Resumo do artigo Inquisição, religiosidade e transformações culturais: a sinagoga das mulheres e a sobrevivência do judaísmo feminino no Brasil colonial — Nordeste, séculos XVI-XVII1
Angelo Adriano Faria de Assis
Resumo do artigo Inquisição, religiosidade e transformações culturais: a sinagoga das mulheres e a sobrevivência do judaísmo feminino no Brasil colonial — Nordeste, séculos XVI-XVII1
Angelo Adriano Faria de Assis
Resumo do artigo Inquisição, religiosidade e transformações culturais: a sinagoga das mulheres e a sobrevivência do judaísmo feminino no Brasil colonial — Nordeste, séculos XVI-XVII1
Angelo Adriano Faria de Assis
Inquisição, religiosidade e transformações culturais: a sinagoga das mulheres e a
sobrevivência do judaísmo feminino no Brasil colonial - Nordeste, séculos XVI-XVII
ASSIS, Angelo A. F. de. Inquisição, religiosidade e transformações culturais: a sinagoga das
mulheres e a sobrevivência do judaísmo feminino no Brasil colonial - Nordeste, séculos XVI- XVII. Rev. bras. Hist., São Paulo, v. 22, n. 43, p. 47-66, 2002. Disponível em:< https://bit.ly/3e6JtWC >. Acesso em 28 Out. 2020.
O final do século XV trouxe a oficialização do decreto de conversão forçada. Os
judeus convertidos eram chamados cristãos-novos, mas tal conversão nunca extinguiu as suspeitas contra esse grupo. Os criptojudeus representavam uma ameaça constante à unidade da fé cristã. A vigilância inquisitorial leva a desconfianças e atritos, dando origem a uma segregação sanguínea entre cristãos velhos de sangue “puro” e cristãos-novos, de sangue “maculado”. Coagidos, neoconversos viram solução na emigração. Com possibilidade de enriquecimento rápido, o Brasil tornou-se um dos destinos favoritos. Com muitos neoconversos ocupando posições importantes e inseridos na “açucarocracia” colonial, cristãos velhos sentiram-se ameaçados. Não obstante, o autor observa uma relativa harmonia entre cristãos “separados pelo sangue”, harmonia que, segundo ele, pode ser explicada pela fraca estruturação eclesiástica e ausência de tribunal inquisitorial estabelecido; além disso, havia problemas maiores e mais urgentes na colônia do que as questões de fé. Para além da miscigenação de sangue ocasionada pelos casamentos, nota-se também a miscigenação de costumes, mesmo entre cristãos velhos sem ligação familiar com cristãos novos. A inquisição na América portuguesa estava ligada ao Tribunal do Santo Ofício de Lisboa, com visitas esporádicas que abrangiam apenas as áreas de maior interesse como a região açucareira. A realização dos cultos judaicos era dificultada pela intensa vigilância que sofriam os neoconversos, além do “desconhecimento profundo das leis e cerimônias mosaicas por seus próprios seguidores” devido ao “afastamento temporal do período de livre divulgação do judaísmo”. No judaísmo tradicional, mulheres ocupam posição inferior aos homens. A proibição da fé hebraica transfere o judaísmo para o espaço doméstico (judaísmo de porta a dentro). A residência torna-se local estratégico para a propagação da religião, que passa a ser transferida oralmente. Buscando práticas menos acusadoras, adota-se o “jejum de Ester”. O autor chama atenção para o fato de ser justamente uma mulher a heroína daqueles criptojudeus. Com a ausência prolongada do chefe de família, fica a mulher responsável pela casa e por instruir os filhos na religião hebraica. A inquisição busca acabar com a fonte de disseminação da fé herética. Entre as mulheres mais denunciadas estão Branca Dias, em Pernambuco, e Ana Rodrigues, na Bahia. Nas terras de Branca e o marido ficava a “snoga” do engenho Camaragibe, umas das mais denunciadas. A restrita privacidade no ambiente colonial dificultava o sigilo. O incentivo à delação e clima de medo levavam as pessoas a depoimentos que chegavam a demonizar os judeus. Ana Rodrigues e seu marido construíram a snoga de Matoim. Com as denúncias, a ascendência da qual tanto se orgulhou seu falecido marido – dos Macabeus - passou a servir de escárnio, mãe e filhas eram chamadas pejorativamente de “macabéias”. Foi condenada e levada para Portugal, morreu no cárcere. Sua memória foi amaldiçoada, seus ossos desenterrados e queimados, uma pintura retratando- a entre chamas e demônios foi colocada na igreja de Matoim a mando do Santo Ofício.