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DICAS PARA VOCÊ CONDUZIR TREINAMENTOS DE ERGONOMIA NA EMPRESA

PARA TRABALHO INDUSTRIAL

A prática da Ergonomia é, essencialmente, um trabalho interdisciplinar. Nós, do

Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho, não conseguimos,

sozinhos adotar as soluções adequadas. Para uma análise ergonômica adequada e,

conseqüentemente, solução correta, é fundamental a participação de pelo menos mais

3 integrantes: o trabalhador experiente, o supervisor ou facilitador da área e o

engenheiro ou técnico que entendam da máquina e do processo. Mas nesse ponto,

para que esses outros parceiros possam dar contribuições efetivas e conduzir

corretamente as soluções, é fundamental que tenham conhecimento básico de

Ergonomia Aplicada ao Trabalho.

O treinamento de Ergonomia, aplicado para todos os gestores e facilitadores, para

todos os engenheiros e técnicos e para todos os trabalhadores possibilita dois grandes

objetivos: formar uma massa crítica sobre o assunto (fundamental para a perpetuação

da Ergonomia enquanto valor naquela organização), gerar a “ergonomia” (em que

todos passam a estar atentos a sutilezas dos postos de trabalho, de melhorias

possíveis, muitas delas simples e fáceis) e a condução adequada dos estudos de

melhoria das condições de trabalho em situações mais complexas.

Como conduzir um treinamento de Ergonomia de forma eficiente?

1- O que abordar É muito importante que o conteúdo a ser abordado seja de alta

aplicabilidade para a platéia. Nesse número abordaremos o conteúdo básico para

treinamentos de pessoal da área industrial das empresas.


O conteúdo é dividido em 3 etapas: (1) Mostrar as 12 situações antiergonômicas

básicas para o ser humano no trabalho; (2) Explanar sobre os 10 princípios de uso

correto do corpo; (3) Informar e esclarecer quanto aos 10 princípios da solução

ergonômica.

As 12 principais situações antiergonômicas São elas:

1- Fazer esforço muscular excessivo.

2- Corpo fora do eixo vertical natural.

3- De pé, parado, durante a maior parte da jornada.

4- Trabalhar com os braços acima do nível dos ombros.

5- Pequenas contrações estáticas, porém mantidas por muito tempo.

6- Sentado, em posição estática ou forçada.

7- Movimentar, carregar e levantar cargas muito pesadas.

8- Esforços longe do corpo.

9- Esforços feitos com a coluna torcida e fletida ao mesmo tempo.

10- Alta repetitividade de um mesmo padrão de movimento, sem o devido tempo de

repouso.

11- Posições forçadas do punho – fletido, estendido e em desvio ulnar

12- Posições forçadas do ombro, especialmente abdução.

É importante que o treinador tenha uma boa base de biomecânica para justificar por

que as situações acima são inadequadas no trabalho. Também é importante ilustrá-las

com situações da própria empresa.

Os 10 Princípios de Ergonomia no Trabalho Industrial É o passo seguinte do

treinamento. A assimilação desses princípios possibilita aos engenheiros, técnicos e


demais participantes do treinamento modificar o trabalho, tornando-o mais adaptado ao

ser humano.

São eles:

1- Eliminar ou reduzir o esforço humano onde houver esforço excessivo.

2- Eliminar as situações de esforço muscular estático.

3- Altura adequada dos postos de trabalho, de forma que o corpo trabalhe na vertical.

4- Área de trabalho: entre ombros e púbis.

5- Objetos e comandos dentro das áreas de alcance das mãos.

6- Escolher a postura correta e possibilitar a flexibilidade postural.

7- Melhorar a alavanca do esforço, aumentando o braço de potência e diminuindo o

braço de resistência.

8- Fazer o esforço com a articulação o mais próximo possível do neutro.

9- Respeitar os limites de levantamento manual de cargas (23 kg nas melhorias

condições e 18 kg a partir do nível do piso).

10- Trabalhar em ritmo normal.

O instrutor também deve ilustrar esses princípios com fotografias ou vídeos, de

preferência de realidades de trabalho da própria empresa ou semelhantes às dela. Em

Ergonomia, a referência visual vale muito, e desperta entre os treinados duas respostas

positivas: a de perceber idéias que já tenha tido e a de perceber a possibilidade real de

soluções de problemas semelhantes aos que tem atualmente.

Os 10 Princípios da Solução Ergonômica

Também é muito importante que os treinados tenham noção clara de quando aplicar

cada uma das 10 soluções ergonômicas descritas a seguir. Esse tipo de discernimento
ajuda na procura da solução correta e torna o programa de melhorias ergonômicas de

baixo custo, somente exigindo gastos quando realmente são necessários.

São eles:

1- Eliminação do movimento crítico ou redução da sua freqüência na jornada ou

redução do tempo na posição crítica na jornada.

2- Pequenas melhorias.

3- Projeto ergonômico ou adoção de solução ergonômica conhecida.

4- Rodízio em tarefas com exigências biomecânicas diferentes.

5- Melhoria do método.

6- Melhoria na organização do trabalho (na tecnologia, no maquinário, na matéria

prima, no material, no método, no meio ambiente ou na mão-de-obra – número,

preparo, controle de horas trabalhadas, etc).

7- Preparação física para o trabalho, ginástica de aquecimento, de condicionamento,

de distensionamento ou compensatória.

8- Orientação ao trabalhador e cobrança de práticas corretas.

9- Seleção adequada, quando as medidas anteriores não forem exeqüíveis.

10- Mecanismo de regulação, através de pausas.

2- Como abordar

O treinamento de Ergonomia para o pessoal da empresa–de qualquer nível- tem que

ser, essencialmente prático, suportado por conhecimento científico básico. Assim é que

deve-se registrar situações próprias da empresa, com fotografia de situações de

trabalho, antes e depois de melhorias já implementadas, também usando bastante


vídeo-tapes que ilustrem bem os esforços feitos de forma inadequada antes da

melhoria e a nova forma de fazer os esforços, depois da melhoria.

Uma técnica bastante interessante é apresentar, durante a explanação sobre as 12

situações anti-ergonômicas básicas, vídeo-tape ou fotografias para que o próprio

pessoal identifique as condições inadequadas. De preferência, esse material deve ser

da própria empresa. E discutir com os treinandos sugestões quanto a melhorias.

3- Tempo necessário

Geralmente bons resultados são conseguidos em treinamentos que durem 32 horas

para membros do Comitê de Ergonomia, 8 horas para engenheiros e técnicos, 4 horas

para supervisores e encarregados e 3 horas para pessoal operacional em geral.

Há que se utilizar bem o tempo disponível, evitando divagações desnecessárias nesses

níveis.

Ao final, é sempre importante esclarecer aos treinandos a forma como a questão

ergonômica está sendo conduzida na empresa, como colaborar com os comitês

existentes sobre o assunto e esclarecer que eles, trabalhadores, serão envolvidos nas

análises ergonômicas específicas de suas áreas.

Por fim, é sempre útil identificar aqueles que demonstrem maior interesse e maior

capacidade nesse tipo de assunto, pois poderão ser auxiliares eficazes na implantação

das melhorias ergonômicas.

4- Para os Comitês de Ergonomia

No treinamento de membros dos Comitês de Ergonomia é sempre importante dar um

exercício prático de análise ergonômica do trabalho, discutindo-se a soluções.


É também importante que esse grupo tenha uma noção clara dos 4 tipos de problemas

ergonômicos existentes, quanto ao encaminhamento da solução:

Problema tipo 1 – Simples melhoria (ver, agir, validar e documentar).

Problema tipo 2 – De solução conhecida, exigindo algum detalhamento e dotação

orçamentária.

Problema tipo 3 – A solução tem que ser amadurecida.

Problema tipo 4 – Não tem solução, geralmente compensável através dos mecanismos

de regulação (rodízio em atividades diferentes, pausas ou até mesma seleção de

pessoal).

O discernimento correta em relação a esse ponto é fundamental para o

encaminhamento também adequado. É importante lembrar que, tão negativo quanto

não resolver um problema ergonômico, é dar uma solução intempestiva, às vezes com

gastos e tendo que passar por retrabalho.

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