2 da cidade da Praia (capital do país), ocupa uma área de 112,4 km2 o que
representa cerca de 11% da área total da ilha de Santiago e cerca de 2,8% do território
nacional.
Encontra-se confrontado a sudoeste com o concelho de São Miguel e a Sudeste com o
concelho de Santa Catarina.
Com a elevação da freguesia de São Miguel à categoria de concelho, em 1997, Tarrafal passa
a abarcar apenas o espaço territorial da freguesia de Santo Amaro Abade.
Segundo o Censo 2000 o concelho conta com uma população que ronda os 17.784 habitantes,
distribuído administrativamente pela única freguesia, a do Santo Amaro Abade constituídas
por vinte localidades, sendo a Vila do Tarrafal (Mangue) a sede do concelho.
18

Quadro2. População segundo as localidades


A. Biscaínhos 128 107 235 1,3
A. Lagoa 108 74 182 1,0
A. Longueira 436 289 725 4,0
A. do Meio 151 120 271 1,5
A. Mairão 401 270 671 3,7
A. Tenda 639 474 1113 6,2
Biscaínhos 429 295 724 4,0
Chão Bom 2446 2073 4519 25,4
Curral Velho 207 162 369 2,0
Fazenda 86 56 142 0,7
F. Muita 123 105 228 1,2
Lagoa 102 87 189 1,0
Mato Brasil 123 87 210 1,1
Mato Mendes 197 126 323 1,8
Milho Branco 140 95 235 1,3
Ponta Lubrão 212 148 360 2,0
Ribeira da 503 411 914 5,1
Prata
Ribeirão Sal 45 31 76 0,4
Trás-os- 309 246 555 3,1
Montes
Vila do 3110 2662 5772 32,4
Tarrafal

2.2. ASPECTOS CLIMÁTICOS

No que se refere aos aspectos climáticos, sendo o concelho de Tarrafal uma das partes
integrantes da ilha de Santiago, não escapa a influência dos factores que condicionam o clima
do arquipélago de um modo geral e particularmente o clima de Santiago. Mas, por outro lado,
sendo Tarrafal uma região específica da ilha, com todas as suas características próprias,
tornase necessário destacar os factores que de uma forma ou de outra, influenciam o clima
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desta região norte da ilha.


O relevo e a disposição das vertentes em relação aos ventos dominantes, são factores
decisivos na determinação do clima do concelho do Tarrafal, pois, sendo uma região baixa,
a disposição do relevo, principalmente do Monte Graciosa, contribui grandemente para a
diminuição do aridez.
Devido ao factor do relevo há predominância de microclimas áridos e semiáridos no
concelho. Constata-se que à medida que aumenta a altitude, também se verifica um aumento
da pluviosidade e, consequentemente, uma diminuição considerável de aridez. Á semelhança
do que acontece noutros concelhos do arquipélago, no Tarrafal, as chuvas distribuem-se de
uma forma bastante irregular, criando um contraste vigoroso entre as zonas altas e os litorais,
caracterizadas por duas estações bem definidas:

A estação das chuvas ou “das águas”, que vai de Agosto a Outubro, em que as chuvas são
irregulares e estão intimamente ligadas as migrações da C.I.T. (convergência inter tropical).

 A estação seca ou” das brisas”, que vai de Dezembro a Junho, a mais fresca e seca , em
que há predominância da acção dos ventos alísios de nordeste que, de uma maneira geral,
sopram todo o ano.

 Os meses de Julho e Novembro são considerados de transição.

2.3. ASPECTOS GEOMORFOLÓGICOS

Com base na publicação da obra de Ilídio Amaral (1964), “ Santiago de Cabo Verde, a terra e
os homens”, a área do Tarrafal, com uma altitude média de 150 metros, é dominada por relevo
de altura variável, desde os pequenos cones de dezenas de metros à enorme cúpula Monte
Graciosa. Situado no extremo nordeste do concelho, possui uma cota máxima de 643 metros o
que lhe atribui o título da terceira grande elevação da ilha de Santiago.

As principais elevações do concelho do Tarrafal são as seguintes:


• Monte Graciosa, de aspecto esbranquiçado, estende-se de leste para oeste, desde
Achada Biliar à Baía do Tarrafal. As suas vertentes são bastante declivosas, sendo
difícil a sua subida aos pontos mais altos. A vertente mais a sul apresenta aspectos
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variados com alguns esporões do lado da baía.


• Monte Costa, com 336 metros de altitude.
• Monte Matamão, com 360 metros de altitude, ambos situados a leste do Monte
Graciosa, apresentando cones bastante erudidos e de materiais bastante alterados.
• Monte Vermelho, com cerca de 296 metros de altitude.
• Monte Furna, com 222 metros de altitude.
• Monte Covado, com 281 metros de altitude.
• Monte Achada Grande, com 260 metros de altitude.

De toda a extensão territorial do concelho do Tarrafal, é de realçar as duas formas de relevo


de capital relevância que são respectivamente:
• Monte Graciosa.
• Caldeira de Sevilha (situada junto à localidade de Ribeira da Prata, a única bem
conservada).

Das depressões mais importantes destacam-se as seguintes:


 Ribeira da Fontão  Ribeira Grande.
• Ribeira de Lebrão.
• Ribeira de Fazenda.
• Ribeira de Porto Formosa.
• Ribeira de Cuba.
• Ribeira Biscainhos, etc.

Entre as achada mais importantes destacam-se:


• Achada Bilim.
• Achada Tenda.
• Achada Porto.
• Achada Carreira.
• Achada Tomás.
• Achada Biscainhos.
• Achada Boi.
• Achada Grande.
• Achada Chão Bom.
• Achada Cuba
21

2.4. ASPECTOS GEOLÓGICOS

No concelho do Tarrafal, as formações predominantes são as rochas basálticas subaéreas e


submarinas. Mas torna-se necessário por em evidência as rochas traquifonolíticas cujo
testemunho é o Monte Graciosa. Ainda é de assinalar a presença de rochas sedimentares, com
especial destaque para os afloramentos de calcarenito e areias de origem calcárias, nas praias
e nas ribeiras. Como é natural em todas as ribeiras há presença de aluviões e, na parte
terminal, areia e cascalheiras da praia.
A sequência estratigráfica é estabelecida da mais antiga à mais recente, de acordo com as
descrições que se seguem:

I. Complexo Eruptivo Interno Antigo (CA), encontra-se distribuída de uma forma


bastante dispersa. Observa-se, principalmente, no farol de Ponta Preta, Chão de
Arruela e Baía de Angra.

II. Formação dos Flamengos (P), pode ser observada em pequenos retalhos na zona
Ponta Preta e Ponta Bicuda.

III. Formação dos Órgãos (CB), pode ser observada, principalmente, os depósitos de fácie
marinha nas escarpas do mar do Tarrafal. Nota-se claramente nas partes do litoral os
conglomerados brechóides marinhos estabelecendo contactos com mantos basálticos
submarinos. Na ribeira de Fontão pode-se observar calcarenitos fossilíferos e na Ponta
Lanche Grande aparecem os calcarenitos marinhos.

IV. Complexo Eruptivo Principal (PA), constitui a unidade mais espessa e mais extensa.
Algumas ribeiras de profundidade espectacular foram cavadas nesta formação ( é no
concelho do Tarrafal que se encontra a maior representação de fonólitos e traquitos na
ilha de Santiago).

V. Formação do Monte da Vacas (MV), esta formação encontra-se representada por


cones de piroclastos evidenciando a fase explosiva. Estes materiais estão alterados
apresentando, por isso, a cor avermelhada.
Exemplos de cones que fazem parte desta formação: Monte Covado, Monte Contador,
Monte Vermelho, etc.
22

VI. Formação de Sedimentos Recentes, constituída por duas fácies marinha e terrestre,
sendo a terrestre formada por aluviões, dunas, depósito de vertentes, de enxurrada e a
fácie marinha com areias e cascalheiras da praia.

2.5. ASPECTOS HIDROGEOLÓGICOS

A hidrogeologia é a parte da hidrologia que se ocupa do armazenamento de água terrestre na


zona saturada das formações geológicas.
Os recursos hídricos utilizados no concelho do Tarrafal, à semelhança do que acontece em
todas a ilha de Santiago, provêm das águas subterrâneas que são alimentadas pelas
precipitações que caem na época chuvosa, embora de uma forma irregular.
A principal rede de drenagem do concelho parte do maciço montanhoso Serra Malagueta que
é o segundo maior da ilha logo a seguir a do Pico de Antónia.
De acordo com as características das formações geológicas, dos inventários de pontos de
águas, sondagens mecânicas e ensaios de bombagem é possível estabelecer provisoriamente,
um esquema hidrogeológico geral do concelho. Assim, com os trabalhos realizados e os dados
disponíveis, foi possível estabelecer as seguintes unidades hidrogeológicas:

I. Unidade de Base, esta unidade é constituída pelo Complexo Eruptivo Interno Antigo
(CA), Formação dos Flamengos e Formação dos Órgãos. Estas formações
caracterizam-se por possuírem uma alta percentagem de argila, elevado grau de
alteração, baixa permeabilidade e capacidade de infiltração reduzida. Tendo em conta
estas características, o caudal desta unidade torna-se pouco expressivo.

II. Unidade Intermédia composta pela Formação do Complexo Eruptivo (PA) à qual se
associa a Formação de Assomada (A). É uma unidade extensa e a mais espessa.
Constitui o principal aquífero da ilha, visto que a porosidade e a permeabilidade são
elevadas, contrariamente à Unidade de Base. A fracturação vertical e a expessura
considerável do conjunto ocupam dezenas de metros fazendo desta unidade o
aquífero principal.

III. Unidade Recente, esta unidade é constituída pela Formação do Monte das Vacas
23

(MV) que é essencialmente formada por cones de piroclastos e alguns derrames


associados. Caracteriza-se por possuir forte permeabilidade, permitindo a infiltração e
a chegada da água à formação de Pico de Antónia (PA).
24

CAPÍTULO III
A SITUAÇÃO DE EXPLORAÇÃO DE GEORECURSOS NA ZONA
NORTE DE SANTIAGO

A exploração e o consumo dos georecursos tem sido o rendimento económico o


sustento de muitas famílias, por outro lado é motivo de preocupação por parte das autoridades
competentes, que vê o futuro ambiental em risco por causa dessa actividade executada de uma
forma desproporcional e na maioria das vezes clandestino.
È notável a erosão causada nos leitos das ribeiras, nas praias de mar e também nos
cones de piroclastos, devido a extracção desses recursos de forma desorganizada que acaba
colocando em risco o equilíbrio ambiental prejudicando a própria população de uma forma
directa ou indirecta.
Normalmente, na maioria das situações, esta actividade apresenta um carácter
tradicional, onde a extracção é feita de forma artesanal em que a maioria dos apanhadores, já
com uma certa idade, exercem esta profissão cujo prática vem sendo transmitidos aos
adolescentes.
Devido ao crescimento demográfico acelerado, há uma grande procura destes produtos
para a construção de aldeias, vilas e cidades. Este sector de carácter primitivo vem
complementando o mercado destes materiais, permitindo, assim, que um número significativo
da população pobre e desempregada, especialmente mulheres chefes de família, integre a
equipa de exploração.
Vários são os materiais extraídos, nomeadamente rocha para alicerces, calçada
(pavimento), brita, cascalho, areia e jorra para a construção civil etc.

Quadro3 - Preço de inertes extraídos na Zona norte da ilha de Santiago


25

Tipo de Produção Produç Produção Preço Preço Preço/ Emprego Localização


Material Actual ão Actual /Carrada /Carrad Carrada Directo
Pedra/dia Actual Brita/dia Pedra a Brita Nº de
Areia/d Areia Pessoas
ia

3 5 10 Ribeira da
Areia carrada 000$00 mulheres Fazenda
s/mês
(apanha
no mar)
- Tarrafal

______ 2 6 Ribeira de
Areia de __ 500$00 mulheres Chão-Bom
ribeira –
Tarrafal

_______ 2 6 Ribeira de
Brita de _ 000$00 mulheres Chão-Bom
ribeira –
Tarrafal

3 8 > 100 Ribeira-da-


Areia carrada 000$00 Prata
(apanha no s/mês
mar)-
Tarrafal

3 8 > 100 Ribeira-da-


Areia carrada 000$00 Prata
(apanha no s/mês
mar)-
Tarrafal

4 7 13 Ribeira-da-
Brita de carradas 000$00 mulheres Prata
ribeira-
Tarrafal /mês

É de se realçar que, se por um lado, estas práticas de exploração contribuem para


responder às necessidades do sector imobiliário, por outro, não compensa os graves
26

problemas ambientais e ecológicos provocados pelas consequências nefastas para o solo,


vegetação, água subterrânea e água superficial.
Portanto, a amplitude dos impactes ambientais e económicos da extracção dos
georecursos é de considerar. Pois, a destruição dos recursos paisagísticos, a salinização do
lençol freático nas zonas agrícolas, a destruição de praias com potencialidades turísticas, bem
como a destruição de habitats das espécies marinhas são bem visíveis em todos os espaços
ecológicos onde se faz a extracção. Por isso, torna-se necessário e urgente estudos de
orientação que remedeiam e recuperem estes distúrbios paisagísticos.
A indústria mecânica de britagem poderá constituir uma alternativa credível na solução
da apanha de areia, contribuindo de forma positiva na recuperação dos espaços, actualmente,
degradados, concertando, deste modo, a dinâmica do sector das construções de imobiliárias
com o funcionamento ambiental.

3.1. CONDIÇÕES AMBIENTAIS EM CABO VERDE

As condições ambientais em cabo verde estão condicionadas por alguns factores como:
 O clima;
 A seca;
 A perda do solo;
 Aumento demográfico,
 Más práticas agriculas, etc.

O crescimento demográfico tem contribuído para o aumento da procura de terrenos para


construção nas zonas urbanas e suburbanas, provocando especulação do preço das terras e
pressão sobre inertes especialmente areia das praias e a perda do solo devido a erosão hídrica
e eólica é considerada um problema ambiental mais crítico em cabo verde. Estes danos
causados ao ambiente têm sido uma das preocupações para o governo cabo-verdiano, por isso
as autoridades competentes têm dado os seus contributos avaliando os Impactes Ambientais, e
as técnicas e métodos de minimizar os danos.

A nível da Geológico Ambiental o contributo faz-se ao:


 entender os ecossistemas, os grandes ciclos como um todo, bem como as inteirações
multidirecçionais;
27

 definir as formas de prevenção e previsão dos processos naturais;


 identificar os elementos em riscos, exposição e a vulnerabilidade dos sistemas
humanizados;
 participar na determinação das qualidades e dos equilíbrios ecológicos, bem como as
vulnerabilidades.

3.2. IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS GEORECURSOS

Em Cabo Verde ainda não foram encontrados jazidas de minerais metálicos


economicamente exploráveis, mas em contrapartida há uma ocorrência generalizada de
grandes jazidas de minerais não metálicos como, areia, piroclastos, britas e outras rochas com
muito interesse económico no domínio da construção civil.

Os jazidos de minerais não metálicos que são explorados são as matérias primas para a
construção civil, como:  Basaltos;
• Areias;
• Piroclastoas;
• Cascalheiras das praias e das ribeiras.

O aumento demográfico dos últimos tempos provocou a necessidade de uma expansão


urbana e consequentemente houve um aumento (crescente) na procura de matéria-prima,
aliada a uma maior capacidade tecnológica da extracção, teve como consequência visível um
aumento do número de pedreiras que, na maioria das vezes, provocam agressões ambientais,
por demais evidentes na paisagem, e um agravar de problemas no domínio da poluição
principalmente relacionada com a água subterrânea e superficial.

No período de desenvolvimento que a sociedade cabo-verdiana se encontra, a


preservação do recursos naturais tem sido uma das preocupações, mas não há um programa
que planeia um crescimento económico tendo em conta a preservação do meio ambiente.

Deste modo, tendo em conta toda a degradação provocada pela exploração de


georecursos, tanto ao nível dos impactes físicos como sociais, torna-se necessário fazer-se
uma monitorização pelos órgãos de planos de recuperação ambiental e órgãos da própria
28

sociedade civil, bem como pela comunidade científica.

3.3. EXPLORAÇÃO DOS GEORECURSOS

EXPLORAÇÃO TRADICIONAL

A exploração feita na zona norte da ilha de Santiago é de uma forma rudimentar e


tradicional. Faz-se exploração de britas, areias, rochas basálticas nas pedreiras etc. Esses
materiais são usados na construção de casas, estradas, pontes e outros.

A exploração é feita com o objectivo de aproveitar os recursos naturais, como forma


de resolver o problema da sobrevivência e bem estar de um grupo de pessoas. Portanto, a
exploração tradicional constitui uma visão real do quanto é possível fazer, numa luta de
sobrevivência, tendo em conta as suas consequências nefastas, em muitos casos, para o meio
ambiente. Por isso, não deverão, obviamente, ser confundidas como uma abordagem do tipo
"Melhor Método Disponível".

Na exploração são utilizados materiais rudimentares como pá, picareta, enchada,


martelo, balde etc. As pessoas encontram-se vestidas de uma forma não adequada, não usam,
capacetes, botas luvas e outros vestuários adequados. Por isso correm o riscos de se
magoarem facilmente.

No método tradicional não há preocupação da conservação do solo. Observa-se uma


destruição total do solo arável e de culturas existentes nas áreas, bem como as árvores,
afectando também a flora local devida a destruição de habitats, dificultando assim a sua
posterior recuperação.
Nestas explorações são visíveis a produção de grandes quantidades de materiais que
posteriormente serão utilizados na construção rural (muretas, diques, banquetas), na
construção de casas, estradas, etc.

Em termos geomorfológicos estas actividades alteram significativamente a morfologia


dos solos, modificando a correlação das forças físicas que governam os processos. Alteram
ainda, a morfologia da paisagem natural, onde é frequente a presença de covas abandonadas
pela extracção, que conjuntamente com o tráfego de veículos de transporte e no
funcionamento no local, constituem factores responsáveis pela poluição sonora e visual.
29
30

CAPÍTULO IV
EXPLORAÇÃO DOS GEORECURSOS EM TARRAFAL

4.1. PIROCLASTOS

Os piroclastos são rochas magmáticas, pertencente a fase explosiva das actividades


vulcânicas. Encontram enquadrados na formação dos Montes das Vacas, que é a penúltima
formação do quadro estratigráfico da ilha de Santiago, também considerada como formação
mais permeável da ilha.
É um material muito permeável, não retém água devido as suas características,
apresenta uma cor negra quando não são alterados, e uma cor avermelhada quando sofrem
erosão ou alteração.
Os cones de piroclastos alterados não são explorados porque não servem para a
construção civil, ou seja, não são utilizados como matéria prima para a construção de blocos
porque produzem blocos podres e nem na produção de massa para o betão das casas.
O cone vulcânico actualmente a ser explorado na zona norte é o monte Achada Grande,
embora exista outros , mas devido ao alto grau de erosão não são explorados.
O monte Achada Grande é um cone de piroclastos com 260 metros de altitude, os
piroclastos são de boa qualidade apresentam pouca percentagem de erosão.

Fig.3- Estado actual do Cone de piroclastos Achada grande, Tarrafal- ilha de Santiago
São explorados por cerca de dez grupos de pessoas, em cada grupos encontram-se três
31

pessoas, que por dia abastece um camião. Cada camião custa 4500 escudos, o abastecimento é
feito aos camiões oriundos de Santa Cruz, Assomada, Calheta etc.
O piroclástos na ilha de Santiago são utilizados como matéria prima na produção de
blocos. No Tarrafal há quatro pistas de blocos a serem abastecidos, duas em Chão Bom e duas
na Vila do Tarrafal.

Fig.4- Degradação ambiental provocada pela exploração de piroclastos do Monte grande

A exploração que se faz é a tradicional, onde as pessoas correm muitos riscos,


principalmente na época das chuvas, onde pode haver desabamento de terras e blocos.
Também o equipamento e os materiais utilizados são rudimentares. Na extracção utiliza-se pá,
balde, carrinho, picareta, garfo, etc.
Essa exploração é da inteira responsabilidade das pessoas que a fazem, a Câmara
Municipal não licencia a exploração.

4.2. AREIA

A exploração de areia é, sem qualquer sombra de dúvida, a actividade mais crítica no


domínio de extracção de georecursos.
A areia é uma rocha sedimentar constituída por partículas com granulação inferior a
2mm de diâmetro.
Em Cabo Verde encontrámos dois tipos de areia, uma de cor escura que é a areia
basáltica (originada a partir da erosão do basalto) outra de cor clara que é a areia calcária
(originada a partir da erosão do calcário).
32

A extracção de areia representa uma actividade que envolve um ambiente muito complexo,
pois pode provocar desequilíbrios ambientais irreversíveis a curto, médio e longo prazos.

A extracção feita tanto nas praias como nos leitos das ribeiras, provocam
desequilíbrios dos processos biológicos tanto na flora como na fauna, bem como na criação de
condições de salinização do meio terrestre ( intrusão salina).

Fig.5 -Mulheres apanhando areia na Ribeira das Pratas, Tarrafal – ilha de Santiago

A extracção de areia, como se constata, interfere directa ou indirectamente sobre as


características ambientais da área, como a remoção da cobertura vegetal que provoca a
desagregação dos solos, com consequentes danos do meio físico, que por sua vez facilita os
processos de inundação bem como as acções erosivas, a poluição hídrica, sonora e
atmosférica.
Portanto, é notório as suas consequências nos vales e terrenos antes bastante
produtivos, que se tornaram improdutivos, com impacte directo sobre os rendimentos das
populações rurais e na segurança alimentar no país.
Por outro lado, apanha de areia nas linhas de água e na orla marítima estão sendo
realizadas de uma forma desproporcional, contribuindo assim para facilitar o processo de
intrusão salina, destruição de habitat, e consequentemente desaparecimento de algumas
espécies.

4.3. BRITA

A procura da areia e brita tem vindo a aumentar a nível nacional. Um dos grandes
problemas ecológicos da sociedade cabo-verdiana contemporânea é a extracção de areia e
britas nas praias com consequências nefastas para os nichos ecológicos de espécies marinhas e
33

aves, bem como para a paisagem natural. È necessário que haja uma alternativa para impedir
as consequências desagradáveis dessa actividade.
Devido ao ritmo acelerado do crescimento populacional na ilha de Santiago, o ritmo
de construção civil aumentou. Por isso, convém realçar que o consumo de brita variou de 53
856 toneladas para 170 963 toneladas de 1985 a 1995, e que no mesmo período o consumo de
areia varia de 173 959 toneladas para 552 224 toneladas.
O consumo associado de britas e areia foi de 227 815 toneladas em 1985 e 723 187
toneladas em 1995. Ainda prevê-se, portanto, que o consumo de georecursos venha aumentar
cada vez mais num horizonte muito curto.
Em relação ao Tarrrafal pode-se observar o estado degradado da ribeira do Chão Bom
e das praias, devido a extracção que se fazem de uma forma desorganizada. O objectivo dessa
prática é arranjar meios de sobrevivência e material para construção das casas.
Na ribeira de Chão Bom todas as pessoas têm a liberdade de fazer a exploração, tendo
em conta que é um meio de sobrevivência, esquecendo-se do impacte ambiental que essa
prática possa vir a ocorrer.

Fig.6 – estado de exploração no leito de uma ribeira, Chão-Bom - Tarrafal -


ilha de Santiago

È necessário tomar as medidas certas e no tempo certo para impedir essas


práticas,;uma das medidas é a implantação da indústria mecânica de britagem que poderá
constituir uma alternativa credível na solução da apanha de brita, contribuindo de forma
positiva na recuperação dos espaços actualmente degradados, concertando, deste modo, a
dinâmica do sector das construções de imobiliárias com o funcionamento ambiental. Por outro
lado, a constituição de pedreiras, como indústria de georecursos (inertes), poderá lançar no
mercado de construção civil algum material com qualidade e características, embora
diferentes, em termos de granulometria, daqueles que são recolhidos nas praias.
34

4.4.BASALTO

O basalto é uma rocha magmática vulcânica, que pertence predominantemente a


formação do Pico de Antónia (PA), formação de Assomada. Em Cabo Verde é a rocha mais
abundante, e o seu modo de jazida, facilita a sua extracção. Por isso é uma das rochas mais
exploradas em Cabo Verde.

No concelho de Tarrafal, na entrada do Mangue podemos observar uma pedreira em


que se faz a extracção do basalto. Faz-se a extracção de uma forma tradicional, sem utilização
de explosivos nem máquinas, devido ao seu modo de jazida dijunção colunar, que facilita a
sua extracção. As pessoas que fazem a extracção, não tem recursos para compra de materiais
adequados, utilizam martelo, picareta, pá etc. Se extraí-se uma pequena quantidade de
material que é vendido às próprias pessoas da vila.

Fig.7- Dejunção colunar modo de jazida explorado na pedreira localizada no Mangue.

A localização da pedreira não é adequada porque fica perto das casas, o que não é
aconselhável, devido aos problemas que pode causar a população, como o ruído, as poeiras a
deformação na paisagem visual, etc.
As autoridades competentes, muitas vezes não tomam uma iniciativa para acabar com
essas práticas porque vêm isso como um meio de sobrevivência para os que executam tais
acções.

4.5. ASPECTOS AMBIENTAIS RELACIONADOS COM A EXPLORAÇÃO DE


GEORECURSOS
35

O crescente aumento das necessidades de georecursos para a construção civil


provocou um aumento progressivo na exploração de pedreira, tornando cada vez mais
agravante o problema que esta constitui para o meio ambiente.
Os impactes ambientais negativos associados à exploração de pedreiras podem ocorrer
nas seguintes fases:
• Antes da exploração;
• Durante a exploração;
• Após a exploração;
A existência de uma pedreira provoca sempre problemas ambientais relacionados com:
• O solo;
• Agricultura,
• Alteração das linhas de água,
• Ocupação humana
• Destruição da paisagem.

A exploração provoca sempre perturbações nas fases preliminares, nomeadamente,


pela destruição do coberto vegetal e pela remoção de terras de cobertura, em alguns casos, o
seu desaparecimento, estando frequentemente, associados a estas acções efeitos ambientais
negativos, nomeadamente, a nível do ruído, produção de poeiras e afectação da rede de
drenagem superficial etc.
No decorrer da exploração o uso de equipamentos de extracção e a ocorrência de
explosões em muitos casos não adequados provocam, muitas vezes, impactes ambientais
negativos pela produção de níveis de ruído incómodos e pelas vibrações nas áreas
envolventes, que se acentuam nos casos em que há ocupação humana.

Durante a exploração, há produção de poeiras associada ao processo de extracção e ao


intenso movimento dos camiões de transporte dos materiais na área afectada. São também
impactes negativos que, frequentemente, caracterizam esta fase pelos efeitos nefastos nas
populações, vegetação e linhas de água etc. Pode-se também considerar a ocorrência de
derrames de produtos poluentes como óleos, que poderão contribuir para a poluição do solo e
da água superficial e subterrânea. São, também, muito significativos os impactes visuais, com
origem na exploração, pelo efeito do solo nu, depósito de materiais e equipamento.
36

Fig.8 – Degradação paisagística resultante da exploração de areia na Ribeira de Chão-


Bom, Tarrafal, ilha de Santiago

Após a exploração quase sempre tem-se a tendência de se abandonar o local, o que


provocando impacte a nível paisagístico associado muitas vezes a geomorfologia. O abandono
das frentes de exploração sem que sejam removidos os equipamentos e o edificado (oficinas e
apoios sociais) e sem serem promovidos os necessários trabalhos de recuperação de solos e da
paisagem. Este facto origina descontinuidade biofísica e é, também, foco provável de
contaminação a vários níveis.
As escavações abandonadas constituem, habitualmente, verdadeiras “feridas” na
paisagem sendo também os impactes ambientais negativos muito significativos, associados
aos inadequados usos dos antigos locais de exploração. Estes constituem, por vezes,
autênticos depósitos de lixos e de resíduos diversos, bem como locais com problemas de
segurança e de sinalização insuficientes ou até inexistentes. Esta última situação agudiza-se se
considerarmos os desníveis topográficos.

CAPÍTULO V IMPACTES AMBIENTAIS

Considerando o ambiente como o conjunto dos sistemas físicos, químicos e biológicos


e as suas relações com os factores económicos, sociais e culturais, com efeitos directo ou
indirecto, mediato ou imediato, sobre os seres vivos e a qualidade de vida, facilmente se
compreende que a exploração dos georecursos, modificando as condições do meio, gera
37

impactes ambientais.
Face a esses considerandos conclui-se que os impactes são extremamente negativos.
Realçam-se os seguintes:

EXPLORAÇÃO DE AREIA E CASCALHO NAS PRAIAS E LITORAIS:

diminuição de praias de arrasto de botes de pesca;


aumento de salinização das terras agrícolas, localizadas nas proximidades da foz, como
resultado de uma excessiva exploração de areia nas praias;
destruição do habitat utilizado pela fauna marinha e costeira, nomeadamente espaço
para a desova das tartarugas;
destruição de dunas e dos respectivos ecossistemas;
delapidação de praias, reduzindo espaços de lazer e a potencialidade turística das ilhas;
degradação paisagística de praias, linha de costa e formas de relevo.

EXPLORAÇÃO DE AREIA E CASCALHO NO LEITO DAS RIBEIRAS:

perturbação da linha de escoamento das ribeiras com o desvio das cheias para áreas
cultivadas ou habitadas;
aumento do risco de contaminação da água subterrânea;
criação de instabilidade nas infra-estruturas de correcção torrencial, nomeadamente
diques nas ribeiras.
EXPLORAÇÃO DE PIROCLASTOS E BASALTO:

degradação dos ecossistemas nas vertentes;


degradação da vegetação, flora e fauna nos sítios de lavra;
degradação paisagística na forma de relevo;
destruição de formas de relevo e estruturas geológicas de valor patrimonial;
aumento do risco de contaminação do lençol freático pela perturbação de infiltração;
aumento de probabilidade de ocorrência de desabamentos, deslizamentos e abatimentos
de cavernas;
ruídos ( poluição sonora)
poeiras (poluição atmosférica)
38

5.1. IMPACTES NOS RECURSOS NATURAIS

5.1.1.VEGETAÇÃO

É de salientar que o impacte das pedreiras sobre a vegetação e as populações faz-se


sentir em todas as fases da exploração. Quando a pedreira se encontra a céu aberto o impacte
sobre a cobertura vegetal traduz-se pela destruição de qualquer utilização agrícola.

No decorrer da exploração os impactes na vegetação são originados, especialmente,


pelas actividades como:

entulhos de materiais desperdiçados e blocos; 

Acumulação de terra devido às escavações;

 fossos donde é extraída a pedra e a areia, etc.

A vegetação existente na zona da pedreira e área envolvente é bastante afectada


devido as escavações e movimento de máquinas e dos camiões que transportam os materiais
nestas áreas.

De um modo geral, as poeira provenientes da exploração e também alguns produtos


químicos e tóxicos utilizados durante a exploração afectam a vegetação das proximidades,
depositando-se nas folhas e também infiltrando-se no solo prejudicando as raízes e
posteriormente as partes superficiais.
A interferência da exploração no sistema de águas subterrâneas conduz muitas vezes a
sua contaminação e a um rebaixamento dos níveis piezométricos, podendo, também, afectar a
vegetação existente e a utilização agrícola nas proximidades.

No final da exploração se a pedreira for abandonada sem se tomarem as medidas


tendentes a instalar ou reinstalar a vegetação, o restabelecimento vegetal, além de oneroso,
difícil e lento, torna-se, por vezes, impossível.

Aspectos negativos na vegetação

• Destruição da vegetação nos locais da exploração;


• Instalação e funcionamento de equipamentos com possibilidade de derrame de
combustíveis e óleo;
• Ocupação temporária da superfície agriculta;
39

• Diminuição da actividade fotossintética inibindo o crescimento normal das plantas;


• Destruição de habitat da fauna terrestre devido a limpeza de vegetação na zona de
implantação das obras;
• Alteração na paisagem.

Fig.9 – Destruição da vegetação devido a exploração do solo na ribeira Chão Bom

5.1.2. FAUNA
A fauna também não foge aos danos causados pelos impactes da exploração de
georecursos.

A fauna é prejudicada principalmente devido:

- a degradação dos solos;

- destruição de habitats;

- destruição de culturas e flora autóctone;

- limpeza da área de exploração;

- acumulação de desperdícios;

- instalação de parques de blocos;

- abertura de acessos para a movimentação de veículos pesados;


40

- funcionamento dos equipamentos de corte e ruído proveniente dessa actividade ;

Estes impactes acabam agravando com a dimensão das pedreiras, quantidade


exploradas, forma como se faz a exploração e o tempo da sua existência.
A exploração tradicional, também não foge a regra pois as pedreiras estão localizadas
nos leitos das ribeiras, encostas das montanhas e muitas vezes próximo das áreas de cultivo,
pondo assim em causa a extinção dos habitats e consequentemente algumas espécies típicos
dessas regiões, como as aves e diversos répteis.
A extracção da areia das praias provoca o desequilíbrio, por vezes, irreversível, nos locais de
desovas das tartarugas marinhas que utilizam a nossa costa litoral para o efeito. Por outro
lado, transtornam o espaço de vida de aves marinhas e costeiras.

5.1.3. SOLO

“A degradação do solo é o fenómeno causado pelo homem que diminui a capacidade e


ou futuro do solo para sustentar a vida humana.”

Em relação ao solo os impactes negativos iniciam-se antes da exploração.

Ao iniciar a exploração, inicia-se a destruição da terra vegetal e do solo de cobertura,


devido a instalação de equipamentos de exploração, instalações de apoio, acessos e caminhos.

O principal impacte no solo resulta da escavação, instalação dos equipamentos,


abastecimento em combustíveis as máquinas, etc. Deste modo, pode ocorrer a destruição total
do solo arável e de eventuais culturas, bem como do arvoredo existente, afectando, também,
por vezes, a fauna local, devido a destruição de seus habitats.
41

Fig.10- Destruição do solo devido a exploração de areia numa das ribeiras de Tarrafal

Os materiais utilizados como óleos, lamas, e outros resíduos, principalmente, quando


se utilizam explosivos, que para além da poluição sonora, podem poluir as águas subterrâneas
isto é infiltrando nas fendas superficiais que facilitam a infiltração de águas poluídas, a partir
da zona de operação, e fissuras ao longo dos substratos dos aquíferos, conduzindo ao
desaparecimento da reserva subterrânea.

O impacte nos solos que resulta de actividades efectuadas durante o período de execução
é muito significativo. Todas as superfícies afectadas conduzem a mudanças nos solos, tanto
estruturais como funcionais.

Principais impactes nos solos durante o período de exploração:


- Perda de solos e erosão provocada pela destruição da cobertura vegetal;
- Degradação dos solos durante a escavação;
- Perda de fertilidade dos solos devido a depósitos de algumas substâncias poluentes;
- Compactação do solo pela circulação frequente de veículos.

A exploração por processos tradicionais provoca rolamento de blocos nas vertentes,


danificando solos a jusante, por vezes acumulando pedaços de pedras, originando autênticos
pedregais de origem antrópica.

5.1.4. ÁGUA

A exploração dos georecursos pode provocar alterações na rede de drenagem natural e


no regime hidrológico de alguns cursos de água superficial.
Estas actividades também, têm graves consequências na contaminação das águas
subterrâneas, quer sejam através de restos e resíduos, ou através de modificações no regime
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hidráulico do fluxo nos aquíferos e nas suas relações entre si com outras águas e formações.
Os derrames de produtos poluentes que se faz durante a exploração poderá contribuir
significativamente para a poluição das águas tanto superficiais como subterrâneas.
A nível hidrogeológico há que considerar as situações das pedreiras localizadas nas
encostas, em pontos altos, e pedreiras localizadas em zonas mais ou menos plano.
As contaminações das águas subterrâneas são por vezes, bem evidentes, os quais se
vêm favorecidos, em muitas ocasiões, pelo descuido, ignorância e falta de um adequado
controle nas gestão das explorações. As consequências podem ser muito graves e é possível
chegar a situações de remédio custoso ou invejável, se não se actuar a tempo decididamente.
A água é o solvente mais abundante e é capaz de incorporar grande quantidade de
substâncias ao estar em contacto com os terrenos pelos quais circula. As águas subterrâneas
têm uma maior oportunidade dissolver matérias devido as maiores superfícies de contacto,
lentas velocidades de circulação, maior pressão e temperaturas a que estão submetidas e
facilidades de dissolver dióxido de carbono e outros produtos tóxicos do solo. Por isso as suas
concentrações são superiores à das águas superficiais, em geral.
A qualidade de uma água fica definida pela sua composição e o conhecimento dos
efeitos que pode causar cada um dos elementos que contém o conjunto de todos eles, permite
estabelecer as possibilidades das sua utilização classificando assim, de acordo com os limites
estudados, seu destino para bebida, usos ágriculas, industriais etc. Dentro de cada um desses
grupos existem usos específicos, o que se põem outras classificações e novos campos de
aplicação, como por exemplo, a utilização de águas salobras devido a intrusão salina,
classificadas como potáveis para aquelas aplicações domésticas que, com uma adequada
instalação independentes nas vivendas, não se usa para as bebidas.
Cabe considerar a qualidade natural de uma água e a quantidade afectada por
actividades humanas como a exploração das areias das praias e a exploração de alguns
georecursos, que em geral conduzem a uma declaração “poluição e contaminação.”A água
natural “água de boa qualidade” não são sinónimos e, em muitos casos as águas naturais
podem ser de muito baixa qualidade inclusive, tóxicas.
Em alguns casos, a exploração das pedreiras evolui em profundidade e os níveis
piezométricos ou freáticos podem ser atingidos, havendo necessidade de recorrer a uma
bombagem constante de forma a possibilitar a exploração de rocha. Essa bombagem introduz
alterações no regime hídrico subterrâneo, podendo provocar o rebaixamento de captações
existentes.
43

5.15.GEOMORFOLOGIA

A exploração de GEORECURSOS altera profundamente a fisionomia da paisagem,


provoca transformação no panorama devido a alteração do relevo, que é provocada pelas
explorações desordenadas que se fazem.

Na zona norte da ilha de Santiago fazem-se explorações de uma forma desordenada e


não há nenhuma entidade que controla essas explorações.

È o caso do Monte Achada Grande (cone de piroclastos) que se encontra cerca de sete
anos a ser explorado por um grupo de dez homens, em cada grupo três pessoas fazem a
exploração todos os dias. Cada grupo vende no mínimo um camião de piroclastos por dia. O
cone já perdeu a sua morfologia, e esta a desaparecer pouco a pouco.

Daqui a alguns anos vai haver a destruição total do Monte Achada grande, provocando
um dano irreversível a nível geomorfológico. Actualmente podemos observar nitidamente as
cavernas e a destruição de uma parte, provocados pelas explorações.

Na entrada do Conselho de Tarrafal pode se observar nas estradas a extracção de britas nas
encostas das montanhas, também de uma forma desordenada que se vai alterando a
morfologia da base das montanhas e das estradas que pode provocar desabamento de terra
pondo em risco a segurança da vida dos que fazem a extracção e dos veículos que usufruem
da estrada para ter acesso ao Conselho de Tarrafal.

Em relação à extracção dos georecursos nas ribeiras é visível o aspecto degradante de


ribeira de Chão Bom e da Ribeira das Pratas, uma vez que a exploração ultrapassa os limites
desejados e requeridos. Vários são os materiais extraídos, nomeadamente, brita, cascalho,
areia etc. Se essas extracções continuarem, os leitos das ribeiras vão-se transformar em
grandes crateras onde a forma natural vai ser substituída por buracos e amontoados de
cascalhos e areias, provocando grandes danos na geomorfologia regional.
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Fig.11- Alterração do Monte Achada Grande devido a exploração dos piroclastos

Neste mesmo contexto da degradação das paisagens, há uma área que actualmente é
muito afectada devido à apanha das areias e britas,são as praias do mar. Actualmente podemos
deparar com algumas praias profanadas como consequência das actividades de extracção de
georecursos. Essas actividades provocam danos catastróficos a população além de destruir a
morfologia e da geologia local. Como consequência temos o caso da intrusão salina, avanço
do mar, destruição de algumas espécies e habitat etc.

CAPÍTULO VI
ALTERNATIVAS PARA O ABASTECIMENTO DO MERCADO DE CONSTRUÇÃO
CIVIL

Devido ao rápido crescimento demográfico, prevê-se uma rápida expansão urbana,


consequentemente o aumento das infra-estruturas, que tem como consequência uma maior
procura de material de construção.
Perante a evidência do desequilíbrio entre a grande demanda e a escassez de recursos
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em areia, sobretudo, ao nível de praias e ribeiras, das ilhas de maior concentração


demográfica, e da rápida expansão urbana, como é o caso da ilha de Santiago, haverá, deste
modo, uma tendência para o aumento dos custos das construções, criando uma grave crise no
sector da habitação.
Perspectiva-se um rápido crescimento da urbanização, que num horizonte até 2020, vai
absorver mais de 60% da população (Quadro X)

Quadro 4. Perspectiva de evolução demográfica até ao ano 2020


Anos População Total População Urbana População rural
1995 386 185 185 529 200 656
2000 430 601 228 333 211 268
2005 501 569 279 711 221 858
2010 573 227 340 945 232 282
2015 654 163 412 432 241 731
2020 743 317 494 396 248 921
Fonte: MCE 1996 «Perspective Démographiques du Cap Vert

Para evitar o aumento do custo das construções e a consequente crise no sector


habitação propõe-se as seguintes medidas :

• melhorar a gestão dos georecursos no processo de construção;


• criar alternativas de produção de georecursos (inertes), nomeadamente, através da
criação de centrais de britagem;
• reciclar materiais provenientes de demolições;
• importar areia de países onde o recurso seja abundante, nomeadamente, países
sujeitos ao intenso processo de avanço de areias do deserto;
• proibir a exploração de areia e cascalho nas praias com potencialidades turísticas ou
na foz de ribeiras irrigadas;
• proibir toda a exploração de areia nas praias da ilha de Santiago;
• criar mecanismos eficazes de controle das explorações clandestinas.

6.1. ESTRATÉGIAS DE CRIAÇÃO DE ALTERNATIVAS DE FORMAÇÃO E


VALORIZAÇÃO DOS RECURSO HUMANOS

• criar fundos de desenvolvimento local na promoção de auto-emprego, nas


localidades com forte incidência na exploração de georecursos;
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• reforçar a capacidade técnica e institucionais das associações comunitárias;


• promover a recuperação e desenvolvimento da base produtiva (como por exemplo, a
melhoria dos sistemas de rega, e da pecuária familiar);
• identificar programas de promoção do artesanato associado ao turismo;
• criar parceria entre os planos de desenvolvimento municipal e os programas de
iniciativas comunitárias e de grupos organizados;
• valorizar iniciativas locais de acordo com as potencialidades em materiais e factores
de produção;
• criar programas de carácter ambiental na promoção de comunicação de proximidade;
• parceria entre os serviços descentralizados dos Ministérios: Educação e do
Ambiente, na coordenação dos programas de educação ambiental;
• capacitar os pólos educativos e os professores do EBI para a valorização e
desenvolvimento das comunidades locais;
• estudar a viabilidade de incentivar a aquacultura, nas zonas litorais, como alternativas
de emprego e do alargamento da base produtiva, nas comunidades de “apanhadores
de areia.”

• recuperação de sítios degradados no processo de exploração clandestina,


nomeadamente, praias com potencialidades turísticas e colinas destruídas na
exploração de piroclastos;
• emprego da mão-de-obra proveniente da exploração clandestinas, na recuperação
destes mesmos sítios degradados, de acordo com um plano previamente elaborado;
• utilização de entulhos para a recuperação de antigas zonas de exploração de
piroclastos, corrigindo, assim, as “feridas” provocadas na paisagem por aquele
processo;
• localização das unidades de exploração de pedreiras em sítios que minimizem os
impactes negativos;
• obrigatoriedade na recuperação ambiental das pedreiras logo após o abandono da
exploração;
• identificação de patrimónios geológicos e geomorfológicos com vista a sua
protecção;
• promoção do turismo rural como alternativa de emprego e valorização dos recursos
paisagísticos;
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6.2. ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO DE MEDIDAS INSTITUCIONAIS

• intensificação do envolvimento dos municípios na gestão e valorização do património


natural;
• melhoria da fiscalização das áreas de exploração de inertes, e a responsabilização por
parte dos municípios;
• melhoria da fiscalização das praias e locais de exploração clandestina;
• exigência de estudos de impacte ambiental (EIA), e plano de monitorização aos
projectos de exploração de georecursos;
• obrigatoriedade à correcção ambiental na fase de abandono da exploração.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

No termo deste trabalho esperamos ter contribuído para um melhor conhecimento sobre os
impactes ambientais causados pela exploração de georecurso na zona norte da ilha de
Santiago e alerta às autoridades competentes a tomarem uma iniciativa mais credível no que
tange a este problema.
Pode-se concluir que os serviços responsáveis não dispõem os meios suficientes para
combater as extracções e a câmara não tem colaborado com isso por não haver alternativas ou
soluções para as pessoas que tem essa actividade como meio de sobrevivência e assim vai
continuar a degradação do solo, destruição da fauna e flora modificação no relevo, destruição
das praias e aumento de intrusão salina etc.
Neste momento há graves problemas de abastecimento de mercado de construção civil, em
materiais, nomeadamente, areia, piroclastos e brita. Pois o mercado não está capacitado em
corresponder as necessidades que o plano de desenvolvimento urbanístico exige, e isso
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provoca um constrangimento que terá de ser ultrapassado.


Tendo em conta que a construção é uma das actividades com maior impacte ambiental,
sobretudo associado à construção nova, e a outros planos de desenvolvimento das cidades,
vilas e aldeias, é de esperar um enorme consumo, em quantidades de materiais de construção
civil, provenientes da natureza, num futuro muito próximo, que o Governo terá que dar
respostas.
Para combater a extracção e consequentemente os seus impactes a nível ambiental é
apresentada duas alternativas.
A primeira alternativa poderá ser um elevado investimento em unidades de britagem e
na sua racional distribuição pelas ilhas, e dentro da mesma ilha, pelos diferentes Concelhos.
A outra alternativa é importação de areia dos países africanos vizinhos, com um
incremento de postos de trabalho directo e indirecto, de modo a aproveitar os excedentes da
mão-de-obra desactivada da extracção de areia, nos leitos das ribeiras, das praias e dunas
litorais.
Cabo Verde depara-se com enormes problemas a nível social, económico e ambiental,
constituindo assim conflitos que terão de ser conciliados para um desenvolvimento
sustentável, com base nos interesses comunitários e na preservação de recursos naturais.
O envolvimento da comunidade no processo de esclarecimento em questão ambiental,
como na extracção de areia e brita nas praias e nos leitos das ribeiras, mostrando as suas
consequências e os prejuízos que a própria comunidade pode sofrer. Por exemplo a campanha
de sensibilização da população, principalmente em zona onde há prática de agricultura,
mostrando o perigo de intrusão salina e as sua consequência na contaminação do lençol
freático. Essa e outras actividades podem ter um impacte positivo nas populações. Mas as
autoridades competentes devem arranjar uma alternativa viável para as pessoas que fazem
essas práticas e assim diminuir ou eliminar essas práticas que colocam em risco o nosso meio
ambiente.
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BIBLIOGRAFIA

PLANO DE ACÇÃO NACIONAL PARA O AMBIENTE II (PANA II) – Impactes de apanha


e extracção de inertes em Cabo Verde.
PLANO DE ACÇÃO NACIONAL PARA O AMBIENTE II (PANA II) – Ambiente e gestão
sustentável dos recursos hídricos.
AMARAL, Ilídio do – Santiago de Cabo Verde – A terra e os Homens, J.I.V. Lisboa, 1964.
SERRALHEIRO, António – Geologia da ilha de Santiago (Cabo Verde), Vol.14 Lisboa, 1976.
GOMES, Alberto da Mota – A Hidrogeologia da ilha de Santiago. Praia Março de 1980.
INSTITUTO SUPERIOR DA EDUCAÇÃO – DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS –
Revista do centro de geologia, Volume 1, nº 1, 2 e 3, 2004.
INSTITUTO NACIONAL DE ESTATISTÍCA DE CABO VERDE (I.N.E.) 2005.
INSTITUTO NACIONAL DE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS (INGRH)
DIRECÇÃO GERAL DO AMBIENTE – Perfil ambiental de Cabo Verde, Junho 2004.
GUERRA, T. et.,- Novo dicionário geológico – geomorfológico.

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