Você está na página 1de 26

Blog do Rafael Mori

ESTRUTURA DA MATÉRIA 2019

13. Orbitais moleculares

Data: 22 de novembro de 2019 Autor: Rafael Mori 2 Comentários

Obra Molecular orbital, de David Liao.

Na aula passada, falamos sobre a Teoria de Ligação de Valência (TLV), que possui as seguintes
características:

Considera que a ligação resulta da sobreposição de orbitais: ao longo do eixo internuclear


(ligação σ), lateralmente (ligação π) ou facialmente (ligação δ). Na aula, praticamente não falamos
da ligação δ;
Os orbitais atômicos do átomo central se misturam, produzindo orbitais híbridos com
propriedades geométricas específicas, o que ajuda a explicar a teoria VSEPR;
Possibilita escrever estruturas de Lewis com elétrons deslocalizados (estruturas de ressonância);
Ajuda a explicar a geometria (ângulos de ligação, rigidez) e a polaridade das moléculas.

Na aula de hoje, trataremos de outro modelo para as ligações covalentes, a Teoria do Orbital
Molecular (TOM). As características dessa teoria são:
Considera a existência de orbitais moleculares, que se espalham por toda a molécula;
Os elétrons de valência estão deslocalizados sobre toda a molécula, não pertencendo a um átomo
específico;
Os orbitais moleculares resultam da combinação linear de orbitais atômicos (LCAO – linear
combination of atomic orbitals);
Ajuda a explicar diversas outras propriedades das molécula: cores, propriedades magnéticas,
além de propriedades de metais, semicondutores, etc.

Vejamos como tudo isso é possível.

Fundamentos da TOM

Houve uma aula, lá atrás (acesse o respectivo post aqui) em que comentamos o seguinte: dadas duas
funções de onda Ψa e Ψb, é possível escrever outras duas funções de onda que representam as
interações das partículas a e b, definidas por essas funções. Assim, partindo de Ψa e Ψb, existem
duas funções Ψc e Ψd, assim definidas:

As funções Ψc e Ψd são chamadas combinações lineares das funções Ψa e Ψb.

Agora pensemos em sistemas moleculares. Uma molécula é formada por ligações covalentes, que
geralmente envolvem interações entre elétrons de duas espécies químicas. Na aula passada, vimos
que a ligação ocorre quando há orbitais atômicos com elétrons desemparelhados – ou seja, pares
orbitais semipreenchidos, contendo apenas 1 elétron cada um – que se sobrepõem.

A questão que surge é: seria possível interpretar a ligação química a partir das combinações das
funções de onda associadas a esses elétrons?

Pense que a espécie a possui um elétron de valência descrito pela função Ψa. Essa espécie se ligará
com a espécie b, que possui um elétron de valência descrito pela função Ψb. De acordo com a TLV, a
ligação química ocorrerá pela sobreposição dos orbitais atômicos referentes a essas funções.

Ora, de acordo com a TOM, poderemos interpretar a ligação química como decorrente da formação de
novos orbitais – os orbitais moleculares – como resultado das combinações dos orbitais atômicos
originais. Partindo da combinação dos orbitais atômicos Ψa e Ψb, obtenho os orbitais
moleculares Ψc e Ψd.

Poderíamos até terminar a aula aqui, pois esse é o principal fundamento da TOM. Mas vejamos de
forma mais clara como isso acontece.

Exemplos de combinações lineares de orbitais atômicos

Vamos começar com o exemplo mais fácil: a ligação química envolvendo apenas orbitais atômicos
1s. Observe a figura abaixo:
Orbitais moleculares formados pelas combinações de dois orbitais atômicos 1s. Esses orbitais
moleculares têm nome: o ligante e o antiligante.

Pela combinação linear de dois orbitais atômicos 1s, obtenho dois orbitais moleculares. Observe que,
de acordo com a TLV, teríamos uma ligação σ.

Existem duas combinações possíveis de operações algébricas lineares envolvendo os dois orbitais 1s:
a soma e a subtração de suas funções de onda. Quando ocorre a soma, é como se os “sinais” dos
orbitais fossem o mesmo. Quando ocorre a subtração, é como se os “sinais” dos orbitais envolvidos
fossem opostos.

Assim, no lado esquerdo da figura, temos a construção de um novo orbital, maciço, mais ou menos
da forma que a TLV previa a formação de uma ligação σ s-s. No lado direito, a soma das
probabilidades relativas à especie A e à espécie -B (lembre-se que as funções de onda Ψ são
descrições probabilísticas referentes à localização dos elétrons) faz aparecer um nó entre as espécies.
Ali, não deve ser encontrado nenhum elétron.

Se você associar Ψ à descrição de uma onda, pense no seguinte: a combinação de duas funções Ψ tem
como possibilidades a interferência construtiva (ondas em fase) e a interferência destrutiva (ondas fora
de fase). Agora aplique o raciocínio a “ondas de elétrons” e deve ficar claro o porquê da formação
dos orbitais moleculares ligante a antiligante, a partir da combinação linear dos orbitais atômicos.

Quais são os resultados de tudo isso? Vamos ver alguns casos, referentes aos orbitais que mais vimos
participar de ligações, nas aulas passadas.

O primeiro caso é o das próprias ligações envolvendo apenas orbitais 1s, como no diagrama acima.
Repare só:
A combinação de dois orbitais 1s gera dois orbitais moleculares σ, um
ligante e outro antiligante. O orbital ligante σs possui energia menor
que o orbital antiligante σs*.

A figura acima é chamada de diagrama de orbitais moleculares.

Uma coisa que você precisa guardar, agora, é: a combinação de n orbitais atômicos gera n orbitais
moleculares. Assim, os dois orbitais 1s dos átomos A e A’, quando combinados, geram dois orbitais
moleculares, um com energia mais baixa que a energia original do sistema; e outro com a energia
mais alta.

A partir de agora, você pode começar a relacionar isso com uma coisa que venho insistindo nesse
bloco da disciplina: as situações mais estáveis, para quaisquer sistemas físicos, são aquelas que
possuem menores quantidades de energia. Vá pensando nisso.

Como isso tudo ficaria para o caso dos orbitais p – que, na aula passada, vimos que podem constituir
ligações σ e π? Observe abaixo:
Apesar de serem teorias diferentes, a TLV e a TOM usar terminologias e
símbolos parecidos. Na aula passada, vimos que a TLV considera as ligações
envolvendo orbitais p como sendo σ ou π. Nessa figura, veja como a TOM
explica as mesmas ligações. Se você reparar bem, os casos b) e c) são idênticos,
mudando-se apenas as orientações dos orbitais envolvidos (px e py).

Novamente, na figura acima mostra-se que dois orbitais atômicos p formam dois orbitais
moleculares, que podem ser do tipo σ ou π. Sempre que houver ligação química envolvendo
orbitais p, haverá pelo menos uma ligação σ – quando essa ligação for simples. No caso de ligações
duplas, lembre-se: uma é σ e a outra é π. No caso de ligação tripla, uma é σ e as outras duas são π.

Repare também que, em todos os casos, formaram-se um orbital de menor energia, ligante, e outro
de maior energia, o antiligante (marcado com *).

Vamos examinar alguns casos concretos envolvendo moléculas diatômicas. Eles serão dividos em
duas seções: uma para as moléculas homonucleares (constituídas por dois átomos de um mesmo
elemento) e outro as heteronucleares (constituídas por átomos de elementos diferentes).

Moléculas homonucleares
A molécula homonuclear mais simples é o H2. Já estudamos essa molécula na aula passada, e agora
vejamos como descrevê-la em termos da TOM. No entanto, vamos comparar essa molécula com uma
molécula hipotética também formada por átomos cujos orbitais disponíveis para ligação covalente
são 1s: o caso da molécula He2. No caso do H2, 2 elétrons participariam da ligação, pois temos 2
átomos cujas distribuições eletrônicas são 1s1. No caso do He2, 4 elétrons participariam da ligação,
pois temos dois átomos cujas distribuições eletrônicas são 1s2. Observe os diagramas de orbitais
moleculares para esses dois casos:

Casos das moléculas de H2 (a) e He2 (b). Note a quantidade de elétrons participando das
ligações – ou seja, preenchendo os orbitais moleculares.

Para H2, cada elétron do átomo isolado irá preencher um orbital molecular σ ligante, com energia
mais baixa que os orbitais 1s originais. Assim, mostramos que a ligação química de fato é uma
situação mais favorável ao sistema que os dois átomos isolados: quando eles se ligam, a energia total
do sistema é diminuída.

Mas veja o He2. Como são 4 os elétrons participantes, na hora em que vamos preencher os orbitais
moleculares (e sempre partimos de baixo, preenchendo primeiro os orbitais com menor energia,
usando as mesmas regras que usamos para preencher orbitais atômicos), precisamos alocar 2
elétrons no orbital antiligante, além dos 2 elétrons no orbital ligante. No fim das contas, a situação
energética final não é mais favorável que a inicial. Isso explica o fato de não se encontrar,
naturalmente, essas moléculas de He2. Como você deve se lembrar, elementos como o He, os gases
nobres, normalmente são encontrados na natureza como átomos isolados.

Existe uma simulação que trabalha com isso (e trata de moléculas análogas, não exatamente os casos
de hidrogênio e do hélio). Clique aqui para acessá-la.

Existiria algum parâmetro objetivo, quantitativo, para avaliarmos isso? A resposta é sim, e esse
parâmetro se chama ordem de ligação (OL). Ele é assim definido:

Faça as contas para a ordem de ligação do H2 e do He2. No primeiro caso, OL = 1. No segundo, OL =


0. Quando a ordem de ligação é nula, a molécula não existe. Assim, nossa molécula
hipotética He2 realmente não passa de hipótese. Em outras palavras, o efeito desestabilizador do
preenchimento dos orbitais antiligantes anula o efeito estabilizador do preenchimento dos orbitais
ligantes.

Você ainda pode relacionar os valores de ordens de ligação com os tipos de ligação covalente:
OL = 1: ligação simples
OL = 2: ligação dupla
OL = 3: ligação tripla

Vejamos outro exemplo de molécula diatômica homonuclear, dessa vez envolvendo um elemento do
segundo período da tabela periódica, o lítio. Novamente, estarão envolvidos na ligação apenas
orbitais esféricos, pois a distribuição eletrônica do átomo Li é 1s22s1. O diagrama de orbitais
moleculares será:

Na figura, estão representados os orbitais moleculares que


resultam da combinação de orbitais atômicos mais internos (1s).
Normalmente, esses orbitais não são representados nos diagramas.
Assim, o que importa mesmo é a parte de cima da figura.

Veja que o caso é análogo ao caso do H2. Na camada de valência, os elétrons dos orbitais 2s, de cada
átomo, são alocados no orbital molecular ligante de tipo σ. O orbital antiligante, referente à
combinação desses dois orbitais 2s, não é preenchido com elétrons. No entanto, observe que, no nível
1, o orbital molecular antiligante, resultando da combinação dos orbitais 1s, está preenchido sim.
Mas se calcularmos a ordem de ligação para essa molécula, veremos que o que ocorre no nível 1 não
tem interferência sobre a diminuição da energia do sistema provocada pelo preenchimento do
orbital molecular resultante da combinação dos orbitais 2s. Para esse caso, OL = ½ × (4 elétrons
ligantes – 2 elétrons antiligantes) = 1. Ou seja, a molécula de Li2 é formada por uma ligação simples
entre dois átomos de Li.

É possível também escrever distribuições eletrônicas para as moléculas, empregando as


terminologias que vimos conhecendo. No caso da molécula Li2, a distribuição seria (acompanhe
olhando a figura acima):

Li2: (σ1s)2(σ1s*)2(σ2s)2

Continuemos percorrendo os grupos da tabela periódica, considerando o período 2. Observe a


seguinte tendência, quanto às energias relativas dos orbitais moleculares presentes nas moléculas
diatômicas homonuclares com esses elementos:
Percorra a linha pontilhada que marca a posição dos orbitais em azul, e a
inversão que acontece quando a série alcança os elementos O e F. Questão
para você pensar: você acha que a molécula Be2 é estável? Por quê?

Assim, os diagramas de orbitais moleculares para as moléculas desse período serão:

Observe as posições dos orbitais σ e π na série que vai dos elementos Li


a N; e na série que compreende os elementos O e F.
Vejamos, por exemplo, o caso da molécula de N2. Ela está nos rodeando neste exato momento! Cerca
de 80% da atmosfera é composta por essa molécula que constitui uma substância gasosa, nas
condições ambiente. Repare no diagrama de orbitais dessa molécula:

Na parte de cima da figura, três formas de representação da


molécula: usando apenas símbolos de Lewis; mesclando
símbolos de Lewis com as representações contemporâneas
de ligação (traços); e a representação dos átomos como
esferas. Na parte de baixo, veja como os orbitais
moleculares acomodam os elétrons de valência dos átomos
de N. Note que há o preenchimento de um orbital
antiligante, no nível 2 (σ2s*). No entanto, o efeito
desestabilizador de seu preenchimento é mais do que
compensado pelo preenchimento dos demais orbitais
ligantes, especialmente os orbitais π2p e σ2p.

Vamos explicitar o cálculo da ordem de ligação, nessa molécula, pelo fato de ele ser um pouco mais
difícil do que nos casos anteriores:

E, de fato, a molécula de N2 é composta por uma ligação tripla entre os átomos de N. Aliás, a ligação
entre esses átomos é tão forte que o gás nitrogênio é uma espécie praticamente inerte, ou seja,
difilmente participa de reações químicas.

Um exercício interessante que você pode tentar fazer: justificar a existência das espécies abaixo com
base na TOM.

1. O2
Para o extremo da esquerda, quando a ligação covalente é simétrica, apolar (moléculas
homonucleares), c1 = c2.
Para o extremo da direita, quando a ligação é iônica, um dos coeficientes é praticamente zero. O
elétron de um átomo foi tão “doado” a outro que não podemos considerar que houve,
efetivamente, a constituição de um orbital molecular.
Para a situação intermediária, quando há a ligação é covalente polar (moléculas heteronuclares,
caso que nos interessa agora), o orbital do átomo mais eletronegativo tem energia menor, logo,
contribui mais para o orbital molecular de menor energia. Assim, c1 > c2.

Por conta disso, o diagrama de orbitais moleculares para moléculas heteronucleares não é mais tão
simétrico:

Diagrama geral para moléculas


heteronucleares, cujos orbitais
que participam da combinação
linear são do tipo 2s.

Um caso concreto, e curioso por possuir um interesse biológico, é o do monóxido de carbono, CO.
Veja como fica o diagrama de orbitais dessa espécie:
O átomo de C possui 4 elétrons de valência; já o átomo de O possui 6 elétrons de valência. Ao
todo, existem 10 elétrons disponíveis nessa molécula para a formação das ligações.
Considerando os dois átomos, que nesse caso seguem a regra do octeto, seriam necessários 16
elétrons para que completar os octetos. Ora, 16 – 10 = 6 elétrons: ou seja, 3 ligações covalentes
constituem essa molécula. A ordem de ligação é 3.

Destacam-se dois termos nessa figura: o LUMO e o HOMO. Eles são os acrônimos para lowest
unoccupied molecular orbital e highest occupied molecular orbital – respectivamente, o orbital molecular
desocupado de mais baixa energia e o orbital molecular ocupado de mais alta energia. Na figura,
estão indicados os LUMO e HOMO da molécula de CO.

Observe um outro fenômeno a respeito dessa molécula: a chamada retrodoação. Esse fenômeno ocorre
quando há a possibilidade de a molécula de CO se ligar com algum átomo metálico. Existe um par
de elétrons do átomo de C disponível para ligações, e esses elétrons podem ser transferidos para um
orbital d vazio de um átomo metálico, por meio de uma ligação σ. Por outro lado, na molécula de CO
há orbitais π* (pi antiligantes) vazios, com energias baixas o suficiente para se sobrepor de maneira
eficiente com esses orbitais d do metal, ricos em elétrons. Assim, o CO se liga à espécie metálica por
uma ligação σ relativamente fraca, e por uma ligação π relativamente forte. A figura abaixo busca
ilustrar o que ocorre:
A simetria do orbital π* da molécula de CO é muito
semelhante à simetria dos orbitais d do metal, daí a
sobreposição entre ambos formar uma ligação forte.

Isso possui uma consequência biológica de extrema importância. Você conhece a estrutura das
nossas hemoglobinas, as proteínas responsáveis pelo transporte de oxigênio para nossos tecidos?
Existem diversas formas de representá-la, e abaixo você confere duas:

Duas representações da hemoglobina. À esquerda, valoriza-se o volume da molécula; à direita,


a estrutura enovelada de seus diversos componentes. Repare, na parte da direita, que há
alguns conjuntos de moléculas destacados em verde, com modelos de bolas e varetas: são os
grupos heme.
Existe uma estrutura muito importante presente na hemoglobina: o grupo heme. Trata-se de um
complexo organometálico, quer dizer, uma molécula orgânica que se liga a um átomo metálico
central. Talvez vocês estudem isso com mais detalhes em disciplinas sobre Bioquímica ou sobre
Química de Coordenação. Abaixo, a estrutura do grupo heme:

Repare que a molécula é uma espécie


orgânica, a não ser pela presença de um
átomo de ferro ligado aos chamados anéis
porfirínicos.

Agora observe abaixo as interações entre o grupo heme e o gás oxigênio, mais as interações entre o
grupo heme o monóxido de carbono:

Na verdade, a figura representa a ligação de oxigênio e CO ao pigmento


mioglobina, mas como se trata de uma estrutura que também apresenta o grupo
heme, vamos fingir que para a hemoglobina o mesmo esquema é válido.
Talvez você já esteja advinhando o que estamos tentando dizer aqui. Existe a possibilidade de a
molécula de CO se ligar à hemoglobina, formando o complexo chamado carboxihemoglobina. As
ligações entre CO e grupo heme são muito fortes, por conta da retrodoação que se estabelece entre o
átomo de ferro do grupo heme e o orbital π* do CO. Assim, o CO ocupa um “espaço” que seria do
oxigênio e, portanto, não ocorre o transporte desse gás vital. É assim que funciona o envenenamento
por CO, e daí a grande toxicidade dessa substância.

O poder explicativo da TOM

Tem muitas coisas que a TOM explica e que os demais modelos sobre ligação química sequer
possibilitam algum vislumbre. Por isso a TOM é minha teoria favorita!

Uma dessas explicações possibilitadas pela TOM se refere aos fenômenos magnéticos. Para falar
disso, precisamos introduzir mais alguns termos, referentes a esses fenômenos:

Paramagnetismo – quando há elétrons desemparelhados na molécula. Observa-se forte atração


entre um campo magnético e a molécula;
Diamagnetismo – quandos não há elétrons desemparelhados na molécula. Há fraca repulsão entre
um campo magnético e a molécula.

Talvez a ilustração abaixo ajude a esclarecer:

Na situação b), há alguma repulsão entre a molécula e um campo magnético: trata-se de uma
amostra diamagnética. Já na situação c), a amostra é fortemente atraída para o campo
magnético: ela é, assim, paramagnética.

Agora veja esse quadro resumo, sobre a TOM aplicada a moléculas de átomos do 2º período da
tabela periódica:
A TOM também explica algo super importante e que estava o tempo todo diante de nossos olhos: as
cores dos pigmentos. Todas as cores que existem, em todos os objetos do mundo, se devem à
presença dessas moléculas. A TOM explicará as cores dos pigmentos de maneira análoga ao que
vimos, em aulas passadas, sobre a espectroscopia. Diferentes gases são capazes de produzir
diferentes cores, quando excitados em um tubo de raios, não é mesmo? Como vimos, esse fenômeno
se dava por conta dos comprimentos de onda emitidos pelos elétrons excitados, ao retornarem ao
estado fundamental dos átomos.

No caso de moléculas, a explicação é parecida. Certos elétrons, principalmente do HOMO, podem


ser excitados, pela radiação eletromagnética, vindo a ocupar orbitais moleculares com níveis
energéticos mais altos (o LUMO e outros orbitais mais energéticos). Alguns comprimentos de onda
da radiação incidente, assim, são aborvidos, e os demais são refletidos novamente. Lembre-se que a
luz visível é composta por todos os comprimentos de onda das regiões entre 400 e 700 nm, mais ou
menos. Um pigmento absorve algum ou alguns desses comprimentos, e os demais são refletidos.

Abaixo, alguns esquemas que mostram a aplicação dessas ideias a moléculas orgânicas simples:
Três casos: H2, C2H4 e C4H6. Quando radiação de baixos comprimentos de onda atinge essas
moléculas, ocorre a promoção dos elétrons do HOMO ao LUMO. Como você observa, existe
uma tendência: quanto maior a cadeia orgânica, maior o comprimento de onda absorvido. A
propósito, essa grandeza tem nome: absorbância.

Com moléculas orgânicas maiores, os valores da absorbância cairão em regiões da radiação visível
do espectro eletromagnético. São moléculas de pigmentos:

As moléculas acima são chamadas de cromóforos. Cromóforos podem ser apenas uma parte de uma
molécula, justamente a parte responsável pela coloração da substância, quanto a seu aspecto
macroscópico.

Veja mais alguns abaixo, explicitando-se os valores de absorbância (λmax):


Outro conjunto de fenômenos, explicáveis pela TOM, se refere à condução, característica de sistemas
metálicos. Convém fechar nossas considerações sobre ligação química entre átomos (finalizaremos o
curso na aula que vem, falando das ligações entre espécies químicas, por exemplo, interações
intermoleculares) falando das ligações metálicas.

A TOM e as ligações metálicas

Nas aulas deste bloco, vimos o seguinte: quando as diferenças de eletronegatividade entre os átomos
são grandes, eles podem se unir por ligação iônica; quando essas diferenças são pequenas, as
ligações formadas têm caráter covalente. Assim, podemos fazer a seguinte sistematização – e até falei
rapidamente dela, em uma das aulas:

Ligação entre metal e ametal: iônica


Ligação entre ametal e ametal: covalente

E aí você se pergunta: e a ligação entre metal e metal? É a ligação metálica. Mas como você sabe, os
metais costumam ser substâncias puras, de forma que não cabe falarmos em retículos cristalinos
como no caso dos compostos iônicos, nem em moléculas, como no caso dos compostos covalentes.
Os metais puros são formados por reuniões de grandes quantidades de átomos de um mesmo
elemento. Como ficaria o diagrama de orbitais moleculres para esse caso?

Veja o exemplo do lítio metálico, abaixo:


Veja a progressão de Li2 a Lin. Conforme aumentam os
átomos reunidos, sobrepõem-se cada vez mais orbitais
moleculares.

Agora veja outro caso, para o metal cobre:


Nessa imagem, aparecem novos termos: as tais bandas de valência e condução. Pense que bandas são
conjuntos de orbitais, com determinados níveis energéticos. Assim, o caso acima representa a
situação do cobre metálico: a banda de valência é formada por orbitais moleculares ligantes
totalmente preenchidos. Já a banda de condução diz respeito a um conjunto de orbitais antiligantes,
não totalmente preenchidos. A banda de condução pode ser comparada a um “caminho” que se abre
para a condução elétrica, uma espécie de túnel, por onde passaria a corrente elétrica. (Na verdade, é
lógico que não é bem assim, mas por enqunto fiquemos com esta analogia. Em cursos futuros vocês
terão oportunidades para estudar melhor esses fenômenos).

Com relação às bandas de valência e de condução de diferentes tipos de materiais metálicos, observe
a figura abaixo:

A figura é autoexplicativa.

O resumo da ilustração acima é: quando há proximidade energética entre as bandas de valência e de


condução, os fenômenos da condução ou da semicondução são possíveis. Quando há uma intervalo
(gap) entre essas bandas, o material é isolante.

Não precisamos falar sobre materiais condutores, pois você já os conhece. Com certeza você já
tomou um choque colocando o dedo onde não devia!

Os isolantes você também conhece.

Precisamos falar sobre os semicondutores, rapidíssimo. Como você viu na imagem acima, eles
podem ser de tipo intrínseco ou extrínseco (por impureza).

Semicondutores intrínsecos:
Nos semicondutores intrínsecos, há
um pequeno intervalo energético
(band gap) entre as bandas de
valência e de condução.

Esses materiais conduzem eletricidade quando expostos a luz de frequência suficientemente alta, ou
seja, quando submetidos a excitação óptica. Na ausência dessa excitação, o material volta a se
comportar como isolante. Exemplos: critais de silício, germânio e enxofre. Aplicações: células
fotoelétricas, copiadoras.

Semicondutores extrínsecos

Observe o esquema abaixo, que representa uma malha cristalina de silício, à qual foram adicionadas,
propositadamente, impurezas:
Esquema da dopagem de um cristal de silício.

Como foi mostrado há pouco, a presença de impurezas, em uma dada substância isolante, pode
levar a que ela conduza corrente elétrica em certas condições. Isso porque, entre as bandas de
valência e de condução da substância original, pode ser incluída uma banda da própria impureza –
como se fosse a construção de uma “ponte” (novamente, cuidado com as analogias). Esse processo
de adição de impurezas recebe o nome de dopagem.

Como você observa na figura acima, o processo pode operar por vários tipos de mecanismo. Um
deles está representado pela adição do elemento boro à malha de silício; o outro, pela adição do
elemento fósforo. Por que esses dois elementos? Observe suas características:

P (5 elétrons de valência) – dopagem N (“negativa”, pela sobra de elétrons).

B (3 elétrons de valência) – dopagem P (“positiva”, pela falta de elétrons da impureza receptora).

De forma mais clara, o que acontece é o seguinte:


No caso a), temos a dopagem N.
Sobram elétrons na impureza (por
exemplo, fósforo), que podem ser
mobilizados para a condução elétrica
na banda de condução do material
original. No caso b), a dopagem é P. Há
orbitais livres na impureza (por
exemplo, boro) que possibilitam um
“caminho alternativo” para a condução
da corrente elétrica.

Esta aula foi especialmente rica em conteúdos, apesar de praticamente não envolver matemática. E,
assim, fechamos os conteúdos sobre as ligações entre átomos em uma mesma estrutura (um retículo
cristalino, uma molécula ou um metal).

Aguardem um post – provavelmente na semana que vem – em que eu mostrarei um mapa conceitual
que organiza esses conceitos do Bloco 4 da disciplina. Os conteúdos da próxima aula são mais
específicos e ficarão de fora do mapa.

Ainda, nesse post futuro, vou falar de um fenômeno muito interessante: por que o mercúrio é
líquido, à temperatura ambiente? E, de quebra, vou recomendar mais uma leitura.

BANDA DE VALÊNCIA E BANDA DE CONDUÇÃO CONDUÇÃO ELÉTRICA EXCITAÇÃO MOLECULAR HOMO E


LUMO LIGAÇÃO COVALENTE LIGAÇÃO METÁLICA ORBITAL PARAMAGNETISMO E
DIAMAGNETISMO PIGMENTOS E CROMÓFOROS SEMICONDUTORES TEORIA DO ORBITAL MOLECULAR
Publicado por Rafael Mori

Professor Adjunto do Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC,


trabalha nas áreas de Educação em Ciências (Ensino de Química), História da Química e,
eventualmente, Educação Física. Ver todos os posts por Rafael Mori

2 comentários em “13. Orbitais moleculares”

Adicionar comentário

1. leticia briskieviez disse:


1 de outubro de 2018 às 20:24
olá professor, tudo bem ? me bateu uma dúvida sobre a hemoglobina e o grupo
heme.Naturalmente, o Fe fez duas ligações covalentes com os nitrogênios. Porém, e as outras
ligações pontilhadas , como se dão? já que os outros dois nitrogênios já estão fazendo 3 ligações
no anel… Espero que tenha entendido a minha dúvida ! kkk abraço.

Responder
1. Rafael Mori disse:
10 de outubro de 2018 às 19:56
Oi, Leticia. Perdão pela demora em responder! Seu comentário ficou escondido no meio dos
outros que foram aparecendo na frente e acabei esquecendo dele.
Não se preocupe quanto à questão da hemoglobina. Não cairá nada parecido com isso na
prova. Sobre as ligações do ferro, você saberá mais a respeito quando estudar compostos
organometálicos em outras disciplinas; e vale a pena perguntar também para seu professor de
BCL0308-15 Bioquímica: estrutura, propriedade e funções de biomoléculas.

Responder

© 2020 BLOG DO RAFAEL MORI

WORDPRESS.COM.
2. O2+
3. O22-

Uma boa revisão, até aqui, é o seguinte vídeo:

A Brief Introduction to Molecular Orbital Theory

Moléculas heteronucleares

Vamos deixar tudo um pouco mais complicado. Como seria a aplicação da TOM para sistemas em
que as moléculas diatômicas são heteronucleares, ou seja, quando átomos de dois elementos
diferentes estão ligados?

Primeiramente, observe algo que omitimos, em nossa exposição inicial da TOM:

Como você observa, quis destacar, nessa equação, que as combinações lineares das funções de onda
não envolvem apenas a soma ou a subtração de duas funções de onda originais Ψ1 e Ψ2. Esses
componentes da combinação linear aparecem multiplicados por coeficientes, destacados em
vermelho.

Isso porque os elétrons dos orbitais originais, pertencentes a diferentes átomos, estão sujeitos a
diferentes forças de atração em relação a seus núcleos, e a diferentes forças de repulsão em relação a
elétrons que não estão em suas respectivas camadas de valência. Podemos dizer que os valores dos
coeficientes significam a importância relativa de um dado orbital atômico original na construção do
orbital molecular.

Nos casos vistos acima, para moléculas diatômicas homonucleares, esses coeficientes eram iguais,
daí o fato de terem sido omitidos. No entanto, para as moléculas heteronucleares os coeficientes
adquirirão maior importância. Em geral, pode-se considerar válida a seguinte regra, com base na
figura abaixo:
Esse quadro, de certa forma, resume toda nossa aula.

Esse quadro deve explicar o fenômeno ilustrado abaixo:

O nitrogênio líquido é diamagnético. O


oxigênio líquido, paramagnético.

Se você não acredita na figura acima, veja o vídeo abaixo:

Paramagnetism of Oxygen

Você também pode gostar