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Tecnologia - Litica - e - Primeiros - Povoamento Sudoeste Goiás PDF
Tecnologia - Litica - e - Primeiros - Povoamento Sudoeste Goiás PDF
do Conhecimento Científico
Grão Chanceler
Dom Washington Cruz, CP
Reitor
Prof. Wolmir Therezio Amado
Conselho Editorial
Aidenor Aires Pereira – Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Estado de Goiás
Edival Lourenço – União Brasileira de Escritores
Getúlio Targino – Presidente da Academia Goiana de Letras
Heloísa Helena de Campos Borges – Presidente da AFLAG
Profa. Heloísa Selma Fernandes Capel – UFG
Profa. Dra. Maria do Espírito Santo Rosa Cavalcante – Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Profa. Dra. Márcia de Alencar Santana – PUC Goiás
Maria Luiza Ribeiro – Presidente da AGL
Profa. Dra. Regina Lúcia de Araújo – Pesquisadora
Prof. Ms. Roberto Malheiros – PUC Goiás
Marlene Castro Ossami de Moura • Sibeli Aparecida Viana
ORGANIZ ADORAS
A Transversalidade
do Conhecimento Científico
UMA EXPERIÊNCIA DE 40 ANOS EM PESQUISA
Goiânia, GO - 2013
© 2013 by
Marlene Castro Ossami de Moura
Sibeli Aparecida Viana
(Org.)
Comissão Técnica
Biblioteca Central da PUC Goiás
Normalização
Anna Cláudia Passani Ferreira / Alda Alexandre
Revisão
Felix Padua
Editoração Eletrônica
ISBN 978-85-7103-833-2
Impresso no Brasil
SUMÁRIO
Apresentação.......................................................................................................................... 07
Introdução.............................................................................................................................. 11
• PARTE UM •
• PARTE DOIS •
• PARTE QUATRO •
sumário
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3
Antoine Lourdeau 1
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e gravuras). Em alguns meses, várias dezenas de sítios tinham sido cadastradas. Em
13 deles, foram realizadas sondagens exploratórios de alguns metros quadrados, que
proporcionaram uma quantidade considerável de vestígios arqueológicos. Entre 1978
e 1980, o grande abrigo GO-JA-01 foi objeto da intervenção mais importante dos sítios
da região. Uma escavação extensa foi efetuada em uma superfície de 40 m² e atingiu
uma profundidade de quase 2 m. As últimas sondagens, em Serranópolis, foram efe-
tuadas em 1999, pelos mesmos pesquisadores.
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1987, 1999, 2002a, 2002b, 2005; Schmitz et al. 1977, 1989, 1997, 2004). Em síntese,
do ponto de vista dos vestígios encontrados nas prospecções e escavações, três grandes
fases cronológicas foram definidas por P. I. Schmitz: um primeiro período, chamado
fase Paranaíba, acerâmico, caracterizado, dentro da indústria lítica, pela produção de
numerosas peças façonadas unifacialmente, chamadas lesmas; um segundo período,
chamado fase Serranópolis, também acerâmico, no qual a indústria lítica fica ainda
mal definida, composta de lascas e instrumentos pouco retocados; um terceiro perí-
odo, a fase Jataí, correspondendo a grupos ceramistas. Estas três fases foram datadas
entre 11.000 e 8.500 AP, não calibrado para a fase Paranaíba, entre 9.000 e 6.000 AP
não calibrado para a fase Serranópolis, e entre 1.500 e 900 AP, não calibrado para a
fase Jataí (quadro 1).
PARTE DOIS • CAPÍTULO 3 • TECNOLOGIA LÍTICA E PRIMEIROS POVOAMENTOS NO SUDOESTE DO ESTADO DE GOIÁS
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A escavação do sítio GO-JA-01
O abrigo GO-JA-01 é o maior sítio da área, que foi objeto da escavação mais exten-
sa e que proporcionou a maior quantidade de material arqueológico. Assim, concentra-
se o estudo do material neste sítio específico. Trata-se de um abrigo localizado ao sopé
de uma parede de arenito exposta ao noroeste (figura 2).
Duas etapas de pesquisas foram realizadas pelos membros do Programa Arqueo
lógico de Goiás. Durante a primeira, entre 1975 e 1976, duas sondagens (I/II e III)
foram abertas. A sondagem I/II é situada no centro do abrigo e corresponde à qua-
drícula 28D e à metade da quadrícula 28E da quadriculagem geral2. A sondagem III
encontra-se no fundo do abrigo, nas quadrículas 40I e 40J (figura 3).
Considerando os bons resultados das sondagens, foi realizada, entre 1978 e 1980,
uma escavação maior, de 40 m², na parte sudoeste do abrigo, nas quadrículas 12H, 12I,
14H, 14I, 16H, 16I, 18H, 18I, 20H e 20I (figura 3 e 4). O material, aqui estudado, provém
desta escavação.
A intervenção atingiu uma profundidade de quase 2 m em todas as quadrículas,
exceto na 12I, onde um grande bloco impediu a continuação da escavação, além de
algumas dezenas de centímetros de profundidade. A estratigrafia, apesar de lenticular,
ANTOINE LOURDEAU
2 A quadriculagem geral do abrigo foi feita a partir de quadrículas de 2x2m. Estas foram referenciadas por números
pares de 0 a 58 no sentido do comprimento e por letras de A a N no sentido da largura (figura 3).
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da parede e do teto de arenito do abrigo. A areia é misturada com cinza e pedaços de
carvão em todas as camadas, porém, em proporções variáveis.
PARTE DOIS • CAPÍTULO 3 • TECNOLOGIA LÍTICA E PRIMEIROS POVOAMENTOS NO SUDOESTE DO ESTADO DE GOIÁS
Figura 3: Planta geral de GO-JA-01 (SCHMITZ et al. 2004, fig. 15, modificada).
Figura 4(a)
Cenas de escavação do abrigo GO-
JA-01, entre 1978 e 1980.
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Figura 4 (b): Cenas de escavação do
abrigo GO-JA-01, entre 1978 e 1980.
Fonte: Acervo do IGPA/PUC Goiás
Figura 5: GO-JA-01. Perfil estratigráfico sul da escavação (SCHMITZ et al. 1989, fig. 8, modificada).
sedimento mais frouxo, ricas em carvão e em outros restos vegetais. Estes dois fácies
sedimentares alternam-se ao longo da sequência. As camadas B superiores, C, E, G, K
são claras e compactas, enquanto as camadas B inferiores, D, F, HI, J, L, M são mais
escuras e menos homogêneas. Esta diferença pode explicar-se pelas condições de de-
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pósito das camadas, em ambiente relativamente úmido, para as primeiras, e mais seco
para as segundas (SCHMITZ et al. 1989, p. 140-143). Depois da camada Q, o sedimento
é arenoso, de cor vermelho e compacto. Alguns centímetros deste sedimento profundo
foram escavados, sem encontrar vestígios de origem humana. A estratigrafia encontra-
se localmente perturbada por atividades antrópicas. Várias fossas foram cavadas (figu-
ra 5), algumas delas com um objetivo sepulcral.
PARTE DOIS • CAPÍTULO 3 • TECNOLOGIA LÍTICA E PRIMEIROS POVOAMENTOS NO SUDOESTE DO ESTADO DE GOIÁS
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material quadra por quadra, representando as peças principais e os limites entre cama-
das naturais. Isso permitiu associar estas peças as camadas nas quais se encontravam.
Foi assim que P. I. Schmitz notou que as peças façonadas unifacialmente somente en-
contravam-se das camadas Q a F, e os vestígios cerâmicos nas camadas A e B superior.
Tendo em vista a proposta deste capítulo, que é de estudar os primeiros momentos
de ocupação da região, somente analisa-se, aqui, o material oriundo do conjunto antigo
da estratigrafia, ou seja, as camadas Q a F. As peças posicionadas e identificadas nas plan-
tas correspondem a uma minoria dos artefatos achados. Trata-se, para estas camadas, de
peças façonadas unifacialmente. A maior parte das lascas retocadas ou não e dos núcleos
está localizada por nível artificial, sem possibilidade de associação a camadas naturais.
Assim sendo, o material estudado teve que ser separado em função dos níveis arti-
ficiais. Baseando-se sobre a divisão em três períodos de P. I. Schmitz, três conjuntos de
níveis artificiais foram distinguidos para cada quadrícula: os níveis com artefatos líticos
e cerâmicos; os níveis sem cerâmica e, no material lítico, ausência de peças façonadas
unifacialmente; e os níveis com artefatos líticos, dentro dos quais se encontram as peças
façonadas unifacialmente. Assim, foi possível montar o diagrama seguinte (figura 7).
ANTOINE LOURDEAU
Legenda: (a) níveis com artefatos líticos e cerâmicos; (b) níveis com artefatos líticos, sem peça façonada
unifacialmente; (c) níveis com artefatos líticos, dentro dos quais peças façonadas unifacialmente (o material da
quadrícula 12I, pouco escavada, não foi estudado).
Figura 7: Repartição do material arqueológico nos níveis artificiais de cada quadrícula da escavação
de GO-JA-01.
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Indústria lítica do sítio GO-JA-01
Apresentação geral
interna deste período é, de fato, impossível. Existe, também, uma ambiguidade quanto
aos níveis intermediários, entre as fases Paranaíba e Serranópolis. Estes apresentam,
necessariamente, peças das duas fases, sem distinção possível. O corpus do estudo pode
conter, então, alguns instrumentos, núcleos ou lascas da fase Serranópolis. Tenta-se
reduzir esta dificuldade, evitando basear nossas interpretações sobre peças isoladas
e preferindo raciocinar a partir de conjuntos técnicos consistentes, grupos de objetos
produzidos pelos mesmos esquemas operatórios e/ou tendo as mesmas características
tecnofuncionais.
Nos sedimentos das camadas inferiores do sítio GO-JA-01, os vestígios líticos
eram muito numerosos. Um total de quase 40.000 peças foi encontrado, dentro dos
quais mais de 98% são lascas (quadro 2).
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Quadro 3: GO-JA-01. Número de peças nas grandes categorias
de instrumentos líticos nas camadas associadas à fase Paranaíba.
Peças façonadas Instrumentos Instrumentos
Total
unifacialmente sobre lasca maciços
377 123 17 517
Estrutura volumétrica
• o perfil assimétrico, onde uma metade da peça é nitidamente mais espessa do que a
outra.
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A seção transversal pode ser triangular, trapezoidal ou semicircular.
A partir das dimensões e das categorias de perfis, duas grandes categorias de
estruturas volumétricas podem ser definidas. A categoria volumétrica A corres-
ponde a peças com perfil simétrico de tipo 1. As dimensões variam de 4,5 a 15 cm
de comprimento, 2 a 7 cm de largura e 1 a 4,5 cm de espessura. A média do índice
comprimento/espessura se aproxima de 5. A categoria volumétrica B é composta de
peças com perfil assimétrico ou simétrico de tipo 2. As dimensões variam de 4,5 a
11 cm de comprimento, 2 e 6 cm de largura, e 2 a 4,5 cm de espessura. A média do
índice comprimento/espessura é de 2,5, ou seja, a metade do valor calculado para
as peças de categoria volumétrica A. Assim, com espessura constante, as peças de
volume B são tendencialmente duas vezes mais curtas que as peças de volume A.
PARTE DOIS • CAPÍTULO 3 • TECNOLOGIA LÍTICA E PRIMEIROS POVOAMENTOS NO SUDOESTE DO ESTADO DE GOIÁS
As secções transversais não parecem ligadas às dimensões das peças. Os três tipos
de secção encontram-se com as mesmas proporções nas duas categorias técnicas.
Estrutura tecnofuncional
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ANTOINE LOURDEAU
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Além da diversidade interna das partes transformativas apicais, existe uma variabi-
lidade da própria estrutura tecnofuncional das peças façonadas unifacialmente. O estudo
aprofundado destes artefatos permite distinguir dois grupos de peças façonadas unifacial-
mente: as “peças ferramenta” e as “peças suporte-de-ferramentas” (Boëda, 1997, 2001).
As “peças ferramenta” (figura 8) são artefatos concebidos como uma ferramen-
ta única, com características determinadas: o artefato é a ferramenta. O projeto fun-
cional final está inscrito desde o início da cadeia operatória de produção. Todos os
elementos destes artefatos são integrados e a estrutura obtida é destinada a suportar
somente uma ferramenta, de um tipo específico. A morfologia e o volume são in-
timamente relacionados à funcionalidade da ferramenta. Os retoques se limitam a
completar as características já instaladas durante a fase de façonnage unifacial. As
PARTE DOIS • CAPÍTULO 3 • TECNOLOGIA LÍTICA E PRIMEIROS POVOAMENTOS NO SUDOESTE DO ESTADO DE GOIÁS
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ANTOINE LOURDEAU
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sentes, têm uma delineação retilínea linear, retilínea denticulada ou convexa linear. Seus
planos de secção apresentam ângulos abertos (de 50º a 70°), uma superfície inferior pla-
na e uma superfície superior plana, convexa ou côncava. Em termos de funcionamento,
isso implica que cada peça corresponde a várias ferramentas. A localização de cada parte
transformativa induz um modo de preensão específico: no eixo do artefato para as partes
transformativas de extremidade, ou no lado do artefato para as partes transformativas
laterais. As peças façonadas unifacialmente de tipo “peça suporte-de-ferramentas” são,
geralmente, mais alongadas que as “peças ferramenta” e seus lados são mais paralelos.
Tal morfologia oferece um espaço potencial para a instalação eventual de uma ou várias
partes transformativas laterais. Estas peças apresentam sempre um volume de categoria
A, ou seja, com perfil simétrico de tipo 1, que corresponde a uma homogeneidade da es-
PARTE DOIS • CAPÍTULO 3 • TECNOLOGIA LÍTICA E PRIMEIROS POVOAMENTOS NO SUDOESTE DO ESTADO DE GOIÁS
Esquemas de produção
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lasca-suporte ainda visíveis sobre a superfície dos artefatos, as peças façonadas unifa-
cialmente podem ser divididas em quatro grupos:
• Grupo I.A – onde os negativos anteriores ao façonnage formam uma superfície cen-
tral plana e paralela à face inferior
• Grupo I.B – onde os negativos anteriores ao façonnage formam uma superfície cen-
tral plana e oblíqua em relação à face inferior
• Grupo II – onde os negativos anteriores ao façonnage formam duas superfícies oblíquas
em relação à face inferior. A intersecção destas duas superfícies cria uma nervura lon-
gitudinal no meio da lasca, a qual serviu de nervura-guia no momento da debitagem
• Grupo denominado “Indeterminado” – onde nenhum negativo anterior ao façonnage
foi conservado sobre a face não plana do artefato.
A direção de lascamento dos restos de negativos anteriores à debitagem é geral-
mente difícil de determinar, visto que se trata de porções pequenas e planas de negati-
vos que eram inicialmente muito maiores. No entanto, quando é possível determinar
esta direção de lascamento, parece predominar o método unidirecional.
Quanto aos métodos de façonnage unifacial, três grandes modalidades podem ser
identificadas:
• Modalidade 1: somente a zona próxima dos bordos foi modificada por retiradas cur-
tas, geralmente sub-paralelas e dispostas em uma ou duas filas. A fase de façonnage
serve, aqui, somente a completar localmente as propriedades da face não plana, pro-
priedades que foram principalmente obtidas durante a fase de debitagem da lasca-
-suporte.
• Modalidade 2: a fase de façonnage unifacial foi efetuada por várias filas sucessivas de
retiradas produzidas a partir de cada lado. A organização dos negativos de retirada
corresponde em geral a uma configuração “em candelabro” (BOËDA, 2001; FOGA-
ÇA e LOURDEAU, 2008), que visa a uma regularização das superfícies por uma
diminuição da saliência das nervuras entre dois negativos. O papel do façonnage é
muito importante, aqui, porque modifica significativamente as características origi-
nais da face superior da lasca-suporte.
• Modalidade 3: pode ser considerada como uma “modalidade mista”, já que um lado
é preparado por retiradas curtas correspondendo à modalidade 1, e o outro lado por
ANTOINE LOURDEAU
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borda (“percussão marginal”). A escolha de uma ou outra técnica é ligada à intenção
de obter negativos mais ou menos marcados e contrabulbos mais ou menos cônca-
vos. A percussão interna está sempre associada à utilização de um percutor de pedra.
A percussão marginal pode ser praticada por um percutor de pedra branda ou por
um percutor de matéria orgânica. Em todas as coleções estudadas, encontram-se al-
gumas lascas de façonnage com “estilhaçamento bulbar”. Trata-se de um acidente de
lascamento descrito como característico da percussão com pedra branda (Pelegrin,
2000). Tais indícios sugerem que o façonnage das peças façonadas unifacialmente pode
ter sido efetuado com percutor de pedra.
Juntando as informações relativas às categorias de lasca-suporte utilizada, às
modalidades de façonnage e à estrutura volumétrica da peça façonada unifacialmen-
PARTE DOIS • CAPÍTULO 3 • TECNOLOGIA LÍTICA E PRIMEIROS POVOAMENTOS NO SUDOESTE DO ESTADO DE GOIÁS
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Tempo de vida útil
Vários argumentos sugerem que a vida útil das peças façonadas unifacialmente
corresponde a um processo longo, durante o qual a peça original vai sofrer modifi-
cações mais ou menos importantes para conservar seu potencial funcional depois de
várias fases de uso. As evidências de reafiação das partes transformativas são nume-
rosas. Podem ser comprovadas, em particular, pelas lascas típicas produzidas durante
tais operações. Além das reafiações, as fraturas constituem um processo muito co-
mum de modificação das peças façonadas unifacialmente. Estas não resultam sempre
de uma ação intencional, mas, voluntárias ou acidentais, elas são tão numerosas que
deviam ser necessariamente tomadas em consideração nos esquemas de reaproveita-
mento das peças. Os casos de reuso, depois da fratura dos artefatos, que podem ser
observados pela realização de retiradas, posteriores à(s) superfície(s) de fratura, com-
provam esse fato.
Etapas de modificação maiores das peças façonadas unifacialmente ao longo de
sua vida técnica podem ser, também, observadas graças, entre outros, a diferenças de
pátina sobre uma mesma peça. Estas, mais que simples reafiações, podem alterar sen-
sivelmente a peça original, até chegar à sua exaustão. As coleções estudadas contêm,
efetivamente, uma quantidade significativa de peças “desnaturadas”, que foram tão
intensamente modificadas que perderam um ou vários elementos fundamentais da es-
trutura original. Muitas delas não apresentam mais, nos seus bordos, nenhuma parte
potencialmente transformativa. Essas peças desnaturadas permitem evidenciar dois
grandes esquemas de modificação: o esquema 1 consiste em retomadas repetidas nas
extremidades, conduzindo a uma diminuição do comprimento das peças; o esquema
2, mais raro, consiste em retomadas localizadas, preferencialmente nas partes laterais,
a peça conservando seu comprimento original, mas perdendo largura.
Assim, as peças façonadas unifacialmente fazem parte de um processo técnico
longo, durante o qual seus potenciais funcionais evoluem, bem como suas proprieda-
des estruturais.
Em GO-JA-01, 123 instrumentos sobre lasca foram encontrados nos mesmos ní-
veis que as peças façonadas unifacialmente. Trata-se de lascas retocadas, não façona-
das, ou seja, cujas características volumétricas originais foram preservadas.
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Métodos de debitagem das lascas
volume inicial e da intensidade de exploração do bloco, mas todos eles provêm de este
mesmo método de lascamento por séries unidirecionais, repetidas ou não sobre o bloco.
Existe, também, uma boa correlação entre as características técnicas das lascas ob-
tidas a partir dos núcleos (deduzidas a partir da leitura dos blocos) e as características
técnicas dos suportes de instrumentos sobre lasca.
Características tecnofuncionais
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Pode-se também, salientar a ocorrência, dentro de alguns grupos tecnofuncio-
nais de instrumentos sobre lasca, de peças com plano de secção com ângulo bas-
tante fechado (entre 25º e 45°). Para tais instrumentos, a parte transformativa tem
um potencial de penetração importante, e pode-se pensar em uma atividade de tipo
“corte”. Tais características são completamente ausentes das peças façonadas unifa-
cialmente.
Síntese
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PARTE DOIS • CAPÍTULO 3 • TECNOLOGIA LÍTICA E PRIMEIROS POVOAMENTOS NO SUDOESTE DO ESTADO DE GOIÁS
lasca. GO-JA-01.
Figura 10: Instrumentos sobre
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Contexto regional e povoamento da área
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